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Isaac de Luna Ribeiro P ROGRAMA Material auxiliar para acompanhamento das aulas da disciplina de Direito Penal II 2013 Teoria da Pena 2 Prof. Isaac de Luna Ribeiro BACHARELADO EM DIREITO DIREITO PENAL II TEORIA DA PENA PROGRAMA ESQUEMATIZADO Prof. Isaac de Luna Ribeiro Teoria da Pena 3 Prof. Isaac de Luna Ribeiro SUMÁRIO PARA UMA DISCUSSÃO PRELIMINAR ...................................................... 05 1. TEORIA DA PENA: AS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO CRIME...... 08 1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS FORMAS DE PUNIÇÃO NA SOCIEDADE ................................................................................................. 08 1.2 TEORIAS LEGITIMADORAS DA PENA OU JUSTIFICADORAS DO DIREITO DE PUNIR ...................................................................................... 11 1.3 ALGUMAS DEFINIÇÕES MODERNAS DE PENA ............................... 17 1.4 FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS ................................................. 18 1.5 CONDIÇÃO PARA A IMPUTAÇÃO DA PENA ...................................... 19 2. DA AUTORIA NO DIREITO PENAL ......................................................... 20 2.1 TEORIAS NEGATIVAS ........................................................................... 20 2.2 TEORIAS POSITIVAS OU RESTRITIVAS ............................................. 20 2.3 TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO .......................................................... 21 2.4 TIPOS DE AUTORIA .............................................................................. 21 2.5 DA CO-AUTORIA .................................................................................... 23 2.6 DA PARTICIPAÇÃO ............................................................................... 24 3. TIPOS DE PENAS NO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO .......................... 26 3.1 A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE (PPL) ......................................... 26 3.2 DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS ............................................ 31 Teoria da Pena 4 Prof. Isaac de Luna Ribeiro 3.3 DA SUBSTITUIÇÃO DAS PENAS .......................................................... 33 3.4 DA PENA DE MULTA ............................................................................. 35 4. DA APLICAÇÃO DA PENA ...................................................................... 37 4.1CRITÉRIO NORMATIVO .......................................................................... 37 4.2 1ª FASE DE APLICAÇÃO DA PENA ..................................................... 38 4.3 2ª FASE DE APLICAÇÃO DA PENA ..................................................... 38 4.4 3ª FASE DE APLICAÇÃO DA PENA ..................................................... 45 5. DO CONCURSO DE CRIMES .................................................................. 49 5.1 CONCURSO MATERIAL ........................................................................ 50 5.2 CONCURSO FORMAL OU IDEAL ........................................................ 51 5.3 CRIME CONTINUADO ........................................................................... 53 6. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA - “SURSIS” ............................ 55 6.1 REQUISITOS OBJETIVOS ..................................................................... 55 6.2 REQUISITOS SUBJETIVOS ................................................................. 56 6.3 ESPÉCIES DE “SURSIS” ..................................................................... 57 7. DO LIVRAMENTO CONDICIONAL ......................................................... 58 7.1 REQUISITOS OBJETIVOS ...................................................................... 58 7.2 REQUISITOS SUBJETIVOS ................................................................... 58 7.3 CONDIÇÕES ........................................................................................... 59 7.4 REVOGAÇÃO ......................................................................................... 59 Teoria da Pena 5 Prof. Isaac de Luna Ribeiro 7.5 SUSPENSÃO (Art. 145, LEP) ................................................................. 60 7.6 PRORROGAÇÃO (Art. 89, CP) .............................................................. 60 7.7 EXTINÇÃO (Art. 90, CP) ......................................................................... 60 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................. 61 Teoria da Pena 6 Prof. Isaac de Luna Ribeiro DISCUSSÃO PRELIMINAR a) ESQUEMA BÁSICO DE COMPREENSÃO DO DIREITO PENAL Teoria da Pena 7 Prof. Isaac de Luna Ribeiro b) CONCEITOS FUNDAMENTAIS CRIME (breve revisão) - Conceitos formal, material e analítico AGENTE - Conceito extensivo; conceito restritivo - Teoria do domínio do fato PENA (Conseqüência Jurídica do crime) - Conceito - Finalidade - Tipos - Regras para aplicação c) CRIME (breve revisão) CONCEITO FORMAL: “Crime é o fato humano contrário à lei” (Não penetra em sua essência, em seu conteúdo, em sua matéria). CONCEITO MATERIAL: “Crime é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico protegido pela lei penal (Tem em vista o bem protegido pela lei penal ). CONCEITO ANALÍTICO:“Ação humana, antijurídica, típica, culpável e punível” (Se a conduta é um dos componentes do fato típico, deve-se definir o crime como “fato típico e antijurídico). No sistema tripartido clássico (amplamente majoritário na doutrina penal atual), são três as categorias que compõem o delito: Teoria da Pena 8 Prof. Isaac de Luna Ribeiro Tipicidade Preceitos Antijuridicidade Culpabilidade Nexo de causalidade Elemento subjetivo do tipo CRIME, PORTANTO, É UM FATO TÍPICO, ANTIJURÍDICO E CULPÁVEL. Teoria da Pena 9 Prof. Isaac de Luna Ribeiro 1. TEORIA DA PENA: AS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO CRIME 1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS FORMAS DE PUNIÇÃO NA SOCIEDADE SOCIEDADES PRIMITIVAS: Inicialmente, segundo Nucci, a pena tem origem sacra ou mística – totens e tabus (caráter coletivo); Individualmente prevalecia a lei do mais forte (Lei de Darwin), onde cabia a auto-composição, conhecida como vingança privada, utilizada pelo ofendido em busca de sanar a lide, através de força própria, do grupo ou família, para exercê-la em desfavor do “agressor”; Ausência, em ambos os casos, do caráter tecnico-jurídico da atualidade ANTIGUIDADE Fase da Composição: Com a Lei Mosaica (Talião), surge o primeiro indício de proporcionalidade entre pena e delito. Ao prescrevera máxima “sangue por sangue, olho por olho, dente por dente”, vinculou proporcionalmente a retribuição à gravidade do mal causado adotada pelo Código de Hamurabi (século XXIII a C.), na Babilônia, pela legislação hebraica (Êxodo) e pela Lei das XII Tábuas, em Roma. Civilização Helênica: expiação dos violadores da norma (morte, mutilação, tortura e trabalhos forçados) ATENÇÃO: INEXISTÊNCIA DA PRIVAÇÃO DE LIBERDADE COMO PENA! Teoria da Pena 10 Prof. Isaac de Luna Ribeiro MEDIEVO Com a queda do Império Romano, (século IV), sobreveio o direito germânico, sob forte influência da direito canônico, pelo qual a vingança divina era exercida na proporcionalidade do “pecado” cometido contra Deus. Prisão de Estado: custódia ou detenção (Torre de Londres, Bastilha, Palácio Ducal de Veneza) Suplícios e mutilações. O suplício penal não corresponde a qualquer punição corporal: é uma produção diferenciada de sofrimentos, um ritual organizado para a marcação das vítimas e a manifestação do poder que pune (FOUCAULT). Prisão Eclesiástica: Haviam penas para punir clérigos faltosos, em celas ou com a internação em mosteiros, com a finalidade de fazer com que o recluso meditasse, refletisse e se arrependesse da infração cometida. Por influência do clero foram criadas, no Sec. XII, as prisões subterrâneas, donde surgiu a expressão “vade in pace” O cárcere era tido como penitência e meditação, o que originou a palavra “penitenciaria”. A MODERNIDADE Desenvolvimento