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Tutoria 03 – Diarreia na Infância Objetivos: Compreender as doenças diarreicas na infância (causadas por vírus, bactérias e protozoários). Etiologia, patologia e epidemiologia; Quadro clínico; Diagnóstico; Tratamento. Estudar o processo de desidratação. Etiologia; Quadro clínico; Tratamento; Complicações. SÍNDROMES DIARREICAS NA INFÂNCIA Gastrenterite/Diarreia Aguda – infecções no TGI causadas por patógenos bacterianos, virais ou parasitários, caracterizada pela má absorção da água e eletrólitos, com duração igual ou inferior a 14 dias. Diarreia – >3 evacuações amolecidas em 24 horas. Disenteria – fezes sanguinolentas, com muco, em pequenas quantidades e associadas ao tenesmo. (colite) EPIDEMIOLOGIA Os distúrbios diarreicos (causas infecciosas + não infecciosas) representam cerca de 18% da mortalidade infantil no mundo, segundo a OMS. Para a OMS, existem mais de 700 milhões episódios de diarreia por ano em crianças menores de 5 anos, com uma média de 3,2 episódios ao ano por criança. A diminuição da mortalidade por diarreia revela a melhora na assistência, no entanto, a incidência permanece a mesma. A diarreia mata por desidratação e causa morbidade por desnutrição. No Brasil, pelo Datasus, o óbito por diarreia aguda em menores de 5 anos caiu de 10,8% em 1990 para 1,6% em 2011. ETIOLOGIA Via de transmissão: via oral-fecal ou por ingestão de alimentos ou água contaminados. Principais agentes patógenos: Enteropatógenos: Shigella, Escherichia coli, norovírus, rotavírus, Giardia lamblia, Cryptosporidium parvum, Entamoeba hystolitica. (podem ser transmitidos por contato interpessoal). PATOGÊNESE A patogênese e a gravidade do episódio diarreico dependem da ação dos microrganismos. Os enteropatógenos causam diarreia não-inflamatória através da produção de enterotoxinas por bactérias, destruição das células das vilosidades pelos vírus, aderência de parasitas e/ou translocação por bactérias. Diarreia inflamatória: causada por bactérias que invadem o intestino diretamente ou produzem citocinas capazes de promover perda de líquido, de proteínas e de células (eritrócitos e leucócitos) para a luz intestinal. A maior parte das bactérias produzem enterotoxinas, assim como vírus podem produzir (ex.: rotavírus, ptn NSP4). As bactérias podem se replicar intracelularmente (transdução), alterando tanto o metabolismo celular quanto o seu citoesqueleto. Essas alterações promovem, também, mudanças nos fluxos hidroeletrolíticos, causando, eventualmente, efluxo de cloreto e de água para a luz intestinal. A produção de óxido nítrico endógeno é significativa em diarreias infecciosas. E. coli enterotoxigênico (ETEC): coloniza os enterócitos intestinais por meio das suas fímbrias – induz hipersecreção de líquidos e eletrólitos por meio das toxinas enterotoxina termolábil (TL) e enterotoxina termoestável. Shigella spp.: invasão da mucosa nas células M das placas de Peyer* - fagocitose, apoptose de macrófagos, multiplicação bacteriana, mediação inflamatória, necrose e destruição das mucosas. Mecanismos Etiopatogênicos: Osmótica: retenção de líquidos dentro do lúmen intestinal – presença de solutos osmoticamente ativos não absorvidos. Normalmente, secundária a um processo infeccioso que lesa o enterócito. Comum em infecções virais, quando estes causam lesão epitelial, que, ao ser reparada por células imaturas, ainda não é capaz de absorver os nutrientes por completo. Secretora: aumento da secreção intestinal de água e eletrólitos, principalmente ânions cloreto e bicarbonato – toxinas bacterianas ou ação direta de patógenos que aumentam a ação de AMPc e do GMPc, como também, do Cálcio, promovendo secreção ativa de água e eletrólitos pelos enterócitos. Invasiva: Inflamatória, ocasionada por algumas bactérias, há uma lesão epitelial no intestino, prejudicando a absorção de nutrientes. Pode haver uma característica