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Universidade Braz Cubas - UBC Mogi das Cruzes 2016 Introdução à Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Reitor: Prof. Maurício Chermann EQUIPE DE PRODUÇÃO CORPORATIVA Gerência: Adriane Aparecida Carvalho Orientação Pedagógica: Karen de Campos Shinoda Coordenação de Produção: Diego de Castro Alvim Revisão de Textos: Adrielly Rodrigues, Taciana da Paz Coordenação de Edição e Arte: Michelle Carrete Diagramação: Amanda Holanda Ilustração: Everton Arcanjo Impressão: Grupo VLS / Infotec / Jet Cópias Imagens: Fotolia / Acervo próprio Os autores dos textos presentes neste material didático assumem total responsabilidade sobre os conteúdos e originalidade. Proibida a reprodução total e/ou parcial. © Copyright UBC 2016 Av. Francisco Rodrigues Filho, 1233 - Mogilar CEP 08773-380 - Mogi das Cruzes - SP A Braz Cubas 3 A Braz Cubas Nascida em 1940, na cidade de Mogi das Cruzes, a Braz Cubas, que iniciou suas atividades com um pequeno curso preparatório, conta hoje com cerca de 20 mil alunos, entre as modalidades presencial e educação a distância. Ao longo desses 75 anos no mercado, a instituição passou por diversas transformações, abrigando, inclusive, cursos de ginásio, nível médio, comércio, até que chegou a Faculdade de Direito, em 1965. O ensino superior, estimulado pela política da educação, cresceu em todo o País e a Braz Cubas, atendendo às exigências e necessidades do mercado, continuou a crescer, tanto no aspecto acadêmico, quanto no social, até que em 1985, o Conselho Federal de Educação reconhece a então Federação das Faculdades Braz Cubas como Universidade. A importante notícia veio valorizar a região de Mogi das Cruzes e premiar uma longa carreira de bons serviços prestados à educação brasileira, formando profissionais competentes e capacitados ao mercado de trabalho. Missão Valorizar as pessoas, despertando talentos por meio de uma aprendizagem diferente para desenvolver hoje o ser humano para o amanhã. Visão Ser reconhecida como uma instituição de Ensino centrada na aprendizagem. Valores Cidadania, humanização, sabedoria, humildade e transparência. Sumário Sumário Apresentação 7 A Professora 9 Introdução 11 1Unidade I Panorama socioeducacional da comunidade Surda 13 1.1 Cenário Histórico da Educação do Surdo no Brasil 13 1.1.1 Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo 16 1.2 Família, cultura e identidade surda 20 Referências da Unidade I 26 2Unidade II Língua Brasileira de Sinais 27 2.1 Diversidade das línguas de sinais 27 2.2 Cultura e Identidade Surda 32 2.3 Legislações 41 Referências da Unidade II 46 3Unidade III Aspectos Linguísticos e Gramaticais da LIBRAS 47 3.1 Os cinco parâmetros da LIBRAS 48 3.2 Diferenças entre as regras gramaticais da Língua Portuguesa e da LIBRAS 54 3.2.1 Classificador na LIBRAS 55 3.2.2 Pronomes Pessoais 57 Referências da Unidade III 60 4Unidade IV Acessibilidade e Cultura Surda 61 4.1 Acessibilidade para os Surdos 61 4.2 Educação Especial para os Surdos 66 4.3 Direito ao Trabalho 67 4.4 Tecnologias para Surdos 68 4.5 Situações Cotidianas 70 Referências da Unidade IV 72 Apresentação 7 Apresentação Prezado(a) Estudante, Há diversas disciplinas em sua formação, entre elas temos a disciplina Introdução à Língua Brasileira de Sinais, que foi determinada como obrigatória para alguns cursos e segue ofertada como optativa a outros. O reconhecimento da LIBRAS como uma das línguas oficiais do país aconteceu por meio da Lei 10.436 de 24 de Abril de 2002. Já o Decreto 5.626 de 22 de dezembro de 2005 apresenta a obrigatoriedade de aprendermos a Língua Brasileira de Sinais. Ao aprender a LIBRAS podemos compreender a forma de comunicação e interação dos surdos com a sociedade ouvinte. Esta é uma língua com modalidade visuoespacial, onde a informação é recebida por meio dos olhos e realizada com o uso das mãos e de expressões faciais e/ou movimentos do corpo. Objetivos da Disciplina: • Conhecer os aspectos históricos da educação de surdos no Brasil; • Conhecer a legislação educacional e outras pertinentes à inclusão das pessoas surdas; • Oferecer subsídios práticos, para atuar no mercado de trabalho in- clusivo; • Favorecer relacionamento interpessoal com a cultura surda; • Valorizar a LIBRAS como língua materna dos surdos. Habilidades e Competências da Disciplina: • Desenvolvimento da comunicação básica na Língua Brasileira de Sinais; • Conhecimento à importância da língua de sinais na construção do surdo, para sua acessibilidade na área cultural, social e educacio- nal; • Diferenciamento dos aspectos gramaticais entre Língua Portuguesa e Língua Brasileira de Sinais. O Professor 9 A Professora Prof.ª Lidiane Helena Reinaldo Franco Mestre em Serviço Social - PUC/SP (2013), título: “Língua Brasileira de Sinais: uma ponte de amor entre pais ouvintes e filhos surdos”. Especialização em Educação a Distância pela Universidade Norte do Paraná (2011), título: “EAD - um método eficaz na inclusão da pessoa com surdez, no Ensino Superior”. Especialização em Aconselhamento pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo(2010), título: “A comunicação de pais ouvintes e filhos com surdez”. Intérprete de LIBRAS (2007) com Exame Nacional de Certificação para Tradução e Interpretação da LIBRAS/Língua Portuguesa - Pro LIBRAS – MEC/UFSC, Graduada em Serviço Social - Universidade do Vale do Paraíba (1997). Atua na Universidade Braz Cubas desde 2011, Coordenadora do Curso de Serviço Social Universidade Braz Cubas - UBC (2011 - 2014)e (2016 – atual). Coordenadora da Extensão Universitária (2013 - 2014) Coordenadora do Núcleo de Acessibilidade e do Núcleo de Apoio Psicopedagógico (2014 - atual). Atuou como Professor / Intérprete de LIBRAS (2010- 2011). Membro do Comitê de Ética em Pesquisa da UBC (2011 - 2015). Atou como Assistente Social da saúde no Centro Especializado em Reabilitação Dr. Arnaldo Pezzuti Cavalcanti - CER APC (2009 - 2014), atuou como voluntária no Conselho Municipal para Assuntos da Pessoa com Deficiência – CMAPD (2009 - 2011), na cidade de Mogi das Cruzes/SP. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq br/1339209675248915 Introdução 11 Introdução Caro(a) aluno(a), estamos juntos neste momento de aprendizado. Temos uma disciplina bem interessante, convido-o à seguinte reflexão: Que novos desafios os surdos e os ouvintes podem compartilhar? Seria esta língua uma língua de segredos? Ou uma língua de sonhos? Seria esta uma língua que permite falar, ver e ouvir com as mãos? Aprender uma nova língua é possível e não importa qual idade você tenha... Ela te fará despertar para um mundo novo, te fará mais humano e mais verdadeiro. Permita-me que lhe apresente a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Profa. Ms. Lidiane Franco Introdução 12 Esperamos que você aproveite bem esta oportunidade e conheça a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, introduzida no nosso país por meio da Lei N.º 10.436 de 24 de abril de 2002, que reconhece como meio legal de comunicação e expressão da comunidade surda. LIBRAS é a língua materna dos Surdos Brasileiros. Nosso desafio está em construir em seu cotidiano pessoal e profissional um novo olhar para as pessoas com deficiência, em especial para os surdos. Estamos participando do processo de formação de novos profissionais nas mais diversas áreas. Aprender a LIBRAS será um diferencial para você, esta nova língua poderáoportunizar mediações e fazê-lo conhecer o indivíduo surdo em sua historicidade e totalidade. No decorrer da disciplina teremos as unidades com seus direcionamentos e explanações, você ampliará seu conhecimento por meio do livro didático, das videoaulas, de links, filmes, artigos, realização de atividades e muito mais. Então, estamos juntos para esta nova caminhada. Unidade 1Panorama Histórico da Educação do Surdo no Brasil 13 1Unidade I Panorama socioeducacional da comunidade Surda 1.1 Cenário Histórico da Educação do Surdo no Brasil Iniciamos nossos estudos citando que desde o período da Antiguidade até à Idade Média os sujeitos surdos eram, de modo geral, rejeitados pela sociedade e, posteriormente, eram isolados nos asilos para que pudessem ser protegidos, pois não acreditavam que poderiam ter uma educação em função da sua anormalidade, ou seja, por um total desconhecimento de causa naquele momento histórico e social. O filósofo Aristóteles acreditava que “a linguagem é que fornecia ao indivíduo a condição humana”, assim, o surdo sem linguagem não teria a possibilidade de desenvolver faculdades intelectuais. Unidade 1 Panorama Histórico da Educação do Surdo no Brasil 14 Vejamos o que nos diz a autora Moura1 sobre este período: Os ouvintes, na antiguidade consideram que os surdos não eram seres humanos competentes. Isto decorria do pressuposto de que o pensamento não podia se desenvolver sem linguagem e que não se desenvolvia sem a fala. Desde que a fala não se desenvolvia sem a audição, quem não ouvia, não falava e não pensava, não podendo receber ensinamento e, portanto, aprender. Este argumento era usado pelos gregos e romanos para aqueles que nasciam surdos. Os que perdiam a audição após terem adquirido linguagem, por falarem, não entravam nesta categorização (MOURA, 2000, p.16) Nesse contexto entendemos que o surdo foi muito prejudicado em seu desenvolvimento social, intelectual e pessoal. A compreensão de que ele seria humanizado somente se utilizasse a língua falada, caracterizava incapacidade para ações cotidianas, tais como: assinar documentos, fazer testamentos (eram considerados como deficientes mentais). Essas pessoas não tinham autonomia para responder por seus atos, não tinham direito aos bens familiares. Para se ter ideia até o século XII não podiam se casar e não frequentavam reuniões familiares. As autoras Kojima & Segala (2002, p. 6) apresentam por meio da ilustração “O grande calvário dos surdos” um pouco da História da evolução da comunidade Surda. 