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Neurofisiologia - Aula 09 pdf

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Curso: Fisioterapia Disciplina: Neurofisiologia Aula: 09 
 
➢ A PLASTICIDADE NEURAL - PODEMOS APRENDER E REAPRENDER A EXECUTAR O 
MOVIMENTO 
 
Essa capacidade do sistema nervoso é, também, acionada como forma de recuperação quando uma 
estrutura neural é prejudicada. Graças a esta capacidade é que, pessoas que sofreram acidentes, muito 
graves, às vezes com perda de partes do sistema nervoso, podem recuperar partes ou totalmente as 
funções perdidas. 
Esse processo acontece de forma fisiológica, no aprendizado de uma nova tarefa, como tocar um 
instrumento ou quando uma criança aprende a andar, falar ou escrever. 
 
Por mais que a neurociência revele, sistematicamente, uma nova capacidade do sistema nervoso, as 
habilidades desse sistema ainda estão muito distantes de serem completamente compreendidas. É 
comum ouvir que usamos apenas 10% da nossa capacidade cerebral, alguns cientistas acreditam que 
os 90% restantes são reservados para alguma emergência, para garantir o funcionamento adequado se 
uma parte dos 10% operantes falhar. A ciência garante que a capacidade desse sistema de se modificar 
para atender às demandas de uma nova condição orgânica ou ambiental é o pressuposto de que esse 
sistema, tão dinâmico, ainda possa ter muitas funções a revelar. Vamos verificar algumas das curiosas 
habilidades desse sistema que já são conhecidas. 
● 20% de toda a circulação sanguínea é destinada ao cérebro. 
● Se colocássemos os axônios esticados e enfileirados o comprimento dessa estrutura seria igual 
a 12 idas e voltas à lua. 
● O cérebro de um bebê ao nascer pesa 400g e por volta do primeiro ano de vida já pesa cerca de 
1kg. 
● O peso do cérebro é igual a 1/5 do peso do corpo. 
● Aos seis meses de gestação o feto já possui todos os seus 100.000.000 de neurônios. 
● Esses 100.000.000 de neurônios podem ser ativados ao mesmo tempo. 
● Cada neurônio pode fazer conexões sinápticas com outros 60.000 a 100.000 neurônios. 
● O número de neurônios no cérebro é maior que o número de estrelas na via láctea. 
 
A Plasticidade Neural 
 
Aprendizagem motora é o processo de aquisição e/ou modificação do movimento. Quando uma criança 
nasce, ao longo do primeiro ano de vida, aprende a engatinhar; sentar; ficar de pé e andar, dizemos que 
ela adquiriu as funções motoras básicas, esse é o processo de aquisição do movimento e implica na 
alteração na estrutura cerebral para que a criança possa atender às demandas do novo ambiente. 
Quando um adolescente aprende a tocar violão ele modificou os sistemas neurais de controle dos graus 
de liberdade das articulações de mãos, punhos, braços e, até do tronco, para exercer essa nova tarefa, 
nesse caso ocorreu uma modificação do movimento e essas modificações também causaram uma 
mudança estrutural nos sistemas de controle motor. Considerando que a plasticidade neural é a 
capacidade de modificação ou mutabilidade neural, podemos dizer que nos casos acima descritos 
ocorreu uma plasticidade de aprendizagem. 
 
Quando um adulto sofre alguma lesão neurológica, como em trauma cranio-encefálico ou em um 
acidente vascular encefálico, inicialmente torna-se incapaz de um movimento adequado para atender às 
demandas da tarefa, com treinamento e com a solução das consequências clínicas da patologia, como a 
inflamação e o edema resultante da lesão, o indivíduo é capaz de recuperar, parte ou o total, da função 
motora perdida inicialmente. Em situações como essas, dizemos que ocorre uma plasticidade induzida 
pela lesão e recuperação da função. 
Nessa aula estudaremos a plasticidade como uma capacidade de demonstrar modificação e a 
plasticidade de aprendizagem, vamos conhecer como o sistema nervoso, ao atender as demandas da 
tarefa, pode produzir modificações a curto e longo prazos e a relação dessa aprendizagem com a 
memória do movimento. 
 