secretória, haja vista que a colonização epitelial promove a secreção de histamina e bradicinina, que aumentam o efluxo de eletrólitos. FATORES DE RISCO PARA GASTRENTERITE: Os principais riscos são contaminação ambiental e maior exposição aos enteropatógenos. Riscos adicionais: Tenra idade, deficiência imunológica, sarampo, desnutrição e ausência de aleitamento materno exclusivo ou predominante. Para crianças com deficiência de micronutrientes, a diarreia pode ter mau prognóstico. Em casos de deficiência de vitamina A o risco de morrer por diarreia, sarampo e malária é de 20-24%. Em deficiência de Zinco, o risco de mortalidade aumenta em 13-21%. Diarreia persistente/Diarreia Aguda Prolongada/Diarreia protraída/ Diarreia intratável/ Síndrome Pós-Enterite: episódios que começam agudamente e duram, pelo menos, 14 dias. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA DIARREIA: Ingestão de toxinas pré-formadas (Staphylococcus aureus): início rápido de náuseas e vômitos (6 horas), febre, cólicas abdominais e diarreia (8-72h). Enterotoxinas por Clostridium perfrigens e Bacillus cereus: diarreia aquosa e cólicas abdominais (8-16h). Norovírus e bactérias produtoras de endotoxinas (Cryptosporidium e Cyclospora): cólicas abdominais e diarreia aquosa (16-48h). Salmonella, Shigella, Campylobacter jejuni, Yersinia enterocolitica, E. coli e Vibrio paraemolyticus: diarreia com presença de sangue, leucócitos fecais, cólicas abdominais, tenesmo e febre. Extra-intestinais: Artrite reativa (Salmonella, Shigella, Yersinia, Campylobacter, Cryptosporidium, Clostridium difficile. Síndrome de Guillain-Barré (Campylobacter). Glomerulonefrite (Shigella, Campylobacter e Yersinia). Nefropatia por IgA* (Campylobacter) Eritema nodoso (Yersinia, Campylobacter e Salmonella). Síndrome hemolítica-urêmica (Shigella e E. coli). Anemia hemolítica (Campylobacter e Yersinia). COMPLICAÇÕES: Desidratação, desnutrição, infecções secundárias e deficiência de micronutrientes. DIAGNÓSTICO: Reconhecimento clínico e avaliação geral da gravidade, e avaliação laboratorial, se necessário. Observar: Estado geral Olhos Lágrimas Boca e língua Sede Bom, alerta Normais Presentes Úmidas Bebe normalmente Irritada Fundos, escovados Ausentes Secas Sedento, bebe avidamente Comatoso-hipotônico Muito fundos Ausentes Muito secas Bebe mal, não é capaz* Explore: Sinal da prega Pulso Enchimento capilar Desaparece rapidamente Cheios Até 3 segundos Desaparece lentamente Rápidos e débeis Lento (3-5 segundos) Desaparece muito lentamente Muito débil ou ausente* Mais de 5 segundos* Decida Não tem desidratação Desidratação se apresentar 2 ou + sinais acima Desidratação grave se apresentar 2 ou mais sinais acima, sendo pelo menos um marcado com * Trate Plano A Plano B Plano C AVALIAÇÃO CLÍNICA DA DIARREIA: Anamnese da criança com diarreia: duração, nº diário de evacuações, presença de sangue nas fezes, nº de episódios de vômito, presença de febre ou outra manifestação, práticas alimentares, oferta e consumo de líquidos, uso de medicamentos e histórico de imunizações, diurese e peso (SBP). Avaliar o grau de desidratação e de acidose e fornecer reanimação rápida e reidratação IV ou VO, se necessário. Obter histórico sobre contactantes e exposição. Determinar clinicamente a etiologia diarreica para a prescrição de antibioticoterapia, se necessária. Náuseas e vômitos indicam infecção na parte superior do intestino. Febre indica um processo inflamatório, ou co-infecção. Dores abdominais e tenesmo são indicativos de envolvimento de intestino grosso e reto. EXAME DE FEZES: Cultura parasitológica para identificar espécie. Detecção de sangue, muco e leucócitos (invasão bacteriana da mucosa colônica). TRATAMENTO: Terapia de Reidratação Oral: A desidratação deve ser diagnosticada e corrigida dentre um período de tempo de 4-6h. A reidratação com líquidos com menor osmolalidade pode ser mais eficaz que a prevista pela