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Abordagem clínica e epidemiológica do ofidismo no município de Alegre (ES)

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1 
Abordagem clínica e epidemiológica do ofidismo no município de Alegre (ES) 
 
Lauro Freitas da Silva1, Silvio Antonio Fragoso Filho1, Teresa Cristina Ferreira da Silva2 
 
1Autor, acadêmico do 8º Período do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Faculdade de Filosofia, Ciências 
e Letras de Alegre – FAFIA-ES. 
2Professora orientadora. Enfermeira Especialista em Educação Profissional na Área de Saúde: Enfermagem pela 
Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ. Professora do Curso de Bacharelado em Enfermagem da FAFIA-
ES. Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde e Saneamento de Alegre – ES. 
 
RESUMO - O ofidismo constitui o envenenamento provocado pela ação de toxinas de serpentes que pode levar 
a alterações locais e sistêmicas. Considera-se problema importante de saúde pública devido a incidência, 
gravidade e sequela provocada na vítima. Diante da gravidade dos problemas gerados por esses acidentes e, da 
necessidade de uma assistência de enfermagem imediata, sistematizada, proporcionando uma rápida recuperação 
dos acometidos o estudo buscou de forma descritiva, com coleta de dados no Sistema de Informação de Agravos 
de Notificação, conhecer a magnitude do ofidismo no município de Alegre - ES, no período de 2001 a 2008, 
correlacionando os aspectos epidemiológicos e clínicos à implementação da assistência de enfermagem. Os 
resultados sugerem que o perfil epidemiológico e clínico apresentados configuram de fato um evento que merece 
atenção do sistema de saúde em face da ocorrência em todos os meses do ano, totalizando 159 acidentes 
ofídicos provocados em 97,5% por Bothrops, com predomínio em maio. Além da importância médica e 
epidemiológica, envolve questões sociais e econômicas, pois atinge indivíduos jovens e do sexo masculino, que 
representam a população economicamente ativa, sendo 88% da amostra constituída de homens, 73,3% na faixa 
etária de 20 a 59 anos e 20,1% não tem qualquer escolaridade. Verificou-se semelhança com as casuísticas 
nacionais. Foram considerados casos leves 65,8% da amostra, 95% evoluíram para cura e dos 155 acidentes 
botrópicos encontrados 85,2% tiveram o primeiro atendimento em até 3 horas. As questões apontadas e os 
resultados do estudo sinalizam quanto à utilidade para a prática clínica baseada em evidências científicas, além 
de identificar o papel do enfermeiro frente ao cuidado com a vítima de acidente ofídico como elemento 
fundamental no direcionamento de toda a assistência livre de riscos e sequelas. 
Palavras-chave: Ofidismo. Acidente. Enfermeiro. 
ABSTRACT - The ophidism constitutes the poisoning provoked for the toxin action of serpents that can take the 
local and systematic alterations. Considers an important problem of public health had the provoked incidence, 
gravity and sequels in the victims. Ahead of the gravity of the problems generated for these accidents and, of the 
necessity of an assistance of immediate, systemize nursing, providing a fast recovery of assailing the study it 
searched of descriptive form, with collection of data in the System of Information of Offence and Notification 
(SINAN) to know the magnitude of the ophidism in the city of Alegre/ES, in the period of 2001 the 2008, 
correlating the aspects epidemiologists and physicians to the implementation of the nursing assistance. The 
results suggest that the profile presented epidemiologist and physician configures in fact an event that deserves 
attention of the system of public health in face of the occurrence in every month of the year, totalizing 159 
 provoked ophidious accidents in 97,5% for Bothrops, with predominance in May. Beyond the medical 
importance and epidemiologist, it involves social and economic questions, therefore it reaches young individuals 
e of the masculine sex, that represent the active population economically, being 88% of the consisting sample of 
man, 73.3% between 20 the 59 years and 20.1% was illiterate people. Similarity with the national casuistcs was 
verified. Light cases had been considered 65.8% of the sample, 95% had evolved for cure and of the 155 
bothropic accidents found 85.2% they had had the first attendance in up to 3 hours. The pointed questions and 
the results of the study signal how much to the utility for the practical clinic based on scientific evidences, 
beyond identifying to the paper of the nurse front to the care with the victim of ophidious accident as element 
basic in the aiming of all the free assistance of risks and sequels. 
Key Words: Ophidism. Accident. Nurse. 
INTRODUÇÃO 
O ofidismo caracteriza o estado de envenenamento provocado pela ação de toxinas, através de 
aparelho inoculador de serpentes, podendo determinar alterações sistêmicas e na região da 
picada1. 
Os acidentes denominados ofídicos constituem, dentre os acidentes por animais peçonhentos, 
o de maior importância médica em virtude de sua grande frequência e gravidade2. Assim, 
 2 
podemos destacar os acidentes ofídicos como um importante problema de saúde pública, 
especialmente em regiões tropicais do mundo3. 
A média anual no país desde os trabalhos de Vital Brazil, é de cerca de vinte mil acidentes 
ofídicos por ano, com um perfil que se mantém inalterado nos últimos cem anos. Na maioria 
dos acidentes identificados, 90,5%, a serpente envolvida é Bothrops representada pela 
jararaca, jararacuçu e caiçara4. 
A sazonalidade é característica marcante, em geral, relacionada a fatores climáticos e aumento 
da atividade humana nos trabalhos no campo que determina um predomínio de incidência nos 
meses quentes e chuvosos, em indivíduos do sexo masculino e faixa etária de 15 a 49 
anos25,16. 
Podemos compreender o ofidismo como um desafio dado as implicações para o sistema 
circulatório e a coagulação. As complicações sistêmicas como choque e insuficiência renal 
aguda podem ocorrer, assim como as complicações locais podem acompanhar a evolução das 
lesões, sendo a gangrena a mais temida complicação para a extremidade, a qual habitualmente 
resulta de acidentes graves7. 
Como consequência da absorção do veneno na circulação sanguínea, os mecanismos de ação 
específicos determinam manifestações clínicas diferenciadas para cada gênero de serpente1. É 
necessário, pois, analisar que o diagnóstico do tipo de serpente causador do acidente é feito, 
na maioria dos casos, com base nas manifestações clínicas que o paciente apresenta no 
momento do atendimento, uma vez que nem sempre é possível a identificação do animal8. 
A soroterapia deve ser realizada o mais rapidamente possível e o número de ampolas depende 
do tipo e da gravidade do acidente, devendo-se prestar atenção para a ocorrência de 
manifestações alérgicas durante e logo após a infusão do antiveneno1. 
No atendimento a vítima de acidente ofídico é preciso minimizar os riscos de complicações, 
sendo imperativa a realização de ações sistematizadas que vão desde o atendimento 
emergencial até a assistência hospitalar9. A partir desta colocação, surge à necessidade de 
conhecer o perfil do ofidismo, e qual o tipo de cuidado o acidentado necessita, possibilitando 
uma melhor adequação da assistência de enfermagem. 
