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darcílio lima um universo fantástico apresenta caiXa cultural São Paulo 26 de setembro a 6 de dezembro de 2015 Curadoria Guilherme Gutman darcílio lima um universo fantástico apresenta A CAIXA é uma das principais patrocinadoras da cultura bra sileira e destina, anualmente, mais de R$ 60 milhões de seu orçamento para patrocínio a projetos culturais em espa ços próprios e de terceiros, com ênfase em mostras ci ne ma tográficas, exposições de artes visuais, peças de tea tro, espetáculos de dança, shows musicais, festivais de teatro e dança em todo o território nacional, e também em arte sanato brasileiro. Os projetos são escolhidos por meio de seleção pública, uma opção da CAIXA para tornar mais democrática e acessível a participação de produtores e artistas de todas as unidades da federação, e mais transparente para a sociedade o in vestimento dos recursos da empresa em patrocínio. A exposição Darcílio Lima – um universo fantástico, com idea lização e coordenação de Afonso Costa e curadoria do psicanalista Guilherme Gutman, é uma iniciativa de resgate, valorização e divulgação completa do trabalho do artista plás tico Darcílio Lima, um dos maiores representantes do surrealismo no Brasil. Ao trazer mais esta mostra para o público carioca, a CAIXA reafirma sua política cultural de estimular a discussão e a disseminação de ideias, promover a pluralidade de pensa mento, mantendo viva sua vocação de democratizar o a ces so à produção artística. Caixa Econômica Federal 7 lembrançaS e reSgateS... Afonso Henrique Costa 13 darcílio lima e o labirinto da grande SerPente Guilherme Gutman 21 SurrealiSmo FantáStico Mário Pedrosa 25 dePoimento antonio manuel 33 dePoimento YveS SerPa 127 cronologia 139 engliSH verSion 6 7 lembrançaS e reSgateS... afonso Henrique costa Idealizar e trabalhar na coordenação da retrospectiva de Darcílio Lima está se revelando para mim uma volta ao passado. Sempre me interessei por arte. Recordo que, desde me nino, nas visitas que fazia à casa de amigos e colegas, pri meiro eu cumprimentava os presentes para em seguida ir ver os quadros pendurados pelas paredes. A arte sempre esteve presente na curiosidade do foco do meu olhar, algo inato que não sei justificar. Nasceu comigo. Por volta de 1966/67, decidi frequentar as aulas que eram oferecidas pelo Departamento de Cursos do MAMRJ. Muitos as ministravam; estavam lá, entre outros, Aluísio Carvão, Domenico Lazzarini e, sobretudo, Ivan Serpa, de quem me tornei aluno. É para mim indiscutível que o grande aprendizado que Ivan Serpa me legou foi aprender olhar a arte. Ele afinou o meu olhar, libertouo, tornandoo mais sábio, claro e objetivo. Serpa sempre ensinou a seus alunos a liberdade de fazerem o que desejassem, encorajandoos. Ele dizia ape nas que tra balhassem e, cada vez mais, muito mesmo. Cobrava isso. Suas aulas eram concorridas e, de alguma forma, todo mundo aparecia por lá. Foi dessa forma que conheci muita gente. Afinal, o MAMRJ era, naquele momento, o coração pulsante do cenário artístico na cidade. E desde então pas sei a frequentar galerias e exposições – eram muito poucas na época – e centros culturais que realizavam mostras ins titucionais, como a Galeria do Ibeu em Copacabana, palco de antológicos eventos de artes plásticas. Página anterior | PREVIOUS PAGE Sem título | Untitled, 1972 Litografia | Lithograph, 13/40 61,3 x 46cm Coleção | Collection Guilherme Gutman [DetaLHe | DETA IL ] Sem título | Untitled, 1972 Litografia | Lithograph, 07/25, 79,4 x 59,4cm Coleção | Collection Jorge Eduardo Lima Figueiredo [DetaLHe | DETA IL ] 8 Havia um ecletismo entre os alunos de Ivan Serpa. Ti nha de tudo. Desde pessoas muito jovens, o que era o meu caso, a pessoas idosas, como Grauben do Monte Lima, que começou a pintar já em idade avançada, e realizava uma pin tura naïf pontilhista, ilustrada por uma magia de flo res, plantas, pássaros e pavões e incontáveis borboletas. Lembro ainda de Zama e de Sônia von Brüsky, promissoras desenhistas com imagens rasgadas e dilaceradas que mar geavam o surrealismo. Aparecia sempre muita gente. Desde Hélio Oiticica, Lygia Pape, Antonio Manuel e, claro, Darcílio Lima, cujo tra balho fantástico e obsessivo em bico de pena me deixa va fascinado. Torneime amigo de muitos deles; de alguns ga nhei e até consegui comprar trabalhos, sobretudo gravuras, com os parcos tostões da curta mesada de um adolescente. Isso marca o início da minha coleção, que passou a ser uma das metas da minha vida, até eu me dedicar to talmente à arte, trabalhando no mercado, associandome a galerias, for mando coleções, lançando e representando artistas, e pro duzindo exposições, inclusive no exterior. Ivan Serpa enforcando Darcílio Lima, s/d | Ivan Serpa hanging Darcílio Lima, undated Ivan Serpa e Darcílio Lima trabalhando juntos na residência Serpa, s/d | Ivan Serpa and Darcílio Lima working together at the Serpa’s house, undated 9 Frequentar o MAMRJ passou a ser uma rotina na mi nha vida. Era um oásis de liberdade em um cenário de di tadura militar, quando a censura reinava no país. O museu pulsava com sua fabulosa cinemateca onde assisti a tudo que era relevante, e não perdia as exposições e eventos que gerava no seu entorno. Recordo dos Resumos JB, do Salão da Bússola, e dos Domingos da Criação, estes realizados em 1971 por Frederico Morais, verdadeiros happenings que atraíam multidões e eram notícia na mídia. Rememoro o especial carinho de Serpa por Darcílio. Serpa, inclusive, generosamente abrigou, em sua casa, Darcílio, após permanência deste na Casa das Palmeiras, onde Nise da Silveira realizava um trabalho memorável. Ivan Serpa adorava Darcílio; certamente um de seus alunos prediletos, o incentivava e o apoiava ao máximo. É indiscutível que foi seu pai artístico, com todo empenho e desvelo possíveis. Ele afirmava que Darcílio não precisava frequentar aulas, precisava, sim, trabalhar, e assim, a cada dia, ele se tor nava mais obsessivo construindo sua obra notável. Passei a encontrar Darcílio com alguma frequência e me lembro bem dele, sempre com uma pasta da Papelaria União cheia de obras, algumas ainda em execução, e nas quais ia trabalhando em qualquer lugar, quando o tempo e a ocasião permitiam. Seus desenhos eram obsessivos, com milhares de pon tos e traços, que demandavam muito tempo para sua execu ção. Ele era mesmo perfeccionista e virtuoso. Darcílio tinha prazer em mostrar sua obra, revelando o conteúdo da pasta, e numa dessas ocasiões terminei por adquirir uma gravura. Resgatar sua obra, vendo colecionadores abrindo pas tas com seus trabalhos, me causou a mesma sensação. Não foi fácil, pois além de Darcílio ter, na verdade, nos legado uma obra pequena, já que seus trabalhos demandavam mui to tempo para serem executados, com tamanho virtuosismo e obsessão, nada localizamos dele em museus e ins tituições, a não ser um desenho da Coleção Gilberto Chateaubriand que se encontra em comodato no MAMRJ, e que está par ticipando da retrospectiva. Os trabalhos, de fato, estão dis persos em coleções particulares, e graças à generosidade e ao entusiasmo de seus proprietários estamos conseguindo reunir um conjunto tão relevante. 10 Quero agradecer a todos eles e em especial aos filhos de Ivan Serpa, que nos receberam tão afetuosamente, nos franqueando o acesso ao importante acervo legado por seu pai, que acabou sendo o principal núcleo dos trabalhos ex postos. Agradeço ainda a Guilherme Gutman queaceitou com tanto entusiasmo o meu convite para essa corajosa em preitada de fazer a curadoria da mostra, e que fez questão de partilhar comigo a seleção das obras apresentadas. Com esse resgate, afinal sua obra ainda é tão pouco co nhecida, fico feliz e orgulhoso em ver reunido, pela primeira vez desde seu falecimento, o maior e mais importan te con junto de obras de Darcílio Lima, artista notável e virtuoso, na construção de um universo fantástico! Afonso Henrique Costa atua como produtor, curador, marchand e con sultor no mercado de arte, tendo sido associado a diversas ga lerias, com as quais realizou antológicas exposições. Participou – e ainda é integrante – da diretoria e do conselho de diversos mu seus e instituições culturais. Foi responsável pela formação de impor tantes coleções, entre as quais a Coleção João Sattamini, em co modato no MAC/Niterói, na qual desenvolveu, sobretudo, seu fa buloso núcleo concreto. Produziu numerosas exposições no Brasil e no exterior, e foi responsável pelo lançamento de diversos reno mados artistas. Nasceu e reside no Rio de Janeiro. Sem título | Untitled, 1968 Intervenção (desenho) com nanquim sobre envelope impresso, postado e selado | Intervention (drawing) with Indian ink on printed, posted and sealed envelope, 33,6 x 32,1cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 11 12 13 darcílio lima e o labirinto da grande SerPente Guilherme Gutman Existe uma antiga lenda sobre a fundação da cidade de Cas ca vel, no Ceará. Sob o seu solo, viveria uma enorme e dia bólica serpente; venenosa cascavel da qual a cidade teria, então, recebido o seu nome; uma nomeação em sua acep ção forte: algo que ao mesmo tempo marca o mito de ori gem, em torno da qual um povoado começa a se enovelar. Nomeados pela serpente e vivendo sob o jugo do mito, os citadinos construíram uma torre – que mais parece um altíssimo e robusto bastão fincado na terra –, que impediria a grande serpente de