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PROCESSO EPIDÊMICO

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PROCESSO EPIDEMICO.
Um dos primeiros passos no estudo do processo epidêmico, ou seja estudo dos elementos que interagem na ocorrência de doenças é definir o que seria doença:
Na definição do Organização Mundial da Saúde: saúde é o estado de completo bem estar físico, mental e social do indivíduo, não mera ausência de doença ou defeito. Esse conceito seria da saúde ideal o que dificilmente se encontra nas populações humanas e animais.
Vale aqui ressaltar a classificação de WHITE (1972) que contempla seis níveis de observações para gradação do que seria não ter saúde: Morte, doença, incapacidade ou invalidez, mal estar ou desconforto, dilaceração ou agravo físico e descontentamento ou insatisfação.
O conceito de processo epidêmico, ou seja a interelação entre o agente, meio e hospedeiro pode ser bem visualizado no conceito de PERKINS (1938) que caracteriza saúde como: um estado de relativo equilíbrio, da forma e função do organismo, resultante de um ajuste dinâmico e satisfatório, frente às forças que tendem pertuba-lo = adaptação.
Daí vem o conceito ecológico das doenças, onde um infindável e dinâmico número de ações e reações, onde o hospedeiro busca o equilíbrio.
PROCESSO EPIDÊMICO:
 AGENTE
 				 		
 AMBIENTE HOSPEDEIRO
Na natureza, em condições normais, tende-se a ter uma relação de equilibrio entre os três elementos que compõe o ecossistema. Pode-se representar a interação entre os elementos do ecossistema na forma de um triângulo equilátero, onde a modificação de um dos ângulos gera de alguma forma a modificação de outros dois.
 
Agente etiológico, no presente caso um agente biológico, de uma de doença: segundo SIMON (1960) é um determinante indispensável mas não necessariamente suficiente para o desenvolvimento da doença infecciosa”
No estudo das características dos agentes biológicos referentes à morfologia, fisiologia, nutricionais etc.. não serão abordadas uma vez que fazem parte da Microbiologia e Parasitologia. No enfoque da ocorrência da doença e sua transmissão daremos enfoque às seguintes características:
Infectividade: é a capacidade do agente penetrar, se instalar e multiplicar hospedeiro, independente da ocorrência do agravo à saúde. Esta característica esta relacionada com a velocidade da propagação da doença. O vírus da febre aftosa apresenta alta infectividade, uma vez que ele chega em uma população susceptível se propaga rapidamente infectando grande parte da mesma. As micobactérias apresentam baixa infectividade o que faz com que ela se dissemine lentamente.
Essa característica quando é alta requer ação imediata no sentido de impedir a propagação da doença.
Patogenicidade: é a capacidade do agente em causar danos ao hospedeiro, esta relacionada com a frequência do aparecimento da manifestação clínica da doença. Agentes com alta patogenicidade como o vírus da peste suína por exemplo determinam na população de susceptíveis elevado número de casos clínicos da doença.
Virulência: esta relacionada com a intensidade da manifestação clínica da doença, traduzida pelo grau de severidade do agravo ou dano acarretado ao hospedeiro. Geralmente a virulência de um agente é quantificada pela DL 50, ou seja a menor quantidade de microrganismos ou dose de sua toxina capaz de matar ou provocar reações em 50% doas animais, ou outro sistema biológico, em um espaço de tempo. Independe da infectividade e pode variar entre as diferentes espécies de hospedeiros, entre diferentes hospedeiros da mesma espécie, ou até entre diferentes cepas do mesmo agente.
Antigenicidade: è a capacidade do agente em induzir estímulo imunitário no hospedeiro, qualquer agente, por ser um elemento estranho, tem a capacidade de induzir esse estímulo.
Poder Imunogênico: è a capacidade do agente em induzir estímulo imunitário que protege o hospedeiro, que pode ser de longa duração ou curta duração. O vírus do sarampo induz a imunidade duradoura enquanto que o da febre aftosa induz uma resposta pobre e de pequena duração.
Essa característica do agente esta relacionada com a possibilidade da criação de vacinas contra o mesmo principalmente quando o agente é capaz de induzir uma proteção forte e duradoura.
Viabilidade ou Resistência do agente etiológico: é a capacidade do agente sobreviver fora do hospedeiro e superar as adversidades do meio ambiente. Esta característica é importante, pois quanto mais resistentes mais tempo o agente pode permanecer no meio ambiente e assim aumenta a sua chance de encontrar novo hospedeiro. Os agentes esporulados ou que produzem oocistos por exemplo apresentam grande resistência. Outro aspecto é a transmissão indireta desses agentes, pelo ar, água, solo, alimentos etc.. o que facilita sua disseminação por longas distâncias. Podendo atingir vastas regiões. Enquanto os agentes de baixa viabilidade requerem a transmissão direta, o que de alguma forma cerceia sua disseminação rápida por amplas regiões.