1 A profa. Dra. Maria Cecília Moura, no livro “O Surdo: Caminhos para uma nova identidade” nos trouxe esclarecimentos sobre a diferenciação para uso de Surdo e surdo. O termo Surdo com letra maiúscula para se referir aos indivíduos que fazem uso da Língua de Sinais e estão inseridos na comunidade Surda. Utilizaremos ainda o termo ‘surdo’ com letra minúscula, para a condição audiológica de não ouvir e o termo ‘deficiente auditivo’ para os casos de indivíduos com baixo grau de perda auditiva. Unidade 1Panorama Histórico da Educação do Surdo no Brasil 15 Disponível em: <http://falandocomasmaos.webnode.com.br/news/o-grande-calvario-dos-surdos/> Acessado em 04/01/2016 Conheça mais: Para ampliar seu conhecimento indicamos a leitura do Artigo da Profa. Dra. Karin Strobel, que é surda: O início da história da educação do surdo no Brasil. O arquivo está disponível em sua plataforma. Unidade 1 Panorama Histórico da Educação do Surdo no Brasil 16 Na Idade Moderna, no início do Século XVI, foi admitido que o surdo pudesse aprender através de procedimentos pedagógicos adequados às suas necessidades. O primeiro médico que se preocupou com a saúde dos surdos foi o Dr. Gerolamo Cardano, afirmando que a surdez não era motivo para impedir a instrução aos surdos. De acordo com Honra (2014), o Dr. Cardano realizou uma pesquisa e detectou que a escrita era uma representação dos sons da fala. Na Espanha, no século XVII, são encontrados os primeiros educadores de surdos. O primeiro professor foi Dom Pedro Ponce de León, porém há poucos dados sobre os métodos de educação utilizados nesta época. Ele dedicou a maior parte de sua vida a ensinar os surdos filhos de nobres, ensinando-os a ler, a escrever, a rezar e as doutrinas do Cristianismo. Um importante representante na abordagem gestualista foi o método francês de educação para surdos do abade Charles-Michel de L’Epeé. Foi fundador da primeira escola pública para surdos no ano de 1760, o Instituto para jovens Surdos e Mudos, com uma filosofia manualista e oralista. Foi a partir deste momento que os surdos adquiriram o direito a uma língua própria. Educadores de surdos criaram metodologias para ensiná-los, com a oportunidade da educação individual, alguns basearam apenas na língua oral, ou seja, na língua auditiva oral, outros pesquisaram e defenderam a língua de sinais, que é uma língua visuoespacial. Procurando promover a educação dos surdos, a língua escrita desempenhava um papel fundamental. Quando L’Epeé faleceu, já haviam sido fundadas 21 escolas para surdos na França e na Europa. 1.1.1 Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo A seguir apresentamos abordagens educacionais da comunidade Surda no Brasil, a partir do Século XVIII. Precisamos entender o contexto para, posteriormen- te, compreendermos as lutas sociais e políticas que envolvem os surdos. Oralismo Os surdos, nos seus primórdios educacionais no Brasil, já foram proibidos de uti- lizar sinais, nas escolas eram castigados, tinham suas mãos amarradas para trás e muitos sofreram com a palmatória. Os surdos tinham dificuldades de se comunicar por meio da fala, devido à articulação e a forma de pronunciar as palavras. Unidade 1Panorama Histórico da Educação do Surdo no Brasil 17 Para Capovilla e Raphael (2001) mesmo com esforços do Método Oralista, as habilidades de leitura e escrita tendiam a se limitarem, assim como todas as outras áreas do conhecimento. Alexander Graham Bell Fonte da imagem: <https://www.google.com.br/ search?q=imagem+telefone+grambel&espv=2&biw=1366&bih>. Conheça mais: Aí vai uma curiosidade do Período do Oralismo. De acordo com Honora (2014), Alexander Graham Bell, famoso inventor do telefone, era filho de uma surda e casado com uma surda. Foi considerado inimigo dos surdos por acreditar que a surdez era um desvio, os surdos deveriam estudar com ouvintes, não como um direito, mas para evitar que os surdos se conhecessem, se casassem, pensando ser um perigo à sociedade. Criou o telefone em 1876, tentando criar um aparelho de audição para os Surdos. Unidade 1 Panorama Histórico da Educação do Surdo no Brasil 18 A seguir marcos importantes sobre oralismo: Tabela 1: 1878 1880 1971 I Congresso Internacio- nal sobre a Instrução de surdos, foi defendido que falar era melhor que usar sinais. Aconteceram deba- tes sobre a importância do papel da família na educa- ção e integração social do surdo e ganhos civis, onde os surdos passaram a ter o direito de assinar docu- mentos. II Congresso Mundial de Surdos-Mudos, em Mi- lão, Itália, foi organizado por maioria oralista com propostas de mudanças na educação dos surdos, apontando a valorização da língua oral. Congresso Mundial de Surdos em Paris foi re- tomado o valor e impor- tância da língua de sinais e o início da inserção da Comunicação Total. Comunicação Total Utilizou-se não somente a língua oral, mas todo e qualquer meio possível de se fazer compreender, a utilização de qualquer recurso linguístico, seja a língua de sinais, a língua oral ou códigosmanuais, ritmo, dança etc., para facilitar a comunicação com as pessoas Surdas. Conheça mais: Dorothy Shifflet, professora secundária, mãe de uma menina surda, estava descontente com os métodos oralistas e começou a utilizar, em uma escola na Califórnia, um método que combinava sinais, fala, leitura labial e treino auditivo denominando seu trabalho de Total Approach – Abordagem Total. A Comunicação Total foi desenvolvida no século XX, após o fracasso do Oralismo puro para muitos surdos, que não tiveram o sucesso esperado na leitura de lábios e na emissão de palavras. Unidade 1Panorama Histórico da Educação do Surdo no Brasil 19 O uso simultâneo da língua de sinais, na prática, demonstrou ser viável, pois ambas são diferentes, percebeu-se, então, a riqueza da variedade dos sinais, abrindo um canal para o Bilinguismo. Bilinguismo Tem como objetivo levar o surdo a desenvolver habilidades primeiramente na língua de sinais natural e depois na língua escrita, ambas de seu país. Vejamos a afirmação apresentada pelo autor Sacks referente ao Bilinguismo: As crianças surdas precisam ter contato primeiro com pessoas fluentes na língua de sinais, sejam seus pais, professores ou outros. Ao aprender a comunicação por sinais, crianças podem ser fluente aos três anos de idade, tudo então pode decorrer: livre intercurso de pensamento, livre fluxo de informações, aprendizado da leitura e escrita e, talvez, da fala. Não há indícios de que o uso de uma língua de sinais iniba a aquisição da fala. De fato, provavelmente ocorre o inverso (...) (SACKS, 2002, p.56). Iremos detalhar mais sobre o Bilinguismo e sobre a cultura surda nas próximas unidades. INES – Instituto Nacional de Educação e Integração dos Surdos Localizado no Rio de Janeiro, desenvolveu como o passar dos anos o caráter profissionalizante, atendendo alunos do sexo masculino e feminino. Em 1993 passou a ser um centro nacional de referência na área da surdez. É um órgão do Ministério da Educação – MEC, com a missão institucional de proteção, desenvolvimento e divulgação de conhecimentos científicos e tecnológicos na área da surdez, subsidiando a política nacional de educação, promovendo o desenvolvimento global da pessoa surda e a plena socialização e o respeito de suas diferenças, no INES foram capacitados os primeiros e principais divulgadores da LIBRAS. Unidade 1 Panorama Histórico da Educação do Surdo no Brasil 20 Conheça mais: Acesse o site do Instituto e c onheça um pouco mais do seu belo trabalho. http://w ww.ines.gov.br/ D. Pedro II tinha um neto surdo, filho da Princesa Isabel. Ele convidou o professor francês Hernest Huet, surdo, para vir ao Brasil e fundar o Instituto de Surdos Mudos no Rio de Janeiro em 1855 e, posteriormente, passou a ser denominado, em 1957, de Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), ao ter contato com os surdos brasileiros foi dado início a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Nossa língua de sinais originou-se da Língua Francesa de Sinais. 