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Bases Neurológicas da Aprendizagem e Neuropsicopedagogia

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1 
 
Disciplina: Bases Neurológicas da Aprendizagem e Neuropsicopedagogia 
Autores: M.e Jefferson Souza Santos 
Revisão de Conteúdos: Carolinne Prado Engelhardt 
Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso 
Ano: 2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas 
páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de 
Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em 
cobrança de direitos autorais. 
 
2 
 
Jefferson Souza Santos 
 
 
 
 
Bases Neurológicas da 
Aprendizagem e 
Neuropsicopedagogia 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2017 
Curitiba, PR 
Editora São Braz 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
 
SANTOS, Jefferson Souza. 
Bases Neurológicas da Aprendizagem e Neuropsicopedagogia/ 
Jefferson Souza Santos – Curitiba, 2017. 
54 p. 
Revisão de Conteúdos: Carolinne Prado Engelhardt. 
Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso. 
Material didático da disciplina de Bases Neurológicas da Aprendizagem 
e Neuropsicopedagogia – Faculdade São Braz (FSB), 2017. 
 ISBN: 978-85-94439-51-2 
 
 
 
 
4 
 
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO 
 
Caro(a) aluno(a), 
Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! 
 
 Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio 
Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 
299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e 
Extensão Universitária. 
 A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e 
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do 
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas 
também brasileiros conscientes de sua cidadania. 
 Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar 
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as 
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão 
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e 
grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e 
estudantes. 
 
 
 Bons estudos e conte sempre conosco! 
 Faculdade São Braz 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Apresentação da Disciplina 
 
Na disciplina de Bases Neurológicas da aprendizagem e 
neuropsicopedagogia serão feitas abordagens relacionadas as atividades 
neurológicas, desde o ponto de vista do desenvolvimento do ser 
humano, indo em direção às implicações educacionais decorrentes. 
Aspectos de anatomia, fisiologia e, especialmente, de funcionamento da 
atividade nervosa serão abordados aqui, além das bases neuropsicológicas de 
percepção, movimentação, atenção, memória, fala e pensamento como formas 
eminentemente humanas de organização, processamento e desenvolvimento 
mental. E por fim, serão abordadas as bases neurobiológicas do fenômeno da 
atenção e como sua compreensão pode contribuir para o aprimoramento do 
ensino e da aprendizagem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas 
páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de 
Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em 
cobrança de direitos autorais. 
 
6 
 
AULA 1 – DESENVOLVIMENTO CEREBRAL E NEUROPLASTICIDADE 
 
Apresentação da Aula 01 
 
Nesta aula você terá a oportunidade de ir mais a fundo nos 
conhecimentos relacionados ao sistema nervoso, seu desenvolvimento e seus 
mecanismos básicos de plasticidade nervosa. Esse último caracteriza um 
fenômeno bem interessante quando refere-se ao momento da aquisição de 
informações e o aprendizado de crianças e adolescentes na escola. 
 
1 DESENVOLVIMENTO CEREBRAL E NEUROPLASTICIDADE 
 
Para entender os mecanismos neurais da aprendizagem e sua aplicação 
no meio educacional torna-se importante estudar o desenvolvimento cerebral e 
a plasticidade das conexões neurais no cérebro humano. O comportamento 
humano é gerado a partir da maneira que as informações são recebidas e 
interpretadas no cérebro, considerando a existência das diferenças individuais 
que caracterizam a diversidade de comportamentos encontrados na população. 
Portanto, o professor deve estar engajado em entender como acontece a 
expressão dos comportamentos a nível de sistema nervoso central, e como 
direcionar esses comportamentos com a finalidade de aprimorar a 
aprendizagem de seus alunos, ferramenta essa de estudo da 
neuropsicopedagogia. 
 
1.1 Revisando o Sistema Nervoso 
 
Todo corpo dos seres humanos é composto de células. Os músculos, o 
intestino, ossos, pele e o cérebro possuem bilhões dessas unidades básicas. 
Cada célula tem uma tarefa específica a desempenhar. As células que 
constituem o sistema nervoso central (SNC) compõem o cérebro e a medula 
espinhal que junto com o sistema endócrino (responsável pela secreção dos 
hormônios) são responsáveis por controlar todo o funcionamento do 
organismo. Os neurônios e as células gliais compõem basicamente o SNC. 
 
 
7 
 
Saiba Mais 
As células gliais garantem o suporte e nutrição aos 
neurônios. Ela atua como uma “cola” no momento do 
posicionamento e síntese de novas conexões neuronais. Ao 
contrário da maior parte das células nervosas, as células 
gliais reproduzem-se por toda a vida. 
 
 
O Sistema Nervoso é dividido em Sistema Nervoso Central e Sistema 
Nervoso Periférico: 
 
 Sistema Nervoso Central → Localizado dentro do esqueleto axial 
(cavidade craniana e canal vertebral); 
 Sistema Nervoso Periférico → Se localiza fora desse esqueleto axial. 
 
O desenvolvimento cerebral e a neuroplasticidade dependem do sistema 
nervoso (neurônios e córtex cerebral). 
 
1.2 Unidade Básica Funcional do SNC – Neurônio 
 
Os neurônios estão presentes predominantemente no cérebro e na 
medula espinhal (que compõem nosso sistema nervoso central) em um número 
aproximado de 100 bilhões. Eles diferem da maioria das outras células do 
organismo em dois pontos principais. No primeiro, pode-se destacar a 
incapacidade de regeneração programada dos neurônios, o que não é visto 
nas demais células do organismo. Quando se corta um dedo, por exemplo, o 
processo de cicatrização acontece rapidamente, e por essa razão, as células 
do corpo estão se renovando continuamente. Se por acaso ocorre alguma 
lesão dos neurônios resultante de um AVC ou trauma craniano, sua 
regeneração torna-se bastante comprometida. O segundo ponto diferencial do 
neurônio está na sua habilidade de transmitir informações. Os neurônios se 
comunicam por sinais elétricos e químicos, e isso caracteriza a distinta 
 
8 
 
anatomia que é notada quando os comparamos com outras células do nosso 
corpo. 
 
Importante 
 
O neurônio difere das maioria das células do corpo: 
 Incapacidade de regeneração programada; 
 Transmissão de informações por meio de sinais elétricos 
ou químicos. 
 
 
 
Os neurônios possuem diferentes formas que variam de acordo com a 
localização e sua função no sistema nervoso. Independente da sua forma, os 
neurônios são compostos de um corpo celular (também chamado de soma) 
que contém um núcleo - projeções mais curtas que recebem os sinais elétricos 
dos neurônios das proximidades, chamadas de dendritos - um axônio que 
propaga todo esse sinal, o qual geralmente possui uma camada de lipídios 
chamada de bainha de mielina, e por fim, o terminal do axônio que tem o papel 
de transmitir o impulso nervoso aos neurônios adjacentes. 
 
Figura 1 – Tipos de neurônios encontrados no sistema nervoso central 
Fonte: http://docplayer.com.br/docs-images/25/5040672/images/7-0.png9 
 
 
Figura 2 – Estrutura de um neurônio 
Fonte: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAgweEAI/tecido-nervoso 
 
Amplie Seus Estudos 
SUGESTÃO DE LEITURA 
Para uma leitura mais aprofundada e 
atualizada sobre o sistema nervoso, 
recomenda-se o livro Cem Bilhões de 
Neurônios? Conceitos Fundamentais de 
Neurociência (2 ed) do Roberto Lent. O 
autor aborda tópicos atualizados em 
neurociência, além de abordar a 
plasticidade do sistema nervoso de uma 
maneira muito didática. 
 
1.3 O Córtex Cerebral 
 
Compondo maior parte do cérebro, o néocortex compreende toda Massa 
Cinzenta Cerebral formada por seis camadas de células, sendo que além 
dessa, o cérebro internamente também possui a Massa Branca. Cada camada 
ou lobo cerebral possui diferentes funções. 
Vocabulário 
Massa cinzenta: compõe a região externa do cérebro, 
contendo geralmente um maior número de corpos neuronais. 
Massa branca: compõe em maior parte a região interna do 
cérebro, contendo feixes de dendritos e axônios. 
 
 
10 
 
 
Fonte: http://escolaeducacao.com.br/sistema-nervoso/ 
 
1.3.1 Lobos Occipitais 
 
Localizados na parte posterior do cérebro, os lobos occipitais são os 
centros de processamento dos estímulos visuais no cérebro. Sendo referidos 
também como córtex visual, têm a função de processar as informações visuais 
advindas do meio externo (ambiente) dentro do cérebro. Uma vez que as 
informações chegam à região occipital, as mesmas são identificadas pela área 
associativa (córtex visual secundário), a qual compara informações visuais 
prévias com a informação recente. Isso permite distinguir rapidamente uma 
laranja de uma árvore, por exemplo. 
 
 
Fonte: Acervo do Autor. 
 
Duas pessoas que olham uma mesma imagem, por exemplo, podem 
focar em diferentes detalhes e descrever a imagem de diferentes maneiras. A 
área de percepção visual que realiza o foco em determinada imagem se 
comunica com outras redes neurais do cérebro que tem a finalidade de 
 
11 
 
classificar tal imagem como nova ou antiga. Os estímulos visuais tornam-se 
significantes apenas quando são marcados e comparados com informações 
visuais previamente adquiridas. Quando se foca a atenção a determinado 
estímulo, como acontece em situações em que professores exibem 
previamente os objetivos de uma atividade em sala de aula, facilita o aluno 
antecipar ações ou ideias para solucioná-las, aumentando a probabilidade do 
cérebro focar apenas numa informação essencial. A ação de se concentrar 
mentalmente para realizar uma tarefa com êxito requer foco e atenção, 
recursos processados primeiramente no córtex visual, exigindo um bom 
funcionamento do córtex occipital. 
 
1.3.2 Lobo Temporais 
 
No outro lado do cérebro, logo abaixo das orelhas, estão localizados os 
dois lobos que se curvam para frente dos lobos occipitais, para baixo dos lobos 
frontais. Os lobos temporais têm a função principal de processar e 
compreender os estímulos auditivos, a linguagem e alguns aspectos 
relacionados à memória, especialmente a memória auditiva. 
 
