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6o ANO 1o TERMO C M Y CM MY CY CMY K EJA_LCT_6ANO 1TERMO_CE.pdf 2 25/03/13 09:52 Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho: Arte, Inglês e Língua Portuguesa: 6o ano/1o termo do Ensino Fundamental. São Paulo: Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (SDECT), 2011. il. (EJA – Mundo do Trabalho) Conteúdo: Caderno do Estudante. ISBN: 978-85-65278-00-3 (Impresso) 978-85-65278-08-9 (Digital) 1. Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Ensino Fundamental 2. Artes – Estudo e ensino 3. Língua Inglesa – Estudo e ensino 4. Língua Portuguesa – Estudo e ensino I. Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia II. Título III. Série. CDD: 372 FICHA CATALOGRÁFICA Sandra Aparecida Miquelin – CRB-8 / 6090 Tatiane Silva Massucato Arias – CRB-8 / 7262 A Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação autoriza a reprodução do conteúdo do material de sua titularidade pelas demais secretarias do país, desde que mantida a integridade da obra e dos créditos, ressaltando que direitos autorais protegidos* deverão ser diretamente negociados com seus próprios titulares, sob pena de infração aos artigos da Lei no 9.610/98. *Constituem “direitos autorais protegidos” todas e quaisquer obras de terceiros reproduzidas neste material que não estejam em domínio público nos termos do artigo 41 da Lei de Direitos Autorais. Nos Cadernos do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho são indicados sites para o aprofundamento de conhecimentos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados e como referências bibliográficas. Todos esses endereços eletrônicos foram verificados. No entanto, como a internet é um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação não garante que os sites indicados permaneçam acessíveis ou inalterados, após a data de consulta impressa neste material. Geraldo Alckmin Governador Nelson Luiz Baeta Neves Filho Secretário em exercício Maria Cristina Lopes Victorino Chefe de Gabinete Ernesto Masselani Neto Coordenador de Ensino Técnico, Tecnológico e Profissionalizante SECRETARIA DA EDUCAÇÃO Herman Voorwald Secretário Cleide Bauab Eid Bochixio Secretária Adjunta Fernando Padula Novaes Chefe de Gabinete Maria Elizabete da Costa Coordenadora de Gestão da Educação Básica SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Fundação do Desenvolvimento Administrativo – Fundap Geraldo Biasoto Jr. Diretor Executivo Lais Cristina da Costa Manso Nabuco de Araújo Superintendente de Relações Institucionais e Projetos Especiais Coordenação Executiva do Projeto José Lucas Cordeiro Coordenação Técnica Impressos: Selma Venco Vídeos: Fernando Moraes Fonseca Jr. Equipe Técnica e Pedagógica Ana Paula Lavos, Dilma Fabri Marão Pichoneri, Lais Schalch, Liliana Rolfsen Petrilli Segnini, Maria Helena de Castro Lima, Silvia Andrade da Silva Telles e Walkiria Rigolon Autores Arte: Eloise Guazzelli. Ciências: Gustavo Isaac Killner. Geografia: Clodoaldo Gomes Alencar Jr., Edinilson Quintiliano dos Santos e Mait Bertollo. História: Fábio Barbosa. Inglês: Eduardo Portela. Língua Portuguesa: Walkiria Rigolon. Matemática: Antonio José Lopes. Trabalho: Maria Helena de Castro Lima e Selma Venco Fundação Carlos Alberto Vanzolini Antonio Rafael Namur Muscat Presidente da Diretoria Executiva José Joaquim do Amaral Ferreira Vice-presidente da Diretoria Executiva Gestão de Tecnologias em Educação Direção da Área Guilherme Ary Plonski Coordenação Executiva do Projeto Angela Sprenger e Beatriz Scavazza Gestão Editorial Denise Blanes Gestão de Comunicação Ane do Valle Gestão do Portal Luiz Carlos Gonçalves, Sonia Akimoto e Wilder Rogério de Oliveira Equipe de Produção Assessoria pedagógica: Ghisleine Trigo Silveira Editorial: Airton Dantas de Araújo, Célia Maria Cassis, Daniele Brait, Fernanda Bottallo, Mainã Greeb Vicente, Patrícia Maciel Bomfim, Paulo Mendes e Sandra Maria da Silva Direitos autorais e iconografia: Aparecido Francisco, Beatriz Blay, Priscila Garofalo, Rita De Luca e Roberto Polacov Projeto gráfico-editorial: D’Livros Editora e Distribuidora Ltda e Michelangelo Russo (Capa) CTP, Impressão e Acabamento Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação Coordenação Geral do Projeto Juan Carlos Dans Sanchez Equipe Técnica Cibele Rodrigues Silva e João Mota Jr. Concepção do programa e elaboração de conteúdos Gestão do processo de produção editorial Caro(a) estudante, É com grande satisfação que a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, em parceria com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, apresenta os Cadernos do Estudante do Programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho, em atendimento a uma justa reivindicação dos educadores e da sociedade. A proposta é oferecer um material pedagógico de fácil compreensão, para complementar suas atuais necessidades de conhecimento. Sabemos quanto é difícil para quem trabalha ou procura um emprego se dedi- car aos estudos, principalmente quando se retorna à escola após algum tempo. O Programa nasceu da constatação de que os estudantes jovens e adultos têm experiências pessoais que devem ser consideradas no processo de aprendi- zagem em sala de aula. Trata-se de um conjunto de experiências, conhecimen- tos e convicções que se formou ao longo da vida. Dessa forma, procuramos respeitar a trajetória daqueles que apostaram na educação como o caminho para a conquista de um futuro melhor. Nos Cadernos e vídeos que fazem parte do seu material de estudo, você perceberá a nossa preocupação em estabelecer um diálogo com o universo do trabalho. Além disso, foi acrescentada ao currículo a disciplina Trabalho para tratar de questões relacionadas a esse tema. Nessa disciplina, você terá acesso a conteúdos que poderão auxiliá-lo na procura do primeiro ou de um novo emprego. Vai aprender a elaborar o seu currículo observando as diversas formas de seleção utilizadas pelas empresas. Compreenderá também os aspectos mais gerais do mundo do trabalho, como as causas do desemprego, os direitos trabalhistas e os dados relativos ao mercado de trabalho na região em que vive. Além disso, você conhecerá algumas estra- tégias que poderão ajudá-lo a abrir um negócio próprio, entre outros assuntos. Esperamos que neste Programa você conclua o Ensino Fundamental e, pos- teriormente, continue estudando e buscando conhecimentos importantes para seu desenvolvimento e para sua participação na sociedade. Afinal, o conheci- mento é o bem mais valioso que adquirimos na vida e o único que se acumula por toda a nossa existência. Bons estudos! Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação Secretaria da Educação Sumário Arte .........................................................................................................................................7 Unidade 1 Leitura de mundo pela arte 9 Unidade 2 Arte, expressão do cotidiano 29 Unidade 3 Arte e meio ambiente 49 Unidade 4 Arte e lixo 61 Inglês ................................................................................................................................ 83 Unit 1 I know this word 85 Eu conheço essa palavra Unit 2 First day at work 95 Primeiro dia no trabalho Unit 3 Work and school 109 Trabalho e escola Unit 4 Housing and housework 123 Moradia e trabalho doméstico Língua Portuguesa ........................................................................................135 Unidade 1 Usos da linguagem 137 Unidade 2 Gêneros cotidianos 153 Unidade 3 Jornal: a leitura nossa de cada dia 173 Unidade 4 Jornal: virando as páginas 201 Unidade 5 Jornal: para além da notícia 217 http://pt.wikipedia.org/wiki/Acre http://pt.wikipedia.org/wiki/Alagoashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Amap%C3%A1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Amazonas http://pt.wikipedia.org/wiki/Bahia http://pt.wikipedia.org/wiki/Cear%C3%A1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Distrito_Federal_(Brasil) http://pt.wikipedia.org/wiki/Esp%C3%ADrito_Santo_(estado) Caro(a) estudante, Neste momento, você vai iniciar seus estudos de Arte no contexto do Pro- grama EJA – Mundo do Trabalho. Convidamos você para novos encontros com a arte, ampliando seu olhar para os detalhes que o cercam. Na Unidade 1, você vai refletir sobre a importância da arte em nossas vidas e na vida de pessoas que viveram há muitos e muitos séculos. Verá também como as linguagens da arte propõem diversas leituras do mundo que nos rodeia. Na Unidade 2, poderá perceber que a arte está no cotidiano de todos, como meio de comunicação e expressão de ideias, sentimentos e pontos de vista. Na Unidade 3, entrará em contato com expressões artísticas que abordam a temática da natureza e poderá discutir sobre o lugar em que vivemos, como nos relacionamos e cuidamos dele, percebendo-se também como uma pessoa transformadora desse ambiente. Por fim, na Unidade 4, vai aprofundar seus estudos sobre a relação entre arte e natureza, explorando principalmente a questão do lixo, e como podemos transformá-lo em arte. Bons estudos! Arte 6o ANO 1o TERMO 1 Leitura de mundo peLa arte Você vai iniciar, nesta Unidade, um debate a respeito da impor- tância da arte na vida das pessoas, e de como ela revela os diferentes olhares dos artistas sobre o mundo em que vivem. Poderá exercitar o seu olhar em relação a tudo aquilo que está ao seu redor, utilizando a arte para expressá-lo. Para iniciar... Vivemos num mundo carregado de imagens, sons, cores, formas. Esses elementos trazem informações sobre nossa cultura, nossa histó- ria e como nosso cotidiano é construído. Como ler o mundo explorando suas experiências e sua realidade? Como utilizar os vários materiais e procedimentos artísticos sem dei- xar de perceber suas propriedades e características? • Você já parou para pensar por que se faz arte? • Quem faz arte? • Onde se faz arte? • A arte está presente apenas nos museus? • O que a arte provoca em você, por exemplo, quando escuta uma música, vê uma escultura na praça, assiste a um espetáculo de teatro ou dança? O artista revela em suas obras o seu modo de ler o mundo? Os primeiros registros por meio de desenhos e pinturas A arte acompanha o ser humano ao longo de toda a História. Na Pré-história, há cerca de 40 mil anos, nossos antepassados mora- vam em cavernas e registravam cenas do cotidiano nas paredes, o que é conhecido como arte rupestre. Você pode imaginar como eram produzidas as tintas para a pin- tura rupestre? Você sabia que a palavra “rupestre” significa rocha? Por isso, essa arte recebeu tal denominação. 