sair dos subterrâneos que habita e de avançar, inclemente, voraz e veraz, sobre a cidade e sobre a sua gente, tão temerosa de sua fúria quanto fervorosa mente crente dos poderes de proteção atribuídos à imagem de uma Nossa Senhora do Ó, postada no alto desse pedes tal sui generis. A torre fálica, totêmica, na mesma medida em que contém o monstro, faz recordar a todos que ele está lá. Adormecido ou espumando de raiva, não se sabe, mas decerto com ferocidade ímpar, com a força de legiões, com a potência trágica e com a estranha beleza dos malditos. O bastão constrange a besta, mas, ainda assim, ela en controu uma forma de derramar a sua peçonha sobre as ci da des. Ela encontra o seu veio, pelo qual, flui. É possível imaginála, percorrendo canais escuros, roçando a sua pele pelas paredes terrosas ou aninhada no buraco no qual foi for çada a estar, com os olhos bem vivos, rutilantes, atenta aos sons e às vibrações do terreno, e aos sons daquilo que por ci ma da terra, para além da Terra, de algum modo ela alcança. Sem título | Untitled, 1972 Litografia | Lithograph, 07/25 64,9 x 55,7cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa [DetaLHe | DETA IL ] 14 Seu rasto é misterioso e sinuoso – como cabe às co bras –, e os sulcos que deixa por onde rasteja não marcam o chão da pequena cidade brasileira, posto que referidos a outra geografia; seu caminho é o dos giros cerebrais – dos corações e mentes – daqueles que se deixam afetar pelo traço fantástico de Darcílio Lima. O seu tracejado é o dos mistérios cósmicos e das constelações de decifração difí cil, mas na mesma medida, e paradoxalmente, a sua arte é pedestre: ela não fala apenas a língua dos anjos – celestes ou decaídos – também fala a língua dos homens, tocando as coisas da carne, da violência e da paixão. Guardemos essa imagem simbólica, sabendo que os sím bolos – astrológicos, de línguas mortas e de um alfabeto fan tástico – abundam na obra de Lima: um enorme “mas tro falo” no qual numa ponta se eleva a santidade e na outra, se enrosca a grande cascavel. No seu trabalho, essas duas forças antagônicas tensionam enormemente as figuras em cena, fazendo com que gritem de muitas formas a violência experimentada por esse artista inquieto. Lembremos que a própria imagem sagrada de Nossa Senhora do Ó, presidindo do alto um embate entre o bem e o mal, carrega com ela a marca de uma ambivalência es sencial: na história iconográfica da santa, ela foi muitas vezes representada com o ventre intumescido pela imacu lada conceição. Mas exatamente um ventre de uma gravidez em estado adiantado que, a uma dada moral cristã, se pa recerá, escandalosamente, com o ventre gravídico da mu lher co mum; de todas as mulheres que “pecaram” ruidosa mente, talvez gostosamente, e cujo gozo terreno a igreja pas sou a não querer ver associado a um de seus dogmas. Essa mesma ambivalência está presente em Darcílio: na obra e na vida. De educação religiosa, os seus trabalhos deixam entrever, numa frequência que certamente não é ca sual, os restos transformados e revistos de sua formação cristã. No que tange à sua vida pessoal, pouco nos foi dado a saber, posta a sua elegante discrição quando o assunto po deria ser o modo como resolveu ele mesmo as relações entre pecado e luxúria. Em sua obra, todavia, o bem e o mal se entrelaçam de muitas formas. Por exemplo, pela presença insistente da serpente, remetendonos ao pecado original, ou nas muitas referências a elementos dos rituais litúrgicos. As criaturas estão por todo lado na obra de Darcílio: há felinos de olhares enigmáticos e sedutores ou francamente 15 ameaçadores, com a sua bocarra aberta e os seus dentes afiados; há aves antropomorfizadas, enlaçadas a todo ti po de ser incomum; há rabos de peixe, asas e garras e, sem pre, as cobras, inteiras ou metamorfoseadas em outras cria turas; às vezes, apenas sugeridas em sua textura escamosa, mar ca de muitos desenhos e gravuras do artista. São seres que se mostram terríveis, selvagemente an dró ginos, atravessados por dores excruciantes e, talvez por isso, igualmente dispostos à imposição da dor. Eles se entredevoram, copulam, interpenetramse, mastigamse orgias ticamente. Há outros em sua acepção forte: algo que ventres ingurgitados de gravidezes múltiplas, mamas de ma milos salientes, vaginas e pênis que recebem e pene tram, línguas insinuantes e sedentas. Não são seres passi vos: há muito movimento. E sobre cada um desses seres que compõem um besti ário fabuloso há, tal como vestes profanas, outros seres, às vezes pequeníssimos, tal qual alucinações liliputianas, que se relacionam com erotismo. Há, também, outras camadas sobre esses corpos: são como tecidos de padronagens varia das – como havíamos dito, talvez escamas de serpente – que Darcílio realiza obsessivamente e com grande apuro técnico. De onde virão os seres dessa “fauna darciliana”? Aqui se chega a um dos pontos mais delicados no que tange a uma possível chave para a interpretação de sua obra. A crítica nunca deixou de apontar que as motivações de Lima são profundas, geradas e gestadas em seu ventre pulsional. A crítica brasileira – por exemplo, com Mário Pe drosa, que soube entregar ao mundo os talentos de Hélio Oiticica (1937–1980) e de Lygia Clark (1920–1988), ou com Frederico Morais, que apresentou ao Brasil e ao mundo a obra de Arthur Bispo do Rosário (1909–1989), e também a crítica internacional, em especial a inglesa e a francesa, sou beram ver na obra de Darcílio esse componente instintual, que dribla a racionalidade consciente para obter em seus trabalhos uma verdade sugeridaexatamente pela sensação de que a sua produção brotaria como a água cristalina brota virgem, da rocha. Há certamente fortes motivações inconscientes na re pe tição de certos temas em Darcílio, mas ao contrário do artista comum – no sentido específico de alguém que cria, por assim dizer, tendo como apoio, o solo mínimo de esta bilidade que a neurose supõe, em contraponto à estrutura 16 psicótica –, ele é compelido a retecer a fina matéria de um mundo em que possa viver. A sua obra poderia ser encai xada no grande e heterogêneo conjunto da outsider art, da arte visionária ou da art brut? Difícil responder... Ele não tra balha apenas por premências internas e, embora haja muito de intuitivo no que produziu, não se pode dizer que tenha passado ao largo do sistema de arte. Foi como se a boa crítica houvesse dito: “ele tem monstros secretos, guardados, prontos para serem colocados para fora...” Mas há certamente outras certezas que também o impulsionam a criar e algumas de suas imagens talvez serpenteiem em sua direção, o encontrem e até o surpreendam, porque vêm de fora, como as alucinações, ou misturemse a ele, como os delírios. Do mesmo modo, também pode haver dúvida quanto à pertinência de classificálo como um surrealista. Suas fi guras, não há dúvida, são surreais, mas ele não as repas sa sob o molde das formações do inconsciente. Não são exa tamente figurações, em tinta sobre papel, de sonhos, como no caso de certo segmento da proposta surrealista. Um so nho, como se sabe, tem um conteúdo latente e um conteúdo manifesto, sendo este último aquilo que se pode recordar no dia seguinte. Embora os conteúdos oníricos pos sam ser tomados como “notícias de outro lugar” – notícias que nos chegam fragmentadas, feitas de deslocamentos e de subs tituições, obedecendo a uma temporalidade única, produ tora da estranheza que reconhecemos como tão carac te risticamente dos sonhos –, esse “outro lugar” deve ser concebido como um extrato de nosso psiquismo, um regis tro de nosso funcionamento mental ou um determinado lo cus de nosso aparelho psíquico. Colocar os sonhos e as fan tasias nas obras plásticas é o que muitos artistas – os bons e os ruins – se sentem fazendo quando criam. No ca so de Darcílio Lima, o terreno é outro; os labirintos pelos quais a grande serpente se move não estão localizados em algum recôndito de sua alma que ele, numa espécie de movimento catártico, procuraria exteriorizar. Darcílio é movido por ou tros imperativos que, embora o atinjam em cheio no corpo e no espírito, são de outra ordem e vêm com a força de um Deus. Darcílio, como Bispo do Rosário, não tinha escolha: não criava apenas por impulsos artísticos ou pela neces sidade de expressão de suas questões; criava por que era 17 forçado a responder, de alguma forma, a uma solicitação que só ele pôde ver ou escutar. É difícil estabelecer a conexão entre o universo supra r realista pelo qual Darcílio parecia transitar e o Brasil dos anos 60 e 70, onde ele viveu e criou: um país subdesen volvido, sob um regime político totalitário e que aparece na obra de muitos artistas do período, como o já citado Oi ticica e tantos outros como, por exemplo, Antonio Manuel (1947) ou Cildo Meireles (1948). A temporalidade de Lima parece mais transcendental, no sentido de que combina re ferências culturais contemporâneas, como uma garrafa de cocacola, a outras de muitas épocas, latitudes e longitu des. Havia de sua parte, eventualmente, posicionamentos políticos de irreverência crítica, como quando foi vestido com uma casaca de general à sua vernissage. Mas se há um encontro com um outro, que foi central e catalisador para ele, esse encontro foi com o artista plás tico e professor Ivan Serpa (1923–1973), que o acolheu em sua singularidade (Darcílio era uma figura de grande sin gularidade), recebendoo durante dois ou três anos em sua casaateliê e não propriamente ensinandolhe algo, mas colocandoo ao seu lado para, em paralelo, desenvolverem as suas respectivas obras que, de algum modo, se relacionavam. É preciso não esquecer a importância de Nise da Silveira e de sua Casa das Palmeiras, que Darcílio frequentou em 1966. Antes disso, levados por Mário Pedrosa, Ivan Serpa, Abraham Palatnik e Almir Mavignier travaram contato com a obra dos loucos internados no Hospital Psiquiátrico Pedro II, no Engenho de Dentro. É possível que essa experiência tenha ampliado ainda mais a sensibilidade de Serpa à lou cura e a sua possibilidade de produções incomuns. Para Darcílio, o período na Casa das Palmeiras foi como uma etapa necessária para o grande encontro com Serpa e para a explosão criadora daquilo que se deve reconhe cer como o seu trabalho mais característico e, talvez, mais forte também. Talvez a relação transferencial estabelecida entre Serpa e Lima possa ajudar a que se entenda um pouco mais de seus mecanismos criativos. Diz ele: 18 Então conheci Ivan Serpa, que me disse: “Você não precisa estudar, só trabalhar”. Não procurei mais professor [...]