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M I N I S T É R I O D A E D U C A C Ã O E C U L T U R A C A M P A N H A NACIONAL DB EDUCAÇÃO DOS CEGOS A Campanha Nacional de Educação dos Cegos, órgão do Ministério da Educação e Cul tura d i r e t amen te subordi- nado ao Ministro de Es tado da Educação e Cul tura foi Instituído de acordo com os decretos n°s, 14.236, de l / 8 / 5 8 e 48.252, de. 31/5/60. para promover, no seu mais amplo sentido, a educação e a r eab i l i t a r ão dos deficientes visuais, de a m b o s os sexos, em Idade pré-escolar , escolar e adu l ta , em todo o te r r i tó r io nacional . P a r a cumpr i r seus objetivos, a C a m p a n h a Nacional de Educacão dos Cegos tem procurado oferecer condições téc- nicas. mate r ia l e f inanceira, a tendendo às necess idades e r ea l idades regionais , en t rando em conta to e co laborando com as o rgan izações pa r t i cu la res e oficiais de educação de cegos, já existentes no pais, estimulando novas iniciativas. onde se fizerem necessár ias , P rocu rando a t ing i r seus obje- tives, no mais curto espaço de tempo, promove as seguintes atividades : 1) Concessão de bolsas de estudos para treinamento de professores, ass i s ten tes sociais, psicólogos, técnicos em a t iv idades da vicia d iár ia , técnicos em locomoção fisiote- r a p e u t a s e t c , or iundos de todos os Estados do Brasil Profissionais assim preparados e esclarecidos, podem iniciar programas de educação e reabilitação de deficientes visuais, e desenvolver esforços, para modificar conceitos, r esu l t an tes dos estereót ipos sociais ligados à cegueira, a ju- dando, ass im, o deficiente visual a encon t ra r o seu lugar na sociedade. 2) Concessão de bolsas de reabilitação, com o objetivo de proporcionar a pessoa cega, as condições necessár ias de p r e p a r a ç ã o e o r i en tação para funcionamento no rma l na comunidade em que vive. 3) Realização e Participação em Congressos, simpó- sios, Encontros Regionais, Conferências com o objetivo de da r cont inuidade ao t raba lho desenvolvido pela Campanha Nacional de Educação dos Cegos, no sent ido de esclarecer as comunidades sobre o problema da cegueira e as possibi- l idades de educação e reabi l i tação dos seus por tadores , bem como, g a r a n t i r a a tua l i zação e in te rcâmbio de conhe- cimentos e exper iências dos técnicos, em exercício no campo da educação e reabi l i tação de deficientes visuais. 4) Distr ibuições de ma te r i a i s especiais p a r a uso de deficientes visuais , obje t ivando a p a r e l h a r dev idamente os serviços oficiais e pa r t i cu la res de educação especializada e proporc ionar ao educando melhores condições de a p r e n - dizagem. 5) Assistencia técnica às escolas residenciais e serviços oficiais e particulares, existentes no pais, no sentido de es t imulá- los ao preparo e à e laboração de p l ane jamen to adequado ao campo especial izado e fazer execu ta r pro- g r a m a s estabelecidos nos a r t igos 88 E 89 da Lei de Dire- t r izes e Bases da Educação Nacional . ti) Es tudos para e laboração de projetos de leis que ANAIS DO I CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO DE DEFICIENTES VISUAIS COMISSÃO DE REDAÇÃO PROF.11 JUREMA LUCY VENTURINI DR. JOSÉ RODRIGUES LOUZÃ CORRESPONDÊNCIA Ministério da Educação e Cultura Campanha Nacional de Educação dos Cegos Grupo de Trabalho Técnico em São Paulo Rua Dr. Diogo de Faria, 558 — Vila Clementino São Paulo — Brasil CAMPANHA NACIONAL DE EDUCAÇÃO DOS CEGOS MINISTÉRIO DA EDUCACÃO E CULTURA ANAIS DO I CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO DE DEFICIENTES VISUAIS DE 9 A 13 DE NOVEMBRO DE 1964 ANFITEATRO DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA SÃO PAULO BRASIL 1 9 6 6 Í N D I C E PREFÁCIO 7 COMISSÕES DO CONGRESSO 9 HOMENAGEADOS 11 PARTICIPANTES 13 Dia 9 de novembro SESSÃO DE ABERTURA: Comissão Executiva 18 Palavras do Dr. Zeferino Vaz, Presidente da Sessão 20 Palavras de D. Dorina de Gouvêa Nowill, Presidente da "O Lugar da Pessoa portadora de deficiências físicas e mentais na Sociedade" .— Dr. Antônio dos Santos Clemente Filho 25 l .a SESSÃO PLENÁRIA: "Progresso e necessidade da educação de cegos" — Profa. Luzia Lopes Lima 35 "Programa Educacional para atender às necessidades dos Deficientes Visuais" — Profa. Josefa Calazans da Cruz . . . 42 "Sorobã — Aparelho de cálculo para cegos" — Sr. Joaquim Lima de Moraes 48 2.a SESSÃO PLENÁRIA: "Formação de Pessoal" — Profa. Maria de Lourdes Gomes Guerra 56 "Determinação e Extensão do Problema da Cegueira no Brasil" — Dr. Maury Atanes 64 "Treinamento Sensorial, Educação e Reabilitação, em função da experiência sensível" — d. Mathilde Neder 68 Dia 11 de novembro 3.a SESSÃO PLENÁRIA: "Mobilidade e Locomoção" — Sylas Fernandes Maciel . . . . 80 "A Família como unidade bio-social. A Família e a Escola" — d. Nizia Lopes de Figueiredo 89 4.a SESSÃO PLENÁRIA: "Atividades Sociais para os educandos deficientes visuais" — prof. Flora Barro de Albuquerque 96 "Problemas Técnico-Formais e suas implicações na educação dos Deficientes Visuais" — Prof. Luiz Geraldo de Mattos .. 106 Dia 12 de novembro 5.a SESSÃO PLENÁRIA: "A Orientação Profissional de Educandos Deficientes Vi- suais Sr. Haroldo Pedreira 119 "O Instituto Perkins" — Dr. Edward Materhouse 129 Dia 13 de novembro 6.a SESSÃO PLENÁRIA: "Considerações sobre a educação dos retardados mentais portadores de Deficiência Visual" — Profa. Wanda Ciceone Pascboalick 135 "Considerações sobre educação de deficientes áudio-visuais" — Profa. Nice Tonhosi Saraiva 154 7.a SESSÃO PLENÁRIO: "A Importância da Avaliação dos Casos" — Mary Franklin de Andrade 167 "Legislação no Campo da Cegueira" — Profa. Dra. Nair Lemos Gonçalves 179 "A Educação do Público" — Prof. Silvino Coelho de Souza Netto 186 "Educação do Público em Geral" — Da. Sarah Couto César 189 "A Educação do Público" — Dr. Jairo Moraes 191 SESSÃO DE ENCERRAMENTO: Palavras do Prof. Dr. Flávio Supliey de Lacerda, Presidente da Comissão Executiva 197 Palavras da D. Dorina de Gouvêa Nowill, Presidente da Comissão Exesutiva 199 Palavras do Dr. Adhemar de Barros, D.D. Governador do Estado de São Paulo 202 Palavras do Prof. Dr. Flávio Supliey de Lacerda, Presi- dente da Comissão Executiva 204 PREFÁCIO Os Anais do I Congresso Brasileiro de Educação de Defi- cintes Visuais, realizado de 9 a 13 de novembro de 1964, na Capital do Estado de São Paulo e patrocinado pela Campanha Nacional de Educação dos Cegos, do Ministério da Educação e Cultura, reúnem todos os trabalhos apresentados pelos edu- cadores e técnicos. Esses representam o pensamento e por vezes, as atividades dos técnicos que presentemente militam no campo da educação de deficientes visuais. O conclave teve como objetivo oferecer aos professores e técnicos especializados, uma oportunidade para conhecerem as iniciativas ora em desenvolvimento em nosso país, através das organizações particulares e órgãos oficiais. Por outro lado já se fazia sentir a necessidade de uma troca de experiências e de um ensejo para que educadores de norte a sul pudessem expressar seus pensamentos e suas aspirações neste campo da, educação especializada. O Ministério da Educação e Cultura contou com a cola- boração integral dos diferentes Estados da União por inter- médio de suas organizações oficiais e particulares, assim como, dos educadores que participaram do conclave, quer pela apresentação de trabalhos quer pelo interesse demons- trado durante as sessões de discussão dos problemas inerentes à educação de deficientes visuais neste país. Através das discussões e trabalhos pudemos depreender que embora incipiente, a educação de cegos no Brasil já é uma realidade, ficando a sua implementação e desenvolvimento dependentesdos esforços e dinamismo dos educadores espe- cializados, presentemente vinculados a este ramo da educação. Os nossos agradecimentos às entidades cooperadoras, que não mediram esforços para o sucesso deste conclave. DORINA DE GOUVÊA NOWILL Diretora Executiva da Campanha Nacional de Educação dos Cegos I CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO DE DEFICIENTES VISUAIS PROMOVIDO PELA CAMPANHA NACIONAL DE EDUCAÇÃO DOS CEGOS MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA PRESIDENTE Sua Excelência Prof. Dr. Flávio Suplicy de Lacerda DD. Ministro da Educação e Cultura COMISSÃO EXECUTIVA Presidente: Dorina de Gouvêa Nowill Assessora Técnica: Luiza Banducci Isnard Vice-Presidente: Júlia Collet e Silva Edy Pinheiro Alves Dr. Jairo Moraes Secretária Geral: Teresinha Fleury de Oliveira Rossi l .a Secretária: Jurema Lucy Venturini 1.° Tesoureiro: Dr. Rogério Vieira 2.