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Introdução ao Estudo da História

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Introdução ao Estudo da História
Prof. Paulo Cotias
historiaestaciocf.blogspot.com
paulo.cotias@estacio.br
historiaestaciocf@gmail.com
Aula 01
Apresentação da Disciplina.
Contextualização:
Esta disciplina está localizada dentro das teóricas. É o primeiro contato do ingresso com uma discipina teórica de História e visa oferecer uma visão geral sobre as principais escolas historiográficas.
Aula 01
Ementa:
Princípios básicos necessários à formulação da pesquisa e do conhecimento histórico científico;
O ofício do historiador;
Principais linhas historiográficas produzidas entre os séculos XIX e XX: 
Historicismo; 
Escola de Annales; 
 Marxismo. 
Aula 01
Objetivos Gerais: 
Compreender a relevância, as técnicas básicas e as limitações do ofício do historiador.
Identificar o raciocínio crítico necessário à prática docente e à pesquisa na área da História.
Aula 01
Objetivos Específicos:
Refletir os aspectos inerentes à prática da História como ciência: objeto de estudo, objetivo e procedimentos.
Analisar contribuições e limitações da historiografia produzida no século XIX
Analisar criticamente as contribuições da Escola de Annales e do marxismo para a construção do conhecimento histórico.
Aula 01
Conteúdos:
I.O ofício do historiador:
- História: uma ciência; 
- História e o seu objeto de estudo;
- O objetivo da pesquisa histórica;
- Crítica às fontes históricas;
- Julgar ou compreender? 
Aula 01
II. O ofício do historiador no século XIX:
- Contexto político: o conservadorismo burguês na Europa do XIX.
- Leopold Von Ranke e a historiografia conservadora do século XIX.
- Marxismo: a proposta de uma história revolucionária.
Aula 01
III. A Escola de Annales: contribuições e critica.
- Primeira geração: Marc Bloch e Lucien Febvre;
- Segunda geração: Fernand Braudel e a história serial;
- Terceira geração: Jacques LeGoff e a multiplicidade de métodos. 
- Critica a Escola de Annales.
Aula 01
IV. Reflexões a respeito do ofício do historiador:
- História X Memória;
- Documento X Monumento
Aula 02
O Ofício do Historiador
Objetivos:
Compreender a História como ciência e as principais peculiaridades.
Entender os principais critérios da prática investigativa e a importância do seu domínio para a construção de um saber histórico válido e para o exercício do magistério.
Aula 02
Para entendermos melhor como se constituiu o ofício de historiador se faz necessário uma breve viagem ao longo das diferentes tendências que, aos poucos, foram construindo o campo.
A primeira grande mudança de perspectiva nasceu na Grécia do século V, com as contribuições de Heródoto de Halicarnasso (485 a.C. – 420 a.C).
Heródoto cria o termo história e tem como proposta a criação de uma literatura diferente, na qual a subjetividade do maravilhoso, tão presente nas
Aula 02
narrativas gregas do período, davam lugar a uma investigação baseada em visitas a diferentes lugares, observações diretas e coleta de testemunhos orais acerca dos acontecimentos importantes, como as Guerras Médicas (493 aC. – 492 aC. / 480 aC. – 479 aC.).
Outro traço importante de sua obra é a preocupação com a contextualização, o que fica evidente com a descrição cuidadosa do Império Persa. Portanto, ainda que não seja propriamente a história que conhecemos hoje, já diferenciava-se da literatura poética.
Aula 02
Essa passagem a constituição de uma narrativa objetiva também é encontrada em Tucídites de Atenas (460 aC. – 400 aC.). Sua obra inaugurava um estilo diferenciado, no qual a observação direta dos fatos seria a liga mestra que garantiria a fidedignidade do que é digno de ser perpetuado. 
No caso, escreveu sobre a Guerra do Peloponeso, entre Esparta e Atenas, sendo ele mesmo, comandante naval ateniense e tendo tomado parte em todo o processo. 
Aula 02
Do mesmo modo, no século V, descreveu com perspicácia alguns efeitos da grande peste que assolou Atenas, notando que os sobreviventes passaram, de certo modo, a se tornar imunes às novas ondas da doença, o que intuitivamente já dava os primeiros contornos da ideia de vacinação.
Nos tempos da Roma republicana destacamos a perspectiva de uma história que ensina pelos exemplos virtuosos vindo do passado. Assim a descrevia o senador Marco Túlio Cícero (106 aC. – 43 aC.), que a considerava como a “mestra da vida”. Era a ideia da construção de um passado que ensinasse e, de certo modo, moldasse o presente com os referentes desejáveis. 
Aula 02
Mesmo em Plutarco (46 – 120) observaremos a tendência em valorizar as biografias célebres, de modo a legar à memória coletiva, os exemplos a serem seguidos na contemporaneidade. De certo modo, essa será a tendência seguida ao logo da cristandade, com alguns pontos nos quais podemos notar certa diferença.
A primeira delas diz respeito a origem dos exemplos virtuosos, agora modelados tanto no conceito de formação integral (paideia) a exemplo de Cristo, quanto na hagiografia, que surgirá para legar à memória coletiva o exemplo dos santos cristãos.
Aula 02
Percebemos a presença do neoplatonismo nessa perspectiva, sobretudo nos escritos de Agostinho de Hipona, o Santo Agostinho (354 – 430), cuja Cidade de Deus seria a verdade que se opõe a realidade decadente, já que o período no qual se insere é o do começo da derrocada do Império Romano do Ocidente, prenunciando o papel da Igreja como conservadora de uma unicidade e ordem que sobreviva ao processo de fragmentação que se desenhava no horizonte. 
Aula 02
Assim, podemos inferir que a história teria um devir, o de refletir a natureza verdadeira das ideias, ao invés de se constituir como produto corrompido de uma realidade que, na verdade, não existiria, já que as formas perfeitas não pertenceriam ao mundo dos homens. 
O papel mediador da Igreja, nesse sentido, carecia de exemplos concretos, capazes de dirigir os homens nesse percurso, a fim de que pudessem balizar sua existência ao que era considerável modelos de salvação.
Aula 02
As mudanças mais sensíveis começam a se fazerem sentir quando do advento do Renascimento (séculos XIV-XVII) e de sua vertente filosófica, o Humanismo. O antropocentrismo recoloca o homem em suas relações sociais como o centro das ações e acontecimentos, legando à razão a capacidade explicativa do mundo. Podemos identificar no período uma preocupação com a erudição, onde não temos propriamente a definição de um novo gênero histórico, mas a de uma perspectiva que mais se assemelha ao antiquário.
Aula 02
Já no final do século XVII essa perspectiva será questionada, na aurora da vertente filosófica, advogando uma narrativa que pudesse oferecer uma ideia de progressão ao longo do tempo e não um depósito de fatos. Até mesmo os saberes antigos começam a ser postos em xeque. Havia um mundo contemporâneo a ser explicado. Entretanto, será no século XVIII que a história começará a sentir seus efeitos mais concretos. 
Aula 02
Nos séculos XVIII e XIX a História estrutura-se como cátedra universitária. Era a época da emergência das ciências da natureza, da razão e do método como modo desejável de se produzir saberes. Esse momento merece algumas considerações adicionais. Primeiro por começar a formar os primeiros historiadores de ofício, já que até então quem se dedicava a ela eram eruditos, numa perspectiva mais próxima ao antiquário. Em segundo lugar, desencadeou o processo que fará da história uma ciência. Num primeiro momento tentando se adequar ou equiparar-se ao estatuto de cientificidade típica das ciências da natureza, e num segundo, na construção de um campo científico próprio. 
Aula 02
Assim temos três grandes momentos no século XIX que vão, cada um deles, pensar a história de um modo particular. Os historicistas vão contribuir com os critérios de verificação das fontes mas o fazem de modo superlativo, estabelecendo um campo muito restrito do que poderia ser configurado como tal (em especial a documentação produzida pelo estado e seus agentes) além de tentar ao máximo isolar a subjetividade do historiador, de modoa que não "contamine" o que as fontes tem a dizer por si. Esse conjunto constituiu um modelo para a historiografia política, mais utilitária do que analítica. 
Aula 02
No século XX supera-se o debate acerca da natureza da cientificidade da história. Ampliando um pouco mais essa visão, o que temos é a definição de um estatuto próprio de cientificidade para as chamadas “ciências humanas”, as quais não mais estão necessariamente ligadas aos mesmos critérios de verificação típicos das “ciências da natureza”. 
Isso não significa que a história deixara de perseguir explicações gerais que pudessem dar conta de um amplo espectro de experiências.
Aula 02
Todavia, apontava para novas possibilidades analíticas a partir, sobretudo, do movimento dos Annales, na aurora da década de 30. 