. À me dida que vou trabalhando, sinto que o tema se concretiza. O Serpa me obriga a trabalhar e me dá o exemplo do trabalho. Muitas vezes eu paro, exausto, ele começa, é como um exor cismo, então eu sinto como se o ritmo não parasse. Alguma coisa que já está lá toma forma e se põe em mo vimento a partir da presença magnetizante de Serpa. É como se todo o trabalho da tessitura de seu mundo – tal vez de seu próprio Eu – obtivesse, através de Serpa, uma ancoragem na Terra. Como apreciar em toda a sua magnitude, a experiência estética que Darcílio Lima deixa com a sua obra? Talvez, aproximandose com suavidade de cada um de seus traba lhos e, como quem cola o ouvido na terra, escutar o sibilo e o chacoalhar da grande cascavel em seu labirinto. Guilherme Gutman cursou medicina na Universidade Federal Flu minense, fez residência médica em psiquiatria, quando iniciou sua formação em psicanálise. Fez mestrado e doutorado no Instituto de Medicina Social/Uerj. Trabalhou em muitas instituições psiquiátri cas, onde pôde aprofundar a sua compreensão das relações entre arte e loucura. É professor adjunto do Departamento de Psicologia da PUCRio, psicanalista e autor de vários artigos e capítulos de li vro. Nasceu, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Sem título | Untitled, 1968 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 68 x 51cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa [DetaLHe | DETA IL ] 19 20 21 SurrealiSmo FantáStico mário Pedrosa Eis aí uma expressão arcaica num mundo contemporâneo. Quero dizer, fora de moda. Mais ainda, – inatual. Seu autor é, porém, jovem, muito jovem. Se ele fosse apenas um desatualizado, ou mais um “pri mitivo”, era de se passar adiante, sem comentários. Mas não é esse o caso de Darcílio Paula Lima. O caso não está nos seus desenhos. O caso está nele. Um desenho a bico de pena, finíssimo, de estrutura di ga mos acadêmica, não tem, entretanto, procedência em ne nhum figurino, daqui ou de alhures. O desenho é instru mento, meio para um fim: a mensagem que Darcílio traz e espera comunicar, com graves cogitações de uma ordem que transcende a “beleza” ou “habilidade” (aliás extraor dinária) de seu traço sutil, preciso, com impulso próprio e certeiro que vai de uma textura a outra, sem hesitação, sem interrupção. Essa certeza de “tiro” está a indicar que Darcílio está lendo lá dentro, de seu ego, algo muito claro e que o impele a transcrever no papel. Ele tem de dizer o que diz e o faz da maneira que faz, por ser artista, isto é, não só um talentomas um súdito do mundo interior com uma mensagem, uma terrível mensagem. A certeza, a inevitabilidade de seu traço vem do artis ta, mas compulsão sob a qual age vem possivelmente de outras profundezas. O artista é, sobretudo, a personificação de um cavaleiro andante de outras eras, que traz consigo. Por coincidência, tem contas a ajustar, atualíssimas. Pelo mundo corre uma formidável revolução não política, mas de consequências pelo menos tão profundas quanto aquela. É a já tão celebrada “revolução sexual” que se exprime na ação pela transformação dos costumes realizada na prá tica sobretudo pelas juventudes do mundo. Reprodução do cartaz de exposição realizada na galeria L’Atelier com texto de Mário Pedrosa | Reproduction of the poster of the exhibit staged at L’Atelier Art Gallery with a text by Mário Pedrosa, 1968, 60 x 38cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 22 Começada pelos “beats”, é continuada e aprofundada pelos “hippies” e com menos compromissos, ou ao contrá rio por vezes com acentos de insuportável mundanismo nas chamadas artes plásticas. Refirome ao movimento que alguns no seu incurável mundanismo acadêmico chamaram até de “escola de te mas eróticos”. Darcílio estaria também classificado nesse movimento ou escola estética dita erótica? É preciso colocar os pontos nos ii e ele não está se divertindo com o “tema” para ser “atual” ou estar na moda. Darcílio se debruça sobre o corpo, um esquema de cor po de identidade vaga, indefinida, antes quase alegóri ca. Tem, por vezes, cabeça de águia ou de serpente, de grifo, com os pés em garra, plantas, rabos de centauros. Há aqui os elementos simbólicos de uma zoologia fantástica. Os lar gos corpos espalhados sobre o papel, às vezes em diagonal, como se avançassem numa ciranda, ou, simplesmente, ere tos de cabeça em coroa ou plumas, abremse sempre nos bu racos fatídicos, vagina, ânus, boca. Também sempre se des membram nas juntas, nos antebraços, nos joe lhos; dessas subaberturas saem anfisbenas, harpias, falos gigantes que se enterram orifícios adentro. Há ali uma violenta negação da carne que só aparece, aqui ou ali, nos sombreados que se aproximam das aberturas genitais. São os raros momentos de um desenho realmente sensual. Os corpos são vazios, apenas com a pele por fora, e ocos para de lá dentro brota rem novas figurações, novos atos de copulação, novas aber rações, línguas serpentinas chamejantes ou devoradoras. Um detalhe significativo que se repete é o do cruci fixo, em que a imagem do crucificado, com pregos e tudo, aparece sempre em ereção. As cruzes, os emblemas pa palinos, inclusive de Pio X, indicam onde se encontra o ponto de convergência dessa imaginária que não é tanto erótica como herética. Não em vão sua fase anterior con sistiu na série O Cristo e a Matéria, em lápis de cera. Então descobriu no mistério do Cristo a volúpia desesperada da carne. Darcílio passou a combater os dragões da concupis cência, que para ele se encarnam no misticismo da Igreja. Ele opõe ao misticismo a santidade do amor erótico. Num de seus desenhos, é evidente que a entidade impessoal do Papa, descarnado, está ali representada com uma máscara ao pei to, a tiara à guisa de cabeça, tendo numa garra uma 23 es pécie de gaiola onde um rato rói a coroa de espinhos como ossos e numa ponta de pano há mais um crucificado de falo em riste. De um braço enrolado numa serpente sai uma cabeça de águia de dentes afiados, em cuja goela uma mulher é acariciada e deglutida ao mesmo tempo. Numa pata de garras abertas um bruto prego varalhe a palma, enquanto a outra se termina em seio feminino, que vem lamber um grifo de cauda festiva. Esse surrealista autêntico do Ceará é um homem de hoje. É irresistível sua aproximação com outra figura atua líssima em seu formidável arcaísmo. É um profeta, precur sor da revolução da liberdade sexual contra os tabus reli giosos institucionalizados nas velhas igrejas. Tratase, é cla ro, de Buñuel. Darcílio descende da mesma família. Rio, janeiro de 1968. Mário Pedrosa (19001981) foi um importante crítico de arte brasi leiro, de atuação e projeção internacional. Intelectual e pensador po lítico, acompanhou desde a juventude o movimento de renovação cul tural e artística do Brasil. Militante, foi um dos fundadores do Par tido Comunista Brasileiro com o qual rompeu. Participou da IV In ternacional Trotskista do qual foi desligado. Exilado na era Vargas para os Estados Unidos, regressou ao Brasil findo o período ditato rial e, sem abandonar o interesse político, passou a dedicarse pri mordialmente à crítica de arte. Publicou ensaios acadêmicos, bem como artigos na Tribuna da Imprensa, Correio da Manhã e Jornal do Brasil. Colaborou com a criação do MAMRJ, foi um dos principais organizadores da II Bienal de São Paulo (1953/54), diretor do MAM SP e secretáriogeral da IV Bienal de São Paulo (1957). Foi vice presidente da Associação Internacional de Críticos de Arte (1957 70) e presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte, seção nacional da AICA (1962). Organizou o Congresso Internacional de Crí ticos de Arte (1959) que versou sobre a cidade de Brasília. Par ti cipou de numerosos júris de bienais de arte internacionais. Foi defensor do abstracionismo, do concretis mo e do neoconcretismo. Acompanhou e estimulou o trabalho de influentes artistas brasilei ros, como Lygia Clark, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Amilcar de Castro, Mira Schendel, Alfredo Volpi e muitos outros. Já idoso, foi um dos fun dadores do Partido dos Trabalhadores. 