9 Fonte: Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham). Para fazer essas pinturas, eram utilizadas tintas feitas à base de ossos queimados, cal, terra, sangue de animais e minérios em pó mis- turados com água ou gordura animal para pintar nas paredes. Expressavam-se também por meio de esculturas em madeira, osso e pedra. Muitos exemplos dessa arte foram encontrados em várias loca- lidades mundo afora: França, Espanha, África do Sul, Austrália e, também, no Brasil, como nos Estados do Piauí e de Santa Catarina. Os desenhos e as pinturas retratavam pessoas em suas ativida- des cotidianas: os animais que caçavam (veados, cavalos, bisões e até mesmo mamutes), as armas e demais utensílios que usavam. Esses desenhos e pinturas representavam o trabalho, tal como vivenciado naquele período, e tinham caráter místico: era comum, por exemplo, retratar um animal ferido com a crença de que a próxima caçada seria bem-sucedida. © P or ta l d e M ap as PIAUÍ Teresina Sítios arqueológicos localizados no parque Parque Nacional da Serra da Capivara Parque Nacional Serra da Capivara com indicação de sítios arqueológicos, incluindo aqueles em que foram encontradas pinturas rupestres, 2009. 10 Arte – Unidade 1 Observe, nas figuras a seguir, como os animais, as pessoas e o trabalho realizado eram registrados no período. Pintura rupestre. Veado com filhote. Toca do Boqueirão da Pedra Furada, Parque Nacional Serra da Capivara, São Raimundo Nonato (PI). Pintura rupestre. Primeiros vestígios de vida humana na Índia. Grutas de Bhimbetka, Madhya Pradesh, Índia. © P al ê Zu pp an i/P ul sa r I m ag en s © F ré dé ric S ol ta n/ Co rb is- La tin st oc k Arte – Unidade 1 11 Pintura rupestre. Wadi Anshal, nos montes Tadrart Acacus, Deserto de Acacus (parte do Saara), Líbia. Pintura rupestre. Tema de festa. Toca do Baixão do Perna Quatro, Parque Nacional Serra da Capivara, São Raimundo Nonato (PI). Músicas e danças também fazem parte da arte rupestre, com cenas que traduzem movimentos, ritmos e presença de adereços. © Jo sé F us te R ag a/ Ke ys to ne © P al ê Zu pp an i/P ul sa r I m ag en s 12 Arte – Unidade 1 Atividade 1 Com as mãos na Pré-história 1. Observe as imagens de arte rupestre apresentadas anteriormente. Preste atenção nos detalhes das pinturas, especialmente no forma- to das imagens e nas cores empregadas. O que você acha dessas imagens? 2. Faça uma pesquisa na internet sobre como era a vida na época dos registros rupestres: Como os seres humanos viviam? Qual era a base de sua alimentação? Como se relacionavam entre si? Havia governo naquele tempo? 3. Crie uma pintura inspirada na arte rupes- tre, mas abordando aspectos de seu coti- diano. Pinte com tinta natural à base de terra (ver receita no boxe ao lado) usando pincéis ou outra ferramenta. Você pode trocar tintas com seus colegas, pois cada tipo de terra recolhida resultará em cores diferentes: uma será mais amarelada, ou- tra, esverdeada, amarronzada, ou ainda outras mais. 4. Organize com sua turma uma exposição para apresentar as “pinturas rupestres” e o resultado da pesquisa sobre a vida nesse período. Você sabia que, tradicionalmente, os historiadores chamam de Pré-história todo o período que antecede a escrita? Foram os historiadores do século XIX que elaboraram a noção de que a humanidade anterior à escrita corresponderia à Pré- -história. Na atualidade, os historiadores consideram que (desde sempre) a vida do homem já é história, e as pesquisas sobre como era a vida são feitas pelo estudo de pinturas e esculturas rupestres. Tinta natural à base de terra Ingredientes e materiais • Um pouco de terra sem matéria orgânica (isto é, sem galhos e folhas em decomposição). • Água. • Cola branca líquida. • Peneira. • Recipiente para fazer a tinta. Modo de preparo • Coloque a terra em um recipiente e deixe ao sol até que ela esteja bem seca. Depois amasse-a e peneire-a, para ficar bem fina. • No recipiente em que será feita a tinta, misture dois dedos de água com a mesma quantidade de cola líquida. • Acrescente a terra aos poucos, misturando sempre até ficar pastosa. Caso precise de uma tinta mais líquida, acrescente mais água. Está pronta sua tinta preparada com o uso de materiais naturais. Arte – Unidade 1 13 A importância da observação A observação é muito importante para nossa aprendizagem nos pro- cessos de criação e pode trazer desdobramentos para várias situações no nosso cotidiano. O detalhe da flor aplicada na camiseta, a cor da parede na casa do vizinho, ver um profissional de determinada área tra- balhando, assim como um artista, uma propaganda na revista, no rádio ou na TV, por exemplo, são observações que nos trazem ideias e estas podem dar margem à leitura e produção de nossos trabalhos artísticos. Atividade 2 Observando o entorno 1. Leia um trecho do poema Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto. Atente para a forma como o personagem observa a paisagem: – Antes de sair de casa aprendi a ladainha das vilas que vou passar na minha longa descida. Seique há muitas vilas grandes, cidades que elas são ditas; sei que há simples arruados, sei que há vilas pequeninas, todas formando um rosário cujas contas fossem vilas, todas formando um rosário de que a estrada fosse a linha. Devo rezar tal rosário até o mar onde termina, saltando de conta em conta, passando de vila em vila. Vejo agora: não é fácil seguir essa ladainha; entre uma conta e outra conta, entre uma e outra ave-maria, há certas paragens brancas, de planta e bicho vazias, vazias até de donos, e onde o pé se descaminha. Não desejo emaranhar o fio de minha linha nem que se enrede no pelo hirsuto desta caatinga. Pensei que seguindo o rio eu jamais me perderia: ele é o caminho mais certo, de todos o melhor guia. Mas como segui-lo agora que interrompeu a descida? Vejo que o Capibaribe, como os rios lá de cima, é tão pobre que nem sempre pode cumprir sua sina e no verão também corta, com pernas que não caminham. Tenho de saber agora qual a verdadeira via entre essas que escancaradas frente a mim se multiplicam. Mas não vejo almas aqui, nem almas mortas nem vivas; ouço somente à distância o que parece cantoria. Será novena de santo, será algum mês de Maria; quem sabe até se uma festa ou uma dança não seria? [...] MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2007. Morte e vida severina João Cabral de Melo Neto [...] O reTirANTe TeM MeDO De Se exTrAViAr POrque Seu guiA, O riO CAPibAribe, COrTOu COM O VerãO 14 Arte – Unidade 1 • Por que você acha que ele direciona sua observação para esses aspectos? Observar é olhar com muita atenção, é perceber detalhes não per- cebidos ou aparentemente sem importância. Foi assim que o poeta também percebeu a vida e, sobre ela, fez o poema, uma das lin- guagens da arte. João Cabral de Melo Neto, poeta e diplomata brasileiro, nasceu em 9 de janeiro de 1920, no Recife, em Pernambuco. Passou a infância nos engenhos de cana-de-açúcar da família e estudou em sua cidade natal, num colégio dos Irmãos Maristas. Em 1942, ainda no Recife, publicou seu primeiro livro de poemas, Pedra do sono. Em fins de 1942, fixou residência no Rio de Janeiro. Em 1943, publicou O engenheiro e, dois anos depois, prestou concurso para a carreira diplomática. Funcionário do Itamaraty, viajou por diversos países, servindo na Espanha, Inglaterra, França e Senegal, mas a atividade literária acompanhou-o por todos esses anos, o que lhe valeu inúmeros prêmios, entre os quais: Prêmio José de Anchieta, de poesia, do IV Centenário de São Paulo, em 1954, e Prêmio da União Brasileira de Escritores, pelo livro Crime na Calle Relator, em 1988. Foi casado com Stella Maria Barbosa de Oliveira, com quem teve os filhos Rodrigo, Inez, Luiz, Isabel e João. Casou-se pela segunda vez, em 1986, com a poeta Marly de Oliveira. Na poética de João Cabral de Melo Neto, podemos perceber três grandes preocupações: • O Nordeste e a sua gente: os retirantes, as suas tradições, os engenhos e, também, de modo muito particular, a sua cidade, o Recife. • A Espanha e as suas paisagens. • A arte e as suas diferentes manifestações: a pintura de Joan Miró, de Pablo Picasso e do pernambucano Vicente do Rego Monteiro. Em 1969, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Morreu em 9 de outubro de 1999, no Rio de Janeiro. Das obras poéticas de João Cabral podemos citar: Morte e vida severina e outros poemas em voz alta e A educação pela pedra, ambas de 1966; Museu de tudo, 1975; Auto do frade, 1984; Agrestes, 1985; Sevilla andando, 1989. Severino, um retirante nordestino, é o personagem que “fala” nesse trecho do poema. • O que Severino observa? © H om er o Sé rg io /F ol ha pr es s Arte – Unidade 1 15 2. Como você observa o mundo à sua volta? Como fazer dessa obser- vação uma produção artística que mostre o seu olhar singular? Em primeiro lugar, saia da sala de aula e observe a rua em que a escola se localiza. a) Note bem as construções; repare se há árvores, jardins, pra- ças; veja os postes de iluminação e observe as pessoas que estão passando pela rua. Registre suas observações. 