Assim, temos a definição contemporânea acerca do que entendemos como história. Uma ciência que tem por objeto analisar a ação humana no tempo. Observemos por partes. Ação humana designa uma ampla gama de aspectos, desde as formas de pensar e sentir aos elementos da cultura material. Já o tempo é uma dimensão importante, pois rompe com a perspectiva antiquaria e articula o passado e o presente.
Aula 02
É importante frisar que a ciência histórica também obedece a regras importantes, dentre elas, a exigência básica de verificar a autenticidade das suas fontes, a sua capacidade de explicar satisfatoriamente as perguntas postas ao passado e comunicação desse saber de maneira objetiva, possibilitando a qualquer outro pesquisador a verificação ou questionamento do caminho percorrido e de suas conclusões. E nesse processo o historiador não é neutro. Ele escreve a história enquanto vive em seu interior.
Aula 03
História: uma ciência / História e o seu objeto de estudo
Objetivos:
Compreender o caráter científico da História enquanto prática investigativa;
Entender o método científico da história: investigação baseada em evidências verificáveis;
Identificar a interação entre o historiador e seu objeto de estudo;
Conhecer a História como produto socialmente construído.
Aula 03
Uma das afirmações mais contundentes de Marc Bloch acerca do conceito de história é a negação de que a mesma se configuraria no estudo do passado. Isso pode confundir um pouco o estudante, sobretudo se iniciante pois, afinal de contas, não é o passado o objeto da história.
Na verdade Bloch fala contra algumas tendências muito comuns em história, as que a transformavam num relicário ou antiquário, nas quais apenas amontoavam-se de modo exemplar os fatos e vestígios.
Aula 03
Do mesmo modo falava também contra um tipo comum de história que fixava determinada versão dos acontecimentos, muito mais vinculada à memória desejável do que às evidências, com o objetivo de formar uma personalidade ou identidade coletiva ideais. 
Bloch, desse modo, a configura não como a ciência do passado, mas como a ciência dos homens, dos seus atos, vestígios, modos de compreender e, sobretudo, atuar sobre a existência.
Aula 03
Mas os homens não fazem história de modo desvinculado ao tempo e ao espaço. Portanto, o passado aqui deixa de ser percebido como uma dimensão estática, onde os fatos teriam começo, meio e fim, e passa a ser percebido em sua dimensão dinâmica.
O dinamismo do passado vai além da crença de um pseudo-vetor ascendente que leva necessária e inexoravelmente a humanidade para a evolução clássica e escalonada da selvageria à civilização.
Aula 03
Na verdade, o passado se descortina de modo dinâmico por que sua abordagem, por parte do historiador, é feita de modo investigativo, problematizador. 
Com isso queremos dizer que a ideia de que existe um passado inerte pronto a ser reconstituído na íntegra pelo historiador, como um mapa pré-definido no qual cabe apenas ao pesquisador juntar as peças do quebra-cabeças, não nos parece adequada. Acreditar nisso, seria supor que o fato histórico possui ele próprio um sentido e uma razão verdadeiras.
Aula 03
De certo modo foi isso que parte da historiografia do século XIX acreditou e, assim, favoreceu a criação de um fetiche das fontes documentais pois apenas elas seriam capazes de desvelar os sentidos do passado sem a “contaminação” da subjetividade de quem escreve a história. 
O que julgamos adequado na contemporaneidade de nossa ciência é a compreensão de que nossa ida ao passado começa no presente. É nele que as questões são postas. Portanto, vamos ao passado em busca de sentidos e respostas que nos ligam num percurso temporal mais amplo.
Aula 03
Isso nos leva a pensar a respeito dos objetos e fontes em história. Ao constituirmos nossos objetos de pesquisa em história, é preciso levar em conta algumas questões fundamentais.
A primeira delas consiste em saber se nossos objetos de estudo são verificáveis. Esse é um passo de extrema importância, pois não se pode propor uma questão que não poderá ser respondida. 
A verificação das fontes obedecem, com veremos, a critérios específicos de autenticidade e validade, mas vamos além, pois se faz necessário saber algo mais.
Aula 03
Quando falamos em evidências verificáveis nos referimos diretamente ao nosso objeto de pesquisa. Por exemplo, caso o historiador desejasse realizar uma pesquisa a respeito da existência de uma civilização perdida, na qual só se conhecem lendas a seu respeito. Certamente teria uma grande dificuldade caso esse conjunto de crenças não indicasse algo que indicasse a origem desse modo de pensar. Assim, verificar significa mostrar que o objeto pode ser comprovado de modo verdadeiro, real e não de modo apenas literário ou especulativo.
Aula 03
Temos também que ter um cuidado adicional quando falamos das fontes históricas. Mesmo que sejam verificáveis, se faz necessário sabermos se os sentidos e informações das quais é portadora, possuem aderência ao que desejamos pesquisar. 
Isso é um erro um tanto comum no campo historiográfico, o de extrapolar uma fonte, ou seja, de fazer com que ela explique muito mais do que deveria ou poderia explicar. Geralmente sustenta pesquisas frágeis ou cujos objetos foram mais ambiciosos do que a realidade poderia sustentar.
Aula 03
Isso é uma crítica comum que encontramos quando falamos no chamado paradigma pós-moderno. Ciro Flamarion Cardoso, em sua obra Domínios da História, procura estabelecer essa interlocução, mostrando que a fragmentação e a subjetivação excessivas do discurso histórico, tem contribuído para a formação de histórias inofensivas, pois negam conflitos e naturalizam o percurso histórico; egóicas, pois são aceitas apenas de modo estipulativo por determinados grupos; e frágil, pois são mais literárias pois baseadas em evidências frágeis e insuficientes.
Aula 03
Como vimos, no século XIX haviam crenças distintas a respeito da interação do historiador com seu objeto de estudo. Sob o ponto de vista positivista, por exemplo, e por todas as demais tendências que acreditavam que a ciência histórica só seria possível ou viável caso incorporasse os mesmos referentes postos às ciências da natureza, não se considerava ou mesmo reconhecia a subjetividade do pesquisador na sua prática. Essa visão propõe tanto o fato quanto a história como algo externo ao historiador.
Aula 03
Essa visão julga existir uma verdade histórica que deveria ser revelada e não investigada. 
No historicismo, surge o reconhecimento da subjetividade do historiador, o que já é um relativo avanço. Entretanto, essa mesma subjetividade é negada pois considera que poderia contaminar o verdadeiro objetivo da história que seria o de deixar com que as fontes falassem por si. 
Assim fica clara uma visão de história na qual não é o pesquisador quem é o portador da fala, apenas se tornando o intermediário entre as fontes.
Aula 03
Em nossa concepção contemporânea de história, sobretudo no período pós-Annales, entendemos que não é possível desconsiderar ou mesmo fazer silenciar a subjetividade do historiador no processo de construção da história. 
Isso fica muito mais claro quando entendemos que o historiador, ao mesmo tempo que analisae escreve a história, é por ela influenciado, pois não se encontra fora do tempo e do espaço, nem muito menos imune às suas influências.
Aula 03
Portanto, reforçamos o que já é bem conhecido a respeito dos mitos que envolvem o fazer científico e, dentre eles, o da neutralidade do pesquisador.
Mas quando falamos que o historiador não é neutro em seu fazer científico, não estamos afirmando que seja tendencioso ou que manipule as fontes de modo a afirmar algo que não se sustentaria. Se assim o fizer, estará cometendo não apenas um deslize ético, mas uma prática equivocada do como escrever a história.
Aula 03
O que queremos dizer é que nenhum discurso se coloca no vazio. Todos tem uma intenção e ela é determinada de acordo com o modo de ver, viver, sentir e interpretar que são próprios de cada pesquisador e dos grupos e conjunto de crenças as quais se filia.
Além disso, de acordo com a tendência teórico-metodológica a que venha a aderir, os historiadores poderão (o que é saudável para nossa ciência) apresentar diferentes perspectivas sobre os mesmo temas, tempos e espaços.
Aula 03
Toda essa complexidade só é possível por que a história é por si só complexa. Os grupos humanos são diversos e, assim, significam sua passagem pelo mundo de modo diferente, nos oferecendo sempre uma nova perspectiva. 
Imagine, por exemplo, poder estudar o feudalismo sob o ponto de vista dos grupos de camponeses. Certamente teríamos vários referentes diferentes das narrativas que privilegiam, por opção ou contingência, os vestígios deixados pelas classes dominantes. 
Aula 04
O que é fonte histórica e a sua crítica
Objetivos:
Explicar o que são fontes históricas;
Conhecer os exemplos de fontes históricas;
Identificar os critérios de crítica interna e externa das fontes históricas.
Aula 04
Ao considerarmos o conceito de história proposto por Marc Bloch de que se trata da ciência dos homens no tempo, precisaremos ao mesmo tempo pensar sobre como o historiador poderá encontrar o material que lhe servirá de meio para comprovação de suas hipóteses de investigação.
