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Alergia alimentar RESUMO

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Alergia alimentar
As manifestações alérgicas não são muito comuns nos primeiros meses de vida (até os 6 meses) ( o lactente ainda possui as imunoglobulinas maternas recebidas durante a gestação, além das oriundas da amamentação (motivo pelo qual recomenda-se o aleitamento materno até os 6 meses, no mínimo). – Fase de tolerância imunológica!
Uma das exceções, seria a alergia alimentar, que pode se apresentar já nos primeiros contatos com a proteína alimentar exógena***. Tais manifestações iniciais se apresentam com quadros mais brandos à princípio.
*** Nos casos de lactentes que se alimentam exclusivamente do leite materno, a alergia a alguma proteína do leite de vaca é oriunda da ingestão materna de leite. Deve-se preconizar nesses casos, a retirada do leite de vaca ou de derivados da dieta da mãe.
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A Alergia Alimentar é uma Reação Adversa a determinado alimento. Envolve um mecanismo imunológico e tem apresentação clínica muito variável, com sintomas que podem surgir na pele, no sistema gastrintestinal e respiratório. As reações podem ser leves com simples prurido nos lábios até reações graves que podem comprometer vários órgãos. A Alergia Alimentar resulta de uma resposta exagerada do organismo a determinada substância presente nos alimentos.  
 A intolerância à lactose é uma desordem metabólica onde a ausência da enzima lactase no intestino determina uma incapacidade na digestão de lactose (açúcar do leite) que pode resultar em sintomas intestinais como distensão abdominal e diarreia (na intolerância é mais comum a presença de diarreia e na alergia é mais comum a presença de vômitos). Esta intolerância geralmente é dose dependente e o indivíduo pode tolerar pequenos volumes de leite por dia ou se beneficiar dos leites industrializados com baixos teores de lactose. Portanto, a Intolerância à Lactose não é uma Alergia Alimentar apesar de frequentemente confundida pelos familiares e profissionais de saúde. Torna-se importante esta diferenciação, pois a orientação nutricional é distinta. Enquanto na intolerância à lactose, eventualmente, é possível ingerir pequenas quantidades de leite, na Alergia às proteínas do leite, a alimentação não deve conter leite ou derivados, de forma que uma reduzida ingestão já é capaz de originar sintomas.
Estima-se que as reações alimentares de causas alérgicas verdadeiras acometam 6-8% das crianças com menos de 3 anos de idade e 2-3% dos adultos.
 Pacientes com outras doenças alérgicas (doenças atópicas) apresentam uma maior incidência de Alergia Alimentar sendo encontrada em 38% das crianças com Dermatite Atópica e em 5% das crianças com quadro de asma.  
A predisposição genética, a potência antigênica de alguns alimentos e alterações a nível do intestino parecem ter importante papel. Existem mecanismos de defesa principalmente a nível do trato gastrintestinal que impedem a penetração do alérgeno alimentar e conseqüente sensibilização. Estudos indicam que de 50 a 70% dos pacientes com Alergia Alimentar possuem história familiar de alergia. Se o pai e a mãe apresentam alergia, a probabilidade de terem filhos alérgicos é de 75%.   
Qualquer alimento pode desencadear reação alérgica. No entanto, leite de vaca, ovo, soja, trigo, peixe e crustáceos são os mais envolvidos. A sensibilização a estes alimentos (formação de anticorpos IgE) depende dos hábitos alimentares da população. O amendoim, os crustáceos, o leite de vaca e as nozes são os alimentos que com maior freqüência provocam reações graves (anafiláticas).
  Os alimentos podem provocar reações cruzadas, ou seja, alimentos diferentes podem induzir respostas alérgicas semelhantes no mesmo indivíduo. O paciente alérgico ao camarão pode não tolerar outros crustáceos. Da mesma forma, pacientes alérgicos ao amendoim podem também apresentar reação ao ingerir a soja, ervilha ou outros feijões. As reações adversas aos conservantes, corantes e aditivos alimentares são raras, mas não devem ser menosprezadas. 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
São mais comuns as reações que envolvem a pele (urticária, edema, prurido, eczema), o aparelho gastrintestinal (diarréia, dor abdominal, vômitos) e o sistema respiratório, como tosse, rouquidão e “chiado” no peito. Manifestações mais intensas, acometendo vários órgãos simultaneamente (Reação Anafilática), também podem ocorrer. 