° Tesoureiro: Dr. José Rodrigues Louzã Divulgação e Relações Públicas: Roberto José Moreira Isnard ASSESSORIA DA COMISSÃO EXECUTIVA Dr. Rubens Belfort Mattos Luiza Banducci Isnard Maria Lúcia de Toledo Moraes Dra. Nair Lemos Gonçalves Dr. Armando de Arruda Novaes Rosa Florenzano Manoel da Costa Carnahyba ENTIDADES COOPERADORAS Instituto de Reabilitação da Universidade de São Paulo Fundação para o Livro do Cego no Brasil Federação Nacional das APAES Instituto Padre Chico Centro do Professorado Paulista Liga do Professorado Católico Associação Paulista de Medicina Lions Club Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo I CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO DE DEFICIENTES VISUAIS PROMOVIDO PELA CAMPANHA NACIONAL DE EDUCAÇÃO DOS CEGOS MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA COMISSÃO TÉCNICA Joel Martins Yone Krahembull Mathilde Neder Dolores Molina Munhoz Sylas Fernandes Maciel Thomazia Dirce Perez Lora Geralda Amaral de Moura Estevão Miriam Paiato COMISSÃO DE RECEPÇÃO E HOSPEDAGEM Coordenador: Maria Figueira Andrade Membros: Teresinha da Rosa Goulart Nylsa Sampaio Coelho Roberto José Moreira Isnard Cecília Maria Martinelli de Oliveira Maria Orgarita de Moraes Noêmia Pereira Neves Lucy Osório COMISSÃO SOCIAL Coordenador: Ângelo Margarido Membros: Rosa de Aquino Belfort Mattos Helena de Athayde Vasone Tarcylla de Andrade Novaes Maria Carolina Pinto Coelho Carvalho Olímpia Ana Sant'Ana Sawaya Dr. José Manoel Monteiro de Gouvêa Elza Corrêa Granja Teresinha Von Zuben Maria Luiza Sanchez da Costa Rosa Helena Affonso dos Santos Guiomar Costa Manso Ceneide Maria de Oliveira Cerveny EXPOSIÇÃO TÉCNICA Coordenador: Regina Pirajá da Silva Membros: Maria Stella Zullo Lourdes Martins Isabel Calazans de Cruz Norma da Silva Monteiro Inês Rossi Câmara HOMENAGEADOS Sua Excelência Senhor Mal. HUMBERTO DE ALENCAR CASTELO BRANCO DD. Presidente da República Sua Excelência Senhor D. ANTONIO MARIA ALVES SIQUEIRA Arcebispo Vigário Capitular da Arquidiocese de São Paulo Sua Excelência Senhor DR. AURO SOARES DE MOURA ANDRADE D.D. Presidente do Senado Federal Sua Excelência Senhor DR. PASCOAL RANIERI MAZILLI D.D. Presidente da Câmara Federal Sua Excelência Senhor DR. RAIMUNDO DE BRITO D.D. Ministro da Saúde Sua Excelência Senhor DR. ADHEMAR PEREIRA DE BARROS D.D. Governador do Estado de São Paulo Sua Excelência Senhor DR. CYRO DE ALBUQUERQUE D.D. Presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo Sua Excelência Senhor DR. FRANCISCO PRESTES MAIA D.D. Prefeito da Capital Sua Excelência Senhor Gal. AMAURY KRUEL D.D.Comandante do 2.° Exército Sua Excelência Senhor DR. LUIZ ANTONIO DA GAMA E SILVA Magnífico Reitor da Universidade de São Paulo Sua Excelência Senhor DR. OSVALDO ARANHA BANDEIRA DE MELLO Magnífico Reitor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Sua Excelência Senhor DR. ZEFERINO VAZ D.D. Presidente do Conselho Estadual de Educação Sua Excelência Senhor DR. JOSÉ CARLOS DE ATALIBA NOGUEIRA D.D. Secretário de Estado dos Negócios da Educação Sua Excelência Senhor DR. JOSÉ SALVADOR JULIANELLI D.D. Secretário da Saúde e Assistência Pública do Estado Sua Excelência Senhor DR. LUIZ DOMINGUES DE CASTRO D.D. Presidente da Câmara Municipal de São Paulo Sua Excelência Senhor DR. CARLOS DE ANDRADE RIZZINI D.D. Secretário da Educação e Cultura da Prefeitura de São Paulo Sua Excelência Senhor DR. SEBASTIÃO SAYAGO LAET D.D. Secretário da Higiene da Prefeitura de São Paulo Sua Excelência Senhor DR. EDWARD WATHERHOUSE D.D. Presidente da Conferência Internacional de Educadores de Jovens Cegos Sua Excelência Senhor DR. ERIC T. BOULTER D.D. Presidente do Conselho Mundial para o Bem Estar dos Cegos PARTICIPANTES BAHIA Ana Maria Rodrigues de Castro — Bolsista CNEC PARA Nazaré Leão — Escola José Alvares de Azevedo BRASÍLIA Aracy Vaillatti Mafra — Superintendência Departamento de Educação Maria do Rosário Penedo — Superintendência Departamento de Educação Pia Ignez Pieri — Secretária da Educação da Prefeitura do Distrito Federal Moema de Almeida Andrade — Secretária da Educação da Prefeitura do Distrito Federal Ezilda Teresa R. Pereira — Ensino Médio do Distrito Federal Verônica dos Santos Lamosa — Ensino Médio do Distrito Federal GUANABARA Dirce Ferreira da Cunha Pires — Instituto Oscar Clark Yacy de Oliveira Nery — Departamento de Educação Primária Lygia Costa de Menezes — Departamento de Educação Primária Altair Barbosa Ferreira — Cruzada de Recuperação e Assistência aos Cegos Fluminenses Marialva Feijó Frazão — Departamento de Educação Primária Elisionete S. Lima Cajazeira — Instituto Oscar Clark Wanda Rodrigues Maio — Instituto Oscar Clark Thomaz Bernardo Costa Filho — Instituto Oscar Clark Luiz Antônio Milleccof — Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille Rosa Abi Ramia Haddock Lobo — Governo do Estado do Rio Irmã Maria das Graças — Sodalício da Sacra Família Irmã Maria da Apresentação — Sodalício da Sacra Família Carlos Coelho Lousada — Conselho Estadual para o Bem-Estar dos Cegos Waldemar Pinto Ferro — Instituto Oscar Clark Francisco José da Silva — Associação Brasileira de Professores de Cegos e Amblíopes MATO GROSSO Cristino P. Barbosa — Instituto Mato Grossense para Cegos Nazareth Pereira Mendes — Instituto Mato Grossense para Cegos Maria Garcia Pereira — Instituto Mato Grossense para Cegos MINAIS GERAIS Virgínia Amanda Lage — Hospital Carlos Chagas Anita M. da Cunha — Secretaria da Educação Naly Burnier Pessoa de Melo Coelho — Instituto São Rafael Maria Mercês Marques Almeida — Instituto São Rafael Ambrosina Viotti Azevedo — Instituto São Rafael Edith de Abreu Souza — Instituto São Rafael Dalva Guido Fernandes — Instituto de Cegos Brasil Central Aparecida Garcia — Instituto de Cegos Brasil Central Efigênia Elias Vidigal — Secretaria da Educação Maria das Mercês Fonseca — Secretaria da Educação Ruth Soares Ferreira — Secretaria da Educação Irmã Margarida Maria Soares — Colégio Imaculada Conceição Irmã Catarina Mourão — Colégio Imaculada Conceição PARANÁ Eliza Maria Annunziatto — Instituto Luiz Braille Dalcio Annunziatto — Centro de Reabilitação Luiz Braille Tenente José Almeida — Centro de Reabilitação Luiz Braille Brasílio Starepravo — Centro de Reabilitação Luiz Braille PERNAMBUCO Maria José Carneiro — Instituto de Cegos do Recife Maria Clivia Calábria — Bolsista CNEC RIO GRANDE DO SUL Nilton Monti — APAE Iula Herve — Instituto Santa Luzia Getulio Vargas Zauza — Instituto Santa Luzia Irmã Helena Barbosa — Instituto Santa Luzia Irmã Rosa Catharina Carollo — Instituto Santa Luzia Susana Costa — SOEE — Centro de Reabilitação Walquirio Ughini Bertoldo — E .R .G .C . Nélida Rosa Zorzan — Escola Antonio Francisco Lisboa Haidée C.Zorzan — Escola Antônio Francisco Lisboa Wilma Portuguez Kortz — Escola Antônio Francisco Lisboa Eclair Silveira — Bolsista CNEC Marlene Oliveira Ramos — Bolsista CNEC RIO DE JANEIRO Dalka Viena de Moraes Admar Augusto de Mattos — Associação Fluminense de Amparo aos Cegos Ana Regina Abi Ramia Pereira — Classe Especializada Solange Ribeiro do Rosário — Cruzada de Recuperação e Assistência aos Cegos Fluminenses Violeta de Saldanha da Gama — Cruzada de Recuperação e Assistência aos Cegos Fluminenses SANTA CATARINA Therezinha Seleme — Ginásio Estadual Almirante Barroso lolanda Pieczarka — Ginásio Estadual Almirante Barroso Ana Augusta Correira — Bolsista CNEC Teresinha Darci Gevaerd — Bolsista CNEC SÃO PAULO Maria Conceição S. Lima — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Ester Macedo — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Kiyoe Okamoto — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Jairo de B. Freire — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Fernanda Teixeira de Camargo — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Ivone Marilene Antonio — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Elisa Toma — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Keiko Tanagaki — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Noêmia Rezende de A. Ramos — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Regina Maria Ignarra — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Marlene P. Rodrigues Silva — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Margot C. P. de Barros Souza — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Maria Lúcia Telles de Siqueira — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Maria Luiza de Oliveira Lima — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Victalina Ribeiro Manrique — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Ana Carmelita Ferreira — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Norica Saito — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Maria Elisa de Oliveira Geribelo — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Maria José Savi Massaini — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Lucy Reinert — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Yvone Pranuvi — Fundação para o Livro do Cego no Brasil José Ferreira Martins Júnior — Associação dos Cegos de Ribeirão Preto Dolores Munhoz Dini — Associação dos Cegos de Ribeirão Preto e Escolas para Cegos Helen Keller Clotilde Pinto Miranda — Instituto Caetano de Campos Wilma Pires de Miranda — Instituto Caetano de Campos Atilio João Fumo — Lions Club de São Paulo — Penha Dr. Marcos Zlochevski — Lions Club de São Paulo — Pacaembú Francisco D'Alvia — Lions Club de São Paulo — Santo Amaro Marilda Bossi — Biblioteca Infantil Municipal Maria Cecília — de C. Ferraz — Biblioteca Infantil Municipal Maria Aparecida Bianco — Secretaria de Educação Maria do Carmo Ayres — Secretaria da Educação Nely Garcia — Delegacia de Ensino Santo André Dr. Antonio dos Santos Clemente — Federação das APAES Yara de Oliveira Celentano — APAE Aída Moreira Estrazulas — APAE Ignez Aos. Enfeldt — APAE de Jundiaí Azaury da Cruz Tiriba — Lar das Moças Cegas Rosette Nazareth Oliva — Lar das Moças Cegas Maria Helena Nolf — Lar das Moças Cegas Elisa da Silva Leme — Instituto Padre Chico Pedrina Sampaio Silveira — Instituto Padre Chico Terezinha Silva Malta — Instituto Padre Chico Luzia Aparecida Daniel — Instituto Padre Chico Marina Pimentel de Mello — Instituto Padre Chico Maria Ribeiro Magalhães — Instituto Padre Chico Irmã Apoline Camargo — Instituto Padre Chico Irmã Teresa Pontes — Instituto Padre Chico Daisy Maria Belfort Fúria — Instituto Padre Chico Helena Augusta de Souza Mello — Instituto Padre Chico Elza Silveira — Instituto Padre Chico Isabel Teresa Guimarães Alves — Instituto Padre Chico Yone Krahenbuhl — Instituto Padre Chico Iida Victória T. N. Lima — Instituto Padre Chico Hortência Almeida de Carvalho — Instituto Padre Chico Sylvia Rodrigues Teixeira — Instituto Padre Chico Mariza Delia Santa — Instituto Padre Chico Olenka Reda Macedo Pio — Instituto Padre Chico Luci Osório Torres — Instituto Padre Chico Vera Alice Carvalho Martins — Instituto Padre Chico Célia Narciso Gomes — Instituto Padre Chico Maria José Conrado Pereira Thereza Adelina B. Tavares — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Ercilia G. Ferraz Thereza Ablas Sandoval de Andrade Orlando Cândido de Mello Cinira Roca Dordal Maria Isabel F. Santos Arisla Claudete dos Santos — Curso de Especialização Luzia Ciscato — Instituto Padre Chico Teresa Elisabee Ceccarelli — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Dr. Álvaro de Figueira F. de Siqueira Dr. Osvaldo Badeto Campanari Ruh Maeralhíes Ferreira — Fundação para o livro do Cego no Brasil Rubens Frada Deinze Apparecida Cizotto — Fundação para o Livro do Cego no Brasil Severina Arcuri — Instituto Profissional Paulista para Moças Cegas Angelina De Lucca Souza — Instituto Profissional Paulista para Moças Cegas Carlos Souza — Sociedade Organizadora de Trabalhos para Cegos Therezinha Baungartner — Instituto de Puericultura Helena Lavander — Instituto de Reabilitação Ester Jorge — Curso de Especialização no Ensino de Cegos Anary Gomes Morgan — G. E. Amenaide Braga de Queiroz Deusiana Dias Bicalho — G. E. Prof.a Inah Mello Maria Heloísa de Sousa Mello — G. E. Prof.