Estamos falando das fontes históricas. Elas formam um conjunto heterogêneo de vestígios que de modo direto ou indireto são capazes de fornecer ou de apoiar certas interpretações dos fatos históricos.
Aula 04
Por exemplo, houve um tempo, mais precisamente no século XIX, no qual se considerava como preferível as fontes documentais como a única capaz de conter autenticidade e, por conseguinte, historicidade.
Mas não se tratavam de fontes documentais quaisquer e sim aquelas produzidas pela burocracia estatal, seja na forma de correspondências, atos de diversas naturezas e os registros de suas relações internacionais. 
Aula 04
Essa visão retratava um período específico da ciências histórica, a que restringia a tipologia das fontes confiáveis e as atrelava de modo quase unívoco ao que o estado produzia. Afinal, era o século da formação dos Estado Nacionais e, de um modo geral, não era raro os historiadores continuarem a prestar seus ofícios aos governantes e aos poderes que desejavam registrar a seu modo os elementos que julgavam necessários para apoiar determinada visão de mundo e de si.
Aula 04
Claro que não podemos generalizar o período, afinal de contas já haviam registros de obras como as de Legrand e Michelet que se ocupavam em analisar modos de pensar e sentir tendo a França como cenário.
Mas é com o advento da Escola dos Annales que a que a história ganha uma dimensão e uma pluralidade que, se não era inédita, ganhara a consistência e as adesões necessárias a se estabelecer um novo paradigma historiográfico.
Aula 04
Isso é consequência de duas características marcantes dos Annales, a primeira sendo a ação de construir a história a partir de problematizações e a segunda, a de aproximar-se de maneira mais intensa das demais ciências sociais.
A essas podemos incluir uma terceira, a que amplia consideravelmente o espectro de análise ao considerar as diferentes nuances da criação e da organização humana como geradoras de fontes. Era o fim do político como única lente, ou o econômico.
Aula 04
Desse modo, não apenas as fontes documentais oficiais eram consideradas como as únicas capazes de fornecer indícios críveis. Todas as produções humanas, sendo elas artefatos, correspondências e registros das mais variadas naturezas, obras literárias, das artes diversas, monumentos, construções e, além dessas, os vestígios pertinentes aos comportamentos, modos de pensar, agir, sentir e interpretar o mundo, atribuindo a ele os sentidos que constroem a noção do real.
Aula 04
De modo convencional encontramos algumas tipologias que qualificam as fontes históricas. Essa diferenciação sustenta-se na questão de sua produção, ou seja, se as fontes possuem maior ou menor aderência ao fato analisado.
Quando falamos em aderência queremos dizer que a fonte pode ser qualificada como primária, secundária ou terciária, conforme sua origem, ou seja, conforme a natureza da sua composição. Vejamos rapidamente em alguns exemplos do que se tratam essas modalidades:
Aula 04
São consideradas fontes primárias aquelas que foram produzidas diretamente pelos atores envolvidos no processo histórico.
Também são conhecidas como fontes originais, pois emergem do contexto direto do fato que está sendo analisado pelo historiador. 
Nesse sentido, podemos considerar como fontes primárias os documentos, construções, bens da cultura material de uma sociedade, além das tradições transmitidas e conservadas.
Aula 04
As fontes secundárias são aquelas que não foram produzidas diretamente pelos atores ligados aos fatos históricos.
Na verdade elas são produtos das análises realizadas sobre as fontes primárias, sendo postas geralmente sob a forma de documentos. 
Podem assumir a forma de compilações, descrições, levantamentos, catálogos e mesmo em análises descritas de forma textual, comum não apenas em documentos, mas também como livros e outras publicações.
Aula 04
Já a fonte terciária possui um caráter de organização eminentemente bibliográfica das fontes secundárias. Aqui podemos exemplificar as enciclopédias, almanaques, manuais, livros de notas, catálogos específicos de orientação, como os usados amplamente no campo da biblioteconomia. 
É importante destacar que uma fonte terciária possui uma caráter indicativo e não analítico, próprio do trabalho que geralmente é realizado nas fontes primárias e secundárias. Seu papel é referencial.
Aula 04
É importante frisar que quanto mais indireta for a fonte utilizada pelo historiador, maior cuidado ele deve ter em sua análise, já que estará lidando com interpretações realizadas por outros cientistas.
Entretanto, mesmo com os recursos da modernidade, ainda é difícil o acesso irrestrito às fontes primárias, o que torna de grande valia e importância as secundárias para a pesquisa histórica. Não raro, podemos identificar nelas de modo indireto as fontes primárias e até mesmo analisar se as conclusões apontadas nos estudos são condizentes.
Aula 04
O que é muito importante que o historiador perceba são os critérios que envolvem as suas fontes. 
O primeiro critério é o da autenticidade. Sem ele, qualquer indício fraudulento poderá ensejar conclusões equivocadas e distorcer os sentidos dos fatos analisados. 
Para isso os historiadores contam com recursos diretos e indiretos, como as análises químicas de datação, ou mesmo lançando mão de outras ciências como a botânica, para comprovar de modo tangencial determinada periodização.
Aula 04
Além do critério de autenticidade, se faz necessário analisar se a fonte possui relevância suficiente para que seja capaz de explicar ou ajudar a comprovar determinadas visões acerca do passado que o historiador pretende construir. 
Também é necessário saber “ler” e conhecer a fonte em seu contexto, o que ajuda sobremaneira o historiador a entender que toda a fonte é um registro parcial, sendo necessário considerar os diferentes agentes participantes do fato e suas contribuições.
Aula 04
Como vimos, as fontespodem ser também divididas em materiais e imateriais. 
As fontes materiais se organizam em duas categorias básicas, as escritas, nas quais incluímos os documentos e demais congêneres e as fontes não escritas, as que são representadas por todos os demais artefatos que compõem a existência humana (incluindo o próprio corpo).
Em especial, nos séculos XVII/XVIII a perspectiva dos antiquários auxiliou na busca e organização dessas evidências em acervos.
Aula 04
Com a perspectiva historiográfica das mentalidades e sua cada vez maior aproximação com a antropologia, surge no horizonte da historiografia de maneira mais definida a tipologia das fontes não materiais. 
Elas referem-se eminentemente ao campo do simbólico e estruturam-se nos hábitos, modos de agir, sentir, pensar e viver de determinados grupos em suas relações próprias e com os demais grupos no espaço social. Obviamente que no campo das mentalidades não era uma tarefa fácil definir seus objetos e mais ainda, as fontes que os sustentariam.
Aula 05
História: julgar ou compreender?
Objetivos:
Discutir os objetivos do ofício do historiador;
Compreender a problemática de se trabalhar com a história recente;
Conhecer a necessidade de compreensão e posicionamento político e ideológico do historiador em relação ao seu objeto de estudo.
Aula 05
Assim, voltamos a pergunta acerca do que faz o historiador quando produz a história? Veremos que nos séculos anteriores a perspectiva dos Annales, existiam vertentes historiográficas, como o historicismo e parte do que se estruturava como a filosofia da história, que acreditavam que por trás dos movimentos dos homens, havia um designo sobre-humano, uma espécie de percurso determinado por uma inteligência divina, a qual não saberíamos acessar nem tampouco entender.
Aula 05
Certamente que tal posição colocava o historiador numa posição curiosa. Se não poderia acessar a verdadeira natureza dos fatos históricos, o que então faria?
A resposta parece paradoxal, continuaria perseguindo a verdade essencial. Desse modo, estruturou-se a crença de que essa verdade já estava posta no passado, cabendo ao historiador apenas deixar com que as fontes históricas dessem o testemunho da verdade.
Aula 05
Hoje sabemos o quanto isso é complexo. E voltando a pensar acerca do ofício do historiador, nos dirigimos a reflexão de Bloch.
Para ele, o historiador não deve se comportar como um juiz e nem a história ser transformada num grande tribunal das civilizações.
Mas uma explicação adicional se faz necessária. Não estamos aqui postulando que um dos fundadores do movimento dos Annales propunha uma historiografia acrítica. Pelo contrário, como mostram as proposições problematizadoras do passado.
Aula 05
O que não é cabível à história é a mesma lógica que rege o universo judiciário. Por exemplo, num julgamento há o esforço pela recriação das condições originais do fato, onde presumivelmente, apresentam-se as versões, respectivamente, dos que defendem e as dos que condenam. 
O juiz, frente aos argumentos postos decide pelo que considera a verdade, julga o mérito das ações e as adjetiva, de modo a qualificar os comportamentos e fatos como aceitáveis ou não.
Aula 05
O historiador não deve comportar-se como um juiz, nem realizar o julgamento da história ou das civilizações as quais se debruça em suas análises.
