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CURSO: Engenharia de Produção DISCIPLINA: Gestão da Inovação PROFESSOR: ANTONIO IACONO Aula 3 Integração no processo de inovação Meta Nesta aula vamos apresentar e discutir os principais elementos que conduzem a uma integração das fases do processo de inovação. Objetivos O objetivo principal desta aula é discutir os principais aspectos técnicos e gerencias precisam ser privilegiados pela organização para promover a o sucesso e a integração nas fases do processo de inovação. Após esta aula, você será capaz de: 1. Identificar os fatores que influenciam no sucesso no processo de inovação; 2. Entender o papel da liderança e da cultura organizacional para o desempenho da inovação; 3. Identificar os principais problemas que afetam a integração entre as fases do processo de inovação. Introdução Na aula anterior vimos as fases que constituem o processo de inovação, e que apesar de a literatura apresentar vários modelos, é possível pensar em um que seja genérico e que englobe os aspectos relevantes do processo. Pudemos concluir também que o resultado de uma inovação de sucesso vai depender de uma série de fatores que são internos e externos à empresa. As fases do processo de inovação apresentadas irão compreender tanto as inovações do tipo incremental quanto aquelas descontínuas ou radicais. O processo de inovação, embora apresente as fases em sequência, exigirá de sua gestão uma integração e eficácia entre elas. Conforme já enfatizado, a empresa precisará desenvolver em todas as fases, habilidades para superar os desafios inerentes ali presentes, e concentrar esforços de melhorias nas fases mais deficientes. Para exemplificar, a eficácia na etapa de processo de seleção de ideias não garantirá sucesso no processo como um todo se a etapa de desenvolvimento, subsequente, for deficiente. Toda e qualquer inovação vai exigir da empresa algum nível de mudança em suas atividades rotineiras, ou seja, a implementação bem-sucedida das inovações vai exigir uma cuidadosa gestão de mudança. A compreensão de necessidades dos usuários, a participação de colaboradores, a interação com outras empresas, a necessidade de alinhamento estratégico com o negócio geral da empresa, entre outros, são determinantes para o sucesso da inovação. Todos esses aspectos ocorrem com ênfase em diferentes momentos do processo de inovação, no entanto não podem ser considerados independentes, pelo contrário, como já dissemos, as fases precisam ser integradas; as atividades são inter-relacionadas. Cada empresa apresenta uma combinação específica de processos, organização, estratégia de inovação, elementos culturais, etc; o que faz com que os resultados da inovação sejam diferentes entre elas, ou seja, cada empresa cria seu próprio tipo de inovação. Sendo assim, o presente capítulo vai apresentar, de acordo com Davila, Epstein e Shelton (2009), os principais fatores que influenciam o sucesso no processo de inovação (ver Figura 1); vamos poder analisar e identificar quais as práticas organizacionais necessárias para o sucesso da inovação. Questões como por que há empresas que progridem, desenvolvem produtos de sucesso, obtém maiores lucros, ao passo que outras não; serão versadas nessa aula. Figura 1: Fatores que influenciam o sucesso no processo de inovação Fonte: Adaptado de Davila et al (2009) Podemos adiantar, inicialmente, que tais fatores são interdependentes; e que que a especialização em um ou dois deles, apesar de positivo, não será suficiente para conduzir a organização até o ponto desejado em sua trajetória para o sucesso. Nas próximas seções, vamos abordar de maneira mais detalhada cada um desses fatores. 1. Exercer sólida liderança sobre os rumos e as decisões da inovação A motivação para a inovação deve estar presente em todos os níveis da organização, em particular, no comando executivo. É a partir do comando executivo que a liderança fluirá ao longo de todos os níveis da empresa para motivar, sustentar e recompensar as atividades voltadas para a inovação. Nos casos de avaliação de investimentos, a liderança do comando executivo em uma organização é até mais importante do que a própria tecnologia. O comprometimento da alta gestão é associado à inovação de sucesso. Vale lembrar que o processo de inovação envolve todas as áreas da empresa, e seu comando executivo ao tomar decisões sobre a estratégia de inovação, deve comunicar todos os níveis de maneira a capacitar os gerentes e integrantes da rede de inovação a executá-las. Os gestores são responsáveis por conduzir os processos de inovação, ou seja, são eles que estabelecem o ritmo e o rumo da inovação. A liderança é responsável pela disseminação da importância da inovação para o crescimento da empresa. O Box explicativo, a seguir, mostra a importância da liderança em uma empresa a partir de seu comando executivo. Início do Boxe Explicativo Liderança para a inovação Uma análise de 27 estudos empíricos sobre as relações entre liderança e inovação investigou quando e como a liderança influencia a inovação, ou seja, as variáveis mediadoras e moderadoras. As variáveis moderadoras, fatores contingentes relacionados a quando os líderes podem influenciar a inovação, incluem uma cultura de apoio à inovação e onde as estruturas organizacionais são menos formais e centralizadas. Equipes heterogêneas e que trabalham em tarefas complexas possuem a capacidade mais alta para a inovação e requerem uma liderança que dê apoio, não seja controladora e os inclua nas tomadas de decisões. Por fim, os líderes podem promover o comportamento inovador entre os empregados que possuem baixa autoestima organizacional e baixa auto apresentação. As variáveis mediadoras, ou como os líderes estimulam a inovação, incluem o estímulo da inovação a nível individual por meio da influência na auto eficácia criativa. Além disso, os líderes podem também estimular a inovação introduzindo normas que encorajem os processos de reflexão da equipe, por exemplo, com debates, comunicação aberta e com pensamento divergente. Os autores concluem de sua análise que há seis fatores que os líderes deveriam priorizar: 1. A alta gestão deve estabelecer uma política de inovação que seja promovida por toda a organização. É necessário que a organização, por meio de seus líderes, comunique aos empregados que o comportamento inovativo será recompensado. 2. Ao formar equipes, certa heterogeneidade é necessária para promover a inovação. Se a equipe for heterogênea demais, entretanto, podem surgir tensões, e se a heterogeneidade for muito baixa, uma liderança mais diretiva é necessária para promover a reflexão da equipe, por exemplo, ao encorajar debates e discordâncias. 3. Os líderes devem promover na equipe um clima de segurança emocional, respeito e alegria, por meio de apoio emocional e tomada de decisões compartilhada. 