ª Inah Mello Adalgisa Therezinha J. Matta — G. E. Prof.ª Inah Mello Julha Nakamura — G. E. Rural Alberto Torres Eliana Barreta Saad — G. E. Rural Cel. Guido Junqueira Cristina Midori Yamaga — G. E. Cel. Joaquim José Marlene Bicha — 1a Un. Cl. Esp. para crianças Defeituosas Rute Savastano — Lar Escola São Francisco Vera Maria Leite de Souza — Prefeitura Municipal de Santos Anna Lazzati — Instituto de Reabilitação do Hospital das Clínicas Anibal Sandano — SENAI Geraldo Sandoval de Andrade — SENAI Bartley Patrick Gordon — Embaixador da U .S .A. SERGIPE José Sobral — Centro de Reabilitação "Ninota Garcia" ARGENTINA Ema M. C. de Chavanne — Instit. Chaqueiro para Cegos Maria Angela Gracia de Bassi — Inst. Chaqueiro para Ciegos Dora I. Saavedra — Pres. do 1o Centro de Copistas PORTUGAL Ana Maria Bernard Costa — Centro Helen Keller — Lisboa Maria Lucilia Freitas Lopes do Rego — Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos URUGUAI Isabel Arruza Aguirre — Escuela Residencial de Ciegos y Amblíopes Maria Antonia Mintegui de Olhagaray — Escuela Residencial de Ciegos y Ambliopes SEGUNDA FEIRA, 9 DE NOVEMBRO DE 1964. 20,30 HORAS. SESSÃO SOLENE DE ABERTURA Prof.a DORINA GOUVÊA NOWILL. Presidente da Co- missão Executiva do Congresso: "Sras. e Srs. temos a grata satisfação de declarar aberto o I Congresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais. Passaremos agora, à composição da mesa que dirigirá os trabalhos desta noite: of. Dr. Zeferino Vaz, Magnífico Reitor da Universidade de Brasília e Presidente do Conselho Estadual de Educação de São Paulo; Dr. Edson Raymundo Pinheiro de Souza Franco, Secretário da Educação do Estado do Pará; Dr. Edward Waterhouse, Presidente da Conferência Interna- cional de Educadores de Jovens Cegos e Diretor da Perkins School for the Blind; Dr. Rogério Vieira, membro da Comissão de Campanha Nacional de Educação dos Cegos do Ministério da Educação e Cultura; Sr. Roberto Isnard, membro da Comissão da Campanha Nacional de Educação dos Cegos do Ministério da Educação e Cultura; Dr. Jairo de Moraes, Diretor do Instituto Benjamin Constant do Ministério da Educação e Cultura; Dr. Agenor Prado Moreira, Chefe de Gabinete de Sua Excia, o Sr. Governador do Estado de São Paulo; D .D . Repre- sentante do Exmo. Sr. Comandante do 2.° Exército; D.D. Represen- tante do Magnífico Reitor da Universidade de São Paulo; D .D . Representante de Sua Excia, o Secretário do Trabalho Indústria e Comércio do Estado de São Paulo; D . D . Representante de Sua Excia, o Secretário da Justiça e Negóciosdo Interior; D.D. Representante do Sr. Diretor Geral do D .E .A; D.D. Representante do Diretor Geral do Departamento de Educação do Estado de São Paulo; D.D. Represen- tante do Sr. Diretor do Serviço de Higiene Mental da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo; Revmo. Pe. Corbeil, membro do Con- selho Estadual de Educação do Estado de São Paulo; D . D . Repre- sentante do Exmo. Sr. Secretário de Educação do Estado de Mato Grosso; D. Edy Pinheiro Alves, Diretora do Setor de Educação de Excepcionais da Secretaria de Estado de Educação e Cultura da Gua- nabara; Da. Júlia Collet e Silva, Presidente do Instituto para Cegos Padre Chico, de São Paulo; Dr. José Rodrigues Louzã, Médico-Assistente Administrativo do Instituto de Reabilitação da Universidade de São Paulo; Dr. Antônio dos Santos Clemente Filho, Presidente da Federa- ção Nacional das APAES, Diretor Executivo da Campanha Nacional do Educação e Reabilitação dos Deficitários Mentais e nosso orador desta noite." (Execução do Hino Nacional Brasileiro pela Banda da Guarda Civil de São Paulo). Prof.a Dorina de Gouvêa Nowill: "Sras. e Srs., autoridades presentes, antes de passar a presidência dos trabalhos ao Magnífico Reitor da Universi- dade de Brasília, que hoje nos honra com a sua presença, que me seja permitido, como presidente da Comissão Executiva do I Congresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais. dirigir nesta noite uma saudação entusiasta e carinhosa, pela contribuição, que a presença de todos os senhores traz nesta noite a este Congresso, e seguramente trará para o desenvol- vimento e o progresso da Educação de Cegos em todo Brasil. A Campanha Nacional de Educação dos Cegos, que patrocina este Congresso, há três anos, vem estendendo todos os seus esforços, a todas as regiões do país, procurando, estimular novos serviços e incrementar os serviços de educação de defi- cientes visuais existentes. Notamos, porém, que se fazia ne- cessária uma tomada de consciência do que existe em todo o Território Nacional em prol da educação de cegos. Precisáva- mos encontrarmo-nos educadores, técnicos e todos aqueles que trabalham na educação e na reabilitação de cegos, neste país imenso e que por vezes encontramos inúmeras dificuldades, para através do nosso intercâmbio, trocar experiências em favor do desenvolvimento dos programas existentes. Esta foi a razão pela qual convocamos o Congresso, que hoje os senho- res vêm abrilhantar. Piratininga, tocou a reunir, e o Brasil respondeu presente. Do Pará aos Pampas, da Lagoa do Abaeté até Cuiabá, todos aqui estão, representando os serviços existentes no Brasil e o desejo imenso de todos, de que os nossos serviços possam progredir e satisfazer as necessidades da educação de cegos. Em nome dos educadores paulistas, de coração aberto, srs. Congressistas, a nossa saudação: que nosso trabalho seja profícuo, que tenhamos em mente o "slogan" deste Congresso: "Educar é promover" — Promo- ver recursos para a educação e a reabilitação daqueles para os quais destinamos todos os esforços e serviços; educar é elevar, educar sim, é elevar os educandos: elevar o homem para que possa atingir o fim sublime para o qual foi criado; e educar srs. Congressistas é acima de tudo libertar, libertar a infância e a juventude, dos preconceitos e das contingências que lhe impedem a realização integral; educar é libertar, a inteligência da obscuridade, da inércia e da ignorância; e, educar srs., é sim, para nós educadores, libertar o espírito para que através do amor aos nossos semelhantes, possamos nós deslumbrar à grandeza de Deus. Finalmente, tenho a satisfação de passar a presidência dos trabalhos ao Prof. Dr. Zeferino Vaz." Prof. Dr. Zeferino Vaz: "Exma. Sra. D. Dorina de Gouvêa Nowill, ilustre presi- dente da Comissão Executiva do I Congresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais; Exmo. Sr. Prof. Edson Raymundo Pinheiro de Souza Franco. D.D. Secretário da Educação do Estado do Pará, cuja presença entre nós, sobre- modo nos honra; Exmo. Prof. Agenor Prado Moreira. Chefe de Gabinete de Sua Excia. Sr. Governador do Estado de São Paulo e que representa o Sr. Governador do Estado neste Congresso, lamentando Sua Excia, o Sr. Governador não estar presente como desejava ardentemente, porque por motivos de ordem protocolar, deve estar esta noite em palácio: Exmo. Sr. Coronel João Batista Pereira, D.D. Representante do Sr. General de Exército Amaury Kruell, comandante do 2.° Exército; Exmo. Sr. Dr. Edward Waterhouse; demais com- ponentes da mesa; Exmas. Sras. e meus Senhores: O Presi- dente do Conselho Estadual de Educação do Estado de São Paulo deseja, antes do mais, agradecer a honra imerecida. que lhe conferiu a Presidente da Comissão Executiva deste Congresso, oferecendo-lhe a presidência desta sessão solene de abertura. Devo inicialmente confessar que me sinto pos- suído da mais intensa humildade ao ver, que pessoas excep- cionalmente bem dotadas de alma, entenderam de dedicar a sua vida ao trabalho de reabilitação funcional, daqueles que não possuem esse dom precioso que é a visão. Sinto-me to- mado da mais intensa humildade, e quero afirmar-vos que guardarei a lembrança desta noite, como de um dia inesque- cível da minha vida. Falo-vos não apenas como Presidente do Conselho Estadual de Educação, profundamente interessa- do, em todos os problemas de reabilitação funcional e psico- lógica de todos, de todos aqueles, que tem deficiências físicas ou que têm deficiências de ordem mental ou espiritual. E falo-vos também na qualidade de médico, médico que se sente orgulhoso de ter sido o pioneiro no estabelecimento de um nôvo tipo de educação médica, e da formação de médicos que não tenham apenas a mentalidade, que se desenvolveu até agora na educação médica, de que o médico há de cuidar de um momento da doença, do momento clínico da doença. Mas estabeleceu o Instituto de Educação Médica, pelo qual se de- senvolve e se incute nos jovens estudantes, que