Importante 
A audição é considerada um dos sentido mais importante no ser 
humano, permitindo nos comunicar com outras pessoas, ter o 
equilíbrio e perceber perigos eminentes, o que garantiu a 
sobrevivência no processo evolutivo. 
 
 
O som de um trem chegando informa que é preciso manter distância do 
mesmo para evitar danos ao organismo, assim como o som de qualquer coisa 
que está atrás de nós, fazendo-nos virar para conferir rapidamente quem ou o 
que está emitindo o som. 
 Como visto nos lobos occipitais, os lobos temporais possuem muitas 
subdivisões. Quando a região auditiva primaria é estimulada por um som, a 
região associativa que mantêm conexões neurais com outras regiões do 
 
12 
 
cérebro também é ativada, auxiliando a percepção e o reconhecimento do que 
está sendo ouvido. Essas duas regiões principais do córtex auditivo têm o 
papel de identificar a altura, timbre e o tom dos sons. 
 
 
Fonte: Acervo do Autor. 
 
1.3.3 Lobos Parietais 
 
 Em alguns casos clínicos de AVC localizados no hemisfério cerebral 
direito, os indivíduos são acometidos por uma estranha doença chamada de 
anosognosia, na qual o paciente desconsidera que é doente e aparentemente 
tenta levar uma vida normal. Essas pessoas têm o lado esquerdo do corpo 
paralisado, sem terem a consciência disso. Essa ausência de sensibilidade do 
lado esquerdo do corpo induz a um comportamento de esquecimento desse 
lado, fazendo com que, por exemplo, o doente deixe de pentear os cabelos e 
vestir roupas nesse lado do corpo. Essa doença foi ocasionada pela lesão dos 
neurônios do córtex parietal que são responsáveis pela consciência e 
orientação espacial do corpo. 
 Os lobos parietais são subdivididos nas partes anterior e posterior. A 
região anterior é chamada de córtex somatossensorial, encarregada de enviar 
informações aos músculos do corpo relacionadas a motricidade e receber 
estímulos táteis do ambiente, sensações de dor e pressão na pele, além de 
detectar a posição dos membros (propriocepção). Cada parte do corpo que 
está em contato com o meio externo é representada por uma área específica 
na superfície do córtex somatossensorial. A parte posterior do lobo parietal 
analisa e integra todas essas informações sensoriais com a finalidade de 
fornecer consciência espacial. O cérebro precisa estar atento sobre o que cada 
parte do corpo está localizada no ambiente em sua volta, portanto, um dano na 
 
13 
 
região parietal frequentemente causa prejuízos na manipulação de objetos 
(destreza), também chamada de apraxia. 
 
1.3.4 Lobos Frontais 
 
 A maior parte do cérebro é composta pelos lobos frontais, os quais 
desempenham funções bastante complexas. Localizados na frente do cérebro, 
essa região tem se expandido muito rapidamente nos últimos 20.000 anos do 
processo evolutivo das espécies, fato que distingue dos ancestrais. As 
habilidades de movimento consciente do corpo, de relembrar o passado, 
planejar o futuro, focar a atenção, refletir, tomar decisões, resolver problemas e 
participar de uma roda de conversa são possíveis graças a essa desenvolvida 
parte do cérebro. De todas essas habilidades, pode-se destacar o fato de que a 
presença dos lobos frontais no córtex cerebral permite ter consciência de todos 
os pensamentos e ações. 
 
 
Fonte: Acervo do Professor 
 
As funções do lobo frontal são subdivididas em duas categorias: de 
processamento motor e cognição. Logo atrás dos lobos frontais há um 
conjunto de neurônios que formam o córtex motor, onde toda atividade 
neuronal dirigida ao movimento muscular voluntário se origina. Similar ao 
córtex somatossensorial, cada parte do corpo possui uma região 
correspondente no córtex motor. Os músculos que realizam movimentos mais 
finos ocupam uma maior área de atividade no córtex motor, como os que 
controlam o movimento dos dedos, dos lábios e da língua. 
 
 
14 
 
Vocabulário 
Cognição: processo de aquisição de conhecimento e 
entendimento através do pensar, experienciar e sentir, 
intrínseco ao sistema nervoso central. 
 
 
Logo à frente do córtex motor, o córtex pré-frontal é caracterizado pelo 
seu tamanho muito maior em humanos, do que em outras espécies. Essa 
região cerebral é a que claramente nos define como humanos e o que separa 
dos outros animais, como dos primatas, o grupo de animais mais aparentados 
com os seres humanos na escala evolutiva. 
Parte do córtex pré-frontal está engajada na regulação da emoção nos 
seres humanos. A sub-região orbitofrontal (chamada assim devido à 
proximidade com as orbitas oculares) é responsável por avaliar e regular os 
impulsos emocionais que emanam de áreas cerebrais mais inferiores. Essa 
evidência nos ajuda a explicar a frequência de violência no trânsito em adultos 
e as flutuações emocionais diárias em crianças. Provavelmente, esses 
comportamentos socialmente negativos sãofruto de um dano cerebral que 
causa uma série de curtos-circuitos na região orbitofrontal do córtex pré-frontal. 
Ainda assim, algumas pesquisas na área de neuropsicologia destacam que o 
principal determinante na deficiência de regulação emocional nos humanos 
seria devido ao descontrole emocional dos pais durante os primeiros anos de 
vida do indivíduo. 
Todas as partes do cérebro devem trabalhar em conjunto para que até 
mesmo uma ação simples de piscar os olhos, aconteça. Embora se tenha 
abordado a estrutura e função das principais regiões do córtex cerebral 
separadamente, é de suma importância lembrar que nenhuma delas 
desempenham suas funções isoladamente num sistema extremamente 
complexo, que é o cérebro humano. 
 
 
 
15 
 
Amplie Seus Estudos 
SUGESTÃO DE LEITURA 
Um dos livros mais conceituados na área 
de neuropsicologia, a obra do António 
Damásio, O Erro de Descartes, enfatiza 
alguns casos clínicos que estimularam os 
estudos da região pré-frontal do cérebro 
humano. 
 
 
 
1.4 Neurodesenvolvimento Fetal e Neonatal 
 
Acredita-se que grande parte do crescimento em número dos neurônios 
aconteça no período fetal. Durante esse período, os neurônios são gerados a 
partir de células-tronco que migram de um tubo nervoso simples para posições 
finais, geneticamente determinadas. Essa migração para distintas áreas do 
crânio irá diferenciar as várias regiões cerebrais (nos córtices frontal, parietal, 
occipital e temporal). 
Após a fase de diferenciação e migração dos neurônios é dado início a 
formação das conexões neuronais, gerando à criação das primeiras redes 
neurais no cérebro humano. Esse contato íntimo entre os neurônios é crucial 
para sincronização dos sinais elétricos no sistema nervoso, e esse padrão de 
organização na transmissão da informação é diferenciada na maioria das 
regiões cerebrais. Graças as sinapses, os neurônios têm a capacidade de 
comunicar entre si, decodificar e transmitir informações que irão gerar os mais 
variados comportamentos na espécie humana. 
No período fetal, a síntese de neurônios é muito maior em relação à sua 
demanda necessária ao funcionamento normal do sistema nervoso. Um grande 
número de células é perdido, as quais não conseguiram se localizar na região 
correta ou realizaram sinapses sem utilidade funcional ao cérebro. A figura 
abaixo exemplifica, de uma forma didática, o processo de refinamento do 
sistema nervoso (“poda” sináptica, ou, do inglês prunning) que se inicia na fase 
fetal e se prolonga no período pós-natal. Como numa brincadeira infantil das 
 
16 
 
cadeiras, os participantes que não conseguiram uma cadeira para sentar ficam 
de fora. Aplicando isso ao sistema nervoso em formação, muitas sinapses 
serão consolidadas, enquanto outras serão descartadas, numa espécie de 
“poda” dos prolongamentos sinápticos, que consequentemente levará a 
degeneração dos neurônios “desconectados”. 
 
Figura 4 – Os neurônios que não se estabelecem em conexões sinápticas são 
descartados do sistema nervoso em formação 
Fonte: Cosenza; Guerra (2011). 
 
A sinaptogênese (formação de novas sinapses), prevalente no sistema 
nervoso fetal e neonatal, permite a aquisição de novas habilidades cognitivas 
na criança. A criança nasce com um cérebro de aproximadamente 400g que, 
ao final do primeiro ano de vida, terá duplicado, pesando cerca de 800g. Nesse 
período não há formação de novas células nervosas, entretanto, a 
sinaptogênese é a responsável por esse crescimento cerebral maciço. 
 
17 
 
 
Figura 4 – Sinaptogênese do recém-nascido até os 2 anos de idade. 
Fonte: Cosenza; Guerra (2011) 
 
O sistema nervoso infantil em desenvolvimento precisa estar em 
constante interação com o ambiente, pois é nesse momento que as novas 
conexões nervosas geram o aparecimento de novos comportamentos. A 
estimulação ambiental é tão importante para o desenvolvimento do sistema 
nervoso que experimentos constataram que animais criados em ambientes 
com pouca estimulação ambiental desenvolviam um cérebro menos sofisticado. 
Portanto, o desenvolvimento inicial do sistema nervoso é de suma 
importância para o funcionamento normal das estruturas cerebrais durante toda 
a vida. Qualquer anormalidade nesse percurso advinda de fatores ambientais 
ou genéticos oportuniza o surgimento de distúrbios comportamentais. Crianças 
com má formação do sistema nervoso, em algum momento da vida, irão 
necessitar de intervenções pedagógicas especiais para realizar atividades 
cognitivas na escola. 
 