4. Indivíduos e equipes devem ter autonomia e espaço para a geração de ideias e a resolução criativa de problemas. 5. Prazos para a elaboração de ideias e solução de problemas devem ser estabelecidos, principalmente nas fases de implementação. 6. Por fim, os líderes de equipe, que possuem o conhecimento especializado, devem colaborar estreitamente na avaliação das atividades inovativas. (Fonte: Adaptado de Tidd e Bessant, 2015) Fim do Boxe Explicativo Outro aspecto que merece nossa atenção é em relação aos projetos maiores. Nesses casos, o comprometimento deve ser de longo prazo. Devemos considerar que a inovação, normalmente, envolve incerteza e os retornos podem não aparecer rapidamente. A incerteza inerenteao processo de inovação e o longo prazo para retorno dos investimentos é um desafio para os executivos, em especial quando demandas por retornos de curto prazo por parte de investidores ou acionistas precisam ser conciliadas com planos de longo prazo de desenvolvimento de tecnologia. Uma maneira de lidar com esse problema é concentrar esforços na penetração e crescimento de mercado futuro ou benefícios estratégicos que poderiam se acumular para ter um sistema de produção mais correspondente ou flexível (Tidd e Bessant, 2015). Está claro que a gestão da inovação vai depender fortemente da liderança do comando. Os altos executivos da empresa devem querer que as coisas aconteçam e acreditar que o seu pessoal fará as coisas acontecerem. A inovação precisa do comprometimento dos gestores para que outros funcionários da empresa se sintam também motivados a segui-los. Mas você deve estar se perguntando como devemos entender a liderança em nosso contexto. Talvez pense em um agente de mudança, algo grandioso que se realiza após concretizado um objetivo improvável. Na verdade, a liderança envolve um agente de mudança, mas mais do que isso, essa liderança deve possuir a qualidade de alcançar os objetivos do dia a dia, por meio de decisões concretas e comprometimento de todos. No Boxe explicativo, a seguir, poderemos entender melhor essa questão. Início do Boxe Explicativo Liderança e clima da inovação As empresas tradicionalmente percebem a liderança como um atributo heroico, indicando uns poucos líderes “reais” para posições administrativas de alto nível com o intuito de conduzi-las através de tempos difíceis. No entanto, muitos pesquisadores vêm se tornando céticos com relação a essa abordagem e começam a pensar sobre a necessidade de aceitar e utilizar uma gama mais ampla de práticas de liderança. A liderança deve ser compreendida como algo que acontece por meio de funções e níveis. Novos conceitos e estruturas são necessários a fim de acrescentar à liderança essa abordagem mais inclusiva. Por exemplo, há muita literatura sobre a diferença básica entre liderança e gestão, em geral sustenta o argumento de que líderes têm visão e pensam criativamente (“fazendo diferente”), enquanto gerentes são “repetitivos” e centram-se apenas em fazer melhor as coisas. Essa distinção tem levado a uma desvalorização geral da gestão. Trabalhos recentes sobre estilos de criatividade e gestão sugerem que é útil manter a distinção entre preferência e capacidade. A criatividade está presente em ambas as situações, quando se faz as coisas de maneira diferente e quando se faz as coisas melhor. Isso significa que a liderança e a gestão podem ser duas construções sobre um contínuo, em vez de duas características opostas. A ênfase aqui está em desfazer a distinção improdutiva e desnecessária que é feita entre liderança e gestão. Quando se fala em inovação e transformação, as organizações precisam de ambos os conjuntos de habilidades. Desenvolvemos um modelo de liderança inovadora que se baseia em trabalhos passados, mas acrescenta algumas perspectivas recentes das áreas de gestão da inovação e de mudanças e psicologia social e de personalidade. Essa visão multidimensional da liderança levanta a questão do contexto como um importante fator, além da preocupação com tarefas e pessoas. Essa abordagem sugere a necessidade de um terceiro fator na avaliação do comportamento de liderança, além das preocupações tradicionais com tarefas e pessoas. Portanto, integramos três dimensões de liderança: preocupação com tarefas, preocupação com pessoas e preocupação com mudanças. Um dos mais importantes papéis que os líderes desempenham dentro dos cenários organizacionais é o de criar o clima para inovação. Identificamos as dimensões fundamentais do clima para inovação e sugerimos como os líderes podem cultivar essas dimensões em um contexto para a inovação. (Fonte: Adaptado de Tidd e Bessant, 2015) Fim do Boxe Explicativo Podemos perceber que a questão da liderança não é algo simples ou trivial. O grande desafio está na capacidade de mudar a maneira como a organização pensa. Novas ideias desafiam o status quo e, por conseguinte, enfrentam grandes barreiras para conseguirem aceitação. Início verbete Status quo é uma expressão para designar o estado atual de algo ou a situação em que algo se encontra, como em "manter o status quo", "defender o status quo", "mudar o status quo" ou "considerando o status quo”. Fonte: Wikpédia Fim do verbete A inovação vai exigir entusiasmo e energia considerável para superar barreiras desse tipo. A mudança de mentalidade requer da empresa a articulação de uma nova visão (Tidd e Bessant, 2015). Em síntese, a contribuição dos líderes para o desempenho de suas empresas é significativa, e é importante entender que pode não ser sempre positiva. O resultado desse desempenho vai depender da avaliação que será feita de seu ambiente, da tomada de decisões estratégicas e apoio à inovação. Toda inovação vai englobar algum grau de risco maior ou menor, dependendo do grau de novidade pretendido, portanto, a gestão da tecnologia bem-sucedida exige que a empresa esteja preparada para se submeter a riscos e aceitar possíveis fracassos como oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento. 2. Criar um portfólio de inovação tecnológica e de inovação em modelo de negócios. Inovação não é uma opção de solução extraordinária, que se utiliza em ocasiões especiais; ela precisa ser parte integral do processo operacional diário da empresa. Normalmente, ao pensarmos em inovação, pensamos na do tipo tecnológica. Entretanto, outro tipo de inovação, a inovação do modelo de negócios, é quase tão importante quanto a inovação tecnológica. São os modelos de negócios que irão descrever de que maneira a empresa cria, vende e transfere valor aos seus clientes, incluindo-se nessa descrição a cadeia de suprimentos, a visualização de segmentos preferenciais de clientes e a percepção, pelos clientes, do valor a eles transferido. Como exemplo