1.2 Família, cultura e identidade surda No contexto de família, muitos idealizam e buscam ser o porto seguro, o local de amor, de respeito, de aconchego, de proteção psicossocial, ou seja, o princípio da socialização, porém, bem sabemos que por vezes a realidade das famílias segue ca- minhos diferentes. As crianças crescem em busca de referenciais identitários, assim Unidade 1Panorama Histórico da Educação do Surdo no Brasil 21 também acontece com os surdos. Santos (2012) descreve que a família é a primeira instituição social, considera- da como base da sociedade. Quando se ensina cultura está se ensinando formas de agir com os outros, formas de lidar com o mundo, perpassando pelo contexto em que a criança está inserida e pela forma de se comunicar, mesmo com palavras, com gestos ou com vestimentas. Anteriormente, a descoberta da surdez acontecia, geralmente, de forma tardia, quando as mães e/ou responsáveis em geral na primeira infância, ou mesmo em idade escolar, pais ou professores, observavam detalhes como: limitação na interação da criança, a falta de atenção em algumas atividades, a quietude quando chamada, a porta que ao bater não a assustava, o sinal sonoro da escola, a tampa da panela que ao cair não provocava espanto, o som alto que não incomoda, dentre outras situações. Já a geração de crianças surdas dos últimos anos, tem um complemento na legislação na área da saúde no Brasil, a Lei Nº 12.303, de 2 de agosto de 2010, que torna obrigatória a realização gratuita do exame chamado Emissões Otoacústicas Evocadas, conhecida como “Teste da Orelhinha”, em todas as crianças nascidas em hospitais e maternidades e o procedimento é simples. Quando há constatação de alguma alteração no exame da criança, a famí- lia deve ser orientada e encaminhada para um serviço de diagnóstico, onde serão realizadas avaliações otorrinolaringológicas e exames complementares. Com o resultado do tipo e do grau da perda auditiva, o bebê precisa ser encaminhado para um programa de intervenção e orientação à família, preparando-os para a necessidade do uso de aparelhos de amplificação ou até mesmo de implante coclear e terapia de fonoaudiologia. O profissional fonoaudiólogo tem papel fundamental durante todas as fases do processo de detecção, diagnóstico e intervenção precoce nas alterações auditivas. Pesquisas sobre o implante coclear tiveram início na França por volta de 1957 e nos Estados Unidos foram utilizadas a partir de 1970. No Brasil a partir de 1988 o Grupo de Implante Coclear do Hospital das Clínicas e FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) iniciou suas atividades e tem acompanhado os pacientes implantados. Unidade 1 Panorama Histórico da Educação do Surdo no Brasil 22 Aparelho utilizado para implante coclear. Fonte: <http://implantecoclear.net/images/processor%20on%20ear.jpg> Há casos em que o implante não é indicado e a família segue para o aprendiza- do da língua de sinais e da oralização. Vamos imaginar a realidade de famílias com filho surdo. Pais ouvintes que con- vivem com filhos ouvintes dialogam livremente, ensinam quando estão sentados à mesa, brincam e interagem sobre a constituição familiar, podem dirigir e conversar com seu filho, eles cantam ou brincam na hora de dormir. E para os pais ouvintes com filhos surdos? Eles irão precisar de novos recursos para desenvolver a comuni- cação, bem como apoio de profissionais como otorrinolaringologista, fonoaudiólogo, psicólogo, assistente social, pedagogo e talvez outros profissionais. Observa-se que o primeiro recurso utilizado pelas famílias são gestos, mímicas e sinais próprios realizado em família, depois ao iniciarem o contato e o aprendizado da Língua de Sinais conhecem o alfabeto manual, os números e sinais básicos e a cultura surda. Unidade 1Panorama Histórico da Educação do Surdo no Brasil 23 Dica de Filme: “And Your Name Is Jonah” (Tradução para Português: Meu nome é Jonas), filme produzido nos Estados Unidos da América no ano de 1979, onde o pequeno Jonas permaneceu internado em uma instituição para crianças consideradas deficientes mentais. Ao descobrir o erro médico, seus pais o retiram do ambiente hospitalar e o levam para casa. Ocorrem diversas questões que são pontuadas em nossa atualidade em relação às famílias ouvintes com filhos surdos, e somente depois ao final quando acontece o acesso à comunidade surda e o contato da criança com seus pares pode- mos observar o início da construção do processo de identidade. https://www.youtube.com/watch?v=jPHlDcPxjx8Exemplos de sinais básicos Casa Eu Não Tchau Há o outro lado da história... Quando os pais são surdos e os filhos nascem ouvintes. Na família estará presente a cultura surda e a cultura ouvinte, os filhos se apropriam de duas línguas, a oral e a língua de sinais. Crescem em meio à diversida- de sociocultural e linguística. Mesmo sem compreender plenamente se tornam os pequenos intérpretes de seus pais. Temos pesquisadores que estudam sobre o CODA (Children of deaf adults – Filho de pais surdos). Leia o artigo e assista aos vídeos indicados e disponibilizados na sua plataforma, eles trarão novos conhecimentos a você. Na próxima Unidade você irá conhecer mais sobre a cultura e identidade do Surdo, as legislações que estão vigentes em nosso país e novos vocabulários. Unidade 1 Panorama Histórico da Educação do Surdo no Brasil 24 Conheça mais: Pensando no contexto familiar, a ssista ao vídeo indi- cado para conhecer uma pouco m ais. “Sourds et Malentendus” (Surd o e Incompreendido - Tradução para Português: Sou surdo e não sabia). Documentário produzido na Fra nça em 2009, apre- senta a história verídica de Sand rine Herman, surda de nascença, filha de pais ouvin tes, seu diagnóstico foi tardio, porém havia algo de p recioso na família: o carinho, afeto, o contato, a prox imidade que existiu desde o início, mas quando rece beram o diagnóstico da surdez tudo se desmoronou, seus pais não foram os mesmos, havia uma tristeza em seus rostos, depois compreendeu a decepção de seu s pais, a filha Sabri- ne passou a ser uma “Grande Or elha”. O filme ainda levanta a discussão sobre a conv eniência do implante coclear, da oralização de criança s surdas e da língua dos sinais. O link do filme está di sponível em seu AVA. Em 08/04/1864 foi fundada a primeira faculdade para Surdos, em Washington, nos Estados Unidos – Universidade Gallaudet, tem como língua oficial American Sign Language (ASL). A Língua de Sinais Ameri- cana em 2014 completou 150 anos. Acesse o material disponível em seu AVA. Unidade 1Panorama Histórico da Educação do Surdo no Brasil 25 Aprendemos que: Ao finalizarmos esta Unidade você aprendeu um pouco sobre a história dos surdos, suas lutas e conquistas, sua cultura e o quanto a língua de sinais é necessária para o desenvolvimento deste indivíduo. O acesso à comunicação é direito de todos. Ao assistir as vídeoaulas você terá a opor- tunidade de aprender o alfabeto manual, os números e sinais básicos para sua comunicação. Utilize bem este material, pois somos seres sociais e a inclusão pode efetivamente ser realizada por meio de cada profissional que tem o olhar e o respeito à diversidade. Atenção para seus estudos, estamos na Unidade I e temos muito a apren- der. Na próxima Unidade compartilharemos sobre a importância de co- nhecermos a Língua Brasileira de Sinais, cultura e identidade, e legislações que fazem valer os direitos das pessoas com deficiência e em especial a comunidade Surda. Até lá, esperamos você! Dica de Leitura: Indicação: Revista Fundação Otorrinolaringologista – Implante Co- clear – teste da orelhinha http://gforl.forl.org.br/Content/CKEditor/ou- vir1-635598693653568576.pdf1ª. Edição Aprenda mais com: Dra. Mara Gandara, otorrinolaringologista e professo- ra de Otorrinolaringologia da USP que apresenta as principais causas da surdez. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=QQeEc_3rmME/ Lucia- na Ferreira - Jovem Pan Online http://www.implantecoclear.org.br/textos.asp?id=6 Unidade 1 Panorama Histórico da Educação do Surdo no Brasil 26 Referências da Unidade I CAPOVILLA, C.F. e RAPHAEL, W.D. Enciclopédia Ilustrada Trilíngüe – Língua Brasi- leira de Sinais. Vol. I e II. São Paulo: São Paulo, 2001. GOLDFELD, Márcia. A criança surda. Linguagem e cognição numa perspectiva sociointeracionista. 3ª. Edição. São Paulo: Plexus, 2002. IBGE. Brasil, Disponível em: www.ibge.gov.br/apps . Acesso em 10 out de 2015. HONORA, Márcia. Inclusão educacional de alunos com surdez: concepções e alfa- betização: ensino fundamental. São Paulo: Cortez, 2014. KOJIMA, C. K.; SEGALA, Sueli Ramalho. LIBRAS - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – A imagem do Pensamento. Volume 2. São Paulo: Livros Escala, 2002. LACERDA, Cristina B.F. Um pouco da história das diferentes abordagens na edu- cação dos surdos. Campinas: Cad.CEDES.1998, vol.19,n.46. MOURA, M. C. de. O surdo: caminhos para uma nova identidade. Rio de Janeiro: Revinter. 2000. SA, Nidia Regina Limeira de. Cultura, Poder e Educação de Surdos: A questão da (s) identidade (s) surda (s).1.ed. Manaus: Universidade Federal do Amazonas, 2002. SACKS, O. W. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. Tradução Laura Teixeira Mota. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. SANTOS, C. S. L. S.Transmissão de Valores na Família: Uma abordagem a partir da teoria da comunicação. PUC/SP. São Paulo, 2012. Especialização em Terapia Fa- miliar e de Casal. SILVA, A. C.; NEMBRI, A. G. Ouvindo o silêncio. Surdez, linguagem e educação. Por- to Alegre: Mediação, 2008. SKLIAR, Carlos. A Surdez um olhar sobre as diferenças: Múltiplas identidades surdas.3.ed. Porto Alegre: Mediação, 2005. A Braz CubasUnidade 2Língua Brasileira de Sinais 27 2Unidade II Língua Brasileira de Sinais 2.1 Diversidade das línguas de sinais Caro(a) aluno(a), este deve ser um momento de grandes descobertas para você, então vamos em frente. Afinal, de qual língua estamos falando? A língua do SURDO-MUDO? Pense em sua vida cotidiana, você já viu ou ouviu alguém dizer: “Co- nheço um surdo-mudo”, “no meu trabalho tem uma moça surda-muda” ou “lá vai o mudinho”. Queremos esclarecer que este é um erro frequente da comunidade A Braz CubasUnidade 2 Língua Brasileira de Sinais 28 ouvinte, pois não necessariamente os surdos são também mudos. No Brasil os surdos utilizam a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. É o meio de comunicação da pessoa surda com perda auditiva profunda. De acordo com Gesser (2009), trata-se de uma língua de modalidade visuoespacial; ou seja, a língua, quando sinalizada, fica mais palpável e visível. Por meio dos sinais os surdos expressam seus sentimentos, suas dúvidas, suas propostas, suas intenções etc. Esse modo possibilita a saída do mundo fechado, causado pela falta do som, para a abertura do processo de sociabilização e inserção no mundo sociocultural dos ouvintes. Uma informação importante para aprendermos e socializarmos. Pereira (2011) relata que cada país tem sua língua de sinais, como tem sua língua na modalidade oral, as línguas de sinais são naturais, ou seja, nasceram naturalmente nas comuni- dades. A língua de sinais não é UNIVERSAL. Os seres humanos podem utilizar uma língua de acordo com a modalidade de percepção e produção desta: modalidade oral -auditiva (português, francês, inglês etc.) ou modalidade visuoes- pacial (língua de sinais brasileira, língua de sinais americana, lín- gua de sinais francesa etc.)” (QUADROS & KARNOPP, 2004, p.24). A Braz CubasUnidade 2Língua Brasileira de Sinais 29 Alfabeto Manual da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS A Braz CubasUnidade 2 Língua Brasileira de Sinais 30 Veja alguns exemplos da diversidade das línguas de sinais: Alfabeto manual de outros países: LIBRAS Americano Francês Italiano Você poderá visualizar o alfabeto manual completo de outros países na sua plataforma. A Braz CubasUnidade 2Língua Brasileira de Sinais 31 Para Quadros & Karnopp (2004), as línguas de sinais são distintas e há também os dialetos, comoem outras línguas orais. Seus parâmetros fonológicos são locação, movimento e configu- ração de mãos. (QUADROS & KARNOPP, 2004, p.51). A Professora e Fonoaudióloga Dra. Maria Cecilia Moura (2006), explica que dentro da sociedade ouvinte, eles (os surdos) construíram uma comunidade própria, com sua cultura, sua língua e tentaram se estabelecer como grupo minoritário que pudesse ser aceito numa visão multicultural. Numa visão multicultural podemos pensar em diferenças cul- turais que podem se revelar nos aspectos relacionados aos comportamentos, valores, atitudes, em que a surdez não é vista como doença, mas como uma diferença; de estilos cognitivos, que talvez pudéssemos considerar como diferentes por serem gerados por uma forma de perceber o mundo pela via visual e de práticas sociais que se estabelecem pela sua forma de lingua- gem. (MOURA, 2000, p.66) Conheça mais: Em sua plataforma disponibili zamos o vídeo: “Quem é a pessoa surda?” da ONG Vez da Voz, em que a Profa. Dra. Maria Cecília Moura – Fo noaudióloga, Pesquisa- dora e Docente da PUC/SP - P aullo Vieira – surdo – e Fabiano Campos – Intérprete de LIBRAS – mostram o que é a LIBRAS feita por um su rdo. A Braz CubasUnidade 2 Língua Brasileira de Sinais 32 Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) a deficiência auditiva é entendida como um tipo de privação sensorial, onde o sintoma comum é a reação anormal diante do estímulo sonoro. Do ponto de vista médico, a surdez é considerada um déficit sensorial que acarreta uma incapacidade de ouvir, empobrecendo a comuni- cação. Art. 2º Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Parágrafo único. Considera-se defi- ciência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um de- cibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. (Decreto 5.626 de 22/12/2005.) 2.2 Cultura e Identidade Surda Como você se sentiria se fosse transferido para a China, sem nunca ter tido contato com a língua falada, a língua escrita, com a cultura, com os hábitos, enfim, com a forma de viver daquele povo? O mesmo acontece com o surdo quando se depara com a realidade da cultura ouvinte. Será que é fácil? Então, quando se relacionar com um surdo pense nas difi- culdades e obstáculos diários que ele precisa superar para conviver e se comunicar. A Braz CubasUnidade 2Língua Brasileira de Sinais 33 Karin Strobel (2008), surda, esclarece que a cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de torná-lo acessível e habitável, ajustando-os com as suas percepções visuais que, contribuem para a definição das identidades surdas e das “almas” das comunidades surdas. Veja que interessante... Dentro da cultura da comunidade surda, além do seu nome civil, cada surdo recebe uma espécie de ‘batismo’ de seu nome com um sinal que o identifique. Veja abaixo. Este é o JOÃO. Ele foi batizado (em Língua de Sinais) com o sinal da letra “J”, em LIBRAS, realizada à frente do corpo com a mão direita. Os amigos ao se referirem a este João, utilizam o sinal com o qual foi batizado. E ele, ao se apresentar, faz seu sinal, ou seja, seu ‘novo nome em LIBRAS’. Esta é uma forma de facilitar sua identificação, para que não seja necessária a soletração de seu nome, usando o sinal direto conforme batizado pelo surdo. Os ouvintes em contato direto com os outros surdos, ou que fazem parte de seu convívio em família, ou por amigos, escola e professores também recebem de ‘presente’ um sinal dos surdos para sua identificação pessoal. Conhecer sobre a língua de sinais nos possibilita conhecer e acessar uma nova língua, que manifesta um novo costume e uma nova cultura. Assim, podemos fazer acontecer realmente a inclusão, deixando para traz o preconceito, a exclusão, a falta de integração social e outras questões. Por isso a informação, a conscientização e o conhecimento são de grande valia para todos. Você pode e deve ser um multiplicador deste novo saber. A Braz CubasUnidade 2 Língua Brasileira de Sinais 34 Veja que interessante o que diz o Fonoaudiólogo Dr. Carlos Bernardo Skliar (2009) quando explica que dentro da comunidade dos Surdos, o mundo é visto como sendo dividido entre o mundo dos surdos e o mundo dos ouvintes. De acordo com Skiliar (2009) no mundo dos Surdos não existem incapazes, mas simplesmente a utilização de uma linguagem diferente, sendo visual/gestual. Assim, é correto afirmar que as pessoas que falam línguas de sinais expressam sen- timentos, emoções e quaisquer ideias ou conceitos abstratos. A diferença está no canal de comunicação, o qual é visual. Bernardino (2000), faz uma importante observação nas funções da língua, apresentando-a como via de acesso para o desenvolvimento do surdo em todas as esferas do conhecimento, pois desempenha a função de suporte do pensamento e estimula o desenvolvimento cognitivo e social, também expõe que a Língua Oral não preenche todas as funções, sendo imprescindível o aprendizado de uma língua visual-sinalizada desde a primeira infância. “Não é a surdez que compromete o desenvolvimento do sur- do, e sim a falta de acesso a uma língua. A ausência dela tem consequências gravíssimas: tornar o indivíduo solitário, além de comprometer o desenvolvimento de suas capacidades mentais (GESSER, 2009, p.76)”. Dentro da cultura Surda existe ainda a questão das variações próprias das regionalidades, espécies de ramificações, que propicia a criação e variação de sinais que são específicos da mesma maneira como utilizamos na língua oral, como exem- plo: A Braz CubasUnidade 2Língua Brasileira de Sinais 35 - o sinal da palavra AVIÃO. Sinal de avião em SP Sinal de avião no RJ A comunidade linguística surda é minoritária comparada à comunidade linguís- tica ouvinte, isso, de certa forma, os leva a se organizarem em grupos e associações e a estabelecerem condutas e valores próprios. Como em qualquer outra cultura, os membros compartilham valores, crenças e comportamentos comuns, e o principal, uma língua própria, diferente da maioria. Você pode pesquisar sobre a Federação Nacional de Educação e Integra- ção dos Surdos (FENEIS) – é uma entidade filantrópica com finalidade sociocultural, assistencial e educacional. Tem por objetivo a defesa e a luta dos direitos da Comunidade Surda Brasileira. O seu maior propósito tem sido divulgar a LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais. A FENEIS busca ampliar seus convênios com diversas empresas a fim de possibilitar a contratação dos surdos pelo mercado de trabalho. A FENEIS está representada nos Estados do Amazonas, Minas Gerais, Ceará, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná e Pernambuco. A língua de sinais é o símbolo de identidade para os surdos e pertencer a uma comunidade surda se dá pelo domínio da língua de sinais e pelo sentimento de pertencimento, pois na comunidade, a surdez é vista como uma