1.4 Plasticidade Cerebral 
 
O sistema nervoso central nos primeiros anos de vida é extremamente 
plástico. A sinaptogênese é prevalente na infância e se estende por toda 
adolescência. O aumento das conexões entre as células corticais é prevalente 
na infância e declina na adolescência até atingir um padrão adulto, 
potencializando a aprendizagem. Na adolescência a aquisição de novas 
informações em curta faixa de tempo diminui, porém, a capacidade e usar e 
elaborar o que já foi aprendido é aprimorado. O cérebro adulto não tem essa 
 
18 
 
mesma facilidade de modificação, porém a plasticidade sináptica acontece 
durante toda a vida, em grau diminuído. Na fase adulta a plasticidade neural 
garante que a função cognitiva de aquisição de habilidades motoras, por 
exemplo, aconteça no momento do treino de direção de um automóvel. 
A plasticidade cerebral consiste na capacidade de realizar novas 
conexões neuronais fruto de constante estimulação ambiental. O treino de 
direção citado anteriormente leva ao surgimento de novas sinapses e a criação 
de novas redes neuronais dedicadas a execução e aprimoramento da tarefa 
motora. O treinamento constante de um pianista promove modificações nas 
redes neurais motoras e cognitivas que permite refinar o controle e expressão 
musical. Se porventura o indivíduo for acometido de doença que impeça de 
praticar a atividade motora ou simplesmente interromper seu treino, as 
sinapses nervosas dessa memória motora podem ser desfeitas, e, portanto, a 
habilidade motora será perdida. A capacidade de promover conexões plásticas 
entre neurônios caracteriza a aquisição de memórias e a consolidação da 
aprendizagem por toda vida. Com a senilidade, esses fenômenos demandam 
mais tempo para acontecer, necessitando maior esforço para que a 
aprendizagem ocorra. 
A medida que as sinapses encarregadas de desempenhar uma atividade 
motora nova são utilizadas, a aprendizagem torna-se mais efetiva. Quanto mais 
frequente for o contato com o conteúdo de estudo por um estudante, por 
exemplo, num ponto de vista neurobiológico, ocorrerá maior formação e 
consolidação de conexões sinápticas entre os neurônios. Os professores 
podem facilitar esse processo até certo ponto, pois a aprendizagem acontece 
de uma maneira individual no ser humano. As circunstâncias ambientais atuam 
diferentemente em cada indivíduo, portanto cada um responderá de maneira 
positiva ou negativa a um novo estímulo que é chegado ao sistema nervoso 
humano. 
 
Saiba Mais 
Você sabe o que significa Brainstorming? Traduzido do 
inglês como “tempestade cerebral”, é uma dinâmica de 
 
19 
 
grupo facilmente aplicada numa sala de aula. Tem o 
objetivo de desenvolver novas ideias e estimular o 
pensamento criativo em determinado tema. Portanto, 
estimule sempre seus alunos realizando periodicamente 
esse tipo de tarefa, a qual o professor expõe um tema no 
quadro e os alunos desenvolvem as ideias em cima do 
tema proposto. 
 
 
O sistema nervoso central é um órgão bastante plástico e diferenciado 
nos seres humanos, capaz de expressar os comportamentos mais complexos 
já vistos no reino animal. Todo esse órgão, apesar de visualmente dividido, 
funciona de uma maneira integrada para desempenhar desde um mínimo 
movimento de um dedo, até pensamentos mais complexos, como numa 
resolução de uma equação matemática. Portanto, os educadores devem ter a 
noçãoque esse sistema é extremamente plástico e diferente em cada 
indivíduo, e que a aprendizagem ocorrerá de diferentes maneiras num contexto 
escolar. 
 
Resumo da Aula 01 
 
Na aula abordou-se o funcionamento e estrutura do sistema nervoso 
central, dando enfoque nas suas subdivisões corticais. Foi tratado também 
sobre o neurodesenvolvimento fetal e neonatal e a importância das sinapses na 
constituição do sistema nervoso nos primeiros anos de vida. Por fim, foram 
abordados aspectos relacionados à plasticidade cerebral, dando relativa 
importância a esse fenômeno mais frequente na infância e adolescência, com 
diminuição de sua intensidade nas fases adulta e senil. 
 
Atividade de Aprendizagem 
Considerando as diferenças individuais na aquisição de 
informações e aprendizado, haveria um método didático 
“ideal” para transmitir informação de forma efetiva aos alunos 
de uma classe? 
 
 
20 
 
AULA 2 – MEMÓRIA, APRENDIZAGEM E AS UNIDADES FUNCIONAIS 
 
Apresentação da Aula 02 
 
Na aula serão abordados alguns aspectos neurobiológicos para 
entendimento do processo de aquisição de memórias e consolidação da 
aprendizagem. Essa fusão das áreas de conhecimento da neurociência e 
educação promove o esclarecimento de conceitos, auxiliando a atuação do 
professor na sala de aula. 
 
2 MEMÓRIA 
 
 “O que definiria memória?” Memória seria a habilidade de lembrar 
informações ou experiências do passado e trazê-las para o presente. As 
memórias são lembradas a todo tempo e são baseadas no reconhecimento de 
eventos similares que de alguma forma tornaram-se conectados. Isso acontece 
o tempo inteiro, fato que não seria diferente nos estudantes, os quais têm o 
poder de planejar o que aprenderão e como aprenderão os conteúdos 
escolares. O contexto de como o conteúdo de classe é passado para o aluno 
pode estimular a aquisição de diferentes tipos de memória de uma maneira 
individual, conduzindo a uma miríade de reflexões que podem positivamente ou 
não exercerem impacto na aprendizagem. 
 Cognitivamente, a memória envolve o reconhecimento, lembrança e 
reflexão. Você sabia que a memória pode ser estimulada antes mesmo do 
nascimento? Inúmeras evidencias apontam que recém-nascidos conseguem 
reconhecer cheiros e sons que a eles foram apresentados ainda na fase fetal. 
As emissões sonoras dos bebês são interpretadas pelos pais e dizem respeito 
a momentos de fome, dor, simplesmente gesticulação. No amadurecimento, as 
emissões sonoras dão lugar à linguagem, que expressam as vontades e 
necessidades da criança. Nos anos seguintes, uma maior aquisição de 
memórias tende a ocorrer na criança e no adolescente, portanto, diferentes 
pontos de vista e perspectivas são traçados graças a experiências anteriores 
de memória. A memória é uma poderosa guia da aprendizagem e 
frequentemente fornece auxílio em todas as ações cotidianas das pessoas. 
 
21 
 
 
2.1 Tipos de Memória 
 
As memórias são operadas por mecanismos e regiões cerebrais 
diferentes e podem ser classificadas quanto ao tempo de retenção: memória 
ultrarrápida ou imediata (dura fração de segundos a alguns segundos), 
memória de curta duração (dura minutos ou horas e garante o sentido de 
continuidade do presente) e memória de longa duração (duas horas, dias ou 
anos, garantindo o registro do passado autobiográfico e dos conhecimentos do 
indivíduo). 
Na aula, serão abordadas com mais profundidade a memória quanto à 
sua natureza: explícita ou declarativa, implícita ou não-declarativa e 
operacional ou memória de trabalho, assim como se dá a amnésia. 
 
2.1.1 Memória Explícita (Declarativa) 
 
Toda informação sensorial pode ser temporariamente armazenada na 
memória de curta duração, mas “como essa informação pode ser retida por 
uma faixa maior de tempo?” Para entender as bases neurais do 
armazenamento de memória declarativa, primeiro será analisado em qual local 
do cérebro que fica retida tal informação. Em outras palavras, serão explorados 
os engramas ou traços de memória. Por exemplo, quando aprende o 
significado de uma palavra em uma língua estrangeira, em qual local do 
cérebro ela ficará armazenada, ou seja, “onde ficará essa engrama?” 
 
Vocabulário 
Engrama é o traço permanente deixado no tecido nervoso por 
um estímulo muito forte, podendo também ser uma marca 
permanente deixadas na psique de um indivíduo por 
experiências psíquicas por ele sofridas. 
 
 
 
22 
 
O lobo temporal normalmente participa do processamento da linguagem 
e memória. Uma lesão qualquer nessa região pode afetar o conteúdo de 
memórias de palavras estrangeiras, mas deixar intactas as memórias da língua 
mãe. Logo, as memórias declarativas podem residir em várias partes do 
neocórtex, mas primeiramente, elas precisam em algum momento passar pelos 
lobos temporais. 
O lobo temporal fica localizado sobre o osso temporal do crânio. O fato 
dos cabelos da região das têmporas (laterais do crânio) tornarem-se brancos 
com mais rapidez do que as outras regiões do couro cabeludo caracterizou 
esse lobo como local engajado no registro de eventos passados. Acredita-se 
que a porção medial do lobo temporal (neocórtex temporal) armazena boa 
parte das memórias de longa duração, e conexões nervosas com o neocórtex 
são críticas para a formação de memórias declarativas. 
 
 
Figura 1 – Lobo temporal medial no cérebro humano 
Fonte: https://www.mccare.com/images/temporal_lobe.png 
 
A memória declarativa caracteriza a habilidade em armazenar e lembrar 
informações as quais pode-se declarar (fala e escrita). Requer um processo 
consciente que permite lembrar e discutir algo ou simplesmente lembrar e 
descrever um evento que ocorreu no passado. Essa dupla função conduz a 
uma subdivisão da memória declarativa em duas outras categorias: memória 
episódica e semântica. 
A memória episódica, chamada também de memória das origens, 
envolve as lembranças de onde e quando a informação foi adquirida. Permite 
lembrar do(a) colega que você foi apaixonado(a) no colégio, ou detalhes da sua 
festa surpresa de 15 anos de idade. É composta de registros faciais, musicais, 
fatos e experiências individuais (um conjunto de referências autobiográficas). 
 