OMS. Os líquidos de reidratação oral à base de cereais podem ser preparados em casa e ajudar em casos de subnutrição. Após cadaevacuação: <10kg: 60-120 ml de SRO. >10kg: 120-240 ml de SRO. Reidratação intravenosa: Idade inferior a 6 meses, prematuridade, doença crônica, febre > 38ºC, diarreia sanguinolenta, vômitos persistentes, débito urinário precário, olhos fundos e consciência rebaixada. Alimentação enteral e dieta seletiva: A alimentação enteral em episódios diarreicos pode ser benéfica para o tratamento de alguns episódios. Alimentos tolerados: carboidratos complexos, carnes magras, iogurte, frutas e legumes. Complementação com Zinco: Reduz a duração e a gravidade da diarreia. 10 mg/dia < 6 meses – 10 a 14 dias; 20 mg/dia > 6 meses – 10 a 14 dias. Terapias adicionais: Uso de probióticos é benéfico (Lactobacillus, Bifidobacterium). Agentes antimotilidade (Loperamida) são contraindicados. Agentes antieméticos (fenotiazinas) são contraindicados e podem causar efeitos colaterais graves (letargia, distonia, hiperpirexia maligna). Ondansetron (antiemético) – eficaz e menos tóxico. Dose única sublingual, 2 mg – 8,15kg, 4 mg – 15-30 kg, 8 mg - + de 30 kg. Antibioticoterapia: Nitazoxanida – agente antiinfecioso contra uma grande variedade de patógenos. Só é realizada em crianças com disenteria e comprometimento do estado geral: Ciprofloxacina: 15mg/kg/dose 12/12h VO por 3 dias; ou Ceftriaxone: 50-100mg/kg IM 1x/dia IM por 2-5 dias. Vacina: Vacina Oral Contra o Rotavírus Humano (VORH): 2 meses e aos 4 meses. O aleitamento materno exclusivo durante os 6 primeiros meses de vida protege os lactentes por meio da imunidade passiva e por meio da não utilização de alimentos e água contaminados. AGENTES ETIOLÓGICOS E SEUS RESPECTIVOS TRATAMENTOS: Bacterianas: ETIOLOGIA SINAIS E SINTOMAS TRATAMENTO Salmonella spp. (1-3 dias) Diarreia líquida, febre, vômito, e cólicas abdominais. Em alguns casos, sangue e muco. ATB não são indicados, mas se necessário, usar ampicilina e gentamicina. Shigella spp. (24-48h) Cólicas abdominais, febre e diarreia aquosa. As fezes podem conter sangue, muco e pus. Vide Salmonella. Staphylococcus aureus (enterotoxina pré-formada) (1-6h) Início súbito, náuseas e vômitos graves. Diarreia aquosa profusa e febre. Cuidado de suporte. TRO ou reidratação intravenosa. Vibrio cholerae (toxina) (24-72h) Diarreia leve, moderada ou grave: início súbito, diarreia aquosa profusa (perda de H20, sódio, potássio e bicarbonato), fezes líquidas amarelo-esverdeadas, odor de peixe, sem muco ou sangue. Sem febre e sem dor abdominal. P/ menores de 8 anos: Trimetoprim e Sulfametoxazol Vibrio parahemolyticus (2-48h) Diarreia aquosa, náuseas, vômitos e cólicas abdominais. Cuidados de suporte. Se grave, tetraciclina, doxiciclina, gentamicina e cefotaxima. Vibrio vulnificus (1-7 dias) Vômitos, diarreia, dor abdominal, bacteremia e infecções de feridas. Cuidados de suporte + tetraciclina, doxiciclina ou ceftazidima. Yersenya enterocolytica e Yersenya pseudotuberculosis (24-48h) Sintomas semelhantes à apendicite. Diarréia, vômitos, febre e dor abdominal. Pode apresentar exantema escarlatiniforme ou eritema nodoso com Y. Cuidado de suporte. Se sepse, ou outra doença invasiva, gentamicina ou cefotaxima. Bacillus anthracis (2-14 dias) Náuseas e vômitos, mal-estar, diarreia sanguinolenta. Penicilinas (1º) e ciprofloxacina (2º). Bacilus cereus (toxina pré-formada) (1-6h) Vômitos, febre baixa, e diarreia. E. coli enteropatogênica (ECEP) Vômitos, mal-estar e febre. Ás vezes, muco. E. coli enterotoxigênica (ECET) Evacuação abundante, aquosa e explosiva, sem muco ou leucócitos. Náuseas e dor abdominal. E. coli êntero-hemorrágica (ECEH) (1-8 dias) início agudo com cólica, vômitos, diarreia aquosa, pode ser sanguinolenta. Ausência de febre ou febre baixa. Campylobacyer jejuni (2-5 dias) semelhante à Shigella. Azitromicina ou quinolonas. Clostridium difficile Variável