diferença e não deficiência. O principal meio de integração social utilizada pelos surdos é a língua de sinais, seja na família, na escola ou nos grupos de amigos. Nesse grupo, o tido como normal é, justamente, ser surdo! Vamos conhecer algumas características no processo de comunicação e interação social dos surdos. A Braz CubasUnidade 2 Língua Brasileira de Sinais 36 O TOQUE FEEDBACK CONTATO VISUAL É uma forma de chamar a atenção. Como as pes- soas surdas não ouvem alguém que se aproxima por tráspara chamá-lo é necessário, por exemplo, que, com um toque, você chame a sua atenção. Atenção! O toque deve ser leve e dado no braço ou antebraço, nunca em ou- tra parte do corpo, princi- palmente na cabeça. Há uma grande preocupa- ção por parte do surdo de que a(s) outra(s) pessoa(s) entenda(m) o que ele está dizendo, por isso, é co- mum ele reforçar mais de uma vez a informação passada, perguntando se entendeu, por exemplo. O contato visual é extre- mamente valorizado, pois toda sua comunicação está diretamente relacio- nada ao campo da visão (desde que não seja sur- do-cego1, nesses casos há outra forma de interação). Para algumas pessoas (ouvintes) manter um con- tato visual nem sempre é fácil. Dicas importantes na interação com surdo: 1 Não desvie o olhar, o contato visual para o surdo é fundamental. Caso isso não ocorra ele pode se sentir desrespeitado, ignorado, ou achar que você não tem interesse na conversa; 2 Virar de costas é um insulto. Não dê as costas ao surdo quando estive- rem interagindo. Caso precise se virar, o avise; 3 Cumprimento, tanto na chegada, como na despedida os surdos são mais formais, dispendem atenção total à pessoa cumprimentada. Por isso, retirar-se silenciosamente, sem se despedir é uma indelicadeza; 4 Falar pausadamente. Alguns surdos são capazes de fazer leitura labial, habilidade adquirida ao longo do tempo com treino, ou por ter perdido a audição após um período como ouvinte. 5 Se duas pessoas surdas estiverem conversando, e você quiser falar com uma delas, posicione-se ao lado da pessoa com a qual quer con- versar e aguarde ela olhar para você. 1 LIBRAS – Tátil - É a LIBRAS realizada na palma de uma das mãos de pessoas surdo-cegas por meio de um profissional identificado como guia-intérprete, que ao sair acompanhado(a) de uma pessoa surdo- cega para fazer compras, pagar contas, cumprir compromissos profissionais etc., se utiliza de diversos recursos de comunicação. Além da LIBRAS Tátil, um outro recurso é o método Tadoma. A Braz CubasUnidade 2Língua Brasileira de Sinais 37 Veja alguns sinais que podem ajudá-lo na interação com os surdos. OI Obrigado Desculpa Tchau Aprenda outros sinais como: Bom dia! Boa Tarde! Boa noite! Assistindo nossas aulas. Para complementar, vamos apresentar os sinais referentes a dias da semana e meses do ano, vai que alguém te pergunte que dia da semana é hoje, ou em qual mês você faz aniversário... Vamos começar com os DIAS DA SEMANA A Braz CubasUnidade 2 Língua Brasileira de Sinais 38 Segunda-feira dedo indicador e médio Terça-feira dedo indicador, médio e anular Quarta-feira dedo indicador, médio, anular e mínimo Quinta-feira dedo indicador, médio, anular e mínimo Sexta-feira dedo indicador flexionado em X Sábado a configuração começa em C e termina em S Domingo dedo configurado em D, na frente do rosto com o movi- mento circular 1x A Braz CubasUnidade 2Língua Brasileira de Sinais 39 MESES DO ANO Importante! O sinal referente ao mês sempre é feito antes do nome do mês. Sinal referente ao mês. Representa o sinal “1” antes do nome do mês. Janeiro Março Fevereiro Abril Maio Junho A Braz CubasUnidade 2 Língua Brasileira de Sinais 40 Julho Setembro Novembro Agosto Outubro Dezembro A seguir falaremos sobre legislações que foram aprovadas em nosso país e que contemplam as pessoas com deficiência. A Braz CubasUnidade 2Língua Brasileira de Sinais 41 2.3 Legislações VOCÊ SABIA QUE LIBRAS É A SEGUNDA LÍNGUA DO NOSSO PAÍS? O Brasil reconheceu a Língua Brasileira de Sinais por meio da Lei Nº 10.436 de 24/04/2002. Desde este período temos novos direcionamentos legais específicos à população que necessita de acessibilidade e integração social por meio da língua de sinais. Com tal reconhecimento a pessoa Surda pode vivenciar uma maior inclusão social, ampliando as possibilidades de vencer as barreiras da falta de comunicação e socialização, estabelecendo níveis importantes de cidadania. Outra conquista da comunidade surda foi o Decreto 5.626 de 22/12/2005 que determinou que a Língua Brasileira de Sinais recebesse proteção e respeito no uso corrente das comunidades surdas. Ele assegura a presença de profissionais intérpre- tes nos espaços formais e institucionais, como na administração pública direta e in- direta e a inclusão do ensino da LIBRAS nos cursos de formação e educação especial, tais como: fonoaudiologia, magistério e profissionais intérpretes sendo optativo para o aluno e obrigatório para a instituição de ensino. Além disto, o Decreto dispõe sobre a inclusão de LIBRAS como disciplina cur- ricular regular para os cursos de Licenciatura, Fonoaudiologia e cursos de Educação Especial. Para os cursos de ensino superior e na educação profissional constitui-se como disciplina curricular optativa, bem como apresenta em seu Capítulo II, Art. 6º, inciso III que: os serviços de atendimento para as pessoas com deficiência auditiva, A Braz CubasUnidade 2 Língua Brasileira de Sinais 42 sejam, prioritariamente, prestados por intérpretes ou pessoas capacitadas em Lín- gua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Considerando a Portaria do MEC 976/2006, encontramos os artigos abaixo: Art. 1° - Os eventos, periódicos ou não, realizados ou apoiados, direta ou indiretamente, pelo ministério da Educação e por suas entidades vinculadas deverão atender aos padrões de acessibili- dade do decreto n° 5.296/2004. Art. 3° - A contratação de serviços de organizações, apoio e reali- zação dos eventos pelo Ministério da educação e entidades vin- culadas deverá prever e prover: I - disponibilização de serviços de tradutores e intérpretes de Língua Brasileiras de Sinais – LI- BRAS para pessoas surdas ou com deficiência auditiva. Podemos ressaltar que a comunidade surda tem se mobilizado por meio de movimentos, manifestações, reuniões junto com as federações de surdos, com intuito de discutirem e reivindicarem o acesso a Educação Bilíngue. Identificação Assunto e Link (acesso direto ao aluno) Lei Nº 10.098 de 19/12/2000 Lei de Acessibilidade – LIBRAS como idioma das comunidades Surdas do Brasil http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L10098.htm Lei Nº 10.436 de 24/04/2002 Lei que reconhece a Língua Brasileira de Sinais http://www.planalto.govw.br/ccivil_03/leis/2002/L10436.htm Ato portaria Nº 2.073 de 28/09/2004 Institui a Política de Atenção à Saúde Auditiva http://www.saude.mg.gov.br/images/documentos/PORTARIA_2073. pdf Decreto Nº 5.626 de 22/12/2005 Regulamenta a Lei no 10.436, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/ D5626.htm A Braz CubasUnidade 2Língua Brasileira de Sinais 43 Lei Nº 11.796 de 29/10/2008 Institui o Dia Nacional dos Surdos - 26 de Setembro de cada ano http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/ L11796.htm Lei Nº 12.319 Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasilei- ra de Sinais – LIBRAS Lei Nº 12.319 de 01/11/2010 LIBRAS http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/ L12319.htm Decreto Nº 7.611 de 17/11/2011 Dispõe sobre Educação Especial - Atendimento Educacional Especia- lizado – AEE http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/ d7611.htm Decreto 7.612 de 17/11/2011 Institui o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência - Pla- no Viver sem Limite http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7612.htm Portaria Nº 793 de 24/04/2012 Institui a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no âmbito do Sistema Único de Saúde http://www.conass.org.br/index.php?option=com_content&view=ar- ticle&id=713:ci-n168-publicada-pt-gm-n793-que-institui-a-rede-de- cuidados-a-pessoa-com-deficiencia-no-ambito-do-sus&catid=6:co- nass-informa&Itemid=14 Lei Nº 13.146 de 06/07/2015 Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência - Esta- tuto da Pessoa com Deficiência http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/ L13146.htm Independente da sua área de formação e atuação consulte as leis que apresentamos – estão disponíveis no seu AVA, pois, o conhecimento é de grande valia e possibilita nos apropriarmos dos direitos já adquiridos na área da pessoa com deficiência. Vale citar que há municípios, estados ou regiões contemplados com Centros de Referência ou de Reabilitação dedicados ao atendimento à pessoa com deficiên- cia. Pesquise em sua região e se informe sobre esses locais. A Braz CubasUnidade 2 Língua Brasileira de Sinais 44 Conheça mais: Os surdos podem ser habilitados para dirigir carro e moto. Acesse a Midiateca. CONQUISTAS DA COMUNIDADE SURDA NA ATUALIDADE Pinóquio em Língua de Sinais - Legendad o Português História de Pinóquio Interpretado por Nel son Pimenta – 1º. Ator surdo, graduado em Letras – UF SC e Cinema – UNESA, Mestre em Estudos