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Universidade Estadual Vale do Acaraú Centro de Ciências Exatas e Tecnologia Curso de Licenciatura em Biologia e Química MANUAL DIDÁTICO DE QUÍMICA ORGÂNICA I Autor: Walber Henrique Ferreira Ribeiro Mestre em Química Orgânica pela UFC Professor Assistente da Universidade Estadual Vale do Acaraú Sobral – CE. Agosto de 2010. Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. SUMÁRIO CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO À QUÍMICA ORGÂNICA ........................................................................................ 1 1 POR QUE É IMPORTANTE ESTUDAR QUÍMICA ORGÂNICA? ................................................................. 1 2 HISTÓRICO DA QUÍMICA ORGÂNICA ............................................................................................................ 5 3 CARACTÉRISTICAS DO CARBONO – POSTULADOS DE KEKULÉ .......................................................... 7 3.1 POSTULADOS DE KEKULÉ ................................................................................................................................ 7 3.2 CONFIGURAÇÃO ELETRÔNICA E HIBRIDIZAÇÃO DO CARBONO ........................................................... 8 CAPÍTULO 2 – HIDROCARBONETOS E FÓRMULAS ESTRUTURAIS ............................................................... 11 1 LIGAÇÕES COVALENTES CARBONO – CARBONO ................................................................................... 11 1.1 ALCANOS – METANO E ETANO .................................................................................................................... 11 1.2 ALQUENOS: HIDROCARBONETOS COM DUPLA LIGAÇÃO CARBONO – CARBONO; ETENO E PROPENO ............................................................................................................................................................. 12 1.3 ROTAÇÃO LIMITADA E DUPLA LIGAÇÃO ................................................................................................... 12 1.4 ALQUINOS: COMPOSTOS COM LIGAÇÃO TRIPLA CARBONO – CARBONO; ETINO (ACETILENO) E PROPINO ........................................................................................................................................................... 13 2 FÓRMULAS ESTRUTURAIS .............................................................................................................................. 14 CAPÍTULO 3 – FUNÇÕES ORGÂNICAS E NOMENCLATURA ............................................................................. 16 1 FUNÇÕES ORGÂNICAS ...................................................................................................................................... 16 1.1 HALETOS DE ALQUILA OU HALOALCANOS .............................................................................................. 16 1.2 ÁLCOOIS .............................................................................................................................................................. 16 1.3 ÉTERES ................................................................................................................................................................ 16 1.4 AMINAS ............................................................................................................................................................... 17 1.5 ALDEÍDOS E CETONAS .................................................................................................................................... 17 1.6 ÁCIDOS CARBOXÍLICOS, AMIDAS E ÉSTERES ........................................................................................... 17 1.7 NITRILAS ............................................................................................................................................................. 17 2 CLASSIFICAÇÃO DO CARBONO E DAS CADEIAS CARBÔNICAS .......................................................... 21 3 NOMENCLATURA DE COMPOSTOS ORGÂNICOS ..................................................................................... 22 3.1 GRUPO ALQUILA E RAMIFICAÇÕES ............................................................................................................. 22 3.2 AS REGRAS DA NOMENCLATURA ................................................................................................................ 24 CAPÍTULO 4 – PROPRIEDADES FÍSICAS E ESTRUTURA MOLECULAR ........................................................ 25 1 PROPRIEDADES FÍSICAS DOS COMPOSTOS ORGÂNICOS ..................................................................... 25 1.1 FORÇAS INTERMOLECULARES ..................................................................................................................... 25 1.2 SOLUBILIDADE .................................................................................................................................................. 27 CAPÍTULO 5 – RESSONÂNCIA .................................................................................................................................... 29 1 LIGAÇÕES DUPLAS CONJUGADAS E ELÉTRONS PI CONJUGADOS .................................................... 29 2 RESSONÂNCIA ..................................................................................................................................................... 