a função do médico, é conhecer antes, como se desenvolve a doença até o momento clínico, para que entenda o que é prevenção verda- deiramente, e que, depois do momento clínico, se preocupe com a terceira fase, a reabilitação, a readaptação do indivíduo que adquiriu qualquer tipo de deficiência, seja ela de visão, seja de locomoção, seja ela da respiração ou seja ela, defi- ciência pior do que estas físicas as deficiências psíquicas, as deficiências psicológicas, aquelas que são capazes de trans- formar o homem num dependente, dependência que o deprime, dependência que o degrada, dependência que o entristece, dependência que o leva ao sofrimento. Este I Congresso de Educação de Deficientes Visuais é como primeiro Congresso, uma chamada de consciência da nacionalidade, para a exis- tência de um problema grave, do problema de dar ao defi- ciente visual uma função e uma utilidade, para que ele se sinta capaz de progredir, para que ele se sinta capaz de ser útil e não apenas um dependente. E os votos que faço agora como educador é que Congressos deste tipo, se realizem, se concretizem, e daí se tirem medidas práticas para todos os tipos de deficiências. A deficiência da visão é aquela, que talvez, chame mais a atenção, é talvez a mais gritante, mas, há muitas outras, muitas outras talvez mais graves. Eu estou me lembrando de um indivíduo que adquiriu a lepra, por exemplo, e que fica estigmatizado, ainda depois de curado, clinicamente, bateriològicamente. Estigmatizado pela socie- dade e pior do que isso, estigmatizado na própria alma. Re- cuperar este homem para o trabalho, recuperar este homem para sentir-se útil e capaz de dar de si, porque cada um de nós só se realiza e sente satisfação profunda, quando é capaz de dar de si, um pouco para os demais. E eu me sinto hu- milde, quando vejo deficientes visuais, não apenasreabilita- dos, mas trabalhando intensamente, ardorosamente, com toda a alma, no sentido de sentir, no sentido de ver se estender a outros deficientes, aquele espírito, aquela satisfação interior profunda daqueles que são capazes de dar de si, daqueles que são capazes de realizar a caridade, não a caridade de dar pecúlia, muito mais do que isso, a caridade no sentido alto que lhe deu São Paulo, na epístola aos Coríntios, a caridade de dar de sua alma, a caridade de dar de seu sangue, a cari- dade de dar de seu coração, fazendo algo em benefício de alguém. Quero desejar ardentemente, que deste primeiro Congresso saia um grito de alarma, uma tomada de consciên- cia, para que os podêres públicos, para que os educadores, para que os responsáveis pela saúde pública, prestem atenção, não apenas à educação dos deficientes visuais, mas sobretudo, para que numa campanha de profilaxia, promovam o levan- tamento das deficiências visuais tão freqüentes nas nossas crianças. Quantas e quantas crianças neste país, tem defei- tos e deficiências visuais, de que não têm consciência, porque não sabem o que é a visão normal. Compete aos educadores, associados com os homens da saúde, promover uma campanha de levantamento dessas deficiências visuais, em grande nú- mero de casos facilmente corrigíveis, defeitos ortóticos de fácil correção e que quando não corrigidos podem conduzir à perda irreparável da visão. Que desse primeiro Congresso. saia o grito de alarma, que desperte a consciência de gove- nantes e governados, de educadores e de homens de saúde. E ao encerrar as minhas palavras quero cumprimentar viva- mente os organizadores deste primeiro Congresso, desejan- do-lhes um trabalho profícuo e útil, que reverterá em bene- fício da nossa pátria. Agora vou solicitar a secretária que proceda a leitura dos telegramas e mensagens enviadas ao Congresso". Secretária Geral: "Recebemos as seguintes mensagens enviadas para o I Congresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais: Sou muito grato pelo convite que me foi enviado para a sessão solene de abertura deste Congresso formulando os votos revista todo o êxito, realização con- clave. a) Ranieri Mazzilli, Presidente da Câmara Federal; Ao I Con- gresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais, no momento em que na Capital do Estado de São Paulo se instala o I Congresso Bra- sileiro de Educação de Deficientes Visuais, quero manifestar em nome do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, não só o mais caloroso aplauso a esta iniciativa, como ainda os votos mais sinceros de que os trabalhos deste Congresso produzam os resultados que almejam quantos se interessam pelo desenvolvimento pessoal dos deficientes visuais e pela sua perfeita integração na vida social. Deve merecer em verdade apoio decidido tanto do poder público como das entidades privadas e de todos quanto possuem sensibilidades para os grandes problemas humanos, a questão concernente ao amparo de que são credores os deficientes visuais. É preciso para isso incentivar o esta- belecimento de programas e sistemas educacionais que confiram aos deficientes visuais condições para serem úteis a si mesmos, às suas famílias e à sociedade. Mediante providência adequada, poderão eles ser integrados de tal forma na vida social que aí se sentirão a vontade, pois, não figuraram como dependentes dela, na qualidade de benefi- ciários de favores, mas como participantes no desempenho do encargo que lhes fôr confiado, da tarefa comum de contribuir para o bem estar geral. Estou certo assim, de que o I Congresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais marcará em nosso país nova etapa na Campanha Nacional de Educação dos Cegos, estando fadada a produzir os frutos que todos nós governantes e governados, ardentemente esperamos. Porto Alegre, 9 de novembro de 1964. a) Francisco Solano Borges, Governador do Estado em exercício — Porto Alegre — Rio Grande do Sul; Em nome do Sr. Governador tendo a satisfação de acusar o recebimento de seu expediente datado de 7 de outubro do corrente ano, via do qual sua ilustre presidente endereçou ao Sr. Governador convite para participar da solenidade de abertura do Congresso da Campanha Nacional de Educação dos Cegos a ser realizado em São Paulo no dia 9 de novembro próximo na Associação Paulista de Me- dicina às 20:30 horas. O governador por intermédio desta secretaria agradece a gentileza do convite o qual foi encaminhado à Secretaria de Educação e Cultura de Goiás para os devidos fins. Nesta oportu- nidade renovo a V. Excia, os protestos de minha real estima e apreço, as) José Cizenando Jayme, Secretário Particular — Goiânia — Goiás; Agradecendo o gentil convite para participar do importante conclave apresento dignos organizadores do I Congresso Brasileiro de Educação de Deficiente Visuais cumprimentos mui cordiais, certeza mesmo rever- tir-se-á grande brilho, bem como, terá resultados úteis e compensa- dores: a) Ozair Motta Marcondes, Deputado Estadual — São Paulo — São Paulo; Pelo presente venho expressar os meus agradecimentos pelo amável convite para assistir a sessão solene de abertura do I Con- gresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais que será realizado de 9 a 13 do corrente ao mesmo tempo formular votos de êxito no desenrolar do referido conclave. Aproveito a oportunidade para apre- sentar a V . S . os meus protestos de distinta consideração e elevado apreço: as) Otávio Braga — Gabinete do Prefeito — São Paulo; Venho pela presente agradecer o convite de V .S . para participar do I Con- gresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais. Lamento pro- fundamente que devido aos compromissos assumidos anteriormente e apesar de grande interesse que teria, não será possível assistir ao Congresso, tendo a UNESCO dois peritos em educação trabalhando junto ao Centro de Pesquisa Educacionais de São Paulo, estudarei com eles a possibilidade de representarem a organização na sessão de abertura estarei sempre interessado em receber as resoluções e recomendações tomadas pelo Congresso, bem como outros documentos relativos ao assunto. Aqui permaneço ao inteiro dispor de V.Sa. e aproveito a oportunidade para enviar minhas mais cordiais saudações: a) Pierre Henquet, Chefe da Missão da UNESCO no Brasil: Sra. Presidente, em nome do Sr. Dr. Germano Jardim, diretor deste Escritório Organização dos Estados Americanos, Escritório Regional da União Panamericana, que ora se encontra ausente do país em objetivo de serviço é me grato acusar o recebimento do seu ofício SP 606/64 de 29/9 próximo passado, referente a realização nesta Capital no período de 9 a 13 de novemhro próximo vindouro do I Congresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais. Agradeço-lhe ao mesmo tempo o convite que teve a gentileza de transmitir ao diretor do escritório o qual lhe dispensará a merecida atenção quando de seu regresso ao Brasil. Valho-me do ensejo para renovar-lhe as expressões do meu elevado apreço: as) Valdemar Lopes, Diretor Adjunto da Organização dos Estados Americanos. Recebemos ainda, moções, telegramas e congra- tulações de Da. Helena Dias Carneiro, da Sociedade Pestalozzi do Rio de Janeiro; do Sr. Inácio Satustregue, diretor da Organização Nacional de Cegos de Espanha Ministério da la Governation; de Maria Teresa Túlio, Superintendente do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, do Ministério de Saúde e Assistência. Lisboa; de Maria Anto- nieta Taeschiler, Representante da American Foundation for Overseas Blind em Santiago — Chile. Luiz Pirega Gimenez, diretor do Insti- tuto Nacional de Cegos — Peru — Lima; Deputado Juvenal Rodrigues de Moraes — Secretário do Governo do Estado de São Paulo; Aminésio V. da Silva — Serviço de Orientação e Educação Especial da Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul; Prof. Godoy Moreira, diretor do Instituto