do capitalismo, guerras religiosas, generalização da pobreza e multiplicação dos desafortunados e delinqüentes. Teoria da Pena 11 Prof. Isaac de Luna Ribeiro Por razões de política criminal era evidente que, ante tanta delinqüência, a pena de morte não era uma solução adequada, já que não se podia aplicar a tanta gente (BITTENCOURT). O Estado assume a função de resolução racional de conflitos, com a construção de prisões para a correção dos apenados e de hospícios para a correção de crianças errantes e jovens rebeldes: Surge a idéia de prender para (re)educar. Sobre esta época de transição feudal ao capitalismo, dizem Rusche e Kirchheimer (Punição Estrutura Social): A pena serviu também para suprir a falta e a crescente necessidade de mão-de-obra. Portanto, as casas de correção ou de trabalho, para onde eram mandados os condenados, foram os antecedentes do que hoje conhecemos por cárcere. O Direito Penal foi utilizado como segregação social com penas de expulsão, trabalhos forçados ou galés. CESAR BECCARIA: PRECURSOR DA MODERNIDADE PENAL Teoria da Pena 12 Prof. Isaac de Luna Ribeiro “Não é o tamanho da pena que inibe o cometimento de um delito, mas sim a certeza da sua aplicação” “A medida justa da pena dar-se pela maior eficiência da punição com o menor sofrimento possível impingido ao apenado” "toda severidade que ultrapasse os limites se torna supérflua e, por conseguinte, tirânica“ "Quereis prevenir delitos? Fazei com que as leis sejam claras e simples." MICHAEL FOUCAULT: CRÍTICA A SOCIEDADE DISCIPLINAR "Não se trata de um acaso, nem de uma gratuita e generosa humanização do sistema penal, mas da culminação de um longo processo. [...] O Direito Penal passa a poupar o corpo para agir diretamente na alma”. Pode-se compreender o caráter de obviedade que a prisão-castigo muito cedo assumiu. Desde os primeiros anos do século XIX, ter-se-á ainda consciência de sua novidade; e entretanto ela surgiu tão ligada, e em profundidade, com o próprio funcionamento da sociedade, que relegou ao esquecimento todas as outras punições que os reformadores do século XVIII haviam imaginado. Teoria da Pena 13 Prof. Isaac de Luna Ribeiro 1.2 TEORIAS LEGITIMADORAS DA PENA OU JUSTIFICADORAS DO DIREITO DE PUNIR TEORIAS RETRIBUTIVAS OU ABSOLUTAS DA PENA - “Punitur quiar peccatum est” A Teoria retributiva considera que a pena se esgota na idéia de pura retribuição e tem como fim a reação punitiva, ou seja, responde ao mal constitutivo do delito (injusto) com outro mal que se impõe ao autor do delito (justo). KANT HEGEL BINDING KANT rejeita qualquer fim político (prevenção geral ou especial) para a pena, entendendo que a mesma é um imperativo categórico que responde a uma necessidade absoluta de justiça: “As penas são, em um mundo regido por princípios morais (por Deus), categoricamente necessárias” De acordo com Kant, é preferível que morra um homem a perder todo um povo, pois se a justiça perde a sua credibilidade, já não há sentido para que viva o homem sobre a terra, concluindo que: “Ainda que uma sociedade se dissolvesse por consenso de todos os seus membros, o último assassino deveria ser executado” Para HEGEL a pena é uma exigência da razão, uma conseqüência lógica do próprio movimento do Direito: Teoria da Pena 14 Prof. Isaac de Luna Ribeiro Delito: constitui uma violência contra o Direito Pena: Violência que anula a primeira e restabelece a supremacia do Direito A pena é a negação da negação (reafirmação da tese), ou seja, uma necessidade lógica do sistema que independe de outros fins: “O Direito negado pelo crime é reafirmado pela pena, e na necessidade dessa reafirmação é que a pena encontrará a razão que a torna legítima” (Aníbal Bruno). BINDING também é colocado na doutrina como um representante das teorias absolutas, mesmo que por motivos diversos dos dois primeiros representantes (Luis Flávio Gomes). Considera que a pena justifica-se pelo fato de mostrar ao infrator/delinqüente, a sua impotência diante da lei A pena submete o criminoso a “força vitoriosa do Direito”. A pena pode, eventualmente, exercer outras funções ou finalidades, mas essas são irrelevantes para a sua justificação - justifica-se desde que “seja justa de si e para si” (HEGEL) “A pena justa é legítima, ainda que inútil, motivo pelo qual uma pena útil não tem legitimidade alguma, se injusta” (Paulo Queiroz). DE MAIS A MAIS... A exigência da pena deriva da necessidade de realização de justiça Fundamentos éticos da responsabilidade individual do homem e culpa moral do cristianismo Teoria da Pena 15 Prof. Isaac de Luna Ribeiro A pena, independentemente do seu fim, deve ter o delito como pressuposto indispensável O homem não pode ser reduzido a um objeto, de modo que a pena não pode ser tida como um meio ou ter caráter meramente exemplificador TEORIAS PREVENTIVAS OU RELATIVAS DA PENA - “Punitur ut ne peccetur” As teorias preventivas são aquelas que atribuem à pena a capacidade e a missão de evitar que no futuro se cometam delitos. Reconhecem que segundo sua essência, a pena se traduz num mal para quem a sofre, mas tem de usar desse mal para alcançar a finalidade precípua de toda a política criminal: a prevenção ou a profilaxia criminal. Divide-se em teoria preventiva especial e teoria preventiva geral (positiva e negativa). PREVENÇÃO ESPECIAL (VON LISZT) Direcionada ao delinqüenteconcreto, castigado com uma pena; A pena é um instrumento de atuação preventiva sobre a pessoa do delinqüente, com o fim de evitar que, no futuro ele cometa novos crimes (prevenção da reincidência); Objetiva “a conversão do criminoso em um homem de bem” (Basileu Garcia); Para Von Liszt, a função da pena é prevenir de modo eficaz a prática de futuros delitos, conforme a peculiaridade de cada infrator: Teoria da Pena 16 Prof. Isaac de Luna Ribeiro • Para o delinqüente ocasional – advertência/intimidação • Para os que precisam de correção – ressocialização • Para o incorrigível ou habitual - inocuização A PREVENÇÃO ESPECIAL POSITIVA: persegue a ressocialização do delinqüente através da sua correção: A finalidade da pena-tratamento é a ressocialização. PREVENÇÃO ESPECIAL NEGATIVA: busca tanto a intimidação ou inocuização através da intimidação, como a inocuização mediante a privação da liberdade. Ou seja, a prevenção especial negativa tem como fim neutralizar a possível nova ação delitiva, daquele que delinqüiu em momento anterior, através de sua "inocuização" ou "intimidação". Busca evitar a reincidência através de técnicas, ao mesmo tempo, eficazes e discutíveis, tais como, a pena de morte, o isolamento etc. PREVENÇÃO GERAL NEGATIVA (Feuerbach): Direciona-se à generalidade dos cidadãos, com o escopo de que a ameaça de uma pena, por um lado, sirva para intimidar aos delinqüentes potenciais, e, por outro , sirva para robustecer a consciência jurídica dos cidadãos e sua confiança e fé no Direito. Não destina-se a retribuição ou a correção moral A finalidade da pena é a abstenção de criminosos reais ou potenciais da prática do delito, independentemente da mudança de valores. Teoria da Pena 17 Prof. Isaac de Luna Ribeiro PREVENÇÃO GERAL POSITIVA OU INTEGRADORA (Welzel e Jakobs) Encontra o seu precedente sociológico na teoria da consciência coletiva de Emile Durkheim, pois vê na pena a finalidade de promover a integração social por meio da cristalização dos valores fundamentais da sociedade e da fidelidade ao direito; Para Welzel a mera proteção de bens jurídicos tem um fim policial negativo, de modo que a real missão do Direito Penal “é de natureza ético- social de caráter positivo da ação dos cidadãos” O desvalor da ação é mais importante do que o desvalor do resultado, já que “importa menos o efeito positivo atual da ação, que a permanente tendência positiva da ação dos cidadãos” Ainda para Welzel, a pena, tem como destinatário toda a sociedade, fortalecendo na mente de todos o respeito pelos valores ético-sociais consolidados, e só secundariamente, bens jurídicos definidos. Nesse sentido, também Hassemer e Conde: “A função de qualquer tipo de controle social – desde a família ao Direito, passando pela escola – é afirmar as normas fundamentais