24 25 dePoimento antonio manuel antonio manuel Guilherme Gutman afonso costa afonso costa [ac] Antonio, em primeiro lugar, obrigado por você nos atender, dando seu depoimento. Estamos muito orgulhosos de fazer este resgate de Darcílio Lima, um ar tista que, na verdade, está no ostracismo, numa espécie de limbo. Na pesquisa que fizemos, tentamos encontrar tra balhos dele em instituições e museus, e não existe nada. O único trabalho que achamos é o da coleção Gilberto Cha teaubriand, que se encontra em comodato no MAM. Mas também encontramos o que era a coleção de Ivan Serpa, que hoje pertence a seus filhos, e selecionamos muitos dos trabalhos que eles têm de Darcílio. E isso deu corpo à expo sição, tornouse seu núcleo principal, e complementamos com outros trabalhos de colecionadores particulares, nesse garimpo de encontrar as coisas dele. Eu te conheci no MAM, por volta de 1967/68, eu era garoto e comecei a frequentar o museu, e tinha aulas com Ivan Serpa. Foi nessa época que todos nós nos conhecemos, e foi quando eu conheci Darcílio também. Você conheceu o Darcílio lá? Como você conheceu o Darcílio? antonio manuel [am] Não me recordo muito bem, mas com cer teza foi por intermédio do Serpa. Eu frequentava a casa dele no Meier, na rua Juruviara. Estive lá diversas vezes, Serpa recebia nos fins de semana, e eu sempre me encon trava com o Darcílio por lá. Muitas vezes a gente voltava do Meier para o Centro juntos, no ônibus – acho que o 455, e vínhamos conversando, trocando ideias. Essa relação se dá, então, pelo Serpa, não aconteceu no museu. Foi na pró pria casa do Serpa, acho que em 1967. Antonio Manuel e / and Darcílio Lima Che Guevara Serigrafia de Antonio Manuel aquarelada por Darcílio Lima, s/d | Screenprint by Antonio Manuel & Watercolor by Darcílio Lima, undated, 77 x 58,5cm Coleção | Collection Marcia e Luiz Chrysostomo [DetaLHe | DETA IL ] 26 ac Encontramos um pôster de uma exposição que Darcílio fez na galeria L’Atelier, em 68.O pôster não reproduz ne nhum trabalho dele, apenas um texto de Mário Pedrosa. Você não tinha propriamente um encontro direto com Dar cílio, era sempre através ou do Serpa ou do Mário? Ou seja, você não tinha uma relação direta com Darcílio, ou dele ir à sua casa, ou vocês saírem juntos? Gostaria de saber também o que provocou Darcílio a traba lhar em cima da sua serigrafia de Che Guevara? Coisa que Serpa também fez. Eu conheço exemplares dessa serigrafia aquarelados tanto por Darcílio, quanto por Serpa. am Na verdade, houve uma relação, sim, com Darcílio, não só na casa de Serpa, mas eu me recordo de duas vezes ir com ele na Casa das Palmeiras, onde ele era frequentador e aluno, na rua Haddock Lobo, na Tijuca. Eu tinha um ateliê na Glória, e uma vez Darcílio apareceu lá. Combinamos, e eu me atrasei mais de duas horas, e ele deixou um bilhete, chateado, dizendo: – Pô, nós marcamos às onze horas, e quando bateu uma hora, como você não apareceu, fui embora! Nesse bilhete ele fez um desenho de um cálice de cujo in terior saíam duas mulheres nuas, enfim, algo fantasmagó rico, e que no momento não consigo encontrar, está perdido aqui no meu ateliê. Então, tinha essa relação, um pouco fora da casa do Serpa, eventualmente no MAM também. Respondendo a questão das serigrafias: eu tinha combi nado com o Serpa e a Lygia Pape, nós três; que cada um faria um trabalho gráfico e passaria para o outro interferir. O Serpa interfere na minha serigrafia, eu interfiro na da Lygia Pape, e assim vai. O Darcílio morou lá na casa do Serpa, e era querido da família... da Lygia, mulher do Serpa, do Serpa, e dos filhos, ele virou um membro da família. Ele trabalhava vinte e quatro horas naquele ateliê, e o Serpa obviamente deu essas minhas serigrafias do Che Guevara para ele interferir também. guilherme gutman [gg] Você disse que às vezes vocês voltavam de ônibus, que tinham esses encontros. Como é que eram 27 as conversas dele? Ele falava mais de arte, ele falava mais da vida, mais de coisas dele? Você saberia dizer se tinha alguma coisa em particular que chamava a sua atenção? am Eu acho que tinha alguma coisa sim... Mais aberta da vida, da vida em si, mesmo. Agora, uma coisa específica de arte, não me recordo. Mas situações, como da Casa das Pal meiras ele narrava, e de algumas pessoas dali que tinham o trabalho interessante. Enfim, ele afirmava que ele gosta ria de ir para o exterior, de expor fora; tinha umas coisas assim, de realizar um sonho, um desejo de ir pra frente, de projetar o trabalho, ele tinha muita segurança no que fazia. Tem um lado também bastante afetivo. Por exemplo, o meu primeiro analista, quem me apresentou foi ele. gg Ah, é? am É. Numa dessas conversas do ônibus, voltando da casa do Serpa, eu falando da minha necessidade de fazer uma aná lise, uma coisa assim, e ele me apresenta o meu pri meiro analista. ac Era analista dele? am Não era analista dele, mas era um pouco ligado à Casa das Palmeiras. Um dia ele me levou na porta do analista em Copacabana, tocou a campainha, e foi me apresentando ... – Esse é o Antonio, de quem te falei! E aí, surgiu minha primeira sessão, via Darcílio. Enfim..., na época, eu era ainda um adolescente, 18/19 anos, uma rebeldia e um inconformismo enorme, e eu conversava isso com ele. Esse é um dado generoso do Darcílio. Eu não pedi nada, ele mesmo se ofereceu e conversou com o analista... E eu passei a pagar esse analista com trabalhos. A cada duas consultas, dava um desenho para ele. No final, dois anos depois, ele me chamou lá, fomos ver todos os desenhos, e ele devolveu tudo para mim, e disse: “Olha, isso tem mais 28 valor na sua mão do que na minha. Só quero uma coleção de fotografias desses trabalhos.” Esses desenhos estão guar dados comigo até hoje, são trabalhos bastante livres, soltos, espontâneos. ac Darcílio era um virtuoso, com aquele trabalho pontilhista e obsessivo, certo? É uma verdade indiscutível. am Mas o Serpa deu uma disciplina para ele. O Serpa foi fundamental na vida dele... Fez isso acontecer! Eu me lem bro dos primeiros desenhos dele; eram em lápis de cera, uns desenhos um pouco soltos, sem organização. Com o Serpa, não: ele cria uma disciplina, ele vai trabalhar todo dia, mora lá, e o trabalho dele cresce bastante. A escala do desenho é maior, a parte gráfica é mais rica e surge o pon tilhismo. A força de comunicação é maior. O surrealismo do Darcílio vai mais além ainda. Essa disciplina do Serpa foi fundamental para ele. Foi fundamental para melhorar a sua vida financeira, porque o Darcílio passou a vender seus trabalhos para os colecionadores do Serpa. Tem uma foto, que o Guilherme mostrou, dos dois no ateliê de Ivan Serpa; os dois trabalhando um do lado do outro, na mesma mesa. E era assim mesmo, um influenciava o outro; tinha um diálogo, uma relação nesse trabalhar, não é? Ele tam bém estimulava o Serpa, porque o Serpa era um apaixonado por arte. Então um trabalhando ao lado do outro é a parce ria perfeita, um estímulo genial. E há semelhanças. Alguns desenhos do Serpa têm semelhança com os do Darcílio. Aquelas mulheres, aquelas bundas que o Serpa fazia com pontilhismo, aquilo passa para o Darcílio. ac Há até trabalhos assinados pelos dois. O Guilherme, por exemplo, tem na coleção dele um trabalho que é dos dois. Quer dizer, você vê claramente o que foi feito pelo Serpa, advindo daquela série dos bichos, e o que foi feito pelo Darcílio. Você reconhece perfeitamente o que é de um e de outro. Mas existe uma sintonia entre os dois, e o tra balho se funde de uma forma bastante fluida. Não há um antagonismo mas sim um verdadeiro casamento, uma ver dadeira simbiose. Depois que Darcílio ganha aquele prêmio de viagem, e vai morar na Europa, onde na França conheceu o Dali, o Labisse, enfim, conheceu vários surrealistas, expôs com 29 eles, aconteceu algum movimento e tal. Mas quando ele retorna... Como foi? Por que ele sumiu? am Eu não me recordo; não me lembro direito... mas ele sumiu, é verdade. Sumiu com essas viagens... Mas eu me lembro de algumas conversas dele, quando retornou, me mostrando recortes de jornais, revistas, do sucesso que foi o trabalho dele lá fora, principalmente na França. Tor nouse um artista importante, afinal expôs com Dali. Mas depois eu perdi o contato com ele. Soube que ele tinha voltado para Cascavel, e depois não o vi mais; não tive mais notícias dele. ac Acho que foi justamente quando ao voltar de Cascavel, ele foi para Cabo Frio e ficou morando por lá, até que de pois ficamos sabendo que Darcílio tinha morrido em um aci dente absolutamente estúpido. Ele caiu de uma bici cleta, bateu a nuca no meiofio e morreu. Depois, ninguém nun ca mais falou de Darcílio; ele desapareceu. Embora, ain da antes dele morrer, tenha acontecido a exposição na Casa Laura Alvim, quando Célia Resende dirigia a casa, junto com Stella Marinho, que eu creio que exercia a presi dência na época. Conseguimos uma foto da abertura dessa exposição onde todos eles aparecem. am Acho que sim... Eu também perdi o contato, e a gente não se viu mais. Foi por aí. Mas não me recordo exatamente quando. ac Tem mais alguma coisa que você gostaria de dizer? gg Sobre ele, sobre o trabalho dele... am Ele surge de uma forma bastante rica e impressiona as pessoas pelo seu trabalho, pela sua evolução, inclusive Mário Pedrosa, como eu já disse. Um artista, enfim, que trabalha com o surreal, mas com uma força erótica extra ordinária, e uma técnica também forte que lhe ajuda nessa comunicação. É um artista único e extraordinário.ac Mais uma coisa: apesar de toda essa veia erótica do tra balho de Darcílio, ele te falava alguma coisa do comporta mento erótico pessoal