O estudo foi realizado na forma descritiva com coleta de informações na base de dados do 
Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) nos meses de setembro de 2008 a 
fevereiro de 2009. Sendo assim, estabelecemos como objetivo geral do estudo conhecer a 
magnitude do ofidismo no município de Alegre- ES, no período de 2001 a 2008, 
correlacionando os aspectos epidemiológicos e clínicos do agravo à implementação da 
assistência de enfermagem. 
A partir deste direcionamento central da pesquisa buscamos através dos objetivos específicos 
delinear no estudo o número de acidentes ofídicos no município de Alegre de 2001 a 2008, 
segundo sexo, idade, escolaridade, tipo de serpente agressora, tempo de início do 
atendimento, evolução do caso, mês deocorrência e identificar o papel do enfermeiro frente 
ao cuidado com a vítima de acidente ofídico. 
Desta forma, reafirmamos o compromisso do enfermeiro de atuar na promoção, prevenção, 
recuperação e reabilitação da saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos éticos 
e legais. 
METODOLOGIA 
Trata-se de pesquisa descritiva de natureza quantitativa com coleta de dados secundários no 
SINAN, realizada no período de setembro de 2008 a fevereiro de 2009. As pesquisas 
 3 
descritivas têm como objetivo principal a descrição das características de determinada 
população ou fenômeno10. Para tanto é necessário o estabelecimento de relações entre 
variáveis obtidas através da utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados11. No 
Brasil, existem importantes bancos de dados secundários com abrangência nacional. Dados 
secundários como os do SINAN podem ser usados em um estudo descritivo para monitorar a 
qualidade da assistência prestada aos indivíduos12. 
Como parte da investigação o estudo partiu de uma fundamentação teórica prévia utilizando a 
pesquisa bibliográfica que busca conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas 
do passado sobre determinado assunto, tema ou problema13. 
O local para o estudo foi o município de Alegre localizado ao sul do estado de Espírito Santo, 
situado a 196 km da capital. Apresenta características climáticas que variam de quente e 
chuvoso no verão e seco no inverno e conta com uma população residente de 31.714 
habitantes14. 
Embora os dados do SINAN sejam de domínio público, divulgados em página do Ministério 
da Saúde na guia do sinanweb/tabnet, o levantamento de dados foi realizado somente após 
assinatura do termo de consentimento pelo gestor municipal evidenciando que a pesquisa 
conta com o benefício de adquirir fundamentação para investir em mecanismos de redução 
das complicações e no aperfeiçoamento da assistência de enfermagem adequada às 
necessidades específicas da clientela afetada pelo ofidismo. Os dados foram apurados no 
SINAN, disponível na rede internacional de computadores e na Secretaria Municipal de Saúde 
e Saneamento de Alegre nas fichas de notificação de acidentes por animais peçonhentos do 
SINAN, de tal maneira que nenhum dos resultados referiu um indivíduo nominal, tampouco 
implicou quaisquer prejuízos para as pessoas ou instituições envolvidas. No estudo foram 
utilizadas as variáveis disponíveis na base de dados. 
Utilizando-se aplicativo eletrônico as variáveis analisadas foram dispostas, para melhor 
visualização, em tabelas e ou gráficos demonstrando a magnitude do ofidismo em Alegre de 
2001 a 2008 quanto ao número de acidentes; segundo sexo, idade e escolaridade da vítima, 
além do tipo de serpente agressora, mês de ocorrência, tempo de início do atendimento e 
evolução do caso. 
CONCEITOS EM OFIDISMO 
Descreve-se como acidente um acontecimento fortuito que surge quer no estado hígido, quer 
no decurso de uma doença, causando lesões orgânicas ou agravando outras já existentes. 
Acidente peçonhento é o estado mórbido ou o agravo clínico determinado pela inoculação de 
peçonha num organismo por um animal15. Os acidentes causados pelas mordidas de cobra são 
denominados ofídicos2. Considera-se o acidente ofídico ou ofidismo como o acidente causado 
por serpente peçonhenta ou não-peçonhenta16. 
É comum identificar-se o acidente ofídico como lesões provocadas por picada de cobra 
venenosa, podendo ocasionar graves lesões de pele e lesões renais15 o conceito de ofidismo 
seguido no presente estudo é o sugerido como a intoxicação por veneno de serpente17. De fato 
o ofidismo constitui um dos acidentes por animais peçonhentos. E como envenenamento 
provocado pela ação de toxinas, através de aparelho inoculador de serpentes pode levar a 
alterações locais e sistêmicas1. 
MAGNITUDE DO OFIDISMO 
Os acidentes por animais peçonhentos constituem um sério problema de saúde pública, tanto 
pelo número de casos registrados, quanto pela gravidade apresentada, quando não são 
convenientemente tratados, podendo conduzir à morte ou a seqüelas capazes de gerar 
 4 
incapacidade temporária ou definitiva para o trabalho e para as atividades habituais de 
lazer18,19. 
A magnitude do ofidismo transcende a importância médica e epidemiológica, pois o problema 
atinge algumas questões sociais e econômicas, uma vez que acomete indivíduos jovens e do 
sexo masculino, que representam a população economicamente ativa do país20. Desde a 
década de 70, quando começaram a ser implantados os centros de controle de intoxicação ou 
centro de informação toxicológica, tem sido observados que os acidentes por animais 
peçonhentos representam a segunda causa de atendimento, somente superados pelas 
intoxicações medicamentosas, sendo que os acidentes com ofídicos botrópicos representam 
90% das notificações21. “[...] os acidentes ofídicos são mais comuns do que aparentam e 
ocorrem amplamente em muitas regiões do globo terrestre”7. Embora relativamente 
negligenciados, acidentes humanos provocados por picadas de serpentes são um sério 
problema médico-hospitalar e social uma vez que a maior parte das regiões onde há esse tipo 
de acidente corresponde às nações subdesenvolvidas e os acidentes ocorrem em sua maioria, 
em áreas rurais remotas onde os dados epidemiológicos são geralmente escassos e 
subestimam a verdadeira situação22. 
A Organização Mundial de Saúde calcula que ocorram no mundo 1.250.000 a 1.665.000 
acidentes por serpentes peçonhentas por ano, com 30.000 a 40.000 mortes20. A letalidade 
geral no país de 0,4% é considerada baixa por Brasil (2005), entretanto ocorrem por ano, 
entre 19.000 a 20.000 acidentes ofídicos com aproximadamente 115 óbitos no Brasil23. 
CONTEXTO DEMOGRÁFICO E EPIDEMIOLÓGICO NO BRASIL 
É importante considerar que o primeiro estudo epidemiológico de acidentes ofídicos foi 
realizado por Vital Brazil em 1901, quando levantou o número de óbitos por picadas de 
serpentes peçonhentas no estado de São Paulo, registrando 63, 88 e 104 óbitos em 1897, 1899 
e 1900, respectivamente4. Vital Brazil é tão atual que, em 1909, baseado apenas nos óbitos 
registrados pelo estado de São Paulo e em uma letalidade de 25%, estimou em 19.200 o 
número de acidentes ofídicos para todo o Brasil, número este muito próximo dos cerca de 
20.000 acidentes ofídicos notificados anualmente no país4. 
O número de notificações de ofidismo vem aumentando ano a ano e revela o registro de 
25.478 acidentes em 2003, correspondendo à incidência de 15 casos por 100 mil habitantes. E 