29 CAPÍTULO 6 – ESTEREOQUÍMICA ........................................................................................................................... 31 1 ESTEREOQUÍMICA - APRESENTAÇÃO .......................................................................................................... 31 1.2 ISOMERIA CONFORMACIONAL ..................................................................................................................... 31 2 ESTEREOISÔMEROS CONFIGURACIONAIS ............................................................................................... 33 2.1 DIASTEROISÔMEROS GEOMÉTRICOS CIS – TRANS E DESCRITORES E – Z ........................................... 33 2.2 ENANCIÔMEROS (ou ENANTIÔMEROS) E MOLÉCULAS QUIRAIS .......................................................... 34 2.3 ATIVIDADE ÓPTICA E POLARÍMETRO ......................................................................................................... 35 2.4 NOMENCLATURA DOS ENANTIÔMEROS: SISTEMA (R-S) ....................................................................... 38 Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. CAPÍTULO 7 – ÁCIDOS E BASES EM QUÍMICA ORGÂNICA .............................................................................. 40 1 DEFINIÇÕES DE ÁCIDOS E BASES ................................................................................................................. 40 1.1 DEFINIÇÃO DE BRONSTED-LOWRY PARA ÁCIDOS E BASES ................................................................. 40 1.2 DEFINIÇÃO DE LEWIS PARA ÁCIDOS E BASES .......................................................................................... 41 2 AUTO IONIZAÇÃO DA ÁGUA E pH ................................................................................................................. 41 2.2 DISSOLUÇÃO DE UM ÁCIDO FORTE EM ÁGUA .......................................................................................... 42 2.3 DISSOLUÇÃO DE UMA BASE FORTE EM ÁGUA ......................................................................................... 43 3 FORÇA DE ÁCIDOS E BASES ............................................................................................................................ 43 CAPÍTULO 8 – REAÇÕES ORGÂNICAS .................................................................................................................... 45 1 REAÇÕES ORGÂNICAS .....................................................................................................................................45 1.1 RESUMO DOS PRINCIPAIS TIPOS DE REAÇÕES ......................................................................................... 45 1.2 MECANISMOS DE REAÇÃO ............................................................................................................................. 49 1.3 MECANISMO DE REAÇÕES RADICALARES ................................................................................................. 49 1.4 MECANISMO DE REAÇÕES POLARES ........................................................................................................... 50 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .................................................................................................................................. 52 Capítulo 1 – Introdução à Química Orgânica Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 1 CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO À QUÍMICA ORGÂNICA 1 POR QUE É IMPORTANTE ESTUDAR QUÍMICA ORGÂNICA? Nós estamos à volta com a química orgânica e seus produtos. Nosso corpo é uma máquina complexa na qual milhares de fenômenos físicos e químicos estão ocorrendo a todo momento envolvendo substâncias orgânicas. Por exemplo, no momento que você lê essas palavras, seus olhos estão usando um composto orgânico, o retinal, que converte luz visível em impulsos nervosos. Segurar esta apostila ou um livro qualquer requer que seus músculos consumam ATP, para moverem moléculas de proteínas e, para isso, açúcares são convertidos em outras moléculas para liberar energia. O nosso pensamento é possível porque muitas moléculas orgânicas, os neurotransmissores, são lançados nas fendas existentes entre os neurônios conectando-os para que os impulsos nervosos viajem através do cérebro. Muitos dos fenômenos citados acima e tantos outros, dentro ou fora do corpo humano ou de um animal, envolvem um nível de abstração e complicação que nós, químicos, não compreendemos por completo. E é por isso mesmo, e pela “sede por entender” e por outras razões, que estudamos e realizamos pesquisas. Nesse processo de busca do conhecimento, muitos cientistas cooperam: químicos, matemáticos e físicos se juntam para entender o comportamento das moléculas e, juntamente com os biólogos, buscam entender como esse comportamento determina o fenômeno da vida. As pesquisas, não apenas pelo simples prazer de conhecer, como também por causa dos interesses financeiros dos grupos que detêm o poder político e econômico, produziram os conhecimentos e, juntamente com as soluções técnicas, determinaram a sociedade em que vivemos. Alimentos industrializados, medicamentos, roupas, itens do lar, automóveis etc. são os “bons” frutos desses empreendimentos. Apesar de testemunharmos o grande desenvolvimento científico e tecnológico quase