Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre Alergia Alimentar A alergia alimentar é apenas um dos tipos de reações adversas a alimentos. Reação adversa é qualquer resposta anormal do organismo causada pela ingestão de um alimento. As reações adversas a alimentos são inicialmente divididas em tóxicas e não tóxicas. As reações tóxicas dependem de fatores inerentes ao alimento, como as toxinas produzidas na deterioração, afetando qualquer indivíduo que ingira o alimento em quantidade suficiente para produzir sintomas. As reações não tóxicas dependem da suscetibilidade individual e podem ser divididas em reações imunomediadas (alergia alimentar) e não imunomediadas (intolerância alimentar). Atualmente, tem sido sugerido o termo hipersensibilidade alimentar para abranger tanto as reações imunomediadas, quanto as não imunomediadas. Não está esclarecido por que alguns indivíduos desenvolvem sensibilização a alérgenos alimentares enquanto a maior parte das pessoas são imunologicamente tolerantes. São considerados fatores de risco para o desenvolvimento de alergia alimentar o momento da introdução dos alimentos na dieta infantil, dieta rica em gorduras e obesidade, insuficiência de vitamina D, genética, estilo e qualidade de vida. A intolerância alimentar pode decorrer de deficiências enzimáticas (intolerância a lactose), reatividade anormal a certas substâncias presentes nos alimentos (aditivos alimentares) ou mecanismos desconhecidos. • Etiologia Leite, ovo, soja, trigo e amendoim correspondem a 90% das reações de hipersensibilidade em crianças, enquanto peixe, crustáceos, amendoim e castanhas correspondem a 85% das reações de hipersensibilidade em adolescentes e adultos. Outro exemplo de reação cruzada ocorre entre o látex e certas frutas ou vegetais, pois pacientes alérgicos a látex podem apresentar sintomas quando ingerem banana, abacate, mamão, manga, kiwi, batata ou tomate. • Fisiopatologia A alergia alimentar pode envolver um mecanismo IgE mediado, não IgE mediado ou mais que um mecanismo imunológico pode estar envolvido. Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre - Mecanismo IgE mediado (Hipersensibilidade imediata) Em pacientes geneticamente predispostos, a falha no desenvolvimento ou a quebra do mecanismo de tolerância oral resulta em produção excessiva de anticorpos IgE específicos para determinado alimento. Após a sensibilização com formação da IgE específica, este anticorpo circula pelo organismo e liga-se a receptores de alta afinidade em mastócitos e basófilos. Nos próximos contatos com o alérgeno, este anticorpo se unirá a IgE que se ligou aos mastócitos e basófilos, promovendo a liberação de mediadores como histamina, prostaglandinas e leucotrienos, que são os responsáveis pelas manifestações clínicas. Estas reações geralmente ocorrem dentro de minutos ou até 2 horas após a ingestão do alimento. - Mecanismo não IgE mediado Geralmente manifestam-se com sintomas gastrointestinais. São diagnosticadas geralmente pela boa resposta à eliminação do alérgeno da dieta e algumas doenças necessitam de biópsia. Evidências sugerem que estas reações sejam mediadas por células (reações de hipersensibilidade tipo IV). Embora raras, reações de hipersensibilidades tipos II e III também já foram descritas. As formas de apresentação clínica de acordo com o mecanismo são apresentadas no quadro. Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre • Manifestações Clínicas - Cutâneas São as mais comuns, principalmente prurido, urticária e angioedema, que ocorrem geralmente até 2 horas após a ingestão ou contato com o alimento. Embora seja comum, a ausência de sintomas cutâneos não exclui a hipótese de um alimento estar induzindo anafilaxia. A exacerbação da dermatite atópica (DA) grave também é comum, embora a relação causa-efeito não seja tão clara, porque a DA é uma doença crônica e a reação pode ocorrer mais tardiamente. - Gastrointestinais Aparecem em segundo lugar em frequência nas manifestações de alergia alimentar. São comuns náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia. Estes sintomas podem ocorrer isoladamente. Na síndrome de alergia oral, ocorre prurido com ou sem angioedema de lábios, língua e palato. Esofagite e gastroenterite eosinofílica podem ter mecanismo IgE mediado, não IgE mediado ou ambos e são caracterizadas pela infiltração da parede do esôfago, estômago ou intestino por eosinófilos, e frequentemente, eosinofilia periférica. Os sintomas são semelhantes aos da doença do refluxo gastroesofágico, mas estes pacientes não respondem ao tratamento convencional de tal doença. Os alimentos mais envolvidos são leite, ovo, soja e trigo. Enteropatias induzidas por proteína acometem principalmente lactentes, manifestando-se na maioria das vezes por diarreia, com ou sem muco e sangue, anemia e déficit de crescimento. Estes sinais e sintomas geralmente desaparecem até o 2º ano de vida, e o principal alimento envolvido é o leite de vaca. Síndrome de enterocolite induzida por proteína alimentar (FPIES – food protein-induced enterocolitis syndrome) caracteriza-se por hipersensibilidade alimentar gastrointestinal não IgE mediada manifestada por vômitos profusos e repetitivos, às vezes acompanhados por diarreia, com possível evolução para desidratação e letargia de forma aguda (cerca de 2 a 6 horas após exposição); outra forma de apresentação clínica pode ser perda de peso e dificuldade no crescimento nas formas crônicas. A FPIES afeta principalmente crianças. Os principais alimentos envolvidos nesta doença são leite de vaca e soja, embora outros alimentos possam atuar como desencadeantes da síndrome. - Respiratórias Sintomas