de diarreia leve e pode levar à colite pseudomembranosa (síndrome disentérica, tenesmo, distensão abdominal, dor, febre e desidratação, podendo evoluir para megacólon tóxico e óbito). Cefalosporinas, ampilicina, clindamicina e metotrexate. Clostridium botulinum (12-72h) < 1 ano: vômitos, letargia, fraqueza, hipotonia, déficit de sucção e constipação. > 1 ano: vômitos/diarreia, visão borrada, diplopia, disfagia, fraqueza descendente*. Toxina antibotulínica. Patogenia das infecções bacterianas: Célula epitelial intacta > produção de enterotoxinas > ativação do GMPc ou do AMPc > aumento da secreção no trato intestinal > V. cholerae e E. coli Ruptura do bordo em escova > perda das microvilosidades > lesão epitelial > E. coli Citotoxicidade > Clostridium difficile e E. coli Invasão das mucosas: Infecção generalizada > Salmonella typhi e Salmonella paratyphi. Penetração da lâmina própria > macrófago; inflamação > Salmonella, E. coli, Shigella, Yersinia, Campylobacter. Virais: ETIOLOGIA SINAIS E SINTOMAS TRATAMENTO Hepatite A (15-50 dias) Diarreia, colúria, icterícia e sintomas semelhantes à gripe. Cuidado de suporte, prevenção com imunização. Norovírus (e outros calicivírus) (12-48h) Náuseas, vômitos, cólicas abdominais, febre, mialgia, pouca cefaleia. Diarreia. Cuidado de suporte, como reidratação. Rotavírus (1-3 dias) Vômitos, diarreia aquosa, febre baixa. Intolerância temporária à lactose. Cuidado de suporte. Se grave, reposição hidroeletrolítica. Outros agentes virais (astrovírus, adenovírus, parvovírus) Náuseas, vômitos, diarreia, mal-estar, dor abdominal, cefaleia e febre. Cuidados de suporte. Rotavírus: Causa mais comum de diarreia em crianças menores de 2 anos, em países desenvolvidos e em desenvolvimento. RNA-vírus. Clínica: 1-3 dias – incubação, febre baixa e vômitos, seguidos de diarreia aquosa. Febre e vômitos cessam no segundo dia da doença. A diarreia é causada por lesão epitelial nas vilosidades intestinais, diminuindo a absorção de açúcar, atraindo por osmose o líquido presente no intestino. Diagnóstico: ELISA. Protozoários ETIOLOGIA SINAIS E SINTOMAS TRATAMENTO Cryptosporidium (2-10 dias) Diarreia aquosa, cólicas estomacais, mal-estar estomacal, ligeira febre. Cuidados de suporte. Se grave, paromomicina por 7 dias. Crianças entre 1-11 anos, nitazoxanida por 3 dias. Cyclopora cayetanensis (1-14 dias) Diarreia aquosa, perda de apetite, perda substancial de peso, mal-estar estomacal, náuseas, vômitos e fadiga. Trimetoprim e Sulfametoxazol por 7 dias. Giardia lamblia (1-2 semanas) Diarreia, mal-estar estomacal, gases e perda de peso. Metronidazol. Toxoplasma gondii (5-23 dias) Linfadenopatia cervical, doença semelhante à gripe. Espiramicina ou pirimetamina + sulfadiazina. DESIDRATAÇÃO CAUSADA POR DIARREIA Classificação do Estado de Desidratação (CDC) SINTOMAS SEM DESIDRATAÇÃO OU DESIDRATAÇÃO MÍNIMA DESIDRATAÇÃO LEVE A MODERADA DESIDRATAÇÃO GRAVE Deficit de peso <3% 3-9% >9% Sede Bebe normalmente Sedento Incapaz de beber Frequência cardíaca Normal Normal a aumentada Aumentada; bradicardia em casos graves Amplitude do pulso Normal Normal a diminuído Fraco ou impalpável Respiração Normal Normal a rápida Profunda Olhos Normal Fundos Muito fundos Lágrimas Presentes Diminuídas Ausentes Boca e língua Úmidas Secas Muito secas Sinal da prega Recolhe rápido Recolhe <2s Recolhe > 2s Enchimento capilar Rápido Lento Muito lento Extremidades cianóticas Quentes Frias Frias, moteadas Débito urinário Normal a diminuído Diminuído Mínimo CONDUTA TERAPÊUTICA SEGUNDO MS/OMS: Plano A (Criança sem desidratação): Aumentar a ingestão de líquido caseira: soro, chá, cereais cozidos, sopas e sucos. Soro: Crianças até 12 meses: depois de cada evacuação, 50 a 100 Ml (1/4 a ½ copo). Crianças acima de 12 meses: 100 a 200 Ml (1/2 a 1 copo). Adolescentes: quantidade que desejar. Mantera alimentação habitual, em especial o leite materno. Zn – 1x/dia, 10-14 dias. < 6 meses: 10mg. > 6 meses: 20mg. Plano B (Criança com desidratação): Reidratação por via oral na Unidade Básica de Saúde. 