ilimitado, somos obrigados, também, a conviver com a miséria, a fome, a criminalidade, a disseminação das drogas, o descaso com a vida humana e a depredação do meio ambiente. Estes últimos, o outro lado da mesma moeda. A química orgânica começou estudando substâncias extraídas dos seres vivos, daí o adjetivo “orgânica”, que significaria: “que vem dos organismos vivos”. O seu objeto de estudo diferia daquele estudado pela química inorgânica, exatamente porque nesta outra área as substâncias proviam do mundo mineral. Atualmente, a química orgânica tem outra definição. Seu objeto de estudo são os compostos de carbono juntamente com outros elementos, tantos aqueles encontrados nos seres vivos, como outros que se obtêm de diferentes fontes, inclusive produzidos em laboratório. As principais fontes de compostos orgânicos são os seres vivos, o petróleo e o carvão mineral. Todavia, no passado, os compostos orgânicos conhecidos eram aqueles que podiam ser extraídos dos óleos essenciais, destilados de plantas e os alcalóides obtidos por precipitação a partir de extratos de plantas, com auxílio de algum ácido. O mentol é um famoso exemplo de um composto odorífero obtido dos óleos essenciais da hortelã, e a cis-jasmona, o composto responsável pelo cheiro característico de jasmim. A quinina, alcalóide extraído de espécies de árvores do gênero da Chinchona, pertencente à família Rubiaceae e descoberta originalmente no Peru, é empregado no tratamento da malária e de arritmias cardíacas1,2. A principal fonte de carbono disponível no século XIX era o carvão. A destilação do carvão para obtenção de um gás que servia como combustível para iluminação e aquecimento (principalmente o hidrogênio e o monóxido de carbono) também produzia um piche marrom rico em compostos aromáticos tais como benzeno, piridina, fenol, anilina e tiofeno. 1 Bolzani, M. da S.; Bolzani, V. da S. Do Peru à Java: A trajetória da quinina ao longo dos séculos. Disponível em <http://www.sbq.org.br/filiais/adm/Upload/subconteudo/pdf/Historias_Interessantes_de_Produtos_Naturais04.pdf> Acesso em 19 de set. de 2010. 2 Quinina. Wikipedia. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Quinina> Acesso em 19 de set. 2010. Capítulo 1 – Introdução à Química Orgânica Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 2 O fenol era usado como anti-séptico em cirurgias por causa de suas propriedades bactericidas. Atualmente é usado, por exemplo, em desinfetantes e serve como padrão de comparação para medir a atividade de substâncias bactericidas. É matéria prima para a síntese da aspirina3 e de outros medicamentos, também da síntese resinas e polímeros, como a baquelite4, e na produção do ácido pícrico, empregado na preparação de explosivos. O O OH O Ácido acetil salicílico A anilina tornou-se a base da indústria das tintas. Foi a partir desse composto que se iniciou a pesquisa de novos compostos orgânicos coloridos de origem sintética, tornando-os mais importantes que aqueles de origem natural. A título de exemplo, cita-se uma substância derivada da anilina e ainda disponível, o marrom de Bismarck, uma tinta com a qual muitos livros e documentos foram escritos no passado. A partir do século vinte, a descoberta, extração, destilação e processamento do petróleo, mistura de hidrocarbonetos da qual se extraem combustíveis, asfalto e matéria-prima para a fabricação de muitos produtos, proporcionou um grande impulso no desenvolvimento da química orgânica e da indústria que dependia dela. Concomitantemente, várias fontes naturais foram sendo empregadas para a obtenção de novas substâncias, tais como algas, fungos, corais e bactérias. No momento em que essa monografia está sendo escrita, cerca de 18 milhões de substâncias orgânicas já foram descobertas. Quantas mais são possíveis? Não parece haver limites (exceto o número de átomos no universo). Imagine que você tenha sintetizado a maior cadeia carbônica da atualidade. Basta adicionar mais um átomo de carbono e uma nova molécula terá sido obtida! Esse processo, sem considerar as diferentes posições onde aquele átomo de carbono adicional será adicionado, e o processo pode prosseguir ad infinitum. Contudo, esses milhões de compostos orgânicos não são apenas hidrocarbonetos. São compostos oxigenados, nitrogenados, sulfurados etc. conforme contenham átomos de oxigênio, nitrogênio, enxofre etc. E em cada caso, diferentes propriedades físicas e químicas surgem, que são responsáveis, pela sua aparência, estado de agregação, pontos de fusão e ebulição, reatividade, atividade biológica, farmacológica, toxidez etc. Os compostos orgânicos, dada essa variabilidade de possibilidades, podem se apresentar como sólidos cristalinos ou amorfos, óleos, graxas, plásticos, elásticos, líquidos fixos ou voláteis ou gases. Alguns exemplos que nos são familiares incluem o açúcar cristal branco de mesa (sacarose), um composto barato isolado de plantas como a cana de açúcar, a beterraba,a batata etc., o petróleo, como já citado, que é uma mistura de diferentes hidrocarbonetos. Os compostos orgânicos podem ser coloridos ou incolores. Na verdade, é possível pintar as cores do arco íris com as tintas orgânicas descobertas na atualidade, cobrindo todo o espectro de cores (ver quadro 1). A cor não é a única característica pela qual nós reconhecemos um composto. A presença de muitas substâncias é percebida também através do seu odor. E nem só de flores é feita a vida. Muitos odores desagradáveis são substâncias orgânicas. Por exemplo, o gambá emite duas substâncias sulfuradas quando se sente ameaçado, responsáveis pelo seu odor desagradável característico. 