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Cultura Organizacional da Escola

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A escola em sua essência e sentido pleno é uma realidade construída socialmente, pela representação que fazem de seus membros. Assim, as interações das pessoas que fazem parte da instituição, com seus valores, crenças, mitos e rituais, é que determinam seu modo de ser e de fazer, isto é, a cultura organizacional da escola. Sendo assim, “cada escola tem a sua própria história e características peculiares ao constituir-se em um espaço cultural que ressignifica as políticas educacionais e estabelece o colorido e as características pelas quais estas se expressam, isto é, essas políticas assumem as características que lhe forem dadas pelas escolas”. (LÜCKE , 2009).
CULTURA ORGANIZACIONAL DA ESCOLA: A que nos referimos, então, quando falamos em cultura organizacional? Ao modo institucionalizado de pensar e agir que existe em uma instituição. Na escola, a cultura organizacional envolve um conjunto de elementos que interagem e são aprendidos na prática escolar. Que elementos são estes que interagem na escola? De acordo com Lücke (2009), são os seguintes: 
Ideário ou preceitos, expressos por crenças, pressupostos, normas tácitas, padrões de comportamento, hábitos de pensamento, modelos mentais, padrões linguísticos, valores, códigos informais e regulamentos em prática, hábitos e costumes, muitos dos quais implícitos e não escritos. 
Tecnologia, caracterizada pelo conjunto de processos e modo de fazer as coisas − o seu saber fazer −, o seu modo de organizar e compartilhar responsabilidades, de usar o tempo, que extrapola as proposições formais de cronograma.
Caráter, constituído pelo sentimento e reações das pessoas sobre todo o conjunto de coisas e sobre o seu papel no contexto delas.
Assim, na escola, a cultura organizacional é formada pela sua história, e seu vínculo com a comunidade, o sistema de ensino de que faz parte, bem como a dinâmica interna das interações que marca o modo como os desafios são enfrentados, como as pessoas os percebem e reagem diante deles, dentre outros aspectos.
Dessa forma, as pessoas que fazem parte de uma escola comungam dos mesmos valores (ou mesmo de contravalores, do ponto de vista educacional), dos mesmos ideais (ou da falta deles), das mesmas orientações de pensamento (ou falta de orientação). Enfim, compartilham e reforçam o mesmo modo de conceber a realidade e seu próprio papel na mesma. No entanto, nem sempre o ambiente escolar é caracterizado pela harmonia. A competição e o antagonismo em vez da colaboração e o compartilhar de responsabilidades também são traços característicos encontrados nas escolas. 
Atividade Proposta:
Um estudo de caso: Ao observar uma escola, você se depara com a queixa da direção de que nela ocorrem atitudes de inveja, ciúmes, desconfiança e fofoca. Como você caracteriza esse ambiente escolar em relação à cultura e caráter profissional?     
Resposta: características de uma cultura negativa e totalmente destituída do caráter profissional e educativo que compete à escola e aos seus profissionais cultivarem.
Para refletirmos mais um pouco sobre essas características, os Parâmetros Curriculares Nacionais apontam que “a maioria das escolas tende a ser apenas um local de trabalho individualizado e não uma organização com objetivos próprios, elaborados e manifestados pela ação coordenada de seus diversos profissionais” (Ministério da Educação, 2001, p. 48). Para você observar, refletir e analisar... no seu campo de estágio. Como você identifica essas expressões entre os participantes da escola?
O papel da direção na construção da cultura escolar de caráter Educativo: De acordo com Lücke (2009), o diretor escolar, ao assumir as responsabilidades de seu cargo, assume também a responsabilidade de liderar a formação de seus alunos.  A partir da atuação, nesse sentido, orienta os processos e interações sociais, tornando-os estimulantes. O exercício do poder está associado à tomada de decisão de como agir sobre a realidade escolar. Porém, como a tomada de decisão, em si, é vazia e só se completa na ação, o poder é exercido não apenas por quem toma decisão, mas também por aqueles a quem compete pôr em prática a decisão tomada. Na escola, nem sempre ocorre essa liderança em favor da qualidade do ensino e bem-estar dos alunos, em nome da educação e do papel social que ela exerce. 
É possível observar, em escolas, diretores exercendo papéis burocráticos de controle e cobrança, ou ainda, papéis formais de representação, sem um esforço deliberado e comprometido em exercer influência sobre a organização social da escola como um todo e a orientação para a realização dos objetivos educacionais. Por comodismo, por receio de enfrentar dificuldades, por medo de desestabilizar poderes constituídos, omitem-se em assumir suas responsabilidades. Dessa forma, deixam o espaço da liderança para outras pessoas que, no entanto, podem fazê-la algumas vezes, sem o sentido global da ação educacional e uma concepção abrangente da educação, dentre outros preceitos essenciais à gestão escolar.
