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TRABALHO EM EQUIPE O trabalho em equipe é um processo coletivo em que ocorre uma relação de reciprocidade, isto é, de troca entre diferentes intervenções e interações dos profissionais que compõem o quadro. Quando se pensa no trabalho em equipe, supõe-se uma forma de atividade estruturada, organizada e com aproveitamento de habilidades, potencialidades e talentos de seus membros. É possível ter uma visão global e coletiva do trabalho executado, uma vez que as tarefas são compartilhadas e as pessoas precisam cooperar umas com as outras para que alcancem os objetivos propostos. Pensando na interação de saberes desses diversos profissionais, é preciso entender como ocorrerem as diferentes perspectivas nas formas de trabalho e de assistência em saúde. O termo disciplina se refere ao saber de determinada especialidade e da atuação de um profissional da área da saúde. O trabalho em saúde deve envolver práticas que se identifiquem e que, pela necessidade da evolução do conhecimento e pela complexidade dos problemas de saúde na realidade atual, têm sido classificadas como multidisciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar MULTIDISCIPLINAR A multidisciplinaridade é caracterizada por mais de uma disciplina atuando ao mesmo tempo, mas aparentemente sem que uma tenha relação com a outra. Cada disciplina, ou área do conhecimento, permanece com sua metodologia própria, e o resultado do problema discutido não é integrado entre elas. A equipe multiprofissional se preocupa em atender as necessidades globais dos clientes de maneira independente, com cada profissional executando seu plano de tratamento. A multidisciplinaridade é, então, um conjunto de disciplinas que trata de forma simultânea determinada questão do cliente, mas sem que os profissionais estabeleçam trocas entre si. A solução do problema discutido precisa das informações de cada um dos profissionais envolvidos no cuidado, mas suas disciplinas não são alteradas ou enriquecidas com a discussão do caso. Segundo Almeida Filho (2005), na multidisciplinaridade cada especialista atua com base em seus conhecimentos, mas sem que eles cheguem juntos a uma síntese. Não há um trabalho coordenado nem uma identidade do grupo. Na maioria das vezes, o médico é responsável pela decisão do tratamento, e os outros profissionais se adequam às necessidades do cliente a partir das decisões do médico (FOSSI; GUARESCHI, 2004). As disciplinas são justapostas em um único nível, não há, como já vimos, cooperação sistemática entre os saberes das diversas disciplinas. A discussão e as decisões entre as disciplinas são de ordem administrativa e, na maioria das vezes, externas ao campo técnico-científico. PLURIDISCIPLINAR A pluridisciplinaridade é definida como estudo concomitante de um objeto de uma determinada disciplina por várias outras. É importante notar que a pluridisciplinaridade é uma abordagem que valoriza a única disciplina que está em estudo, abordando o conteúdo de forma segmentada. As disciplinas se justapõem em torno de um tema único. As diversas disciplinas estão “situadas geralmente no mesmo nível hierárquico e agrupadas de modo a fazer aparecer as relações existentes entre elas” (MENEZES; SANTOS, 2002), com uma relação e cooperação – o que não ocorre na perspectiva multidisciplinar – mas não existe uma ordenação. Existe uma complementaridade entre os conhecimentos das disciplinas, mas não há preocupação de criar um axioma comum entre elas. Há cooperação entre os profissionais das diferentes especialidades, mas eles permanecem com objetivos diferentes, ou seja, com seus objetivos específicos. INTERDISCIPLINAR O conceito de interdisciplinaridade surgiu no século XIX, mas apenas no século seguinte a atuação interdisciplinar passou a ser empregada na ciência. É caracterizada por ações recíprocas, isto é, por ações de troca entre os saberes das diversas disciplinas que envolvem o cuidado ao cliente. Nessa perspectiva, existe diálogo entre os profissionais, o que permite que as diferenças entre os olhares sobre o cuidar sejam respeitadas e compreendidas como campos específicos do conhecimento científico de cada uma delas. O trabalho interdisciplinar é mais integrador, por unir os membros da equipe. Cada um consegue compreender melhor seu próprio trabalho e o dos outros profissionais, pois todos têm a mesma finalidade: o cuidado ao cliente; assim, conseguem aglutinar suas forças de trabalho para a ação terapêutica de produzir saúde. Quando realizam o trabalho de forma interdisciplinar, os