de toda sociedade, fazendo assim possível a convivência social”. GÜNTHER JAKOBS O bem jurídico tutelado pelo Direito Penal é a própria norma, ou melhor, o próprio sub-sistema jurídico-penal da sociedade: “O delito é a ação de uma pessoa exclusivamente formal, porém, em todo caso, de uma pessoa, e, por isso, deve ser entendido como algo Teoria da Pena 18 Prof. Isaac de Luna Ribeiro com significado, como contraprojeto perante a sociedade. A pena Marginaliza o significado da ação” “A pena não luta contra um inimigo; tampouco serve ao estabelecimento de uma ordem desejável, mas somente à manutenção da realidade social” “Os destinatários da pena, antes de tudo, não são algumas pessoas consideradas autores potenciais, senão todas as pessoas que têm de saber o que devem esperar nessas situações” TEORIAS MISTAS OU UNIFICADORAS - “Punitur, quia peccatum est, ne peccatur “ Tentam agrupar em um conceito único os fins da pena. Essa corrente tenta recolher os aspectos mais destacados das teorias absolutas e relativas. Deste modo, afirma MIR PUIG: "Entende-se que a retribuição, a prevenção geral e a prevenção especial são distintos aspectos de um mesmo complexo fenômeno que é a pena”. Sustentam que uma visão unidimensional da pena mostra-se formalista e incapaz de abranger a complexidade dos fenômenos sociais que interessam ao Direito Penal, com conseqüências graves para a segurança e os direitos fundamentais do homem. Pretende unir justiça e utilidade, de modo que a pena somente será legítima se for, ao mesmo tempo, justa e útil A pena é uma retribuição jurídica, mas que somente se justifica se e quando necessária à proteção da sociedade Teoria da Pena 19 Prof. Isaac de Luna Ribeiro 1.3 ALGUMAS DEFINIÇÕES MODERNAS DE PENA Plácido e Silva: “expiação ou castigo estabelecido pela lei, com o intuito de prevenir e de reprimir a prática de qualquer ato ou omissão de fato que atente contra a ordem social, o qual seja qualificado como crime ou contravenção” Aníbal Bruno: “pena é a sanção, consistente na privação de determinados bens jurídicos, que o Estado impõe contra a prática de um fato definido na lei como crime.” Franz Von Liszt: “a pena é um mal imposto pelo juiz penal ao delinqüente, em virtude do delito, para expressar a reprovação social em relação ao ato e ao autor.” Edmund Mezger: “pena é a imposição de um mal proporcional ao fato”. Giuseppe Betiol: a pena é uma conseqüência jurídica do crime, ou seja, a sanção estabelecida pela violação de um preceito penal. 1.4 FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DA PENA NO DIREITO BRASILEIRO CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 5º XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, [...]; XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; Teoria da Pena 20 Prof. Isaac de Luna Ribeiro c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis; XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; 1.5 CONDIÇÃO PARA A IMPUTAÇÃO DA PENA Para que o Estado submeta alguém a aplicação de uma pena é necessário: Que alguém pratique uma conduta tipificada na lei como crime; Que aja uma pena prevista para o crime praticado; Que se tenha indubitavelmente definida a autoria do crime. A pena, portanto, somente pode ser aplicada ao autor de um crime. NO DIREITO PENAL BRASILEIRO, O QUE SE ENTENDE POR AUTORIA? Teoria da Pena 21 Prof. Isaac de Luna Ribeiro 2. DA AUTORIA NO DIREITO PENAL 2.1 TEORIAS NEGATIVAS: a) TEORIA EXTENSIVA: tem fundamento na teoria da equivalência dos antecedentes causais. Todos que concorrem para o delito são autores - não distingue autor e partícipe, quem é condição do resultado é autor (Liszt). b) TEORIA UNITÁRIA (ou da associação criminal): todos os que concorrem para o delito são autores,mesmo porque o delito é um fenômeno unitário. c) TEORIA DO ACORDO PRÉVIO: o prévio acordo entre todos os participantes é o suficiente para concebê-los como autores, sem se distinguir a contribuição de cada um. 2.2 TEORIAS POSITIVAS OU RESTRITIVAS a) TEORIAS SUBJETIVAS: quem atua com animus auctoris é autor; quem age com animus socii é partícipe. Importa para a distinção o aspecto subjetivo do agente. b) TEORIAS MISTAS (subjetivas e objetivas): admitem a distinção entre autor e partícipe conforme cada caso, ora preponderando o critério objetivo (realização do injusto penal), ora o subjetivo (conforme a reprovabilidade). c) TEORIAS OBJETIVAS FORMAIS: dizem que autor é quem realiza o verbo núcleo do tipo; partícipe é quem contribui de outra maneira para o delito. d) TEORIAS OBJETIVAS MATERIAIS: levam em conta a efetiva contribuição do agente para o resultado final. O que importa é a magnitude da conduta. Teoria da Pena 22 Prof. Isaac de Luna Ribeiro 2.3 TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO Mescla critérios objetivos e subjetivos, além de apresentar um elemento novo: a divisão de tarefas, devendo cada agente ter domínio funcional da tarefa que lhe foi atribuída, devendo esta possuir relevância para a efetivação do ato delituoso. A partir dessa teoria admite-se como autor: (a) quem tem o domínio da própria ação típica; (b) uem domina a vontade de outra pessoa; (c) quem tem o domínio funcional do fato (casos de co-autoria). AUTOR, PARA O DIREITO PENAL, É QUEM: Realiza o verbo núcleo do tipo; Tem o domínio organizacional da ação típica (quem organiza, quem planeja etc.); Participa funcionalmente da execução do crime mesmo sem realizar o verbo núcleo do tipo (por exemplo: quem segura a vítima para que o executor venha a matá-la; Tem o domínio da vontade de outras pessoas (isso é o que ocorre na autoria mediata). 2.4 TIPOS DE AUTORIA a) Autor individual: dá-se quando o agente atua isoladamente (sem a colaboração de outras pessoas). Teoria da Pena 23 Prof. Isaac de Luna Ribeiro b) Autor coletivo: é quando há o concurso de duas ou mais pessoas para a realização do fato (co-autoria). c) Autor Direto ou imediato: é aquele que pessoalmente pratica o fato típico – o executor. d) Autor Intelectual: é o indivíduo que mesmo sem agir diretamente na execução do crime tem pleno domínio da situação, vez que planeja e determina a conduta dos demais agentes, podendo decidir sobre a execução, paralisação e modificação de metas. e) Autor Mediato: Neste caso a ação é realizada valendo-se de uma ou mais pessoas que exercem uma atividade subordinada à vontade do autor. O executor (autor direto) é o instrumento (meio) de que se vale o autor mediato para a prática do crime. Nesses casos não há o concurso de pessoas, o fato é punível exclusivamente para o autor mediato, que tem o domínio do fato. f) Autor de escritório: É aquela autoria derivada do crime organizado, ocorrendo quando alguém compre ordens de um grupo criminoso estruturalmente organizado. g) Autoria Colateral: Ocorre quando duas ou mais pessoas, agindo sem qualquer vínculo subjetivo, dão, simultaneamente, causa a um dano ou perigo de dano a um mesmo bem jurídico. Alguns a identificam como co-autoria lateral ou imprópria. h) Autoria Incerta (ou autoria com resultado incerto): se dá quando, na autoria colateral, não se descobre quem produziu o resultado ofensivo ao bem jurídico. i) Autoria incerta e autoria ignorada: autoria ignorada é conceito de processo penal e ocorre quando não se descobre quem foi o autor da infração. j) Autoria Complementar ou Acessória: ocorre autoria complementar (ou acessória) quando duas pessoas atuam de forma independente, mas só a soma das duas condutas é que gera o resultado. Uma complementa a outra. Isoladas não produziriam o resultado. Teoria da Pena 24 Prof. Isaac de Luna Ribeiro k) Autoria Sucessiva: ocorre autoria sucessiva quando alguém ofende o mesmo bem jurídico já afetado antes por outra pessoa. Exemplo: CP, art. 138, § 1.º: quem propala ou divulga a calúnia precedente, sabendo falsa a imputação. 