Segundo Lücke (2009), “a essência da cultura de uma escola é expressa pela maneira como ela promove o processo ensino-aprendizagem, a maneira como ela trata seus alunos, o grau de autonomia ou liberdade que existe em suas unidades e o grau de lealdade expresso por todos em relação à escola e à educação. A cultura organizacional representa as percepções dos gestores, professores e funcionários da escola e reflete a mentalidade que predomina na organização. Por esta razão, ela condiciona a gestão das pessoas”.
Além disso, ainda segundo a mesma autora, questões como: quem determina o quê, em nome de quem ou de quê, são cruciais e que devem ser levadas em conta para que se possa promover o entendimento e ação. Trabalhar a dimensão de poder como um fenômeno natural do processo educacional e a ser utilizado como um fator pedagógico é, portanto, um aspecto importante e desafiador do trabalho dos gestores escolares. Para você observar, refletir e analisar... no seu campo de estágio. Qual é o cenário da liderança em favor da qualidade do ensino e bem-estar dos alunos que você identifica na escola observada em seu estágio? 
A GESTÃO DEMOCRÁTICA E A ELABORAÇÃO DO PPP: No vídeo, Vasco Moretto, ao abordar o projeto político pedagógico e a gestão democrática, nos leva a refletir sobre o Projeto Político Pedagógico – PPP - como o instrumento balizador para o fazer educacional e que  expressa a prática pedagógica das escolas, dando direção à gestão e às atividades educacionais, pela explicitação de seu marco referencial, da educação que se deseja  promover, do tipo de cidadão que se pretende formar.  Um projeto político-pedagógico voltado para construir e assegurar a gestão democrática se caracteriza por sua elaboração coletiva e não se constitui em um agrupamento de projetos individuais, ou em um plano apenas construído dentro de normas técnicas para ser apresentado às autoridades superiores. 
Mas o que é mesmo projeto político-pedagógico? De acordo com Celso Vasconcellos (1995), o PPP constitui-se em um instrumento teórico-metodológico que organiza a ação educacional do cotidiano escolar, de uma forma refletida, sistematizada e orgânica. Todos os estabelecimentos de ensino têm a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica (Art. 12º. da Lei 9.394/ 96).  Alguns sistemas de ensino adotaram a nomenclatura Projeto Político-Pedagógico para representá-lo.  Independentemente da nomenclatura diferenciada, são equivalentes naquilo que representam e não apresentam diferenciação naquilo que explicitam. São denominações diferenciadas para designar o mesmo sentido: estabelecer uma visão de conjunto e direção ao processo pedagógico intencional a ser promovido na escola, mediante a contribuição de seus professores e demais membros da comunidade escolar. O PPP é um projeto elaborado de forma participativa e colaborativa, originado na coletividade docente, funcionários, alunos e pais, e que dá uma identidade à instituição educacional. Esse referencial deve:
Ser construído a partir da realidade,explicitando seus desafios e problemas; 
ser elaborado de forma participativa; 
corresponder a uma articulação e organização plena e ampla de todos os aspectos educacionais;
explicitar o compromisso com a formação do cidadão e os meios e condições para promovê-la;
ser continuamente revisado mediante processo contínuo de planejamento; e
corresponder a uma ação articulada de todos os envolvidos com a realidade escolar.
O Projeto Político-Pedagógico, como não poderia deixar de ser, tem como foco o aluno, a sua formação e aprendizagem e a organização do processo pedagógico para promover essa formação e aprendizagem. Em vista disso, ele engloba o planejamento curricular, isto é, o conjunto das experiências a serem promovidas pela escola para promover a formação e aprendizagem dos alunos. Na verdade, o projeto político-pedagógico é a expressão da cultura da escola com sua (re) criação e desenvolvimento, pois expressa suas crenças, valores, significados, modos de pensar e agir das pessoas que participaram da sua elaboração. 
A Gestão Democrática e a Participação da Comunidade Escolar: “Na medida em que se conseguir a participação de todos os setores da escola - educadores, alunos, funcionários e pais - nas decisões sobre seus objetivos e seu funcionamento, haverá melhores condições para pressionar os escalões superiores a dotar a escola de autonomia e de recursos” (PARO, 2001, p.12). A gestão democrática na escola é entendida como a participação efetiva dos vários segmentos da comunidade escolar, pais, professores, estudantes e funcionários que nela se inserem.  Trata-se, portanto, de uma maneira de organizar o funcionamento da escola com a finalidade de dar maior transparência às ações e atos do gestor. Luck (2007) afirma que a gestão escolar participativa é importante para melhorar a qualidade pedagógica do processo educativo; garantir ao currículo escolar maior sentido de realidade e atualidade; aumentar o profissionalismo dos professores; combater o isolamento físico, administrativo e profissional dos gestores e professores; motivar o apoio das comunidades escolar e local às escolas e desenvolver objetivos comuns na comunidade escolar.