O que faria então? A proposta é a da compreensão dos modos de viver, de se organizar, de produzir, de sentir e de significar o mundo em que vivem. Afinal de contas, é pelo modo que os grupos sociais significam a realidade que vão retirar os elementos fundamentais do agir sobre ele. Portanto, compreender é buscar as razões e os por quês.
Aula 05
Mas é preciso compreender alguns elementos adicionais em nossa análise. O primeiro ponto é o de relembrarmos que não existe um passado estático, único e verdadeiro a espera de ser descoberto, posto ao desvelamento por parte do historiador. 
Assim, podemos compreender que o passado é dinâmico por que chegamos até ele por nossas ligações com as inquietações do presente e, além disso, sabemos que é multifacetado, já que os agentes históricos também são muitos.
Aula 05
Mesmo assim, há um certo distanciamento entre o historiador e seu objeto. Não que o historiador não esteja condicionado às ideias e ideologias que influenciam sua existência, como veremos um pouco mais adiante, mas os fatos, obviamente, já foram vivenciados em sua integralidade. 
O desafio, nesse sentido, é o de acessar os indícios necessários a satisfazer uma análise o mais completa possível, de acordo com os seus interesses e ao que a pesquisa propõe explicar.
Aula 05
Mas quando falamos em história do tempo presente, as dificuldades se tornam um pouco maiores. Deixamos claro aqui que não se trata de uma impossibilidade, mas de um desafio a mais para o historiador.
Um exemplo de análise muito bem conduzida, nesse sentido, é a de Eric Hobsbawm em seu livro A Era dos Extremos, no qual analisa um recorte estipulado como o “breve século XX”, em cujos acontecimentos, muitos deles, o próprio historiador foi contemporâneo.
Aula 05
Mas escrever história no tempo presente tem certas implicações. Em primeiro lugar, muitas vezes, os próprios fatos analisados ainda não estão suficientemente esgotados, ou seja, ainda podemos observar certos desdobramentos que fazem com que as conclusões se tornem provisórias. 
Assim, as análises dedutivas, por exemplo, passam a um grau de dificuldade maior, já que as premissas iniciais, as hipóteses e objetivações pré-definidas não teria como ser comprovadas de modo seguro.
Aula 05
Repare que usamos a expressão “seguro” e não definitivo, já que em história nenhuma análise pode ser considerada a versão final acerca de determinado fato.
Já as construções a partir do pensamento indutivo parecem mais vantajosas nesse sentido. Partindo dos indícios disponíveis, as conclusões tornam-se provisórias e vão sendo confirmadas ou repensadas de acordo com os desdobramentos e novas descobertas a respeito de determinado fato.
Aula 05
Esse cuidado é importante já que não podemos ceder a tentação de cair no discurso próprio ao universo jornalístico, transformando a história do tempo presente numa história de eventos mais ou menos significativos. 
Não se trata de um amontoado de fatos reunidos para se dar uma inteligibilidade ao real. Precisamos avançar e acessar as intenções, discursos e relações de causalidade e efeito provocadas pelas ações dos diferentes atores do cenário que compõem os fatos.
Aula 05
Mas esse campo abre também perspectivas analíticas que são vedadas ao historiador quando trabalha com o passado remoto.
Na história do tempo presente, por exemplo, podemos explorar a dimensão da oralidade, dos testemunhos, dando voz a agentes diferentes dos tradicionais “produtores da história”.
Desse modo, o acesso ao campo simbólico torna-se possível, proporcionando a compreensão do como determinados grupos ressignificam saberes e como interpretam os referentes sociais de seu tempo.
Aula 05
O surgimento da história oral, ao final da Segunda Guerra Mundial, abriu uma perspectiva importante ao estudo da história do tempo presente. Os testemunhos oportunizaram a voz aos que são tradicionalmente ausentes do discurso histórico, como as massas anônimas, os soldados em guerra, os trabalhadores de determinado segmento. Abre-se ao “saber do viver”.
O produto da investigação oral pode ter duas finalidades: 
Preservação de versões e constituição de acervos.
Fonte direta que atende a investigação de determinado objeto histórico.
Aula 05
Como vimos, o historiador não é neutro, o que não significa que deve ser tendencioso.
Entretanto, é inegável que os historiadores, assim como quaisquer outros cientistas, estão vinculados a estruturas teóricas e metodológicas diversas, o que faz com que a seleção e interpretação dos fatos sejam diversas umas das outras. 
A grosso modo, temos esse exemplo na análise marxista que privilegia o econômico como base explicativa dos fenômenos históricos e sociais,assim como no século XIX, o político/estatal predominava.
Aula 05
Mas não são apenas as escolhas teóricas e metodológicas que diferenciam os historiadores. Não podemos escapar das nossas posições ideológicas. Isso significa que, também como qualquer outro cientista ou mesmo como qualquer homem de seu tempo, os historiadores estão imersos na história, no sistema de crenças de seus grupos sociais e eivados de suas concepções políticas e existenciais próprias. É ilusório acreditar que tudo isso não faça parte do olhar e da escrita do historiador. Entretanto nossa ciência tem seus rigores e é preciso lembrar que as comprovações são essenciais a qualquer proposição.
Aula 06
O Ofício do Historiador no Século XIX
Objetivos:
Reconhecer as principais características da “história política tradicional” produzida na Europa do século XIX, genericamente conhecida como “história rankiana”;
Conhecer o contexto político da Europa do XIX e relacioná-lo à produção histórica “rankiana”;
Identificar as contribuições e as limitações da proposta de Ranke para o método histórico.
Aula 06
Analisamos inicialmente o positivismo e o historicismo em posição de contraste um com o outro. Entretanto, não poderíamos deixar de mencionar as heranças e diferenças que o positivismo recebeu e estabeleceu com relação ao pensamento iluminista. A aposta na racionalidade, nas leis gerais capazes de determinar e prever o comportamento humano e a invariabilidade do seu percurso tem posições diferentes nos dois momentos.
Aula 06
No iluminismo estamos num momento de contestação do Antigo Regime e da primazia eclesiástica pela interpretação do mundo e dos destinos da humanidade. Desse modo, a visão iluminista é de ruptura. Já no positivismo a burguesia estabelecida nos estados modernos pressupõem uma visão reacionária, cujo progresso se dá igualmente por leis universais mas sem conflitos ou rupturas. Com relação ao historicismo, a história é vista de modo particularizante já que cada experiência se inscreve especificamente num determinado tempo e sociedade únicos. 
Aula 06
Com reação a identidade dos métodos, o positivismo propunha o estatuto de cientificidade tendo por base os referenciais das ciências da natureza. Isso de certo modo lega a história a uma posição sui generis já que não é possível essa total compatibilidade, o que leva até os dias atuais a contestação da objetividade metodológica e da fidedignidade das fontes, discussão amplamente realizada nos dias atuais sobretudo pelos pós-modernistas.
Aula 06
Os historicistas, ao contrário, partem do pressuposto da cientificidade só que própria. Desse modo, as ciências humanas também teriam todo o rigor metodológico e as técnicas de verificação da verdade por trás das fontes. Aliás, esse cuidado excessivo do historicismo pelas fontes e por uma tipologia extremamente limitada das mesmas, serão objetos de crítica no paradigma moderno, sobretudo pelos Annales.
Aula 06
Uma última comparação pode ser feita entre as visões sobre a objetividade científica. No positivismo se postula a separação entre o sujeito e o objeto. Para os historicistas, essa separação não faz sentido já que os historiadores estão imersos na história. Entretanto, o paradigma historicista não se confunde com a virada metodológica proposta pelos Annales. Ainda no XIX se acreditava que a subjetividade do historiador era algo reconhecível mas não recomendável no processo de produção da história que deverá, prioritariamente, deixar falar as fontes. 
Aula 06
Mas para melhor compreendermos o surgimento de todas essas tendências, é precisamos conhecer o contexto histórico da qual emergem.
Os séculos XVIII e XIX são de portadores de profundas transformações. Ao longo dos mesmos, observamos fenômenos que revolucionaram as estruturas políticas, econômicas e sociais, tanto na Europa quanto nos demais continentes com os quais exerciam alguma influência ou domínio direto. Vários exemplos podem ser elencados, o que faremos a seguir:
Aula 06
Nesse grande recorte, temos a materialização dos ideais iluministas e a emergência da sociedade burguesa e dos Estado Nacionais. Isso significa dizer que a ordem absolutista começara a ser posta em xeque e isso torna-se perceptível em fenômenos como a Independência dos Estados Unidos, a Revolução Francesa e a posterior descolonização das Américas do domínio ibérico. 
Além do mais, mesmo com a reação conservadora após o período napoleônico, a burguesia já tornara-se uma força irreversível.