Variabilidade: a variação antigênica é um exemplo do mecanismo seletivo de adaptação do agente a uma situação adversa, modificando suas características antigênicas para iludir os mecanismos de defesa do hospedeiro. Tende-se a um processo de adaptação ao hospedeiro, no sentido sempre de garantir sua sobrevivência. Um exemplo que pode ser citado é do vírus da febre aftosa, que ao passar por animais parcialmente imunizados pode sofrer alteração de sua característica antigênica e a partir daí é capaz de infectar animais completamente imunes para a estirpe original.
Outro exemplo é o aparecimento de cepas de microrganismos resistentes a antimicrobianos, que ocorre quando o tratamento é feito sem controle, fato bastante comum em nosso meio.
A questão da resistência a drogas antimicrobianas constitui-se em um dos motivos mais importantes de alteração do comportamento epidemiológico de doenças, acarretando aumento de prevalência e letalidade para uma série de problemas que anteriormente eram considerados sob controle. Desde a constatação da existência de Staphylococcus aureus resistentes, na década de 50, vários surtos de infeções hospitalares e em comunidade, têm sido associados a bactérias, vírus e parasitas resistentes. 
Cerca de 1/3 dos casos de tuberculose em New York são produzidos por cepas multirresistentes e a letalidade entre eles varia de 40 a 60% igualando-se àquela observada entre casos não tratados. Estudos realizados pelo CDC, entre 1982 e 1986, identificaram 9% de cepas resistentes em pacientes virgens de tratamento e 23% em pacientes previamente tratados4. 
Persistência: é a capacidade de um agente, uma vez introduzido em uma população, nela permanecer por período prolongados ou indefinidamente.
Os agentes de parasitismo obrigatório, acometem uma única espécie, produzem doenças de levada letalidade ou conferem imunidade duradoura, seguramente tem dificuldades de se manter na natureza:
 Os agentes tendem a:
Adaptar-se ao parasitismo do maior número de espécies
Estabelecer um processo menos agressivo ou mesmo utilizar-se invertebrados onde podem permanecer por transmissão transovariana.
Adquirir formas de resistência ao ambiente que lhe permita permanecer na ausência de parasitismo.
Criar mecanismos capazes de iludir os processos de defesa do hospedeiro.
Os microrganismos adquirem maneiras para persistir na natureza:
Os pouco resistentes e que apresentam infecções de ciclo curto, induzindo uma resposta imunitária sólida ou causando a morte do hospedeiro, necessitam de uma cadeia contínua de casos: cinomose, sarampo, raiva. 
-Outros produzem infecções crônicas como a brucelose e a tuberculose.
Outros produzem infecções lentas..como o scrapie ovino
-Outros produzem esporos, oocisto e ovos resistentes ao ambiente, ou também modificações antigênicas, como vírus da anemia infecciosa equina que ilude o sitema de defesa do hospedeiro.
Ressalta-se também a ocupaçãode nicho ecológico deixado por uma espécie, muitas vezes não patogênicas ao homem, por outro microrganismo patogênico. Este fato pode ser observado na Inglaterra e Estados Unidos, quando a Samonella enteritidis ocupou o nicho deixado pela S. gallinarum, que foi erradicada dos planteis através de medidas severas.
AMBIENTE: Os fatores ambientais que interferem na ocorrência de doenças são de natureza: física, química, biológica e socio-econômico-culturais.
Fatores físico e químicos: São muito importantes pois atuam no meio onde estão o agente etiológico, o hospedeiro e também os vetores quando os mesmos participam na transmissão de uma doença.
Dentre os fatores físicos destaca-se o clima, que tem sua importância aumentada em relação aos animais jovens, particularmente sensíveis ao frio, calor e à desidratação. Este fato esta relacionado ao controle termo regulador que nos suinos jovens por exemplo só tem esse controle no sexto dia de vida.
Nos animais mais velhos o frio pode levar à hipotermia predispondo os animais á infecção. Vale ressaltar que a ocorrência de ventos e da chuva aumenta a perda de calor dos animais potencializando o efeito da baixa temperatura.
Muitas vezes também as associação desses fatores climáticos provocam stress nos animais fazendo com que ocorra uma queda da resistência dos mesmos.
Especificamente com relação ao vento, alem do efeito de potencializar a queda da temperatura favorece muitas vezes a desidratação, o que pode ser negativo à presença do agente no meio exterior. Nota-se aqui a importância dos ventos na dispersão de invertebrados, por exemplo RUDOLFS ( 1931) verificou que a atividade dos mosquitos é fortemente inibida quando o vento atinge velocidade de 12,9 km/h, em contrapartida ele pode carrear agentes de doenças como vírus e bactérias por longas distâncias favorecendo a dispersão do agente.