da Tradução -UFSC https://www.youtube.com/watch?v=C7Ue gznsZ_w Poesia em LIBRAS - Nelson Pimenta https://www.youtube.com/watch?v=xmOn Y1B2jEI Piloto Surdo – João Paulo Marinho dos Sa ntos TV INES – Super Ação https://www.youtube.com/watch?v=3V-pF 4oxJns - J - 0 4/09/2014 Surdo Piloto em Palestra no INES 04/11/ 2015 https://www.youtube.com/watch?v=WXHi SCx91Ok 1º. Paraquedista Surdo da América Lat ina Eduardo Tetamanti – DUDU TETA https://www.youtube.com/watch?v=-WED bx_480g A Braz CubasUnidade 2Língua Brasileira de Sinais 45 Aprendemos que: Os surdos estão inseridos em uma cultura própria. A língua de sinais não é universal, há língua de sinais específica de cada país, e há sinais diferentes por regionalidade, ainda que no mesmo país. A LIBRAS foi reconhecida em nosso país em 2002. Aprendemos sobre algumas leis, Decretos e Portarias que estão aprovadas e precisam ser implantadas. Na Unidade III compartilharemos sobre a Estrutura Gramatical da Língua Brasileira de Sinais e você irá descobrir as características da modalidade gestual-visual-espacial, a construção e a formação da LIBRAS, compreendendo a importância da configuração de mãos nesta língua e muito mais. Dica de Leitura: Cartilha de LIBRAS http://pt.slideshare.net/Partido_Verder_SP/cartilha-de-LIBRAS https://www.youtube.com/watch?v=zVHSrfgH9ik Ressoar - TeleLIBRAS 107 - O primeiro telejornal inclusivo (o link é extenso, por favor deixar o acesso por 3 min.04) Revista Sentidos http://revistasentidos.uol.com.br/inclusao-social/0/surdo-219280-1. asp Livro: “LIBRAS – Conhecimento além dos sinais”. Disponível em nossa Biblioteca Virtual A Braz CubasUnidade 2 Língua Brasileira de Sinais 46 Referências da Unidade II BERNARDINO, E.L. Absurdo ou lógica? Os surdos e sua produção linguística. Belo Horizonte: Profetizando Vida, 2000. GESSER, Audrei. LIBRAS: Que língua é essa? Parábola Editora – São Paulo 2009. PERLIN,G.T. Histórias de vida surda: Identidades em questão. Dissertação Mes- trado - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 1998. QUADROS, R. M. Educação de Surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artmed, 1997. QUADROS, R.M. & KARNOPP, L.B. Língua de Sinais Brasileira – Estudos Linguísti- cos. Porto Alegre: Artmed, 2004 QUADROS R.M. e PERLIN, G (Org.) Estudos Surdos I. Petrópolis, RJ. Arara Azul, 2006. SKLIAR, C. (Org.) A atualidade da educação bilíngue para surdos: processos e pro- jetos. Porto Alegre: Mediação, 2009. A Braz CubasUnidade 3Aspectos Linguísticos e Gramaticais da LIBRAS 47 3Unidade III Aspectos Linguísticos e Gramaticais da LIBRAS A partir de agora vamos nos aprofundar ainda mais nas questões linguísticas e gramaticais da língua de sinais. É uma língua que se compõe de todos os aspectos como qualquer outra língua, falada ou escrita. As pessoas estão acostumadas a relacionar língua apenas com o dom da fala. Assim, quando falamos em língua de sinais, que exige uma asso- ciação de língua com sinais, normalmente as pessoas apresentam concepções equivocadas. (QUADROS, 1997, p.46). A língua de sinais tem uma estrutura própria e existem algumas regras do portu- guês que são totalmente incompatíveis. Pode-se citar, por exemplo, o uso de artigo,co- mumente utilizada no português, mas não utilizado na língua de sinais. A Braz CubasUnidade 3 Aspectos Linguísticos e Gramaticais da LIBRAS 48 Como toda língua, a língua de sinais é viva, dessa forma, ao longo do tempo, fo- ram e são incorporados novos vocábulos/sinais a ela; assim, quando há a necessidade, a comunidade surda, com base em estudos e discussões, decide por um novo sinal e, desde que se torne aceito pela comunidade surda, será então divulgado e incorporado à LIBRAS. Lembrando: Cada país tem a sua própria língua, embora possa haver semelhan- ça entre um e outro país. O alfabeto manual é utilizado para soletrar, essa soletração chama-se datilo- logia. É usada para expressar nomes de pessoas, lugares e outras palavras que não possuem sinal. 3.1 Os cinco parâmetros da LIBRAS Para sinalizar ou fazer os sinais é necessário que utilizemos os cinco parâmetros que compõem a Língua Brasileira de Sinais. De acordo com o MEC (2007), podemos encontrar os seguintes parâmetros: Configuração de Mãos (CM), Ponto de Articulação (PA), Movimento (M), Orientação (OR), Expressão Facial e/ou Corporal (EF/C). A Braz CubasUnidade 3Aspectos Linguísticos e Gramaticais da LIBRAS 49 1. Configuração de Mãos (CM): São formas das mãos, que podem ser da datilologia (Alfabeto Manual) ou outras formas feitas pela mão predominante (mão direita para os destros), ou pelas duas mãos do emissor ou sinalizador. Os sinais APRENDER e LARANJA têm a mesma configuração de mãos. Aprender Laranja Nesse caso, a diferença está na localização da mão, pois a configuração de mãos (letras “C” + “S”) são iguais.Para sinalizarmos a palavra APRENDER a mão é posicionada sobre a testa e para a palavra LARANJA a mão deve estar sobre a boca. Importante, o movimento é o mesmo para as duas palavras. A Braz CubasUnidade 3 Aspectos Linguísticos e Gramaticais da LIBRAS 50 Configuração de Mãos A Braz CubasUnidade 3Aspectos Linguísticos e Gramaticais da LIBRAS 51 2. Ponto de Articulação (PA): É o lugar onde incide a mão predominante configurada, podendo esta tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro vertical (do meio do corpo até a cabeça) e/ou horizontal (à frente do emissor). Os sinais ÁRVORE e TRABALHAR são feitos no espaço neutro. Árvore Trabalhar Já os sinais “PESSOA” e “APRENDER” são feitos na testa. Pessoa Aprender A Braz CubasUnidade 3 Aspectos Linguísticos e Gramaticais da LIBRAS 52 3. Movimento (M): Os sinais podem ter um movimento ou não. Os sinais citados acima tem movimento. O sinal, EM-PÉ, não tem movimento. Já o sinal CAIR tem a mesma configuração de mãos, com o movimento. Entendemos então que uma pessoa caiu. 4. Orientação (OR): Os sinais podem ter uma direção e a inversão desta pode significar ideia de oposição, contrário ou concordância. Para Ferreira-Brito (1995)a orientação é um parâmetro fundamental, pois a disposição das mãos pode ocorrer com a mão dominante ou não, ou as mãos podem ser utilizadas juntas para formar um determinado sinal. Vale explicar que quando fazemos um sinal, precisamos atentar para a posi- ção do sinal, afim de que ele não represente outra palavra que não esteja dentro do contexto. Veja: A Braz CubasUnidade 3Aspectos Linguísticos e Gramaticais da LIBRAS 53 Querer Não Querer 5. Expressão Facial e/ou Corporal (EF/C): Transmite de modo coerente a ideia sinalizada e dá ênfase à comunicação. A expressão facial precisa ser compatível com o que está sendo transmitido. Vejamos alguns exemplos: Expressão facial de afirmação e negação Expressão facial de bravo De modo geral as expressões faciais são formas de comunicação, um sinal feito sem a devida atenção, pode alterar totalmente seu significado, veja a tamanha importância da expressão facial. Neste caso, as expressões aqui mostradas estão ligadas a sentimentos ou emoções. A Braz CubasUnidade 3 Aspectos Linguísticos e Gramaticais da LIBRAS 54 Alegre Orgulhoso Desconfiado Admirado Muitos sinais, além dos parâmetros mencionados acima, têm como traço diferenciador, também, a expressão facial e corporal. Leia e veja mais exemplos sobre aspectos fonológicos no livro: LIBRAS – Conhecimento além dos sinais. Este livro está disponível na nossa biblioteca virtual. 3.2 Diferenças entre as regras gramaticais da Língua Portuguesa e da LIBRAS Como na Língua Portuguesa, na Língua Brasileira de Sinais também temos substantivos, verbos, pronomes, adjetivos e advérbios na construção da comunicação. Na LIBRAS os verbos são utilizados no infinitivo. Já em Português, o verbo é uma palavra de forma variável que representa o tempo (passado, presente e futuro) em que está ocorrendo a ação.Na LIBRAS, a construção das frases não utiliza artigos e a ordem da composição é diferente. Vamos relembrar: o Surdo é visual Veja o exemplo: A Braz CubasUnidade 3Aspectos Linguísticos e Gramaticais da LIBRAS 55 Português: JOÃO BATEU O CARRO. SUJEITO VERBO ARTIGO OBJETO LIBRAS: CARRO JOÃO BATEU. OBJETO SUJEITO VERBO Carro João bateu Assista ao vídeo: “Estrutura Gramatical em LIBRAS” - Trecho da entrevista com Sueli Ramalho Segala no programa Provocações, da TV Cultura, disponível em sua plataforma. 