50 a 100 ml/kg no período de 4-6horas. Gastróclise: Perda de peso após início da SRO, vômitos persistentes após TRO, distensão abdominal acentuada, dificuldade ingestão de SRO. 20 a 30 ml/kg/hora. Terminada a reidratação, dar alta, fornecer dois envelopes de SRO – administrar sachê após cada evacuação. Plano C (Criança com desidratação grave): Fase de expansão (rápida): Menores de 5 anos: Soro fisiológico 0,9%: 20ml/kg EV em 30 min para < 5 anos ou 10ml/kg EV em 30 min para neonatos. Maiores de 5 anos: Maiores de 5 anos: soro fisiológico 0,9% - 30 ml/kg EV em 30 min; ringer lactato ou solução polieletrolítica – 70 ml/kg em 90 min. Fase de manutenção e reposição: Manutenção: SG 5% + SF 0,9% - 4:1. Volume: até 10kg – 100ml/kg/dia; 10-20kg – 1000 ml + 50ml/kg/dia (para cada kg acima de 10); >20kg – 1500 ml + 20 ml/kg/dia (para cada kg acima de 20). Reposição: SG 5% + SF 0,9% - 1:1 Volume: 50 ml/kg/dia + KCL: 2ml para cada 100 ml da solução de manutenção. DESIDRATAÇÃO Distúrbio recorrente da perda de líquidos e eletrólitos que prejudica diretamente duas funções vitais: circulação e diurese. TIPOS DE DESIDRATAÇÃO: Sinais de espoliação do interstício: perda de peso, depressão da fontanela, olhos encovados, mucosas secas, diminuição da elasticidade cutânea e do turgor do subcutâneo. Sinais de espoliação do intravascular: alterações do estado geral, inquietude e ansiedade, prostração, palidez, colapso circulatório. Sinais de espoliação do intracelular: sede intensa, irritabilidade, meningismo, coma e convulsões. DESIDRATAÇÃO ISOTÔNICA (70-80%): Características: sódio plasmática entre 135-145 mEq/l; osmolaridade plasmática entre 280-310 mOsm/l; redução do LEC, sem modificação da pressão osmótica; nenhuma alteração no LIC. Quadro clínico: varia de acordo com a perda hídrica. DESIDRATAÇÃO HIPERNATRÊMICA (10-20%): Fezes com 35-65 mEq/l de sódio, sendo a perda de água superior à perda de eletrólitos. Podem ser achados: sódio plasmático acima de 145-150 mEq/L; osmolaridade plasmática > 310 mOsm/l; maior perda de água do que de eletrólitos; maior concentração de sais no LEC; saída de água do LIC; desidratação intracelular. Quadro clínico: febre alta, sede intensa, irritabilidade, meningismo, convulsões e coma. Pode causar hemorragia cerebral (coma e crises convulsivas). Tratamento: 1 – Expansão: salina fisiológica 0,9% (SF 0,9%), bolus de 10-20 ml/kg de SF 0,9% devem ser administrados até a recuperação da taquicardia, hipotensão e sinais de hipoperfusão. 2 – Volume de reposição (L) em 24h: peso habitual – peso atual. A redução do sódio plasmático deve acontecer em <12mEq/L em 24h ou 0,5mEq/L/h – a redução abrupta da hipernatremia pode causar edema cerebral. DESIDRATAÇÃO HIPONATRÊMICA (10-15%): Forma de desidratação mais grave, perda de eletrólitos superior à perda de água. Causas: diarreia e vômito em crianças com desnutrição grave, reposição com soluções hipotônicas e perdas excessivas do suco gástrico. Achados: sódio plasmático < 135mEq/L, osmolaridade plasmática < 280 mOsm/L, diminuição do sódio no LEC, entrada de água pra o LIC. Fisiopatologia: aumenta o influxo de água na tentativa de equilibrar a osmolaridade intracelular, o que ocasiona em perda de água em dois sentidos – intracelular, devido ao influxo, e extracelular, devido a diarreia. Esta desidratação pode causar choque hipovolêmico. Quadro clínico: Edema cerebral – agitação, cefaleia, anorexia, cãibras, hiporreflexia, convulsão e coma. Tratamento: Fase 1 (Expansão): prioridade, reversão do volume intravascular com solução isotônica – SF 0,9% ou ringer lactato. Bolus de 10-20ml/kg de SF 0,9% até a recuperação do estado geral. Fase 2 (Reposição + Manutenção): volume de reposição (L) nas 24h= peso habitual – peso atual.
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