23 
 
Da mesma maneira que se torna muito importante (como lembrar em qual vaga 
você estacionou seu carro), às vezes pode ser problemática. O cérebro não 
abriga memórias numa maneira linear, como uma câmera de vídeo, e sim em 
circuitos neurais. Quando lembramos de algo, normalmente reconstruímos um 
cenário mental o qual nos escapam detalhes, e nesse caso, o cérebro 
preenche os detalhes numa espécie de união de fragmentos de memória. 
Quando conta-se a lembrança normalmente a “embelezamos”, adiciona-se 
informações, tornando-a mais elaborada. Portanto, mesmo pensando que a 
dita memória caracterizou um evento vívido, os detalhes geralmente são 
imprecisos. 
A memória semântica, por outro lado, é bastante precisa. Inclui a 
memorização de palavras, seus símbolos associados e de como manipular as 
palavras para se comunicar. Consiste na memorização de regras da gramática, 
fórmulas matemáticas e seu conhecimento geral sobre o mundo. Esses fatos 
geralmente são independentes de uma condição particular de tempo e espaço. 
O fato de saber que “6 x 7 = 42” é um exemplo de memória semântica, porém 
lembrar em qual série da escola memorizou a tabela de multiplicação trata-se 
de memória episódica. 
 
2.1.2 Memória Implícita (Não-Declarativa) 
 
Tratada também como memória procedural, geralmente não necessita 
“declarar” algo para que a informação seja armazenada. Ela envolve a 
habilidade de armazenamento de ações automáticas de cunho rotineiro. 
Compreende os simples procedimentos de caminhar, escovar os dentes, 
amarrar o tênis, até os mais complexos, como dirigir um carro ou decifrar 
palavras. Após um número considerável de repetições, consegue-se executar 
tarefas procedurais sem o pensamento consciente.A maioria das habilidades mencionadas acima envolvem atividade 
motora, mas alguns tipos de comportamento hábil não são baseados na 
aprendizagem de movimentos. Um exemplo claro seria a leitura. Quando 
aprende-se a ler, os olhos movem-se lentamente, de palavra em palavra, mas 
com a prática, consegue movê-los com mais rapidez numa leitura. Os leitores 
 
24 
 
mais habilidosos conseguem mover seus olhos por cerca de quatro vezes por 
segundo, gerando uma média de mais de 300 palavras lidas por minuto. 
 A formação da memória implícita pode se dar de duas maneiras: por 
aprendizagem não associativa ou associativa. 
 A aprendizagem não associativa pode ser descrita como uma mudança 
na resposta comportamental que ocorre num período de tempo, em resposta a 
um simples estímulo. Podem ser de dois tipos: habituação e sensibilização. 
 Considere a situação hipotética, supondo que está em casa e toque seu 
telefone fixo. Quando atende, percebe que a chamada era para outra pessoa, a 
qual não se encontra na casa, porém, o telefone torna a chamar inúmeras 
vezes tentando falar com essa pessoa. A partir de um momento, você 
simplesmente para de atender o telefone, pois adquiriu aprendizagem por meio 
da habituação, a qual caracteriza ignorar um estímulo insignificante. 
Provavelmente, ao ler esse texto, deverá estará ignorando o barulho dos carros 
que passam na sua rua, um latido de um cachorro no bairro, ou mesmo o 
barulho da TV quem vem da sala, pois todos esses estímulos estão fora da sua 
realidade consciente devido a habituação. 
Supondo que esteja caminhando na rua, a noite, e acontece um 
blackout. Você começa a ouvir passos de pessoas vindo atrás, o que lhe dá 
bastante tensão (o que geralmente, caminhando numa rua iluminada, não 
sentiria). Luzes de carro se destacam na escuridão e, inconscientemente, 
recua mais ainda para a lateral da calçada. Essa forte estimulação sensorial 
ocasionada pelo blackout causou sensibilização, que seria uma forma de 
aprendizagem que intensifica sua resposta a todos os estímulos, mesmo 
considerando que o estímulo prévio normalmente causa pouca ou nenhuma 
reação. 
A aprendizagem associativa deriva de um comportamento alterado pela 
associação de eventos, a qual é distinguida em dois tipos: condicionamento 
clássico e instrumental. 
O condicionamento clássico caracterizado pelo russo Ivan Pavlov 
envolve a associação de um estímulo que gera uma resposta, com um 
segundo estímulo que geralmente não gera resposta. O primeiro, que evoca 
uma resposta, é normalmente chamado de estímulo não condicionado (EnC), 
pois o mesmo não necessita de treinamento para gerar a resposta. Nos 
 
25 
 
experimentos de Pavlov, o EnC foi a visão de um pedaço de carne, a qual 
gerava salivação num cachorro. O segundo, que não evoca resposta, é 
chamado de estímulo condicionado (EC), pois o mesmo requer treinamento 
(condicionamento) antes de gerar a resposta. No experimento de Pavlov, o EC 
era um sinal sonoro de um sino. O treinamento consistiu em parear a visão do 
pedaço de carne com o sinal sonoro, repetidas vezes. Depois de inúmeras 
repetições, a carne foi retirada do pareamento, e o animal salivou apenas com 
a presença do sinal sonoro. Portanto, o cachorro aprendeu que ganhará um 
pedaço de carne toda vez que ouvir tal estímulo sonoro, gerando uma resposta 
a um estímulo condicionado chamado de resposta condicionada. 
 
 
Figura 2 – Condicionamento clássico paviloviano 
Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-tM-
vE6or8SU/UP_Fb4HmcmI/AAAAAAAAAUg/o4ZLUvXZXio/s1600/c%C3%A3o.png 
 
No condicionamento instrumental, o indivíduo aprende a associar um 
estímulo ocasionado por uma ação motora com uma recompensa. Num 
experimento hipotético, um rato em jejum é colocado numa caixa que contém 
uma alavanca, a qual está suspensa num recipiente com comida. Por acidente, 
a rato pressiona essa alavanca e recebe uma quantidade de comida. Depois de 
várias ocorrências desse acidente, o rato aprende que toda vez que pressionar 
a alavanca ele será recompensado. Portanto, no condicionamento instrumental, 
o indivíduo aprende que um particular comportamento (pressionar uma 
alavanca) sempre estará associado a uma particular consequência 
(recompensar alimentar). 
 
26 
 
 
Figura 3 – Condicionamento instrumental 
Fonte: 
http://slideplayer.com.br/slide/3053850/11/images/12/Aprendizagem+por+Condicionam
ento+Operante.jpg 
 
2.2 Amnésia 
 
Como todos sabem, o esquecimento acontece tão frequentemente 
quanto a aprendizagem. De ocorrência menos comum, certas doenças 
cerebrais podem causar sérias perdas de memória, a qual é chamada de 
amnésia, como no alcoolismo crônico, encefalite, tumores cerebrais e AVC. 
Provavelmente já deve ter ouvido falar de uma pessoa que sofreu acidente e 
acordou sem lembrar dela mesma ou do passado. Esse tipo de amnesia 
absoluta é extremamente rara. Porém, dependendo do trauma no cérebro, 
pode-se diferenciar dois tipos de amnésia: retrógrada e anterógrada. 
Na amnésia retrograda ocorre a perda da memória relacionada a 
eventos bem próximos ao trauma (como coisas que o indivíduo aprendeu 
recentemente). Em casos mais severos, pode haver amnesia completa para 
todas as memórias declarativas anteriores ao trauma. Geralmente, ela provoca 
esquecimento de eventos na faixa de meses ou anos que precederam o 
trauma, preservando as memórias mais antigas. 
Na amnésia anterógrada há uma perda da habilidade em formar novas 
memórias após o trauma. Se for severa, o indivíduo pode ser completamente 
incapaz de aprender e lembrar algo novo. Em graus mais leves, a 
aprendizagem pode se tornar mais lenta e exigir mais repetições que o normal. 
Em casos clínicos, os dois tipos de amnesia são mais frequentes, com 
diferentes graus de severidade. 
 
27 
 
 
2.3 Memória, Aprendizagem e a Abordagem Luriana 
 
Até agora tem-se enfatizado a anatomia e fisiologia da principal função 
cognitiva que tem impacto direto no processo de aprendizagem do aluno, a 
memória. Irá agora considerar um assunto mais familiar aos educadores, o qual 
possui uma maior integração entre ensino e neurociência cognitiva. 
 Esse assunto abrange a abordagem das unidades funcionais de 
Alexander Romanovich Luria. O sistema nervoso, segundo Luria, estaria 
organizando verticalmente, no qual áreas cerebrais inferiores serviriam de base 
para as estruturas superiores. As funções mentais superiores estariam mais 
vulneráveis pelo fato de se dedicarem a atividades mais complexas e por 
serem mais recentes na evolução do sistema nervoso central nas espécies. 
Essa divisão vertical, mais tarde daria origem às três unidades funcionais 
lurianas. A primeira seria dedicada à manutenção do alerta e da atenção 
(vigília). A segunda seria responsável pelo processamento de todos estímulos 
externos e internos, relacionados à visão, audição e sensibilidade tátil. A 
terceira se encarregaria de monitorar e manipular comportamentos 
relacionados às ações conscientes, relativos à mente. 
 
 
Figura 4 – Primeira, segunda e terceira unidades funcionais lurianas 
Fonte: Kruszielski (s.d.) 
 
 
 
 
2.3.1 Primeira Unidade Funcional – Alerta e Atenção 
 
 
28 
 
Essa unidade é dependente do tronco cerebral (situado entre a medula e 
o cérebro) no qual possui uma estrutura dorsal chamada de formação reticular 
encarregada na regulação do ciclo sono-vigília. O estado de vigilância (ou 
alerta) está relacionado com o reflexo de orientação fruto de um confronto com 
um estímulo novo. O alerta possui relação próxima com a atenção, pois o 
mesmo está engajado na manutenção dos disparos neuronais responsáveis 
pela postura e pela atividade cortical. Mais especificamente, a atenção está 
relacionada à seletividade e a sustentação de todas funções mentais 
superiores. Tanto o alerta quanto a atenção são interdependentes, pois 
selecionam, focalizam, alocam e refinam a integração dos estímulos. 
 