emblemático de mudança de modelo de negócios podemos citar o caso da Dell Computer. A Dell Computer mudou radicalmente o modelo tradicional de interface com o consumidor nas vendas a varejo de computadores. Tradicionalmente, as empresas deste segmento vendiam seus PCs diretamente aos clientes com produtos pré-estabelecidos em termos de configuração. A revolução do modelo de negócio da Dell se deu pela nova proposta de valor agregada aos clientes ao oferecer PCS montados por encomenda, o que mudou significativamente a estrutura da cadeia de suprimentos e de custos. Foi, sem dúvida, uma inovação de grande impacto no segmento e que continua como uma estratégia importante na venda de PCs. A inovação de sucesso vai exigir da empresa a competência em saber como mudar os modelos de negócios e de tecnologia em conjunto e individualmente. A interação entre a inovação tecnológica e do modelo de negócios pode ser vista pela Matriz de Inovação, apresentada na Figura 2.7 Matriz da inovação T ec n o lo g ia Nova Semi-radical Radical Semelhante à atual Incremental Semi-radical Semelhante à atual Nova Modelo de negócios Figura 2: Matriz de inovação Fonte: Elaborado a partir de Davila et al (2009) A Matriz da Inovação nos mostra que nem todas as inovações são tratadas da mesma forma. Os três tipos de inovação aqui considerados são: incremental, semi-radical e radical. Gerar uma inovação do tipo semi-radical ou radical exige uma combinação diferente de modelo denegócios e mudança tecnológica, quando comparado à geração de uma inovação do tipo incremental. Mas é importante destacar que a inovação e o crescimento sustentável vai depender dos três tipos de inovação, ou seja, é necessário que a empresa desenvolva o conjunto de inovação incremental, semi-radical e radical. Em outros termos, o que pretendemos mostrar é que a empresa precisa criar um portfólio equilibrado de inovações incrementais, semi-radicais e radicais, por meio do modelo de negócios e das opções tecnológicas apropriadas. A criação de um portfólio equilibrado de inovações em um conjunto variado de investimentos diminui a vulnerabilidade promove um retorno real sobre o investimento. É importante destacar que as inovações tecnológicas incrementais, consideradas as mais simples, podem fazer qualquer empresa ser bem- sucedida durante intervalos não muito longos. Isso ocorre porque em um modelo tradicional de mudança de tecnologia, ocorrerão períodos relativamente longos de evolução. E é justamente nesses períodos longos que a inovação incremental se faz relevante. No entanto, tais períodos são intercalados por breves períodos de mudanças radicais, revolucionárias, onde a inovação incremental torna-se pouco atrativa ou inútil, em função de seu baixo valor agregado gerado. Em outras palavras, a inovação incremental é a exploração de uma inovação radical ao longo de seu tempo, e, enquanto esta permanecer como referência, mudanças incrementais irão gerar retornos interessantes. Percebe-se, portanto, que a empresa precisa saber identificar bem os momentos apropriados para investimentos nos tipos de inovações. O exemplo, a seguir, no Boxe explicativo vai ilustrar melhor a exploração e os limites dos tipos de inovação. Início do Boxe Explicativo Inovação incremental e radical: exploração e limites Um exemplo clássico dessa situação é o da indústria da refrigeração. Durante o século 19, o gelo era disponível em lagos, armazenado em cavernas para limitar seu derretimento e transportado como produto perecível. A tecnologia evoluiu incrementalmente ao longo de várias décadas: o processo de crescimento e colheita tornou-se mais eficiente à medida que novas ferramentas e técnicas passaram a ser aplicadas, a armazenagem também tirou proveito da criatividade e a embalagem para conservar o frio nos navios igualmente foi aperfeiçoada. Mas na primeira metade do século 20, uma tecnologia revolucionária - a da refrigeração - mudou radicalmente a indústria. A inovação incrementai em obtenção, armazenamento e transporte de gelo tornou-se repentinamente obsoleta. O interessante é que as empresas de gelo reagiram a essa nova tecnologia passando a fazer mais daquilo que sabiam fazer, e fazendo tudo isso melhor do que antes. Os maiores incrementos na tecnologia de refrigeração à base de gelo ocorreram quando a tecnologia estava sendo desativada por essa abordagem radicalmente nova de fabricação de gelo. A propósito, a reação das companhias de gelo não foi nada incomum; elas procuraram incrementar a tecnologia na qual haviam se aperfeiçoado durante dezenas de anos até seus limites, mas não contaram com as condições de avaliar aquilo que a tecnologia radical tinha para oferecer. 13 Evolução similar ocorreu na tecnologia do transporte naval; o ritmo da inovação em matéria de navios de transporte aumentou significativamente quando a tecnologia dos motores a vapor passou a revelar todo o seu potencial. E transcorreram apenas poucos anos antes de a nova tecnologia desalojar a propulsão a vela da liderança em matéria de transporte por mar. Assim, a inovação incremental pode ser uma energia sustentada durante prolongadas temporadas, antes que sobrevenha uma revolução capaz de mudar toda a indústria. Fonte: Elaborado a partir de Davila et al (2009) Fim do Boxe Explicativo A matriz da inovação pode ser vista como uma ferramenta de apoio ao orientar decisões sobre inovações. A maneira como se inova afeta o que é inovado, portanto, é fundamental o entendimento da natureza da mudança exigida, de modo que o processo e o esforço de inovação possam ser conduzidos, financiados e dotados dos recursos mais apropriados. Podemos também perceber através da matriz, que a inovação não resulta sempre em algo novo, os tipos de inovação, na realidade, combinam o novo com o que já existe. A Figura 4 nos mostra as seis alavancas para a inovação. A inovação incremental sempre está condicionada às tecnologias e aos modelos de negócios existentes. Embora alguns elementos possam vir a mudar ligeiramente na inovação incremental, em sua maioria permanece a mesma. No caso das inovações semi-radicais já ocorre pouca ou nenhuma mudança nas alavancas de um dos impulsionadores da inovação - seja a tecnologia ou o modelo de negócios. Alavancas Tipos de Inovação Alavancas dos Modelos de Negócios Alavancas Tecnológicas Proposição de valor Cadeia de valor Cliente- alvo Produtos e serviços Tecnologia de processos Tecnologia capacitadora Incrementais Mudanças pequenas em uma ou mais das seis alavancas Semi-radicais Orientadas por modelo de negócios Mudança significativa em uma ou mais das três alavancas Mudanças pequenas em uma ou mais das três alavancas Semi-radicais Orientadas por tecnologia Mudança pequena em uma ou mais das três alavancas Mudanças significativas em uma ou mais das três alavancas Radicais Mudança significativa em uma ou mais das três alavancas Mudanças significativas em uma ou mais das três alavancas Figura 3: As alavancas para as inovações incrementais, semi-radicais e radicais Fonte: Davila et al (2009) Por fim, as novações radicais englobam mudanças tanto das alavancas tecnológicas quanto dos modelos de negócios, mas normalmente não em todas as seis alavancas da inovação. Vale enfatizar que a inovação sempre diz respeito à combinação de alguma coisa antiga com alguma coisa nova dos estágios da tecnologia e modelo de negócios. 