Aula 06
Isso por que ao final do século XVIII, capitaneada pela Inglaterra e posteriormente irradiada para o restante do continente, ocorre a Revolução Industrial. Como fenômeno de longa duração, ela ensejou não apenas novas formas de produção, circulação, consumo e distribuição de mercadorias e das riquezas, mas também categorias sociais novas como a dos burgueses e do proletariado. 
O mundo sob o prisma do Antigo Regime começava a tornar-se não apenas obsoleto, mas uma antítese aos novos tempos.
Aula 06
Isso significa que mesmo nos reinos que se mantinham, a perspectiva parasitária e cortesão deveria dar lugar a uma nova racionalidade, na qual o comando do estado estaria vinculado a uma nobreza/burguesia laborativa, cujas relações de igualdade legal ensejassem uma sociedade sem privilégios de origem, mas que favorecessem sobremaneira a acumulação de capitais por meio da salvaguarda da propriedade e da capacidade de produzir. Inaugurava-se a era do capital.
Aula 06
Como vimos há ainda um outro aspecto importante. Nesse contexto geral temos o surgimento de uma nova geopolítica, na qual se inserem novas formações. É o tempo das unificações da Alemanha e da Itália, por exemplo.
Desse modo, os novos Estados passam a exercitar uma nova necessidade ideológica, a de estabelecer uma identidade coletiva que unificasse não apenas o território mas também o povo. É o período do nacionalismo.
Aula 06
Justamente nesse período temos o fortalecimento de uma perspectiva histórica eminentemente política. Até então, a história política era uma construção voltada para a descrição dos grande estados e/ou a dessa construção por meio dos “grande homens”. Essa história flerta com o caráter ora biográfico, ora meramente descritivo, oferecendo como produto o resultado de batalhas e seus desdobramentos.
Assim definia-se um campo, uma tipologia de fontes e um critério de verdade e validade para a história.
Aula 06
Do mesmo modo era comum que os historiadores estivessem a serviço desse mesmo estado, tanto para o registro de suas ações (e de seus governantes) constituindo uma perspectiva parcial, quanto para buscar e consolidar fatos e argumentos que pudessem justificar certas concepções de identidade e genealogia, que estabelecessem. Uma época em que na ausência das tradições, elas poderiam ser criadas e amplamente usadas, referenciando os discursos e as relações estatais.
Aula 06
Vale finalmente acrescentar que é nesse recorte temporal que a história afirma sua identidade enquanto ciência e campo de conhecimento independente, surgindo os centros universitários de formação e a figura do historiador profissional.
Desse modo, em linhas gerais, temos uma história particularizante, que não busca explicações gerais para o comportamento humano, à exceção das construções de Marx, cuja proposta articulava-se também com uma nova perspectiva não apenas de história, mas de homem e de sociedade.
Aula 06
Ranke insere-se exatamente nesse momento em que a história consolida-se como ciência, mas numa perspectiva conservadora, como reação às propostas liberais advindas da França, no início de seu processo revolucionário.
Sua Alemanha nascente colocava ênfase num estado parlamentar, burocrático e altamente militarista e, como todo arranjo nascente, precisava de uma história que não ensejasse versões e conflitos, mas que unificasse a sociedade em uma visão preferível.
Aula 06
Em Ranke encontramos a individualização dos agentes históricos. Temos então uma visão particularizante que propunha, por exemplo, que a Alemanhafosse a construtora de sua própria história. 
Esse caráter também se expressa na diferenciação que faz com relação a filosofia. Para ele, a história compreende e a filosofia explica. Funções distintas entre uma perspectiva que analisa fatos em particular e os entende e uma visão ontológica, generalizante que tenta vincular essas explicações a razões e finalidades mais amplas.
Aula 07
Marxismo: Proposta de História Revolucionária
Objetivos da Aula:
Conhecer a concepção marxista de história;
Analisar os principais conceitos do método materialista-histórico dialético;
Contextualizar historicamente a proposta marxista de história.
Aula 07
Vamos no dedicar ao estudo introdutório do marxismo suas influências no pensamento historiográfico nos séculos XIX e XX. Para tal, iniciamos com a contextualização da criação da obra de Marx, situando os processos de expansão e consolidação do capitalismo/liberalismo ainda no século XIX e da constituição da classe proletária, tendo como pano de fundo um mundo em profundas transformações decorrentes não apenas dessa nova forma de organizar as relações de produção e trabalho, mas de toda luta das camadas mais basais da sociedade contra os resquícios das sociedades absolutistas.
Aula 07
Os alemães Karl Marx (1818- 1883) e Friedrich Engels (1820-1895) publicaram em 1848 o Manifesto do Partido Comunista. Nessa obra, Marx e Engels constituiram uma breve, porém sólida, base de compreensão de que a burguesia destruíra as relações feudais e tornara-se a classe dominante no sistema capitalista, ou seja, de que a história movia-se por processo dialético.
Politicamente, analisou o modo como o proletariado deu início a luta contra a burguesia, classe dominante do regime capitalista, buscando, desse modo, a união dos trabalhadores e com isso a possibilidade de superar a exploração capitalista.
Aula 07
Para Marx e Engels a história da humanidade tem sido a história da luta de classes, ou seja, a luta entre patrícios e plebeus na sociedade romana, senhores feudais e servos da gleba na sociedade medieval, burgueses e proletários na sociedade capitalista. A produção econômica e a organização social que dela resultam necessariamente para cada época da história política e intelectual dessa época, ou seja, o materialismo histórico.
Aula 07
A esses conceitos somam-se outros como os de estrutura, onde se encontra a base material da sociedade, ou seja, onde se desenrolam as relações de produção e distribuição social da riqueza material; e o de superestrutura, onde se organizam todas as demais esferas da vida social como a política, as instituições e as leis, que convergem esforços na manutenção da ideologia dominante e no status quo. Portanto, conhecendo a base material, chega-se ao cerne das demais relações sociais.
Aula 07
Era um tempo de grande efervescência tanto pela consolidação dos Estados Nacionais e a vitória do projeto político-econômico da burguesia, quanto pelos movimentos de massa que defendiam um arco de demandas que iam da melhoria das condições de vida do trabalhador à revolução que criaria novas formas sociais tendo a classe trabalhadora por base. E o tempo do ludismo e do cartismo na Inglaterra, da formação dos sindicatos, das lides entre socialistas utópicos (que acreditavam numa solução mediada, 
Aula 07
sem conflitos de classes), os socialistas científicos (que reconheciam a luta de classes como motor da história) e os anarquistas (assim como os comunistas defendiam a revolução e o fim do Estado, mas diferia por não concordar com a etapa transitória da ditadura do proletariado). 
E também da Primavera do Povos, onde a fome e a opressão foram os combustíveis das revoltas contra os resquícios absolutistas, e da Comuna de Paris, primeiro e breve experiência de uma modelagem alternativa de sociedade. 
Aula 07
Todos esses eventos são contemporâneos a Marx que os vivenciou a cada um, seja no processo de produção do "Manifesto", seja na organização da Associação Internacional dos Trabalhadores.
No pensamento de Marx encontramos elementos que se constituíram uma forma particular de se compreender a história, algo diferente ao que positivistas e historicistas, seus contemporâneos, apregoavam. Tendo base material da sociedade como elemento privilegiado de investigação, ou seja, 
Aula 07
as relações de produção e trabalho, pode-se compreender como determinada sociedade organiza seu viver, constitui suas estruturas de pensar e agir e as instituições e marcos referenciais que atuam de modo convergente à manutenção dessa mesma base material. Desse modo, o pensamento de Marx nos ensina que a história não é composta por um percurso determinado e muito menos naturalizado.
Aula 07
A história se escreve pela dicotomia entre exploradores e explorados, portanto, a realidade social é passível de modificações, mas essa ocorre no confronto, na luta, na prevalência de uma classe sobre outra. Ainda que a teoria tenha ares tautológicos, o da inexorável derrocada do liberalismo em favor da revolução proletária, deve-se reconhecer a análise e a crítica que Marx faz do capitalismo emergente do período que terá desdobramentos permanentes ao longo dos séculos posteriores não apenas no campo das ideias, como no campo das ações.
Aula 07
Por fim, se faz necessário analisar como se constituiu a ideia de lucro, da expropriação do tempo, do sobretrabalho dos despossuídos e do como esse processo concentra a riqueza e amplia o universo da necessidade. É a dicotomia entre a perspectiva do trabalho como algo libertador (que nos liberta da natureza), mas que pode se tornar opressivo quando a serviço da riqueza individual e da exploração do homem pelo homem. O materialismo de Marx destoa ainda poderosamente das
Aula 07
perspectivas positivista e historicista quando não advoga uma natureza humana inata e determinada a evoluir por etapas (como no caso do positivismo) nem uma possível existência de uma natureza oculta (a mão de Deus dos historicistas) a mover os insondáveis caminhos das almas humanas. Marx nos mostra que as ações tem sua origem e desdobramentos na concretude, nas opções dos homens quando organizam a produção e distribuição da riqueza.