Há um feixe de neurôniosque conecta a primeira unidade funcional 
com a terceira, chamado de Sistema Reticular Ascendente. Este 
sistema leva impulsos para o córtex pré-frontal, ou seja, para o topo 
da hierarquia neural: por isto ascendente. Há também um grupo de 
feixe neuronal que faz o caminho inverso, do córtex pré-frontal para o 
tronco, o Sistema Reticular Ascendente. É a partir deles que 
conseguimos regular uma certa intenção para nos mantermos 
despertos, atentos ou Adormecidos (KRUSZIELSKI, s.d.). 
 
 
2.3.2 Segunda Unidade Funcional – Recepção, Integração, Codificação e 
Processamento Sensorial 
 
 Composta pela parte posterior do cérebro, compreende os lobos 
occipitais, temporais e parietais, os quais processam a visão, percepção tátil, 
audição, orientação espacial e linguagem. Essa unidade recebe e analisa as 
informações que chegam aos órgãos sensoriais, interpretando-os e atribuindo 
significados. 
 
 
A memória é o componente cognitivo mais relacionado à essa 
unidade funcional. 
 
 
 
 A codificação é um evento estritamente relacionado à memória e refere-
se a toda análise, síntese, armazenamento e recuperação de informações 
 
29 
 
relativas a significação e a associação com memórias já integradas no cérebro. 
A informação pode ser codificada de duas formas: simultânea ou sequencial. 
No processamento simultâneo, a informação é sintetizada em unidades 
espaciais ou relacionais, que quando integradas, geram os processos 
cognitivos de leitura, escrita e aritmética. Qualquer disfunção nesse 
processamento poderá gerar uma miríade de dificuldade de aprendizagem, tais 
como as disnomias, disfasias, disartrias, dislexias, disortografias e disgrafias. 
No processamento sequencial, a informação é codificada numa unidade por 
vez (como no momento que um número de telefone é ditado). A codificação, 
que caracteriza um processo puramente cognitivo, depende da combinação 
desses dois tipos de processamento presentes na segunda unidade funcional 
do Luria. 
 
2.3.3 Terceira Unidade Funcional – Execução Motora, Planificação e 
Avaliação 
 
Composta pelos lobos frontais, tem o papel de programar, regular e 
verificar toda atividade mental. A motricidade, intencionalidade, planejamento e 
linguagem expressiva são as principais funções mentais controladas por essa 
unidade. O ser humano é a espécie que proporcionalmente ao tamanho do 
corpo, possui os lobos frontais mais desenvolvidos, tanto em relação ao seu 
tamanho quanto a qualidade das redes neurais. Essa região é a última a se 
desenvolver nos humanos, consolidando suas conexões entre os 6 anos e 12 
anos de idade, concluindo somente no início da fase adulta. 
Para descrever as nuances que cercam o processo de aprendizagem, 
geralmente o conceito das funções executivas torna-se um assunto pertinente. 
As ditas funções mentais superiores que ajudam a controlar o pensamento, 
aprendizagem e comportamentos são referidas como funções executivas. Um 
exemplo seria a memória operacional, que influencia o controle de memórias 
numa situação específica, como na resolução de problemas. Considere um 
estudante que está resolvendo um problema complexo de multiplicação. Para 
sua resolução, o estudante precisa manipular algumas informações ao mesmo 
tempo que tenta resolver o problema. A habilidade de reter e manipular 
 
30 
 
informações temporárias na memória (também chamado de problem-solving) 
caracteriza a memória operacional. 
Para finalizar essa discussão, Kruszielski (s.d.) enfatiza o estudo das 
unidades funcionais em conjunto: 
 
Por mais que estudemos as unidades funcionais e mesmo as funções 
mentais isoladamente, sempre é necessário que fique claro que todas 
elas atuam sempre em conjunto. Uma função mental nunca é o 
resultado de apenas uma unidade funcional, mas das três. A 
percepção, por exemplo. É necessário que a primeira unidade 
forneça o tônus cortical necessário, a segunda realize a análise e a 
síntese das informações que chega e a terceira execute os 
movimentos de busca controlados que conferem à percepção o seu 
caráter ativo. 
 
 
2.4 Implicações Educacionais 
 
Algumas pesquisas científicas estão sendo dedicadas em saber a 
relação da memória e da consolidação da aprendizagem na sala de aula. 
Certamente, seria interessante que os professores soubessem o tempo 
necessário para seus estudantes consolidarem determinado conteúdo, para 
assim partirem para um próximo. 
O que se sabe é que a consolidação de novas informações é 
dependente do tempo e pode ser prejudicada de informações precocemente 
transmitidas, antes mesmo de consolidar as anteriores, podem prejudicar a 
aquisição de memória tanto anterior quanto a recente. Como não se sabe o 
tempo necessário para consolidar um conteúdo específico, deve-se ter cuidado 
no momento de introduzir novos conhecimentos nos alunos. Portanto, utilizar 
dos conhecimentos neuropsicopedagógicos no planejamento das aulas é de 
suma importância na consolidação da aprendizagem de conteúdos da 
disciplina. Uma maneira de aprimorar essa consolidação seria incorporar as 
novas informações de uma maneira gradual e repeti-las em intervalos 
regulares. 
As informações recentes são raramente consolidadas no cérebro se 
conteúdos novos são introduzidos tão prontamente. A maioria das memórias 
desaparecem em minutos, porém as informações que são relembradas 
periodicamente conseguem ser consolidadas em memórias de longa duração, 
por meses ou anos. 
 
31 
 
O professor precisa ter o conhecimento sobre como as memórias são 
adquiridas no sistema nervoso, e como a aprendizagem de conteúdo pode 
acontecer de uma maneira mais simples e duradoura, nos seus alunos. 
Dominando esses aspectos, os educadores não irão encontrar dificuldades em 
lidar com a transmissão de conteúdos escolares, os quais necessitam de ser 
aplicados de maneira gradual e dinâmica, com o intuito de maximizar o 
conhecimento de longa duração. 
 
Resumo da Aula 02 
 
A memória envolve o reconhecimento, lembrança e reflexão de 
conteúdos que aconteceram no passado. São classificadas em memória 
ultrarrápida ou imediata, memória de curta duração e memória de longa 
duração quanto ao tempo de retenção, ou em memória explícita, implícita ou 
operacional, quanto à sua natureza. A memória é passível de esquecimento, a 
qual é chamado de amnésia, que podem ser de dois tipos: retrógrada ou 
anterógrada. As três unidades funcionais criadas por Luria dividem o sistema 
nervoso central em setores dedicados ao alerta e atenção; recepção, 
integração, codificação e processamento sensorial; e execução motora, 
planificação e avaliação. 
Atividade de Aprendizagem 
Na sua opinião, o ensino baseado nos princípios da 
neurociência tem a possibilidade de ressignificar o processo 
de ensino-aprendizagem na escola? A partir do conhecimento 
sobre os conceitos em neurociência, você estaria habilitado 
em iniciar um processo de ensino-aprendizagem baseado na 
repetição e transmissão fragmentada do conteúdo? 
 
 
AULA 3 – FUNÇÕES EXECUTIVAS E IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS 
 
 
32 
 
Apresentação da Aula 03 
 
 O sucesso acadêmico na nova era digital não está ligado apenas a 
facilidade com o que os estudantes lidam com a tecnologia, mas com seu 
domínio na estipulação de metas, planejamento, prioridades, organização, 
flexibilidade mental e o poder de manipular informações na sua memória 
operacional. Todos esses processos juntos compõem as funções executivas. 
 
3.1 O Caso de Phineas Gage, o Córtex Pré-Frontal e as Funções 
Executivas 
 
Apesar dos conceitos sobre funções executivas estarem consolidados 
há algum tempo, relatos médicos anteriores sobre mudanças comportamentais 
após lesão cerebral já indicavam relações entre danos na região frontal do 
cérebro a alterações no funcionamento executivo. O caso de Phineas Gage é 
registrado como o mais famoso fato clínico sobre modificações 
comportamentais associadas a danos na região docórtex pré-frontal. 
Gage, que trabalhava na construção de uma linha férrea na região da 
Nova Inglaterra-EUA em 1848, tinha a função de detonar explosivos em 
buracos para abrir caminho em uma linha férrea. Utilizava-se de uma barra de 
ferro para empurrar a pólvora do explosivo para cavidades mais profundas da 
terra. Em mais um dia de realização desse procedimento rotineiro, Gage 
acidentalmente gerou uma faísca entre a barra e a pólvora, detonando todo o 
explosivo. A barra de ferro entrou no seu crânio, de baixo para cima, destruindo 
seu olho esquerdo, atravessando a parte frontal do encéfalo saindo pelo topo 
do crânio. Apesar da gravidade do acidente, Gage sobreviveu devido à 
cauterização que a barra de ferro quente causou na ferida. Fisicamente ele 
recuperou-se muito bem, porém foram identificadas mudanças no seu 
comportamento social e na tomada de decisões. John Hallow, o médico que 
acompanhou o tratamento de Gage, havia especulado que a lesão no córtex 
pré-frontal teria sido a causa do comprometimento na execução de 
planejamentos mentais e comportamentos adequados. Utilizando-se de 
ferramentas de neuroimagem, foi possível reconstituir a trajetória da barra de 
ferro no crânio de Gage e concluíram que a lesão cerebral atingiu os córtices 
 
33 
 
pré-frontal direito e esquerdo. Mais tarde, foi elucidado com mais detalhes os 
danos causados pela barra de ferro em Gage e constataram que as massas 
cinzenta e branca do córtex pré-frontal esquerdo foram as mais afetadas, 
sendo responsável pela desconexão neuronal entre áreas corticais e regiões 
de codificação de memória emocional episódica, o que pode ter sido a principal 
causa das flutuações emocionais presente após o acidente de Gage. 
 