ocorre significativa variação por região, o que demonstra a tabela 1, evidenciando o 
coeficiente de incidência nas diferentes regiões do país destacando os coeficientes mais 
elevados nas regiões norte e centro-oeste, enquanto a região sudeste registra o menor 
coeficiente, 9,51. 
O ofidismo constitui, dentre os acidentes por animais peçonhentos, o de maior interesse 
médico, pela frequência e gravidade e ocorre em todo o país, porém a distribuição por gênero 
de serpente peçonhenta indica predomínio do acidente botrópico. Os acidentes por serpentes 
não-peçonhentas são relativamente freqüentes, porém não determinam acidentes graves e, por 
isso, são considerados de menor importância médica1. 
A sazonalidade do ofidismo demonstra uma relação com os fatores climáticos e a maior 
frequência com que os homens realizam atividades no campo, o que determina um incremento 
de incidência nos meses quentes e chuvosos, em indivíduos do sexo masculino e faixa etária 
de 15 a 49 anos24. A distribuição mensal em 2003 dos acidentes ofídicos, por macrorregião do 
país revela que na maioria dos estados corresponde ao período de janeiro a abril1. 
Generalizando a discussão a epidemiologia dos acidentes ofídicos aponta para um perfil que 
se mantém inalterado ao longo dos últimos 100 anos no Brasil4. 
 5 
CARACTERÍSTICAS E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICADOS 
GÊNEROS DE SERPENTES NO BRASIL 
Das 2.500 espécies de serpentes conhecidas em todo o mundo, 250 são encontradas no Brasil, 
destas, 70 são consideradas peçonhentas e pertencem as famílias Viperidae e Elapidae. A 
família Viperidae é responsável pela maioria dos casos de ofidismo registrados no Brasil. Os 
gêneros Bothrops, Crotalus e Lachesis representam os viperídeos brasileiros21. As serpentes 
do gênero Bothrops são representadas pela conhecida jararaca, Crotalus pela cascavel, 
Lachesis pela surucucu25. 
A presença de fosseta loreal, órgão termorregulador localizado entre o olho e a narina indica 
com segurança que a serpente é peçonhenta e é encontrada nos gêneros Bothrops, Crotalus e 
Lachesis. Como exceção de serpente peçonhenta, o gênero Micrurus das corais verdadeiras, 
representante da família Elapidae, não possui fosseta loreal. Todas as serpentes peçonhentas 
são providas de dentes inoculadores bem desenvolvidos e móveis situados na porção anterior 
do maxilar1,5. As cobras venenosas também podem ser identificadas através do tipo de cauda, 
tendo a Bothrops cauda lisa, a Crotalus cauda com chocalho e a Lachesis cauda com escamas 
eriçadas5. 
As serpentes venenosas são mais freqüentes nos campos, em terrenos cultivados e nos 
cerrados do que nas matas. Concentram-se mais nas plantações abandonadas ou pouco 
freqüentadas e nos pastos. Tem hábitos noturnos, durante o dia ficam em esconderijos como 
em buracos de tatu, ocos de árvores, covas de raízes, montes de lenha e casa de cupim. Em 
geral não se movimentam muito nem se locomovem rapidamente, atacam quando alguém 
delas se aproxima ou quando são tocadas ou pisadas26. 
GÊNERO BOTHROPS 
O gênero Bothrops representa o grupo mais importante de serpentes peçonhentas, com mais 
de 60 espécies encontradas em todo o território brasileiro1. Esse gênero é o causador do 
acidente ofídico de maior importância epidemiológica no país5. São conhecidas popularmente 
por: jararaca, ouricana, jararacuçu, urutu-cruzeira, jararaca-do-rabo-branco, malha-de-sapo, 
patrona, surucucurana, combóia, caiçara, e outras denominações. Estas serpentes habitam 
principalmente zonas rurais e periferias de grandes cidades, preferindo ambientes úmidos 
como matas e áreas cultivadas e locais onde haja facilidade para proliferação de roedores 
(paióis, celeiros, depósitos de lenha). Têm hábitos predominantemente noturnos ou 
crepusculares. Podem apresentar comportamento agressivo quando se sentem ameaçadas, 
desferindo botes sem produzir ruídos5. 
A Bothrops jararaca é das mais agressivas, reage prontamente, não faz barulho e é a que 
eventualmente mais sobe nas árvores26. As principais espécies do gênero Bothrops são a 
atrox, mais encontrada na Amazônia; erythromelas abundante na região nordeste; jararaca 
tem grande capacidade adaptativa, ocupa e coloniza tanto áreas silvestres como agrícolas e 
periurbanas, sendo a espécie mais comum da região sudeste; jararacussu é a espécie que pode 
alcançar o maior comprimento, até 1,8 metros, e que produz a maior quantidade de veneno 
dentre as serpentes do gênero, predominante nas regiões sul e sudeste; moojeni principal 
espécie dos cerrados e a alternatus vive na região centro-oeste a sul1. 
GÊNERO CROTALUS 
As serpentes do gênero Crotalus são representadas no Brasil por uma única espécie a 
Crotalus durissus, com ampla distribuição geográfica, desde os cerrados do Brasil central, 
regiões áridas e semi-áridas do nordeste, até os campos e áreas abertas do sul, sudeste e 
 6 
norte1. Popularmente são conhecidas por cascavel, cascavel-quatro-ventas, boicininga, 
maracambóia, maracá e outras denominações populares5. 
 GÊNERO LACHESIS 
O gênero Lachesis compreende a espécie Lachesis muta com duas subespécies. São 
popularmente conhecidas por surucucu, surucucu-pico-de-jaca, surucutinga, malha-de-fogo. É 
a maior das serpentes peçonhentas das Américas, atingindo até 3,5m. Habitam áreas florestais 
como amazônia, mata atlântica e algumas enclaves de matas úmidas do nordeste5. 
GÊNERO MICRURUS 
O gênero Micrurus é o representante da família Elapidae no Brasil, onde se incluem as najas 
asiáticas e africanas. Com cerca de 22 espécies, apresenta ampla distribuição geográfica no 
país. São conhecidas popularmente por coral, coral verdadeira ou boicorá, são de pequeno e 
médio porte com tamanho em torno de 1,0 m. O reduzido tamanho da abertura bucal e das 
presas inoculadoras de veneno e a baixa agressividade justificam o pequeno número de 
acidentes registrados por este gênero1,5. As Micrurus apresentam anéis vermelhos, pretos e 
brancos em qualquer tipo de combinação. Em todo o país, existem serpentes não peçonhentas 
com o mesmo padrão de coloração das corais verdadeiras, porém desprovidas de dentes 
inoculadores. Diferem ainda na configuração dos anéis que, em alguns casos, não envolvem 
toda a circunferência do corpo. São denominadas falsas-corais5. 
GÊNERO PHILODRYAS 
As espécies do gênero Philodryas, pertencentes à família Colubridae, compreendem as 
espécies olfersii, viridissimus, patogoniensis, além da Clelia plúmbea, as quais são de 
interesse médico, pois há relatos de quadro clínico de envenenamento. São conhecidas 
popularmente por cobra-cipó ou cobra-verde e muçurana ou cobra-preta. Possuem dentes 
inoculadores na porção posterior da boca e não apresentam fosseta loreal. Para injetar o 
veneno, mordem e se prendem ao local5. 
OFIDISMO SEGUNDO O GÊNERO DE SERPENTE 
Dos quatro gêneros de serpentes peçonhentas há predomínio do acidente botrópico, que 
corresponde a 87,5% dos casos ofídicos notificados no país em 2003, seguidos pelo crotálico 
com 9,2%, laquético com 2,7% e elapídico representado por 0,6%, com pequenas variações 
de acordo com a região e distribuição geográfica das serpentes1. O gráfico 1 demonstra o 
percentual no país dos acidentes ofídicos em 2003 distribuídos segundo o gênero da serpente 
causadora. 
GRÁFICO 1 – Distribuição dos acidentes ofídicos do país em 2003, segundo o gênero da 
serpente envolvido1. 
 