16 Arte – Unidade 1 Máquina de olhar Para construir sua “máquina de olhar”, você vai precisar de uma folha de papel sulfite ou similar, do tamanho de uma folha de caderno universitário. Como fazer • Dobre a folha ao meio. • Recorte e retire um pequeno retângulo no meio da dobra central. • Abra e está pronta a sua “máquina de olhar”. Como utilizar Segure a folha com as mãos e coloque o olho na direção do recorte do papel. Este será seu campo de visão. Repare que, ao mover o braço para a frente ou para trás, provocará um zoom, afastando e aproximando a imagem observada, variando o foco do bem próximo ao mais distante. Mais ainda, personalize sua “máquina” com cores e desenhos e guarde-a bem, pois ela será utilizada em outras ocasiões. b) Construa uma “máquina de olhar” (ver instruções no boxe a seguir). Com ela, volte a observar as mesmas coisas na rua. Você mudaria seu registro sobre o que viu sem a “máquina de olhar”? O quê? Por quê? © L ui s D áv ila Arte – Unidade 1 17 c) Selecione a imagem que mais chamou a sua atenção no mo- mento da observação. Descreva com o maior número de detalhes possível a cena que você escolheu. Se for uma casa, por exemplo, detalhe a cor da fachada, das janelas, os materiais utilizados, a al- tura, a largura etc. d) Observando bem a descrição da imagem, crie uma produção artística sobre seu entorno. Pode ser um desenho, uma pintu- ra ou escultura, um poema, um conto, a representação de uma cena vista, uma composição com os sons ouvidos, como uma paisagem sonora, ou até uma pequena coreografia com passos e movimentos, como em uma dança. 18 Arte – Unidade 1 Momento cidadania Um dos elementos preferidos por Candido Portinari era o povo brasileiro. Na obra Retirantes, de 1944, o artista retrata uma família de migrantes nordestinos fugindo da seca em direção ao Sudeste. À época, grandes secas no Nordeste do País levavam milhares de famílias a esse destino. Candido Portinari. Retirantes, 1944. Óleo sobre tela, 190 cm x 180 cm. Coleção Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo (SP). Im ag em d o ac er vo d o Pr oj et o Po rt in ar i/ Re pr od uç ão au to riz ad a po r J oã o Ca nd id o Po rt in ar i Arte – Unidade 1 19 O que Portinari nos leva a pensar por meio de sua obra? O que nos mostra por meio da paisagem? E sobre a família retratada? Para dar maior expressividade, o artista vale-se de deformações em vez de realismo? Qual o efeito que esse recurso causa? Desde a década de 1930 as grandes cidades do Sudeste no Brasil cresceram com o trabalho, a participação e as referências culturais dos cidadãos nordestinos. Atualmente, embora haja o reconhecimento em relação ao trabalho e à cultura nor- destina, ainda assistimos a atos de discriminação e preconceito em relação a modos de falar e à origem das pessoas. Para conscientizar a população sobre a igualdade de direitos de todos os brasileiros, foi criado o Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Nor- destina. Para saber mais entre no site: <http://www.comunidadenordestina.sp.gov.br/ portal.php/hist>. Acesso em: 19 dez. 2011. Paisagens e histórias Você estudou na aula de Geografia o que é paisagem. Faça a análise pela ótica da arte. Você parou para pensar que as paisagens contam histórias de pessoas, de lugares e dos tempos? Podemos dizer que a paisagem é a combinação de elementos natu- rais e de objetos técnicos; tudo o que vemos. A paisagem mostra a história das pessoas que ali vivem, os recursos naturais de que dis- põem e a forma como os empregam. A paisagem é um gênero de pintura que sempre foi muito utili- zado pelos artistas em todos os tempos e culturas. Atividade 3 Olhares artís ti cos sobre a paisagem Observe as duas paisagens apresentadas nas próximas páginas. Os artistas Sinval Medeiros e Militão dosSantos mostram com estas obras as suas leituras do mundo. Revelam um modo singular de olhar a paisagem. • O que estas obras despertam em você? Geografia 6o ano/1o termo Unidade 1 Fica a dica A paisagem tem sido transformada pelo ser humano ao longo do tempo, seguindo interesses sociais e econômicos, como a derrubada de matas para a abertura de espaço para plantações e, também, para o crescimento das cidades. O documentário Planeta Terra – A terra como você nunca viu (BBC, 2006/2007) traz uma visão geral do planeta em que vivemos e no qual tanto interferimos. Por meio de sequências e lapsos no tempo, obser- vamos a evolução do meio ambiente durante milhares de anos. 20 Arte – Unidade 1 Antonio Militão dos Santos nasceu em 15 de junho de 1956, em Caruaru, Pernambuco. Aos 7 anos de idade contraiu meningite e perdeu 100% da audição. Em 1970, mudou-se para o Rio de Janeiro e se matriculou no Instituto Nacional de Educação de Surdos, onde aprendeu a linguagem labial e a de sinais e desenvolveu sua inclinação para a pintura em aulas com o artista plástico Rubens Fortes Bustamante Sá. Em 1982, esteve no Uruguai, na Argentina e no Paraguai e retornou ao Brasil em 1986. Participou de diversas exposições coletivas, nas quais teve destaque e também conquistas: Menção Honrosa no I Salão Baronense de Artes (São Paulo, SP, 1979); Prêmio Categoria Ouro no II Salão de Artes Plásticas (São João do Meriti, RJ, 1981); Medalha de Bronze no I Festival de Arte Naïf Brasileira (Campinas, SP, 1987); Medalha de Bronze no II Festival de Arte Naïf Brasileira (Campinas, SP, 1989). Em 1990, voltou para o Recife, onde reside. Depois disso, tem realizado várias exposições individuais pelo Brasil. Seus trabalhos fazem parte também do círculo de comercialização de importantes galerias no exterior, como Gottfried Murbach (Zurique, Suíça). Sinval Medeiros nasceu em 5 de dezembro de 1962 na cidade de Currais Novos, Rio Grande do Norte. Estudou até o 2o ano do Ensino Fundamental e não teve contato com escola de artes. Migrou para São Paulo, em 1990, para trabalhar e melhorar de vida. Durante algum tempo, teve problemas com alcoolismo e tornou-se morador de rua, e, para sobreviver, fazia pequenos trabalhos, ocasião em que também foi camelô. Em outubro de 2006, enquanto dormia na rua, na Avenida São João com a Rua Líbero Badaró, foi acordado por uma voz, que dizia: “Você não pode dormir aqui. Saia já daí!”. Porém, quando acordou, não viu ninguém e, assustado, correu pelo meio do Vale do Anhangabaú. Ao virar-se, viu uma bela imagem composta pelo Edifício Altino Arantes e o local onde dormia. Parou e falou consigo mesmo: “Vou pintar isso aqui”. A partir daí, parou de beber e não deixou mais de pintar. O seu estilo primitivo, naïf, não tem como se comparar a nenhum dos pintores do gênero, pois ele não tem ninguém como referência artística e não sabe o nome de nenhum pintor. • Qual época e lugar estas obras retratam? • Estes seriam lugares nos quais você moraria? Por quê? © L ui s D áv ila © M ili tã o do s S an to s Arte – Unidade 1 21 Sinval Medeiros. Sem título, 2010. Óleo sobre tela, 59 cm x 89 cm. Coleção particular. © L ui s D áv ila 22 Arte – Unidade 1 Militão dos Santos. Rio São Francisco, 2008. Óleo e acrílico sobre tela, 50 cm x 50 cm. Coleção particular. © M ili tã o do s S an to s Arte – Unidade 1 23 Texturas na arte Uma maneira interessante de olhar ao seu redor é tocar nas coisas com as mãos para perceber as texturas. Nas artes visuais, um modo de trabalhar com texturas é a “frota- gem”. Você já ouviu falar nessa técnica? Max Ernst. A floresta petrificada, 1929. Carvão sobre papel, 783 cm x 600 cm. Museu Nacional de Arte Moderna, Centro Pompidou, Paris, França. Esse mesmo procedimento plástico foi usado pelo artista Max Ernst na sua obra A floresta petrificada, de 1929, e em muitas outras pinturas. © A ut vi s 2 01 1 © T he B rid ge m an A rt L ib ra ry /K ey st on e Frotter é uma palavra em francês que significa “esfregar”, “roçar”, “friccionar”. Para utilizar a técnica da frotagem, coloca-se uma folha de papel sobre uma superfície texturizada e esfrega-se a folha de papel com um lápis, giz, grafite, carvão ou outro material, para “transferir” a textura para o papel, com resultados inusitados. 24 Arte – Unidade 1 Atividade 4 Descobrindo texturas Agora, você vai frotar as mais diferentes texturas, como árvores, calçadas, muros, objetos, e o que mais quiser experimentar. Com folhas de papel sulfite e gizes de cera, explore as texturas das mais diversas superfícies ao seu redor. Depois, crie uma paisagem, reco- lhendo as texturas frotadas que você considerou mais interessantes. Você pode dar um efeito especial na sua composição, passando tinta aquarela bem aguada por cima de tudo. Dê um título para sua produção. Atividade 5 Olhar além dos olhos Experimente fazer o exercício de olhar, utilizando o tato, o olfato e a audição. • Coloque-se em um lugar da escola: pátio, sala de aula, refeitório etc. • Escute os sons, sinta os cheiros e perceba a temperatura. • Registre suas impressões em desenhos, pinturas, sonoridades, ce- nas ou coreografias. O importante é perceber que a linguagem da arte registra outras leituras do mundo, impressões pessoais que, assim, podem ser expressas e comunicadas. Arte – Unidade 1 25 Atividade 6 Leitura do mundo pelas artes Observe, na próxima página, a imagem de uma obra do artista Henri Matisse. Esse pintor francês disse certa vez: Quando eu pinto verde não significa grama e quando pinto azul ele não significa céu. “Conversation with Courthion”, 1941. © Succession H. Matisse Assim ele resumiu a utilização das cores em suas obras, liberando-as da função meramente descritiva – ou seja, que reproduz a imagem tal qual ela é – e dando-lhes uma função expressiva, isto é, o significado que têm para o artista. Matisse optou por negar as ideias tradicionais, como a