 
Figura 1 – Desenho esquemático sobre a trajetória da barra de ferro que atravessou o 
crânio de Gage (a esquerda) e Phineas Gage, após o acidente, segurando a barra de 
ferro que se acidentou (a direita). 
Fonte: http://skeptikai.com/wp-content/uploads/2015/11/Phineas-Gage-with-skull-
picture.png 
 
3.2 Funções Executivas 
 
 No início da vida escolar os estudantes começam a ter maiores 
responsabilidades pelo seu próprio processo de aprendizagem. Os professores 
tendem a fornecer uma grande quantidade de atividades que envolvem 
habilidades cognitivas de leitura e escrita, bem como trabalhos escolares de 
longa duração, os quais dependem, para sua execução, de todos os processos 
mentais que caracterizam as funções executivas. O sucesso acadêmico, 
portanto, se origina na habilidade de planejar e priorizar seu tempo, organizar 
materiais e informações, destacar as principais ideias e ter diferentes 
abordagens de um texto, perceber e refletir seu próprio progresso. Portanto, é 
de suma importância que os educadores ensinem estratégias voltadas ao 
desenvolvimento das funções executivas com a finalidade de auxiliar seus 
alunos a entenderem como eles pensam e porque eles aprendem. 
 
34 
 
 As funções executivas constituem um conjunto de habilidades que 
possibilitam uma reflexão atenta, isto é, deliberada e intencionada a alcançar 
um objetivo. Um bom funcionamento executivo permite o indivíduo refletir antes 
de agir, trabalhar diferentes ideias mentalmente, solucionar desafios 
inesperados, pensar sob diferentes perspectivas, reconsiderar opiniões e evitar 
distrações. Essas habilidades são fundamentais para tomar decisões, viver e 
pensar com autonomia. Seu principal desenvolvimento ocorre de zero a seis 
anos de idade, período que corresponde a primeira infância, e é fortemente 
influenciado pela qualidade e quantidade de experiências que as crianças 
podem ter, inclusive relacionadas aos aspectos biológico e emocional. 
 Diversas evidências apontam que o núcleo das funções executivas se 
encontra nos córtex pré-frontal, a região mais anterior do lobo frontal. Essa 
região expandiu-se ao longo da evolução das espécies, e no ser humano ela se 
desenvolveu de uma maneira mais intensificada. A região pré-frontal demora a 
amadurecer no desenvolvimento infantil, continuando a modificar-se até o final 
da adolescência. Logo, as funções executivas não estão em perfeito 
funcionamento até o início da fase adulta. 
 
Fonte: Acervo do Autor. 
 
Com relação às atividades cognitivas, as funções executivas podem ser 
divididas em três extratos: inibição (ou controle inibitório), memória operacional 
(ou memória de trabalho) e flexibilidade cognitiva. Esses extratos compõem as 
chamadas funções executivas de alto-nível, as quais envolvem o raciocínio, 
resolução de problemas e planejamento. 
 
3.2.1 Controle Inibitório 
 
 
35 
 
Torna-se importante para o controle do comportamento, por exemplo, na 
substituição de respostas habituais por ações que caracterizam autocontrole 
(como no momento de resistir a tentações alimentares, como doces ou 
salgados, ou simplesmente dar uma resposta mais branda e menos impulsiva 
numa discussão calorosa). Outro comportamento típico que demanda controle 
inibitório é exercer disciplina, ou seja, resistir a vontade de desistir de uma 
tarefa. Portanto, o controle inibitório possibilita controlar e filtrar pensamentos, 
ter o domínio sobre atenção e comportamento. Conseguir ler um texto, mesmo 
na presença de barulhos incômodos, é um exemplo de uso dessa habilidade. 
É possível destacar três aspectos relevantes do controle inibitório: o 
controle inibitório da atenção, a inibição cognitiva e o autocontrole. 
O controle inibitório da atenção é importante para manter o foco sem 
ceder a estímulos exteriores que distraiam. Alguns estímulos visuais ou 
auditivos mais proeminentes atraem voluntariamente a atenção, mas há certos 
estímulos aos quais é possível escolher dar atenção ou não. Assim, por 
exemplo, é possível manter uma conversa com alguém, mesmo em um 
ambiente com som elevado. 
Na inibição cognitiva, o controle inibitório fará o indivíduo resistir a 
pensamentos e memórias não intencionais, capazes de tirar o foco. Essa 
habilidade é necessária para o bom funcionamento da memória de trabalho. 
Ela possibilita manter o foco nas informações desejadas, mesmo na presença 
de algum pensamento involuntário. 
Finalmente, o autocontrole é o aspecto que está relacionado a ter 
domínio sobre o comportamento, apesar da presença de impulsos e emoções, 
estimulando determinadas condutas. Ter autocontrole significa ter a 
possibilidade de agir de forma diferente da desejada intimamente, como ter 
disciplina para terminar atividades não prazerosas, mas necessárias para se 
atingir um objetivo desejado. Além disso, ter autocontrole significa também 
evitar cometer erros devido à impulsividade, como tirar conclusões 
precipitadas, falar algo sem pensar antes, ou não calcular as consequências de 
uma ação ou decisão. 
 
 
3.2.2 Memória Operacional 
 
36 
 
 
A também chamada de memória de trabalho permite integrar memórias 
atualizadas com as antigas, para conscientemente manipular todo tipo de 
informação disponível. Dessa maneira, pode-se pensar que a memória de 
trabalho é uma condutora fiel para as memórias de curta duração, contudo, a 
maioria das informações que chegam até as pessoas é mantida 
temporariamente ou descartada do cérebro. Alguns cientistas a tratam como 
uma “área computacional do cérebro”, pois todas as informações recém-
chegadas podem ser mantidas ou manipuladas conscientemente. Um exemplo 
disso é quando um aluno resolve uma conta de multiplicação rapidamente, 
como 24 x 8 = 192. Portanto, essa função executiva de alto-nível nos permite 
planejar e organizar ações. 
 
Importante 
 
A memória de trabalho é composta de dois conjuntos de 
habilidades: o de representações verbais, que possibilita reter 
informações e também relacioná-las e pensá-las no curto prazo. 
Com isso, podem-se armazenar distintos fatos e acontecimentos 
para, em seguida, manipulá-los. Dessa forma, essa habilidade 
permite armazenar durante um tempodiversas estratégias de 
prontidão a serem utilizadas como respostas a diferentes 
estímulos e circunstâncias (por exemplo, dizer obrigado após 
uma gentileza). O outro, de representações visuais, auditivas, 
táteis, olfativas e gustativas, que possibilita imaginar objetos, 
ações, acontecimentos não disponíveis de forma direta, ou seja, 
perceptiva. Tem-se, portanto, dois tipos distintos de memória de 
trabalho, de acordo com o conteúdo memorizado: a verbal e a 
não verbal (visual-espacial). 
 
 
Conectar diferentes informações, relacionar acontecimentos que 
ocorreram em momentos diferentes, reordenar itens mentalmente, considerar e 
incorporar alternativas ao planejamento, todas essas ações dependem do 
funcionamento da memória de trabalho. Essa habilidade é também essencial 
para a criatividade, ao tornar possível que se separe um todo em partes e 
reorganize as partes de uma nova sequência. 
 
37 
 
A memória de trabalho e o controle inibitório são mutuamente 
dependentes e dificilmente funcionam separadamente. Ter em mente o objetivo 
é indispensável para avaliar o que deve ser filtrado ou inibido. Mas, também, 
para trabalhar com informações mentalmente, é preciso ter a capacidade de 
resistir a distrações. E para manipular as ideias de forma criativa deve-se evitar 
repetir padrões habituais. 
 
3.2.3 Flexibilidade Cognitiva 
 
Como terceira dimensão fundamental das funções executivas, ao lado 
da memória de trabalho e do controle inibitório, a flexibilidade cognitiva está 
relacionada à possibilidade de mudar de perspectiva no momento de pensar e 
agir. Essa habilidade existe quando o indivíduo é capaz de analisar uma 
mesma informação, considerando ângulos diferentes ou visões de outras 
pessoas. O desenvolvimento da flexibilidade cognitiva depende da evolução 
prévia da memória de trabalho e da inibição cognitiva, pois para mudar de 
perspectiva é necessário inibir a forma de pensar utilizada anteriormente e 
inserir na memória de trabalho uma nova forma de analisar a questão. Sem a 
flexibilidade cognitiva, os indivíduos não conseguiriam tentar resolver um 
problema de outra forma, ajustar-se a mudanças de prioridades, reconhecer 
erros e aproveitar oportunidades inesperadas. 
Durante a fase infantil, a flexibilidade cognitiva contribui para 
compreender distintas formas de jogar um jogo ou para tentar diversas 
estratégias na solução de conflitos com outras crianças ou adultos. Quanto à 
aprendizagem escolar, a flexibilidade cognitiva importa por possibilitar à criança 
experimentar diferentes ações até chegar a um resultado desejado de um 
experimento de ciências ou um problema de matemática. 
Considera-se que a partir dos três extratos que compõem as funções 
executivas (memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva), 
são construídas as funções executivas de alto-nível, que envolvem a 
capacidade de raciocínio, solução de problemas e planejamento. Além disso, 
os três extratos são essenciais para a construção de diversas habilidades 
fundamentais para a autonomia individual, como criatividade, perseverança, 
cooperação, respeito mútuo, disciplina e flexibilidade. 
 