de Reabilitaçãoda Universidade de São Paulo; Instituto de Cegos da Paraíba "Adalgisa Cunha"; Dr. Renato da Costa Bonfim; Dr. Richard Kanner e do Gerente do Departamento de Capacitacione e Seguritad Industrial Cordoba. Acabamos de receber também, uma carta do sr. Adido Cultural Adjunto da Embaixada dos Estados Unidos da América do Norte, que infelizmente, devido a compromissos inadiáveis, o Sr. Embaixador Lincoln Gordon não poderá comparecer a cerimônia, no entanto, ele faz votos de completo êxito ao I Congresso." Prof. Dr. Zeferino Vaz: "Vou ter agora a grata satisfação de oferecer a palavra ao Dr. Edward Waterhouse, presidente da Conferência Inter- nacional de Educadores de Jovens Cegos. Prof.a Dorina de Gouvêa Nowill: Eu tentarei interpretar Dr. Waterhouse, e ele diz que lhe foi solicitado dizer algumas palavras e ele vai começar pelo que os srs. ouvirão. Dr. Edward Waterhouse: "É uma grande honra estar representando, não apenas, a mais antiga escola de cegos- dos Estados Unidos, fundada em 1829, mas também a Conferência Internacional de Educado- res de Jovens Cegos, que tem doze anos de vida. O mundo parece estar despertando repentinamente, para tomar cons- ciência do que as pessoas deficientes podem realizar. Este é o século em que estamos aprendendo a colaborar. Sei que há, aqui esta noite, representantes de várias organizações particulares, representantes de governos e serviços governa- mentais, e eu espero que tenhamos uma excelente semana de trabalho, e estou muito orgulhoso de aqui estar com os se- nhores." Prof. Dr. Zeferino Vaz: "Muito obrigado Dr. Edward Waterhouse. E agora tenho a honra de dar a palavra ao meu caro e eminente colega Dr. Antônio dos Santos Clemente Filho que é Presidente da Federação Nacional da Associação de Pais e Amigos de Excepcionais e Diretor Executivo da Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficitários Mentaisr do Ministério da Educação e Cultura. A conferência versará sobre o tema "O lugar da pessoa portadora de deficiência físicas e mentais na sociedade". Tem a palavra o Dr. Antônio Clemente Filho". O LUGAR DA P E S S O A PORTADORA DE DEFI CIÊNCIAS FÍSICAS E MENTAIS NA SOCIEDADE DR. ANTÔNIO DOS SANTOS CLEMENTE FILHO (Presidente da Federação Nacional das APAES, Diretor Executivo da Campanha Nacional de Educação e Reabili- tação dos Deficitários Mentais). "Srs. representantes das autoridades, srs. componentes da mesa, srs. congressistas, que aqui vieram, acorrendo de vários pontos do país, enfrentando dificuldades de toda ordem. as menores das quais não são sem dúvidas, a distância e o abandono de outros afazeres. Eu os saúdo. Falando a pessoas que têm por aspiração e tarefa, a reabilitação de deficientes visuais, parece-me que nada poderia ser mais importante que responder a estas perguntas. Para que desenvolver ao máxi- mo a capacidade de suplência do sentido ou aptidão que foi negado ao deficiente? Com que objetivo fazê-lo? que destino deverá ele forjar com esta capacidade que nós lhe recuperar- mos? por que posto deverá ele lutar dentro da sociedade? Todos quantos participam da responsabilidade de fixar pro- gramas de reabilitação, sabem como é importante esta ques- tão. Nós preparamos os deficientes, sejam sensoriais, men- tais ou do aparelho locomotor, para integrá-los na sociedade, mas em que grau de integração, até que ponto serão eles aceitos pela sociedade? Como tem afinal a sociedade rece- bido os deficientes? Quando a humanidade se abrigava em cavernas, que tinham apenas coberto o forro, eliminava os seus deficientes tão logo os percebia. Esta conduta que eufe- misticamente poderíamos chamar de eugênica, ainda se en- contra em todas as sociedades primitivas. Menos fácil de se entender é no entanto, que a antigüidade clássica, e em espe- cial a civilização greco-romana. eliminasse da mesma forma os deficientes, inspirada agora pelo ideal de perfeição. Homero. se Homero, realmente existiu, foi uma feliz excessão a esta regra, a mais notória entre outras excessões que a história registra. O desenvolvimento dos sentimentos religiosos, pouco melhorou a sorte dos deficientes, pois, a ignorância impediu que a sua integração social se processasse, e continuava como regra a sua marginalidade absoluta dentro da sociedade. A renascença viu florecer um renovado interesse na figura hu- mana, e agora já despido do ideal de perfeição clássica, de tal forma que o deficiente começa a aparecer nos documentos da humanidade, embora é claro desconheçam representações anteriores. São também mais numerosos os exemplos de defi- cientes físicos, que conquistam lugares de destaque, vencendo a marginalização que a sociedade lhes impõe. Não se pode dizer que a sociedade aceitava esses deficientes, antes reco- nhecia aqueles que a duras penas impunham à sociedade este reconhecimento. Seria o caso de lembrarmos, por exemplo, Milton e outros grandes, grandes com G maiúsculo com todas as letras maiúsculas, privados do sentido da visão, e que ajudaram a escrever a história desse período do renascimento dos conhecimentos. Os séculos posteriores que se designam por idade moderna, viram crescer o interesse pelos deficientes físicos e mentais, e as primeiras tentativas de reabilitação. Mas ainda no fim deste período que atinge os primeiros anos do século vinte, a tônica de todos os programas de reabilita- ção, era antes a segregação dos deficientes, numa tentativa que não sabemos se pretendia proteger, antes o deficiente, ou proteger a sociedade contra o deficiente. No caso específico dos deficientes visuais, os progressos no sentido da total acei- tação social, foram muito sensíveis nesse período. A reabili- tação ganhou forma de cidadania e a educação especial foi em muitos países tornada obrigatória, mas o progresso não foi geral e outros grupos de deficientes, os auditivos, os do aparelho locomotor, e o grupo maior dos deficientes mentais, continuaram marginalizados. Mas até que ponto esses defi- cientes reabilitados, eram aceitos na sociedade? até que ponto se integravam, abriam caminho, ombreavam com os mais afortunados chamados normais? É um caminho longo e ár- duo. O esforço despendido não está nunca na proporção dos resultados obtidos, mas pouco a pouco, ganha o direito, ganha a voz para exigir os direitos que são inerentes a todas as pessoas humanas, pouco a pouco se desperta a consciência social, e se admite a participação dos deficientes na sociedade. Lutamos pela integração. Que o deficiente faça parte do com- plexo social, com os encargos e privilégios, que disso advém aproveitando ao máximo a sua capacidade, desenvolvida por métodos que a sociedade tem obrigação de fornecer. É preci- so que o deficiente integre a sociedade, que ela dependa do seu trabalho, como ele depende dela. Que o esforço enorme que realiza, embora para produzir minguados resultados, ve- nha enriquecer o acervo social, como o trabalho de qualquer um dos cidadãos. Que se meça o esforço despendido, e não tanto os resultados obtidos. Os deficientes não pedem muito. querem ser apenas ajudados para poder ajudar, para poder ajudar como qualquer outro participante da sociedade na medida das suas forças, com o melhor de seus esforços. Se por um lado vimos como evoluiu a sociedade no sentido da aceitação do deficiente e da sua recuperação, não é menos verdade, que a sociedade evoluiu também das formas mais simples para um organismo complexo, e isso também influi na integração dos deficientes. É relativamente mais comum e fácil, a integração de um deficiente numa comunidade rural primitiva, do que a sua aceitação numa comunidade urbana mais desenvolvida. Isso nos põe diante da necessidade de considerar a integração do deficiente, na sociedade atual, na sociedade em que vivemos, limitada pelos conceitos de nação, país, e a tentativade antever como será o deficiente aceito na sociedade para a qual caminhamos. Já foi de várias for- mas visto, que a sociedade atual se distancia mais da socie- dade do século precedente, que essa da sociedade do primeiro milênio depois de Cristo. A civilização mecanotecnológica que a humanidade forjou é sob certos aspectos radicalmente dis- tinta de tudo o que conhecemos antes, e dentre suas caracte- rísticas a mais evidente é a permanente mudança; fatos, coisas, instituições evoluem, e se transformam de tal forma que nenhum grupo de conceitos pode ser fixo. As mudanças tecnológicas vão em velocidade crescente transformando a fisionomia social e as formas de conceitos sociais para serem válidos se alteram e adaptam a cada passo. Quando pensa- mos no futuro, quando imaginamos a estrada que segue a frente na trilha da humanidade, os fatos parecem delinear os contornos do caminho, a conquista do espaço pelo homem e a automatização das máquinas, e a medida em que estas duas conquistas, possam afetar o destino humano. O homem libertado da prisão terrena, lançado no espaço, se engrandece e ombreia com os Deuses, no controle do espaço e do tempo, os ideais de aptidão física dos nossos dias são os requeridos para os astronautas, e os de habilitação intelectual são os que se exigem dos físicos nucleares e dos cientistas do espaço. Automatização multiplica o trabalho da máquina e liberta o homem, drasticamente reduzindo a necessidade de mão-de- -obra, quiçás levando a um ócio construtivo, se soubermos aproveitar a oportunidade, ou ao desemprego e a fome e necessariamente a maginalização da mão-de-obra menos de- senvolvida, se não soubermos aproveitar a oportunidade que se nos depara. No Brasil o relativo subdesenvolvimento, nos permite apreciar os perigos da evolução como ela se processa nos outros países, e quem sabe corrigi-los nos anos de espera, que esse subdesenvolvimento nos dá. Mas de uma forma ou de outra, para lá