3 A aspirina é o nome comercial do ácido acetil salicílico. 4 A baquelite é uma resina sintética, quimicamente estável e resistente ao calor, que foi o primeiro produto plástico. É formado pela reação entre o fenol e o formaldeído, formando um polímero chamado polifenol. Para mais informações, consultar o endereço <http://pt.wikipedia.org/wiki/Baquelite>. Tióis liberados pelo gambá Capítulo 1 – Introdução à Química Orgânica Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 3 Quadro 1.1 – Exemplos de compostos orgânicos coloridos. Cor Composto Fórmula estrutural Vermelho 3’-metoxibenzocicloheptatrien-2’-ona Laranja Dicloro diciano quinona Amarelo Diazometano Verde Julolidino 9-nitroso Azul Azuleno Púrpura Trifluorometano nitroso O pior fedor, todavia, não é nem aquele produzido pelo gambá, nem o derivado da decomposição de organismos vivos ou do ovo podre. O pior fedor foi produzido em um laboratório, em 1889, na cidade de Freiburg e causou a evacuação dessa cidade. As tentativas de produzir tioacetona por craqueamento da tritioacetona deu origem a um poderoso odor insuportável que se espalhava rapidamente sobre uma grande área da cidade, causando desmaios, vômitos e pânico. O laboratório em que se trabalhava foi abandonado. Muitos odores agradáveis são substâncias orgânicas. Por exemplo, a essência da maçã, da laranja, do limão, morango, lavanda e muitos perfumes são moléculas orgânicas produzidas pelas plantas, e muitas são sintetizadas em laboratório. S-limoneno odor de limão R-limoneno odor de laranja O odor têm um papel muito importante, além de tornar o ambiente agradável ou uma comida apetitosa. A comunicação química entre insetos, por exemplo, é realizada através de substâncias orgânicas pertencentes a uma classe de hormônios denominada feromônios. De acordo com Sá e Fernandes (2010), Os feromônios [...] são substâncias excretadas por organismos vivos e detectadas por outros indivíduos da mesma espécie, produzindo mudanças de comportamento específicas. Estes compostos, portanto, atuam na comunicação intraespecífica (entre membros de uma mesma espécie). Como exemplos, podem ser citados os feromônios sexuais (provocam atração entre CH3C O CH2CHCH3 CH3 Acetato de isobutila, essência de morango Capítulo 1 – Introdução à Química Orgânica Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 4 macho e fêmea), os feromônios de alarme (produzem estado de alerta pela aproximação de algum predador natural) e os feromônios de trilha e oviposição (demarcam, respectivamente, o caminho até uma fonte de alimentos e o local onde os ovos foram depositados). Como exemplos de alguns feromônios, podem ser citados o bombicol, feromônio da mariposa do bicho-da-seda, e a periplanona-B, feromônio da barata Periplaneta americana, cujas estruturas encontram-se mostradas a seguir. Na área farmacêutica, muitos fármacos, de diferentes tipos, são produzidos a partir de estudos de atividade, planejamento racional, isolamentos de substâncias a partir de fontes naturais etc., tendo-se a química orgânica como a base de tudo isso. O ácidos acetil salicílico, já mencionado, o sildenafil (viagra) e a benzilpenicilina, cujas estruturas encontram-se mostradas a seguir, são alguns dos exemplos de drogas cujas moléculas são orgânicas. Em síntese, todo organismo vivo é feito de compostos orgânicos. As proteínas que formam os cabelos, a pele e os músculos; o DNA que controla a herança genética; os alimentos que nos nutrem; e os medicamentos que tratam e curam as doenças são, em sua maioria, substâncias orgânicas. Qualquer pessoa curiosa e que pretenda entender o que é e como a vida acontece e como nascem, crescem e evoluem os seres vivos, qualquer um que queira ficar a par de muitas das descobertas e do desenvolvimento que estão acontecendo em ciências como a medicina, a biologia e a química, precisa primeiro entender Química Orgânica. Além disso, estamos rodeados por essa ciência e seus produtos que, a cada dia, não deixam de aumentar em número e abrangência. A Química Orgânica está presente, portanto, em praticamente todas as atividades humanas, faz parte do nosso dia a dia e é responsável por boa parte do nosso conforto, alimentação e saúde. Não só nós, seres vivos, somos formados em boa parte por substâncias orgânicas, como graças ao desenvolvimento dessa área do conhecimento humano, temos mais alimentos, mais medicamentos, copos, pratos, cadeiras de plástico, sacolas, tintas, cosméticos, computadores, meios de transportes mais eficientes e muitos outros produtos. Para entendermos melhor o mundo no qual vivemos e conhecer as bases nas quais está assentada a sociedade moderna, da qual fazemos parte; para sabermos qual nosso papel nessa sociedade, enquanto cidadãos, para podermos ter voz a fim de contribuir para um mundo melhor, menos injusto e mais limpo, precisamos também conhecer um pouco de Química Orgânica. O O O Periplanona-B OH (10E, 12Z)-hexadeca-10,12-dien-1-ol bombicol O S N N O N N CH3 CH2CH2CH3 HCH3CH2 O O N N CH3 Sildenafil (Viagra) N O N O S H H CH3 H CO2 - CH3 H benzilpenicilina (Antibiótico) Capítulo 1 – Introdução à Química Orgânica Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 5 2 HISTÓRICO DA QUÍMICA ORGÂNICA A Química nasceu com os trabalhos de Lavoisier, Dalton e outros cientistas que aplicaram, pela primeira vez, a abordagem experimental aliada ao pensamento lógico dedutivo aos seus estudos. Lavoisier, fazendo cuidadosas medidas de massa enquanto estudava reações de combustão, verificou que a massa de todos os reagentes somada, antes da reação, era igual à massa somada de todos os produtos, depois da reação se concluir. Essa descoberta é conhecida como Lei da conservação das massas e abriu o caminho para o desenvolvimento da ciência Química. O químico francês Joseph Louis Proust, também estudando as massas dos elementos e compostos, percebeu que a proporção das massas dos elementos que compõem um composto é uma constante. Por exemplo, 18 gramas de água contêm 2 gramas de hidrogênio e 16 gramas de oxigênio, sempre, não importando de onde a água foi tirada, se do mar, de um lago, da chuva ou se obtida em laboratório a partir de uma reação química. John Dalton, que também estudou as relações de massas entre reagentes e produtos nas reações químicas, definiu massas atômicas e propôs a primeira teoria atômicas aceita pelos cientistas. Nessa teoria, Dalton afirmava que todas as coisas eram feitas de átomos, partículas semelhantes a bolas de sinuca, só que muito pequenas, maciças, indivisíveis e indestrutíveis. Nascia a química atômica. Figura 1.1 – Representação de átomos e moléculas, usando o modelo de “bolinhas de sinuca”. Na figura estão representados os átomos de oxigênio e hidrogênio, e uma molécula do gás hidrogênio e da água. A separação da Química em duas áreas distintas, Química Orgânica e QuímicaInorgânica, foi proposta pela primeira vez em 1777 pelo químico alemão Torbern Olof Bergman, que definiu: Química Inorgânica a parte da Química que estuda os compostos extraídos dos minerais. Química Orgânica a parte da Química que estuda os compostos extraídos de organismos vivos, animais e vegetais (compostos biológicos ou biomoléculas). Os químicos naquela época acreditavam que as substâncias extraídas dos seres vivos fossem de uma natureza diferente dos compostos encontrados na matéria bruta, no “reino mineral”, como os óxidos, os sais, os álcalis etc. Como ninguém ainda sabia da existência dos átomos, moléculas etc., não podiam supor que uma molécula de carboidrato tivesse os mesmos átomos existentes nos gases oxigênio, dióxido de carbono e na água, que são substâncias inorgânicas. Para explicar a separação entre química orgânica e inorgânica e a aparente impossibilidade de se produzir, artificialmente em laboratório, os compostos orgânicos, Jöns Jacob Berzelius (1779-1848) formulou uma teoria que ficou conhecida como Teoria da Força Vital ou, simplesmente, Vitalismo. Segundo essa teoria, os compostos orgânicos necessitariam de uma força, existente apenas nos seres vivos, para serem sintetizados. O Vitalismo de Berzelius perdurou por algum tempo prejudicando o desenvolvimento da Química orgânica, uma vez que os Químicos que se ocupassem do estudo das moléculas biológicas e outras assemelhadas estavam limitados a apenas isolá-las e identificá-las. Em 1828, após várias tentativas realizadas por diferentes cientistas para produzir compostos orgânicos em laboratório, algo inesperado ocorreu! Um dos discípulos de Berzelius, o alemão Friedrich Wöhler (1800-1882), obteve por acaso uma substância encontrada na urina e no sangue, a uréia. Havia no laboratório de Wöhler um frasco contendo o composto mineral “cianato de amônio”. Sob o efeito do calor, surgiram no seu interior cristais de uma substância que Wöhler já observara antes, e o fato de encontrá-los no frasco do cianato de amônio chamou-lhe muito a atenção. Ao observar cuidadosamente, ele concluiu que se tratava de fato da “uréia”, um composto que, de acordo com a crença geral baseada na teoria da Força Vital, só poderia ser produzido nos rins dos animais! Ele mesmo não acreditou no que tinha descoberto. A descoberta de Wöhler trouxe implicações muito importantes à química e, em especial à química orgânica, porque ela não apenas provava que era possível produzir substâncias orgânicas artificialmente como, também, revelava que tanto as substâncias que compõem os organismos vivos como as que estão na natureza, formando o ar, a água e as pedras, têm muito mais coisas em comum do que se supunha! Capítulo 1 – Introdução à Química Orgânica Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 6 FIGURA 1.2 – Aquecimento do cianato de amônio (inorgânico) para obtenção da uréia (orgânico). Experimento realizado por Friedrich Wöhler. A definição de Química Orgânica, proposta anteriormente por Berzelius, tornou-se, portanto, inadequada. Devido à presença constante do carbono nos compostos orgânicos conhecidos na época, como a uréia, o ácido tartárico (presente no suco de uvas e vinho, C4H6O6 (s)), a glicerina (subproduto da fabricação de sabão e um dos principais componentes das gorduras, C3H8O3 ()), o ácido cítrico (C6H8O7 (s)), e o ácido lático (C3H6O3 ()), dentre outros, o químico alemão Friedrich August Kekulé (1829-1896) propôs em 1858 a definição que é aceita até o presente data: A Química Orgânica é o ramo da química que estuda praticamente todos os compostos que contém o elemento carbono, os quais