38 
 
 
Vídeo 
Sobre a importância das funções cognitivas para o 
desenvolvimento da criança em adulto, assista ao vídeo Funções 
Executivas: Habilidades para a Vida e Aprendizagem, 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6gIY_X9IXH8 
 
 
3.3 Testes Utilizados na Avaliação das Funções Executivas 
 
Diante das observações sobre o comportamento em indivíduos com 
lesões no córtex pré-frontal foram desenvolvidos testes que buscaram dissociar 
os componentes cognitivos envolvidos no funcionamento executivo afetado 
nessa condição. Dentre os vários testes empregados na atualidade, destacam-
se o Wisconsin Card Sort Task (WCST) e o Iowa Gambling Test (IGT) que 
avaliam a tomada de decisões sobre os componentes de flexibilidade mental, 
formação de conceitos abstratos e planejamento de ações. As principais áreas 
do córtex pré-frontal afetadas e que consequentemente geram déficits 
cognitivos estão situadas no córtex pré-frontal dorsomedial, córtex pré-frontal 
ventromedial e córtex pré-frontal orbitofrontal, que, dependendo do local 
específico da lesão pode comprometer um ou mais componentes cognitivos da 
tomada de decisões do indivíduo. Estudos ainda destacam que lesões no 
córtex pré-frontal ventromedial provocam um comportamento que induz os 
indivíduos a fazerem escolhas de alto ganho monetário a curto prazo que 
resultam em grandes perdas monetárias no montante final no IGT. Essa 
estrutura provavelmente pode estar encarregada de perceber o risco de 
determinadas tomadas de decisão integrando informações sobre memória de 
trabalho, escolhas vantajosas da decisão e inibição de respostas negativas no 
futuro. 
Nas últimas décadas, têm-se destacado também a avaliação da função 
executiva de inibição de respostas realizada pelos testes Stop Signal e Go/No-
Go os quais avaliam componentes cognitivos de atenção seletiva, flexibilidade 
e velocidade de processamento de estímulos. Os indivíduos são submetidos a 
 
39 
 
responderem rapidamente a determinado estímulo que lhes é apresentado 
(estímulo Go) e em intervalos irregulares, inibir sua resposta frente a uma 
minoria de respostas inibitórias que surgem (estímulo No-Go). Geralmente, 
pacientes com lesões no córtex pré-frontal ventrolateral, região 
anatomicamente próxima do giro pré-frontal inferior, possuem um pobre 
controle motor inibitório nesses testes. Considerando ainda um estudo que 
envolveu a aplicação de uma modificação do teste Go/No-Go, no qual os 
indivíduos recebiam recompensas negativas após cada erro, foi identificada 
participação do córtex pré-frontal orbitofrontal na modulação da recompensa. 
Indivíduos com lesões no córtex pré-frontal orbitofrontal não conseguiam 
esboçar reação de autojulgamento frente as recompensas negativas recebidas 
e continuaram a errar de uma maneira constante, por todo o teste. 
Considerando outro teste que busca avaliar o controle inibitório pode-se 
destacar a ampla utilização do teste Stroop. A inibição de estímulos não 
relevantes nesse teste é exibida em representações conflitantes as quais é 
necessária a inibição de uma resposta prepotente para resolver esses conflitos 
“mentais”. As estruturas do córtex pré-frontal envolvidas nesse teste diferem 
dos outros testes de controle inibitório, pois no momento que o indivíduo 
procura resolver essa interferência mental, regiões do córtex pré-frontal dorso e 
ventromediais são solicitadas. O indivíduo que possui lesão nessa região 
específica tem uma grande dificuldade de resolver conflitos mentais e passam 
a errar com mais frequência quando lhes é apresentado um estímulo não 
inibitório associado a um inibitório. 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2 – sub-regiões do córtex pré-frontal 
Fonte: Szczepanski; Knight (2014) 
 
3.4 Por que o Estudo das Funções Executivas é Importante? 
 
 
40 
 
O sucesso acadêmico de todos estudantes, e particularmente o que 
possui alguma dificuldade de aprendizagem, está intrinsecamente ligado com a 
motivação, esforço, persistência e autoavaliação. Esses processos cognitivos e 
motivacionais estão conectados ciclicamente com as funções executivas e 
desempenho acadêmico dos estudantes. Quando os estudantes aprendem e 
aplicam estratégias de aprendizagem com eficácia, eles se tornam mais 
independentes na aquisição do conhecimento. Portanto, o sucesso acadêmico 
depende da confiança em si próprio e no automonitoramento de seu próprio 
desempenho, o que resulta num esforço a mais em tarefas que exigem 
complexidade na escola. 
O ambiente de aprendizagem e os materiais e métodos instrucionais 
assumem importante responsabilidade em mediar essa relação cíclica. Para 
todos os estudantes, e mais especificamente aos que possuem dificuldades de 
atenção e aprendizagem, a inclusão de atividades pedagógicasvoltadas a 
criação de estratégias e manutenção do foco auxilia-os a obter habilidades 
necessárias para suprir as demandas acadêmicas. De fato, o aluno com 
dificuldade de aprendizagem precisa de mais horas para produzir algo, e 
provavelmente a série escolar a que está inserido não reflete a sua capacidade 
executiva. Quando esses estudantes utilizam estratégias de organização, 
prioridades e checagem de ideias, frequentemente tornam-se capazes de 
flexibilizar seu pensamento para entender uma ideia em diferentes abordagens. 
Na busca de gerar motivação, persistência e ética nos estudantes, torna-
se necessário que os mesmos entendam seus pontos fortes e fracos. Isso os 
permite determinar quais estratégias serão mais eficazes para resolver um 
problema, bem como o porquê, onde, quando e como aplicar estratégias 
específicas. Esse entendimento é conhecido como metacognição. 
 
Saiba Mais 
Metacognição é a habilidade de pensar sobre seu próprio 
pensamento e aprendizagem. A metacognição se refere ao 
próprio entendimento de como aprender algo, bem como a 
manipulação de estratégias que podem ser usadas para 
resolver determinada tarefa. Estudantes com consciência 
 
41 
 
metacognitiva conhecem e entendem seus próprios perfis 
de aprendizagem, além de relacionarem os extratos das 
funções executivas em seus pontos fortes e fracos, 
auxiliando-os na resolução das diversas tarefas escolares. 
 
 
As habilidades que compõem as funções executivas são essenciais para 
o controle consciente e deliberado sobre ações, pensamentos e emoções. Tais 
capacidades possibilitam ao indivíduo gerenciar seu comportamento e suas 
ideias de forma autônoma e independente. Sem um bom desenvolvimento das 
funções executivas, os indivíduos podem apresentar dificuldade para se 
lembrar de ideias e de fatos a fim de relacioná-los no curto prazo, ou para 
evitar que pensamentos ou evento externos distraiam a atenção ou ainda, para 
refletir sob diferentes ângulos. Dessa forma, o funcionamento executivo está 
relacionado a diferentes dimensões da vida das pessoas. 
 
Resumo da Aula 03 
 
 Nesta aula foram abordados aspectos relacionados ao córtex pré-frontal, 
o papel das funções executivas na consciência e na aprendizagem, além de 
ser parte primordial na formação social do ser humano. Ficou constatado que 
as funções executivas podem ser decompostas em três extratos, e que cada 
um deles podem ser cuidadosamente treinados na criança ou adolescente, no 
ambiente escolar. 
 
Atividade de Aprendizagem 
As funções executivas dependem exclusivamente da 
mediatização do educador com o aluno? Na sua opinião, os 
pais podem assumir um papel no desenvolvimento das 
funções executivas dos seus filhos? 
AULA 4 – ATENÇÃO E APRENDIZAGEM 
 
 
42 
 
Apresentação da Aula 04 
 
Todos os estímulos que chegam ao sistema nervoso passam por um 
filtro elaborado através de diversos mecanismos. Antes mesmo da informação 
ser processada no cérebro, algumas redes neuronais que estão levando essa 
informação podem ser bloqueadas, auxiliando esse filtro. Alguns centros 
reguladores da atenção participam desse processo, e isso permite focar a 
atenção em determinados estímulos, ao mesmo tempo que se ignora outros. 
Portanto, a atenção se responsabiliza primariamente na aquisição de 
informações e no processo de aprendizagem. Os aspectos neurobiológicos da 
atenção merecem destaque quando se discute métodos de ensino-
aprendizagem eficazes no campo escolar. 
 
 
 
4.1 Conceito de Atenção 
 
 A atenção é uma habilidade cognitiva que permite focar em determinada 
informação ou estímulo. A partir da aquisição dos cinco sentidos, o ser humano 
tornou-se capaz de processar mentalmente todas informações que o ambiente 
tem a lhe fornecer, e grande parte desse montante informativo é filtrado no 
cérebro sem ao menos percebermos. 
 A atenção é uma função cognitiva complexa que é essencial para o 
comportamento humano. Reúne basicamente a seleção de informações 
externas (sons, imagens, cheiros) com internas (pensamentos) que podem ser 
mantidas no cérebro com certo grau de consciência. Ela não é estável, e, 
portanto, pode sofrer flutuações, pelo fato de não ser facilmente sustentada e 
frequentemente perdida inconscientemente durante uma tarefa. 
 
4.2 Neurobiologia da Atenção 
 
 Com a finalidade de manter a função cognitiva da atenção no sistema 
nervoso, é necessário que diversas áreas corticais e sub-corticais se 
comuniquem. Estudos de neuroimagem cerebral têm evidenciado que o 
 
43 
 
fenômeno da atenção estimula diversas áreas corticais em várias porções do 
cérebro. 
 No momento em que se presta atenção a algo, neurônios do lobo frontal 
e do colículo superior (onde localizam-se um feixe de neurônios da visão) têm 
sua atividade aumentada. O processamento visual e a associação, que 
acontecem nos lobos occipitais e parietais, respectivamente, seguem o mesmo 
padrão de aumento de disparos neuronais, sugerindo que a atenção tem o 
poder de aguçar o processamento sensorial, facilitando as ações cotidianas de 
tomada de decisão. Os lobos corticais que mais contribuem para o 
processamento da atenção são o parietal, área pré-motora e córtex pré-frontal. 
Considerando que essas áreas trabalham em sincronia, pode-se destacar que 
o lobo frontal detecta o alvo e gera uma resposta adequada, ao mesmo tempo 
que o lobo parietal orienta e foca nossa atenção. 
 Algumas áreas sub-corticais estão também envolvidas na atenção. A 
formação reticular do tronco encefálico tem a função de definir qual estímulo 
deve ser evidenciado, selecionando as informações que chegam, eliminando 
ou diminuindo algumas e concentrando-se em outras, gerando o que é 
chamado de atenção seletiva. A atuação do lobo frontal seleciona o que deve 
ou não passar para o néocortex, caracterizando-o como um filtro primário. Esse 
filtro atencional seleciona as informações mais relevantes ao indivíduo, os 
quais teriam prioridade de serem processadas na região da formação 
reticulada, permitindo o indivíduo focar e se concentrar com mais intensidade 
nessa informação. Em alguns casos, determinadas informações podem furar 
esse filtro e se tornarem “salientes” o suficiente para serem elevadas a 
categoria de foco de atenção. 
Como a capacidade atencional é limitada, esses estímulos salientes 
facilmente atrapalham o foco em determinada atividade, como no caso de um 
aluno que não consegue se concentrar em uma leitura (foco primário da 
atenção) na sala de aula, a qual possui um ventilador barulhento desviando seu 
foco (estímulo saliente). 
 A atenção pode ser regulada de duas formas: de “baixo para cima” e “de 
cima para baixo”. No primeiro, os estímulos ambientais, bem como suas 
características (se é um novo estímulo ou causa algum contraste) podem ser 
tratadas como atenção reflexa, de cunho mais inconsciente. No segundo, a 
 
44 
 
consciência é mais evidente, o que permite ser regulada por processos 
mentais, a qual será chamado de atenção voluntária. A todo tempo as 
informações sensoriais trafegam do néocortex para regiões inferiores e vice-
versa, com o intuito de realizar a seleção final dos estímulos que realmente são 
relevantes para o organismo. 
 