A radiação solar, particularmente a fração UV tem efeito na inativação de agentes infecciosos, em contrapartida a nebulosidade interfere nessa ação favorecendo a manutenção dos agentes no meio.
O conhecimento desses fatores extrínsecos que interferem no hospedeiro e nos agentes pode-se determinar as épocas em que certas doenças apresentam maior chance de ocorrência, o que pode adiantar a aplicação das medidas de profilaxia.
È importante salientar que o macroclima de uma região relacionado com os fatores citados, pode ser diferente de áreas especificas onde pode existir condições para o aparecimento de microclimas específicos importantes sob o aspecto epidemiológico pois podem dar condições especiais de sobrevivência para o agente ou para os vetores de doenças.
Áreas irrigadas, ou locais onde existam fontes de água ou plantas que possam acumular água podem mesmo num clima árido dar condições para o aparecimento de vetores. Esses locais também favorecem a aglomeração de animais aproximando as fontes de infecção dos novos hospedeiros.
A presença de chuvas pode também interferir na ocorrência de agravos a saúde, como pode ser verificado no trabalho de VOLNEY et al. (1998) nos períodos de chuvas, na Amazônia,o volume das águas praticamente impede a atividade garimpeira, diminuindo consideravelmente a produção e, por conseqüência, a comercialização do ouro. como resultado, decrescem os índices de exposição ao mercurio ea possibilidade de aparecimento dos efeitos adversos à saúde.
A deficiência mineral do solo interferindo na ocorrência de doenças pode ser visualizada no trabalho de SOUZA (2001) quando o autor cita que a deficiência de fósforo no solo e na planta leva os bovinos, em especial vacas prenhes ou em lactação, a buscarem esse elemento em carcaças de animais mortos, que muitas vezes contem doses ativas de toxína botulínica, o que leva os animais a se intoxicarem, gerando grandes prejuízos à pecuária. No solo também aparece condições adequadas para sobrevivência de formas de resistência dos agentes de doença.
A cobertura vegetal, ou paisagem vegetal, é importante uma vez que muitas vezes da condição de sobrevivência dos agentes pelo sombreamento e pela umidade que as mesmas retém, soma-se ao fato da proteção contra os ventos. Um exemplo que pode ilustrar essa afirmação é a presença de mata atlântica por exemplo onde existem grande quantidade de bromélias que tem a capacidade de reter água de chuva, e como elas ficam na forma de epífitas nas arvores, servem de criadouros de mosquitos importantes como vetores de doenças. No pampa gaúcho, as vegetação rasteira composta de gramíneas favorecem a sobrevivência, principalmente pela umidade retida e sombreamento, de ovos de Echinococcus granulosus eliminados pelos cães. que vão infectar os ovinos da região.
A paisagem geológica do terreno, como a presença de montanhas por exemplo, favorecem o aparecimento de Montanhas que geralmente apresentam grutas que dão condição para a manutenção de morcegos hematófagos por exemplo.
A paisagem hídrica tem ação importantíssima na ocorrência de doenças. Em primeiro lugar deve-se destacar a ausência de coleções hídricas, que levam muitas vezes a se buscar soluções, que sob o ponto de vista epidemiológico são erradas. Pode-se citar novamente SOUZA (2001) quando o autor cita que no estado de Goiás, muitas vezes os criadores de bovinos dividem os pastos e esses não tem fontes de água naturais. Os mesmos então constroem cacimbas ( reservatórios da água de chuva) que servirá de bebedouro. Ai a associação de fatores climáticos como ausência de chuvas, sol e vento favorecem a evaporação das cacimbas e assim ocorre uma concentração de matéria orgânica na mesma
( fezes dos animais ppte) que leva à ausência de oxigênio dissolvido na água. Cria-se então uma situação especial: matéria orgânica que geralmente é representada pelas fezes, ricas em esporos de Clostridium, ausência de oxigênio, ocorre a multiplicação desses clostrídios com a formação de toxina botulínica, que intoxica os animais nesse caso independe da gestação e e se em lactação, pois todos os animais são atingidos ao buscarem a água.
O excesso de água leva a formar terrenos encharcados que favorecem a proliferação de vetores, principalmente artrópodos. Esse tipo de terreno tb favorece a criação de hospedeiros intercalados como caramujos por exemplo, importantíssimos para a ocorrência da fasciolose e esquisostomosse por exemplo.
 	Em estudo realizado por sobre a ocorrência de esquistossomose em Pernambuco BARBOSA(2000) verificaram que em duas lagoas são criadouros perenes durante todo o ano. No período das chuvas, suas águas transbordam, inundando ruas, quintais e terrenos vazios, formando criadouros secundários. Estes mantêm suficiente lâmina de água durante o período pós-chuvas para que os caramujos se reproduzam em abundância. 