de que o mar e o céu são sempre azuis, a vegetação é verde e o fogo é verme- lho. Como artista, ele escolheu as cores à sua maneira, e nos mostra seu modo pessoal de ler o mundo. Compare a paisagem pintada por Matisse com a arte rupestre, as obras de Sinval Medeiros, Militão dos Santos, Candido Portinari e Max Ernst, o poema de João Cabral de Melo Neto e as produções criadas por você e seus colegas. Como você responderia novamente à pergunta discutida no início desta Unidade: O artista revela em suas obras o seu modo de ler o mundo? Você também pode ter descoberto que os artistas utilizam diver- sas linguagens artísticas para expressar suas leituras: a literatura, as artes visuais, a música, a dança, o teatro e tantas outras manifestações artísticas. E a leitura de mundo é realizada ainda em outras disciplinas, como Geografia, História, Ciências, Filosofia, Matemática, que olham o mundo de outros pontos de vista. Henri Matisse nasceu em 31 de dezembro de 1869, em Le Cateau-Cambrésis, Norte da França. Estudou Direito em Paris e trabalhou como assistente jurídico. Aos 21 anos ficou seriamente doente e, durante sua recuperação, começou a pintar. Frequentou aulas de arte na Escola de Belas-Artes, em Paris, e estudou diferentes estilos. Foi influenciado pelo impressionismo e pelo pós-impressionismo, de pintores como Camille Pissarro, Paul Cézanne, Van Gogh, Paul Gauguin e Paul Signac e pelas pinturas de J. M. W. Turner. Em uma exposição no Salão de Outono, em 1905, Matisse e seu grupo foram ironicamente apelidados de “Les Fauves”, que significa “as feras”, em razão das cores fortes e ousadas que eles usavam em suas pinturas. Assim, Matisse finalmente encontrou seu próprio estilo artístico, caracterizado pela ousadia, por cores brilhantes e executado em pinceladas largas. Em 1941, por causa de uma cirurgia abdominal que dificultava seu trabalho de ficar de pé em frente a um cavalete, o artista buscou outra forma de expressão artística. Criou composiçõescom recortes de papel nas mesmas cores vivas, fortes e conhecidas de suas pinturas. Como tinha um assistente, podia trabalhar deitado na cama ou sentado em uma poltrona. Foi também escultor e ilustrador. Henri Matisse morreu em 3 de novembro de 1954, em Nice, na França. © S uc es sio n M at iss e, A ut vi s 2 01 1 © P ho to R es ea rc he rs /L at in st oc k 26 Arte – Unidade 1 Henri Matisse. Jardins de Luxemburgo, c. 1901. Óleo sobre tela, 59,5 cm x 81,5 cm. Museu Estatal Hermitage, São Petersburgo, Rússia. © B rid ge m an A rt -K ey st on e © S uc ce ss io n H . M at iss e, A ut vi s 2 01 2 Arte – Unidade 1 27 Você estudou Nesta Unidade, você pôde discutir que a arte já estava pre- sente desde o tempo do homem das cavernas. Além de manifes- tação artística, a arte também pode ser vista como documento e testemunho, pois registra o cotidiano da humanidade. Pode-se conhecer, por meio das obras de arte e da vida dos artistas, como o outro olha o mundo e como se expressa, assim como você mes- mo e seus colegas. Também é possível interagir com alguns materiais e proce- dimentos artísticos, para perceber possibilidades variadas de expressar-se por meio da arte. Pense sobre Cada pessoa enxerga e registra o mundo que a cerca de maneira própria. Uma boa dica para continuar a conversa sobre esse assunto é assistir a fragmentos do documentário Janela da alma (direção de João Jardim e Walter Carvalho, 2001), em que pessoas com diferentes graus de deficiência visual são entrevistadas e falam como veem os outros e como percebem o mundo. 28 Arte – Unidade 1 A arte é um meio de comunicação e expressão de ideias, sentimen- tos e pontos de vista. Cada linguagem da arte tem seus signos, códigos e materialidades para dar concretude a essas ideias e a esses senti- mentos. Você vai conhecer nesta Unidade alguns artistas que expres- sam pela arte seus pontos de vista sobre o cotidiano e o trabalho. Para iniciar... Como será que o trabalho é visto pelos “olhos” da arte? • O que é o trabalho? • O que é ser um artista? • O artista também é um trabalhador? Atividade 1 Uma cena de trabalho 1. Aprecie, na próxima página, a obra Operários, de Tarsila do Amaral. Deixe o olhar passear livremente pela obra. Converse com seus colegas e registre suas conclusões: • Em que lugar se passa essa cena? • Quem seriam os personagens retratados? 2 arte, expressão do cotidiano 29 Tarsila do Amaral. Operários, 1933. Óleo sobre tela, 150 cm x 205 cm. Acervo do Palácio Boa Vista, Campos do Jordão (SP). © Ta rs ila d o Am ar al E m pr ee nd im en to s F ot o © R om ul o Fi al di ni 30 Arte – Unidade 2 Tarsila do Amaral (1886-1973) foi uma famosa pintora brasileira que nasceu na cidade de Capivari, no Estado de São Paulo. Seus estudos em arte iniciaram-se no ano de 1916. A primeira técnica estudada pela artista foi a escultura. Depois aprendeu desenho e pintura no ateliê Pedro Alexandrino, em São Paulo. Sua obra mais famosa, Abaporu, foi feita no ano de 1928. Esse quadro foi um presente de Tarsila para Oswald de Andrade, que era seu marido na época. A obra foi o símbolo do Manifesto Antropófago, que se propunha a construir uma arte brasileira após consumir e transformar a cultura europeia. Em 1951, participou da I Bienal de São Paulo e foi homenageada, em 1969, com uma exposição chamada Tarsila 50 anos de pintura. • Comente sobre a diversidade dos rostos. Que informações isso nos traz? • Por que, em sua opinião, as pessoas estão agrupadas? • O que a obra faz pensar em relação ao trabalho coletivo? • Que sentimentos e pensamentos as cores escolhidas por Tarsila ao pintar esse quadro lhe provocam? • As fábricas e os operários ocupam espaços diferentes na pin- tura. Para você, que efeitos isso provoca? • Pelas expressões retratadas, o que eles poderiam estar sentin- do ou querendo expressar para quem aprecia a obra? Arte – Unidade 2 31 2. Tarsila do Amaral pintou Operários em 1933, época em que São Paulo já estava se tornando o principal centro urbano e industrial do País. As primeiras fábricas instaladas no Brasil produziam bens não duráveis, como tecidos, roupas e alimentos. A partir de 1930, a indústria brasileira se ampliou e passou a produzir também bens duráveis, como carros e materiais de siderurgia. Observe as imagens a seguir, que retratam algumas indústrias paulistas desse período, e converse com seus colegas. Primórdios da indústria no Brasil, c. 1930. Trabalhadoras de uma fábrica de sapatos, São Paulo (SP). Primórdios da indústria no Brasil, c. 1930. Trabalhadores de uma fábrica de sapatos, São Paulo (SP). Primórdios da indústria no Brasil, c. 1930. Trabalhadores de uma fábrica de produtos de alumínio. © A lin ar i A rc hi ve s, Fl or en ce /G et ty Im ag es © A lin ar i A rc hi ve s, Fl or en ce /G et ty Im ag es © A lin ar i A rc hi ve s, Fl or en ce /G et ty Im ag es 32 Arte – Unidade 2 Como vocês acham que essas imagens podem se relacionar com a obra Operários, de Tarsila do Amaral? 3. Agora, continue a conversa com seus colegas, com base nas ques- tões a seguir e registre suas conclusões: a) Nesse quadro, Tarsila retratou alguns de seus companheiros do movimento modernista, como Mário de Andrade, escritor e autor de Macunaíma, Oswald de Andrade, poeta com quem foi casada, e Anita Malfatti, pintora. Na opinião de vocês, por que a artista incluiu os rostos de personalidades intelec- tuais e artísticas da época e trabalhadores em um quadro que chamou Operários? b) Eugênio Sigaud (1899-1979) foi um artista carioca contem- porâneo de Tarsila do Amaral que também fez parte do mo- vimento modernista. Vejam como ele expressava sua posição em relação à função da arte no mundo: Sempre exaltei o operário anônimo, sempre denunciei a vida mas- sacrada pelo sistema. Sempre tive consciência da função social da arte. A meu ver, toda arte pode concorrer para ativar o debate público, melhorando, assim, por via indireta, a vida do homem. MORAIS, Frederico. Dacoleção: os caminhos da arte brasileira. Introdução de Cesar Luis Pires de Mello. São Paulo: Júlio Bogoricin, 1986. • Que relações vocês estabelecem entre a obra Operários, de Tarsila do Amaral, e esse depoimento de Eugênio Sigaud? Arte – Unidade 2 33 A função social da arte é um debate que atravessa tempos históricos e movimentos artísticos. As diversas vanguardas têm tido importante papel nesse de- bate, pois, por meio da experimentação das técnicas, dos temas, dos modos de fazer arte, buscavam confrontar a função da arte, tendo em vista a sociedade em constante transformação, ao va- lorizar elementos da modernização das relações: a importância do indivíduo livre das tradições, a igualdade entre homens e mu- lheres etc. No começo do século XX, em São Paulo, um grupo de artis- tas mobilizou o cenário cultural, ao se contrapor ao modelo eu- ropeu de arte e voltar seu olhar para a valorização dos operários e da cultura do nosso povo. Conhecido como Movimento Mo- dernista, que culminou na Semana da Arte Moderna de 1922, esse grupo de vanguarda tinha como representantes escritores como Mário de Andrade e Oswald de Andrade, e pintoras como Tarsila do Amaral e Anita Malfatti. • Para vocês, as obras de arte também podem melhorar a vida das pessoas? Como? 4. A leitura da obra de Tarsila do Amaral, ampliada pela conversa sobre o depoimento de Sigaud e sobre o início da industrializa- ção no Brasil, será seu ponto de partida para a criação de uma fotomontagem sobre o trabalho e o operário. Faça uma colagem utilizando-se de recortes de jornais e revistas, mas que pode tam- bém ser complementada por pinturas e desenhos. 5. Depois que as colagens estiverem prontas, organize com seus cole- gas uma exposição. Qual o ponto de vista que cada um expressou sobre o trabalho? Vanguarda Palavra que vem da expressão francesa avant- (antes, diante) garde (guarda),uma referência ao batalhão militar que antecedia os ataques das tropas. Por isso vanguarda designa aquilo que está à frente dos tempos. 