dele, das relações dele, de alguma 30 coisa sexual, ou ele era uma pessoa extremamente reser vada em relação a isso? Ou não, ou ele era um fauno, ou uma pessoa que se atirava nesse tipo de aventura, porque essa veia erótica do trabalho dele é absolutamente deter minante com todos aqueles falos, vaginas, cobras, línguas, peitos e mamilos, bundas e o diabo! O trabalho dele é um manancial de símbolos eróticos, certo? am Não, ele comigo foi muito reservado sempre. Não rolava esse tipo de assunto, não me recordo de ter conversado com ele sobre isso, de ele ter se manifestado alguma coisa dessa situação sexual. Eu acho que ele colocava tudo isso, essa questão aparecia no trabalho. Não havia comentários de namorada, ou de namorado, isso eu nunca ouvi. Parece me que todo esse erotismo ia para o trabalho, as mulheres saindo de um cálice, nuas, dentro de um copo de champa nhe é extraordinário. gg Darcílio frequentou o seminário também. Ele pega ele mentos religiosos e transmuta aquilo. am Sexualiza, não é? ac É, ele foi seminarista. Nós conseguimos uma foto dele adolescente, de batina, como seminarista. am Ele era do seminário. Você lembrou um elemento forte, marcante, no trabalho e na vida dele. Às vezes extravasava isso até com as roupas e com o trabalho. Um dado que eu acho importante é que Darcílio Lima vem pela Dra. Nise da Silveira; ele surge pela Casa das Palmeiras. Esse é um dado fundamental do seu percurso. ac Ela foi a primeira pessoa... am Pessoa antenada! Maravilhosa! Pegou o Raphael, o Emygdio, veio o Darcílio também nesse bolo. Pela Casa das Palmeiras, vai para o Serpa, encontramse, expandemse, e depois frequentam o Pedrosa, vivendo uma riqueza evolu tiva, de uma força extraordinária. 31 gg São dois lugares muito pulsantes, não é? A Casa das Pal meiras e a casa do Serpa, os dois polos irradiadores, não é? ac E o MAM! O MAM naquela época era o... am Claro, o MAM! ac ...era o centro do Rio de Janeiro. Todo mundo ia para o MAM, para a cafeteria do MAM, e tudo acontecia no MAM e no seu entorno. am Eu ainda estou na busca do desenho do Darcílio. O do bilhete ... É pequenininho... ac Vamos torcer para que você o localize até a exposição. Você tem algum outro tipo de documentação dele? Fotogra fias, cartas, alguma coisa mais? am Não, não tenho. Só a memória do bigode dele. Mas eu ainda vou achar esse desenho! ac Antonio, muito obrigado. Seu depoimento foi de uma ri queza única, inestimável! Antonio Manuel, pintor, escultor e cineasta, nas cido em Portugal em 1947, chega ao Brasil em 1953, e fixa residência com sua família no Rio de Janeiro. Em meados da década de 1960, frequenta o ateliê de Ivan Serpa e suas aulas no MAMRJ. Inicialmente, utiliza o jornal e sua matriz – o flan – como suporte para seus trabalhos, onde aborda temas políticos e discussões esté ticas. Posteriormente, produz vá rios filmes de curtametragem. A partir da década de 1980, realiza pinturas de caráter abstratogeométrico. Suas obras provocam uma reflexão sobre o contexto social e político brasileiro. Com um exten so currículo de exposições em im portantes galerias, museus e insti tuições, este ano representou o Brasil na Bienal de Veneza. 32 Caricatura de Darcílio Lima, feita por Sami Mattar, s/d | Caricature of Darcílio Lima by Samir Mattar, undated Coleção | Collection Família Ivan Serpa Caricatura de Darcílio Lima, feita por Ziraldo | Caricature of Darcílio Lima by Ziraldo, 1968 Coleção | Collection Família Ivan Serpa 33 dePoimento YveS SerPa Yves serpa Guilherme Gutman guilherme gutman [gg] Yves, muito obrigado por nos receber. Como você já deve saber, estamos realizando um resgate da obra e da vida de Darcílio Lima. Além das obras, a ex posição incluirá documentação e fotos para compor uma memorabilia sobre ele. Nessa pesquisa, é fundamental re conhecer a importância de seu pai, Ivan Serpa, na formação de Darcílio como pessoa e como artista. Para começar, fale um pouco da sua relação com ele. Yves Serpa [YS] Eu tinha 14 anos quando ele [Darcílio] veio mo rar aqui em casa, por volta de 1965. Meu pai o conheceu na Casa das Palmeiras, lugar que ele ia muito porque era amigo da Dra. Nise da Silveira e também para estudar o que acontecia com aqueles ditos loucos. Ele foi se fascinan do com o que via por lá e Darcílio foi um dos alunos que mais lhe chamou a atenção. Tempos depois, chegou a um ponto em que o Darcílio estava com dificuldades, mas sua famí lia era do Ceará e ele estava meio desconectado deles. En tão, meu pai o trouxe aqui para casa. Na época todo mundo achou que meu pai era louco por trazer para dentro de casa uma pessoa egressa de uma instituição psiquiátrica. En tão, meu pai afirmou: “não, ele não tem nada de doente. Darcílio é um gênio; ele precisa é de ter alguém que possa alavancálo”. Ele foi se moldando à família e a família se moldando a ele. Ele veio para cá e a gente conversava muito, brincava muito... 34 gg Tinha humor. YS É! Vivia rindo. Ele era, digamos assim, sério e compe netrado na hora em que estava desenhando. Era aquela hora que ele saía do mundo para fazer o trabalho dele, a obra dele. Quando terminava, voltava aquela alegria, aquela brincadeira. Estava sempre rindo. Ele era uma pes soa muito alegre. gg Na época ele ainda era muito novo, tinha uns 18 anos, certo? YS Por aí, 18, 19 anos. Ele era um pouco mais velho do que eu... gg E ele ficava completamente integrado? YS Totalmente. Era um membro da família. Ele não era um visitante, nem era um empregado! Ele virou um membro da família. Nós somos três filhos, mas muitos foram se agre gando, então, meus pais criaram mais seis. Lembro de um primo que veio para ficar um ano e ficou dez. Eu também tenho uma irmã de criação que chegou com dois anos e saiu para casar. E com Darcílio foi assim também, ele veio e tornouse um filho. Ele entrou na família sem rótulos. Meu pai tinha muito de amigo, de pai, de irmão. gg Vocês se davam bem? YS Tranquilo. Ele sempre foi muito divertido e brincalhão. gg Divertido como? YS Darcílio era uma pessoa pura; falava o que pensava e às vezes brincávamos dizendo “acho que esse cara ainda tá doido!” Mas, depois percebíamos que não, que ele era, de fato, uma pessoa muito pura, que não via maldade nas coisas que nós víamos por estarmos em um mundo mais cruel. Era época de revolução, logo após a revolução, então, todo mundo estava muito ressabiado com relação a tudo, 35 e ele não estava preocupado com isso; ele queria fazer os desenhos dele, o negócio dele era outro, não era política! gg Em relação ao universo do desenho dele, sobretudo quando se vincula a Ivan Serpa, seu pai, surge um universo onde entra violência, sexualidade, uma orgia louca que, na verdade, ele não vivia, mas que aparecia no seu desenho, você concorda? YS Exatamente. Por isso que parecia que ele saía do mundo, ia para outra dimensão onde ele fazia sua obra. Outra coisa que se pode constatar é que, no início, sua obra era, sobre tudo, em preto e branco. Só mesmo desenho com nanquim. Mais adiante, ele começou a inserir cor. E se você observar, os trabalhos dele com cor são trabalhos lindíssimos. Um co lorido muito próprio, exuberante. Uma coisa bem marcante mesmo, bem pessoal. gg É verdade, tem isso: além dos temas, tudo é muito exu berante e vibrante. YS No trabalho de Darcílio, a aquarela que se vê que é uma aquarela diferente. Porque a aquarela normalmente é aquela coresmaecida... A dele não! É a cor vibrante! gg Pensei exatamente nisso, porque tem algo ali que pode ria até ser lido nos desenhos, que autoriza totalmente essa leitura, como uma coisa de uma eletricidade, uma agressi vidade, até uma possível violência. YS Provavelmente era isso. Era uma maneira de ele descar regar, embora ele fosse uma pessoa calma. gg E quanto à vida pessoal? Ele tinha amigos? Você sabe de alguma coisa? YS Quando ele veio aqui para a nossa casa, os amigos dele eram os que ele conheceu na Casa das Palmeiras. Depois ele foi conhecendo toda aquela turma de alunos do meu pai que frequentava nossa casa e, a partir daí, ele começou a ter uma nova vida. 36 gg Uma das fotos que mais me chamou a atenção é aquela que mostra o seu pai e Darcílio trabalhando muito próxi mos, na mesma mesa. Essa convivência traz para ele muito mais força, concorda? YS Claro que sim, é o que provavelmente aconteceu. O meu pai incentivou Darcílio a se soltar. gg Você acha que Darcílio precisava dessa espécie de autorização? YS Darcílio precisava disso, de alguém falar para ele: “Você quer fazer, então faz! Não se prenda, vai”, ou “O que você quer, é isso? Conseguiu? Não? Então faz de novo!” gg Mas, olhando uma coisa mais técnica de Darcílio, a sen sação é que ele pegou alguma coisa. YS Não, exatamente. Essa exigência de ficar pronto do jeito que foi pensado, ele absorveu, entendeu? Ele era meticu loso. Meu pai era muito exigente, se uma obra não ficasse perfeita, ele a destruía, e Darcílio também destruiu muita coisa, pois ele começou a ter aquela consciência da legi timidade do trabalho. O trabalho tinha de ser legitimado pelo que foi pensado. Essa cobrança ele também incorpo rou à sua rotina. É possível perceber que o trabalho do Darcílio é muito meticuloso; ele tem um equilíbrio incrível. gg Eu acho que essa meticulosidade é uma característica de muitas fases de seu pai. Por isso que eu fico pensando que quando Ivan Serpa estava fazendo aqueles opticals, mais pontos de luz, na mesma época Darcílio começou a exercer o pontilhismo. YS