No período pós-chuvas (época de veraneio), 18,6% dos moluscos coletados em poças situadas nas ruas de acesso à praia estavam positivos para S. mansoni. O potencial de emissão de cercárias, verificado experimentalmente, indicou uma média de 394,6 cercárias por caramujo, em 5 min de exposição à luz. Nessas condições, pode-se imaginar o potencial biológico e ambiental de risco para a transmissão da esquistossomose. 
 	A paisagem hídrica como os rios, riachos, lagoas etc. .também influenciam a ocorrência de doenças, funcionando como verdadeiras estradas por onde se locomovem agentes de doenças. Pois o ser humano não dá destino adequado às excretas humanas e animais na grande maioria das vezes. Existe então uma contaminação dessas águas, e o aparecimento de doença ppte as doenças cuja rota de transmissão é a fecal-oral.
Os solos ainda podem causar enfermidades de origem química, através de intoxicação por elementos existentes no próprio solo ou decorrentes de ação antropogênica. Um exemplo citado por SCHWABE ( 1977) que se refere à ocorrência nos Estados Unidos de rompimento da aorta em suínos em áreas com alta concentração de zinco no solo.
Fatores biológicos do ambiente:
Cobertura vegetal: O primeiro enfoque deve ser dadocomo o enfoque nutricional pois a vegetação é o primeiro passo na cadeia alimentar, regiões em que a cobertura vegetal é escassa pode ler a desnutrição, as grandes migrações que são fatos que interferem na ocorrência de doenças.
	Outro aspecto que pode ser enfocado é o caso de coberturas do terreno por resíduos de matas em áreas desmatadas, tendem a aproximar as espécies facilitando o contato entre as mesmas, o que pode favorecer a ocorrência de doenças. 
Além disso áreas com matas dão proteção a vetores como pode ser verificado no trabalho de Gomes e Koller (1999) onde verificaram que maior número de dípteros, bem como, portadores de ovos de D. hominis foram capturados nos locais de pastagens com maior densidade de árvores. 
A malária transmitida por anofelinos do gênero Kertszia, que se desenvolvem em bromélias é exemplo importante no que se refere a vegetação interferindo na ocorrência da doença, qado as florestas, caso da atlântica, tem grande quantidade de bromélias, ocorre a doença..por isso denomidada como um tipo epidemiologico especial a bromelio-malária. 
Populações animais: incluem diferentes espécies de invertebrados e de vertebrados que podem favorecer ou prejudicar o processo da doença. Os vertebrados podem estabelecer relações amenas com agentes etiológicos, desempenhando o papel de reservatórios dos mesmos. Essa ocorrência além de favorecer a manutenção do agente na natureza ainda favorece sua transmissão às populações mais susceptíveis. Os morcegos hematófagos representam esse papel na raiva e os ratos na leptospirose.
A diversidade de espécies em uma região favorecem muitas vezes a aproximação da fonte de infecção com o novo hospedeiro. Ex. Na região do pantanal, a presença de cervídeos pode favorecer a manutenção de enfermidades para os bovinos criados naquela região.
A diminuição das espécies também podem interferir no aparecimento de doenças em estudo sobre a presença de hospedeiros que serviam de alimento para vetores da doença de Chagas TEIXEIRA (2000) em áreas de mata degradada, no estado de Tocantins, encontraram apenas uma espécie de mamiferos da familia Didelphidae, que serviria de fonte de alimentos, e isso contribuiu para invasão domiciliar e peridomiciliar dos triatomíneos, enquanto que em áreas não degradadas da mesma floresta foram encontradas 7 famílias de mamíferos: primatas, edentatas, marsupiais, carnivoros, roedores e quirópteros que servem de alimento para os triatomíneos.
Outro fator que favorece a presença de triatomíneos infectados nas casas no período das chuvas é a ausência de pássaros e mamíferos que se alimentam dos triatomíneos favorecem o processo.
A presença de invertebrados pode ser essencial para permanência do agente na natureza e sua transmissão ao novo hospedeiro. Exemplos são o carrapato no caso da babesiose e os moluscos no caso da fasciolose.
 A incidência de doenças humanas transmitidas por carrapatos tem aumentado muito nos utilmos 20 anos nos EUA, em decorrência do grande número de reflorestamentos que levou ao aumento de densidade dos cervídeos e de seu carrapato Ixodes scapularis e aumentando a transmissão de microrganismos para os quais esse carrapato é vetor: Borrelia burgdorferi, Babesia microti, Ehrlichia phagocytophila, devido sua natureza antropofílica o Ixodes é um excelente vetor desses agentes ao homem.