são chamados de compostos orgânicos. A Química Inorgânica, por outro lado, é a parte da Química que estuda os compostos dos demais elementos e alguns poucos compostos do elemento carbono. Com a síntese da uréia, nascia a nova Química Orgânica, a Química dos compostos de carbono, e a partir daí deu- se início um grande campo de pesquisa, o das sínteses orgânicas. Para se ter uma idéia, uma estimativa feita com base no Chemical Abstracts – um catálogo químico que lista resumos de todos os trabalhos de pesquisas relacionados à Química – permite verificar que, atualmente, já se está atingindo a marca de 20 milhões de substâncias químicas em geral descobertas e/ou sintetizadas e, deste total, 95% são compostos orgânicos. O que são compostos orgânicos? Para definir os compostos orgânicos, muitas vezes nos deparamos com o termo Química do Carbono, porém essa denominação não é de todo apropriada, visto que encontramos compostos constituídos de carbono – como carbonatos (CO3 –), cianetos (CN–) e carbetos (C2–), além de monóxido de carbono (CO) e dióxido de carbono (CO2) dentre outros, que tradicionalmente são considerados compostos inorgânicos. Apesar disso, a quantidade desses compostos (que apresentam o carbono em sua constituição e não são considerados orgânicos) é tão pequena que, comparativamente, quando nos referimos à Química do Carbono, naturalmente estamos nos referindo à Química Orgânica. Atualmente são conhecidos milhões de compostos orgânicos e, diariamente, devido às pesquisas para a obtenção de novas substâncias, o número de compostos orgânicos aumenta consideravelmente. Em resumo, a química orgânica é um ramo da química que estuda a estrutura, propriedades, composição, reações, e síntese de compostos orgânicos que, por definição, contêm carbono como principal elemento constituinte, podendo também conter outros elementos como o oxigênio e o hidrogênio. Muitos deles contêm nitrogênio, halogênios e, mais raramente, fósforo e enxofre. A Tabela Periódica atual traz uma lista com mais de 100 elementos químicos conhecidos, dos quais parte são artificiais. Entretanto, dentre todos esses elementos, os compostos orgânicos conhecidos, quase em sua totalidade, são formados apenas pelos elementos carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo, enxofre e os halogênios cloro, flúor, bromo e iodo, ou seja, apenas dez elementos !!! As substâncias inorgânicas, que representam apenas 5% de todas as substâncias químicas conhecidas, são formadas da combinação dos mais de 100 elementos da Tabela Periódica. Como é possível existirem 18 vezes mais compostos formados pela combinação de apenas dez elementos? Quais são as características do carbono que o tornam tão versátil, a ponto de dar origem a um número muito maior de substâncias, combinando-se com apenas mais 9 elementos nas ligações químicas que forma? É isso o que será visto a seguir ... NH4OCN (s) O C NH2 NH2 Capítulo 1 – Introdução à Química Orgânica Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 7 3 CARACTÉRISTICAS DO CARBONO 3.1 POSTULADOS DE KEKULÉ Diante do exposto, formulam-se as seguintes perguntas: por que existem tantos compostos orgânicos com tão poucos elementos? E o que o carbono têm a ver com essa grande variedade? O principal motivo é o fato de o carbono estabelecer ligações covalentes muito fortes entre si, levando à formação de anéis ou cadeias carbônicas dos mais diferentes tamanhos e tipos, além de também se ligar fortemente a hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, enxofre e halogênios. Em decorrência disso, geralmente esses elementos costumam estar presentes nos compostos orgânicos. Entre 1858 e 1861, Augusto Kekulé, Archebald Scott Couper e Alexandre M. Butlerv, trabalhando independentemente, lançaram três postulados que constituem as bases fundamentais da química orgânica. Primeiro postulado: o carbono é tetravalente. Uma característica importante do carbono é que, por pertencer ao segundo período da tabela periódica e ter quatro elétrons de valência, apresenta uma adequação perfeita para formar quatro ligações.O carbono sofre um tipo de hibridização de modo a ficar com 4 elétrons desemparelhados na última camada, de modo que pode estabelecer sempre quatro ligações com os outros átomos. Segundo postulado: as quatro ligações sigma de um carbono são iguais. Quando carbono sofre hibridização (sp3), os orbitais híbridos se organizam no espaço segundo os vértices de um tetraedro regular. Isso significa que, tomando-se o exemplo de uma molécula como o clorofórmio, pode se representar a sua fórmula estrutural de qualquer uma das seguintes maneiras. FIGURA 1.3 – Maneiras diferentes de se representar a fórmula estrutural do clorofórmio, CHCl3. Terceiro postulado: O carbono é capaz de formar cadeias com outros átomos de carbono. O raio atômico relativamente pequeno e o fato de que o carbono fazer quatro ligações permitem a formação de cadeias envolvendo milhares de átomos de carbono, ligados uns aos outros, incluindo outros elementos entre carbonos como nitrogênio, oxigênio ou enxofre, ou não. Isso justifica o grande número de compostos orgânicos conhecidos. FIGURA 1.4 – Uma cadeia de hidrocarboneto formada por 17 átomos de carbono. Postulado: É uma série de afirmações que sustentam uma teoria. Sobre um postulado não cabe qualquer discussão, discute-se apenas se a