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artigo ASSUNÇÃO DE DIVIDA

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Assunção de dívida está́ praticamente conceituada com seus elementos, na primeira parte do art. 299 do CC, sendo o negócio jurídico pelo qual pode o terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor. Esse mesmo sentido vinha expresso no Anteprojeto de Código de Obrigações, de Caio Mário da Silva Pereira. Assim ocorrendo, deverá o devedor ceder o seu débito a essa mesma terceira pessoa que o substituirá́ na relação jurídica. O devedor será́ substituído pelo mesmo terceiro, mas sem extinção da aludida relação jurídica, que permanece. (AZEVEDO, Álvaro Villaça)
Dá-se assunção de dívida quando terceiro assume a posição do devedor, sem alteração da relação jurídica obrigacional. Um devedor se libera, outro passa a ser o devedor, mantida a identidade da dívida. Seu conteúdo é que o terceiro se coloque no lugar do antigo devedor. Sobre esse ponto, resultante de um longo processo evolutivo, esclarece Pontes de Miranda (1971, v. 23, p. 362) que no direito contemporâneo “precisou-se que a eficácia translativa, na assunção da dívida alheia, é concernente ao sujeito passivo, como se dá́ a respeito do sujeito ativo, na cessão de crédito”, não mais se perdendo tempo na discussão sobre transferência da relação jurídica ou da dívida. O crédito originário não se extingue ou é substituído por outro; o mesmo crédito permanece, dirigindo-se contra o novo devedor. (LOBO, Paulo p.175) 
A importância do consentimento do credor é de tal forma, que o silêncio é qualificado como recusa, contrariando, portanto, até mesmo a máxima do cotidiano de que “quem cala, consente”. ( GAGLIANO,Pablo Stolze; PAMPLINA, FILHO , Rodolfo)
Pode haver assunção da dívida alheia sem obrigação. Se a dívida não é ainda exigível, não há obrigação. Em situação extrema, as obrigações naturais são dívidas inexigíveis. Há direito do crédito, há dívida, mas não há responsabi- lidade do devedor, temporariamente, no primeiro caso, e definitivamente no segundo. Esses tipos de dívidas são também passiveis de assunção por terceiro. (LOBO, Paulo p.175)
A assunção de dívida distingue-se da novação, pois a modificação subjetiva se faz sem a extinção da relação jurídica, enquanto na novação a relação jurídica se extingue, dando lugar a uma nova. Diversos são os efeitos de uma e de outra. Se a relação obrigacional se mantém, com ela permanecem as garantias, privilégios, exceções, fato este que incorre em se tratando de uma nova relação jurídica. O art. 302 do Código Civil, todavia, dispõe que o novo devedor não poderá valer-se das exceções pessoais que diziam respeito ao devedor primitivo. (NADER, Paulo p.223)
Existem as espécies de assunção, que se dividem em grupos, por dois modos pode ocorrer a assunção: por acordo entre o terceiro e o credor, e por acordo entre o terceiro e o devedor.
Um dos modos é o passivo, que pode a assunção de dívida ser privativa ou liberatória (libera o devedor), em que existe a substituição do devedor, sistema que foi adotado pelo novo CC; pode, por outro lado, ser cumulativa ou de reforço, em que se soma mais um devedor, em reforço da posição do credor, nada impedindo que as partes interessadas adotem, elejam, esse sistema. Quanto à participação do credor, pode a assunção ser por expromissão ou por delegação. (AZEVEDO, Álvaro Villaça 2012 p.94)
A outra é de expromissão que ocorre com a liberação do devedor (caso típico de assunção), ou mantendo-se o devedor cumulativamente responsável pela obrigação. É a situação de reforço assinalada anteriormente, que nós poderíamos denominar assunção de débito imperfeita, em contrapartida à assunção perfeita que exclui totalmente o primitivo devedor. (VENOSA, Silvio de salvo, 2016 p.168)
Na delegação, um terceiro substitui o devedor, ou se soma a ele, assumindo o débito, com o consentimento do credor. Cogita-se, portanto, da delegação liberatória, havendo substituição do devedor, e da cumulativa, quando ao devedor soma-se outro. A delegação liberatória foi adotada pelo art. 299 do CC, que faculta ao terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado, liberado, o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava. (AZEVEDO, Álvaro Villaça p.94)
Não se dá assunção de dívida quando o adimplemento não possa ser realizado validamente pelo terceiro (caso de dívidas personalíssimas) ou quando o negócio jurídico a tenha expressamente vedado. (LOBO, Paulo 2015 p.175)
Caso o credor não se manifeste em trinta dias, entender-se-á́ como recusa à assunção. No entanto, referida regra comporta uma única exceção. É o caso da compra de imóvel hipotecado, ou seja, quando um imóvel hipotecado é vendido ou ocorre a remição hipotecária (pagamento ou resgate hipotecário), ou, então, o comprador assume a dívida hipotecária e, nesse caso, notificado o credor hipotecário e não se manifestando no prazo de trinta dias, entender- sê-á como dado o assentimento. (Art. 303, CC 2002).