respiratórios isolados como manifestação de alergia alimentar são raros. Os sintomas incluem coriza, prurido nasal, broncoespasmo e edema de laringe. - Anafilaxia Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre Os alimentos são causas comuns de anafilaxia. Os pacientes podem apresentar manifestações cutâneas, respiratórias, gastrointestinais ou cardiovasculares, como hipotensão, síncope, arritmias e choque. Anafilaxia induzida por alimento dependente de exercício é uma síndrome em que os sintomas somente ocorrem se determinado alimento for ingerido 2 a 6 horas antes do exercício físico. O alimento isolado ou o exercício físico sem a ingestão do alimento não causam anafilaxia nestes pacientes. **Anafilaxia é uma reação de hipersensibilidade aguda potencialmente fatal, que envolve a liberação de mediadores dos mastócitos, basófilos e recrutamento de células inflamatórias.** • Diagnóstico - Anamnese A história clínica é peça fundamental na investigação. Questões importantes devem ser detalhadas: 1. Quando foi a primeira reação? E a última? A idade de início associa-se a maior ou menor frequência de determinados alimentos. 2. Qual é a frequência ou quantas vezes os sintomas se repetiram? Os quadros crônicos são menos frequentes e relacionam-se com alimentos de ingestão diária. 3. Caracterizar a reação: sintomas, duração, gravidade, tratamento necessário. 4. Qual(is) é(são) o(s) alimento(s) suspeito(s)? Esta suspeita geralmente é mais fácil quando os sintomas são intermitentes e esporádicos, porém, a identificação do alimento suspeito pode necessitar do auxílio do diário alimentar. 5. A quantidade de alimento ingerida influencia no aparecimento dos sintomas? Diferentemente da alergia, na intolerância geralmente os sintomas dependem da quantidade. 6. Sempre que o alimento é ingerido, desencadeia a reação? A reprodutibilidade é uma marca sempre presente nas reações alérgicas. 7. Os sintomas já aconteceram sem a ingestão do alimento? O fato da manifestação clínica acontecer sem a exposição ao alimento alerta para a possibilidade de haver outro fator etiológico. 8. Qual é o tempo entre a ingestãoe o início dos sintomas? Nas reações mediadas por IgE, os sintomas têm início imediato (minutos a cerca de 2 horas), enquanto na alergia alimentar não IgE mediada podem ocorrer mais tardiamente (horas a dias), e, na intolerância, o intervalo é variável mas em geral não passa de algumas horas. 9. Existem situações associadas (exercício, uso de medicação)? - Pesquisa in vivo da IgE específica (testes cutâneos) Os testes cutâneos de leitura imediata representam um método rápido para avaliar a sensibilização a alimentos específicos. A técnica escolhida é a puntura (prick test), visto que os testes intradérmicos com alimentos são contraindicados pelo risco de reações graves. Considera-se o teste positivo quando o alérgeno alimentar gera uma pápula pelo menos 3 mm maior que o controle negativo. Outra opção é realizar o prick to prick com alimento fresco, indicado para frutas e vegetais, em razão da maior sensibilidade. - Dietas de restrição As dietas de restrição consistem na exclusão sistemática do(s) alimento(s) identificado(s) pela anamnese e/ou pelo diário alimentar e na observação da correlação com melhora clínica. A dieta de exclusão, como Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre instrumento diagnóstico, não deve se estender além do tempo mínimo necessário, para evitar comprometimento do estado nutricional. Geralmente um período de 2 a 4 semanas é suficiente para evidenciar melhora sintomática; excepcionalmente, como nas gastroenteropatias alérgicas, pode ser necessário um tempo maior de dieta (até 8 semanas). - Provas de provocação oral Consistem na administração fracionada do alimento suspeito, em doses crescentes, sob supervisão médica. São considerados positivos quando reproduzem os sintomas relatados na anamnese. A escolha do alimento para realização da provocação oral será determinada pela história, pesquisa da IgE específica in vivo ou in vitro, ou pela dieta de restrição. A provocação oral pode ser aberta, simples-cego ou duplo-cego (controlado com placebo). Esta última forma é considerada padrão-ouro para diagnóstico, pois, neste teste, paciente e médico não sabem se o que está sendo oferecido contém o alimento suspeito ou o placebo, reduzindo a chance de interferências psicológicas. Os uma cápsula ou disfarçados com outros alimentos indivíduos com história de anafilaxia grave (com risco de morte) somente devem ser submetidos a provas de provocação quando a anamnese e os exames complementares forem pouco consistentes ou insuficientes para revelar a correlação do alimento com o quadro clínico. • Tratamento O alimento deve ser totalmente excluído da dieta, enfatizando a necessidade de estar alerta para o risco de exposição acidental. A exclusão do alimento envolve obrigatoriamente a restrição de qualquer fonte alimentar que contenha a proteína alergênica. O paciente deve ser orientado para realizar leitura de rótulos, evitar situações de alto risco (p. ex., buffets) e reconhecer precocemente os sintomas alérgicos. O paciente também deve ser orientado a evitar alimentos que apresentem reatividade cruzada com o alimento ao qual é alérgico. Anti-histamínicos podem melhorar sintomas cutâneos IgE mediados, mas não bloqueiam reações sistêmicas. O medicamento chave no tratamento de uma reação alérgica alimentar do tipo anafilática é a adrenalina, na dose de 0,3 a 0,5 mL de solução 1:1.000 por via IM. Deve ser prescrito e orientado o uso de adrenalina para autoinjeção para os pacientes que tenham risco de anafilaxia induzida por alimento.
Compartilhar