Fatores sócio-econômicos-culturais: 
	
Uma das mais importantes ações antropogênicas sobre o ambiente, hospedeiro e agente e alterando-os pode induzir ao desequilibrio e assim favorecer a ocorrência de certas doenças, inclusive em detrimento de outras.
	A modificação dos métodos de produção, pode trazer como consequência uma mudança de padrão na ocorrência de doenças. Um exemplo é a introdução da ordenha mecânica na produção de leite, o que se não for realizado de maneira adequada pode levar a um aumento no número de casos de mastite no rebanho leiteiro. A desinfecção inadequada e a utilização de pressão negativa elevada pode dar condições para a instalação de agentes mastitogênicos.
	Com a necessidade do aumento de produção o homem atua no hospedeiro melhorando por exemplo a sua produção de leite e com isso levando a queda da resistência dos mesmos a agentes de doença, como é o caso do gado leiteiro melhorado frente aos agentes de mastite. Com isso aumenta a ocorrência da mastite no rebanho leiteiro.
	O uso indiscriminado de antibióticos, ainda no caso da mastite bovina, leva ao aparecimento de resistência do agente etiológico frente a droga utilizada. O que com certeza irá dificultar o controle da doença.
	No que se refere a bovinocultura de corte, o aspecto econômico, influencia na criação através do aparecimento de confinamentos, o que aumenta a densidade animal, aproximando fontes de infecção e novos hospedeiros, facilitando a ocorrência de doenças.
	Na população humana, em especial a do meio rural, o aspecto cultural da ingestão de leite cru e seus subprodutos elaborados na própria propriedade pode interferir no aparecimento de doenças.
	A interferência do aspecto cultural e econômico pode ser visualida no que ocorreu na Bulgária na década de 90. O colapso financeiro do país pela guerra fez com que cooperativas de produtores de leite falissem, e com isso triplicou o número de médios animais como as cabras, cujo número passou de 430.000 em 1990 para mais de um milhão em 1997. Com isso o contato com as cabras aumentaram , o consumo de leite de cabra e seus subprodutos crus aumentou e as cabras passaram a ser os reservatórios mais importantes da febre Q na Bulgária.
O problema da ausência da educação formal, e por consequência da educação sanitária, muito comum no meio rural em nosso país, dificulta o entendimento da população sobre as medidas a serem tomadas no sentido de se prevenir doenças.
	O aspecto da poluição ambiental, que culturalmente é muito comum em nosso país, inclusive no meio rural, com a deposição inadequada de dejetos no solo e nos corpos de água, favorecem a disseminação de agentes de doença, em especial os que utilizam a rota de transmissão fecal-oral.
	A melhora da infra-estrutura de rodovias e outros meios de locomoção favorece a movimentação de animais o que pode favorecer a movimentação de agentes etiológicos.
	A presença de estradas pode interferir no aparecimento de doenças como pode ser verificado com a febre Q na Suiça, onde rebanho de ovinos retornavam das pastagens da montanha no ano de 1983, e ocorreu uma elevada taxa de ataque da doença entre as pessoas que moravam ao redor da estrada pela qual os ovinos foram conduzidos.. Num exame realizado nos ovinos verificaram que 40,0% apresentavam anticorpos contra C. burnetti. 
Esse aspecto pode ser verificado na citação de SASAKI et al.(1992 ) sobre o primeiro caso não autoctone de raiva no Hawaii resultou a introdução de um morcego em março de 1991, o mesmo foi capturado em um container transportado por navio que estava no porto de Honolulu, era um container com automóveis vindo de Michigan, que foram carregados na California. Foi isolado o vírus da raiva no morcego e O CDC como uma variante comum no oeste do EUA.
Assim sendo, a intensificação do tráfego internacional promove análogo fenômeno por parte do comércio de produtos bem assim como de passageiros. Dentre estes, além de seres humanos ocorre também o transporte de representantes de outras populações, no caso de que se está tratando, de mosquitos culicídeos. É assim que surgiu recentemente o quadro epidemiológico da chamada "malária aero-portuária" atingindo habitantes próximos aos aeroportos internacionais, graças ao desembarque desses vetores provenientes de regiões endêmicas. 
	Os meios de comunicação rápidos, podem favorecer a ação rápida de medidas de controle de enfermidades, favorecendo a notificação de casos por exemplo.
	O desenvolvimento tecnológico, com a descoberta de novos medicamentos e vacinas, pode ter efeito bastante positivo no controle de doenças.