profissionais de saúde podem entender as dimensões biológica, psicológica, social, cultural e ética do ser humano que estão cuidando. Os saberes de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, nutricionistas, assistentes sociais, farmacêuticos, psicólogos, fisioterapeutas e outros se integram para a compreensão ampliada do ser humano que está sendo cuidado (MATOS; PIRES; SOUSA, 2010). A saúde é um assunto para muitos profissionais, a integração da equipe é fundamental para que o atendimento possa alcançar a integralidade do ser humano que está sendo cuidado. Na interdisciplinaridade existe a preocupação de se estabelecer uma base axiomática comum entre as disciplinas a partir do nível hierárquico ocupado por uma delas. O papel hierárquico pode ser de qualquer uma das disciplinas, sendo estabelecido a partir da proximidade que a especialização tem com o tema discutido entre os profissionais. O trabalho interdisciplinar vem sendo considerado uma nova forma de organização do trabalho em saúde porque envolve os diversos saberes que estudam as interações somáticas e psicossociais das pessoas e podem encontrar formas adequadas de uma prática integradora, a fim de atender as demandas dos clientes. Na atuação interdisciplinar, a equipe precisa estabelecer novas formas de relacionamento com a hierarquia institucional, a gestão, a divisão e a organização do trabalho e, ainda, com os membros da equipe entre si e com os usuários do serviço de saúde em que atuam. TRANSDISCIPLINAR A transdisciplinaridade é a abordagem que estuda vários níveis de realidade. A ideia na transdisciplinaridade é buscar o sentido da vida por meio da relação entre os vários saberes (ou entre as várias disciplinas), em que nenhum saber (ou disciplina) é mais importante que o outro. O primeiro pensador a definir a transdisciplinaridade como um grau mais elevado de interdisciplinaridade foi o Jean Piaget (1896-1980). Ele considerava que em algum momento haveria a necessidade de uma conexão mais intensa entre as disciplinas para que se chegasse a um nível mais elevado de interação. “O prefixo trans quer dizer aquilo que está ao mesmo tempo entre, através e além das disciplinas” (KRAUSZ, 2008), ou seja, não é a simples reunião de disciplinas nem a possibilidade de que duas ou mais disciplinas dialoguem entre si. Significa buscar a integração do conhecimento científico das disciplinas com o conhecimento construído historicamente pela humanidade. Pretende compreender o mundo atual e precisa da unidade do conhecimento dos saberes das diversas disciplinas (ciências exatas, ciências humanas, arte, cultura, tradição, religião, experiência interior da pessoa e pensamento simbólico), reconhecendo o inesgotável em cada uma delas, mas tentando encontrar pontos de interseção e pontos em comum. Não existe fronteiras entre os saberes (FERIOTTI, 2009). As equipes trabalham entre as disciplinas, através das disciplinas e vão além das disciplinas para buscar compreender o mundo presente. O desenvolvimento do conhecimento, da cultura e da complexidade humanasão considerados quando se trabalha com o olhar transdisciplinar. Então, existe a preocupação de reconhecer a importância da genética, do biológico, do psicológico, do social e da parte espiritual do ser humano que está sendo cuidado. Existe o reconhecimento de vários níveis de realidade, e não há divisão do ser humano ou do saber em partes distintas, pelo contrário, valoriza-se a subjetividade humana na produção do conhecimento. É uma tentativa de responder a uma nova visão de homem e de natureza integrados com o paradigma contemporâneo, visando a uma relação diferente entre sujeito e objeto. Além disso, considera os princípios de inteireza e inclusividade, resgatando valores como gentileza, cooperação, beleza, alegria e justiça, como possibilidades reais para todos. É a postura mais adequada para trabalhar os conhecimentos de diversas disciplinas porque abre caminhos para promover discussões, aproximação e interação entre os diferentes saberes na busca de um sentido mais humano para o conhecimento (SILVA; CAMILLO, 2007) e oferece uma assistência global em que não há lacuna entre o biológico e o psicossocial, permitindo que o homem seja visto em sua totalidade. Para Edgar Morin (1921), a transdisciplinaridade é uma ciência que propõe uma nova forma de explicação da vida, porém não a única nem a mais legítima, pois a ciência é uma criação humana e por isso não pode, nem deve, estar alheia àquilo que a configura: sua natureza complexa.
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