3.5 DA CO-AUTORIA: Dar-se a co-autoria quando duas ou mais pessoas, através de atuação conjunta, praticam um fato punível. Nesse caso, ambas realizam a conduta típica (teoria objetiva-formal) ou ambas têm o domínio coletivo da realização da ação típica (teoria do domínio do fato). Não se exige um ajuste prévio, mas sim que haja a convergência de vontades, isto é, a consciência de colaborar na ação comum. A co-autoria é autoria, sua particularidade consiste em que mesmo com a divisão das tarefas, todos serão responsabilizados pelo cometimento do delito. CÓDIGO PENAL BRASILEIRO Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. CO-AUTORIA SUCESSIVA: Teoria da Pena 25 Prof. Isaac de Luna Ribeiro Ocorre quando já teve início a execução de um delito por alguém ou por um grupo e outrem resolve aderir ao ato que já iniciado. Neste caso, coloca-se a seguinte controvérsia doutrinária: qual é a responsabilidade penal do co-autor sucessivo pelos atos já praticados antes do seu ingresso na ação? 1ª corrente: Welzel, Maurach e Nilo Batista: responsabilidade completa 2ª corrente: Mezger e Zaffaroni: Responsabilidade proporcional 3.6 DA PARTICIPAÇÃO Configura-se quando um agente, denominado partícipe, que não tem o domínio do fato, contribui para a realização de um crime por outros executado; ou seja, é aquele que não realiza atos típicos, distinguindo-se, do co-autor (teoria formal-objetiva). Se o agente facilita a consumação de maneira a torná-la mais rápida, segura ou eficiente,será partícipe; De outro modo, se o fato não pudesse ter sido cometido com a sua ausência, será co-autor. “O agente será partícipe se a contribuição que traz para o fato reside na mera comodidade dos autores, apenas facilitando-lhes a empresa delitiva, que bem podia realizar-se sem sua cooperação” (ZAFFARONI; PIERANGELI) A PARTICIPAÇÃO PODE SER: Teoria da Pena 26 Prof. Isaac de Luna Ribeiro a) MORAL OU INTELECTUAL: pode se dar na modalidade do induzimento ou determinação (o agente cria, implanta a idéia criminosa na cabeça de outro) ou da instigação (o sujeito reforça, estimula, incentiva uma idéia pré-existente); b) MATERIAL: é o auxílio material. O partícipe facilita materialmente a prática da infração penal, cedendo, por exemplo, a arma para aquele que deseja se matar. PARTICIPAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO E PARTICIPAÇÃO SUCESSIVA: Ocorre a participação da participação nos casos de induzimento de induzimento, instigação de instigação, mandado de mandado, etc. Exemplo: A induz B a induzir C a matar D. Já a participação sucessiva se dá quando presente o induzimento ou instigação do executor, se sucede outro induzimento ou instigação. Ocorre, por exemplo,quando A instiga B a matar C, sendo que D, sem saber da previa participação de A, também instiga B a matar C. CIRCUNSTÂNCIAS INCOMUNICÁVEIS Art. 30 Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. Atentar para a distinção entre crimes de concurso necessário e crimes de concurso eventual CASOS DE IMPUNIBILIDADE Art. 31 O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. Ver: inter criminis e crimes de perigo Teoria da Pena 27 Prof. Isaac de Luna Ribeiro 4. TIPOS DE PENAS NO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO 4.1 A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE (PPL) CP, Art. 32 - As penas são: I - privativas de liberdade; As PPL dividem-se em pena de reclusão ou pena de detenção Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi- aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. REGIME FECHADO: Executado em penitenciárias de segurança máxima ou média e se caracteriza pelo fato do condenado estar submetido à rigorosa vigilância armada, passando a maior parte do tempo recolhido à sua cela, só podendo afastar-se mediante autorização judicial. O condenado será submetido, no início do cumprimento da pena, a exame criminológico de classificação para individualização da execução (Art. 34); ficará sujeito a trabalho no período diurno e a isolamento durante o repouso noturno (§ 1º); O trabalho interno será em comum, atendendo as aptidões ou ocupações anteriores do condenado, desde que compatíveis com a execução da pena; O trabalho externo será admitido em serviços ou obras públicas (§ § 2º e 3º). Teoria da Pena 28 Prof. Isaac de Luna Ribeiro REGIME SEMI-ABERTO: Cumprido em Colônias Penais que podem ser agrícolas ou industriais. O preso não fica em cela e sim em alojamento, trabalhando fora durante o dia e voltando somente para dormir no alojamento. O condenado também deverá ser submetido ao exame criminológico no início do cumprimento da pena (Art. 35, caput) Durante o dia ficará sujeito ao trabalho em comum em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar (§ 1º). O trabalho externo e a freqüência a cursos supletivos profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior, também serão permitidos (§ 2º) REGIME ABERTO: Cumprido em casa de albergado, onde o preso fica recolhido em dormitórios que são vinculados ao sistema penitenciário, não possuindo vigilância armada ostensiva, já que funda-se no senso de responsabilidade do próprio condenado (Art. 36, caput). O condenado deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância, trabalhar, freqüentar curso ou exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias de folga (§ 1º); O condenado será transferido do regime aberto, se praticar fato definido como crime doloso, se frustrar os fins da execução ou se, podendo, não pagar a multa cumulativamente aplicada (§ 2º). REGIME ESPECIAL Teoria da Pena 29 Prof. Isaac de Luna Ribeiro Art. 37 - As mulheres cumprem pena em estabelecimento próprio, observando-se os deveres e direitos inerentes à sua condição pessoal, bem como, no que couber, o disposto neste Capítulo. Quais são os direitos específicos conferidos a mulheres que cumprem pena? PROGRESSÃO DE REGIME As PPL’s deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios (Art. 33, caput e § 2º): a) o condenado a pena superior a 8 anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 anos e não exceda a 8, poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto; c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto. ATENÇÃO! - O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais(Art. 33, § 4º). A determinação do regime inicial será determinada pelo juiz com base nos critérios estabelecidos no art. 59 do Código Penal (Art. 33, § 3º) A progressão será sempre escalonada; O condenado a quem sobrevém doença mental deve ser recolhido a hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, a outro estabelecimento adequado (Art. 41). Teoria da Pena 30 Prof. Isaac de Luna Ribeiro INTITUTOS INDISPENSÁVEIS DETRAÇÃO: Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior (Art. 42) REMISSÃO: O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semi- aberto poderá remir, pelo trabalho, à razão de 1 dia de pena por 3 de trabalho no tempo de execução da pena. (Art. 126, § § 1º e 2º,LCP). O preso impossibilitado de prosseguir no trabalho, por acidente, continuará a beneficiar- se com a remição (§ 2º). CUMULTAÇÃO: É a substituição de uma pena restritiva de liberdade por uma pena alternativa, restritiva de direitos. DIREITOS DO PRESO Art. 38 - O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral. O preso com condenação definitiva pode votar? TRABALHO DO PRESO Art. 39 - O trabalho do preso será sempre remunerado, sendo-lhe garantidos os benefícios da Previdência Social. Teoria da Pena 31 Prof. Isaac de Luna Ribeiro O trabalho do preso é um direito, um dever ou uma obrigação? O preso pode recusar-se a trabalhar durante o cumprimento da pena? TEMPO MÁXIMO DE CUMPRIMENTO DAS PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE Não pode ser superior a 30 anos (art. 75 CP). Ver o art. 5º, XLVII, “b”, CF; Esse limite só se refere ao tempo de cumprimento de pena, não podendo servir de base para cálculo de outros benefícios, como o livramento condicional e a progressão de regime. Nova condenação – sobrevindo nova condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, que fazer nesse caso? sobrevindo nova condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena: far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido (ex.: “A” é condenado a 150 anos de reclusão. Procedida a unificação, cumpre 30. Após cumprir 12 anos, é condenado por fato posterior ao início do cumprimento da pena. Nessa nova condenação, é- lhe imposta pena de 20 anos. Somam-se os 18 que faltavam para cumprir os 30 anos com os 20 impostos pela nova condenação. Dessa soma resultará a pena de 38 anos. Procede-se a nova unificação para o limite de 30 anos. Agora, além dos 12 já cumpridos, terá de cumprir mais 30). Observe-se que a unificação das penas nesse limite traz um inconveniente: deixa praticamente impune o sujeito que, condenado a uma penade 30 Teoria da Pena 32 Prof. Isaac de Luna Ribeiro anos de reclusão, comete novo crime logo no início do cumprimento dessa sanção. 