	O aspecto de desenvolvimento de umaregião, com a necessidade de energia e construção de hidreleticas e a decorrente inundação de áreas pode interferir no meio e com isso possibilitar a presença de vetores. Dentre os mais importantes problemas de saúde pública figuram as doenças transmitidas pelos vetores que se beneficiam com o aumento da lâmina d'água 
Outro aspecto vem a ser o daquela situação na qual o vetor, embora presente, participa da fauna local como espécie pouco abundante ou mesmo rara. No entanto, a atuação humana modificando o ambiente propicia condições favoráveis à proliferação do mosquito. Como exemplo, pode-se mencionar a identificação de An. albitarsis l.s. no Vale do Ribeira, Estado de São Paulo, Brasil (Forattini e Massad6, 1998). Esse anofelíneo mostra-se localmente pouco representativo da fauna culícidea, ao menos pelos meios de coleta utilizados. No entanto, a adoção de técnicas agrícolas de irrigação artificial possibilitou ambiente favorável ao seu incremento populacional. Como a região é considerada hipoendêmica de malária, torna-se lícita a hipótese dessa parasitose vir a se tornar reemergente, graças à ação desse vetor potencial. 
O trabalhador da zona canavieira de Pernambuco apresenta, há décadas, elevadas prevalências para esquistossomose mansônica e outras parasitoses. A recente mecanização da agricultura vem agravando a crise social no campo, promovendo o deslocamento de contingentes humanos desempregados. Estes, ao ocuparem a periferia das grandes cidades onde não existem condições básicas de saneamento e moradia, propiciam o surgimento de focos urbanos, mudando o perfil epidemiológico das doenças de transmissão vetorial.2 
A ocupação de áreas de maneira desordenada pode interferir na ocorrência de doenças, isso ocorre muitas vezes quando o ser humano busca uma melhora da condição passando de extrativista para produzir : MADEIRA (2001) verificou que em áreas que estão sofrendo um processo de ocupação recente, associado à acentuada degradação ambiental, é possível constatar a circulação da Leishmania braziliensis. Essa alteração ambiental provocada principalmente pela ação humana tem favorecido a adaptação de algumas espécies de flebotomíneos vetores com grande potencial de transmissão a viverem e criarem-se próximos ao homem, expondo dessa maneira um maior número de indivíduos e animais ao risco de contrair a infecção.
Ao longo dos anos, em Itaguaí, a crescente devastação da floresta e a expansão cafeeira, posteriormente substituída pela cultura de banana, onde os habitantes freqüentemente constroem suas casas, hábito iniciado pelos loteamentos irregulares na década de 50, ocasionou a diminuição da fauna flebotomínica e a de animais silvestres, porém elevou a densidade de Lutzomiia. intermedia no ambiente peridomiciliar e domiciliar, onde a espécie encontrou sua sobrevivência garantida graças à estreita relação alimentar com o homem, animais domésticos e sinantrópicos. AGUIAR( 1996).
Muitas vezes quando ocorre migração do campo para a cidade e as pessoas passam a morar em áreas suburbanas pode ocorrer interferências no aparecimento de doenças. AZAD (1997) se refere a isso, quando afirma que no Texas esta ocorrendo uma mudança na ocorrência de riquetsioses, pois as pulgas infectadas se mantem nos hospedeiros peri-domiciliares como gatos, cães, gambas etc..e pode passar para os animais que tem acesso para dentro das habitações, e assim levar as pulgas que podem infestar os seres humanos, carreando agentes patogênicos.
O aspecto econômico, que gera guerra também pode ser evidenciado no caso de Israel, até 1979 a raiva nesse pais tem o aspecto selvático, sendo as raposas as principais envolvidas. A partir de 1990 os casos em cães superaram os casos selváticos, em decorrência da Guerra com O iraque a população de Tel Aviv e àreas costerias abandonaram seys lares em decorrência dos mísseis e deixaram os cães a população errante aumentou muito, propiciando surto de raiva entre os cães. Após a eliminação dos cães a partir de 1992, a situação voltou a ser como era antes.
A doença de Chagas é um exemplo típico de uma injúria orgânica resultante das alterações produzidas pelo ser humano ao meio ambiente, das distorções econômicas e das injunções sociais. O protozoário responsável pela parasitose, Trypanosoma cruzi, vivia restrito à situação silvestre, circulando entre mamíferos do ambiente natural, através do inseto vetor ou, também, muito comumente, por via oral (ingestão de vetores e mamíferos infectados). Foi o homem quem invadiu esses ecótopos e se fez incluir no ciclo epidemiológico da doença, oferecendo ao hemíptero vetor vivendas rurais de péssima qualidade, frutos de perversas relações de produção e de políticas sociais restritivas (Dias & Coura, 1997). 
Hospedeiros: Os invertebrados que podem hospedar agentes etiológicos serão estudados quando do estudo da cadeia epidemiológica, como vetores ou hospedeiros intercalados, funcionando como vias de transmissão.
Nesse caso o hospedeiro será todo vertebrado capaz de albergar, na intimidade de seu organismo, um agente causal de doença.