 
 
 
Na maioria dos casos de ofidismo o diagnóstico é baseado nas manifestações apresentadas 
pelo paciente. O diagnóstico etiológico, quando há identificação do animal, é pouco 
freqüente. Na ausência de alterações clínicas deve ser considerada a possibilidade de acidente 
por serpente não-peçonhenta ou acidente por serpente peçonhenta sem envenenamento6. 
Elapídico
0,6%
Laquético
2,7%
Crotálico
9,2%Botrópico
87,5%
 7 
O diagnóstico de certeza de ofidismo é dado pelo reconhecimento do animal causador do 
acidente, entretanto, o diagnóstico habitualmente realizado é o presumível, que se baseia na 
observação dos sintomas e sinais presentes no acidentado, em conseqüência das atividades 
tóxicas, desenvolvidas pela inoculação de determinado tipo de veneno. Desta forma o 
conhecimento da composição dos venenos e seus principais efeitos sobre o organismo 
humano permitem o reconhecimento do gênero do animal envolvido no acidente e selecionar 
o antídoto adequado, mesmo na ausência da serpente27. 
CLASSIFICAÇÃO DO OFIDISMO PELO VENENO DA SERPENTE 
Direcionando-se para a patogenia do veneno das serpentes destaca-se que são secreções de 
glândulas especiais ligadas às presas canaliculadas inoculadoras e que se trata de misturas 
complexas de substâncias protéicas com propriedades enzimáticas diversas, como 
fosfatidásica, colinesterásica, proteolítica, hialuronidásica. As propriedades dos venenos são 
definidas como coagulantes, proteolíticas ou necrosantes, hemolíticas e neurotóxicas de 
acordo com as substâncias tóxicas que possui e as proporções existentes entre elas26. 
Os venenos ofídicos podem ser classificados de acordo com suas atividades fisiopatológicas, 
cujos efeitos são observados em nível local e sistêmico5. 
ASPECTOS CLÍNICOS DO OFIDISMO 
Como conseqüência da absorção do veneno na circulação sanguínea, os mecanismos de açãoespecíficos determinam manifestações clínicas diferenciadas para cada gênero de serpente1. 
A composição do veneno difere de família para família de ofídico, mas varia menos de gênero 
para gênero e apresenta diferenças nas proporções dos diversos componentes de acordo com 
as espécies26. A constatação de lesões locais, de incoagulabilidade do sangue ou da hematúria, 
permite afirmar que se trata de acidente botrópico. Fácies neurotóxicas e a meta-
hemoglobinúria são características de acidente crotálico. E o acidente elapídico caracteriza-se 
por fácies neurotóxica sem meta-hemoglobinúria e sintomas de paralisia26. 
O problema diagnóstico que às vezes aparece é saber se na realidade houve picada por 
serpente peçonhenta e, eventualmente, ausência de inoculação de veneno26. Na ausência de 
alterações clínicas, o paciente deve ser mantido em observação por 6 a 12 horas após o 
acidente, após o que, mantendo-se inalterado, deve ser considerada a possibilidade de acidente 
por serpente não-peçonhenta ou acidente por serpente peçonhenta sem envenenamento6. 
Desde os trabalhos de Vital Brazil, no país a maioria dos acidentes identificados, 90,5%, a 
serpente envolvida é Bothrops4. As espécies jararaca e a jararacussu são as mais encontradas 
na região sudeste1. Assim, passamos a destacar no estudo o acidente por Bothrops ou seja, 
acidente botrópico. 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DO OFIDISMO POR BOTHROPS 
Na prática, todas as serpentes do gênero Bothrops produzem sintomas semelhantes, variando 
de intensidade na razão direta da quantidade de veneno inoculado26. Descreve-se como 
manifestações locais o edema, dor e equimose que se evidenciam, nas primeiras horas após a 
picada, na região atingida e progride ao longo do membro acometido1. As equimoses e 
sangramentos no ponto da picada são frequentes, já o infartamento ganglionar e bolhas podem 
aparecer na evolução, acompanhados ou não de necrose5. 
Sistemicamente, além de sangramentos em ferimentos cutâneos preexistentes, podem ser 
observadas hemorragias à distância como gengivorragias, epistaxes, hematêmese e hematúria. 
Podem ocorrer náuseas, vômitos, sudorese, hipotensão arterial e, mais raramente, choque5. 
Contudo, a associação da atividade hemorrágica à coagulante pode se traduzir por 
 8 
sangramentos clinicamente evidentes ou detectáveis através de exames complementares. Dos 
três tipos de ações principais do veneno botrópico a atividade proteolítica é de importância 
fundamental para a caracterização clínica do ofidismo e é causada por frações 
bioquimicamente heterogêneas, com especificidades diversas, que atuam de maneira 
complexa e inter-relacionada27. Possivelmente, decorrem da atividade de proteases, 
hialuronidases e fosfolipases, da liberação de mediadores da resposta inflamatória, da ação 
das hemorraginas sobre o endotélio vascular e da ação pró-coagulante do veneno5. O gênero 
Bothrops possue venenos com ações coagulante, citotóxica ou proteolítica, vasculotóxica as 
quais resumimos no esquema do quadro 1. 
QUADRO 1 – AÇÕES DOS VENENOS28 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A atividade proteolítica se constitui em atividade inflamatória aguda, responsável pelas 
alterações que ocorrem no local da picada e proximidade, sendo que a dor costuma ser 
imediata e de intensidade variável no local da inoculação do veneno, estendendo-se para todo 
o membro nas horas seguintes26. O quadro 2 ilustra algumas manifestações locais do ofidismo 
por Bothrops. Na parte superior a primeira foto mostra as manifestações locais com o edema, 
equimose e flictena e na segunda foto a migração do edema e equimose até a raiz da coxa. A 
terceira foto é de pé atingido 90 minutos após a picada e abaixo a foto mostra a evolução após 
fasciotomia. 
QUADRO 2: MANIFESTAÇÕES LOCAIS DO ACIDENTE BOTRÓPICO29 
 
 
O eritema e o edema local, flogístico, endurado, pode tornar-se regional e atingir a raiz do 
membro. Equimoses, bolhas e necrose podem aparecer em dias sucessivos, dependendo da 
 
 COAGULANTE VASCULOTÓXICA CITOTÓXICA 
 
 
 
 
 AÇÃO COAGULANTE DO AÇÃO DAS ENZIMAS 
 TIPO TROMBINA HEMORRAGIAS PROTEOLÍTICAS 
 
 
 