caminhamos, e se queremos obter o máximo das nossas possibilidades, devemos planejar o futuro, isto é, antever os problemas e procurar dar-lhes solução. A conquis- ta do espaço traz consigo aspectos positivos, que militam em favor do excepcional. Um primeiro é a propensão que temos para acertar compromissos antigos, sempre adiados às véspe- ras das viagens. A humanidade sente-se hoje as vésperas de uma grande viagem, a viagem do espaço, e volta-se para com- promissos sempre adiados, compromissos consigo mesma, para com os seus elementos menos favorecidos, para o problema da subnutrição de meia humanidade, para o problema do desenvolvimento econômico inadequado de dois-terços da hu- manidade e tantos outros entre os quais, não em último lugar está o problema dos portadores de deficiências físicas ou mentais. O renovado interesse que se nota hoje em todos os continentes, pela sorte dos excepcionais, parece traduzir a vontade de resolver velhos problemas sempre adiados, antes da grande viagem. Outro aspecto da conquista do espaço, é a reavaliação das dimensões humana diante dos próprios olhos da humanidade. Hoje o homem não se pode mais julgar o inconteste senhor do universo, talvez não seja o ponto máximo da evolução, o ápice da criação, mas apenas, um entre outros, num universo que talvez seja, um entre muitos outros, habi- tados quem sabe porque vidas, quem sabe porque evolução maior. Daí talvez volta-se o interesse para o próprio desen- volvimento, para o desenvolvimento do homem interior, daí talvez a necessidade de nos conhecermos melhor, nas nossas capacidades e deficiências, para desenvolvê-las ou corrigi-las. Desenvolve-se a consciência de que o subnormal, e normal são pontos de uma escala cujos limites nos escapam, e na qual se podem admitir graus diversos de desenvolvimento de uma mesma qualidade ou atributo desde o deficiente até o super dotado. Todo problema das deficiências físicas ou mentais está sendo reavaliado, numa tentativa de obter o máximo da capacidade humana, que se espera expandir e desenvolver. Por outro lado quando as vistas se voltam para fora da terra. não faltam os que lembram, que nem tudo está feito aqui, que é praticamente necessário fortalecer as bases terrenas antes de nos abalançarmos a outras conquistas. Não partici- pamos do medo de que a automatização diminua os empregos. ao contrário, todo o avanço tecnológico sempre resultou em última análise na expansão do mercado de empregos. Também não cremos que a automatização corte as possibilidades da mão-de-obra menos dotada, barre o caminho ao trabalho do deficiente. A evolução da máquina, tem sido sempre no sen- tido da complexidade crescente das suas funções e na simpli- ficação das alterações, embora isso não se obtenha às vezes em início. Tanto isso é verdade, que o treinamento requerido hoje para operação de um tear mecânico, altamente automa- tizado é menor que para operar os primitivos teares manuais. Há fábricas na Holanda, onde retardados mentais, com quo- ciente intelectual abaixo de cinqüenta, montam aparelhos de precisão altamente complexos, apenas porque foi feita uma conveniente análise das operações necessárias e elas foram rearranjadas, dentro de um nôvo conceito, segundo um plano que o montador pudesse entender. Quando falamos do lugar do deficiente na sociedade, queremos significar o lugar que lhe compete integrado na sociedade, e não à sua margem; queremos dizer integração social dos deficientes. Esta inte- gração não é rápida, nem é fácil, começa na família, trauma- tizada no seu íntimo pela presença do deficiente, e por isso mesmo, propensa a rejeitá-lo de início. Da rejeição inicial caminha para aceitação passiva e egoística, e desta para a aceitação ativa, o esforço consciente para recuperação e inte- gração familiar e social dos deficientes. Nem todas as fa- mílias atingem essa terceira fase; é claro que não se poderá pretender posição social, para alguém que é marginalizado dentro da própria família. Por isso, nenhum programa de recuperação, e integração social dos deficientes, será válido, se não contiver o núcleo central, um programa de educação familiar, de educação dos pais. Realizada a integração fami- liar resta a tarefa maior da integração social dos deficientes. É através do trabalho produtivo, que o indivíduo se integra na sociedade; nenhum programa educativo será completo, sem 0 treinamento vocacional e profissional, sem dotar o indivíduo para prover a sua subsistência na medida em que esta sub- sistência puder ser atingida pelas suas capacidades. A sim- ples escolarização não é um fim em si mesma, mas apenas um meio para o prosseguimento do aprendizado em bases mais práticas, das quais se derive a possibilidade de ganhar o pró- prio sustento. Creio que será mais difícil conseguir hoje, misteres e ocupações para os deficientes, dentro do complexo de produção e serviços da nossa sociedade. Não creio tam- bém que para o futuro isto venha a ser menos fácil; ao contrário, é minha crença que o progresso da ciência e da tecnologia nos levará ao melhor conhecimento e domínio dos métodos de aprendizados e análise de trabalho, que afinal possibilitarão maior desenvolvimento das aptidões, e maior rendimento dos trabalhos do excepcional. A integração social, o lugar que aos excepcionais está reservado na sociedade, terá sempre a medida do sucesso dos nossos esforços; os deficien- tes terão em poucas palavras aquilo que nossos programas de reabilitação lhes puderem dar, daí a responsabilidade que pesa sobre os ombros de quantos se ocupam dos excepcionais, onde quer que trabalhem e a que grupo de deficientes se dediquem. Do esforço de cada dia, da extensão dos progra- mas de que participem, da isenção, da dedicação e do amor com que interpretam as restrições relativas de seus educandos. resultará o menor ou o maior aproveitamento social dotra- balho que realizarem e a sua menor ou maior integração so- cial. Sabem todos que não tenho qualificações para falar-lhes como técnico, e por isso me sinto pouco a vontade para adver- ti-los ou orientá-los, mas permitam umas poucas palavras, derivadas da experiência alheia e própria que me parecem justas nestas considerações. Precisamos usar palavras, para designar coisas, indivíduos, qualidade, conjuntos de aptidões etc. Para isso se cunharam terminologias especiais adaptadas a cada grupo. É preciso lembrar sempre, no entanto, que as palavras usadas para rotular um deficiente indicam sempre apenas impropriamente, um conjunto de impressões, obtidas de testes aplicados em determinada ocasião, com determinado objetivo, não devem nunca ter limitação, critério de rejeição de oportunidades para os deficientes aos quais são aplicados. Não podemos acorrentar os deficientes com palavras, lembro apenas um caso citado na literatura, e permitam que lembre casos, sempre referentes aos problemas de deficientes mentais com os quais estou mais familiarizado, de uma mongolóide de 26 anos, com o quociente intelectual igual a 35 na escala de Binnet e com idade mental de 6 anos e que ganha sua vida trabalhando oito horas por dia numa oficina de costura, cos- turando à máquina com a perfeição necessária para fazer trabalhos para fora e expor seus trabalhos na vitrina da loja. Alguns critérios classificariam esta jovem em nível que não lhe concederia absolutamente a oportunidade do aprendizado que resultou na sua realização e na sua integração social. Ocorre-me mencionar também que a superproteção traz con- sigo uma substima das aptidões do excepcional levando, por- tanto a restrição das oportunidades desde educação e treina- mento, e também, acentuar a necessidade de nos interessar por todos os excepcionais, todos os deficientes, não só pela ocorrência de deficiências conjugadas, como também para conseguirmos, para todos eles as medidas de proteção e auxí- lio de que todos necessitam. Ao encerrar lembro que jamais substimaremos a força interior que move e anima cada indi- víduo, e o que leva a superar o físico e o ambiente, força que dá vista aos cegos, voz aos mudos, que levanta e faz andar o paralítico. Entre nós, sentimos a presença desta força, nas pessoas que superaram suas deficiências, e privados da vista se transformaram em guias e em vez de buscar apoio e proteção estendem os braços, amparam os menos favore- cidos. São o exemplo vivo das possibilidades da natureza humana. Perenes agradecimentos, àqueles pioneiros que pri- meiro acenderam a lâmpada de esperança que ilumina a vida dos deficientes. Penso nos trabalhadores de ontem e de hoje, aqueles que enfrentaram tabus e resistências sociais para levar avante a tarefa de educação e recuperação dos deficien- tes físicos e mentais e que os ajudam a ocupar o lugar que lhes cabe na sociedade. Mas não mencionarei nomes, alguns dos quais são especialmente reverenciados em nosso coração. Que seja este Congresso o esforço, o trabalho, e a dedicação de que foi e será feito a homenagem que lhes dedicamos. Eu gostaria de merecer a homenagem e a honra que me foi con- cedida no momento em que me convidaram para lhes dirigir estas palavras, embora não merecida essa honra me foi pro- fundamente cara, e eu agradeço. Muito obrigado." Prof. Zeferino Vaz: "Ao manifestar o quanto nos emocionou a sua brilhante oração, cheia de profundidade e conhecimento, mas cheia sobretudo de calor humano, desta chama sagrada de ideal, que conduz . o homem, que supera todas as deficiências, este colega que é uma inspiração para todos nós. é um brilhante radiologista, um homem que merece da classe médica o mais profundo respeito, como profissional, e que poderia dedicar toda a sua vida à sua profissão, que não lhe sobraria tempo, - soube todavia, dirigir parte substancial da sua vida em bene- fício de um