Susceptiblidade e resistência do hospedeiro:
Susceptibilidade: é a falta de defesas do hospedeiro para resistir ao ataque ou agressão de um determinado agente de doença. Utiliza-se o termo suscetível para designar a sensibilidade de um hospedeiro a um agente de doença.
Resistência: conjunto de defesas de um hospedeiro contra um agente de doença.
 Na natureza essas duas condições se manifestam em diferentes graus de intensidade que vão da refratariedade como é o caso dos equinos frente a febre aftosa e sensiblidade, como é o caso de bovinos jovens de raças apuradas em áreas livres da doença frente ao mesmo vírus.
 A resistência, estado relativo de defesa do hospedeiro, contra o ataque de um agente etiológico, pode ser catalogada em dois tipos distintos:
Resistência inespecífica ou natural: decorre das características estruturais e funcionais do próprio hospedeiro, sem a participação de recursos imunitários.
Resistência específica ou artificial: esta ligada a resposta imune desenvolvida pelo hospedeiro em decorrência de estímulo específico.
Fatores envolvidos na resistência natural: 
Pele : Processo de dessecamento do agente
 Eliminação do agente pela descamação contínua do tecido epitelial.
A própria pele, penas , pelos e escamas são barreiras físicas à penetração do agente.
Glândulas sebáceas; a camada de gordura é uma barreira física, além do efeito bactericida dos ácidos graxos.
Glândulas sudoríparas: agrega ácido lático e sais na pele que tem ação germicida.
Mucosas: apesar de representar uma excelente porta de entrada para diversos agentes de doenças apresenta suas defesas:
 	Conjuntiva ocular: defesa mecânica do fluxo lacrimal.
Mucosa respiratória: sinuosidade, muco e cílios e pelas nas narinas, são mecanismos que tendem a dificultar a penetração do agente etiológico.
Mucosa digestiva: epitelio estratificado representa barreira física, saliva efeito mecânico do fluxo e ação germicida.
Mucosa urogenital: tapete mucoso
Mecanismos preventivos: são processos fisiológicos e reflexos naturais do hospedeiro, capaz de interferir, inespecificamente no período pré-patogêncio das relações intrínsecas entre o hospedeiro e o agente.
Citaremos alguns exemplos:
1-Ato de abanar a cauda, as orelhas , a crina e o tecido cutãneo, na tentativa de afastar artrópodos, possíveis vetores de enfermidades.
2- Movimento das pálpebras com fluxo contínuo de lagrima, que pelo ducto lacrimal chega a cavidade nasal
3- Filtração no trato respiratório pelos pêlos retendo as partículas maiores,. As que passam nessa primeira barreira, são retidas nas sinuosidades repletas de muco, que pelo movimento dos cílios são conduzidas em direção à faringe a fim de serem deglutidas. Quando essas partículas são irritantes ocorre o reflexo do espirro visando elimina-las para o meio exterior.
4- Reflexo da tosse, que é um mecanismo importantena eliminação de agentes etiológicos dos brônquios e da traquéia.
5- Mecanismo do vômito: efetivo em eliminar agentes e substâncias tóxicas.
6- Fluxo contínuo de saliva: a mucosa bucal é banhada pela saliva que flui até a faringe onde é deglutida. Esse fluxo, somado a descamação do epitélio e movimentos da lingua são mecanismos importantes na remoção de microrganismos da cavidade oral.
7- Processo diarréico: aumento dos movimentos peristálticos somado a fluidez do conteúdo é um mecanismo impte na remoção de agentes microbianos e toxinas.
8- Secreções : o suco gástrico atua como fator deletério para muitos microrganismos. Entretanto devemos lembrar que os ovos de tenias só se rompem no intestino após um banho prévio de suco gastrico.
9- Fluxo descendente da urina e do leite: são mecanismos que atuam dificultando a instalação de microrganismos.
10- Durante a gestação a constrição da cérvix e a presença de tampão muco-albuminoso constitui-se elemento de proteção contra entrada de microrganimos no útero.
Mecanismos defensivos: após o vencimento das barreiras citadas nos mecanismos preventivos, os agentes ainda encontram barreiras defensivas:
Fatores humorais: 
A linfa que banha os espaços intercelulares recolhe os elementos particulados livres, inclusive microrganismos, e os carreia para os gânglios linfáticos onde são retidos e destruídos.
O soro sanguíneo apresenta propriedades bactericidas através bacteriolosinas como a lisosima e a leucina.