  Nas crianças pequenas, pode ocorrer perda de sangue nas fezes (hematoquezia), o que vai ocasionar anemia e retardo no crescimento (desnutrição). Sintomas nasais isolados não são comuns.  
Obs.: Segundo alguns autores, a Alergia Alimentar está presente em 38% das crianças com Dermatite Atópica moderada/grave. 
  A Dermatite Atópica se apresenta com um quadro de prurido de intensidade moderada a grave, irritabilidade, escoriações provocadas pelo ato de coçar a pele, ressecamento generalizado da pele e eczema simétrico nas dobras dos cotovelos e joelhos, pescoço, face e superfície extensora dos braços e pernas. Os alimentos mais envolvidos são o leite de vaca, ovo, soja, trigo.  
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico depende de história clínica minuciosa associada a dados de exame físico que podem ser complementados por testes alérgicos. 
  Na história clínica, é fundamental que o paciente ou seus pais, no caso das crianças, auxilie fornecendo detalhes sobre os alimentos ingeridos rotineiramente ou eventuais (história alimentar é de grande importância). Em algumas situações é possível correlacionar o surgimento dos sintomas com a ingestão de determinado alimento. Em outras ocasiões o quadro não é tão evidente, necessitando de história mais detalhada. Isso ocorre principalmente quando as reações ocorrem horas após a ingestão do alérgeno. 
  A Alergia Alimentar ocorre mais frequentemente nas crianças pequenas onde o leite de vaca e o ovo são os alimentos mais comuns. Apesar de muitas vezes incriminado (pelos pais e avós) como causa de Alergia Alimentar, o chocolate raramente causa alergia. Nestes casos, se torna necessário pesquisar alergia às proteínas do leite de vaca ou da soja, usadas em sua fabricação. Nos adultos, o camarão é queixa freqüente em nosso meio.   
◘ Teste alérgico: é um método diagnóstico seguro e geralmente indolor. Deve ser realizado pelo médico especialista que após história clínica e exame físico, determinará quais substâncias podem ter importância no quadro clínico e, portanto, deverão ser avaliadas. O desconforto pode ocorrer pelo prurido (coceira) localizado à área do teste, no caso da reação positiva. 
  Na maioria das vezes é realizado no antebraço (injeção subcutânea contendo a possível proteína – ou possíveis - responsável pelo quadro) após higiene local com algodão e álcool. O resultado é obtido em 15 a 20 minutos e a reação positiva consiste na formação de uma pápula vermelha, semelhante à uma picada de mosquito. Esta reação indica presença de IgE específica ao alimento testado. Algumas vezes torna-se necessário realizar o teste com o próprio alimento in natura . 
  Em algumas situações, o teste cutâneo deve ser substituído pela dosagem de IgE específica no sangue. São elas: necessidade de uso diário de anti-histamínicos (antialérgicos), não disponibilidade de material para teste, presença de eczema severo ou história sugestiva de reação intensa (reação anafilática) a determinado alimento. Muitas vezes o alergista realiza as duas formas de avaliação para ter maior segurança no diagnóstico.  
◘ Dosagem de IgE específica 
TRATAMENTO
Até o momento, não existe um medicamento específico para prevenir a Alergia Alimentar. Uma vez diagnosticada, são utilizados medicamentos específicos para o tratamento dos sintomas (crise) sendo de extrema importância fornecer orientações ao paciente e familiares para que se evite novos contatos com o alimento desencadeante. As orientações devem ser fornecidas por escrito visando a substituição do alimento excluído e evitando-se deficiências nutricionais até quadros de desnutrição importante principalmente nascrianças. O paciente deve estar sempre atento verificando o rótulo dos alimentos industrializados buscando identificar nomes relacionados ao alimento que lhe desencadeou a alergia. Por exemplo, a presença de manteiga, soro, lactoalbumina ou caseinato apontam para a presença de leite de vaca. Todas as orientações devem ser fornecidas aos pacientes e familiares.  