ideal, do ideal da reabilitação dos deficientes de qualquer tipo, de qualquer grau. certo de que em todos eles se encontrará sempre alguma qualidade, que lhe permita produzir bem no serviço, que lhe permita sentir se capaz na sociedade humana. Muito, muito obrigado Dr. Antônio dos Santos Clemente Filho. E agora vou ter a satisfação de devolver a presidência da sessão a sua legítima pre- sidente D. Dorina de Gouvêa Nowill." Prof.a D. Dorina de Gouvêa Nowill: "Temos neste momento, a satisfação de fazer uma menção muito especial às organizações que muito contribuíram para a realização deste Congresso. Organizações que colaboraram com o Ministério da Educação e Cultura e a Campanha Nacional de Educação dos Cegos. São elas: a Federação Nacional das APAES; o Instituto de Reabili- tação da Universidade de São Paulo; o Centro do Professorado de São Paulo; a nossa Fundação para o Livro do Cego no Brasil: e muito, muito especialmente, o nosso agradecimento a este punhado de homens, que sabem realmente cumprir o que prevê os estatutos da sua organização, o Lions Club de São Paulo, e quando dizemos, Lions Club de São Paulo, permitam os senhores, é um dever, queremos mencionar, especialmente o sr. Ângelo Margarido." Prof. Zeferino Vaz: "Eu consulto a sra. Secretária se há algum aviso, alguma comu- nicação ou alguma participação aos srs. congressistas ? Nada. Então amanhã às 9 horas estão convidados todos os srs. congressistas à dar início ao trabalho efetivo. E encerrando esta sessão, eu quero agradecer aos srs. participantes da mesa e aos srs. congressistas, a honra que nos concederam em vir prestigiar, com presenças tão ilustres, os trabalhos e a sessão solene deste I Congresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais, que eu estou certo há de realizar obra duradoura, o obra útil à sociedade e a coletividade Brasileira. Está encerrada a sessão." TERÇA FEIRA, 10 DE NOVEMBRO DE 1964. 9,00 HORAS. l.a SESSÃO PLENÁRIA Presidente: Dr. ROGÉRIO VIEIRA Secretaria: MARIA ORGARITA DE MORAES M. ELISA DE OLIVEIRA GERIBELLO Ata da primeira sessão plenária do I Congresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais — São Paulo. Aos dez dias do mês de novembro de 1964, no Anfiteatro da Associação Paulista de Medi- cina, situado à Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, 278, 8.° andar, teve início a primeira sessão Plenária do I Congresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais, sendo presidida pelo Dr. Rogério Vieira, membro da comissão da Campanha Nacional de Educação dos Cegos, que tomou palavra, declarando aberta a sessão, e justificando a troca de Presi- dentes. Declarou que a Comissão Executiva do Congresso solicitava ao Professor Eliziário Rodrigues de Souza — Coordenador do Plano Trienal de Educação do Ministério da Educação e Cultura em São Paulo, permissão para tomar o lugar do Dr. Laerte Ramos de Car- valho — Diretor do Centro Regional de Pesquisas Educacionais d« São Paulo, pois o Prof. Eliziário que havia vindo substituí-lo, encon- trava-se afônico. Apresentou-se, o Dr. Rogério Vieira, como membro da Campanha Nacional de Educação dos Cegos e Tesoureiro do I Con- gresso Brasileiro de Educação de Deficientes Visuais. Concedeu a palavra à Secretária Geral do Congresso, D. Teresinha de Oliveira Rossi, que fêz os seguintes avisos: 1.°) As adesões para o jantar dos Congressistas, deverão ser feitas na Secretaria do Congresso; 2.°) Por gentileza do Instituto Brasileiro do Café, haverá nos intervalos à disposição dos congressistas "cafezinho" no décimo-primeiro andar; 3.°) .Encontra-se na secretaria lista de inscrições para visitas às Instituições, no período da tarde do dia doze, com ônibus à disposição. partindo deste prédio as três horas e trinta minutos. Retomou a palavra o Sr. Presidente da Sessão, dizendo que, antes de iniciar os trabalhos da Primeira Sessão Plenária, leria o regulamento do Con- gresso, e procedeu a leitura: REGULAMENTOArt 1.° — O Primeiro Congresso Brasileiro de Educação de Defi- ficientes Visuais é promovido pela Campanha Nacional de Educação dos Cepos, órgão do Ministério da Educação e Cultura, no período de 9 à 13 de novembro de 1964, na cidade de São Paulo. Art. 2.° — A direção do Congresso está a cargo da Comissão Executiva designada pela Campanha Nacional de Educação dos Cegos. Art. 3.° — São membros do Congresso todas as pessoas cuja ins- crição tiver sido aceita pela Comissão Executiva e as que por ela tenham sido convidadas. Art. 4.° — Os membros do Congresso classificam-se em: a) convidados b) individuais § 1.° — Os membros individuais estão sujeitos ao pagamento de taxa de inscrição no valor de Cr$ 1,500,00 (hum mil e quinhentos cruzeiros). § 2.° — Os membros convidados estão isentos do pagamento da taxa de inscrição. Art. 5.° — Só é permitido ingresso nos recintos destinados ao Congresso às pessoas possuidoras de comprovante de membro do Congresso. Art. 6.° — As atividades do Congresso se desenvolvem em: a) Sessão solene de abertura no dia 9 de novembro às 20,30 horas, no Anfiteatro da Associação Paulista de Medicina, Av. Brigadeiro Luiz Antônio, 278 — 8.° andar. b) Sessões plenárias destinadas à apresentação de temas oficiais, no Anfiteatro da Associação Paulista de Medicina — 8.° andar de acordo com o programa. c) Sessão solene de encerramento e entrega de certificado no dia 13 de novembro, às 17 horas, no Anfiteatro da Associação Paulista de Medicina, 8.° andar. Art. 7.° — Cada um dos relatores de tema oficial, dispõe de 30 (trinta) minutos para a sua apresentação. § 1.° — Após a apresentação de todos os relatores de uma sessão, há uma hora, para respostas às perguntas formuladas, por escrito à mesa, que se reserva o direito de selecioná-las. § 2.° — Os relatores dispõem de 3 (três) minutos para responder cada pergunta. Art. 8.° — Só serão aceitas perguntas formuladas por pessoas regularmente inscritas no Congresso. Art. 9.° — As apresentações dos trabalhos podem ser ilustradas com documentação cinematográfica, dispositivos, gravuras, gráficos etc., porém sob nenhum pretexto podem ultrapassar o prazo estabelecido neste regulamento. Art. 10 — Os trabalhos inscritos regularmente e cujos autores não comparecerem às sessões para a qual tiverem sido programados, poderão ser apresentados no todo ou em parte por outro congressista, quer previamente indicado pelo autor, quer designado pela mesa. Art. 11 — A mesa diretora em cada sessão plenária é constituída de um presidente e dois secretários convidados pela comissão executiva. Parágrafo único — O presidente tem plenos poderes para cassar a palavra, adiar discussões, suspender a sessão, proibir diálogos, apartes ou debates de caráter pessoal, político e religioso, decidindo como melhor lhe aprouver para marcha construtiva e disciplinar dos trabalhos. Art. 12 — Os casos omissos neste Regulamento serão resolvidos pela comissão executiva. Ao final fêz um apelo para que este fosse cumprido. Prosseguindo nos trabalhos, justificou a troca de oradores: A palestra de D. Celina Junqueira, que versará sobre "A Formação Integral do Educando" e que seria o terceiro trabalho do dia, foi transferida, para o dia treze do corrente. Em substituição do Sr. Joaquim Lima de Moraes, Chefe da Oficina Protegida de Trabalhos para Cegos da Fundação para o Livro do Cego no Brasil — São Paulo — São Paulo, apresentará um trabalho sobre "Sorobã — Aparelho de Cálculo para Cegos." A primeira oradora d. Luzia Lopes Lima — Professora Especializada do Instituto São Rafael — Belo orizonte, Minas Gerais, apresentou-se ao plenário. Faltando cinco minutos para as dez horas iniciou a sua oração, cujo tema foi "Progresso e necessidades da Educação de Cegos", a que deu por terminada às dez horas e dezoito minutos. PROGRESSO E NECESSIDADES DA EDUCAÇÃO DE CEGOS PROFa . LUZIA LOPES LIMA. (Prof. especializada do Instituto São Rafael — Belo Horizonte — Minas Gerais). HISTÓRICO E EVOLUÇÃO Ao tratarmos da educação de cegos, julgamos necessário remontar a tempos longínquos. Entretanto parece-nos mais interessante comparar pessoas e épocas, em vez de citar cro- nologicamente os fatos. Assim, procuraremos destacar o que de mais importante se passou em relação à educação de cegos, como atitudes, con- ceitos e idéias revolucionárias; procuraremos ainda situar o cego em cada época, aceitando as condições que se lhe ofere- ciam ou se rebelando contra elas. Nosso trabalho se iniciará da antigüidade, quando, já encontraremos atitudes várias. Em Roma. toda a educação girava em torno do físico; visava aperfeiçoar o corpo e, por isso, aqueles que não pudessem dar à Pátria um trabalho físico perfeito, eram eliminados. Anteriormente, na Grécia, a educação espartana já apresentava as mesmas caracterís- ticas. Atenas, se não exterminava os deficientes físicos. abandonava-os, sendo as crianças colocadas à margem doa caminhos. A mentalidade hebraica interpretava a existência de de- feitos físicos como castigo divino; procuravam as famílias ocultar os portadores de deficiências, porque viam-nos como uma espécie de maldição dos céus. Falando pois dos hebreus, já podemos confrontar as épocas antiga e atual: conceitos e atitudes semelhantes nas camadas sociais, onde é diminuta a compreensão dos problemas relativos ao deficiente físico. Não é muito raro portanto, depararmos com alguém que julgue ser o defeito físico um castigo do céu. Com o advento do Cristianismo, começa a fase de amparo às pessoas fisicamente defeituosas, construindo-se asilos e foi essa a preocupação de S. Jerônimo, Santo Agostinho e outros Padres da Igreja. A Idade Média, com o predomínio da religião, tendo a caridade entre as virtudes essenciais, foi época propícia ao aparecimento de maior número de casas de amparo. Dessa forma, surgiu