3.2 DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS Art. 43. As penas restritivas de direitos são: I - prestação pecuniária; II - perda de bens e valores; III - (VETADO) IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; V - interdição temporária de direitos; VI - limitação de fim de semana. a) Prestação pecuniária (arts. 43, I, 45, §§ 1° e 2°, CP). Pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou entidade pública ou privada com destinação social, de importância fixada pelo juiz da condenação (não pode ser inferior a 1 salário mínimo, nem superior a 360 vezes esse salário). Em caso de condenação em ação de reparação civil, ou execução civil da sentença condenatória penal transitada em julgado, deverá ser descontado o valor referente à prestação pecuniária. Se houver aceitação do beneficiário, a prestação pecuniária poderá ser substituída por prestação de outra natureza. Teoria da Pena 33 Prof. Isaac de Luna Ribeiro b) Perda de bens e valores (arts. 43, II, 45, § 3º, CP) Confisco em favor do FPN de quantia que pode atingir o valor referente ao prejuízo causado ou do provento obtido pelo agente ou por terceiro, em conseqüência da prática do crime, prevalecendo aquele que for maior. A lei ressalva a destinação diversa que lhe for dada pela legislação especial. Tais bens e valores serão destinados, com preferência, ao lesado ou a terceiro de boa fé (art. 91, II, CP). c) Prestação de serviços à comunidade ou a entidade públicas (arts. 43, IV, 46, CP) Atribuição de tarefas gratuitas ao condenado. Dar-se-á em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais. As tarefas devem ser atribuídos conforme as aptidões do condenado e não deve prejudicar a sua jornada normal de trabalho. Deve ser cumprida à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação à pena privativa de liberdade fixada inicialmente, Permitindo-se a pena superior a 1 ano seja cumprida em menor tempo (nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada). d) Interdição temporária de direitos (arts. 43, V, 47, CP) Proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública (Art 327, CP), bem como de mandato eletivo; Infração relativa ao dever funcional praticada quando do cometimento do ilícito penal. Teoria da Pena 34 Prof. Isaac de Luna Ribeiro Não se confunde nem implica perda do cargo exercido pelo condenado (efeito da condenação quando a pena aplicada for superior a 4 anos). Proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público; Suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir - Aplicada aos crimes culposos de trânsito (art. 57, CP). e) Proibição de freqüentar determinados lugares. O juiz deverá especificar expressamente na sentença quais os lugares que o sentenciado não pode freqüentar. Deve guardar relação com o delito praticado e com a pessoa do agente, como forma de prevenir a prática de novo crime. Cabe ao juiz da execução comunicar à autoridade competente a aplicação da pena. O descumprimento injustificado da restrição acarreta a conversão da pena restritiva de direitos em pena privativa de liberdade. f) Limitação de fim de semana (arts. 43, VI, 48 do CP). Obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por cinco horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado, podendo ser ministrado aos condenados durante essa permanência cursos e palestras, ou atribuídas a eles atividades educativas. Cabe ao juiz da execução determinar a intimação do condenado, cientificando-o do local, dias e horário em que deverá cumprir a pena, que terá início a partir da data do primeiro comparecimento (art. 151, LEP); Teoria da Pena 35 Prof. Isaac de Luna Ribeiro 3.3 DA SUBSTITUIÇÃO DAS PENAS Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: I - aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; II - o réu não for reincidente em crime doloso; III - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. § 1o (VETADO) § 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos. § 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime. § 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão. Teoria da Pena 36 Prof. Isaac de Luna Ribeiro § 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior. 3.4 DA PENA DE MULTA Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. § 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário. § 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária. A pena de multa pode ser prevista como punição única, a exemplo do que ocorre na LCP (DL nº. 3688/41), ou pode ser cominada e aplicada cumulativamente com a PPL, a exemplo do artigo 155, CP, ou ainda de forma alternativa, com a pena de prisão, a exemplo do Art. 130, cominando pena de detenção, de três meses a um ano, ou multa. Quando a multa é punição única ou nos casos em que ela encontra-se cumulada com a pena de prisão, ao magistrado, será obrigatória a sua aplicação, sob pena de ferir o princípio da legalidade ou da inderrogabilidade da pena; Já nos casos em que a pena de multa estiver cominada de forma alternativa poderá o juiz escolher entre uma ou outra, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime. Teoria da Pena 37 Prof. Isaac de Luna Ribeiro Todas as vezes que o magistrado estiver fazendo a aplicação da pena de multa, seja ela isolada, cumulada oualternativamente aplicada, deve seguir os limites legais, ou seja, a expressão “multa” deve ser entendida como sendo de 10 a 360 dias-multas. É o que se depreende do artigo 49, caput, do CP, quando dispõe: “A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa”. FIXAÇÃO DA PENA DE MULTA 1ª fase: o juiz levará em conta para fixar entre 10 a 360 dias-multa, as circunstâncias judiciais - artigo 59 do CP 2º fase: deverá o magistrado dar um valor a cada dia-multa, que não poderá ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário (art. 49, § 1º, CP), valor este que deverá ser atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária (art. 49,§ 2º, CP). O valor de cada dia-multa será aplicado pelo juiz que deverá atender, principalmente, à situação econômica do réu (art. 60, caput, do CP). Teoria da Pena 38 Prof. Isaac de Luna Ribeiro 4. DA APLICAÇÃO DA PENA A primeira regra fundamental na fixação de uma pena é: para cada réu uma análise; para cada crime uma análise. Assim, se dois delitos (homicídio e ocultação de cadáver, por exemplo) foram praticados por dois réus em concurso de agentes, o procedimento de fixação da pena será realizado 4 vezes (1o réu -homicídio, 1o réu - ocultação de cadáver, 2o réu -homicídio, 2° réu - ocultação de cadáver). Ao final da fixação da pena para cada um dos delitos, ela deverá ser unificada de acordo com o tipo de concurso (material, formal ou continuidade delitiva), nos termos dos arts. 69, 70 ou 71 do CP. TAL OPERAÇÃO DENOMINA-SE APLICAÇÃO DA PENA 4.1 CRITÉRIO NORMATIVO Art. 68 - A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento. Parágrafo único - No concurso de causas de aumento ou de diminuição previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua. O CPB adotou em seu art. 68 o chamado critério trifásico de fixação das penas, sendo a primeira a analise das circunstâncias do art. 59 do CP, ao final da qual é fixada uma pena denominada pena-base. Teoria da Pena 39 Prof. Isaac de Luna Ribeiro 5.2 1ª FASE DE APLICAÇÃO DA PENA: observância do disposto no artigo 59 do Código Penal: Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. 5.3 2ª FASE DE APLICAÇÃO DA PENA: Em seguida, havendo quaisquer das circunstâncias agravantes ou atenuantes previstas nos arts. 61 e ss. do CP, a pena será aumentada e diminuída, conforme o caso e uma nova pena provisória será fixada. Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime I - a reincidência; II - ter o agente cometido o crime: Teoria da Pena 40 Prof. Isaac de Luna Ribeiro a) por motivo fútil (1) ou torpe (2); (1) é o motivo frívolo, mesquinho, desproporcional, insignificância, sem importância, do ponto de vista do homem médio. É aquele incapaz de justificar, por si só, a conduta ilícita. Ausência de motivo, segundo a jurisprudência majoritária, não equivale a motivo fútil; Ciúme – não é motivo fútil, segundo o entendimento majoritário. Embriaguez é incompatível com a futilidade, pela perturbação que provoca na mente humana. (2) é o motivo abjeto, ignóbil, repugnante, ofensivo à moralidade média e ao sentimento ético comum (ex.: egoísmo, maldade, etc.). b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime; Nesse caso, existe conexão entre os crimes: Teleológica: quando é praticado para assegurar a execução do outro crime. Conseqüencial: quando um crime é praticado em conseqüência de outro, visando garantir-lhe a ocultação, impunidade ou vantagem. c) à traição (1), de emboscada (2), ou mediante dissimulação (3), ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido (4); (1) Traição – é a deslealdade, a agressão sorrateira, com emprego de meios físicos (ex.: atacar pelas costas) ou morais (ex.: simulação de amizade). (2) Emboscada – é a tocaia, o ataque inesperado de quem se oculta Teoria da Pena 41 Prof. Isaac de Luna Ribeiro (3) Dissimulação – é a ocultação da vontade ilícita, visando apanhar o ofendido desprevenido. É o disfarce que esconde o propósito delituoso. (4) Qualquer outro recurso que dificulte ou impossibilite a defesa do ofendido – trata-se de formulação genérica, cujo significado se extrai por meio de interpretação analógica. d) com emprego de veneno (1), fogo (2), explosivo (3), tortura (4) ou outro meio insidioso (5) ou cruel (6), ou de que podia resultar perigo comum (7); (1) é a substância tóxica que perturba ou destrói as funções vitais. (2) é a combustão ou outro meio que provoque queimaduras. (3) é toda substância inflamável que possa produzir explosão. (4) é a infligência de sofrimento físico ou moral na vítima (5) se inicia e progride sem que seja possível percebê-lo prontamente e cujos sinais só se evidenciam quando em processo bastante adiantado. (6) todo aquele que aumenta o sofrimento do ofendido ou revela uma brutalidade fora do comum ou em contraste com o mais elementar sentimento de piedade (ex.: reiteração de golpes de faca). (7) disparos de arma de fogo contra a vítima, próximo a terceiros. e) contra ascendente, descendente, irmão(1) ou cônjuge (2); (1) o parentesco pode ser o legítimo ou ilegítimo, natural (consangüíneo) ou civil (por adoção). (2) quanto ao cônjuge, não se exige casamento, sendo admissível no caso de união estável. No caso de separação de fato, não subsiste a agravante Teoria da Pena 42 Prof. Isaac de Luna Ribeiro f) com abuso de autoridade (1) ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica (2); (1) diz respeito à autoridade nas relações privadas, e não públicas, como o abuso na qualidade de tutor. (2) Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006 g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício (1), ministério (2) ou profissão (3); (1) devem ser públicos. (2) refere-se a atividades religiosas. (3) qualquer atividade exercida por alguém, como meio de vida. h) contra criança (1), maior de 60 anos (2), enfermo (3) ou mulher grávida (4); (1) é a pessoa até os 12 anos de idade incompletos(art. 2º ECA); (2) esta hipótese foi inserida pelo Estatuto do Idoso. (3) é a pessoa doente, com reduzida condição de defesa. (4) foi acrescentada pela Lei 9318/96. i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade; Atinge o respeito à autoridade que o tem a vítima sob a sua imediata proteção. j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido; Teoria da Pena 43 Prof. Isaac de Luna Ribeiro pune-se com mais severidade o sadismo, o oportunismo imoral revelador de personalidade perversa e a absoluta ausência de solidariedade humana. l) em estado de embriaguez preordenada. é a hipótese em que o agente se embriaga para cometer o crime. AGRAVANTES NO CASO DE CONCURSO DE PESSOAS Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que: I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes; II - coage ou induz outrem à execução material do crime; III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude de condição ou qualidade pessoal; IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa. ATENUANTES GENÉRICAS Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I - ser o agente menor de 21, na data do fato (1), ou maior de 70 anos, na data da sentença; (1) é a circunstância atenuante mais importante, prevalecendo sobre todas as demais. Leva-se em conta a idade do agente na data do fato, pois o CP adotou a teoria da atividade (art. 4º CP). É obrigatória a consideração da referida atenuante pelo juiz, e sua desconsideração gera nulidade da sentença. Teoria da Pena 44 Prof. Isaac de Luna Ribeiro (2) data da sentença é a data em que esta é publicada pelo juiz em cartório. Nula é a decisão que não considera tal circunstância na individualização da pena. II - o desconhecimento da lei; – embora não isente de pena (art. 21 CP), serve para atenuá-la, ao passo que o erro sobre a ilicitude do fato exclui a culpabilidade. III - ter o agente: a) cometido o crime por motivo de relevante valor social (1) ou moral (2); (1) interesse coletivo/ público no resultado da ação (2) refere-se ao interesse subjetivo do agente, avaliado de acordo com postulados éticos, o conceito moral da sociedade e a dignidade da meta. b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências (1), ou ter, antes do julgamento, reparado o dano (2); (1) difere do arrependimento eficaz, uma vez que neste, o agente consegue evitar a produção do resultado (art. 15 CP). (2) deve ocorrer até o julgamento de 1a instância. Se a reparação do dano anteceder o recebimento da denúncia ou queixa e se preenchidos os demais requisitos do art. 16, CP, há causa de diminuição de pena (arrependimento posterior) e não atenuante genérica. c) cometido o crime sob coação a que podia resistir (1), ou em cumprimento de ordem de autoridade superior (2), ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima (3); Teoria da Pena 45 Prof. Isaac de Luna Ribeiro (1) é o constrangimento vencível, que não isenta da responsabilidade penal, mas, mesmo assim, funciona como atenuante genérica, visto que a pressão externa influi na prática do delito. (2) a obediência a ordem manifestamente ilegal não exclui a culpabilidade, mas permite a atenuação da pena. (3) o domínio de violenta emoção pode caracterizar causa de diminuição específica, também chamada de privilégio, no homicídio doloso (art. 121, §1º, CP) e nas lesões corporais dolosas (art. 129, §4º, CP). d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime; A confissão deve ser espontânea e não a meramente voluntária. Confissão qualificada: em que o acusado admite a autoria, mas alega ter agido acobertado por causa excludente da ilicitude (ex.: legítima defesa). Confissão extrajudicial: só funciona se confirmada em juízo. Confissão em segunda instância – a confissão em segunda instância, após a sentença condenatória, não produz efeitos. e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou. ainda que a reunião da qual se originou o tumulto não tivesse fins lícitos, se o agente não lhe deu causa, tem direito à atenuação ATENUANTES INOMINADAS Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei. Teoria da Pena 46 Prof. Isaac de Luna Ribeiro Embora não prevista expressamente em lei, pode ser considerada em razão de algum outro dado relevante. A circunstância atenuante inominada deve ser relevante e pode ser anterior ou posterior ao crime; Ver discussão acerca da co-culpabilidade 5.4 3ª FASE: CAUSAS DE AUMENTO OU DE DIMINUIÇÃO DE PENA São aquelas que aumentam ou diminuem a pena em quantidades previamente fixadas em lei (ex.: 1/3, metade, 2/3, etc.). São exemplos os seguintes dispositivos da