3. Integrar a inovação à mentalidade do negócio Para prosperar, a inovação deve ser parte integral da mentalidade de um negócio, é essencial para a continuidade da organização em um ambiente de acirrada competitividade. É comum identificarmos nas empresas líderes de mercado a inovação como parte de sua cultura organizacional. Elas colocam a inovação no centro dos negócios e na mentalidade do negócio. Como resultado da inovação, criam marcas cada vez mais consolidadas, são mais rápidas e melhores que a concorrência. De acordo com Davila et al (2009), a inovação compreende duas atividades estabelecidas. A primeira é tradicionalmente entendida como tecnológica, fundamentalmente Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de novos produtos. A segunda é estratégica, apoiada na definição do modelo de negócios. Podemos adiantar que focar em apenas uma dessas alternativas não irá produzir inovação de sucesso e sustentável. O sucesso depende da integração do modelo de negócios e da mudança tecnológica em um processo estanque. Um processo estanque não significa que a inovação deva ser contida em uma única unidade organizacional, ao contrário, a inovação por sua própria natureza requer recursos, competências e experiência que residem em diferentes partes da organização, e porque não dizer em organizações externas. Exige igualmente esforços coordenados e sincronizados ao longo das áreas departamentais para que se possa levar uma ideia desde o mundo da abstração até um produto tangível. Estabelecer cooperação interna e externa sólida é um elementoindispensável para a inovação. A Microsoft é um exemplo de empresa que sempre contou fortemente com parcerias para o desenvolvimento de suas inovações. Mas as ações conjuntas com outras empresas não são totalmente “conjuntas”. Embora sejam cruciais para o desenvolvimento de determinadas soluções tecnológicas, a empresa não pode transferir totalmente as atividades inovativas. Algumas atividades fundamentais de desenvolvimento de produtos podem ser transferidas para terceiros, da mesma forma que atividades na geração e comercialização de ideias. Mas a transferência completa de suas atividades significaria passar a renunciar ao controle da tecnologia que a empresa usa (produtos, serviços, processos e capacitação), bem como dos modelos de negócio que emprega para concorrer (tais como a cadeia de suprimentos). Alguns desses elementos são cruciais para a sobrevivência e sucesso da empresa. Saber quais deles são cruciais e quais deles podem ser administrados com a colaboração de um sócio é parte importante da estruturação da inovação no âmbito de qualquer empresa. 4. Alinhar a inovação com a estratégia da empresa A estratégia de negócios de qualquer empresa visa sempre o retorno sobre o investimento, e a inovação se apresenta como um dos elementos fundamentais do sucesso a longo prazo. Contudo, conforme enfatizado em Davila et al (2009), em qualquer trimestre ou ano, a inovação não é, necessariamente, uma fonte principal de vantagem competitiva. A importância da inovação aumenta e diminui com o tempo, dependendo da confluência de vários fatores, entre eles o timing da última inovação, a natureza da concorrência, e a estratégia geral do negócio. Já temos o entendimento de que deve haver uma adequação entre tipo/grau de inovação com a estratégia da empresa. Decidir qual estratégia de inovação melhor se adapta à situação da concorrência externa e do mercado e às condições internas da empresa constitui responsabilidade da equipe de altos executivos. A escolha equivocada da estratégia de inovação, muito comumente, leva as empresas a perdas financeiras substanciais e de posicionamento de mercado. A estratégia de inovação escolhida deve ser clara e alinhada às condições do negócio, ou seja, deve ser avaliada e reconhecida mediante as recompensas equivalentes ao desempenho em toda a organização. Apesar de sua importância, a transparência e clareza da estratégia adotada na organização, comumente, são negligenciadas, e como consequência as empresas enfrentam resultados piores do que os esperados. Início do Boxe Explicativo Estratégia de inovação e alinhamento com o negócio O exemplo de não alinhamento entre as condições do negócio e a estratégia de inovação pode ser ilustrado pelo caso da empresa BP Exploration and Production, que no final da década de 1990, fez um exame demorado e detalhado de seu índice de sucesso com a inovação, só para constatar que estava dedicando consideráveis recursos e energias às áreas erradas. A companhia gastava em áreas estratégicas que não iriam nem poderiam proporcionar um retorno adequado sobre o investimento. A equipe mudou sua ênfase para a propriedade e aplicação de específicas plataformas de inovação que poderiam dar suporte à estratégia de seus negócios Fonte: Davila et al (2009) Fim do Boxe Explicativo É preciso ficar claro que nem sempre a inovação mais direcionada ao tipo radical é o melhor. Alguns proponentes da inovação tiveram como resultado frustrações ao recomendarem que todos os negócios precisavam de significativas e contínuas doses de inovação do tipo de inovação radical, capaz de mudar inteiramente as regras do jogo. As experiências têm mostrado que não é verdade. As organizações que pretendam sobreviver aos próximos dois ciclos de vida de produtos precisam de doses adequadas de inovação. A organização não deve entender que as inovações espetaculares precisam ser uma constante. Manter um constante fluxo de inovações radicais espetaculares, capazes de produzir significativas mudanças em sua base tecnológica e de negócios está fora da realidade. Esse nível de mudança pode ser favorável ao acabar com a concorrência, mas no final acaba igualmente conduzindo a organização inovadora a imensos custos, combinado com as enormes tensões e desestabilizações criadas na organização pela mudança radical e constante. Nesse sentido, o melhor da inovação é que ela ocorra em seu tipo e grau nas devidas proporções. Enfatiza-se aqui que as proporções são diferentes para cada empresa, pois os recursos e suas características são únicas. Sendo assim, podemos concluir que não há solução definitiva, nem programa único para todas as empresas. Cada empresa precisa decidir o nível de inovação que será capaz de sustentar num determinado momento, qual o acréscimo de inovação de que virá a necessitar futuramente, e a dinâmica de como levá-la do conjunto atual de possibilidades até a posição pretendida. 