Aprendizagem e Memória 
 
A aprendizagem é a aquisição de um conhecimento. A aprendizagem tem uma íntima relação com a 
memória, uma vez que esta é capacidade de reter, de armazenar esse novo conhecimento. 
O processo de armazenamento do novo conhecimento é composto por duas etapas: 
 
● Primeira etapa: Memória de Curto Prazo → é a informação do depósito sensorial, ou seja, as 
informações sensoriais chegam ao córtex e esse imediatamente cria um novo planejamento para 
atender às demandas da nova tarefa. Esse novo planejamento dura apenas segundos ou minutos. 
Essa memória é chamada também de operacional ou memória de trabalho, serve apenas para 
operacionalizar a nova tarefa nesse momento. Outro exemplo é quando nos lembramos do 
telefone de alguém, apenas por tempo suficiente para discar o número e depois nos esquecemos. 
 
● Segunda etapa: Memória de Longo Prazo → acontece se o indivíduo repete em um contínuo, a 
nova tarefa. Tomando o exemplo do adolescente que está aprendendo a tocar violão. Se esse 
adolescente tomar apenas algumas aulas, não treinar em casa, a nova tarefa será esquecida 
rapidamente, se, ao contrário, o adolescente continuar a reproduzir os movimentos necessários 
para essa tarefa o contínuo de repetição promoverá uma modificação na eficiência das sinapses 
necessárias para essa tarefa, criando modificações estruturais nas conexões sinápticas, podemos 
dizer que essas sinapses não são sujeitas à ruptura que acontece com as sinapses na memória 
de curto prazo. 
 
 
Para gerar a memória de longo prazo é preciso que o indivíduo incorpore no seu dia a dia a nova tarefa, 
ela é dependente de prática e experiência que vai criar uma nova habilidade, essa habilidade promove 
no cérebro uma modificação estrutural e funcional representada pela criação de novos caminhos 
sinápticos, mais resistentes, com menor possibilidade de serem rompidos. 
Não há localização estrutural de memória, a aprendizagem das mais simples até as mais complexos são 
armazenadas em várias áreas do cérebro e se organizam em circuitos paralelos e hierárquicos, são 
representadas por um padrão de mudança nas conexões sinápticas. 
 
Plasticidade e aprendizagem 
 
Considerando o controle motor como o resultado das estruturas encefálicas que agem integradamente 
para controlar os graus de liberdade das articulações, devemos entender a aprendizagem motora como 
o aprendizado de novas estratégias de pensar sentir e movimentar, uma vez que esse processo sempre 
acontecerá na inter-relação da percepção, da cognição e da ação. Assim, a aprendizagem motora é 
resultado da prática ou experiência em uma tarefa levando em consideração os aspectos limitadores do 
ambiente, os aspectos do indivíduo e as características da tarefa a ser executada, dessa maneira a 
aprendizagem motora resultará em uma nova habilidade. 
 
A aprendizagem altera nossa capacidade de agir mudando a eficácia e o trajeto anatômico dos 
caminhos neurais e esse processo é definido como memória. 
Existem dois meios de aprendizagem, iniciaremos pelas formas não associativas de aprendizagem. 
 
Formas Não Associativas de Aprendizagem 
 
As formas não associativas de aprendizagem ocorrem quando o sistema nervoso recebe um estímulo 
único por repetidas vezes até que o sistema nervoso aprenda as característicasdesse estímulo. Essa 
maneira de aprender pode ocorrer de duas formas distintas: Por Habituação: Aprendemos por 
habituação quando o estímulo aplicado repetidas vezes provoca, no sistema nervoso, uma redução da 
resposta a esse estímulo, nesse caso dizemos que o sistema nervoso habituou-se a esse estímulo e a 
resposta diminui porque ele entende que esse estímulo é habitual, é normal. Na prática clínica esse tipo 
de aprendizagem é utilizado nos tratamentos de alguns tipos de tonturas e desequilíbrios. As tonturas 
acontecem por uma reação exagerada do sistema nervoso à alteração da posição da cabeça no espaço. 
Para o tratamento dessa condição é apropriado que o terapeuta aplique repetidamente os movimentos 
que provocam a tontura. Esses excessos de estímulos farão com que o sistema nervoso reduza sua 
atividade na reposta às mudanças de cabeça nas atividades de vida diária, ele tem uma resposta de 
redução da atividade porque habituou-se com esse estímulo. Na estrutura funcional do sistema nervoso 
observamos que ocorre em curto prazo uma redução na amplitude dos potencias pós-sinápticos 
excitatórios (PPSE) produzidos pelos neurônios sensoriais na informação da mudança de posição da 
cabeça. Inicialmente de pouca duração e com a sequência da terapia, mudanças estruturais ocorrerão 
nessa sinapse com uma redução permanente dessa atividade sináptica, formando a memória de longo 
prazo, isso significa que o neurônio sensorial aprendeu a amplitude de potencial sináptico adequado 
para informar as alterações de posicionamento da cabeça nas atividades de vida diária. 
 