Fatores metabólicos: A pressão sanguínea é um exemplo, aumentando-se a pressão sanguínea aumenta-se o processo de excreção renal. Com o aumento da pressão sanguínea ocorre aumento oxigenação dos tecidos que inibe a vegetação de esporos de agentes naeróbios como os clostrídios que se encontram muitas vezes presentes e inativos nos tecidos animais. O exemplo de situações traumáticas que interferem no suprimento sanguíneo e de oxigênio possibilita a evolução dos esporos para forma vegetativa produzindo a doença. No campo muitas vezes após o manejo dos rebanhos, ppte de animais pouco acostumados existem muitos processos traumáticos e isso muitas vezes favorece o aparecimento de carbúnculo sintomático por exemplo.
A temperatura corporal: O processo de febre que indica a existência de luta entre hospedeiro e parasita, com a elevação de temperatura é um mecanismo que dificulta a sobrevivência do agente da doença.
Fatores hormonais: Na espécie humana , durante a fase reprodutiva da vida, os hormônios estrogênios asseguram ao epitélio vaginal um suprimento adequado de glicogênio, que metabolizado pelos lactobacilos da flora normal gera ácido lático que tem ação com diversos microrganismos
Fagocitose: Se um agente consegue ultrapassar as barreiras citadas, inicia-se o processo inflamatório, que tem o objetivo de bloquear a penetração do agente do seu ponto de penetração. A fagocitose do agente através dos glóbulos brancos é um processo bastante eficienete no controle dos agentes.
Características próprias dos hospedeiros que interferem na sua resistência a agentes de doenças:
Espécie: Influenciada pela constituição genética do hospedeiro, metabólica e físico-química do hospedeiro. As fêmeas bovinas são muito suscetíveis à brucelose, em decorrência da presença de eritritol na placenta, o que favorece a multiplicação do agente e presença de aborto na espécie.
Os bovinos da espécie Bos taurus são mais suspetíveis que os da espécie Bos indicus frente à maioria das doenças.
Os biungulados são susceptiveis a febre aftosa.
Raça: Algumas raças são mais susceptíveis que outras> Por exemplo o gado Hereford é mais suscetível à ceratoconjuntivite infecciosa que outras raças.
As raças zebuinas são mais resistentes a muitas enfermidades que as raças européias.
Em humanos:
Anisaquíase na raça Japonesa pelo hábito de consumo de pescado crú.
Idade: A idade infuencia na resistência do hospedeiro, geralmente os mais jovens e os mais idosos são mais suscetíveis às doenças. Ex: Cinomose ocorre nos cães até um ano, as diarreias corre com maior frequencia em bovinos jovens(Colibacilose, paratifo).
Linhagens: dentro da mesma espécie e mesma raça existem linhagens mais resistentes a doenças. Por exemplo linhagens de aves resistentes À leucose aviária.
Indivíduo: em indivíduos com características idênticas no que se refere a especie, raça, linhagem, submetidos a condições externas semelhantes não adoecem da mesma maneira. O temperamento agitado que favorece ao stress pode interferir no aparecimento de doença.
Sexo: O comportamento de ambos os sexos frente a um agente é distinto. A brucelose é muito mais prevalente nas fêmeas bovinas do que nos machos da espécie. Existem algumas doenças que são específicas de cada sexo: mastite nas fêmeas e orquites nos machos por exemplo.
Características variaveis dos hospedeiros que interferem na sua resistência a agentes de doenças:
Estado fisiológico: é importante para a capacidade do hospedeiro reagir ao ataque de um agente de doença. A subnutrição, o stress, a gestação são estados que debilitam o animal ou ser humano, tornando-os mais sensiveis ao agente.
Utilização: dependendo do usos que se faz dos animais eles podem ser mais suscetíveis à enfermidades:
Vaca leiteira que se submete a ordenhas diárias são mais suscetíveis que as vacas de cria para corte. Equinos que trabalham com esforço físico são mais suscetíveis que puro sangues que apenas são utilizados para reprodução.
Densidade: esta relacionada com o stress pelo pouco espaço, como também pela maior proximidade entre fontes de infecção e novos hospedeiros.
Resistência específica ou imunidade: 
Pode-se considerar dois tipos de imunidade: 
Imunidade ativa: os mecanismos de defesa são gerados no organismo do hospedeiro resultante do estímulo do contato prévio com o determinante imunogênico do antígeno.
Imunidade ativa naturalmente induzida: resulta do processo de doença seguido de recuperação ou de uma infecção apenas.
Imunidade ativa artificialmente induzida: reaulta da administração de antígenos, dotados de características imunogênicas que são as vacinas.
 Imunidade passiva: quando o hospedeiro recebe de um modo natural ou artificial anticorpos específicos, gerados previamente no organismo de outro indivíduo, geralmente apresenta um curto período de duração
Imunidade passiva naturalmente adquirida: é quando existe a passagem de anticorpos via placentária ou colostro gerados no organismo materno.
Imunidade passiva artificialmente induzida: é através da soroterapia, como o soro anti-rábico por exemplo.

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