teoria formulada é coerente com os postulados que foram lançados. Capítulo 1 – Introdução à Química Orgânica Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 8 3.2 CONFIGURAÇÃO ELETRÔNICA E HIBRIDIZAÇÃO DO CARBONO A configuração eletrônica do carbono com base no seu número atômico (Tabela Periódica) pode ser obtida da seguinte forma, de acordo com a ordem crescente de energia: 6C: 1s 2 2s2 2p2 O carbono tem um número atômico igual a 6 e o átomo neutro tem, obrigatoriamente, igual número de elétrons, ou seja, seis. Esses elétrons estão distribuídos nos subníveis de acordo com o princípio da construção, que leva à distribuição (ou configuração eletrônica) mostrada acima5. HIBRIDIZAÇÃO A hibridização consiste na interação de orbitais atômicos incompletos, que se transformam, originando novos orbitais, em igual número. Estes novos orbitais são denominados orbitais híbridos. Esses novos orbitais são idênticos entre si e, assim, justifica-se que as ligações na molécula do CH4 sejam idênticas também. Todavia, o carbono também pode fazer ligações duplas e triplas, levando a diferentes arranjos estruturais nas moléculas formadas por este elemento. Essas diferentes possibilidades podem ser explicadas de maneira semelhante àquela para a molécula de CH4; admitem-se três tipos de hibridização para o carbono: sp 3, sp2 e sp. O nome de cada um desses tipos indica como os orbitais híbridos se formam. Hibridização sp3 – Ocorre a partir da fusão de um orbital atômico s com três orbitais p, gerando quatro orbitais híbridos do tipo sp3. Como ocorre o processo? A teoria diz que, para acontecer a hibridização sp3, acontecem duas etapas ilustradas na figura 5 a seguir: 1o – O elétron do orbital s (no subnível 2s) ganha energia e “salta” para um orbital vazio e mais energético, o 2pz (Figura 5a). 2o – Os elétrons dos orbitais 2px, 2py e 2pz do subnível 2p perdem energia e passam a ocupar, cada um, orbitais de menor energia (comparar o quadro da esquerda, Figura 5a, com o quadro da direita, Figura 5b). Nesse momento, os quatro orbitais, cada um deles com um elétron, já se fundiram dando origem a quatro orbitais de mesma energia e mesmo formato. FIGURA 1.5 – O orbital s e os orbitais p do carbono hibridizam formando quatro orbitais sp3 direcionados aos vértices de um tetraedro. Os orbitais híbridos sp3 do átomo de carbono e os orbitais s dos átomos de hidrogênio (molécula de metano CH4) se interpenetram formando quatro ligações σ iguais entre si. Uma ligação sigma é aquela em que os orbitais ligantes se encontram frontalmente. 5 A distribuição eletrônica diz como os elétrons encontram-se distribuídos em torno do núcleo de um átomo em níveis e subníveis. A ordem dos subníveis pode ser obtida do diagrama de Linus Pauling e é: 1s, 2s, 2p, 3s, 3p, 4s, 3d, 4p, 5s, 4d, 5p, 6s, 4f, 5d, 6p, 7s ... Esse assunto faz parte do programa da disciplina de Química Geral e mais detalhes podem ser encontrados nos livros de Química Geral. (a) (b) (c) Capítulo 1 – Introdução à Química Orgânica Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 9 Hibridização sp2 – leva à formação de uma ligação dupla. Nessa hibridização, apenas dois dos três orbitais p se “misturam” com o orbital s, formando apenas 3 orbitais híbridos, do tipo sp2. Esses orbitais formarão 3 ligações sigma (). O orbital p “puro”, que não se hibridizou, será usado para a ligação dupla. Como a interação desse orbital com o orbital p de outro átomo não é frontal, mas sim lateral, denominamos ligação pi (). A ligação pi se forma quando dois orbitais p estão paralelos entre si. FIGURA 6 – O orbital s e os orbitais p do carbono se hibridizam formando três orbitais sp2 com ângulos de 120º. O elétron do orbital do subnível 2s ganha energia e passa a ocupar um orbital mais energético, e os elétrons dos orbitais 2py e 2pz do subnível p perdem energia e passam a ocupar, cada um, orbitais de menor energia (comparar o quadro da esquerda com o quadro da direita na figura 5). Os orbitais híbridos sp2 ficam no mesmo plano, formando ângulos de 120o entre si e o orbital p puro permanece perpendicular a esse plano. Os três orbitais híbridos são denominados de sp2 e os elétrons passam a ter a mesma energia. O elétron que permaneceu no orbital 2px é chamado de “p puro” e possui energia superior a dos orbitais híbridos. Hibridização sp – A hibridização sp é obtida pela existência de uma ligação tripla σ e duas ligações π. Em vista disso após sofrer hibridização, ainda resta no átomo de carbono dois orbitais p puros. FIGURA 7 – O orbital s e um orbital p do carbono se hibridizam formando dois orbitais sp com ângulo de 180º. Sobram, portanto, dois orbitais p “puros”. Capítulo 1 – Introdução à Química Orgânica Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 10 O elétron do orbital do subnível 2s ganha energia e passa a ocupar um orbital mais energético, e o elétron do orbital 2pz do subnível p perde energia e passa a ocupar um orbital de menor energia (comparar o quadro da esquerda com o quadro da direita). Trata-se de carbono "insaturado” com duas duplas ligações ou com uma tripla e uma simples ligações (duas ligações do tipo σ e duas do tipo π). Os dois orbitais híbridos são denominados de sp e os elétrons passam a ter a mesma energia. Os elétrons que permanecem nos orbitais 2px e 2py são chamados de “p puro” e possui energia superior a dos orbitais