3.2.1 Classificador na LIBRAS Na LIBRAS os classificadores são incorporados ao sinal e tem como característica atribuir uma qualidade a um objeto, pessoa ou animal, funcionam como marcadores de concordância, eles podem ser animados ou inanimados, pode ser um recurso quanto à forma, tamanho ou movimento ou pode auxiliar na A Braz CubasUnidade 3 Aspectos Linguísticos e Gramaticais da LIBRAS 56 forma de descrever a maneira como esse objeto é segurado e/ou se comporta na ação verbal. Muitos classificadores são icônicos em seu significado pela semelhança entre a sua forma ou tamanho do objeto a ser referido. As vezes o CL refere-se ao objeto ou ser como um todo, outras refere-se apenas a uma parte ou característica do ser. (FERREIRA-BRITO, 1995). Exemplo: a) João pintará a casa. (Português) b) Casa João pintar (classificador = rolo de pintura). (LIBRAS) Casa Objeto João Sujeito/Sinal pintar Verbo/ Indicação de movimento de pintar com rolo é o Classificador Importante: O posicionamento do corpo auxilia no entendimento do contexto da comunicação, que pode expressar tempo, espaço, lugar, pessoa(s). Atenção!!! Trabalharemos este item em uma de nossas aulas. Assista! A seguir vamos conhecer... A Braz CubasUnidade 3Aspectos Linguísticos e Gramaticais da LIBRAS 57 3.2.2 Pronomes Pessoais Os pronomes, na língua de sinais, são expressos utilizando-se o dedo indicador, na forma de apontar. Em Língua Portuguesa, e em nossa educação formal, aprende- mos que é “feio e inadequado” apontar, porém em LIBRAS, nesse caso é necessário. Fique tranquilo! Eu Você Nós Ele ou Ela A Braz CubasUnidade 3 Aspectos Linguísticos e Gramaticais da LIBRAS 58 Vocês dois Vocês três Grupo A Braz CubasUnidade 3Aspectos Linguísticos e Gramaticais da LIBRAS 59 Leia e veja mais exemplos sobre aspectos fonológicos no capítulo 03 do livro: Libras – Conhecimento além dos sinais. Este livro está disponível na nossa biblioteca virtual. Conheça mais: Disponibilizamos em seu AVA o Hino Nacional - Expli- cado em LIBRAS – INES Um trabalho muito importan te realizado pelos pro- fissionais do INES descrevendo e explicando cada mo- mento do Hino Nacional Bras ileiro em LIBRAS, conse- guindo de maneira muito clar a e didática enunciar as os momentos narrados no hin o. Aprendemos que: Nessa unidade aprendemos os aspectos da gramática da língua de sinais. Observamos a importância dos parâmetros dos sinais em comparação com a língua portuguesa e suas características. Os pares mínimos que são elementos da Língua Brasileira de Sinais e são caracterizados quando há a alteração de somente um dos parâmetros modificando assim o sinal seu significado e significante. Vimos que a construção de uma frase em LIBRAS é bem específica, diferen- te do Português. Em destaque temos o tempo verbal e a não utilização de artigo. LIBRAS é uma língua, não uma linguagem, e possui recursos infinitos para designar quaisquer que sejam os assuntos a serem discutidos. Os classificadores não são “mímicas”, mas sim a atribuição de uma quali- dade ou característica ao sinal. A Braz CubasUnidade 3 Aspectos Linguísticos e Gramaticais da LIBRAS 60 Dica de Leitura: Prezado Estudante, a Profa. Dra. Ronice Müller de Quadros é docente da UFSC, pesquisadora da língua de sinais, lançou 4 livros sobre o Estudos Surdos, abaixo indicamos o link do livro I, eles estão disponíveis on line. Aproveite a oportunidade para adquirir conhecimento. Estudos surdos I / Ronice Müller de Quadros (org.). [Petrópolis, RJ] : Arara Azul, 2006. http://servicos.spei.br/site/arquivos/biblioteca/livros/estudos_ surdos_1_A.pdf Referências da Unidade III BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de línguas de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro: UFRJ, Departamento de Lingüística e Filologia, 1995. FELIPE, Tanya A; MONTEIRO, Myrna S. LIBRAS em Contexto: curso básico, livro do professor instrutor – Brasília : Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos, MEC: SEESP, 2001. PIMENTA, Nelson; QUADROS, Ronice Muller de. Curso de LIBRAS 1. Rio de Janeiro : LSB Vídeo, 2006. QUADROS, Ronice Muller de; KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de Sinais Brasileira: estudos lingüísticos. Porto Alegre : Artmed, 2004. A Braz CubasUnidade 4Acessibilidade e Cultura Surda 61 4Unidade IV Acessibilidade e Cultura Surda 4.1 Acessibilidade para os Surdos Estamos na reta final! Vimos um pouco da história da Língua Brasileira de Sinais, entendemos como ela é organizada, sua importância, aprendemos sobre a gramática e as diferenças entre o Português e a LIBRAS. Neste momento iremos falar sobre formas de acessibilidade e inclusão dos surdos. O Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005, regulamentou a Lei 10.436 de 24 de Abril de 2002, desde então temos que estar cientes das legislações para aten- der melhor as necessidades da pessoa com surdez. O Art. IV do Dercreto 5626, apresenta:DO USO E DA DIFUSÃO DA LIBRAS E DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA O ACESSO DAS PESSOAS SURDAS À EDUCAÇÃO A Braz CubasUnidade 4 Acessibilidade e Cultura Surda 62 Art. 14. As instituições federais de ensino devem garantir, obrigatoriamente, às pes- soas surdas acesso à comunicação, à informação e à educação nos processos sele- tivos, nas atividades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades de educação, desde a educação infantil até à superior. § 1o Para garantir o atendimento educacional especializado e o acesso previsto no caput, as instituições federais de ensino devem: I - promover cursos de formação de professores para:§ 1o Para garantir o atendi- mento educacional especializado e o acesso previsto no caput, as instituições fede- rais de ensino devem: I - promover cursos de formação de professores para: a) o ensino e uso da LIBRAS; b) a tradução e interpretação de LIBRAS - Língua Portuguesa; e c) o ensino da Língua Portuguesa, como segunda língua para pessoas surdas; II - ofertar, obrigatoriamente, desde a educação infantil, o ensino da LIBRAS e tam- bém da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos; III - prover as escolas com: a) professor de LIBRAS ou instrutor de LIBRAS; b) tradutor e intérprete de LIBRAS - Língua Portuguesa; c) professor para o ensino de Língua Portuguesa como segunda língua para pessoas surdas; e d) professor regente de classe com conhecimento acerca da singularidade lingüística manifestada pelos alunos surdos; IV - garantir o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos, desde a educação infantil, nas salas de aula e, também, em salas de recursos, em turno contrário ao da escolarização; V - apoiar, na comunidade escolar, o uso e a difusão de LIBRAS entre professores, alunos, funcionários, direção da escola e familiares, inclusive por meio da oferta de cursos; VI - adotar mecanismos de avaliação coerentes com aprendizado de segunda língua, na correção das provas escritas, valorizando o aspecto semântico e reconhecendo a singularidade lingüística manifestada no aspecto formal da Língua Portuguesa; A Braz CubasUnidade 4Acessibilidade e Cultura Surda 63 VII - desenvolver e adotar mecanismos alternativos para a avaliação de conhecimen- tos expressos em LIBRAS, desde que devidamente registrados em vídeo ou em ou- tros meios eletrônicos e tecnológicos; VIII - disponibilizar equipamentos, acesso às novas tecnologias de informação e co- municação, bem como recursos didáticos para apoiar a educação de alunos surdos ou com deficiência auditiva. § 2o O professor da educação básica, bilíngüe, aprovado em exame de proficiência em tradução e interpretação de LIBRAS - Língua Portuguesa, pode exercer a função de tradutor e intérprete de LIBRAS - Língua Portuguesa, cuja função é distinta da função de professor docente. § 3o As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar atendimento educacional especializado aos alunos surdos ou com deficiência auditiva. Art. 15. Para complementar o currículo da base nacional comum, o ensino de LIBRAS e o ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos, devem ser ministrados em uma perspectiva dialógica, funcional e ins- trumental, como: I - atividades ou complementação curricular específica na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental; e II - áreas de conhecimento, como disciplinas curriculares, nos anos finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior. Art. 16. A modalidade oral da Língua Portuguesa, na educação básica, deve ser ofer- tada aos alunos surdos ou com deficiência auditiva, preferencialmente em turno dis- tinto ao da escolarização, por meio de ações integradas entre as áreas da saúde e da educação, resguardado o direito de opção da família ou do próprio aluno por essa modalidade. Neste contexto os surdos estão amparados para receberem uma educação bilíngüe. O Bilinguismo refere-se ao ensino de duas línguas diferentes para o sujeito surdo, a primeira, a Língua de Sinais, que é considerada a língua natural dos surdos, e a segunda língua, a língua oral utilizada em seu país, no nosso caso A Língua Portu- guesa. No nosso país o surdo deve conhecer LIBRAS e Português. A Braz CubasUnidade 4 Acessibilidade e Cultura Surda 64 Apesar de variações entre os profissionais de diferentes países, em relação à época em que vai se introduzir as duas línguas e se a segunda língua será a oral ou a escrita, o consenso entre todos é a importância do contato da criança surda com a língua de sinais desde o nascimento. Por isso a necessidade do diagnóstico precoce. Aqui no Brasil, concebemos a perspectiva da educação bilíngue a partir da ideia de que a LIBRAS é a primeira língua dos surdos, é sua língua natural, e a Língua Por- tuguesa, em sua modalidade escrita, a segunda língua. É por esse motivo que hoje você está estudando esta disciplina! Para definirmos o bilinguismo precisamos antes considerar as capacidades lin- guísticas básicas da pessoa falante. Essas capacidades são: • capacidades de expressão oral: que envolve falar e escutar; • capacidades de expressão escrita, que são as capacidades de ler e escrever. Ao falarmos da pessoa surda temos