Parte Geral do CP: arts. 14, § único, 16, 21, 26, § único, 29, §1º, 70 e 71. Não interessa se as causas de aumento ou de diminuição de pena estão previstas na Parte Geral o Especial: essas causas são sempre levadas em consideração na última fase de fixação da pena, nos termos do art. 68 CP. OBS: Causas específicas ou especiais de aumento ou diminuição de pena – são as causas de aumento ou diminuição que dizem respeito a delitos específicos previstos na Parte Especial (ex.: art. 157, §2º, I e II, CP). CONFLITO ENTRE CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS Se houver circunstâncias judiciais favoráveis em conflito com outras desfavoráveis ao agente: Deverão prevalecer as que digam respeito à personalidade do agente, aos motivos do crime e aos antecedentes. Em seguida, as demais circunstâncias subjetivas, ou seja, grau de culpabilidade e conduta social. E, finalmente, as circunstâncias objetivas, isto é, as conseqüências do crime e o comportamento da vítima. Teoria da Pena 47 Prof. Isaac de Luna Ribeiro CONFLITO ENTRE AGRAVANTES E ATENUANTES É possível que na segunda fase de fixação da pena ocorra para o julgador o seguinte problema: diante de três agravantes e apenas duas atenuantes aplicáveis ao caso concreto, seria possível subtrair das três agravantes as duas atenuantes e, assim, aplicar somente a circunstância agravante que sobrou? Não, pois, dependendo da natureza da circunstância em questão, esta poderá valer mais do que duas ou três outras juntas, ou seja, pode ser que uma atenuante sozinha valha mais do que duas agravantes. Tal questão é solucionada pelo art. 67 CP, que prevê quais as circunstâncias mais relevantes, que possuem preponderância em um eventual conflito: São preponderantes os motivos do crime, a personalidade do agente e a reincidência. A jurisprudência, porém, vem entendendo que a circunstância mais importante de todas, mais até do que as do art. 67 CP, isto é, os motivos do crime, a personalidade do agente, a reincidência; é a de ser o agente menor de 21 anos na data do fato. Dessa forma, conclusivamente,no conflito entre agravantes e atenuantes, prevalecerá a circunstância atenuante genérica de ser o agente menor de 21 anos na data do fato. Em seguida, as agravantes genéricas referentes aos motivos do crime, à personalidade do agente e à reincidência. Abaixo dessas, qualquer circunstância de natureza subjetiva. Por último, as circunstâncias objetivas. CONFLITO ENTRE CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS E AGRAVANTES E ATENUANTES Teoria da Pena 48 Prof. Isaac de Luna Ribeiro Não existe conflito, uma vez que as circunstâncias judiciais se encontram na primeira fase e as agravantes e atenuantes na segunda; logo, jamais haverá conflito. Se as judiciais forem desfavoráveis, o juiz aumenta a pena na primeira fase. Em seguida, se só existirem atenuantes, diminui, na segunda. CONCURSO ENTRE AGRAVANTE GENÉRICA E QUALIFICADORA No caso de homicídio qualificado por motivo torpe, emprego de veneno e de recurso que impossibilite a defesa do ofendido, terão incidência três qualificadoras (art. 121, §2º, I, III e IV). Entretanto, somente uma cumprirá a função de elevar os limites da pena mínimo e máximo. Assim, como as demais qualificadoras não poderão alterar mais os limites, qual o seu papel na fixação da pena? Posição – Majoritária – as demais qualificadoras assumem a função de circunstâncias judiciais (art. 59 CP), influindo na primeira fase da dosagem da pena. É que o art. 61, “caput”, CP, dispõe que as agravantes “são circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime”. Posição – Minoritária – as demais qualificadoras funcionam como agravantes, na segunda fase de fixação da pena. CONCURSO ENTRE CAUSAS DE AUMENTO DE PENA DA PARTE GERAL E DA PARTE ESPECIAL: Nesse caso, o juiz deve proceder a ambos os aumentos. Primeiro incide a causa específica e depois a da Parte Geral, com a observação de que o segundo aumento deverá incidir sobre a pena total Teoria da Pena 49 Prof. Isaac de Luna Ribeiro resultante da primeira operação, e não sobre a pena-base (operação idêntica à de “juros sobre juros”). CONCURSO ENTRE CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DE PENA DA PARTE GERAL E DA PARTE ESPECIAL: incidem as duas diminuições, da mesma forma anterior. CONCURSO ENTRE CAUSAS DE AUMENTO PREVISTAS NA PARTE ESPECIAL: nos termos do art. 68, § único, CP, o juiz pode limitar-se à aplicação da causa que mais aumente, desprezando-se as demais (trata-se de faculdade do juiz). CONCURSO ENTRE CAUSAS DE DIMINUIÇÃO PREVISTAS NA PARTE ESPECIAL: nos termos do art. 68, § único, CP, o juiz pode limitar-se à aplicação da causa que mais diminua, desprezando-se as demais (trata-se de faculdade do juiz). OBS: Concurso entre causas de aumento ou de diminuição previstas na Parte Especial – na hipótese de concurso entre causas de aumento ou de diminuição previstas na Parte Especial, se o juiz optar por fazer incidir ambos os aumentos ou ambas as diminuições, o segundo aumento ou a segunda diminuição incidirão sobre a pena-base e não sobre a pena aumentada. Teoria da Pena 50 Prof. Isaac de Luna Ribeiro 5. DO CONCURSO DE CRIMES Quando duas ou mais pessoas participam conjunta e conscientemente do mesmo evento criminoso, estamos diante do denominado CONCURSO DE AGENTES. Entrementes, na ocasião em que uma pessoa pratica duas ou mais infrações penais, estamos diante do CONCURSO DE CRIMES, que, nos termos dos arts. 69 a 71, pode ser de três espécies: concurso material (art. 69), concurso formal (art. 70) e crime continuado (art. 71). CRITÉRIOS DE SOLUÇÃO PARA O CONCURSUS DELICTORUM a) Critério do cúmulo material – As sanções são aritmeticamente somadas, depois de haver a aplicação individualizada para cada um dos crimes. No Brasil, este foi o critério adotado para o concurso material (CP, art. 69), de forma temperada ou matizada, ante a existência do artigo 75 do CP (COSTA JR.; PRADO). b) Critério da exasperação – Este critério não soma as penas, porém não despreza uma pelas outras. Neste caso, toma-se uma das penas (a maior ou, se iguais, qualquer uma delas) e, em relação a esta pena, incide uma majoração, uma fração. No Brasil, este critério foi adotado para o concurso formal próprio (CP, art. 70, 1a parte) e para a Continuidade delitiva (CP, art. 71). Esclareça-se que o concurso formal impróprio (CP, art. 70, parte final) segue a regra do cúmulo material; Teoria da Pena 51 Prof. Isaac de Luna Ribeiro 5.1 CONCURSO MATERIAL Nos termos do art. 69, dá-se o concurso material quando o agente, mediante duas ou mais ações ou omissões, comete dois ou mais crimes, idênticos ou não. Quando isso ocorrer, as penas deverão ser somadas. Em regra os crimes são apurados no mesmo processo, mas, quando isso não for possível, a soma das penas será feita na Vara das Execuções Penais. ATENÇÃO! - A regra do concurso material não se aplica quando estiverem presentes os requisitos do crime continuado (crimes da mesma espécie, praticados nas mesmas condições de tempo, local e modo de execução). Assim, ausente qualquer dos requisitos do crime continuado, poderá ser aplicada a regra do concurso material, desde que o agente tenha praticado duas ou mais condutas que impliquem o reconhecimento de dois ou mais crimes. ESPÉCIES: HOMOGÊNEO: quando os crimes praticados forem idênticos (dois roubos, p. ex.), HETEROGÊNEO: quando os crimes não forem idênticos (um homicídio e um estupro, p. ex.). O art. 69, caput, em sua parte final, esclarece que, no caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela. Teoria da Pena 52 Prof. Isaac de Luna Ribeiro O § 1 do art. 69, por sua vez, determina que, sendo aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa (sem aplicação de sursis),por um dos crimes, em relação aos demais não será cabível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Já o § 2 dispõe que, sendo aplicadas duas penas restritivas de direitos (em substituição às penas privativas de liberdade), o condenado as cumprirá simultaneamente, se forem compatíveis, ou sucessivamente, se não for possível o cumprimento simultâneo. 