5. Administrar a tensão natural entre criatividade e captação de valor Ao tratarmos do processo de inovação na aula 2, vimos que a inovação inclui a gestão de grandes volumes de criatividade na fase de geração de ideias. Vimos também que a inovação requer processos, estruturas e recursos para administrar significativos níveis de criatividade (desenvolver novos conceitos e maneiras de fazer) enquanto vai sendo executada (transformar conceitos criativos em realidades comerciais). A Apple desde o ano 2000 tem apresentado um modelo bastante eficaz para administrar criatividade e captação de valor. A lista de novos produtos e serviços, tais como OS X, iPod, iTunes, o novo iMac, já demonstrou que é possível cultivar novas ideias e levá-las ao mercado de forma lucrativa. No entanto, na década de 1980, a Apple não havia tido um desempenho tão bom como esse. Suas atividades de inovação e novos produtos eram bem financiadas, e muitas novas ideias foram adiante. Apesar disso e das centenas de milhões (talvez bilhões) de dólares, a Apple obteve muito pouco em termos de resultado de comercialização lucrativa durante aquele período (Davila et al (2009). O Newton, um sistema operacional projetado pelo Mac para rodar na sua linha MessagePad de PDAs, é um caso de criação daquele período, um clássico exemplo de zelo criativo, que não deu certo. O insucesso do Newton se deu em função de que o conceito dos PDAs estivesse errado, mas pelo modo com que foi executado, precipitadamente e com baixo impacto no mercado. Lançamentos posteriores de PDAs proporcionaram maior valor ao cliente e se transformaram em enormes sucessos. A seguir, no Box explicativo, outro exemplo de um modelo mental alternativo para a gestão da inovação. Início do Boxe Explicativo Administrador de empresas: artista ou diretor de cinema? É comum encontrar nas empresas pessoas que não sabem como administrar os componentes criativos do processo de inovação. Pressupõem, de maneira equivocada, que estrutura e processos são barreiras naturais da criatividade. Sentem que a imposição de qualquer estrutura às pessoas criativas irá fatalmente arruinar os resultados. Na verdade, uma estrutura pode, sim, contribuir para o aumento da criatividade, desde que estabelecida e usada da maneira adequada. Aqueles que acreditam que a criatividade não pode ser administrada têm em geral um modelo mental da criatividade como algo que exige talento artístico - por exemplo, o de um pintor como Rembrandt. Eles talvez imaginem o administrador de empresa como alguém equipado com ferramentas-padrão de gestão de projetos, sentado ao lado do artista, tentando sem cessar convencê- lo com conselhos e sugestões,até mesmo impondo-lhe um processo, à medida que ele procura desenvolver sua obra-prima: “Em primeiro lugar, não dê atenção demasiada aos detalhes no começo, use apenas amplas pinceladas para captar o básico. Desde que concordemos nesse ponto, você poderá voltar ao começo e acrescentar o detalhe. E não se atreva a aplicar demais aquela cor azul, porque o pessoal do marketing já ligou para avisar que não combina bem com o ponto que eles já escolheram para a exposição do quadro. Finalmente, aconteça o que acontecer, eu preciso de uma primeira versão pronta até a metade do mês, e a sua próxima fatia do orçamento depende de você cumprir esse prazo e me apresentar bons resultados”. Claro que semelhante abordagem opressiva teria como resultado um quadro horrível, ou, mais provavelmente, um artista saindo porta afora e se recusando a continuar trabalhando dessa forma. Tentar administrar os aspectos criativos da inovação usando o modelo mental do “pintor em frente à tela” é uma maneira quase perfeita de não conseguir os resultados pretendidos. Administrar o processo criativo em inovação é mais parecido com o trabalho de um diretor de cinema. Vamos ver, então! O diretor de um filme precisa administrar as necessidades individuais e os temperamentos de pessoas extremamente diferentes, desde atores, câmeras e cabeleireiros até os patrocinadores da produção e os altos executivos do estúdio. Além disso, o diretor precisa antecipar os desejos do mercado visado pelos produtores do filme, mantendo o processo focado nos fatores mais importantes e criando um produto realmente diferenciado. O diretor precisa saber quando se aferrar ao roteiro original e exigir a perfeição, ou quando improvisar, trocando o roteiro prefixado por alguma coisa melhor. O diretor tem tanto um prazo quanto um orçamento que precisam ser cumpridos, pois seu desempenho está sendo avaliado, e os fundos são alocados de acordo com os resultados atingidos em relação às metas do orçamento e do tempo de filmagem. Contudo, o diretor precisa saber quando parar, suspender o plano e gastar o tempo necessário para acertar um determinado aspecto - mesmo quando esse tempo não estiver orçado nem planejado. A partir daí, precisará recuperar o tempo e o dinheiro assim gastos em outros lugares. Os diretores enfrentam inúmeras questões logísticas e tecnológicas. O diretor precisa equilibrar todos esses fatores - astros e estrelas, orçamentos, roteiros, patrocinadores e público à espera da obra, prazos e tecnologia - permanecendo sempre profundamente envolvido em todos os aspectos e produzindo um filme realmente capaz de causar sensação. A função do diretor de cinema é uma metáfora apropriada para o trabalho de um executivo de inovação. Fonte: Davila et al (2009) Fim do Boxe Explicativo É possível inferir que o desenvolvimento de uma organização requer uma combinação entre liberdade e disciplina, em que tanto criar e comercializar (captação de valor) ideias inovadoras aconteçam no mais alto nível e de forma sustentada. Equilibrar e impulsionar esses dois processos de maneira conjunta é um grande desafio e exige a administração das tensões inerentes entre criatividade e captação de valor. É de fundamental importância a intervenção da administração, pois sem ela, por exemplo, ao termos uma clara estratégia de inovação, processos bem definidos e sólida liderança, a criatividade acaba impedindo o avanço da comercialização ou vice-versa. Esses dois elementos são cruciais ao processo de inovação, no entanto, sua coexistência raramente acontece sem problemas. Devemos ressaltar que o sucesso no processo de inovação não ocorre de forma mágica, para tal, são necessários elementos como planejamento, orientação e manutenção. Certamente você deve estar questionando como é possível administrar a criatividade. Tal questionamento é muito comum também entre grandes executivos de nossas