34 Arte – Unidade 2 A arte como expressão política Muitos artistas, como Tarsila do Amaral e Eugênio Sigaud, usa- ram a arte para expressar sua posição política e denunciar a vida mas- sacrada pelos conflitos sociais, entre eles guerras e exclusões. Observe o painel Guernica, do artista espanhol Pablo Picasso: Pablo Picasso. Guernica, 1937. Óleo sobre tela, 349 cm × 776 cm. Museu Rainha Sofia, Madri, Espanha. Pablo Picasso nasceu em 25 de outubro de 1881 na cidade espanhola de Málaga. Estudou na Escola Superior de Belas-Artes de Barcelona, estimulado por seu pai, que era professor de desenho. Em 1897, foi para Madri e se inscreveu na Real Academia de Belas-Artes de São Fernando. Frequentava sempre o Museu do Prado, para copiar os grandes mestres. Em 1900, Picasso fez sua primeira viagem a Paris, com seu amigo Carlos Casagemas, que se suicidou em 1901. Nesse ano, começou o Período Azul das suas pinturas, com tons frios de azul. Em 1906, Picasso conheceu o artista Henri Matisse, que se tornou seu melhor amigo. Em 1907, pintou Les demoiselles d’Avignon, a sua primeira obra cubista em que apresenta figuras numa simultaneidade de planos. Apaixonou-se por Olga Koklova, uma bailarina. Casaram-se em 12 de julho de 1918. Quando Olga engravidou, criou uma série de pinturas de mães com filhos. Em 1937, no auge da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), pintou o mural Guernica, que mostra a violência e o massacre sofridos pela população da cidade de Guernica. Entre o começo e o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), dedicou-se também à escultura, à gravação e à cerâmica. Em 1943, Picasso conheceu a pintora Françoise Gilot e teve com ela dois filhos, Claude e Paloma. Em 1968, aos 87 anos, produziu em sete meses uma série de 347 gravuras, recuperando os temas da juventude: o circo, as touradas, o teatro, as situações eróticas. Durante a década de 1950 e a de 1960, pintou obras de arte de outros artistas famosos: O almoço na relva, de Édouard Manet, e As meninas, de Diego Velázquez, são exemplos desse período. Entre suas obras podemos citar: Arlequim, A guitarra, Mendigos, O cego, A família Soler, O moço do cavalo, Mulher de verde e A alegria de viver. Morreu em 1973 numa região perto de Cannes, na França. © S uc ce ss io n Pa bl o Pi ca ss o, A ut vi s 2 01 1 © O ro no z/ Al bu m -L at in st oc k © S uc ce ss io n Pa bl o Pi ca ss o, Au tv is 20 11 © D io m ed ia Arte – Unidade 2 35 Em Guernica, o artista denunciou mortes, violência e tristeza cau- sadas pela Guerra Civil Espanhola (1936-1939). A Guerra Civil Espanhola, que levou Picasso a pintar esse mural, foi um dos acontecimentos mais traumáticos ocorridos antes da Segunda Guerra Mundial. Em 1937, a cidade espanhola de Guernica vivenciou um con- fronto militar, comandado pela aviação alemã e por Adolf Hitler, aliado do ditador espanhol Francisco Franco. Nesse ano, a população da cidade era estimada em 5 mil pessoas e, nessa ação, calcula-se que mais de 1,5 mil pessoas foram mortas. Quando o governo da Segunda República espanhola no exílio enco- mendou a Picasso uma obra para uma exposição em Paris, em 1937, ele inspirou-se nesse massacre para denunciá-lo. Criou e recriou a obra de grandes dimensões em 34 dias, realizando 45 desenhos em que estudava a composição ou os detalhes da obra. Picasso exibiu essa obra na França e pediu que ela fosse exposta na Espanha somente quando a ditadura terminasse e a democracia retornasse ao seu país, o que levou 44 anos para acontecer, em 1981. Atividade 2 Com os pés na história 1. Outra obra de arte que traz um olhar sobre o trabalho é a fo- tografia em preto e branco Sem título, de Sebastião Salgado. A imagem faz parte do livro Terra, que reúne fotografias feitas em acampamentos e assentamentos de trabalhadores brasileiros sem-terra. Nessa obra o artista focalizou os pés, e não o rosto das pessoas. Fica a dica Lena Gieseke criou um vídeo em 3D da obra Guernica. Acesse o site para realizar uma viagem virtual pela obra. Disponível em: <http://www.cultura. dequalidade.com.br/ index.php/pintura/ cubismo-guernica-3d-de- pablo-picasso-em-3d/>. Acesso em: 19 dez. 2011. Sebastião Salgado nasceu em 1944 na cidade mineira de Aimorés. Estudou economia na Universidade Federal do Espírito Santo, e depois fez mestrado na Universidade de São Paulo e doutorado na França, na Escola Nacional de Estatística. Sua escolha pela fotografia surgiu após uma viagem à África em 1971, ocasião em que usou uma câmera emprestada de sua esposa. Dois anos depois, Salgado dedicou-se ao exercício da fotografia como denúncia social. Refugiados, povos privados de sua terra e de seus direitos e migrantes têm sido até agora os modelos escolhidos por Sebastião em seu trabalho. © S er gi o M or ae s/ Re ut er s- La tin st oc k 36 Arte – Unidade 2 Sebastião Salgado. Sem título, 1983. Fotografia em preto e branco em papel-cuchê, 51 cm x 71 cm (Ensaio A luta pela terra). Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio del Santo, Vitória (ES). Doado pelo artista. © S eb as tiã o Sa lg ad o/ Am az on as Im ag es Arte – Unidade 2 37 Ao olhar para essa fotografia, podemos fazer várias perguntas: • Quais sentimentos e pensamentos essa obra provoca em você? • Para você, qual foi o ponto de vista do fotógrafo ao fazer essa foto? • São pés de homens ou de mulheres? São pés jovens ou velhos? • As pessoas ficaram lado a lado para que seus pés fossem fo- tografados? Em que posição elas teriam ficado? Por que você acha que o artista resolveu fotografá-las assim? • O que as marcas como cicatrizes, manchas e rugas presentes nos pés fotografados contam da vida dessas pessoas? Sebastião Salgado fotografou os pés bem de perto, em close. Nesse procedimento, a lente fica muito próxima do objeto a ser fotografado, revelando seus detalhes e sutilezas. 38 Arte – Unidade 2 2. Você já pensou que seus pés também podem contar histórias? O que eles expressam a seu respeito? Que história pessoal seus pés poderiam contar? Faça fotografias de seus pés, enfocando-os como fez Sebastião Salgado. 3. Compartilhe com os colegas as fotografias e as histórias descober- tas sobre os seus pés. A fotografia A palavra fotografia vem do grego phôs, photós (luz) e graphê (escrita, escrito, desenho, descrição). A base da fotografia é uma ciência antiga: a óptica, que estuda a luz e seus reflexos. A máquina fotográfica foi inventada partindo-se da ideia da câmera escura, que é uma caixa totalmente fechada contendo um pequeno orifício. Esse pequeno orifício permite que um foco de luz entre na caixa. Assim, quando a luz emitida por um objeto entra na câmera escura, a imagem desse objeto é projetada invertida na parede do lado contrário da caixa. E por que a imagem fica invertida? É porque os raios de luz seguem trajetória retilínea, ou seja, “andam em linha reta”. Assim, a luz que parte do alto do objeto só pode se projetar na parte de baixo da caixa, e vice-versa. © H ud so n Ca la sa ns Arte – Unidade 2 39 A terra é uma necessidade para a sobrevivência do ser humano, como modo de tirar dela seu sustento. É por isso que a disputa pela terra sempre foi uma realidade para os grupos humanos. E continua sendo. No Brasil, por exemplo, ainda existem movimentos sociais que buscam obter o direito à terra – que continua, a maior parte dela, concentrada nas mãos de poucos (uma realidade que vem desde a época da colonização). Além disso, a atual Constituição Federal (1988), em seu ar- tigo 186, consolida princípios para uma política de uso da terra, embasada na seguinte concepção da sua função social: I – aproveitamento racional e adequado; II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preser- vação do meio ambiente; III – observânciadas disposições que regulam as relações de trabalho; IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. A Constituição prevê ainda que o Estado desapropriará, para Reforma Agrária, as terras que não estejam cumprindo tal função social. No entanto, a disputa é tão acirrada (e desigual) que a questão da terra (e da Reforma Agrária) continua a ser um dos grandes desafios a ser enfrentados pelo Brasil. Atividade 3 Alguns diálogos da arte sobre o cotidiano do trabalhador rural 1. O livro Terra, de Sebastião Salgado, recebeu várias composições de Chico Buarque em suas páginas. Uma delas é a música Assen- tamento. Leia a letra com atenção e, se possível, escute a música. Referência BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 19 dez. 2011. 