Fonte: Elaborado pelo Autor. 
 
Em uma típica situação do cotidiano para explicar o processamento 
atencional, está no momento que, por exemplo, numa reunião, escutamos 
nosso nome ser pronunciado num grupo de conversa próximo. Imediatamente, 
mudamos o foco da atenção para àquele grupo que entoou nosso nome, com a 
finalidade de captar informações que são de interesse. Alguns aspectos da 
atenção podem ser destacados nesse caso. Um estímulo externo (ambiental) 
de alta saliência surge e desvia o foco da nossa atenção; logo, ajustamos o 
foco da atenção para essa nova direção com o intuito de captar a maior 
quantidade de informação possível. A partir da observação desse padrão de 
desvio atencionalforam originados dois sistemas que regulam esses 
processos. 
 O sistema orientador, localizado no córtex parietal, permite o desvio da 
atenção de um ponto para outro, como também realizar ajustes para que os 
estímulos sejam claramente recebidos. Permite também que o foco da atenção 
seja dedicado a outros sistemas sensoriais, como na ação voluntária de aguçar 
mais a audição do que a visão numa conversa distante. 
 O sistema executivo permite a manutenção da atenção por um período 
maior de tempo, ao mesmo tempo que inibe estímulos que podem causar 
 
45 
 
distração. A área cerebral dedicada a essa função cognitiva localiza-se no giro 
do cíngulo, localizada numa região mais interna do lobo frontal. A atenção 
executiva está engajada em mecanismos de autorregulação que são capazes 
de modular o comportamento de acordo com o contexto emocional e social da 
situação. Ela torna-se importante na aquisição e manipulação da aprendizagem 
consciente. Isso torna-se mais claro quando deparamos com alunos com 
transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), que possuem uma 
grande dificuldade em focar e manipular a atenção, e consequentemente, a 
aprendizagem. 
 
4.3 Atenção e Alerta 
 
 Uma importante consideração sobre o pleno funcionamento das redes 
neurais da atenção pode ser feita quando se diz que o nível de vigilância ou 
alerta que o indivíduo se encontra é determinante para manter atenção em 
algo. O cérebro passa por variações de atividade e repouso todos os dias 
(vigília e sono) e o estado de vigilância provoca flutuações consideráveis na 
atenção. Durante a sonolência ou o sono, a atenção é prejudicada, e, portanto, 
o sono torna-se componente crucial para o desempenho atencional. A privação 
de sono, a qual gera sonolência é muito frequente na sala de aula, gerando 
uma diminuição generalizada da atenção e prejuízos na aprendizagem. 
 Ao contrário disso, o alto estado de alerta tende a ocasionar um quadro 
de ansiedade que prejudica, além da atenção, outras diversas funções 
cognitivas. Para o cérebro realizar o processamento da atenção, portanto, 
torna-se essencial um nível adequado de vigília para preservação das 
habilidades de foco e eliminação de distrações. 
 No cérebro há um grupo de neurônios dedicados em regular os níveis de 
vigilância. O núcleo dessa rede neuronal possui um pigmento azulado, o qual 
foi nomeado de locus ceruleus (local azul), localizado logo abaixo do cérebro. 
 
O neurotransmissor dessa rede neuronal é a noradrenalina, 
importante na estimulação e regulação do estado de alerta do 
organismo. 
 
 
46 
 
4.4 Tipos de Atenção 
 
Há dois tipos de atenção que são necessárias para se manter o foco em 
uma determinada informação por vez: atenção sustentada e atenção seletiva. 
Os outros dois tipos são necessários para manter o foco em múltiplas 
informações ao mesmo tempo: atenção alternada e atenção dividida. 
 
4.4.1 Atenção Sustentada 
 
É a habilidade de focar em uma tarefa específica por uma longa duração 
de tempo sem que nenhum fator de distração intervenha. A atenção sustentada 
provavelmente reflete quando se escuta palavras de incentivo como: Atenção! 
Foco! Concentre-se! Usa-se a atenção sustentada quando precisa-se manter o 
foco em uma determinada tarefa ou se concentrar em uma atividade por um 
período prolongado de tempo, as quais exigem distração mínima. Alguns 
exemplos compreendem assistir uma aula, ler um livro ou assistir um vídeo. 
 É um tanto desafiador manter esse tipo de atenção por um período 
extenso de tempo, considerando que a sociedade está cada vez mais saturada 
de informações e situações frequentes que causam distração. Porém, o nível 
de atenção sustentada pode variar, a partir do momento que se está 
intensamente focados, e que, de repente, inicia-se um lapso (perda abrupta da 
atenção). Contudo, uma grande vantagem da atenção sustentada é a sua 
habilidade de retornar rapidamente ao foco após uma situação de lapso ou de 
distração. 
 
4.4.2 Atenção Seletiva 
 
É a habilidade de selecionar e focar um dentre vários fatores ou 
estímulos disponíveis. Todo dia se está exposto a um grande número de 
estímulos ambientais, porém o cérebro realiza uma filtragem elaborada de 
aspectos particulares que são relevantes para manter o foco. A atenção 
seletiva basicamente permite ter a habilidade para selecionar o que necessita 
realmente de atenção. Utiliza-se esse tipo de atenção quando, por exemplo, se 
 
47 
 
está em uma multidão e se deseja ouvir apenas a voz de uma pessoa, ou 
quando se tenta estudar num ambiente barulhento. 
 Quando utiliza-se a atenção seletiva, está tentando evitar que distrações 
externas (barulho) e internas (o próprio pensamento) venham a prejudicá-la. 
Portanto, pessoas que conseguem utilizar com eficácia a atenção seletiva são 
muito boas em ignorar distrações e focar com mais facilidade, além de 
manterem um nível estável de desempenho e produção mesmo na presença 
de estímulos que a distraiam. 
 
Vídeo 
Assista ao vídeo Selective Attention Test, e verifique como a 
atenção seletiva funciona no cérebro. 
Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=vJG698U2Mvo 
 
 
4.4.3 Atenção Alternada 
 
É a habilidade ligada à flexibilidade mental que permite mudar o foco da 
atenção e transitar entre tarefas que exigem diferentes recursos cognitivos. 
Nesse caso, torna-se possível alternar facilmente a atenção entre duas tarefas 
que requisitam diferentes regiões cerebrais. 
 Utiliza-se a atenção alternada quase a todo momento. Frequentemente 
se tem que fazer mudanças repentinas no cotidiano das atividades e ações, as 
quais exigem mudanças no foco. Um exemplo disso é quando se está lendo 
uma receita, ao mesmo tempo que cozinha o que está descrito (pois em um 
momento o foco está na receita, e em outro, focado no cozimento dos 
alimentos), ou quando se está alternando tarefas distintas, como cozinhar e 
ajudar na tarefa do filho ao mesmo tempo. 
 
4.4.4 Atenção Dividida 
 
 
48 
 
É a habilidade de processar duas ou mais respostas ao mesmo tempo, 
dividindo a atenção entre duas ou mais tarefas. Frequentemente refere-se à 
atenção dividida com a capacidade multitarefa. Um exemplo seria quando se lê 
um e-mail e ouve pessoas numa reunião, quando se está conversando ao 
mesmo tempo que se alimenta, ou quando fala ao telefone ao mesmo tempo 
que se veste. 
 Diferente da atenção alternada, na atenção dividida não permite que se 
mude o foco de uma tarefa para outra, completamente diferente. Nesse caso, 
se tenta realizar todas ao mesmo tempo, fato que permite dizer que está 
dividindo a atenção. 
 Apesar da atenção dividida ser pensada como a habilidade de focar em 
duas ou mais atividades ao mesmo tempo, torna-se quase impossível se 
concentrar em duas tarefas distintas simultaneamente. O cérebro tem a 
capacidade de processar apenas uma tarefa por vez, portanto, é mais factível 
aceitar que se consegue focar em apenas uma tarefa por vez, o que indica que 
a todo momento se está alternando entre tarefas. Isso explica o porquê é tão 
difícil e perigoso estar ao telefone e dirigir ao mesmo tempo. 
 
4.4.5 Alterações da Atenção e Suas Consequências 
 
Grande parte das alterações nos processos atencionais são oriundas de 
quadros lesionais e disfuncionais orgânicas, as quais podem sofrer alterações 
de intensidade, como: alterações simples, brandas, oscilatórias e flutuantes. As 
alterações relacionadas aos aspectos quantitativos da atenção são 
classificadas como distração, hiperprosexia, hipoprosexia e aprosexia: 
 
 A distração é a dificuldade para concentrar a atenção sobre um estímulo 
mais significativo. Ela pode ser frequente em pessoas com alto grau de 
ansiedade, pelo fato de exibirem excesso de concentração. Ocorre 
também em situações de hipervigilância, as quais envolvem focos 
emocionais, como assistir filmes de terror, no terror noturno, condições

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