empresas. Você poderá pensar que ao submeter a criatividade a processos de administração estaria inibindo-a. Se questionamento faz sentido e pode de fato ocorrer, mas a verdade é que os aspectos criativos da inovação podem ser administrados, medidos e dirigidos, como mostram as práticas de criatividade e inovação de inúmeras companhias líderes de setores. O desafio real presente nesta questão é administrar a criatividade e a criação de valor lado a lado, sem comprometer nenhuma delas. Há uma tensão natural entre ser criativo e produzir valor pelo fato de ser criativo. Centrar-se excessivamente na produção de valor pela execução pode interferir negativamente nos processos criativos e vice-versa. Processos criativos, quando não estruturados, podem acabar derrubando um gerenciamento efetivo de valores, gerando uma fábrica de grandes ideias, porém escassa em sucessos comerciais. A inovação eficaz, apesar de requerer liberdade para seu processo de criatividade, não deixa de lado os processos organizacionais existentes, pelo contrário, exige que se tenha consciência dos processos capazes de, numa organização, acabar com a criatividade. Para que se alcance esse nível de entendimento, os administradores precisam estar conscientes de quais são as práticas gerenciais que funcionam como estímulo à criatividade, mas também quais as que inibem essa mesma criatividade. Os processos de comercialização ou captura de valor devem igualmente ser gerenciados com a atenção na produção imediata de resultados de alta qualidade, transformando os melhores conceitos da criatividade em produtos e serviços comercializáveis, ou seja, com captura de valor (Davila et al, 2009). 6. Neutralizar os anticorpos organizacionais O sucesso da inovação passa pela neutralização do que chamamos de “anticorpos” organizacionais, que inevitavelmente surgem com o propósito de atacar e derrotar as inovações. Pode-se imaginar que quanto mais radical a inovação e quanto mais ela desafia o status quo da organização, maiores serão obstáculos a serem superados. Da mesma forma, quanto mais notáveis os sucessos anteriores da empresa, mais fortes são os anticorpos organizacionais. A fim de inovar, os altos executivos precisam criar uma cultura voltada à mudança, mantendo ao mesmo tempo a estabilidade necessária para concretizar as inovações. Parte desta cultura recai no reconhecimento de que sucessos anteriores não garantem necessariamente os do presente e futuro; as capacidades essenciais podem tornar-se vulnerabilidades essenciais quando não se adaptam e mudam. A inovação, nesse sentido, passa a exigir da organização uma cultura aberta a suposições questionadoras e ao debate de alternativas à abordagem atual dos negócios. Os executivos precisam igualmente entender que a inovação pode acontecer somente assumindo riscos (de preferência riscos menores quando o risco do custo do fracasso é baixo), observando de perto os resultados, aprendendo a partir deles e tentando de novo. Uma cultura que promove a inovação incentiva, de maneira igual, a comunicação, não apenas entre os integrantes da organização, mas entre interessados externos. Conforme mencionado na aula anterior, os clientes representam uma valiosa fonte de entendimento e incentivos, da mesma forma que fornecedores, concorrentes ou empresas de outros setores industriais. Acreditar que uma determinada invenção por não ser criada internamente não deve ser levada em consideração ou rejeitada constitui um elemento de cultura organizacional contrário a eficácia do processo de inovação. Em outros termos, tal comportamento se faz presente, poderosos anticorpos organizacionais também ali estarão. Além da neutralização dos anticorpos organizacionais, a promoçãode uma cultura de enfrentamento de riscos e de aprendizado vai exigir da organização uma atenção especial aos indicadores de desempenho e recompensas. É sobre isso que a próxima seção vai tratar. 7. Criar os indicadores de desempenho e as recompensas adequadas à inovação Um dos mecanismos para melhorar o desempenho de uma empresa é o de estabelecer recompensas. Tais recompensas tem por objetivo o cumprimento das metas orçamentárias e a redução dos riscos. Este tipo de recompensa faz com que os gestores invistam principalmente em produtos seguros, já que os mesmos apresentam níveis inferiores de ameaça de grandes prejuízos. Tais condições proporcionam poucas ou raríssimas oportunidades de lucros significativos. Não é difícil de perceber que essas gratificações acabam bloqueando completamente qualquer motivação presente para a exploração de inovações mais ousadas. Nesses casos as recompensas ocorrem em virtude da rapidez com que produtos de baixo risco são criados e comercializados. Como resultado as empresas apresentam uma gama enorme de inovações incrementais e poucos projetos envolvendo riscos maiores. Sendo assim, o que a empresas precisam então fazer para incentivar processos inovadores? Quais seriam os mecanismos de incentivo mais eficazes para tal? Em algumas empresas, as avaliações são uma grande parte do problema. Ocorre que na maioria dos casos são poucas as avaliações usadas que são realmente ligadas à estratégia da inovação. Muitas das empresas norte- americanas utilizam, por exemplo, os ganhos por ação (GPA) como o principal indicador. A busca pelo alcance de metas financeiras de curto prazo (cumprimento das metas trimestrais em GPA) acaba por privar os gestores de maiores desafios de longo prazo. Para esse tipo de empresa, fica muito claro o indicador que conduz sua ação, e igualmente muito claro que não tem nada a ver com inovação. Conforme Davila et al (2009), um dos indicadores muito comum para avaliar resultado da inovação é o número de produtos lançados. Como consequência, tal indicador gera uma concentração em vários pequenos avanços em produtos. As inovações do tipo radical, por serem mais difíceis e levarem mais tempo acabam por ficar em segundo plano. Em outros termos, ao invés de apostarem em inovações radicais e semi-radicais (caracterizadas por maiores prazos e maiores riscos, porém com maiores possibilidades de lucro), optam por inovações do tipo incremental, mesmo estas apresentando ganhos menores, porém, menos arriscadas, e com menor prazo. Tal realidade apesar de aparente contradição, é compreensível e justificável, pelo menos do ponto de vista individual dos empregados. Vale lembrar que uma inovação radical exigiria pelo menos três anos, período este que faria com que os gestores perdessem recompensas e enfrentassem pressões organizacionais em função daquilo que, para os olhares menos atentos, seria um “não desempenho”. Diante do exposto, podemos perceber que as próprias estruturas organizacionais são muitas vezes uma barreira à inovação. Equipes de P&D ocasionalmente desenvolvem