Aula 07
Caráter dinâmico e estrutural à sociedade e,por conseguinte, à história. A realidade social é passível de transformação, desde que submetida às leis dinâmicas da ciência histórica. Isso significa a existência de períodos de equilíbrio e rupturas, alimentados pelo embate dos vetores sociais antagônicos (luta de classes).
O percurso humano é autodeterminado pela herança social que antecede o sujeito. Aliás a categoria “sujeito” não está no marxismo, engolfada pelo todo ou pelos grandes conjuntos.
Aula 07
A dicotomia com o outro elemento do cenário, a natureza, é resolvido mediante o desenvolvimento das forças produtivas.
De certo modo, o marxismo em sua percepção histórica apresenta o etapismo como força inexorável ao desenvolvimento das sociedades, que evoluem em estágios (da acumulação primitiva à consolidação do capital) mediante as contradições que se apresentam (modos de produção, classes sociais...). 
Aula 07
É o caráter generalizante, ou seja, a busca de uma teoria que possa explicar o percurso das sociedades humanas mediante leis universais. 
Esse aspecto em especial não escapa da crítica pós-moderna, evidenciando os problemas quando do encaixe de uma teoria em experiências absolutamente singulares. Não leva ao anacronismo e sim ao erro de interpretação (ou criação mesmo...) histórica.
Aula 08
Escola dos Annales: 1a geração: contribuições e críticas.
Conhecer a história da Escola de Annales e a contribuição de seus fundadores.
Analisar a proposta da revista e o contexto de sua criação.
Compreender as principais críticas feita ao grupo.
Aula 08
O movimento francês propôs a história como ciência,na busca de sínteses (generalizações) e na análise de vínculos e diferenciações entre os diferentes níveis e características que compõem o todo social.
A história deixa de centrar-se nos fatos isolados,buscando regularidades e dando preferência à análise coletiva.
Relatividade das fontes. O fetiche do documento declina consideravelmente em favor da história oral, vestígios arqueológicos, imagens e outros.
Aula 08
Pluralidade temporal X passado estático. A idéia de fluxos em história.
Introdução do espaço como elemento de análise indissociável ao tempo. A História passa a ser uma ciência que interliga passado e presente, fator primordial para sua compreensão.
Problematização da história: novas abordagens e novas perguntas ao passado (terceira geração dos Annales).
Aula 08
No caso dos Annales, elencamos algumas características que contrastam com o positivismo e o historicismo, na posição de opositores. As duas primeiras gerações primam pela aproximação mais íntima com as demais ciências sociais (num primeiro momento a Sociologia e, mais a frente, a Antropologia), retirando delas novos fundamentos e objetos; pela ampliação tanto do que pode ser considerado passível de se tornar objeto da história como as fontes que sustentam as investigações.
Aula 08
Isso tornou-se possível por duas razões fundamentais: a visão problematizadora e o entendimento de que a história contempla as ações coletivas dos homens no tempo/espaço. Além disso, lembramos outras características como o pressuposto da história como ciência, dos vínculos indissociáveis entre o passado e o presente, não como determinismo causal, mas como vias de entendimento que se articulam. A segunda geração, em particular, nos lega um caráter mais estruturalizante da história, a partir de sua concepção de duração dos fenômenos, ensejando as permanências e rupturas e o que pode ser considerado como efêmero, visão essa que mais aproximou os Annales da perspectiva marxista.
Aula 09
A Escola de Annales: segunda geração: 
Fernand Braudel e a história quantitativa.
Objetivos:
Conhecer as principais contribuições do historiador Fernand Braudel para o ofício do historiador.
Perceber a renovação historiográfica possibilitada pelo uso de documentação seriada e desenvolvimento de método específico.
Aula 09
A partir de 1959 o historiador Fernand Braudel assume a direção da Revista dos Annales e, por conseguinte, do movimento que já se consolidara desde a primeira geração com Marc Bloch e Lucien Febvre. 
Braudel vai imprimir uma virada significativa no movimento, no qual aspectos como os pertinentes à aproximação com o campo simbólico, sobretudo os de vieses antropológicos, serão relegados a um segundo plano, em nome de uma perspectiva estruturalizante da história.
Aula 09
Uma das características marcantes do pensamento brudeliano se identifica em sua monumental tese “O Mediterrâneo e o Mundo do Mediterrâneo na Época de Felipe II”, nos quais percebemos sua preocupação com os elementos geográficos e sua influência nos processos históricos, bem como sua percepção de que se fazia necessária uma melhor estruturação do tempo histórico, de modo a definir com mais clareza os eventos que deveriam merecer a atenção do historiador e como eles se desdobram na duração.
Aula 09
Para melhor conhecermos o pensamento e as contribuições de Braudel, é preciso compreender essas organização temporal. Por trás dela, encontra-se tanto a continuidade da crítica que o movimento faz à historiografia do século XIX, quanto a tipificação dos fatos elencáveis à análise histórica, a saber, os da cultura material que, como veremos adiante, ensaiou uma até então inédita aproximação com o pensamento marxista, cujos adeptos até então mostravam-se críticos ao que julgavam um processo de despolitização da história por parte dos Annales.
Aula 09
Tomemos primeiro o tempo da curta duração, a que Braudel vai denominar de tempo dos eventos. O evento pode ser algo significativo, chamativo e povoar as mentes dos contemporâneos. Entretanto, não possui a capacidade de se auto-explicar e, para isso ou pode vincular-se a um conjunto maior de fatos e eventos ou pode simplesmente se tratar de algo singular e efêmero.
Essa abordagem era típica da historiografia política do século XIX, e poderia ser percebida também nas demais esferas da existência humana em sociedade.
Aula 09
Braudel vai criticar essa dimensão temporal quando utilizada como referencial para a escrita da história, pois estimula uma tipologia factualista e fracionária, cuja consequência é a incapacidade de se explicar os fatos de maneira geral. 
Ao historiador interessa a passagem do tempo curto para o longo e longuíssimo tempo, para as permanências e rupturas e suas razões de ser. Portanto, analisa o que estrutura a ação humana. A análise do fato isolado, segundo ele, pertenceria a esfera da atenção da sociologia.
Aula 09
Ao estabelecer o preferível na longa duração, Braudel privilegia em sua concepção os elementos que enraízam o comportamento humano, cujas mudanças são lentas. 
Assim, privilegia as análises voltadas para os campos econômicos e sociais, nas quais pode-se perceber as oscilações e suas respectivas justificativas ao longo do tempo, mostrando assim as variações sociais pelas quais determinados grupos passaram em função de fenômenos naturais ou culturais. 
Aula 09
O tempo da média duração também se faz presente. É o tempo das conjunturas. Aqui podemos entende-las por sua natureza cíclica, que a colocaria entre a estrutura e o evento.
Tais mudanças se fazem sentir nas diferentes dimensões da vida social, dentre as quais podemos destacar as esferas do político, do cultural, do religioso e, até mesmo, de certos elementos ligados aos aspectos econômicos e sociais).
O tempo das variações lentas, pertence à longa duração.
Aula 09
Assim, o autor vai privilegiar como centro de sua análise a cultura material da sociedade. Desse modo, afasta do interesse da história outros elementos pertinentes ao campo simbólico, dentre eles os modos de pensar, agir, sentir, comportar-se e significar a dimensão da existência. 
Tais elementos, apesar de considerados pela antropologia como estruturalizantes do comportamento humano, sobretudo sob a ótica de Levi Strauss, eram vistos como pontuais, efêmeros e incapazes de traduzir no tempo a historicidade.
Aula 09
Um parêntese que mostra certa curiosidade é que ao final da “Era Braudel” e a emergência da terceira geração dos Annales, essa mesma estruturação temporal criada por Braudel que excluiu as dimensões do simbólico da análise historiográfica, serviu para incluí-la, sob novos aspectos.
Não apenas os elementos da economia ou da cultura material de uma sociedade que podem sobreviver ao tempo, transformar-se, oscilar... Os modos de pensar também sobrevivem, se modificam ou são tão perceptíveis que somos capazes de ver suas reminiscências no tempo longo.
Aula 09
Em sua análise, Braudel considerava essencial a investigação acerca das relações entre o homem e seu meio, elemento importante no desenvolvimento de um novo campo de pesquisa, a geo-história.
Nesse ambiente maior na qual a perspectiva braudeliana inseria-se, percebemos como relevante o desenvolvimento, em paralelo, da história quantitativa, cujo caráter serial se faria presente na economia com o estabelecimento de séries de preços e na perspectiva social com as séries populacionais.