Darcílio também enveredou por esse caminho. gg Por isso eu acho que ele também teve influências. YS Mas, em momento algum ele copiou. Ele pegava, por exemplo, uma técnica que ele via, falava assim: “poxa, isso dá para incorporar no meu trabalho”. Ele não violentou o 37 seu trabalho. Ele incorporou certas técnicas ao trabalho, sem se violentar. Isso é importante também. É você ver o trabalho de um artista, ver uma técnica, ficar fascinado por aquilo ali e ver como você pode usar aquela técnica no seu trabalho para se reinventar! gg Você acha que Darcílio foi fiel a isso? YS Sim, e ele também começou a ler sobre arte. Muito. Nós tínhamos por volta de quatro mil livros. E Darcílio tinha aces so a isso gg Isso me leva a pensar em outra pergunta: Darcílio tinha, como influência ou como interesse, algum artista ou alguns artistas em particular, antigos ou contemporâneos? YS Ele gostava muito de Dali. Dali sempre foi um norte. Ele achava que o Dali tinha, digamos, a mesma liberdade que ele. Ele falava muito de Dali; gostava e falava muito de meu pai, gostava de outros artistas com trabalho muito meticu loso, como Paulo Garcez. Eles chegaram a se conhecer aqui. gg Ele tinha alguma consciência do valor do trabalho? YS Tinha. Talvez não no início. Mas, depois, ele começou a ter noção de que o trabalho despertava o interesse das pessoas. No início, ele achava até muito engraçado, “Pô, tem gente à beça gostando do que faço”, mas depois conscientizou. gg Darcílio passou uma imagem de quase como se fosse meio casto. Você sabe se ligou a alguém? YS Não, não, emocionalmente eu acho que não... gg Se ninguém falou disso, acho que realmente não aconteceu. YS Não. Ele era uma pessoa que você conhecia e ficava ami go. Acho que ele nunca perdeu a pureza, entendeu? Ele foi se informando, foi se moldando, mas continuou sendo aquela pessoa que tinha uma alegria própria, luz própria. 38 Eu costumo falar: ele tinha luz própria, não precisava de ninguém para jogar holofotes sobre dele. Ele se iluminava; iluminava o caminho dele... Seu trabalho era de primeirís sima qualidade, sempre foi. Era um artista na expressão da palavra. Ele era um virtuoso! Um produtor de obras de arte. E, infelizmente, não foi comercialmente reconhecido. Até que na Europa o trabalho dele teve uma valorização boa, mas, como ele morreu há um tempo e não houve um trabalho para divulgar sua memória, essa valorização não se manteve. Ele era uma pessoa pura, uma alma pura. De uma alegria! Tinha momentos de tristeza. Tinha, mas ele equacionava para ficar alegre novamente. gg Mas tinha uma coisa excessiva essa alegria ou... YS Não! Ele procurava manterse alegre, entendeu? Não era euforia. Era alegria. Procurava se manter alegre, sempre sorrir. Meu pai também tinha muito disso. “A gente tem que se manter em alegria... procurar manter um equilíbrio positivo, porque se você ficar nessa só de problema, tris teza, você só atrai coisa negativa para você, certo?” Eu acho que Darcílio herdou isso: procurar manterse alegre, conectado de uma outra maneira. gg Yves, agradecemos muito pelo seu tempo e pelo depoi mento tão esclarecedor e relevante! Yves Serpa, desenhista e pintor, nascido em 1951, é filho do reno mado pintor Ivan Serpa, e iniciou sua carreira aos cinco anos na Es co linha de Artes do MAMRJ. Tendo realizado diversas exposi ções e recebido prêmios, sua obra transita entre o concretismo e a op art. Conviveu ainda jovem com Darcílio Lima, quando este mo rou por alguns anos na casa de seus pais, no bairro do Meier. Atual mente trabalha e reside em Maricá, Rio de Janeiro. 39 Sem título, 21/02/1969 | Untitled, 02/21/1969 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 47,2 x 37,4cm Coleção | Collection Jorge Eduardo Lima Figueiredo [DetaLHe | DETA IL ] 40 41 42 Página anterior | PREVIOUS PAGE Sem título | Untitled, 1966 Guache sobre papel | Gouache on paper, 41 x 50cm Coleção | Collection Guilherme Gutman Sem título | Untitled, 1971 Guache, aquarela e nanquim sobre papel | Gouache, watercolor and Indian ink on paper, 65,6 x 51,1cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 43 44 Sem título | Untitled, 1968 Aquarela e nanquim sobre papel | Watercolor and Indian ink on paper, 47,6 x 38,6cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 45 Sem título | Untitled, 1968 Aquarela e nanquim sobre papel | Watercolor and Indian ink on paper, 88,4 x 62,3cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 46 Sem título | Untitled, 1968 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 68 x 51cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 47 48 Sem título | Untitled, 1968 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 68 x 51cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 49 Sem título | Untitled, 1968 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 68 x 51cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 50 Sem título | Untitled, 1968 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 68,5 x 49cm Coleção Particular | Private Collection 51 52 Página anterior | PREVIOUS PAGE Sem título | Untitled, 1968 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 67,3 x 48,2cm Coleção | Collection Fabio Settimi Sem título | Untitled, 1967 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 48 x 40cm Coleção | Collection Carlos Byington 53 54 Sem título | Untitled, 1967 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 48 x 40cm Coleção | Collection Carlos Byington 55 Sem título | Untitled, 1967 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper,48 x 40cm Coleção | Collection Carlos Byington 56 Sem título | Untitled, 1967 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 48 x 40cm Coleção | Collection Carlos Byington 57 Sem título | Untitled, 1967 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 48 x 40cm Coleção | Collection Carlos Byington 58 59 Visão | Vision, 1968 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 49 x 45,4cm Coleção | Collection Gilberto Chateaubriand Nisete no Vale de Deus | Nisete on the Valley of God, 1960 Caneta esferográfica e nanquim sobre papel | Ballpoint pen and Indian ink on paper, 32 x 25,1cm Coleção | Collection Guilherme Gutman 60 Sem título, s/d | Untitled, undated Nanquim aquarelado sobre papel | Watercolor and Indian ink on paper 55,1 x 39cm Coleção | Collection Guilherme Gutman 61 62 63 Darcílio Lima e / and Ivan Serpa Sem título | Untitled, 1971 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 48,2 x 38,3cm Coleção | Collection Guilherme Gutman Página Seguinte | NEXT PAGE Sem título, 21/02/1969 | Untitled, 02/21/1969 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 47,2 x 37,4cm Coleção | Collection Jorge Eduardo Lima Figueiredo 64 65 Sem título | Untitled, 1969 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 45,9 x 36cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 66 Sem título | Untitled, 1967 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 51,6 x 40,9cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa Sem título, s/d | Untitled, undated Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 50,1 x 41,1cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 67 68 69 Sem título | Untitled, 1968 Hidrocor sobre papel | Felt tip pen on paper, 43,9 x 35cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 70 Sem título | Untitled, 1968 Aquarela e nanquim sobre papel | Watercolor and Indian ink on paper, 42,6 x 32,9cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa Sem título | Untitled, 1970 Nanquim e hidrocor sobre papel | Indian ink and felt tip pen on paper, 47,8 x 38,6cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 71 72 Sem título | Untitled, 1970 Nanquim e hidrocor sobre papel | Indian ink and felt tip pen on paper, 48,6 x 37,6cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 73 Sem título | Untitled, 1967 Aquarela, hidrocor e nanquim sobre papel | Watercolor, felt tip pen and Indian ink on paper, 62,8 x 45,5cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 74 Sem título | Untitled, 1970 Nanquim e hidrocor sobre papel | Indian ink and felt tip pen on paper, 48,6 x 37,6cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa [DetaLHe | DETA IL ] Sem título | Untitled, 1967 Aquarela, hidrocor e nanquim sobre papel | Watercolor, felt tip pen and Indian ink on paper, 62,8 x 45,5cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa [DetaLHe | DETA IL ] 75 Sem título | Untitled, 1970 Hidrocor sobre papel | Felt tip pen on paper, 56,2 x 40,9cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 76 Espelho | Mirror, 1971 Lápis de cor aquarelado e caneta esferográfica sobre papel | Watercolor pencil and ballpoint pen on paper, 51,3 x 51,3cm Coleção | Collection Marcio Gobbi Fernandes 77 78 Sem título | Untitled, 1968 Nanquim e aquarela sobre papel | Indian ink and watercolor on paper, 51,8 x 41,9cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 79 80 Sem título | Untitled, 1968 Aquarela e nanquim sobre papel | Watercolor and Indian ink on paper, 36,6 x 31,1cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 81 Sem título | Untitled, 1969 Hidrocor sobre papel | Felt tip pen on paper, 48,4 x 38,9cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 82 Sem título | Untitled, 1967 Aquarela e nanquim sobre papel | Watercolor and Indian ink on paper, 65,4 x 50,6cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 83 Sem título | Untitled, 