 DESFIBRINOGENAÇÃO LESÃO DO ENDOTÉLIO CAPILAR 
 SISTÊMICO E LOCAL 
 
 
 HEMORRAGIAS EDEMA NECROSE 
 9 
gravidade do envenenamento isso pode obrigar à amputação. A infecção no local da picada 
também é frequente27. A ação coagulante é derivada de fração do veneno do tipo trombina, 
capaz de ativar fatores da coagulação sanguínea27. No ponto de inoculação o veneno provoca 
um coágulo que serve de barreira natural do veneno; este, então, penetra lentamente na 
circulação, desfibrinando o sangue pela coagulação do fibrinogênio em microcoágulos e 
também pela destruição direta dessa proteína. Provoca assim incoagulabilidade do sangue por 
fibrinopenia podendo levar a um estado de choque e a morte. Quando a dose do veneno 
inoculado é grande e na veia, em dose igual ou superior a 0,4 mg/Kg, há morte rápida devido 
à coagulação intravascular maciça26. 
A atividade hemorrágica não demonstra grandes alterações por ser mais lenta a sua difusão 
em relação aos outros venenos hemolíticos, porém não coagulantes26. Merece destaque a 
jararragina, uma hemorragina isolada de Bothrops jararaca, que causa lesão endotelial 
sistêmica e trombocitopenia30, e a bothropstoxina II, uma fosfolipase isolada de Bothrops 
jararacussu com atividade anticoagulante31. 
AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE DO OFIDISMO POR BOTHROPS 
A gravidade depende da quantidade de veneno inoculada. Pode haver casos de picada em que 
não ocorre envenenamento, conhecida popularmente por picada seca1. A gravidade do 
acidente botrópico depende da intensidade e precocidade das manifestações locais e da 
presença de manifestações sistêmicas como sudorese, hipotensão arterial, choque, hemorragia 
e insuficiência renal aguda29. 
Os acidentes botrópicos são classificados em leve, moderado e grave. Acidente leve é a forma 
mais comum do envenenamento, caracterizada por dor e edema local pouco intenso ou 
ausente, manifestações hemorrágicas discretas ou ausentes, com ou sem alteração do tempo 
de coagulação. Acidente moderado é caracterizado por dor e edema evidente que ultrapassa o 
segmento anatômico picado, acompanhado ou não de alterações hemorrágicas locais ou 
sistêmicas como gengivorragia, epistaxe e hematúria. É grave se há presença de edema local 
endurado intenso e extenso, podendo atingir todo o membro picado, geralmente acompanhado 
de dor intensa e, eventualmente com presença de bolhas5. 
COMPLICAÇÕES 
A maioria dos acidentes é classificado como leve e a letalidade geral é de 0,4%. O tempo 
decorrido entre o acidente, atendimento e tipo de envenenamento pode elevar a letalidade em 
até oito vezes esta taxa. Por outro lado, a frequência de sequelas, relacionada a complicações 
locais, é bem mais elevada, situada em 10% nos acidentes botrópicos, associada a fatores de 
risco como o uso de torniquete, picada em extremidades (dedos de mãos e pés) e retardo na 
administração da soroterapia1. 
Levando em consideração que o bote das serpentes peçonhentas tem um alcance de cerca de 
um terço do seu comprimento e a altura habitualmente não passa de 30 cm26 pode-se explicar 
o fato de mais frequentemente, as picadas ocorrerem abaixo do terço superior da perna. É 
nesta perspectiva que a prática de qualquer medida inicial, particularmente o garroteamento, 
pode agravar os efeitos locais do veneno28. Em decorrência do edema, podem aparecer sinais 
de isquemia local devido à compressão dos feixes vásculo-nervosos. As manifestações 
sistêmicas como hipotensão arterial, choque, oligoanúria ou hemorragias intensas definem o 
caso como grave, independentemente do quadro local5. 
Contudo firmado o diagnóstico de síndrome de compartimento, a fasciotomia não deveser 
retardada, desde que as condições de hemostasia do paciente o permitam, sendo, a fasciotomia 
contra-indicada enquanto o sangue permanecer incoagulável. A ocorrência de abscessos por 
 10 
anaeróbios gram-negativos ou cocos gram-positivos não é rara, necessitando de 
antibioticoterapia e drenagem cirúrgica, enquanto as áreas necrosadas necessitam de 
desbridamento e deve ser considerada a necessidade de cirurgia reparadora nas perdas 
extensas de tecidos29. O quadro 3 resume as principais complicações locais e sistêmicas do 
ofidismo por Bothrops. 
QUADRO 3: PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES LOCAIS E SISTÊMICAS DO OFIDISMO 
POR BOTHROPS5 
TRATAMENTO 
A precocidade do atendimento médico é fator fundamental na evolução e no prognóstico do 
doente. O quadro 4 indica em resumo a abordagem inicial dos acidentes ofídicos. 
QUADRO 4: ABORDAGEM INICIAL DOS ACIDENTES OFÍDICOS27 
Como medidas gerais deve-se retirar anéis e alianças do dedo atingido, pois o edema pode 
tornar-se intenso, produzindo um sistema de garrote28. O uso de torniquete, com a finalidade 
• Limpar com água e sabão o local da picada, para avaliar se existem lesões cutâneas. 
• Puncionar veia periférica nunca utilizando o membro afetado. 
• Colher sangue para determinação de creatinina, sódio, potássio e hemograma completo, 
além da determinação do tempo de protrombina (TP), tempo de tromboplastina parcial 
ativada (TPPA). 
• Iniciar gotejamento de 500 ml de soro glicofisiológico 5% ou soro fisiológico (se o 
paciente for diabético), 45 gotas por minuto, com o objetivo de hidratar e manter acesso 
venoso para as próximas etapas. 
• Pré-medicação: simultaneamente à hidratação, iniciar esquema de proteção contra possíveis 
reações de hipersensibilidade ao SAV, administrando bloqueadores dos receptores H1 e H2 
da histamina e corticosteróides. 
• Anotar características e o volume de urina. Colher aproximadamente 10 ml para exame de 
rotina. 
COMPLICAÇÕES LOCAIS 
� Síndrome Compartimental: é rara, caracteriza casos graves, sendo de difícil manejo. 
Decorre da compressão do feixe vásculo-nervoso consequente ao grande edema que se 
desenvolve no membro atingido, produzindo isquemia de extremidades. As manifestações 
mais importantes são a dor intensa, parestesia, diminuição da temperatura do segmento 
distal, cianose e déficit motor. 
� Abscesso: A ocorrência varia de 10 a 20%. A ação proteolítica do veneno botrópico 
favorece o aparecimento de infecções locais. Os germes patogênicos podem provir da boca 
do animal, da pele do acidentado ou do uso de contaminantes sobre o ferimento. As 
bactérias isoladas desses abscessos são bacilos Gram-negativos, anaeróbios e, mais 
raramente, cocos Gram-positivos. 
� Necrose: É atribuída principalmente à ação proteolítica do veneno, associada à isquemia 
local decorrente de lesão vascular e de outros fatores como infecção, trombose arterial, 
síndrome de compartimento ou uso indevido de torniquetes. O risco é maior nas picadas 
em extremidades (dedos) podendo evoluir para gangrena. 
COMPLICAÇÕES SISTÊMICAS 
� Choque: É raro e aparece nos casos graves. Sua patogênese é multifatorial, podendo 
decorrer da liberação de substâncias vasoativas, do sequestro de líquido na área do edema e 
de perdas por hemorragias. 
� Insuficiência Renal Aguda: É também de patogênese multifatorial. Ocorre em função da 
ação direta do veneno sobre os rins, isquemia renal secundária à deposição de 
microtrombos nos capilares, desidratação ou hipotensão arterial e choque. 
 11 
de reter o veneno no local da picada, é contra-indicado. É também contra-indicado utilizar 
instrumentos cortantes com a finalidade de fazer cortes ao redor da picada, pois os venenos 
que possuem frações proteolíticas irão atuar nesses locais, piorando muito a necrose28. A 
vítima de ofidismo deve ser colocada em repouso com o segmento picado elevado e 
estendido. Recomenda-se empregar analgésicos e manter hidratação com diurese entre 30 a 40 
ml/h no adulto, e 1 a 2 ml/Kg/hora na criança. O uso de antibióticos deverá ser indicado 
quando houver evidência de infecção5. Visando o tratamento das complicações locais destaca-
se que firmado o diagnóstico de síndrome de compartimento, a fasciotomia não deve ser 
retardada, desde que as condições de hemostasia do paciente o permitam. Se necessário, 
indicar transfusão de sangue, plasma fresco congelado ou crioprecipitado5. 
SOROTERAPIA 
O soro antiofídico a ser aplicado deve ser específico para o gênero ao qual a serpente 
pertence. Deve ser administrado o mais precocemente possível, em dose única, com o 
objetivo de neutralizar a peçonha antes que ela possa ter causado dano. A vacina e o soro 
antitetânico estão indicados, seguindo ao protocolo recomendado pelo Ministério da Saúde 
para profilaxia do tétano acidental28. O tratamento eficaz desses envenenamentos é feito pela 
aplicação intravenosa (IV) de soro antiveneno (SAV), específico para cada gênero de 
serpente: Soro antibotrópico (SAB): 1 ml neutraliza 5,0 mg de veneno das “jararacas”[...]27. 
O quadro 5 demonstra a soroterapia recomendada conforme a gravidade do acidente 
botrópico. 
QUADRO 5: CLASSIFICAÇÃO QUANTO À GRAVIDADE E SOROTERAPIA 
RECOMENDADA5 
CLASSIFICAÇÃO 
 