ideias fantásticas e potencialmente lucrativas, mas as unidades de negócios não se entusiasmam com o produto que dali iria resultar por não conseguirem entender de que maneira ele se enquadraria no mix central de produtos ou nas capacidades da organização. Sendo assim, muito comumente, o departamento de P&D acaba não recebendo o financiamento indispensável para desenvolver suas melhores e mais radicais ideias, a menos que possa comprovar, sem a menor sombra de dúvida, o potencial de retorno que a inovação terá para a empresa. Em outras empresas, ideias de produtos são geradas nos departamentos de marketing das unidades de negócios. O departamento então negocia com os grupos de desenvolvimento de novos produtos e P&D a fim de poder mover a ideia da etapa de conceito para a de realidade comercial. Dentro dessa estrutura, não existe recompensa para desenvolver inovações radicais no departamento de P&D porque os funcionários são avaliados tão-somente com base no seu desempenho relacionado aos objetivos já estabelecidos. Ainda, é improvável que existam fundos disponíveis para verificar ou explorar quaisquer possíveis inovações radicais (Davila et al, 2009). Podemos concluir a partir do que foi apresentado, que as empresas precisam contar com sistemas que proporcionem avaliações, motivação, incentivos e recompensas, para cultivar avanços alinhados com a estratégia de inovação. É preciso reconhecer e assumir dentro de uma cultura organizacional, um ambiente de riscos quando do potencial de desenvolvimento de inovações radicais. Este reconhecimento ajudará a modificar o foco unilateral de curto prazo em relação a resultados, passando-se a uma visão mais equilibrada que compreenda uma perspectiva de longo prazo; a fim de concretizar inovações radicais de real valor no longo prazo. Isto não significa que gerentes de desenvolvimento de produtos terão total liberdade e farão tudo aquilo que considerarem importante. O objetivo não passa por essa questão, o que deve ser considerado é a criação de um sistema que encoraje a inovação, e um processo devidamente estruturado de orientação do desenvolvimento de novas ideias para novas soluções tecnológica que capturem valor junto aos clientes. 8. Cultivar uma rede de inovação além dos limites da organização Nas aulas anteriores vimos que a inovação não é um evento isolado, é um processo complexo que precisa ser gerenciado, e que tem como fonte de geração de ideias tanto o ambiente interno (P&D, marketing, produção) como o externo (clientes, fornecedores, universidades, entre outros). É nesse último, o ambiente externo, ou seja, a interação com outros atores, que esta seção vai se dedicar. Não reside na própria empresa todas as atividades inovativas, apesar de ser o elemento principal, vai depender de uma rede de outras empresas e instituições para o desenvolvimento da inovação. Na verdade, levar uma boa ideia adiante vai depender de todo tipo de informação de diferentes fontes e perspectivas. Portanto, a inovação requer o desenvolvimento e a conservação desta rede como uma força aberta e de mútua cooperação. A gestão de parcerias eficientes na empresa e com clientes, fornecedores, e todos aqueles que podem contribuir para manter a empresa inovadora constitui um dos elementos centrais no processo e resultado da inovação. Todavia, a interação com outras empresas e instituições não é uma tarefa fácil. Podemos adiantar que essas interações são complexas, haja vista a complexidade dos relacionamentos, motivações envolvidas e objetivos diferenciados. De maneira geral, as empresas líderes em seus segmentos possuem uma cultura organizacional com práticas de interação com o ambiente externo. Empresas que fazem uso dessa prática mantém sempre uma sólida rede de contatos em uma ampla gama de áreas tecnológicas. Em tais redes captam novas ideias e formam novas equipes para o desenvolvimento de inovações. De acordo com Tidd e Bessant (2015), as redes são definidas como “um grupo ou um sistema complexo e interconectado” e sua construção envolve o uso dessa definição para realizar tarefas específicas. Como já mencionado, a inovação sempre foi um jogo com muitos participantes. Hoje, a construção de redes ocorre de muitas maneiras, e o conceito de redes de inovação tornou-se popular nos últimos anos, pois aparentemente oferece muitos benefícios de desenvolvimento interno e poucas desvantagens de colaboração. As redes têm sido consideradas por alguns como a nova forma híbrida de organização, que têm potencial para substituirtanto empresas (hierarquias) como mercados; em essência, seria a “corporação virtual”. Outros acreditam se tratar simplesmente de uma forma transitória de organização, posicionada em um lugar entre hierarquias internas e mecanismos externos de marketing. Diferentes autores adotam diferentes significados e, níveis de análise e atribuem diferentes características às redes. Por exemplo, acadêmicos da parte continental da Europa têm se concentrado nos aspectos sociais, geográficos e institucionais das redes e nas oportunidades e restrições que esses aspectos apresentam para a inovação. Por outro lado, estudos anglo-saxões têm assumido uma perspectiva de sistemas, tentando identificar como melhor projetar, gerenciar e explorar as redes de inovação. A Figura 4 apresenta um esquema para análise de diferentes perspectivas de rede em estudos de inovação. Foco nas redes sociais Grupos regionais e de negócios; comunidades de cientistas e engenheiros Difusão e comercialização de inovações Foco na rede de atores Portfólios de Alianças estratégicas Redes mobilizadas para uma inovação específica Foco na possibilidade geral de inovação Foco em inovações discretas Figura 4: Diferentes perspectivas de rede na pesquisa de inovação Fonte: Tidd e Bessant (2015) Podemos entender a rede como uma estrutura que consiste em uma série de posições ou nódulos ocupados por indivíduos, empresas, unidades de negócios, universidades, governos, clientes e outros atores e ligações ou interações entre esses nódulos. A perspectiva em rede considera como esses atores econômicos são influenciados pelo contexto social em que estão inseridos e como as ações podem ser influenciadas pela posição dos atores. A rede pode influenciar as ações de seus membros de duas maneiras.14 Primeiramente, por meio do fluxo e do compartilhamento de informação no interior dela. Depois, por meio de diferenças de posição dos atores na rede, o que promove desequilíbrios de poder e controle. Portanto, a posição que uma empresa ocupa em uma rede é uma questão de grande importância estratégica e reflete seu poder e influência naquela rede. As fontes de poder incluem tecnologia, pessoal especializado, confiança, força econômica e legitimidade. Redes podem ser tensas ou frouxas, dependendo da quantidade (número), da qualidade (intensidade) e do tipo (proximidade das atividades essenciais) das interações ou vínculos. Estes são mais do que transações e exigem significativo investimento em recursos ao longo do tempo (Tidd e Bessant, 2015). As empresas podem acessar recursos de diversas outras organizações por meio de relações diretas e indiretas, envolvendo diferentes canais de comunicação e graus de formalização. Normalmente, isso começa com uma sólida relação entre a empresa e o pequeno número de fornecedores primários que compartilham conhecimento na fase de desenvolvimento de conceito. Em uma rede as empresas não interagem necessariamente com todos os atores. Normalmente, a empresa terá um grupo de parceiros com o qual regularmente faz negócios. Esses parceiros podem ser universidades, fornecedores, distribuidores, clientes e concorrentes. Ao longo do tempo, com as repetidas negociações, desenvolvem-se conhecimento mútuo e vínculos sociais, aumentando a confiança e reduzindo os custos de transação. A construção desses vínculos estreitos gerados justiça a tendência das empresas em comprar ou vender tecnologia de membros de sua rede. Um elemento importante na rede de inovação são as chamadas plataformas de inovação. De acordo com Davila et al (2009), as plataformas de inovação proporcionam o cenário indispensável para a rede. Integrar a inovação à atividade principal e estabelecer redes dentro e nos limites da organização é algo que exige plataformas de inovação. As plataformas de inovação concentram-se numa área de concorrência e se dedicam a ampliar o alcance das potenciais inovações incrementais e radicais, ultrapassando os limites internos da empresa. Elas incluem redes de pessoas na companhia e em seu ambiente dotadas de conhecimentos pertinentes à área das plataformas - inclusive insights de clientes, conhecimento de cadeia de suprimentos e especialização tecnológica. Mas, vale destacar que nem toda empresa opta por fazer uso de uma rede ou plataforma de inovação. Existem empresas que preferem isolar seus projetos de inovação, a fim de evitar a ação dos seus anticorpos, estabelecendo departamentos isolados ou de incubadoras de projetos. Trata-se de uma abordagem que pode ter sucesso, mas condicionada a manter recursos críticos da empresa. Contudo, essas iniciativas de incubadoras ou departamentos muitas vezes fracassam, porque na tentativa de isolar os inovadores dos anticorpos organizacionais, acabam, na verdade, cortando laços com recursos e ideias importantes. Atividades 1. Explique qual é o papel da liderança e da cultura organizacional para o desempenho da inovação. 2. Explique por que as redes de inovação são importantes para o sucesso no processo de inovação. 3. Estudo de caso: quando a criatividade desaloja a comercialização: Empresa: Xerox PARC Há empresas que acabam concentrando energia e recursos demais a serviço da criatividade. A Xerox PARC (Paio Alto Research Center) é um bom exemplo desse fenômeno. Nas décadas de 1970 e 1980, a Xerox era um verdadeiro canteiro de criatividade. No PARC fazia-se presente um nível muito elevado de energia, juntamente com algumas das mentes mais brilhantes desse campo trabalhando em conjunto nos mais diversos tipos de inovações capazes de mudar o mundo. Os esforços de inovação ali desenvolvidos produziram literalmente milhares de ideias e centenas de protótipos em um leque muito amplo de computadores e serviços de informação. Contudo, alguma coisa estava errada. Embora a criatividade fosse abundante, o PARC não parecia capaz de capitalizar seus efeitos. Muitas das ideias ali surgidas amadureciam sem que houvesse alguém preocupado com a possibilidade de transformá-las em produtos comercializáveis. Outras chegaram a ser desenvolvidas, mas não tiveram uma comercialização com o esperado sucesso. Num resumo geral, a criatividade era impressionante, mas não produziu os sucessos comerciais previsíveis. O que produziu semelhante insucesso? Aparentemente, a Xerox acabou dando atenção demasiada e até mesmo indevida à criatividade e reduziu, em proporções semelhantes, suas capacidades de comercialização (ou seja, a captação do valor das inovações). A companhia parecia de tal maneira comprometida com sua criatividade que acabou perdendo de vista o objetivo geral. Com a criatividade barrando o caminho da preocupação com a comercialização, a Xerox mostrou-se incapaz de concretizar todo o valor potencial de muitos dos seus investimentos. Claro, o CEO Steve Jobs, da Apple, patenteou uma pequena parte do que viu ao inspecionar o PARC e transformou essas ideias numa grande força no mundo dos computadores pessoais. E, posteriormente, a Xerox passou a trabalhar duramente no restabelecimento do equilíbrio entre a criatividade e a captação de valor, colocando a inovação novamente nos trilhos. (Fonte: Tidd e Bessant, 2015). Após a leitura deste estudo de caso, responda: Como você poderia explicar o insucesso da Xerox apesar de possuir um processo de criatividade eficaz? Conclusão Podemos concluir nesta aula que o sucesso dos processos de inovação está diretamente relacionados a um conjunto de fatores. Conforme vimos, a empresa precisa exercer uma sólida liderança nas decisões de inovação.Precisa também incorporar uma cultura voltada para a inovação, ou seja, cria um ambiente favorável para o desenvolvimento das atividades de inovação. Pudemos concluir que a inovação não ocorre de maneira isolada na empresa, ela precisa desenvolver redes, interagir com um conjunto de atores. Resumo A inovação não é privilégio destinado somente a empresas “escolhidas”, nem algo que dependa de fórmulas mágicas ao alcance apenas de alguns. A inovação, na verdade, vai depender de uma boa gestão. A maneira como uma empresa desenvolve suas atividades inovativas define aquilo que conseguirá inovar. Os processos de inovação de cada empresa são únicos e específicos a cada empresa. Leitura recomendada BESSANT, J.; TIDD, J. Inovação e empreendedorismo. Bookman, 2009. DAVILA, T.; EPSTEIN, M.J.; SHELTON, R. As regras da inovação. Bookman, 2009. PRAHALAD, C. K.; HAMEL, G. Competindo pelo futuro: estratégias inovadoras para obter o controle do seu setor e criar os mercados de amanhã. Gulf Professional Publishing, 2005. TIDD J, BESSANT J. Gestão da Inovação. Porto Alegre: Bookman, 2015. Referências Bibliográficas CHRISTENSEN, Clayton M. O dilema da inovação. São Paulo: Makron Books, 2011. FIGUEIREDO, P.N. Gestão da inovação: conceitos, métricas e experiências de empresas no Brasil. Rio de Janeiro, LTC, 2015. SARKAR, Soumodip. Empreendedorismo e inovação. Escolar Editora, 2014. TROTT, P. Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Novos Produtos. 4. Ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.
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