 A exclusão de um determinado alimento não é tarefa fácil e a exposição acidental ocorre com certa freqüência. Os indivíduos com Alergia Alimentar grave (reação anafilática) devem portar braceletes ou cartões que os identifiquem, para que cuidados médicos sejam imediatamente tomadas. As reações leves desaparecem espontaneamente ou respondem aos anti-histamínicos (antialérgicos). Pacientes com história de reações graves devem ser orientados a portar medicamentos específicos (adrenalina), mas torna-se obrigatório uma avaliação em serviço de emergência para tratamento adequado e observação, pois em alguns casos pode ocorrer uma segunda reação, tardia, horas após.  
Aproximadamente 85% das crianças perdem a sensibilidade à maioria dos alimentos (ovos, leite de vaca, trigo e soja) que lhes provoca alergia alimentar entre os 3-5 anos de idade. O teste cutâneo permanece positivo apesar do aparecimento da tolerância ao alimento. A sensibilidade ao amendoim, nozes, peixe e camarão raramente desaparece.
  - Dieta de exclusão - em alguns casos, principalmente nas crianças, a exclusão rigorosa do alimento parece promover a diminuição da alergia. O alimento deve permanecer suspenso por aproximadamente 6 meses. Após este período o médico especialista poderá recomendar uma reintrodução do alimento e observar os sintomas ( é de grande importância essa reintrodução (exemplo, resposição do leite de vaca). Se o indivíduo permanecer assintomático e conseguir ingerir o alimento, o mesmo pode ser liberado. Caso ocorra qualquer sintoma, a dieta de eliminação deve ser mantida. A presença de reação alérgica grave, como a anafilaxia ao amendoim, contra-indica esta reintrodução. Nos pacientes altamente sensibilizados, a presença de quantidades mínimas do alimento pode desencadear reação de extrema gravidade.  
( No caso de alergia ao leite de vaca – substituição para fórmulas hidrolisadas proteicas (leite de soja).
PREVENÇÃO
  Algumas orientações devem ser dadas aos recém-nascidos de pais ou irmãos atópicos. O estímulo ao aleitamento materno no primeiro ano de vida (sendo no mínimo de 6 meses) é fundamental assim como a introdução tardia dos alimentos sólidos potencialmente provocadores de alergia. Recomenda-se a introdução dos alimentos sólidos após o 6º mês, o leite de vaca após 1 ano de idade, ovos aos 2 anos e amendoim, nozes e peixe, somente após o 3º ano de vida.  
Esofagite eosinofílica
Esofagite eosinofilica é uma doença inflamatória crônica caracterizada por um infiltrado de eosinófilos no esôfago. Nos últimos anos, um aumento marcante de incidência tem ocorrido ao redor do mundo (estimada atualmente em 1:10.000). 
É distinta da doença do refluxo, embora os pacientes compartilhem sintomas semelhantes e ambas as condições possam existir no mesmo paciente. Deve ser lembrada quando a terapia com bloqueadores de ácidos falha no controle dos sintomas, que na esofagite eosinofílica pode incluir inapetência, vômitos e algumas vezes falha do crescimento (desnutrição) em crianças pequenas, e nos adultos disfagia, dor abdominal ou torácica e impactação alimentar no esôfago. No adulto, achados de estreitamento esofageano que necessite dilatação sugere que a inflamação crônica pode levar a cicatrização e danos irreversíveis (potencial de cronicidade).
DIAGNÓSTICO: 
Definitivo – endoscopia digestiva alta com biópsia de esôfago – identificação de 20 a 24 eosinófilos por campo de grande aumento. 
TRATAMENTO: 
◘ Corticosteróides (inalados ou deglutidos).
◘ Dieta de exclusão adequada.
Obs.: O papel da alergia no processo ainda não está bem entendido, porém a melhora ou resolução do processo com a dieta de exclusão alimentar indica um papel da alergia alimentar em alguns pacientes. Alguns pacientes podem ter doença desencadeada por aeroalérgenos.
RESUMO: Bruna Souza – 2010.2
Fonte: Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (ASBAI).

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