MANIFESTAÇÕES E 
TRATAMENTO 
 LEVE MODERADA GRAVE 
LOCAIS 
. Dor 
. Edema 
. Equimose 
Ausentes ou 
discretas 
 
Evidente Intensas** 
 
SISTÊMICAS 
. Hemorragia grave 
. Choque 
. Anúria 
Ausentes 
 
Ausentes 
 
Presentes 
 
Tempo de Coagulação (TC)* 
 
Normal ou alterado Normal ou alterado Normal ou 
alterado 
SOROTERAPIA (número de 
ampolas) 
2-4 4-8 12 
* TC normal: até 10 min; TC prolongado: de 10 a 30 min; TC incoagulável: > 30 min. 
** Manifestações locais intensas podem ser o único critério para classificação de gravidade. 
 
O número de ampolas utilizado na soroterapia depende do tipo e da gravidade do acidente. A 
via de administração é a endovenosa, devendo-se prestar atenção para a ocorrência de 
manifestações alérgicas durante e logo após a infusão do antiveneno. Na vigência de reações 
imediatas, a soroterapia deve ser interrompida e posteriormente reinstituída após o tratamento 
da anafilaxia1. O teste de sensibilidade, intradérmico foi excluído da rotina de tratamento 
desses acidentes pelos soros heterólogos, anti peçonhentos, por apresentar baixa sensibilidade 
e baixos valores preditivos quanto ao aparecimento de reações de hipersensibilidade 
 12 
imediatas. Além disso, a execução de testes retarda o início da neutralização da toxina 
circulante27. 
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO OFIDISMO 
Os acidentes por animais peçonhentos formam um grupo de agravo usualmente pouco 
conhecido do profissional de saúde, mas que, invariavelmente, se defronta com um paciente 
picado1. É enfatizado que a padronização atualizada de condutas de diagnóstico e tratamento 
dos acidentados é imprescindível, pois as equipes de saúde, com frequência considerável, não 
recebem informações desta natureza durante os cursos de graduação ou no decorrer da 
atividade profissional5. 
Esta ótica encontra afinidade com a educação permanente, pois é defininda como um processo 
educativo que ocorre no espaço do pensar e do fazer no trabalho e que tem como desafio 
estimular o desenvolvimento dos profissionais sobre um contexto de responsabilidades e 
necessidades de atualização, considerando para isso o serviço, o trabalho, o cuidado, a 
educação e a qualidade da assistência32. No entanto, para que a enfermagem atue de modo 
eficiente, é preciso que sua metodologia de trabalho esteja fundamentada no método 
científico, o que é garantido pela aplicação do processo de enfermagem33. 
O processo de enfermagem oferece aos enfermeiros uma forma lógica, sistemática e racional 
de organizar informações, de modo que o cuidado de enfermagem seja apropriado e efetivo. É 
tanto científico como humano,pois as pessoas desenvolvem suas ações de forma sensível e 
cuidadosa34. O Enfermeiro que, ao assumir a realização da Metodologia da Assistência, o faz 
de forma ética e com competência técnica, desenvolvendo uma ação sistematizada e 
finalística, estará indo ao encontro da lei n. 7.498, que dispõe sobre o exercício da 
Enfermagem, em seu artigo 8º “...Ao Enfermeiro incumbe, como integrante de equipe de 
saúde, a participação na elaboração, execução e avaliação dos planos assistenciais de 
saúde[...]”35. 
No planejamento da assistência de enfermagem em ofidismo consideram-se os problemas 
identificados e a fisiopatologia, além de redobrar atenção as possíveis reações que podem ser 
desencadeadas pela ação do veneno ou mesmo pela terapia antiveneno. Deve-se salientar a 
importância do papel do enfermeiro nesse atendimento, provendo materiais e medicamentos 
necessários, tomando a iniciativa de interromper e substituir a infusão da soroterapia9. Cabe a 
enfermagem prover acesso venoso, sua permeabilidade, controlar a infusão, colher amostras 
de sangue para efetuar o tempo de coagulação, controlar as funções vitais, antes, durante e 
após o tratamento e devido às alterações fisiopatológicas atentar para o monitoramento da 
função renal9. 
Os acidentes ofídicos caracterizam-se como situação de emergência, onde o indivíduo 
acometido corre risco de vida36. Deve-se valorizar o exame físico como o instrumento 
utilizado para detecção das condições do acidentado durante o primeiro atendimento, além da 
permanência do enfermeiro ao lado da vítima, no sentido de detectar possíveis 
intercorrências9. No exame inicial do paciente picado, deverão ser avaliados alguns 
parâmetros clínicos, no sentido de determinar a gravidade do acidente, tais como sinais vitais, 
locais de sangramento (hemorragias nos locais da picada, gengivorragia, epistaxe, hematúria, 
etc.), estado de hidratação, coloração e volumes urinários para monitorar a função renal, 
intensidade e extensão do edema e presença de complicações como bolha, necrose, abscesso e 
síndrome compartimental21. 
Em resumo o profissional enfermeiro deve possuir preparo técnico científico para 
proporcionar um atendimento imediato adequado às vítimas de ofidismo, prescrevendo o 
 13 
cuidado de enfermagem a ser prestado de maneira individualizada e de acordo com as 
necessidades das vítimas, estando atento aos sinais e sintomas de agravamento clínico9. 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
A população em estudo no município de Alegre, acometida pela picada de serpente no 
período de 2001 a 2008, constitui-se em número de 159 casos, conforme evidencia o gráfico 
2, sendo 97,5% (155 casos) representados pelos acidentes ofídicos por Bothrops, tendo ainda 
2,5% (4 casos) configurados como ignorado o tipo de serpente envolvida. 
GRÁFICO 2 – Distribuição do ofidismo em Alegre-ES segundo a serpente envolvida, de 
2001 a 2008 
 