que entender, neste caso, suas capacida- des linguísticas se manifestam de maneiras distintas. É possível que a pessoa que ad- quiriu a surdez, antes de desenvolver a linguagem aprenda, mesmo que de maneira limitada, a oralizar a língua portuguesa. Isso é possível com a ajuda de seções com um profissional fonoaudiólogo. No entanto, visto que existe uma limitação auditiva, por não ter a capacidade de escutar, esse surdo, irá entender o falante, da língua oral, por ler os lábios e pelas expressões dele. No caso das capacidades de expressão escrita o surdo irá desenvolver a língua oral falada de seu país. Neste segundo caso, pode-se dizer que o sujeito faz uso do bilinguismo, pois usa a língua de sinais e a língua oral (português) escrita. A educação bilíngue, que é também bicultural, precisa considerar a língua de sinais como sendo a primeira língua do surdo, sendo assim, deverá ser nesta língua que ele será alfabetizado na língua oral e escrita. A Braz CubasUnidade 4Acessibilidade e Cultura Surda 65 Fonte: <http://diariodosurdo.com.br/2015/06/faculdades-tem-de-pagar-interpretes-de-LIBRAS-para- alunos-surdos-diz-mec/> Vamos definir os termos utilizados em nossa cultura: “Surdo” se refere ao indivíduo que “apreende o mundo por meio de experiên- cias visuais”, segundo Quadros (2004), eles têm um impedimento físico para condições plenas de audição; “Ouvinte” terminologia utilizada para aqueles que não têm deficiência auditiva; “Surdo oralizado” é aquele que utiliza a Língua Portuguesa em forma oral, por meio da leitura labial e vocalização da Língua Portuguesa, o que pode mudar de indivíduo para indivíduo, pois é necessário uma série de fatores para isso, como: tratamentos ortofônicos, restos auditivos; “Sinalizar” é fazer uso da língua de sinais. Dica de Filme: Para você conhecer um pouco mais sobre a surdez e os métodos de ensino, assista aos filmes: “Mr. Holland: Meu Adorável Professor” e “Filhos do Silêncio”. Os links estão disponíveis em sua plataforma. A Braz CubasUnidade 4 Acessibilidade e Cultura Surda 66 4.2 Educação Especial para os Surdos O Estatuto da Pessoa com Deficiência como um todo é de grande importância, empenhe-se por ter ciência, vamoscitar alguns capítulos para reflexão com nossa temática: CAPÍTULO IV DO DIREITO À EDUCAÇÃO Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da socieda- de assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação. Na educação especial o processo educacional é voltado para pessoas com deficiência, buscando desenvolver suas potencialidades cognitivas e considerando suas necessidades com relação ao que ele precisa para o desenvolvimento pleno da cidadania. No que se referem às crianças surdas, muitas escolas têm adotado diferentes métodos e abordagens para atendê-las integralmente, além de alfabetizá-los, prepa- rá-los principalmente para o mercado de trabalho. Convidamos você a conhecer, de forma sucinta, a Política Nacional de Educa- ção Especial, que assegura a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando os siste- mas de ensino para, sendo obrigatório o Atendimento Educacional Especializado (AEE): • Garantir o acesso de todos os alunos ao ensino regular (com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados de ensino); • Oferecer o AEE; • Formar professores para o AEE e demais professores para a inclusão; A Braz CubasUnidade 4Acessibilidade e Cultura Surda 67 • Prover acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, co- municações e informação; • Estimular a participação da família e da comunidade; • Promover a articulação intersetorial na implementação das políticas públi- cas educacionais. Os serviços de Educação Especial devem identificar, elaborar e organizar recur- sos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participa- ção dos alunos, considerando as suas necessidades específicas. O AEE complementa e/ou suplementa a formação do aluno com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela. 4.3 Direito ao Trabalho O Estatuto da Pessoa com Deficiência vem fortalecer e validar legislações exis- tentes, vejamos o Capítulo VI que trata sobre o Direito ao Trabalho: CAPÍTULO VI DO DIREITO AO TRABALHO Seção I Disposições Gerais Art. 34. A pessoa com deficiência tem direito ao trabalho de sua livre escolha e acei- tação, em ambiente acessível e inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. § 1o As pessoas jurídicas de direito público, privado ou de qualquer natureza são obrigadas a garantir ambientes de trabalho acessíveis e inclusivos. § 2o A pessoa com deficiência tem direito, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, a condições justas e favoráveis de trabalho, incluindo igual remune- ração por trabalho de igual valor. § 3o É vedada restrição ao trabalho da pessoa com deficiência e qualquer discri- minação em razão de sua condição, inclusive nas etapas de recrutamento, seleção, A Braz CubasUnidade 4 Acessibilidade e Cultura Surda 68 contratação, admissão, exames admissional e periódico, permanência no emprego, ascensão profissional e reabilitação profissional, bem como exigência de aptidão ple- na. § 4o A pessoa com deficiência tem direito à participação e ao acesso a cursos, trei- namentos, educação continuada, planos de carreira, promoções, bonificações e in- centivos profissionais oferecidos pelo empregador, em igualdade de oportunidades com os demais empregados. § 5o É garantida aos trabalhadores com deficiência acessibilidade em cursos de for- mação e de capacitação. Art. 35. É finalidade primordial das políticas públicas de trabalho e emprego promo- ver e garantir condições de acesso e de permanência da pessoa com deficiência no campo de trabalho. Parágrafo único. Os programas de estímulo ao empreendedorismo e ao trabalho autônomo, incluídos o cooperativismo e o associativismo, devem prever a partici- pação da pessoa com deficiência e a disponibilização de linhas de crédito, quando necessárias. Mediante o conhecimento apresentado, o convido para vermos um pouco mais sobre essa inclusão formalizada na lei. Assista ao vídeo “Debate a inclusão do cidadão surdo e o ensino de LIBRAS” que está disponível na sua plataforma. 4.4 Tecnologias para Surdos Os surdos estão em diversas regiões da cidade, estado e país, mas isso não os impede de se organizarem para se encontrar. Em várias cidades brasileiras há pelo menos um ponto de encontro. Em São Paulo, por exemplo, os locais preferidos são os shopping centers ou Associações de Surdos, além disso, a tecnologia é uma forte aliada nesse processo de interação, por meio de celulares e aplicativos, eles mantém uma grande rede de relacionamento. Por falar em tecnologia, vamos entender como ela contribui para a comunidade Surda. Algumas empresas se especializaram e criaram recursos específicos para atender a esse público. Por exemplo: A Braz CubasUnidade 4Acessibilidade e Cultura Surda 69 Campainha luminosa: quando alguém apertar a campainha em uma residência com morador(es) surdo(s), em vez de acio- nar o som, acende uma luz, que deve estar em diferentes cômodos da casa. Babás luminosas: como uma babá eletrônica é um dispositivo colocado próximo ao bebê, quan- do ele chora acende o sinal luminoso chamando a atenção dos pais surdos. Relógio vibratório: possui um sistema de vibração ao despertar, é indicado para pes- soas com deficiência auditiva leve ou que te- nham sono leve ou moderado. Quando co- locado para despertar ele emite vibrações iguais a de um celular comum. Celular: os aparelhos celulares são mui- to utilizados para envio e recebimento de e-mails, videoconferências, redes sociais, envio e recebimento de mensagens. A Braz CubasUnidade 4 Acessibilidade e Cultura Surda 70 Televisão: O uso do Closed Caption (legendas) ou tela de intérpretes traz conhecimento e acessibilidade para os Surdos. 4.5 Situações Cotidianas Dentro da cultura da comunidade Surda há algumas observações que são va- liosas para desmistificarmos as limitações e o conceito de deficiente e sim podemos vê-los como diferentes. A autora Honora (2014, p. 82 e 83) compartilha algumas si- tuações: • Os Surdos conversam embaixo da água, os ouvintes não tem tal facilidade na língua oral. Lembramos da comunicação que se apresenta nos cursos de mergulho, neste caso terão acesso .... • Os ouvintes conversam bem no escuro, pois utilizam a língua oral-auditiva, já os surdos não tem tanta facilidade, mas podem criam recursos próprios para isto; • Os Surdos ficam confortáveis em ambientes barulhentos, já os ouvintes tem que gritar nesta ocasião; • Para se comunicar por meio do telefone os surdos utilizam de mensagens de texto no celular ou precisam de uma pessoa que faça o contato a seu pedido; • Conversar enquanto se alimentam, os surdos estão com as mãos livres, enquanto que os ouvintes se tentarem falar serão mal-educados; • Dirigir e conversar, para os ouvintes este é um procedimento simples, mas para os surdos é um risco pois se comunicam com as mãos; A Braz CubasUnidade 4Acessibilidade e Cultura Surda 71 • Os ouvintes podem realizar suas orações de mãos dadas, já os surdos apro- ximam os pés, para que possam continuar falando em LIBRAS.
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