40 Arte – Unidade 2 Assentamento Chico Buarque Zanza daqui Zanza pra acolá Fim de feira, periferia afora A cidade não mora mais em mim Francisco, Serafim Vamos embora Ver o capim Ver o baobá Vamos ver a campina quando flora A piracema, rios contravim Binho, Bel, Bia, Quim Vamos embora Chico Buarque de Hollanda nasceu em 19 de junho de 1944, no Rio de Janeiro. Em 1946, veio morar em São Paulo, onde o pai assumira a direção do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, também conhecido como Museu do Ipiranga. Em 1963, ingressou no curso de arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP). Cursou dois anos e parou em 1965, quando começou a se dedicar à carreira artística. Nesse ano, lançou Sonho de um Carnaval, inscrita no I Festival Nacional de Música Popular Brasileira, e Pedro Pedreiro. Em 1966, venceu o mesmo festival, com A banda, interpretada por Nara Leão. No festival de 1967, fez sucesso com Roda-viva, interpretada por ele e pelo grupo MPB-4. Em 1968, voltou a vencer outro festival, o III Festival Internacional da Canção da TV Globo, com a canção Sabiá. Musicou as peças Morte e vida severina e o infantil Os saltimbancos. Escreveu várias peças de teatro, entre elas Roda-viva, Gota d’água (com Paulo Pontes), Calabar (com Ruy Guerra), Ópera do malandro, e alguns romances: Estorvo, Benjamim e Budapeste. Ameaçado pelo regime militar no Brasil, esteve em autoexílio na Itália, em 1969, onde chegou a fazer espetáculos com Toquinho. Ao voltar ao Brasil, continuou com composições que denunciavam aspectos sociais, econômicos e culturais, como as célebres Construção e Partido alto. © M ar ol a Ed iç õe s M us ic ai s L td a. © Is ra el A nt un es /F ol ha pr es s Quando eu morrer Cansado de guerra Morro de bem Com a minha terra: Cana, caqui Inhame, abóbora Onde só vento se semeava outrora Amplidão, nação, sertão sem fim Ó Manuel, Miguilim Vamos embora • Para você, quais palavras de Assentamento têm relação com a obra de Sebastião Salgado e com as questões levantadas no “Momento cidadania”? Por quê? Arte – Unidade 2 41 2. Em grupo discutam os significados da imagem do livro Terra e a música Assentamento, de Chico Buarque: • O que mais chamou a atenção dos integrantes do grupo? • Como Sebastião Salgado e Chico Buarque expressam suas posi- ções políticas nessas obras? Registre as conclusões do grupo. © L ui s D áv ila Estátua viva Prática comum nas ruas de muitos centros urbanos. Usam-se o corpo, alguns objetos e roupas trazidas de casa. Ao apreciar uma escultura e explorar seu espaço tridimensional, é importante olhá-la por diferentes ângulos. 3. Tomando por base a discussão do grupo, produza uma escul- tura corporal com os colegas participantes. Poderia ser feita também uma intervenção como estátua viva na escola com os corpos dos integrantes de cada grupo. Se achar interessante, tire fotos das esculturas corporais e monte uma exposição. 42 Arte – Unidade 2 Atividade 4 Outros artistas, outras histórias Mestre Vitalino, assim como outros artistas, preocupava-se, em suas obras, em retratar cenas do cotidiano. Ele era considerado um cronista de seu tempo e de seu lugar, o sertão de Pernambuco. Com barro, ele criava bonecos que representavam os trabalha- dores em seu ofício, como o barbeiro, as costureiras, o dentista. Ele também representava as festas, os tocadores de pífanos e de tambores, os bois e o cangaço. Muitos artistas populares ainda se inspiram no trabalho de Mestre Vitalino. Vitalino Pereira dos Santos nasceu em 1909 em Ribeira dos Campos, uma pequena vila no município de Caruaru, Pernambuco. Filho de lavradores, quando criança modelava as cenas do cotidiano – bois, jegues, pessoas – com as sobras do barro usado por sua mãe na produção de utensílios domésticos. Como era analfabeto, carimbava as suas peças, mas, a partir de 1950, aprendeu a autenticar a sua obra com o seu nome. Mestre Vitalino morreu em 1963. Seus filhos, Severino e Amaro, continuam a sua obra, recriando no barro as personagens do mundo nordestino. Arte popular No Brasil, é como costuma ser chamada a arte produzida por homens e mulheres que não frequentaram escolas de arte, tendo feito seu aprendizado com pais ou parentes na rotina do dia a dia. Anônimo. Retirantes, cerâmica. Caruaru (PE). © M ar co s A nd ré /O pç ão B ra sil Im ag en s Observe a imagem a seguir, de um “discípulo” de Mestre Vitalino: • O que essa obra parece mostrar do ponto de vista dos artistas so- bre o cotidiano e o trabalho? Arte – Unidade 2 43 Do barro à cerâmica A arte da cerâmica é considerada patrimônio cultural do Brasil. Artesanato em barro. Cerâmica utilitária feita pela ceramista Maria das Dores Cruz dos Santos, 2010. Prado (BA). © M ar co A nt ôn io S á/ Pu lsa r I m ag en s Artesanato em barro. Artesão dando acabamento em peça de cerâmica, 2009. Goiás (GO). Como uma das formas de arte mais antigas, a cerâmica nasceu na Pré-história, na descoberta do barro que endurecia aquecido pelas fogueiras rodeadas pelas pequenas comunidades. ela precisa de pouco: “A cerâmica existe onde há água, árvores e barro”. SAPIENZA, Tarcísio Tatit. Shoko Suzuki: cerâmica e tradição. Coord. Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque. São Paulo: Instituto Arte na Escola, 2005, p. 5. (DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor; 22.) Acompanha DVD. Disponível em: <http:// www.artenaescola.org.br/dvdteca/pdf/arq_pdf_106.pdf>. Acesso em: 19 dez. 2011. © M ar co A nt ôn io S á/ Pu lsa r I m ag en s 44 Arte – Unidade 2 Desde a Antiguidade a produção de cerâmica era realizada no Brasil. A execução de artefatos em argila é uma atividade presente na maioria das comunidades indígenas brasileiras, nas quais é uma prá- tica essencialmente feminina. A participação masculina acontece em algumas etapas do trabalho, como a coleta e o transporte da argila. A cerâmica desenvolveu características próprias em cada região onde era produzida. Até os dias de hoje ela é realizada nas várias comunidades indígenas, que criam objetos utilitários e decorativos para suas casas e também para os seus rituais. © L ui s D áv ila Algumas peças serviam ainda para o preparo e a armazenagem dos alimentos, outras para guardar restos mortais de familiares. Cons- truíam-se também instrumentos musicais, como apitos e adornos. Para decorar as peças, eram utilizadas tintas naturais, retiradas do carvão e também do jenipapo e do urucum. Forno de queima de cerâmica em olaria, 2011. Morro do Querosene, São Paulo (SP). Arte – Unidade 2 45 Cerâmica asurini, do Médio Rio Xingu, próximo a Altamira (PA). Museu do Índio. © R og ér io R ei s/ Pu lsa r I m ag en s © C ar lo s T er ra na /K in o Cerâmica karajá, da Ilha do Bananal (TO). © R og ér io R ei s/ Ty ba Cerâmica dos povos indígenas Karipuna, Galibi, Galibi-marworno e Palikur, que vivem na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa, Oiapoque (AP). Museu do Índio. Cerâmica marajoara (reprodução), de povosque viveram na Ilha de Marajó há mais de 8 mil anos, em Belém (PA). © W er ne r R ud ha rt /K in o 46 Arte – Unidade 2 A cerâmica marajoara, como a da página anterior, típica da Ilha de Marajó, no norte do Brasil, tem a característica de utilizar o desenho de simetria cavado em bai- xo-relevo. © F ol ha pr es s Atividade 5 O cotidiano e o trabalho pelos “olhos” da arte Observe todas as imagens desta Unidade, inclusive as que sua turma produziu. Depois, converse com seus colegas e responda: • Você concorda que a arte pode expressar o cotidiano das pessoas em tempos e culturas diferentes? Por quê? • Você acha que a arte pode fazê-lo olhar diferente para o cotidiano? Por quê? • É possível pensar que essas são funções sociais da arte? Por quê? Arte – Unidade 2 47 Di Cavalcanti. Mulheres protestando, 1941. Óleo sobre tela, 51 cm x 70 cm. © e lis ab et hd ic av al ca nt i Pense sobre O título desta obra de Di Cavalcanti nos mostra que estas mulheres reivindicam alguma coisa. O que seria? E quais seriam as reivindica- ções das mulheres do bairro em que você mora? Nesta Unidade, você estudou a arte como meio de comuni- cação e expressão de ideias, sentimentos e pontos de vista. Pôde ver que, por meio da arte, as pessoas demonstram suas posições políticas e sociais perante o mundo e articulam pensamentos, convidando os espectadores a participar desse movimento. Além disso, você discutiu o “trabalho” como tema de pro- duções artísticas. Você estudou 48 Arte – Unidade 2 A natureza tem sido temática de inúmeras produções artísticas. Volta- dos para as questões ambientais, os artistas vêm salientando a necessidade da luta pela preservação do meio ambiente, pois a arte pode se constituir em alternativa para alertar a sociedade sobre determinadas questões. Para iniciar... Como a arte nos ajuda a ver o lugar em que vivemos e como nos relacionamos e cuidamos dele? A arte pode nos ajudar a transformar esse ambiente? Estamos no mundo e com ele nos relacionamos: vivemos, produ- zimos, consumimos e interferimos no meio ambiente. • Por que tem havido tanto interesse pelo meio ambiente? • O que pode acontecer ao planeta se não preservarmos a natureza? • Como podemos fazer parte das ações de proteção do planeta? • Como você acha que a arte pode chamar nossa atenção sobre o mundo em que vivemos e os cuidados que precisamos ter com ele? Land art: a “arte da Terra” A natureza aparece na arte de várias formas: nas obras de pinto- res de paisagem, por muitos séculos, ou em trabalhos contemporâneos feitos no próprio ambiente, como o do artista Christo e Jeanne- -Claude, sua mulher e parceira, que embrulham grandes coisas como prédios, monumentos, pon- tes etc. Entre muitas interven- ções no meio ambiente, Christo e Jeanne-Claude envolveram 178 árvores na Suíça, com tecidos utili- zados para proteger as árvores no inverno rigoroso. 3 arte e meio ambiente Christo e Jeanne-Claude. Árvores envolvidas, 1997-1998. Fundação Beyeler e Parque Berower, Riehen, Suíça. © W ol fg an g Vo lz 49 Atividade 1 Um olhar sobre a natureza 1. No Brasil, onde chegou em 1637, o artista holandês Albert Eckhout retratava, em sua pintura, a natureza brasileira no sé- culo XVII, época em que não se dispunha da fotografia. Como integrante da expedição holandesa, Eckhout tinha como função documentar o modo de vida, os lugares e a natureza. Era um “ar- tista-viajante”. Nos séculos XVII, XVIII e XIX, os artistas-viajantes trabalharam como verdadeiros “repórteres fotográficos”. As imagens que eles produziam pretendiam se aproximar da realidade, mas também revelavam o seu modo singular de ver a natureza. © a kg -im ag es /A lb um -L at in st oc k Albert Eckhout. Abacaxi, melancias e outras frutas, s/d. Óleo sobre tela, 91 cm x 91 cm. Museu Nacional, Copenhague, Dinamarca. A obra Abacaxi, melancias e outras frutas, de Albert Eckhout, é classificada como natureza-morta. Esse é considerado um gênero da pintura do século XVI que retrata objetos inanimados. 