 
 
 
 
Abrindo uma comparação com os casos notificados no Estado do Espírito Santo utilizando os 
dados disponíveis no SINAN de 2001 a 2008 encontramos 11.504 casos de ofidísmo no 
Espírito Santo, sendo 64,5% (7.424 casos) de acidentes botrópicos. Nota-se que a quase 
totalidade dos acidentes ofídicos verificados em Alegre são do gênero Botrópico, o qual é 
predominante nesta região do estado do Espírito Santo. Os números confirmam o que a 
literatura consultada já enfatiza quanto ao gênero Bothrops como o grupo mais comum da 
região Sudeste e corresponde ao acidente ofídico de maior importância epidemiológica no 
país, pois é responsável por cerca de 90% dos envenenamentos5. O quadro 6 mostra a 
jararaca, espécie que determina a maior parte dos acidentes, fato que se harmoniza com a 
abundância em que é encontrada e com a sua distribuição geográfica na região Sudeste, 
especialmente no Estado do Espírito Santo5. 
QUADRO 6: DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DO GÊNERO BOTHROPS5 
Evidenciou o estudo que o atendimento de ofidismo em Alegre tem em sua maioria a serpente 
identificada, o que se configura em elemento importante na medida em que possibilita a 
dispensa imediata da maioria dos pacientes picados por serpentes não peçonhentas, viabiliza o 
reconhecimento das espécies de importância médica em âmbito regional além de ser medida 
auxiliar na indicação mais precisa do antiveneno a ser administrado5. Caracterizamos como 
baixo o percentual, no estudo em Alegre, 2,5% (n= 4) de ofidismo em que a serpente não foi 
identificada uma vez que foram diagnosticados como acidente por serpente não identificada 
18,9% dos acidentes ofídicos notificados em 2003 no país, entretanto considerou-se 
injustificável a elevada proporção em face da existência de marcadas diferenças na 
apresentação clínica dos envenenamentos ofídicos1. 
 
 
 14 
Em relação à sazonalidade, observou-se no estudo que o ofidismo ocorreu em todas as épocas 
do ano, entretanto o gráfico 3 evidencia que maio foi o mês de maior incidência de acidentes 
ofídicos, quando foram notificados 13,8% dos casos (n= 22). Os meses de março e outubro 
apresentaram picos secundários com 12,6% (n=20) e 11,9% (n=19) dos casos, 
respectivamente, em decorrência, provavelmente, de maior atividade do homem no campo 
devido a limpeza de pastos e áreas para cultivo pois são situações que oferecem maior 
possibilidade de contato das pessoas com a serpente, uma vez que o acidente ocorre sempre 
que o homem quebra a distância de fuga do animal, ou seja, a distância em que ela se sente 
segura de qualquer agressão25. 
GRÁFICO 3 - Distribuição mensal dos acidentes ofídicos ocorridos em Alegre-ES de 2001 a 
2008 
 
 
 
 
 
 
Quanto a distribuição mensal dos acidentes ofídicos no estado do espírito santo de 2001 a 
2008 o gráfico 4 mostra predominância dos casos no mês de abril e em segundo e terceiro 
plano nos meses de maio e dezembro. Os dados do estudo em Alegre apresentam-se 
semelhantes aos do Estado, a pequena diferença observada, deve-se, provavelmente, ao 
aparecimento mais tardio das chuvas em alguns dos anos estudados. Apesar de a 
sazonalidade ser dependente das condições ambientais e da atividade do homem reconhece-se 
que os casos de ofidismo ocorrem com maior frequência no início e no final do ano4, 
enquanto destaca-se que nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, observa-se incremento do 
número de acidentes no período de setembro a março5. 
GRÁFICO 4 - Distribuição mensal dos acidentes ofídicos ocorridos no Espírito Santo de 
2001 a 2008 
 
 
 
 
 
 
O reconhecimento dos períodos do ano de maior risco tem importância para preparar os 
serviços e os profissionais de saúde para o aumento na demanda de casos, para estabelecer 
estratégias de distribuição e controle dos estoques de soros específicos nos locais de 
atendimento, bem como fortalecer as ações de prevenção por meio de atividades de educação 
em saúde1. 
Os acidentes ofídicos nas vítimas estudadas no período de 2001 a 2008 em Alegre ocorrem 
majoritariamente no sexo masculino com 88% (n=140) enquanto 12% representam as 19 
pessoas do sexo feminino acometidas pelo ofidismo, conforme evidencia o gráfico 5. A maior 
ocorrência em indivíduos do sexo masculino tem sido referida em todas as casuísticas 
 15 
37%
36%
9%
6%
3%
1%
1%3%
3%
1%
< 1 Ano 
1 à 4 
5 à 9 
10 à 14 
15 à 19 
20 à 39 
40 à 59 
60 à 64 
65 à 69 
70 à 79 
nacionais e provavelmente deve-se à maior frequência com que os homens realizam 
atividades no campo24. 
GRÁFICO 5 - Distribuição dos casos de ofidismo em Alegre-ES de 2001 a 2008 segundo o 
sexo dos acometidos 
88%
12% Masculino = 140
Feminino = 19
 
A faixa etária mais acometida pelo ofidismo em Alegre de 2001 a 2008 compreende as idades 
de 20 a 59 anos, representando 73,3% dos casos, conforme os dados do SINAN38 são 
ilustrados no gráfico 6, provavelmente pela grande inserção nos trabalhos laborais, 
contribuindoassim, para o aumento da renda familiar37. 
GRÁFICO 6 - Distribuição dos casos de ofidismo em Alegre-ES de 2001 a 2008 segundo a 
faixa etária das vítimas 
 
 
 
 
 
 
 
Quanto a escolaridade dos acometidos pelo ofidismo no período da pesquisa o gráfico 7 
demonstra que 33,3% tem de 4 a 7 anos de estudo, 20,1% não tem escolaridade, porém, em 
24,5% das fichas de notificações essa informação foi totalmente ignorada. Esta variável 
encontra na literatura a afirmação de que a maioria das análises epidemiológicas realizadas no 
país nos últimos 100 anos baseou-se nas mesmas variáveis já apontadas por Vital Brazil. 
Assim, com vistas a evoluir nessas análises, foi realizado um estudo exploratório para 
verificar as possíveis relações entre variáveis ambientais e socioeconômicas com a incidência 
desses acidentes e obtiveram como um dos fatores de risco a carência de alfabetização 
ocupando a sexta posição em ordem de importância das variáveis4. 
 