Aula 09
Tal perspectiva realmente causou um grande impacto na historiografia. Acreditava-se que inaugurava uma nova e definitiva maneira pela qual os historiadores se relacionariam tanto na análise e organização das fontes quanto na composição da narrativa histórica.
Assim, por exemplo, ao invés de estabelecer um objeto definido para a sua investigação e reunir as fontes circunstanciais necessárias à sua explicação, o historiador primeiramente tem por tarefa elencar e organizar as fontes em séries. Claro que aqui falamos das séries quantificáveis, por isso o campo da economia foi privilegiado nesse momento.
Aula 09
Desse modo, é em função da série de fontes organizadas que o historiador vai constituir e explicar seu objeto de estudo.
Esse seria o ponto maior de intersecção com a perspectiva marxista, pois em ambos coloca-sea base material como meio explicativo dos fatos e da própria organização da sociedade, já que até mesmo os elementos do simbólico, as ideologias e instituições, os comportamentos são derivados e explicáveis a partir do como esses grupos organizam seu modo de produção.
Aula 09
Outro aspecto que comentamos inicialmente e que mostra uma outra característica marcante do pensamento brudeliano é que em seu trabalho acerca do Mediterrâneo, percebemos que seu interlocutor é a geografia. 
Essa escolha não foi por acaso. A obra procura mostrar no tempo longo as relações entre os homens e seu meio, mostrando as mudanças nessa temporalidade, sobretudo nos aspectos econômicos e sociais.
Aula 09
Mas apesar de próximas, é preciso distinguir alguns aspectos da história quantitativa e da história serial. Assim evita-se a confusão recorrente de se considerar que ambas são a mesma coisa.
Quando constituímos uma análise serial, não necessariamente podemos utilizar uma abordagem quantitativa. Isso por que o que interessa, na verdade, é a serie de documentos em si, organizados de forma homogênea e comparada, capaz de dar inteligibilidade a determinado fato.
Aula 09
Assim, se consideramos também as contribuições da perspectiva serial na historiografia contemporânea, podemos afirmar que elas podem tanto oportunizar estudos do tipo quantitativo como também as análises qualitativas. 
Os estudos de Gilberto Freyre mostram exemplos dessa perspectiva, ao analisar a escravidão no nordeste brasileiro a partir de uma série de anúncios de jornais sobre o assunto.
Estratégia semelhante também fora utilizada por Pierre Chaunu em seus estudos sobre a Casa de Contratação de Sevilha.
Aula 10
A Escola de Annales: terceira geração: 
Jacques Le Goff e a multiplicidade de métodos.
Objetivos:
Apresentar e discutir as principais características da 3a geração da Revista de Annales: a multiplicidade de métodos, objetos e temas de estudo.
Aula 10
Em especial, um grande divisor de águas se estabelece quando a história aproxima-se da antropologia. Essa primeira influência já pode ser percebida na primeira geração dos Annales, e se intensifica a partir das décadas de 60/70 do século XX. É justamente nesse período, ou seja,  a partir da terceira geração dos Annales, que podemos identificar seus traços com maior clareza, inclusive, com a constituição da "etnografia histórica".
Aula 10
Na prática, essa aproximação possibilitou a constituição de novo objetos de estudo e de novos elementos que passaram a ser considerados como fontes. Aqui falamos do campo simbólico, de onde emergem os modos de pensar, agir, sentir, os saberes do viver, as crenças, valores e práticas sociais. E também metodologias diferentes como a pesquisa-participante, a imersão em grupos, os grupos focais, as entrevistas estruturadas ou conversacionais, entre outras.
Aula 10
É importante lembrar que toda essa ênfase dada na terceira geração dos Annales foi uma reação à "Era Braudel", tempo no qual o movimento assumia um caráter mais estruturalista, privilegiando os aspectos quantitativos da história. Assim, nessa fase de transição, observamos na aproximação com os referentes antropológicos, o campo que outrora estava restringido à história das mentalidades que, a partir de então, pulveriza-se em diferentes perspectivas temáticas, inseridas num grande conjunto denominado "Nova História Cultural".
Aula 10
Exemplos dessa retomada na história cultural pode ser encontrado em Darton em sua obra "O Grande Massacre de Gatos", onde trabalha com as visões de mundo que ensejam, organizam e são sentidos a práticas em determinados contextos e grupos específicos, Propriamente, o contexto maior dessa obra se concentra na apropriação dos referentes iluministas, quando capilarizados nas aldeias e povoados franceses.
Aula 10
Cabe aqui um esclarecimento adicional. A obra de Darton, aqui denominada como pertencente ao campo da história cultural, tem um viés micro-historiográfico como metodologia. O mesmo observamos na história do moleiro "Menocchio" e a lide entre sua cosmogonia e as ideia vigentes nos tempos do Santo Ofício, em o "Queijo e os Vermes", de Ginzburg. A micro-história se caracteriza por uma redução da escala de análise. 
Aula 10
Ao fazê-lo, o historiador passa a interessar-se em dar voz a personagens obscuros, pitorescos, a fenômenos exógenos ao que se presumia um universo homogêneo de pensamento e conduta. Mais até. A micro-história interessa-se prioritariamente pelo exame minucioso das estruturas de pensamento que regulam determinadas crenças, práticas ou que constituem a experiência biográfica de determinado personagem. 
Aula 10
Um exemplo é a proposta da "descrição densa" ou seja, o exaustivo esgotamento de todos os recursos e informações das fontes selecionadas, estruturando a a análise a partir de um considerável conjunto de indícios.
Especificamente com relação a História, essa perspectiva ensejou uma nova reviravolta conceitual e metodológica. É a emergência do campo simbólico por meio das múltiplas abordagens herdeiras da História das Mentalidades (Nova História Cultural e outras), cujo impacto direto se traduz pela pluralidade de abordagens, de relativização da verdade histórica, a multiplicidade de fontes e narrativas válidas e a preferência do específico em detrimento das sínteses gerais.
Aula 11
A Escola dos Annales: a crítica
Objetivos:
Apresentar e discutir as principais críticas feitas à Escola de Annales: a não incorporação do político como esfera importante para o entendimento de uma sociedade; a defesa de uma ciência empírica; negação à filosofia da história; a despolitização.
Aula 12
Reflexões Acerca do Ofício do Historiador: 
História X Memória
Objetivos?
Apresentar e discutir o conceito de memória; diferenciar História e memória;
Analisar memória como possível fonte histórica.
Aula 12
 De acordo com Nora, apesar de ambas estarem de certo modo correlacionadas, pertencem a categorias distintas. A história é o produto sistematizado das opções teóricas, metodológicas, ideológicas do historiador. Responde a questões específicas, a problemas postos a fatos que já aconteceram e que precisam ser explicados. A memória, apesar de carregar elementos de longa duração, só existe se for no presente. 
Aula 12
Toda memória encontra-se no tempo presente pois, para que exista, se faz necessária a existência de um grupo que a mantenha.
Desse modo, ela é definida de acordo com os valores, visões de mundo e intenções de quem a reconstrói ou mantém.
Como a sociedade é complexa e composta por muitos grupos sociais, temos não apenas a coexistência de memórias mas, não raro, uma lide pela pertença e sua manutenção.
Aula 12
Desse modo, podemos encontrar memórias que agregam ou se disseminam de modo hegemônico e outras outsiders.
Quando a memória é hegemônica, percebemos sua presença nos tipos de monumentos ou nas instituições encarregadas de preservá-las como museus e seus congêneres.
Assim, podemos dizer que lá não está “a memória”, mas uma opção socialmente definida (ou por um grupo com força suficiente para isso) para que seja preservada e difundida.
Aula 12
Já a história se dirige ao passado a partir de problematizações construídas pelo historiador. Portanto, é limitada pelas regras da ciência e pelo tipo de raciocínio que utiliza, indutivo ou dedutivo.
Quando indutivo, baseia-se em indícios e elementos que podem levar a conclusões diferentes das premissas. Se dedutivo, antecipa e limita as conclusões ao proposto como objeto.
Aula 12
É claro que existem versões diferentes sobre os fatos. Por isso a história é plural. Entretanto, não se iguala à memória, como propunham os gregos da fase heróica (Clio como filha de Mnemosine).
A memória pode sofrer desvios emocionais ou deliberadamente postos para se ter a versão desejável, o que não pode ou não deve ser feito em história.
Aula 12
Todos são portadores de memória? Certamente sim. Entretanto é um equívoco crer que são construções individuais. A memória é um produto social, portanto,condicionado ou influenciado pela coletividade.
Os indivíduos aderem a determinados modos de ver o mundo e, assim, constituir o lembrar. As vivências tem aspectos particularizantes, mas se bem observarmos, não se constituem como abolutamente únicas.