5.2 CONCURSO FORMAL OU IDEAL Nos termos do art. 70, caput, do Código Penal, ocorre quando o agente, mediante uma única ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes. Nesse caso, se os crimes forem idênticos (concurso formal homogêneo), será aplicada a pena de qualquer um deles, aumentada de 1/6 a 1/2. Ex.: agindo com imprudência, o agente provoca um acidente, no qual morrem duas pessoas. Assim, o juiz aplica a pena de um homicídio culposo, no patamar de 1 ano (supondo-se que o magistrado tenha aplicado a pena mínima), e, na seqüência, aumenta-a de 1/6 (p. ex.), chegando à pena de 1 ano e 2 meses de detenção. Se, entretanto, os crimes cometidos não forem idênticos (concurso formal heterogêneo), o juiz aplicará a pena do crime mais grave, aumentada, também, de 1/6 a 1/2. Ex.: em um só contexto o agente profere ofensas que caracterizam calúnia e injúria contra a vítima. Nesse caso, o juiz aplica a pena de calúnia (crime mais grave) e a aumenta de 1/6 a 1/2, deixando de aplicar a pena referenteà injúria. GRECO sugere que a variação da tarifação (entre um sexto e a metade) deve levar em conta a quantidade de lesões. Propõe ele o seguinte quadro: Teoria da Pena 53 Prof. Isaac de Luna Ribeiro Número de lesões Fração de aumento 2 1/6 3 1/5 4 1/4 5 1/3 6 ou mais ½ CONCURSO MATERIAL BENÉFICO Na hipótese do concurso formal heterogêneo pode ocorrer a seguinte situação: no crime de estupro (art. 213) em concurso formal com o crime de perigo de contágio de moléstia venérea (art. 130, caput). Suponha-se que o juiz fixe a pena mínima para os dois crimes: no estupro, o mínimo é de 6 anos, e no crime de perigo, a pena mínima é de 3 meses. Se as penas fossem somadas atingiríamos o total de 6 anos e 3 meses, mas de acordo com a regra do art. 70, caput, chegaríamos à pena de 7 anos (6 anos do estupro, aumentada em 1/6). NESSE CASO APLICA-SE A REGRA DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 70. CONCURSO FORMAL IMPRÓPRIO OU IMPERFEITO Suponha-se que A, querendo matar B e C, os amarre em linha e, com utilização de arma de fogo de grande poder, efetue um único disparo, que, atravessando o corpo de B, cause também a morte de C. Para hipótese, a 2ª parte do art. 70, caput, no qual as penas serão somadas (como no concurso material) sempre que o agente, com uma só ação ou Teoria da Pena 54 Prof. Isaac de Luna Ribeiro omissão dolosa, praticar dois ou mais crimes, cujos resultados ele intencionalmente visava (autonomia de desígnios em relação aos resultados). 5.3 CRIME CONTINUADO O crime continuado surgiu para evitar penas muito altas, por vezes cruéis e infamantes, para a hipótese de o sujeito tratar de cometer vários delitos. Trata-se o crime continuado de um tratamento mais brando a condutas que, se não existisse o instituto, seriam tratadas como crime em concurso material. Com o crime continuado, consideram-se várias condutas como se única fosse, apreciando o “conjunto da obra”. ELEMENTOS DA CONTINUIDADE DELITIVA O crime continuado vem regido pelo art. 71 do código, exigindo os seguintes elementos: a) Mais de uma ação ou omissão: É pressuposto do crime continuado que exista mais de uma conduta. Conduta única com produção de mais de um resultado seria crime em concurso formal. b) Crimes da mesma espécie: Parte da doutrina defende que crimes da mesma espécie são os previstos necessariamente no mesmo tipo penal, podendo, porém, haver continuidade delitiva entre o tipo simples e os derivados (qualificado e privilegiado). Outra corrente entende que crimes da mesma espécie não são necessariamente previstos no mesmo tipo. São aqueles que, em verdade, lesionam bens semelhantes com condutas similares. Teoria da Pena 55 Prof. Isaac de Luna Ribeiro No STF, porém, prevalece a tese de que crime continuado só pode haver se a previsão for do mesmo tipo penal. Circunstância de tempo: A doutrina aponta que entre um ato e outro não pode haver prazo superior a trinta dias.(para Hungria, pequenas oscilações superiores aos 30 dias são toleradas). Circunstância de lugar: Entende-se que os diversos atos devem ser praticados na mesma cidade. Mais uma vez, recomenda-se cautela e os tribunais já aceitam a tese mesmo quando se tratar de fatos praticados em cidades distintas, conurbadas. Circunstâncias de modo: Deve haver semelhança no modus operandi do infrator. CRIME CONTINUADO ESPECÍFICO Nos crimes violentos, praticados contra vítimas diferentes, observadas as condições de culpabilidade, antecedentes, conduta social e personalidade do indivíduo, poderá o juiz aplicar a pena de um só dos crimes aumentada até o triplo (parágrafo único). exigem-se os requisitos do 71 e mais que haja violência ou ameaça contra vítimas distintas. Teoria da Pena 56 Prof. Isaac de Luna Ribeiro 6. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA - “SURSIS” Sursis é a suspensão da execução da pena, por um determinado prazo, mediante certas condições. A expressão origina-se do francês “surseoir”, que significa suspender. NATUREZA JURÍDICA 1ª Posição – STF e Capez – é direito público subjetivo do réu, de forma que o juiz não pode negar sua concessão ao réu quando preenchidos os requisitos legais. 2ª Posição – STJ e Damásio – é medida penal de natureza restritiva da liberdade e não um benefício: livra o condenado da sanção que afeta o “status libertatis”, todavia, impõe-se-lhe pena menos severa, eminentemente pedagógica. 6.1 REQUISITOS OBJETIVOS Pena privativa de liberdade – não pode ser concedido “sursis” nas penas restritivas de direitos nem nas penas de multa - art. 80 CP. Pena igual ou inferior a 2 anos – O condenado a pena superior a 2 anos de prisão não tem direito ao “sursis”, pouco importando que o aumento da pena acima da pena-base tenha resultado do reconhecimento do crime continuado (o que se deve levar em consideração é o “quantum” final da condenação). EXCESSÃO: Crime contra o meio ambiente – admite-se o benefício desde que a pena privativa de liberdade não exceda a 3 anos (art. 16 da Lei 9605/98). Teoria da Pena 57 Prof. Isaac de Luna Ribeiro IMPOSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO POR PENA RESTRITIVA DE DIREITOS: Só se admite a concessão do “sursis” quando incabível a substituição da pena privativa de liberdade por uma das penas restritivas de direito (art. 77, III, c/c art. 44 CP). Tal requisito justifica-se porque no “sursis”, operada a revogação do benefício, o condenado terá de cumprir toda a pena privativa de liberdade imposta, uma vez que, durante o período de prova, esta não foi executada, ao contrário, a sua execução ficou suspensa condicionalmente. solto. Isto significa que não se desconta o período em que o sentenciado esteve 6.2 REQUISITOS SUBJETIVOS Não ser reincidente em crime doloso, salvo se a condenação anterior for a pena de multa – condenado irrecorrivelmente pela prática de crime doloso que cometeu novo crime doloso após o trânsito em julgado não pode obter o “sursis”, a menos que a condenação anterior tenha sido a pena de multa. Nas demais hipóteses é possível (inclusive se o crime anterior for militar próprio, político ou contravenção penal). OBS: Réu anteriormente beneficiado com a suspensão do processo do art. 89 da Lei 9099/95 – é cabível a concessão do “sursis”. Circunstâncias do art. 59 CP favoráveis – exige-se mínimo grau de culpabilidade e boa índole, sendo incabível nas hipóteses de criminalidade violenta ou maus antecedentes. Exige-se a necessária demonstração de periculosidade do réu para indeferimento do “sursis”, de modo que deve estar apoiada em indícios válidos a presunção de futura reincidência. Teoria da Pena 58 Prof. Isaac de Luna Ribeiro A intensidade do dolo não é elemento convocado para impedir a concessão do “sursis”. 6.3 ESPÉCIES DE “SURSIS” Simples – é aquele em que, preenchidos os requisitos mencionados nos itens anteriores, fica o réu sujeito, no primeiro ano de prazo, a uma das condições previstas no art. 78, §1º, CP (prestação de serviços à comunidade ou limitação de fim de semana). Especial – o condenado fica sujeito a condições mais brandas, previstas cumulativamente no art. 78, §2º, CP (proibição de freqüentar determinados
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