 
 
 
 
 
 
 16 
GRÁFICO 7 – Distribuição dos casos de ofidismo em Alegre-ES de 2001 a 2008, 
segundo os anos de estudos das vítimas 
24,52%
1,26% 8,81%
33,33%
11,95%
20,13%
NENHUM
1 A 3
4 A 7
8 A 11
NÃO SE APLICA
Campo não
preenchido
 
Quanto aos acidentados por serpente bothrops, no estudo em Alegre-ES de 2001 a 2008, 
totalizaram 155 casos e a distribuição segundo o tempo, em horas, de início do atendimento a 
vítima esta descrita na tabela 1. 
TABELA 1 – DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES BOTRÓPICOS EM ALEGRE-ES 
DE 2001 A 2008, SEGUNDO O TEMPO DE INÍCIO DO ATENDIMENTO 
ANO 0-1H 
 
1-3H 
 
3-6H 6-12H 12 E MAIS 
HORAS 
IGN\BRANCO 
2001 05 06 02 0 0 0 
2002 03 08 0 0 02 0 
2003 16 04 0 02 01 01 
2004 13 05 02 0 02 0 
2005 10 09 0 0 0 0 
2006 07 17 04 01 0 01 
2007 06 07 02 0 0 01 
2008 06 10 0 0 01 01 
TOTAL 
% 
66 
42,58% 
66 
42,58% 
10 
6,45% 
03 
1,94% 
06 
3,87% 
04 
2,58% 
Analisando a tabela 1 verificamos que dos 155 acidentes produzidos pelo gênero Bothrops 
ocorridos em Alegre-ES de 2001 a 2008, 42,58% (n=66) foram atendidos com tempo inferior 
a 1 hora após a picada; de igual forma 42,58% (n=66) entre 1 a 3 horas. O atendimento levou 
mais de 03 horas para acontecer variando até mais de 12 horas em aproximadamente 12,3%. 
Porém, 2,58% das fichas de notificações não apresentaram as informações quanto a este dado, 
conforme se melhor visualiza no gráfico 8. 
 
 
 
 17 
GRÁFICO 8 - Distribuição dos acidentes botrópicos em Alegre-ES de 2001 a 2008 de 
acordo com o tempo de início do atendimento da vítima 
 
 
 
 
 
 
 
 
Analisando os casos ocorridos no Brasil de 1990 a 1993 demonstra-se a importância da 
precocidade do atendimento dos acidentes ofídicos revelando que dos 359 óbitos notificados, 
em 314 foi informado o tempo decorrido entre a picada e o atendimento5. Destes, em 124 
(39,49%), o atendimento foi realizado nas primeiras seis horas após a picada, enquanto que 
em 190 (60,51%) depois de seis horas da ocorrência do acidente. O tempo entre a picada e o 
atendimento médico tem grande importância para o prognóstico do acidente, fato reafirmado 
em um estudo na Bahia onde 19% dos pacientes chegaram ao atendimento médico com mais 
de 13 horas indicando a desinformação e a precariedade do sistema de saúde3. 
Ficou evidenciado no estudo que a classificação dos acidentes ofídicos por Bothrops quanto à 
gravidade dos casos foi considerada leve em 65,8% (N=102), moderada em 27,7% (N=43) e 
grave em 5,2% (N=8). O maior índice confere aos acidentes cuja classificação foi leve, 65,8% 
(102 casos) e o menor índice 1,3% (N=2) é ignorada a classificação e é o que está 
representado no gráfico 9. Em se tratando desta questão encontrou-se a predominância de 
47,8% de acidentes moderados em um estudo realizado na Bahia em 2001 e atribuíu-se a 
possível equívoco no enquadramento do estadiamento do paciente, tais como considerar a 
alteração no tempo de coagulação como indicativo de gravidade, o que é um procedimento 
incorreto3. 
GRÁFICO 9 – Distribuição do ofidismo por Bothrops em Alegre-ES de 2001 a 2008 
segundo a gravidade 
 
 
 
 
 
 
Quanto à evolução dos pacientes de ofidismo em Alegre-ES de 2001 a 2008 o gráfico 10 
ilustra que nenhum dos casos notificados evoluiu para óbito, 95% (n=151) evoluíram para a 
cura, entretanto 5% (n=8) dos casos não apresentaram notificação relacionada a este dado. 
Este dado encontra base no dado de que o óbito é fator ausente nos acidentes ocorridos nas 
localidades com melhor infra-estrutura de saúde e estradas vicinais. Isso permite brevidade no 
atendimento médico, evitando-se, dessa maneira, o óbito e/ou a remoção do acidentado para 
atendimento em localidades mais distantes, o que demandaria mais tempo, piorando 
consequentemente as condições de saúde do acidentado25. O gráfico 11 destaca os dados 
referentes a evolução clínica do ofidismo em Alegre-ES de 2001 a 2008. 
Lev e=102 (65,8% )
Moderado=43 
(27,7%)
Grave=8 (5,2%)Ignorado=2 (1,3%)
0
50
100
150
Leve= 102
Moderado=43
Grave=8
Ignorado=2
 18 
GRÁFICO 10 - Evolução clínica dos acidentes ofídicos em Alegre-ES de 2001 a 2008. 
 
 
 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O estudo evidencia que é possível e desejável conhecer a epidemiologia regional dos 
envenenamentos ofídicos, a fim de possibilitar uma avaliação correta dos dados para 
formularmos estratégias de prevenção e assistência adequada neste tipo de agravo e de suas 
complicações. Espera-se que este estudo contribua para uma redefinição no campo da 
assistência em ofidismo, especialmente, no campo da Enfermagem, orientando a 
implementação dos cuidados baseado nas evidências clínicas, bem como na complexa 
fisiopatologia e riscos de agravamentos. 
Os resultados do estudo em Alegre - ES no período de 2001 a 2008 sugerem que o perfil 
epidemiológico e clínico apresentados configuram de fato um evento que merece atenção do 
sistema de saúde pública em face da ocorrência em todos os meses do ano, totalizando 159 
acidentes ofídicos provocados em 97,5% pelo gênero Bothrops, com predomínio nos meses 
de maio, março e outubro. São achados que, associados a informação da literatura, permitem 
afirmar que além da importância médica e epidemiológica, algumas questões sociais e 
econômicas envolvem os acidentes ofídicos, já que atinge indivíduos jovens e do sexo 
masculino, que representam a população economicamente ativa, sendo 88,0% da amostra 
constituída de homens e a faixa etária mais acometida de 20 a 59 anos atingiu o percentual de 
73,0%, tendo ainda 33,3% dos acometidos 4 a 7 anos de estudo enquanto 20,1% não tem 
qualquer escolaridade. Verificou-se semelhança com as casuísticas nacionais embora fossem 
considerados casos leves em 65,8% da amostra, 95,0% evoluíram para cura e dos 155 casos 
de acidente botrópico encontrados, aproximadamente 85,2% tiveram o primeiro atendimento 
em até 3 horas. 
As questões apontadas e os resultados do estudo sinalizam quanto à utilidade para a prática 
clínica baseada em evidências científicas, além de identificar o papel do enfermeiro frente ao 
cuidado com a vítima de acidente ofídico como elemento fundamental no direcionamento de 
toda a assistência livre de riscos e sequelas. Desta forma, concluí-se também ser definitivo 
para uma boa recuperação da vítima de ofidismo que o Enfermeiro possua preparo técnico 
científico para proporcionar um atendimento imediato adequado, redobrar a atenção as 
possíveis reações que podem ser desencadeadas pela ação do veneno ou mesmo pela terapia 
antiveneno, prescrever o cuidado de enfermagem a ser prestado de maneira individualizada e 
sistematizada e, assim obter maior êxito no atendimento, juntamente com as medidas 
terapêuticas necessárias. 
A análise apresentada trazuma série de elementos que deverão constituir a base para a tomada 
de decisão nos diferentes níveis de atuação da assistência em ofidismo, bem como para 
estudos posteriores. 
 
 
Total= 159 
(100%) Cura= 151 
(95%)
Óbito= 0 (0%)
Ign./Branco= 8 
(5%)
0
50
100
150
200
Total de casos=159
Cura= 151
Óbito= 0
Ignorado / Branco=8
 19 
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