Como mecanismo propulsor da participação, a gestão democrática possibilita que o poder da direção seja descentralizado e as decisões tomadas considerando o coletivo. Diante disso, a elaboração do projeto Político-Pedagógico é um processo que pode vir a ser um provocador de mudanças significativas na comunidade escolar à medida em  que  ele se dá de forma coletiva,  envolve todos os atores e responsáveis por esta construção e coloca em discussão o papel da escola, a concepção de educação, de homem, de mundo e de sociedade que se deseja construir. Assim, de acordo com Veiga (2004, p.14), a principal possibilidade de construção do projeto Político-Pedagógico passa pela relativa autonomia da escola, de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isto significa resgatar a escola como espaço público, lugar de debate, do diálogo, fundado na reflexão coletiva. A escola deve formar para a cidadania e, para isso, ela deve dar exemplo. 
A gestão democrática da escola é um passo importante no aprendizado da democracia. A escola não tem um fim em si mesma. Ela está a serviço da comunidade. Nisso, a gestão democrática da escola está prestando um serviço também à comunidade que a mantém. (Moacir Gadotti). Assim, a escola comprometida em estabelecer relações junto à comunidade, em realizar projetos com vínculos à comunidade em que se insere, concebe a educação como caminho no exercício da cidadania. Nesse caminhar, e norteados pelo Projeto Político-Pedagógico, gestores, equipe escolar e comunidade, têm o compromisso com um ensino de qualidade e a prática democrática dentro da escola. 
O que compete a cada um para o acontecimento de uma gestão participativa na escola: Todos são importantes para que uma gestão, de fato participativa, se efetive na escola.
Iniciativa do Gestor: a) A iniciativa do gestor em estimular toda a equipe escolar para a construção coletiva do PPP;
Equipe Pedagógica: b) A parceria da equipe pedagógica junto ao gestor nas decisões pedagógicas e na mobilização da comunidade para a construção desse referencial;
Pais e Comunidade: c) O envolvimento e compromisso de pais e comunidade na construção do PPP, das atividades efetuadas pela escola e nas decisões sobre os recursos financeiros e decisões pedagógicas – para uma melhor compreensão do trabalho escolar.
Para você observar, refletir e analisar... no seu campo de estágio. Embora cientes do quanto é desafiador fazer da escola um lugar de diálogo, discussão, planejamento, estudo e, é lógico, de muito trabalho; tudo isso fica muito mais difícil de ser feito se o corpo técnico administrativo, ou seja, diretor, pedagogos e coordenadores, não articulam todo o processo de elaboração do PPP, garantindo a participação dos sujeitos que precisam se envolver com essa construção. Como você identifica essa gestão participativa na escola onde realiza o seu estágio? 
Atividade Proposta:
O vídeo apresenta uma experiência bem-sucedida na tentativa de integração da escola com a sociedade a partir da criação de espaços de participação. Identifique o que caracteriza essa participação.
Resposta: Na prática cotidiana da escola, são discutidas e refletidas questões que dizem respeito aos alunos dentro e fora da escola e que envolvem tanto as relações escolares como de família e sociedade. No caso específico apresentado no vídeo, a discussão é em torno do “bulling”. Para cuidar dessa questão, a escola estreita mais ainda a sua parceria com a família, no trato de uma questão social.  
Os Processos de Integração da Sociedade com a Escola: Na perspectiva da gestão democrática, democracia e cidadania são processos complementares, pelo fato de ambos se encontrarem mediados por instituições e pela criação de espaços de participação. No entanto, a qualidade dessa participação depende, principalmente, do grau de conscientização do papel dos atores envolvidos no processo de elaboração desses instrumentos e da maneira como as relações ocorrem no cotidiano da escola. Da mesma forma, como acabamos de conversar a respeito do processo participativo na elaboração do PPP, e que não pode ser compreendido simplesmente como um documento legal, o Conselho de Escola não pode representar apenas um grupo de pessoas que tomam decisões isoladas. Ambos precisam ser percebidos como uma expressividade do conjunto de pessoas envolvidas no compromisso político da educação da instituição que representam. 