Outra forma de aprendizagem não associativa é a ​aprendizagem por sensibilização​. Ao contrário da 
habituação a sensibilização é o processo de aprendizagem cujo resultado no sistema nervoso é o 
fortalecimento das sinapses e como resultado acontece um aumento das respostas. A sensibilização 
tem relação com estímulos prejudiciais, tem função de criar a memória de situações que devemos evitar 
e pode ser utilizado como equilibrador dos efeitos da habituação. Por exemplo, receber um estímulo 
nocivo na pele como uma agulhada, após receber um toque leve. Após uma pessoa estar habituada a 
um estímulo, estímulos dolorosos podem inibir a habituação. A sensibilização pode ter influência 
genética, uma vez que na sensibilização de longo prazo acontece a síntese de novas proteínas e na 
habituação de longo prazo ocorrem apenas modificações dessas proteínas. De qualquer maneira, tanto 
na habituação quanto na sensibilização ocorrem aprendizagem a curto e longo prazo. 
 
A Aprendizagem Associativa 
 
O segundo meio de aprendizagem, a aprendizagem associativa, ocorre com a associação de ideias, 
dessa maneira, o indivíduo aprende a prever as relações entre um estímulo e outro, Nesse caso diz-se 
que a aprendizagem é associativa de condicionamento clássico. A aprendizagem associativa pode 
ocorrer, também, quando o indivíduo aprende a relacionar um comportamento com uma consequência, 
nesse caso chamamos de condicionamento operante. Pesquisas indicam que a aprendizagem 
associativa ocorre com modificações simples nas conexões sinápticas, iniciando quando dois neurônios 
estão ativos, ao mesmo tempo, indicando a associação. Com a prática, ocorre uma mudança nas 
proteínas dos dois neurônios envolvidos, criando a eficiência sináptica características da aprendizagem 
de longo prazo. 
 
Na prática clínica, o condicionamento clássico, considerado mais simples, consiste em aprender 
organizar dois estímulos ao mesmo tempo, por exemplo, mostrar um exercício e explicá-lo ao mesmo 
tempo, depois de algumas correções o paciente será capaz de executar o exercício apenas com os 
comandos verbais. No condicionamento operante as vias límbicas para compreensão da recompensa de 
um determinado comportamento são acionadas. O cérebro associa o comportamento com suas 
consequências. Em modelos de aprendizagem animal podemos utilizar o exemplo de um cachorro que 
fique nas patas traseiras, ao comando verbal do dono ou visão de uma comida como recompensa do 
comportamento de ficar sobre as patas traseiras. Na prática clínica o princípio do condicionamento 
operante é utilizado tornando uma tarefa motora prazerosa, uma vez que comportamentos 
recompensados tendem a ser repetidos da mesma forma que comportamentos seguidos de estímulo 
negativo nem sempre são repetidos. 
 
Com relação ao tipo de conhecimento adquirido podemos classificar a aprendizagem em processual e 
declarativa: 
 
● Processual ​→ A aprendizagem processual, também chamada de não- declarativa, é o resultado 
do conhecimento implícito, acontece na aprendizagem de movimentos automáticos, sem a 
atenção ou consciência da aprendizagem e resulta na melhora das habilidades motoras. Nesse 
tipo de conhecimento o cerebelo e córtex- motor têm papel fundamental. 
● Declarativa → Por outro lado, a aprendizagem declarativa que resulta no conhecimento explícito 
requer processos conscientes e o circuito sináptico envolve o lobo temporal. Nesse tipo de 
conhecimento, é necessária a atenção mantida para o aprendizado.

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