Se a assunção de dívida vier a ser invalidada (nula ou anulada), restaurar-se-á́ a dívida com todas as suas características e garantias. O novo devedor pode alegar nulidade, anulabilidade ou ineficácia do próprio negócio de assunção da dívida, como dolo do antigo devedor. A invalidação do negócio de assunção de dívida desfaz a liberação do devedor, com efeito retroativo, incluindo o período em que o terceiro assumiu a dívida, que tem ação contra o devedor, pelo que pagou e eventuais perdas e danos. Não se restauram as garantias prestadas por terceiros (p. ex., fiança, penhor, hipoteca), que foram extintas com a assunção da dívida. Contudo, se o terceiro estiver de má́-fé́, conhecendo o vício que poderia levar à invalidade da assunção, continuará vinculado à obrigação originária. (LOBO, Paulo p.176)
Note-se que a lei não admite a exoneração do devedor se o terceiro, a quem se transmitiu a obrigação, era insolvente e o credor o ignorava. Não se exige, no caso, a má́-fé do cedente, bastando que o credor não saiba do estado de insolvência preexistente à cessão de débito, para se restabelecer a obrigação do devedor primitivo. Por isso, é de boa cautela dar ciência ao credor do estado de solvabilidade do novo devedor. (GAGLIANO,Pablo Stolze PAMPLINA, FILHO , Rodolfo)
Também a assunção possui natureza contratual; é negócio bilateral, quer se faça somente entre credor e terceiro, quer se faça com a intervenção expressa do devedor primitivo. No tocante à forma, vale o que dissemos a respeito da cessão: se o negócio exigir forma especial, assim deverá ser feito, caso contrário a forma é livre. Como na cessão, podem dela ser objeto dívidas presentes e futuras. Admitem também condição. Os vícios possíveis são os dos negócios jurídicos em geral. Como qualquer negócio jurídico de disposição, há que se examinar a capacidade das partes e a legitimação, no caso concreto. Trata-se, ao mesmo tempo, de ato de aquisição e disposição. (VENOSA, Silvio de salvo p.167)
Quanto às garantias que guarnecem a obrigação, é acirrada a controvérsia quanto aos termos do art. 300 do CC, que assim dispõe: “Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor”. (FIGUEIREDO, Fabio vieira p.73)
Na assunção de dívida, ocorre sucessão singular e não universal. O adquirente do passivo torna-se, com efeito, devedor apenas da obrigação ou obrigações que tiver adquirido. Pelas demais obrigações e dívidas do alienante, não pode o adquirente ser responsabilizado.
Feita a assunção da dívida com o consentimento do credor, o devedor primitivo libera-se da obrigação por completo. Com o negócio de assunção aperfeiçoado mediante a anuência do sujeito ativo, o alienante da obrigação passiva deixa de ser obrigado e o credor só pode, a partir de então, exercer o seu direito contra o adquirente. (Coelho, Paulo p.217)
A assunção pressupõe, a existência de uma dívida, uma relação obrigacional já existente. Na falta de estipulaçãoexpressa, as exceções oponíveis pelo primitivo devedor transferem-se ao assuntor, salvo as exceções pessoais (cf. Pereira, 1972, v. 2:260). É o que dispõe o vigente art. 302: “O novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo”.10 Não pode alegar compensação do devedor pretérito, por exemplo. A lei propõe ainda que, “se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas as suas garantias. Não se restauram, porém, as garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação” (art. 301) (VENOSA, Sílvio Salvo 2016 p.170)
Ressalva a lei apenas a hipótese de insolvência do adquirente ao tempo da assunção ignorada pelo credor. Neste caso, o devedor primitivo continua respondendo perante o credor pela obrigação transmitida e, uma vez a satisfazendo, poderá habilitar-se no processo judicial de insolvência do adquirente para tentar reaver o que lhe havia pago no ato da assunção (CC, art. 299, in fine). (Coelho, Paulo p.217)
Os primeiros estudos em torno da assunção de dívida surgiram com o jurista Delbrück, professor em Berlim, em 1853, com a obra Die Uebernahme fremder Schulden, nach gemeinem und prussischem Rechte, seguindo-se a obra de Salpius, em 1864, intitulada Novation und Delegation, a de Unger, Schulübernahme, em 1889. Em 1890, na França, Saleilles publicou La cession des dettes. Na Itália, destacaram-se os estudos de Gioverne e de Roberto de Ruggiero, este último com a obra Accollo. 
O legislador brasileiro, ao criar o instituto da assunção de dívida, contemplou apenas a forma de delegação, ou seja, a que resulta de contrato entre o devedor e terceiro, a fim de que este, com a concordância do credor, o substitua na relação. O motivo pelo qual não se regulamentou a forma por expromissão, que se realiza mediante contrato entre credor e terceiro, sem o concurso do devedor primitivo, se deveu, certamente, à pequena ou nenhuma demanda neste sentido. Todavia, a prática não se acha vedada, devendo-se recorrer, para este fim, aos subsídios da analogia e do Direito Comparado. (NADER, Paulo 2015 v. 2 p.231)
O Código Civil de 1916 cuidou apenas da cessão de crédito, enquanto o Código Civil de 2002 regulou o instituto da assunção de dívida nos arts. 299 a 303. Sob a vigência do velho Códex, a transmissão do polo passivo da obrigação era possível em face do princípio da autonomia da vontade e da inexistência de qualquer óbice legal. Ao disciplinar o instituto, o novo Códex forneceu ao meio jurídico orientação mais segura, favorecendo, ainda, a efetividade da prática. Há de se registrar uma referência legislativa anterior à promulgação do atual Código Civil: a do inciso III, art. 779, do novo Código de Processo Civil, que já admitia como sujeito passivo na execução “o novo devedor, que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigação resultante do título executivo”. Tal dispositivo é uma confirmação da tese de que o instituto da assunção de dívida, embora não legislado em nosso país, constituía prática admissível.

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