1967 Aquarela e nanquim sobre papel | Watercolor and Indian ink on paper, 63,8 x 48,8cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 84 Sem título | Untitled, 1967 Aquarela e nanquim sobre papel | Watercolor and Indian ink on paper, 62,8 x 47,8cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa Sem título | Untitled, 1967 Guache e esmalte sobre papel | Gouache and enamel on paper, 48,6 x 39,6cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 85 86 87 Sem título | Untitled, 1967 Aquarela sobre papel | Watercolor on paper, 69 x 54cm Coleção | Collection Técio Lins e Silva 88 Sem título | Untitled, 1968 Intervenção (desenho) com nanquim sobre envelope impresso, postado e selado | Intervention (drawing) with Indian ink on printed, posted and sealed envelope, 33,6 x 32,1cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 89 Sem título | Untitled, 1969 Intervenção (desenho) com nanquim e aquarela sobre cartaz | Intervention (drawing) with Indian ink and watercolor on leaflet, 36,8 x 29cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 90 Sem título | Untitled, 1968 Intervenção (desenho) com nanquim e guache sobre cartão impresso | Intervention (drawing) with Indian ink and gouache on printed cardstock, 31,8 x 36,8cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 91 92 Sem título | Untitled, 1968 Colagem sobre papel | Collage on paper, 40,6 x 37,3cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa Sem título, s/d | Untitled, undated Nanquim e colagem sobre papel | Indian ink and collage on paper, 72,6 x 54,6cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 93 94 Sem título | Untitled, 1967 Pintura bilateral sobre placa de madeira | Doublesided painting on wood plate, 50 x 26,5cm Coleção | Collection Marcio Gobbi Fernandes [verso e frente | bAck AnD fronT ] 95 96 Antonio Manuel e / and Darcílio Lima Che Guevara Serigrafia de Antonio Manuel aquarelada por Darcílio Lima, s/d | Screenprint by Antonio Manuel and watercolor by Darcílio Lima, undated, 77 x 58,5cm Coleção | Collection Laura Olivieri Carneiro de Souza 97 98 Antonio Manuel e / and Darcílio Lima Che Guevara Serigrafia de Antonio Manuel aquarelada por Darcílio Lima, s/d | Screenprint by Antonio Manuel and watercolor by Darcílio Lima, undated, 77 x 58,5cm Coleção | Collection Marcia e / and Luiz Chrysostomo 99 Antonio Manuel e / and Darcílio Lima Che Guevara Serigrafia de Antonio Manuel aquarelada por Darcílio Lima, s/d | Screenprint by Antonio Manuel and watercolor by Darcílio Lima, undated, 77 x 58,5cm Coleção | Collection Marcia e / and Luiz Chrysostomo 100 Sem título, 16/05/1966 | Untitled, 05/16/1966 Xilogravura | Woodcut, 44,1 x 37,1cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 101 102 Sem título, s/d | Untitled, undated Litografia, P.A. | Lithograph, AP, 74 x 55cm Coleção | Collection Alex Gama 103 104 Página anterior | PREVIOUS PAGE Sem título | Untitled, 1969 Litografia | Lithograph, 05/50, 69 x 48,7cm Coleção | Collection Guilherme Gutman Sem título | Untitled, 1969 Litografia, P.A. | Lithograph, AP, 59 x 41,3cm Coleção | Collection Guilherme Gutman 105 106 Sem título | Untitled, 1972 Litografia | Lithograph, 07/25, 79,4 x 59,4cm Coleção | Collection Jorge Eduardo Lima Figueiredo Sem título | Untitled, 1972 Litografia | Lithograph, 07/25, 64,9 x 55,7cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 107 108 109 Sem título| Untitled, 1968 Litografia | Lithograph, 16/60, 88,3 x 69,5cm Coleção | Collection Guilherme Gutman Sem título | Untitled, 1970 Litografia, P.A. III | Lithograph, AP III, 82 x 62cm Coleção | Collection Guilherme Gutman 110 Sem título | Untitled, 1972 Litografia, P.A. I | Lithograph, AP I, 85,5 x 67,5cm Coleção | Collection Guilherme Gutman 111 112 Semtítulo | Untitled, 1971 Litografia, P.A. I | Lithograph, AP I, 86,5 x 66,3cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa Sem título | Untitled, 1969 Gravura | Engraving, 02/50, 61,4 x 40cm Coleção | Collection Guilherme Gutman 113 114 115 Sem título | Untitled, 1972 Litografia, P.A. | Lithograph, AP, 87 x 69cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa 116 117 118 PáginaS anterioreS | PREVIOUS PAGES Sem título | Untitled, 1971 Litografia, P.A. | Lithograph, AP, 76 x 59cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa Sem título | Untitled, 1972 Litografia | Lithograph, 13/40, 61,3 x 46cm Coleção | Collection Guilherme Gutman Sem título | Untitled, 1970 Águaforte, P.A. | Etching, AP, 70 x 49,8cm Coleção | Collection Guilherme Gutman 119 120 121 Sem título, s/d | Untitled, undated Águaforte e águatinta | Etching and aquatint, 80 x 53cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa Sem título | Untitled, 1988 Serigrafia, P.A. 3/3 | Screenprint, AP 3/3, 66 x 48,1cm Coleção | Collection Guilherme Gutman 122 123 124 125 PáginaS anterioreS | PREVIOUS PAGES [DetaLHes | DETA ILS ] Sem título, s/d | Untitled, undated Pintura sobre vaso de cerâmica | Painting on ceramic pot, 48 x 20 x 20cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa Bandeira oficial do município de Cascavel (CE) | Official flag of Cascavel, Ceará Poliamida resinado | Polyamide resin, 130 x 90cm O desenho foi feito por Darcílio Lima em 1983, a pedido do prefeito Jurandir Dantas de Sousa | This drawing was made by Darcílio Lima in 1983 upon request by Mr. Jurandir Dantas de Sousa, Mayor 126 127 darcílio (Paula) lima cronoLoGia Da viDa e Da obra Guilherme Gutman 1944 Nasce em Cascavel (CE). Último filho de uma prole de cinco. Ainda na infância, mudase para a capital, Fortaleza. Aos dez anos fez a sua primeira exposição, ainda no colégio. 1958 Vem para o Rio de Janeiro (RJ). Segundo um crítico da época, seus temas eram “jangadas e praias”. Aos 15 anos trabalhou com guache e aos 20, experimentado a tinta a óleo. 1966 Vive em condições adversas, até que é acolhido pela Dra. Nise da Silveira (19051999) na Casa das Palmeiras, lugar de promoção da saúde mental, nos moldes de uma psiquiatria libertária e sob forte influência das teorias de Carl G. Jung. Produz vários trabalhos que permanecem no acervo da instituição. Sobre o período anterior a 1966, diz ele: Não era aquilo que eu queria, aquelas paisagens passivas. Queria uma coisa além da realidade. Então comecei a pintar só pedras, foi a minha crise. Certos quadros eram apenas isso, uma imensa e hermética pedra que eu ia violentar em seguida. [Em seguida] foi a fase dos nus, todos adquiridos por Dona Nise da Silveira para a sua Clínica da Casa das Palmeiras. 1966, ano da aceitação integral da minha verdade. Grande interesse por leituras de ficção científica, Sartre e os evangelhos. 1967 Foi encaminhado pela Dra. Nise ao ateliê de Ivan Serpa (19231973), que já a conhecia a partir do trabalho que desenvolveu em conjunto com o crítico Mário Pedrosa (19001981), com Almir Mavignier (1925), então funcionário da secretaria do hospital psiquiátrico, e com Abraham Palatinik (1928) no Centro Psiquiátrico Pedro II (Engenho de Dentro, Rio de Janeiro), no final da década de 1940. Darcílio morou e trabalhou ao lado de Serpa por quase três anos. Estimulada por Serpa, a sua produção avançou muito, encontrando a trilha que, nos anos seguintes, resultou no que talvez seja o melhor de sua obra. Recebe a Grande Medalha de Ouro no III Salão de Arte Contemporânea de Campinas (SP). Segundo um crítico de arte, membro do júri, “Ninguém sabia quem era”. Sem título, s/d | Untitled, undated Litografia, P.A. | Lithograph, AP, 74 x 55cm Coleção | Collection Alex Gama [DetaLHe | DETA IL ] 128 1968 Inaugura, em janeiro, sua primeira exposição individual,na Galeria L’Atelier (Rio de Janeiro), com texto de apresentação de Mário Pedrosa. Nessa exposição, um jornalista da época afirma, “[Darcílio] foi convidado por um militar a retirar as estrelas de coronel que usava em sua indumentária no dia da inauguração”. Integra o VI Resumo de Arte do Jornal do Brasil, no MAMRJ e o XVII Salão Paulista de Arte Moderna. Obtém o certificado de isenção de júri no XVII Salão Nacional de Arte Moderna. Participa de várias coletivas: “Mostra de arte fantástica – necrológica”, no Floresta Country Club (Rio de Janeiro), no qual apresenta o objeto A virgem; “Carolina”, composta de “interpretações plásticas do personagem da música de Chico Buarque de Holanda”; e “As eróticas”, no Museu de Arte Moderna da Bahia. Na noite de vernissage de Ivan Serpa, uma jornalista do Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) escreve: Darcílio Lima, também pintor, apareceu com um trabalho intitulado A noiva. O trabalho: uma jovem, (aluna, aliás, de Serpa), vestida com longa veste branca, pintada com símbolos e caracteres eróticos que só são mesmo entendidos quando seu autor os explica, de viva voz. 1969 Integra o VII Resumo de Arte do Jornal do Brasil, categoria “desenho” no MAM–RJ. Capa do livro A Celestina, clássico espanhol de Fernando de Rojas, feita a partir de desenho original. Recebe isenção de júri no XVIII Salão Nacional de Arte Moderna, e o prêmio Assis Chateaubriand no Salão da Bússola. Participa da Sala Especial Sala de Arte Mágica, Fantástica e Surrealista, na X Bienal de São Paulo. Conhece e se aproxima do premiado desenhista e gravador Marcelo Grassmann (1925),um entusiasta de seu trabalho e o introduz na técnica da gravura. 