50 Arte – Unidade 3 Albert Eckhout. Mulher africana, 1641. Óleo sobre tela, 267 cm x 178 cm. Museu Nacional, Copenhague, Dinamarca. M us eu N ac io na l d a D in am ar ca Arte – Unidade 3 51 • Como a natureza se apresenta nessas duas obras de Eckhout? • Quais são as diferenças e semelhanças entre as duas imagens? • Em sua opinião, como estão mostradas, nas obras, as relações homem-natureza? • Se você observar as imagens com cuidado, perceberá que as cores são usadas para dar a sensação de luz e sombra. Como isso ocorre? Há mais algum elemento que colabora para re- forçar essa sensação? • Como a sombra e a luz se apresentam nessas imagens? O foco de luz está mais evidente nas figuras ou no fundo? Por quê? Albert Eckhout nasceu em 1610 em Groningen, na Holanda. Iniciou seus estudos em pintura com seu tio, Gheert Roeleffs. Aos 26 anos, trabalhou como ilustrador em Amsterdã e foi convidado para a missão artística francesa no Brasil por Maurício de Nassau, governador-geral do Brasil holandês. Em 1637, Eckhout viajou para o Brasil, onde permaneceu por sete anos. No período em que esteve no Nordeste brasileiro, desenvolveu intensa atividade como documentarista da fauna e da flora e como pintor de tipos humanos. Albert Eckhout retornou para a Holanda em maio de 1644, fixando residência em Groningen. Casou-se e se transferiu para Amersfoort, a leste de Amsterdã, onde nasceram seus dois filhos. Em 1653, trabalhou em Dresden como pintor na Corte de Johan Georg II. No ano de 1663, voltou a morar em Groningen, onde faleceu por volta de fins de 1665 ou início de 1666. 52 Arte – Unidade 3 2. As obras de Eckhout foram feitas com base em sua observação apurada da natureza. Que tal você também exercitar seu olhar sobre a natureza? Basta pegar uma fruta e começar... Você pode desenhá-la de vários ângulos, ou apenas de um lado, e colori-la com a mesma cor e textura da fruta, ou, ainda, abri-la e desenhar sua imagem por dentro. Você pode também comê-la e expressar seu sabor por uma palavra, uma cor, um chei- ro, uma textura... Faça vários exercícios, sempre seguindo suas percepções. 3. Ao final, organize com seus colegas uma composição com todas as produções da turma, montando uma grande natureza-morta. Atividade 2 A ficção nos ensina a olhar? O filme Avatar (direção de James Cameron, 2009) traz ques- tões interessantes para o debate sobre a preservação da natureza. Esse filme, uma ficção científica, passa-se no futuro e a história mostra a necessidade de encontrar um equilíbrio entre o desenvol- vimento e o meio ambiente. Uma das propostas de Avatar, ao ser lançado nos cinemas, era proporcionar ao espectador uma nova experiência de “ver cinema”, utilizando a terceira dimensão, a chamada 3D, que cria imagens com maior profundidade de campo, dando a impressão de cenários maiores, mais ricos e detalhados, numa visão semelhante à do olho humano. 1. Depois de assistir ao filme Avatar, converse com seu grupo: • Que sentimentos e pensamentos o filme provocou em você? • O conflito descrito no filme se parece com alguma situação atual? • Quais relações do ser humano com a natureza o filme se pro- põe a discutir? • Quais foram as cenas mais marcantes para você? • Como a trilha sonora e o trabalho dos atores dão forma à expressividade do filme? • Se as cores do filme fossem vermelhas, e não azuis, o filme teria os mesmos significados para você? Causariam as mesmas sensações? Por quê? Arte – Unidade 3 53 Que outras coisas você gostaria de debater sobre esse filme? Re- gistre a discussão do grupo para compartilhar com a sua classe. A troca de pontos de vista pode enriquecer o olhar de cada um so- bre as relações humanas e o meio ambiente. 2. O filme apresenta diversas cores numa floresta biofluorescente. Crie a sua floresta com base na discussão sobre o filme. Você pode desenhar, pintar ou criar paisagens com formaspro- jetadas nas paredes com retroprojetor e papel-celofane para co- lorir o espaço. Pode também criar uma cena, uma coreografia, uma música etc. Se você resolver fazer uma pintura, que tal usar aquarela, uma tinta feita à base de água (ver receita no boxe)? Esse tipo de tinta vai ajudá-lo a dar um efeito “avatar” na sua produção. 3. Organize com sua turma uma exposição. Que sensações e efeitos as imagens produzidas pela turma despertaram em você? Tinta aquarela Ingredientes 1 colher de chá de goma-arábica. 1 copo de água. 1 colher de chá de pigmento em pó ou corante. Modo de preparo • Em um pote, misture o corante com a goma-arábica. • Quando a mistura estiver bem homogênea, junte a água. Caso você queira tons mais claros, é só acrescentar mais água na tinta, para diluí-la. Como usar Em uma folha de papel, use um pincel largo e passe uma camada de água limpa sobre ela. Pinte seu desenho usando a aquarela e um pincel de pelos macios. 54 Arte – Unidade 3 Nascido na Polônia em 1921, Frans Krajcberg teve a vida marcada pela guerra. Tinha 18 anos quando estourou a Segunda Guerra Mundial, em 1939. Seu país foi invadido pelo exército alemão e toda a sua família foi levada para um campo de concentração. No fim da guerra, foi estudar arte na Alemanha e, em 1948, emigrou para o Brasil, onde chegou a trabalhar como pedreiro, faxineiro, e, depois, desenvolveu sua arte. Desde 1972, Frans foi morar em Nova Viçosa, Sul da Bahia, numa casa construída no alto de um imenso tronco de pequi, uma árvore da floresta brasileira, cujos frutos são usados na culinária. Lá ele também montou dois salões para abrigar suas obras. Frans Krajcberg em sua casa, 30 jan. 2002. Nova Viçosa (BA). © D ev an ir M an zo li/ Fo lh ap re ss A arte preocupada com o meio ambiente Frans Krajcberg é um artista cuja obra testemunha a destruição do meio ambiente pela ação predatória do homem. As queimadas e as devastações das florestas são temas presentes nas suas esculturas, fotografias e relevos. Em suas obras, ele usa res- tos de árvores e pigmentos naturais da própria terra, de minerais tri- turados, de folhas secas e de raízes, trazendo-os de novo para a vida. Atividade 3 Arte e natureza 1. Observe algumas obras de Frans Krajcberg nas próximas páginas. • Como essas obras nos colocam diante da natureza? • De onde você acha que elas vieram? Como foram transporta- das até o local em que estão expostas? • O lugar onde o artista colocou suas esculturas poderia ser outro? Qual? • Que outro título você daria a elas? Arte – Unidade 3 55 © P au lo F rid m an /P ul sa r I m ag en s Frans Krajcberg. Cipós. Escultura. Espaço Cultural Frans Krajcberg. Curitiba (PR). 56 Arte – Unidade 3 Frans Krajcberg. Flor do mangue, 1965. Escultura, 12 m x 8 m x 5 m. © C ris tia na V ie ira /A E © F ra ns K ra jc be rg Frans Krajcberg. Cipós. Escultura. Jardim Botânico. Espaço Cultural Frans Krajcberg, 2004. Curitiba (PR). Arte – Unidade 3 57 A escultura é uma das linguagens das artes visuais que criam for- mas no espaço, em três dimensões: altura, largura e profundidade, e, portanto, é tridimensional. Para fazer uma escultura, o artista pode modelar materiais macios, entalhar na madeira ou na pedra, derreter bronze, utilizar plástico, pano, borracha, assim como usar materiais muito diversos, como fez Krajcberg. 2. Construa, você também, a sua escultura utilizando materiais da natureza. Para isso, selecione os materiais que estejam espalhados pelo chão, como gravetos, folhas, sementes, pedras, areia e tudo o mais que quiser. Se precisar fazer uma base, use uma caixa de papelão ou um peda- ço de madeira. Você pode pintar ou não a sua escultura. 3. Depois, você e seu grupo vão planejar uma exposição no espaço da escola. Atividade 4 O meio ambiente é meu também? Discuta com seus colegas o texto a seguir: uma das propostas de Krajcberg é produzir mudanças na consciência e na ação humana, nas atitudes e nos valores individuais e coletivos, mudanças que provoquem uma nova forma de pensar para assegurar o equilíbrio da nossa morada, o planeta Terra. A questão ambiental não pode ser encarada apenas como um problema local, de responsabilidade de um único segmento da socie- dade. ela transcende a ciência, a economia e a política e está relacionada à vida diária, aos valores morais e ao próprio futuro das gerações que estão por vir. BORTOLOZZO, Silvia; VENTRELLA, Roseli. Frans Krajcberg. São Paulo: Moderna, 2006, p. 52. Depois, responda individualmente: • O meio ambiente também é meu? Como posso ajudar a cuidar dele? 58 Arte – Unidade 3 • É possível colaborar para provocar uma nova maneira de pensar a natureza? Como? • Como a arte nos ajuda a ver o lugar em que vivemos e como nos relacionamos e cuidamos dele? A arte pode nos ajudar a transfor- mar esse ambiente? • Que ações podem ser desencadeadas na escola? Nesta Unidade, você apreciou obras que abordam a temática da natureza e as questões ambientais, valorizando a necessidade da luta pela preservação do meio ambiente. As discussões sobre as obras levaram a “reolhar” o lugar em que você vive, como se relaciona e cuida dele? Você estudou Pense sobre O projeto Museu Itinerante foi proposto com o objetivo de demo- cratizar o acesso à arte. As exposições são compostas de reproduções de obras de arte, além de obras de artistas locais convidados, para valorizar a produção local. Arte – Unidade 3 59 um olhar sobre a natureza das pessoas O Museu Itinerante Rabobank chega à cidade de Brasília trazendo a exposi ção “A Natureza das Pessoas”, com 40 reproduções de obras pertencentes aos p rincipais museus do mundo. Conheça a visão de grandes artistas sobre a natureza, o meio ambiente e su as transformações ao longo dos tempos. Um privilégio poder visitá-las em um único lugar, bem pertinho de você ! Curadoria: Katia Canton Visitação: de 01 de junho a 15 de julho | diariamente, das 9h às 21h Local: Espaço Cultural Renato Russo | CRS 508 BI. A Lj. 72 (W3 Sul) | Brasília | DF ENTRADA GRATUITA PA TR O C ÍN IO A PO IO R EA LI ZA Ç Ã O Secretaria de Cultura APRESENTA Cartaz Rabobank-Brasilia.indd 1 10/27/11 3:57 PM Observe o cartaz de uma das exposições e o relacione com a temá- tica que você discutiu nesta Unidade. Como você acha que essa exposição expressa a relação humana com a natureza? Você acha que pode haver maior harmonia nessa relação? De que forma a arte pode contribuir para isso? © M us eu It in er an te /E lo 3 60 Arte – Unidade 3 CAMPOS, Augusto de. Luxo (1965). In: ______. Viva vaia. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. Augusto de Campos (1931) é poeta, tradutor, ensaísta, crítico de literatura e de música. A partir de 1980, experimentou novas mídias, apresentando seus poemas em luminosos, videotextos, neon, hologramas, por meio do laser, em animações computadorizadas e em eventos multimídia. Sua produção literária é mais conhecida como poesia concreta. Poesia concreta Foi criada no Brasil na década de 1950, em contraponto à produção poética da época, considerada, por alguns, como incapaz de expressar a nova realidade gerada pela revolução industrial. © L ui z Ca rlo s M ur au sk as / F ol ha pr es s © A ug us to d e Ca m po s 4 arte e Lixo A presente Unidade tem como objetivo conhecer representa- ções artísticas que abordam a temática da arte articulada ao meio ambiente e, principalmente, à problemática do lixo. Para iniciar... Leia o poema concreto de Augusto de Campos para descobrir a opinião dele sobre essa questão do lixo: • Qual você acha que é a opinião do poeta com relação ao lixo? • Em sua opinião, quem cria o lixo? E o luxo? • Em sua opinião, o que é o “mundo” do lixo? • O lixo é problema de quem? 61 Atividade 1 Pontos de vista sobre o lixo 1. Observe a imagem abaixo: Você sabia que o Brasil produz 260 mil toneladas diárias de lixo? A cidade que mais acumuladejetos é São Paulo. São 18 mil toneladas por dia, o equivalente a 1,6 quilo por habitante. Isso significa que, no espaço de uma vida, os 11 milhões de paulistanos vão produzir o suficiente para cobrir todo o município com uma camada de 1 metro de lixo. Apenas 55% das garrafas PET são reaproveitadas. Isso representa um desperdício de, em média, R$ 250 milhões. Fonte: CEMPRE. Compromisso empresarial para reciclagem. Manual de Gerenciamento Integrado do Lixo. São Paulo: Cempre, 2010. Atuação dos catadores no Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho, 10 ago. 2009. Duque de Caxias (RJ). • Até onde as cidades vão suportar o aumento de seu lixo? • Reduzir a quantidade de lixo doméstico, hospitalar, de var- rição de rua, de shoppings, poderia ser uma solução para a saúde do planeta? © D om in go s P ei xo to /A gê nc ia O G lo bo 62 Arte – Unidade 4 2. Observe a imagem e leia os trechos a seguir. Depois, discuta com seus colegas os pontos de vista defendidos. Gari limpando e carregando caminhão de lixo após feira livre, maio de 2008. São Paulo (SP). © A le xa nd re To ki ta ka /P ul sa r I m ag en s Não há mágica no processo que faz desaparecer da frente de nossos olhos e narizes tudo o que não nos serve mais. Há, sim, a dedicação e o suor de milhares de trabalhadores anônimos. gente humilde, mas consciente de sua importância e da importância do seu trabalho. gente, sem a qual a cidade, qualquer cidade, se tornaria inviável. gente essencial, mas apesar disso obrigada a enfrentar tantas vezes o preconceito, o desprezo, a indiferença dos demais. [...] BRANDÃO, Ignácio de Loyola et al. O rosto e o resto: o cotidiano dos coletores de lixo de São Paulo. São Paulo: Abooks, Selurb, 2004, p. 7. O lixo emprega estes homens que correm. Despejado nos lixões, será olhado, escolhido, apanhado, reciclado, vendido, fazendo sobreviver outros tantos. Os homens que correm enchem as barrigas dos caminhões para poder encher as barrigas da mulher e dos filhos [...]. BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Homens que correm. In: ______ et al. O rosto e o resto: o cotidiano dos coletores de lixo de São Paulo. São Paulo: Abooks, Selurb, 2004, p. 19. Arte – Unidade 4 63 3. Após participar do debate, crie um mapa do consumo e dos possí- veis caminhos do lixo. 64 Arte – Unidade 4 Atividade 2 Arte de “lixo” O artista plástico Vik Muniz retratou no documentário Lixo extraordinário (2010) a vida dos catadores de materiais recicláveis na cidade de Duque de Caxias, no Estado do Rio de Janeiro. Converse com seus colegas sobre as imagens das próximas páginas. • À primeira vista, o que as obras de Vik Muniz despertaram em você? • Quais materiais o artista usou nessas obras? • Em sua opinião, o que fez com que o artista escolhesse esse mate- rial para essas obras? Vicente José de Oliveira Muniz, Vik Muniz, filho de um garçom e de uma telefonista, nasceu em São Paulo, no dia 20 de dezembro de 1961. O artista estudou Publicidade e Propaganda na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). É fotógrafo, desenhista, pintor e gravador. Em 1983, mudou-se para Nova Iorque (EUA), onde mora até hoje. Para realizar suas criações, faz uso de procedimentos diversos e emprega nas obras, com frequência, materiais inusitados como açúcar, chocolate líquido, doce de leite, ketchup, gel para cabelo, lixo e poeira. Seu processo de trabalho consiste em compor as imagens com os materiais, normalmente instáveis e perecíveis, sobre uma superfície, e fotografá-las. As reproduções em geral são feitas em grandes dimensões. O seu filme Lixo extraordinário retrata o mundo dos catadores de materiais recicláveis e a criação de suas obras, que em parte reverteram para a comunidade. © R af ae l A nd ra de /F ol ha pr es s Arte – Unidade 4 65 Vik Muniz. Mãe e filhos (Suellen), 2008. Fotografia, 231,2 cm x 180,4 cm (Série Imagens de lixo). Fo to G al er ia F or te s V ila ça © A ut vi s 2 01 1 66 Arte – Unidade 4 Vik Muniz. A carregadora (Irma), 2008. Fotografia, 129,5 cm x 101,6 cm (Série Imagens de lixo). Fo to G al er ia F or te s V ila ça © A ut vi s 2 01 1 Arte – Unidade 4 67 Vik Muniz. Marat (Sebastião), 2008. Fotografia, 231,2 cm x 180,4 cm (Série Imagens de lixo). Fo to G al er ia F or te s V ila ça © A ut vi s 2 01 1 68 Arte – Unidade 4 Jacques-Louis David. A morte de Marat, 1793. Óleo sobre tela, 162 cm x 128 cm. Museu Real de Belas-Artes, Bruxelas, Bélgica. M us eu R ea l d e Be la s- Ar te s, Bé lg ic a Arte – Unidade 4 69 • O artista afirma, no documentário Lixo extraordinário: O momento em que uma coisa se transforma em outra é o momento mais bonito. Aquele momento é um momento mágico, mesmo. Considerando as obras que você observou, por que acha que ele diz isso? • Suas primeiras impressões sobre essas obras se mantêm? Por quê? • Após essa apreciação das obras de Vik Muniz, você mudou de ideia sobre o que é lixo e o que não é lixo? Por quê? É com a linguagem da fotografia que Vik Muniz faz suas obras. Ele é um artista contemporâneo que muitas vezes parte de clássicos da pintura, como Leonardo da Vinci, Claude Monet, Albert Dürer, entre outros, para criar suas fotografias, com materiais inusitados. Imagine que ele já fez trabalhos com macarrão, com chocolate e até com nuvens no céu, desenhadas com um avião de fumaça. Nas imagens, vê-se que ele usou objetos descartados como mate- rial artístico para compor suas fotografias. 70 Arte – Unidade 4 Autorretratos As obras que você analisou na última atividade são retratos. Vik Muniz, e vários outros artistas, também fazem autorretratos, ou seja, retratos deles mesmos. O autorretrato é um gênero artístico muito presente em toda a his- tória da arte. O tema de olhar para si próprio é bastante antigo, como mostra o mito grego de Narciso, que se admirou tanto que morreu nas águas que refletiam sua imagem. Atividade 3 Um olhar sobre si mesmo 1. Os artistas, em diferentes épocas e lugares, representaram-se de muitas maneiras e de diversas formas, como pinturas, esculturas etc., além de fazer uso dos mais variados materiais, como pode- mos ver nos autorretratos apresentados nas próximas páginas. • O que estas obras despertam em você? • O que você achou dos diferentes modos dos artistas de mos- trarem seu olhar sobre si mesmos? • Você diria que os materiais escolhidos pelo autorretratista também são parte da imagem que o artista “tem” e “quer passar” de si mesmo? Arte – Unidade 4 71 Vik Muniz. Autorretrato outono 2, 2005. Fotografia, 101,6 cm x 76,2 cm (Imagem de folhas e terra). Fo to G al er ia F or te s V ila ça © A ut vi s 2 01 1 72 Arte – Unidade 4 Iberê Camargo nasceu em 18 de novembro de 1914, em Restinga Seca (RS). Em 1942, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou os estudos artísticos e participou de exposições. Em 1947, foi para a Europa e estudou com os pintores André Lhote, em Paris, e com De Chirico e Alberto Petrucci, em Roma. Voltou ao Brasil em 1950 e, em 1953, fundou o curso de gravura do Instituto Municipal de Belas-Artes do Rio de Janeiro, no qual passou a lecionar. Em 1961, foi escolhido o melhor pintor nacional na 6a Bienal de São Paulo. Sua última obra foi Solidão. Ele morreu em 1994, em Porto Alegre (RS). Iberê Camargo. Sem título, 1946. Óleo sobre tela, 55,2 cm x 46,3 cm. Coleção Maria Coussirat Camargo, Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, Brasil. © F un da çã o Ib er ê Ca m ar go F ot o © F ab io d el R ev el ve re © A ch ut ti/ Fo lh ap re ss Arte – Unidade 4 73 Roy Lichtenstein nasceu em 27 de outubro de 1923, em Nova Iorque (EUA). Formou-se em artes, em 1946, pela Universidade de Ohio. Em 1956, realizou a litografia de uma nota de dólar que se tornou símbolo da obra de arte pop. Um de seus filhos apontou para um livro em quadrinhos do Mickey Mouse e disse: “Eu aposto que você não pode pintar
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