Este conselho, formado por pais, alunos, professores, diretor, pessoal administrativo e operacional para gerir coletivamente a escola, compreende a educação como um ato político e para quem todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto político “porque expressa um compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade”. Nesse aspecto, para Paulo Freire, toda ação pedagógica é uma ação política. Para o educador, “a educação não vira política por causa da decisão deste ou daquele educador. Ela é política”.  A afirmação de Freire se dá pelo fato de que não existe educação neutra, pois o diálogo estabelecido nas relações que se dão no cotidiano escolar está impregnado de intenções, podendo levar à transformação da realidade, ou na manutenção da mesma, ou seja, a prática dos educadores contribui para a emancipação ou para a permanência da desigualdade existente.
Entre a Letra da Lei e a Realidade - Dificuldades e Desafios da Gestão Democrática da Escola: No inciso V do artigo 12 da LDB 9394/96, é citado que os estabelecimentos ensino terão a incumbência de “articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola” (BRASIL, 1998, p.19). Já o artigo 14 menciona que os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades, mencionando no inciso II o seguinte princípio: “participação das comunidades escolare local em conselhos escolares ou equivalentes”. A autonomia da escola também é enfocada no artigo 15: Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público. Apesar dos avanços observados na realidade educacional brasileira, entre a Letra da Lei e a realidade, constatamos diversas contradições, tensões, embates e entraves que dificultam a construção de uma escola realmente democrática.  Dentre os mais importantes destacamos:
A predominância de uma cultura administrativa, tanto na esfera municipal como na esfera local, ainda marcada por traços burocráticos, autoritários e clientelistas. Essa forma de administrar tem fundamentos nas teorias gerais da administração; 
os municípios brasileiros, de modo geral, não conseguiram criar os mecanismos e propostas condizentes com os termos da lei, principalmente no tocante às estratégias que viabilizem e garantam às unidades escolares as condições efetivas para a elaboração, de forma participativa, dos seus projetos Político-Pedagógico e implantação dos conselhos escolares;
os recursos destinados à educação ainda são insuficientes frente às necessidades de melhorias de infraestrutura para as escolas, de investimentos na formação e nos salários dos profissionais da educação;
uma prática administrativa só se faz com um mínimo de recursos disponíveis, isto é, projetos ou propostas pedagógicas participativas exigem, principalmente, condições concretas para a sua aplicabilidade e materialidade;
a pouca participação da sociedade civil nos fóruns de controle social das políticas públicas; 
aproximação escola e comunidade exige mudanças de concepções e de posturas e implica, principalmente, na criação de canais reais entre todos os segmentos da comunidade escolar, de forma a garantir a gestão democrática da escola.
É preciso compreender que as ações programadas não devem priorizar apenas a elaboração de um documento, mas uma mudança constante, a fim de realizar uma participação ativa. A gestão democrática exige a participação ativa de todos nas várias esferas da escola. Uma participação que chegue à sala de aula, já que a sala de aula não é o lugar apenas do aprendizado dos conteúdos, mas, sobretudo, do aprendizado dos valores e dos comportamentos sociais, da construção das subjetividades e do exercício da tolerância e da crítica responsável. É o lugar da educação política. Assim, estimular e contribuir para a irradiação de uma cultura democrática para além da sala de aula são desafios que a equipe gestora terá que superar.
Atividade Proposta
Um estudo de caso: Uma escola desenvolveu, no âmbito de seu planejamento curricular, um projeto de preservação do meio ambiente junto à comunidade e uma parceria com uma organização não governamental (ONG). O projeto se referia à coleta seletiva e tratamento de lixo e teve efeitos tanto no aspecto geral da escola quanto no bairro. O planejamento no qual se inseriu o projeto deve ter sido construído com base em que tipo de análise e levantamento da escola em relação à comunidade?
Resposta: O planejamento no qual se inseriu o projeto deve ter sido construído a partir do estudo do contexto cultural, político e econômico da comunidade escolar e do seu entorno.
Para você observar, refletir e analisar... no seu campo de estágio. Observe, no seu campo de estágio, como se dá a forma de participação interna e externa na escola. Registre, em seu caderno de campo, algumas práticas observadas no cenário de atuação do coordenador pedagógico, que refletem a implementação de processos e práticas de participação coletiva. Como vimos nesta aula, a gestão escolar participativa representa a possibilidade da comunidade participar mais ativamente da escola, auxiliando nas decisões relativas aos rumos a serem seguidos pela instituição, as diretrizes organizacionais que nortearão a atuação dos educadores, servindo como uma forma de a comunidade opinar sobre os elementos que são relevantes para a implementação de um ensino de qualidade. Essas observações serão fundamentais para os itens 2 e 3 de seu relatório.

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