1970 Participa da IV Coletiva da Galeria Ibeu– “O rosto e a obra”; da Jovem Arte Contemporânea, no Museu de Arte Contemporânea da USP e do XIX Salão Nacional de Arte Moderna. Interesse de europeus pelo seu trabalho: Mantém contato com Jacques Fouché, da ArteIdéia; ilustra um texto de Jean Jacques Pauvert para a revista francesa Bizarre. E acerta com Eric Losefeld o lançamento de um livro de desenhos para a sua editora, segundo um jornalista do Correio da Manhã (RJ). Darcílio Lima na Primeira Comunhão, s/d | Darcílio Lima receiving his First Communion, undated Darcílio Lima no seminário, s/d | Darcílio Lima in the seminary, undated Darcílio Lima no carnaval, s/d | Darcílio Lima during the carnival, undated Darcílio Lima servindo o Exército, s/d | Darcílio Lima serving the Army, undated 129 1971 Ganha o prêmio de Viagem ao Exterior no XX Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM–RJ. Integra o III Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM–SP. Aparece na revista londrina Art and Artists em imagens e em texto crítico de Beresford Evans. 1972 Comentário de um crítico: Aplicando o prêmio [de viagem ao exterior], realiza um périplo de viagens que o teria levado aos extremos de Nova York, Cairo, Medina, Turquia, Paris, Escócia e Weimar. Há também referências à “Escócia [onde teria vivido em um castelo], à Floresta Negra e à Áustria”. Durante sua estada de dois anos em Paris, assinou contrato com a editora de gravuras Vision Nouvelle, a mesma de Miró, Dali e Vasarély. Publica o texto “Vision contemporary” na revista inglesa The Image, acompanhado de imagens de seus trabalhos. Apresenta exposição na galeria Trois, Pleux, Deux, em Paris. 1974 Tem trabalhos incluídos na Mostra de Gravura Brasileira, Fundação Bienal de São Paulo. 1975 Retorna ao Brasil. Publicação do livro Darcílio Lima, diafragma, primeiro número da Coleção Arte Hoje: Almas e Climas (Rio de Janeiro: Etcetera Edições). Participa da XIII Bienal de São Paulo. Realiza exposição na Galeria Bonino;a última organizada pelo artista, quando saiu do cenário artístico e ninguém sabia notícias suas. 1976 Participa da Bienal Nacional com três desenhos, em bico de pena, da série Legião e outros dois da série Diafragma, um dos quais reproduzido no catálogo. 1982 Volta para Cascavel (CE). 1983 A pedido do prefeito, desenha a bandeira oficial de sua cidade natal. 130 1985 Um jornalista que o encontra em Cascavel relata: “Depareime com um mendigo de olhar perdido, cabelos ralos e mal cuidados. [...] Morava agora nos fundos de uma velha igreja Batista, ao lado de um cemitério”. Começa a ser articulado o seu retorno ao Rio de Janeiro. 1986 Possível ano de retorno ao Rio de Janeiro. 1988 Última exposição em vida, na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro. 1990 Foi morar em Búzios (RJ), onde voltou a produzir em óleo sobre tela. 1991 Morre em Cabo Frio (RJ), em 31/08, em consequência de uma queda sofrida em Búzios, seguida de traumatismo craniano. 2000 Tem obra exposta na “Mostra do Redescobrimento”, Fundação Bienal de São Paulo, São Paulo. 2001 Quinze desenhos sobre papel, produzidos em 1966, na Casa das Palmeiras, são apresentados em “Inconsciente e criação”, no Museu Nacional de BelasArtes, Rio de Janeiro. 2004 “Mar do inconsciente: a imagem como linguagem”, exposição de artistas da Casa das Palmeiras, no Espaço BNDES, Rio de Janeiro. 2005 Seus trabalhos são apresentados na exposição “Visual glossolalia”, na Louise Ross Gallery, em Nova York, junto de artistas como Minnie Evans e Carlo Zinelli. 2006 Mostra em homenagem aos 150 anos de nascimento de Sigmund Freud, Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza (CE). 2012 Outsider Art Fair, Nova York. 2013 Metro Show, Nova York. Célia Resende, Belisário Franca, Darcílio Lima e outros, na gravação do vídeo Fragmentos do fantástico, s/d | Célia Resende, Belisario Franca, Darcílio Lima and others in the shooting of the video Fragmentos do fantástico, undated 131 Darcílio Lima em requintado interior Europeu, s/d | Darcílio Lima in a refined European interior, undated Célia Resende, Stella Marinho, Cláudio Wanderley, Darcílio Lima e outros/and others 132 Casa de Cultura Laura Alvim, 1988 1. Orlando Bessa, Alfredo Souto de Almeida e/and Eloá Bessa 2. Roberto Magalhães, Darcílio Lima e/and João Paulo Lima 3. Alfredo Souto de Almeida, Vanda Pimentel e/and Darcílio Lima 4. João Paulo Lima, Darcílio Lima, Adriano de Aquino e/and Roberto Magalhães 5. Gerardo Mello Mourão, Darcílio Lima e outros/and others Darcílio Lima trabalhando, s/d | Darcílio Lima working, undated 133 Recorte de jornal no exterior, s/d | Foreign newspaper clipping, undated Jornal Letras&Artes, ano III, n. 4, agosto de 1989 | Newspaper Letras&Artes, Year III, no. 4, August 1989 Jornal do Brasil, 5 de maio de 1991 | May 5, 1991 Publicação do anúncio fúnebre de Darcílio Lima, s/d | Darcílio Lima’s obituary, undated 134 A reprodução faz parte da Revista Planeta, n. 4, Editora Três | The reproduction is part of magazine Planeta no. 4, by the Publishing House Three A reprodução faz parte da Revista Planeta, n. 39, Editora Três | The reproduction is part of magazine Planeta no. 39, by the Publishing House Three 135 Reprodução do cartaz de divulgação da exposição “Desenhos”, na Galeria Bonino | Reproduction of poster for the exhibition “Desenhos”, staged at Bonino Art Gallery 1975, 63,5 x 27,5cm Coleção | Collection Guilherme Gutman 136 Capa e encarte do compacto com a trilha sonora do filme Carnaval, o aval da carne, de Carlos Marques e Ralph Justino | Cover and insert of the original soundtrack album from the movie Carnaval, o aval da carne, directed by Carlos Marques and Ralph Justino, 1983 Reprodução do livro Diafragma, da editora Etcetera | Reproduction of the book entitled Diafragma released by the Publishing House Etcetera, 1975 40,64, x 24,13cm Coleção | Collection Guilherme Gutman 137 138 engliSH verSion 139 MeMories and recaptures... Afonso Henrique costa conceiving the retrospective of the Darcílio Lima’s lifework and working in its coordination have shown to be a link to my own past. i have always been interested in art. since i can remember, as a youngster visiting friends and colleagues, firstly i greeted the people i met in their places, but soon after i headed for the paintings on the walls to examine them. the curiosity about the arts has always been inherent to my range of view, something inborn that i seem unable to justify. i was born with it. around 1966/67, i decided to take the classes provided by the Department of courses of mam-rJ (museum of modern art of rio de Janeiro). many celebrated masters taught there, such as aluísio carvão, Domenico Lazzarini and, mainly, ivan serpa, of whom i became a student. unarguably, the most important lesson that ivan serpa left to me was how to look at the arts. He has refined my ability to see, freeing it, making it savvier, clearer and more objective. in fact, serpa always let his students free to do whatever they will, truly encouraging them. He only advised them to work, and to do it increasingly more. He really demanded it. caiXa is one of the main supporters of the brazilian culture and annually disburses more than brL 60 million from its budget to sponsor cultural projects in its own centers and that of third party, centered upon movie screenings, art exhibits, theater plays, dance shows, musical presentations, and dance and theater festivals throughout the brazilian territory, not to mention the brazilian handicraft. Projects are chosen by means of call for tenders, an opportunity for caiXa to democratize the access to producers and artists of all federative units, as well as to ensure the transparency to all society sectors concerning the sums disbursed by the institution. the exhibition “Darcílio Lima – a fantastic universe,” conceived and coordinated by afonso costa and curated by the psychoanalyst Guilherme Gutman, is an effort to rescue, appreciate and give publicity to the work of visual artist Darcílio Lima, one of the most important representatives of surrealism in brazil. by staging this new exhibit to the audience of rio de Janeiro, caiXa underlines its cultural policy to foster the debate and dissemination of ideas, furthering the diversity of thought, and keeping alive its core motif, which is to widen the access to artistic production. Caixa Econômica Federal Sem título | Untitled, 1968 Nanquim sobre papel | Indian ink on paper, 68 x 51cm Coleção | Collection Família Ivan Serpa [DetaLHe | DETA IL ] 140 i also recall the special care of serpa for Darcílio. He has even generously hosted Darcílio at his place, after the latter’s sojourn at casa das Palmeiras, where nise da silveira developed a remarkable work. ivan serpa adored Darcílio; undoubtedly one of his favorite students, who he encouraged and supported the most. undeniably he was a patron of the arts for him, with all possible commitment and dedication. He used to state that Darcílio needed no classes, he only had to work hard, and, in view of this, the artist grew more and more obsessed with the development of his notable work. i used to meet Darcílio fairly frequently and my memories of him are clear. always holding a folder from the stationer’s Papelaria União packed with pieces, some of them still underway, and on which he used to work anywhere, when the time and occasion thus allowed. His drawings were obsessive in nature, with thousands of points and strokes, demanding much time to be completed.
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