a primeira idéia segregacio- nista, acentuada mais tarde, quando se pretendeu separar os cegos de outros deficientes. Construiam-se então asilos para os cegos, espécie de confrarias, onde os membros se diziam irmãos, tinham lugares próprios para se exibir e em algumas regiões, tinham até uma língua própria. E, porque a mendi- cância constituía um privilégio a ele concedido, o cego passou a ser explorado; era propriedade de alguém. Não mui rara- mente encontramos em nossos dias essa modalidade de trata- mento dispensado ao cego. Exploradores muito discretos. fingindo caridade, ainda são notados com relativa freqüência. Os asilos tinham até aí finalidade de mero amparo, quan- do surgiu na Itália uma instituição chamada "Santa Maria dei Siege", na qual foi introduzido o ensino da música. Talvez já naquela época se pensasse (como até hoje se julga), que todo o cego tem ouvido treinado para a música. O século XVIII, considerado século da segregação e da mendicância, foi apesar disso, marcado por um acontecimento importante: a primeira tentativa de educar o cego, dando-lhe instrução elementar. Foi quando, em 1784, Valentin Haüy fundou em Paris o "Instituto Nacional para os Jovens Cegos". Surgiu dessa forma, a primeira escola residencial das muitas hoje existentes, das quais mais abaixo falaremos. Antes po- rém, será interessante tratarmos de pessoas cegas que se evidenciaram por atitudes notáveis, contrariando o espírito da época. Remontando-nos ao século IV da era cristã, vamos encontrar Didimus, em Alexandria. Estudou, apenas ouvindo as lições, teologia e filosofia humana, chegando a ser pro- fessor de teologia. Na Grécia lembramos a figura de Homero. cuja imaginação fértil, produziu os notáveis poemas Ilíada e Odisséia. Mais tarde, só o 18.° século nos monstra exemplos de cegos ilustres. Foram eles capazes de se libertar dos pre- conceitos segregacionistas, que como dissemos, acentuaram-semais nessa ocasião. Na Inglaterra surgiram dois vultos: Nicollas Saunderson, que se instruiu profundamente, estudou e difundiu a teoria de Newton sobre luz e côr e foi hábil defensor da Universidade de Cambridge. John Netcalft, cuja cultura foi inferior a de Saunderson, mas que se destacou pela maneira de se conduzir: procurou viver com naturalidade entre videntes, viajando muito e praticando a natação. A história, se não o supervalorizava, conta-nos que ele observou serem péssimas as estradas inglesas, sugerindo pavimentá-las com pedregulho. Na Alemanha lembramos Jacob de Netra. inventor de um sistema de escrita com letras de madeira, formando então a primeira biblioteca para cegos, queimada, aliás, após sua morte. Em Portugal, no século XIX, muito se distinguiu o famoso escritor Antônio Feliciano de Castilho, imortalizado por magníficas obras literárias. Apenas a cita- ção desses nomes e predicados, vem provar o quanto valeu a esses cegos a força de vontade muito mais necessária naquela época que agora, quando a civilização é mais evoluída. Res- ta-nos ainda esclarecer que, se a sociedade daquele tempo via. de modo geral, o cego apenas como um ser fisicamente defei- tuoso, do meio dela surgiram pessoas que o observaram e aceitaram-no como indivíduo, como criatura humana, da mes- ma forma que, dentre os segregados, emergiram os persona- gens que acabamos de citar. Primeiramente Diderot, a quem se deve muito, pois foi o maior vulto de seu tempo. Estudou o problema do cego sobre o ponto de vista da psicologia, estabelecendo teorias interessantes a respeito da percepção tátil e visual. Seus es- critos foram de grande valia e revolucionários pelas idéias neles contidas. Depois Valentin Haüy, fundador do Insti- tuto Nacional para os Jovens Cegos, em Paris. Haüy entu- siasmou-se com os trabalhos de Rosseau sobre a educação e os do abade L'Eppé sobre a educação dos cegos surdos. De- pois de viajar muito e tomar conhecimento com a pianista cega Maria Tereza Von Paradis, iniciou a escola com um grupo de jovens e inventou um sistema de escrita em relevo ni ~pãpél. üm rios alunos de Haüy foi Louis Braille, inventor do" sistema de leitura para cegos atualmente usado. Após a escola de Paris, Haüy fundou ainda outra em S. Petersburg Leningrado na Rússia e daí em diante todas as grandes capitais da Europa, foram suas escolas, baseadas na obra valiosa de Hauy. Também na América o movimento tomou vulto; surgiram nos Estados Unidos, quase no mesmo tempo três Instituições: Instituto Perkins de Boston, Instituto de Filadélfia e Instituto de Cegos de New York. O Brasil também cria suas escolas: no Rio de Janeiro, o Instituto Imperial dos Meninos Cegos, hoje Instituto Benjamin Cons- tant, em 1854; o Instituto São Rafael de Belo Horizonte, 1926; depois o Instituto Padre Chico, em São Paulo, em 1928 e outros. Foi esse o panorama que pudemos observar por muito tempo no tocante à educação de cegos. As escolas residenciais, o melhor sistema educativo que até então se po- deria oferecer ao cego, não cuidavam nem cuidam apenas do ensino de leitura e escrita, mas também da parte profissional e musical. De fato delas saíram elementos de realce: do Instituto Benjamin Constant o professor Aires da Mota Ma- chado Filho, nas letras; do Instituto São Rafael o pianista Arnaldo Marchezotti. Com o correr do tempo, mais um passo foi dado na evolução da educação de cegos: as escolas residen- ciais possuem somente os cursos primário e ginasial, e então muitos cegos que desejavam continuar os estudos começaram a freqüentar escolas comuns. Percebia-se já que o cego po- deria instruir-se entre os que vêem, bastando-lhe apenas capacidade para aceitar suas limitações e vontade para adap- tar-se ao ambiente de colégio. É o que tem acontecido na época atual, com muita inten- sidade, embora não nos devamos esquecer dos exemplos anti- gos. O Brasil possui um grande número de defiríentnes visuais que estudam em escolas comuns. Alguns grandes centros, porém, deram nôvo impulso ao processo de educação de cegos. Talvez o comportamento de muitos invidentes no convívio com pessoas que enxergam te- nha inspirado a tentativa de fazer com que a criança cega não se isolasse da sociedade a que pertence, por outras pala- vras: pretendeu-se que era desnecessário separar a criança da família, porque a limitação não a impediria de ter como as crianças de sua idade o mínimo de instrução. A tentativa se tornou coisa real, provada e aprovada. Esse sistema educativo (educação integrada), requer logicamente um grupo de pessoas que oriente os educadores no sentido de proporcionar à criança cega um ambiente agra- dável, sim, mas sem exageros de consideração. Nosso país também acompanhou o movimento: D. Dorina de Gouvêa Nowill, paulista, professora diplomada pelo Instituto de Edu- cação Caetano de Campos, estudou durante um ano nos Esta- dos Unidos, de onde trouxe rica bagagem de conhecimentos, a respeito do problema que ora tratamos. Regressando, cria- ram, ela e mais colaboradores, a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, obra que assiste o cego amplamente facilitan- do-lhe o material para estudos e orientando-o em vários setores. Criou-se depois, pertencente ao Instituto de Educação Caetano de Campos e funcionando na Fundação, o curso de Especialização em Ensino de Cegos. Atualmente a Campa- nha Nacional de Educação dos Cegos, órgão federal, promove estágio na Fundação para assistentes sociais e psicologistas. elementos indispensáveis ao movimento de educação inte- grada. Há hoje em São Paulo muitas crianças cegas que se educam junto de irmãos e vizinhos no Grupo Escolar. E o Estado da Bahia também deu início a esse tipo de educação SITUAÇÃO ATUAL Do exposto, podemos observar que considerados desde tempos longínquos, os conceitos e atitudes com respeito ao invisual, esse progresso tem sido lento, comparado ao que a civilização tenha atingido noutros aspectos. Tratemos rapidamente da situação atual dos cegos, pois a análise dos problemas de hoje, nos facilitará a conhecer o que precisamos para resolvê-los. Falaremos especialmente do Brasil, porque nos interessa mais de perto. Outrossim, a situação brasileira é muitíssimo semelhante à de outras na- ções. Dois aspectos podem ser considerados: educacional e profissional. a) No campo educacional. Além das escolas residenciais já mencionadas, existem ainda: Instituto de Cegos da Bahia, em Salvador; Instituto Santa Luzia, em Porto Alegre; Instituto de Cegos do Brasil Central, em Uberaba e outros. Há em Pelotas, Rio Grande do Sul, uma escola mantida pela prefeitura; nessa escola os alunos são externos e assim, embora mantendo classes especiais para cegos, ela se aproxima do ideal de educação integrada, uma vez que a criança que lá estuda não perde o contato com a família. O maior número de estudantes invisuais na escola comum. constitui-se de egressos de colégios para cegos, que ali desejam completar seus estudos. Uma minoria faz o curso primário em Grupo Escolar, realizando-se esses, como dissemos, em São Paulo e na Bahia. b) No campo profissional distinguimos: 1 — pessoas que procuram emprêgo baseadas em suas reais qualidades: são orientadas profissionalmente e preparadas para o serviço. 2 — pessoas cegas que reclamam emprêgo, pedindo ao empre- gador atenção à sua deficiência física. Sua carta de recomen- dação é pura e simplesmente a cegueira. 3 — grupos de pes- soas cegas que possuem uma oficina de vassouras, espanado- res e coisas do gênero, vendidas nas feiras livres ou nos mercados. Existem ainda casas de amparo em que são ensinados o Braille e alguns trabalhos manuais. Notamos, pois, que no que respeita a cegos, o Brasil tem ainda muito a desejar. O que possuímos de melhor se res- tringe a uma pequena parte do
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