Aula 12
Todos os indivíduos fazem história? Depende do que se entende nessa pergunta. Se falamos da historiografia a resposta é não. História é produto do ofício do historiador.
Mas os indivíduos ao viverem em sociedade produzem ou inserem-se nos fatos que compõem o tecido de sua existência. Nesse caso podemos ser partícipes da história e construtores dos sentidos do nosso viver.
Aula 12
Coube a Maurice Halbwachs essa definição mais clara de que a memória é criada e sustentada por grupos sociais.
De certo modo, Hobsbawm também nos alertara da possibilidade da criação ou falsificação das memórias sociais, quando deliberadamente se utilizam essas construções para justificar certas ideias ou ancorar comportamentos, como foi o caso dos nacionalismos emergentes no século XIX/XX e suas consequências.
Aula 13
Documento e monumento: possibilidades e limites
Objetivos:
Analisar e discutir o processo investigatório que leva à construção do saber racional; apresentar e discutir os conceitos de documento e monumento; relativizar a imparcialidade e objetividade de ambos; analisar documento e monumento como guardiões de memória social.
Aula 13
Tanto a racionalidade quanto a historicidade tem por objetivo explicar o mundo no qual vivem os diferentes grupos sociais. A dicotomia entre saber e conhecer pode ser encontrada desde a filosofia platônica, na qual estabelecia uma diferenciação entre a opinião e o conhecimento.
A racionalidade é o pressuposto que norteia o discurso científico. Na verdade, desde a proposta cartesiana, é o método quem fala de modo universal, ou seja, os critérios de cientificidade são únicos e aplicáveis ao conhecimento que se deseja investigar.
Aula 13
Assim, na busca de um conhecimento racional e objetivo, devemos seguir certos critérios de validação das evidências, das fontes e estabelecer uma categoria específica de observação, a que busca os indícios que sustentam nossas hipóteses e premissas de trabalho. 
Desse modo, não nos baseamos ao produzir o discurso histórico em impressões superficiais ou mesmo em conceitos distorcidos. Ao contrário, ao questionar o passado, o fazemos com o cuidado de fundamentar nossa resposta.
Aula 13
Vimos que desde os tempos de Heródoto e Tucídites tínhamos a coexistência de duas narrativas acerca do que poderíamos qualificar como história sob os moldes aproximados da contemporaneidade. Uma que não seria propriamente um discurso historiográfico, mais pertinente ao campo da literatura ou da ficção histórica, na qual coexistem elementos do maravilhoso, bem como acréscimos por parte dos narradores de modo a suprir eventuais lacunas com argumentos desejáveis.
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A outra, própria dos próceres da história citados inicialmente, consistia num rigor precoce que exigia a verificação dos fatos da maneira mais direta possível, seja preferencialmente tomando parte deles, seja buscando os informantes que possam dar testemunhos válidos. 
Além disso, as viagens eram outro recurso utilizado para se conhecer in loco as características dos povos e lugares, sendo uma modalidade importante de observação, ainda que sujeita a equívocos e impressões distorcidas.
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Outros exemplos podem ser dados quando da transição entre os historiadores antiquários para os historiadores de ofício, no período dos séculos XVII/XVIII. Decerto exercer a atividade historiográfica requeria uma habilidade e certos requisitos prévios por parte dos que se dedicavam a essa artesania. 
Na verdade, era uma função a cargo de eruditos, que além de possuírem saberes relacionados a idiomas, poderiam dispor de recursos para adquirir peças ou visitar os locais de interesse histórico. 
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Contudo foi no choque entre as perspectivas das ciências da natureza e as necessidades intrínsecas da área de humanas, no processo de auto-afirmação de seu estatuto de cientificidade, que fez estabelecer uma tipologia de história considerada objetiva e amparada em uma categoria igualmente específica de documentos, capazes de gerar um discurso o mais isento possível de subjetividades, ambicionando uma narrativa que fizesse apenas falar o que os documentos tinham a dizer. 
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Era a historiografia do século XIX e sua predileção pela temática política e pelas fontes documentais produzidas pelo Estado.
Nos dias atuais, no período pós-Annales, apesar da crescente multiplicidade de abordagens que afloram no campo, observamos que o tipo de conhecimento produzido pelo historiador continua a ser construído mediante a apresentação de provas confiáveis e de análises que extraiam delas os elementos cabíveis a sustentação dos objetos propostos.
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Não podemos esquecer que tanto a história quanto a memória emergem das ações humanas. Entretanto é no pensamento de Le Goff que podemos encontrar algumas distinções fundamentais.
Vamos analisar aqui como cada tipo de conhecimento é produzido e suas finalidades, através dos conceitos de documento e monumento.
Os monumentos se encontram na esfera da memória coletiva, como seu produto direto. Já os documentos são produtos oriundos o ofício do historiador. Vamos explicar um pouco mais essa diferença entre ambos.
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Comecemos por um ponto em comum. Tanto o monumento quanto o documento não se configuram como produtos legados de um passado que sobreviveu. 
Os monumentos são materiais escolhidos por determinados grupos como algo cujos sentidos devem permanecer por sua importância no modo como o seu mundo ou elementos deste são por ele explicados em todo ou em parte, evocando o passado sob diferentes aspectos.
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Já o documento é produto da seleção por parte do historiador, que o definiria como tal. De início, sobretudo seguindo a tradição que se consolidara ao longo do século XIX, os documentos escritos teriam valor de prova, o que acompanhava uma perspectiva judiciária de seu valor.
Historiadores como Fustel de Coulanges propunham, no melhor do espírito de seu tempo, que os historiadores evitassem acessar os documentos com ideias pré-concebidas, preferindo, ao contrário, que os deixassem falar sobre seu conteúdo real. 
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Le Goff em sua análise procura ir além e romper com a crença de que o valor do documento é relacionado ao fato de ser portador do texto escrito. Na verdade, temos a ampliação do conceito de documento.
Assim, é tão possível fazer história com os documentos escritos quanto é possível também fazê-la quando esse tipo específico de documentação não existir.
Assim, os documentos podem estar relacionados a uma categoria muito mais ampla, envolvendo por exemplo elementos materiais e imateriais.
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Podemos dizer que essa perspectiva proporcionou uma verdadeira revolução documental, ou seja, proporcionou, conjugado com os avanços tecnológicos e conceituais, novas perspectivas tanto para a história quantitativa, como as que utilizam majoritariamente as séries documentais, quanto as qualitativas que, além das referidas séries, também poderiam agora debruçar-se sobre novos objetos e fontes, advindos da intersecção entre a história e as demais ciências sociais, sobretudo, a antropologia.
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Para Le Goff todo documento é um monumento. Essa afirmação se baseia no fato de que tanto um quanto o outro foi produzido com determinada intencionalidade e é fruto de escolhas deliberadas sendo, portanto, parcial.
Ele é um produto de uma sociedade que o constituiu, que o fabricou e, portanto, possui a finalidade não apenas de preservar mas de estabelecer algo como o preferível. Entretanto, só possui o estatuto de historicidade quando o olhar do historiador se debruça sobre ele. E isso tem uma razão especial.
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Essa razão se encontra na afirmação polêmica de Le Goff de que todo documento é uma mentira. Contrariando a crença de que o documento escrito é o portadorda verdade, comum ao século XIX e aos continuadores dessas perspectivas no século subsequente, o autor mostra que, como qualquer outro produto social, é sujeito às relações de poder, às fraudes, falsificações, manipulações, interesses e pelos seus autores que, não raro, falam dos lugares onde ocupam e desejam preservar, sobretudo com relação aos poderes.
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Assim, concluímos que o historiador é sujeito histórico de seu tempo e que os documentos são construções dos diferentes grupos sociais e que reflete intencionalidades e versões consideradas como as preferíveis por quem as produziu.
Os monumentos, articulam-se também à memória coletiva e, não raro, estão associados a ideia de patrimônio, algo que é herdado e suportado por determinado grupo como desejável ao estabelecimento de sua identidade e, por que não dizer, de sua historicidade.
Aulas 14 e 15
De acordo com o Plano de Aulas são dedicados a revisões em sala dos temas trabalhados.
Não possuem indicações de conteúdos.
Bibliografia
BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. 
BURKE, Peter. A escola dos Annles: a revolução francesa na historiografia. São Paulo: Unesp, 1997. 
DOSSE, François. História em migalhas: dos Annales a Nova História. São Paulo: EDUSC, 2003. 
Bibliografia
CERTEAU, Michel de. Escrita da história. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.
DOSSE, François. História em migalhas: dos Annales a Nova História. São Paulo: EDUSC, 2003.
FONTANA, Josef. História: análise do passado e projeto social. São Paulo: Edusc, 1998.
GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras,
1990.
WHITE, Hayden V. Trópicos do Discurso: ensaios sobre a crítica da cultura. São Paulo, Edusp, 1994.

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