híbridos. Recapitulando... O carbono é versátil, sendo capaz de se ligar a outros átomos de carbono e, também, a átomos de muitos outros diferentes elementos químicos graças à seu tamanho e número de elétrons existentes da camada de valência (quatro). Dessa forma, podem se formar cadeias de átomos com diferentes estruturas e de diferentes tamanhos. A versatilidade também é devida às diferentes hibridizações que o átomo de carbono pode sofrer. Assim, com a hibridização sp3 formam-se quatro orbitais híbridos sp3 através dos quais o carbono faz quatro ligações (sigma), que são ligações simples. Quando se hibridiza sp2, ficam três orbitais híbridos e um orbital puro, p, que fará a ligação (pi). Nesse caso, o carbono faz uma ligação dupla e duas ligações simples. A outra possibilidade é a da hibridizaçãosp. Nesse caso, o carbono fará ou duas ligações duplas, ou uma ligação tripla com outra ligação simples. Capítulo 2 – Hidrocarbonetos e Fórmulas Estruturais Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 11 CAPÍTULO 2 – HIDROCARBONETOS E FÓRMULAS ESTRUTURAIS 1 LIGAÇÕES COVALENTES CARBONO – CARBONO A capacidade de o carbono formar ligações covalentes fortes com outros átomos de carbono é a propriedade – que mais que qualquer outra – explica a própria existência da Química Orgânica como campo de estudo dentro da Química. É esta propriedade que explica também, pelo menos em parte, o fato de o carbono ser o elemento em torno do qual se organiza a maioria das moléculas dos organismos vivos. Um composto orgânico pode ser formado apenas por átomos de carbono e hidrogênio, ou também conter outros elementos, tais como oxigênio, nitrogênio, halogênios, enxofre e/ou fósforo na molécula. Quando a molécula orgânica apresenta apenas átomos de carbono e hidrogênio, o composto é denominado hidrocarboneto. Os hidrocarbonetos podem ser classificados como alcanos, alcenos, alcinos ou aromáticos, conforme os tipos de ligações que forme. Nos alcanos, só existem ligações simples. Os hidrocarbonetos cujas moléculas têm uma ligação dupla carbono – carbono são denominados alcenos ou alquenos, e os que possuem pelo menos uma tripla ligação são os alcinos ou alquinos. Os hidrocarbonetos com o anel especial (benzeno), são os hidrocarbonetos aromáticos. 1.1 ALCANOS – METANO E ETANO O metano (CH4) e o etano (C2H6) são dois exemplos de alcanos. São duas substâncias gasosas e constituem o gás natural, combustível usado em aquecedores residenciais e em automóveis. Duas maneiras de representar as estruturas do metano e do etano que evidenciam o arranjo tetraédrico dos átomos em torno do carbono, podem ser observadas abaixo. Os ângulos entre as ligações existentes em torno do átomo de carbono do metano, ou em torno dos átomos de carbono do etano e de todos os alcanos, são 109º 28’ ou, aproximadamente, 109,5º. Esses ângulos geram um arranjo em que as ligações ficam apontadas para os quatro vértices de um tetraedro, e assim, a geometria molecular é chamada de geometria tetraédrica. Todas as ligações são sigma (σ). Capítulo 2 – Hidrocarbonetos e Fórmulas Estruturais Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 12 Os alcanos são hidrocarbonetos onde só existem ligações simples. Esses compostos também são denominados de hidrocarbonetos saturados, porque contêm o número máximo de átomos de hidrogênio possível. As principais fontes de alcanos são o gás natural e o petróleo. Os alcanos menores (metano até butano) são gases à temperatura ambiente. A mistura dos gases propano e butano (C3H8 e C4H10) forma o Gás Liquefeito de Petróleo, o GLP, usado em botijões de gás como combustível para fogão. Os alcanos de maior peso molecular são obtidos principalmente através do refinamento do petróleo. A gasolina, o querosene e o óleo diesel são misturas de hidrocarbonetos, na sua maioria alcanos, no estado líquido. 1.2 ALQUENOS: HIDROCARBONETOS COM DUPLA LIGAÇÃO CARBONO – CARBONO; ETENO E PROPENO Além de quatro ligações simples, cada uma das quais com outros quatro átomos diferentes, o carbono pode fazer ainda ligações múltiplas (duplas ou triplas). A ligação dupla é o compartilhamento de dois pares de elétrons; uma dessas ligações é sigma, envolvendo orbitais híbridos sp2 e a outra é uma ligação pi, envolvendo orbitais “puros” (que não se hibridizaram). Os alcenos são hidrocarbonetos onde existe, pelo menos, uma ligação dupla entre dois átomos de carbono. A figura abaixo mostra a estrutura do eteno (também conhecido como etileno) e do propeno e, mais abaixo, está a estrutura do eteno mostrando seus ângulos de ligação (aproximadamente 120º). Eteno e propeno, os dois alcenos mais simples, estão entre os mais importantes produtos químicos industriais produzidos nos Estados Unidos. A cada ano as indústrias químicas produzem mais de 15 milhões de toneladas de eteno e cerca de 7,5 milhões de toneladas de propeno. Eteno é usado como matéria-prima para a síntese de diversos compostos industriais, incluindo etanol, óxio de etileno, etanal e o polímero polietileno. Propeno é usado na preparação do polímero polipropileno e, além de outros usos, o propeno é a matéria-prima para a síntese da acetona. Eteno também ocorre na natureza como hormônio de plantas. É produzido naturalmente por frutos tais como tomates e bananas, estando ainda envolvido no processo de amadurecimento dessas frutas. Hoje em dia se faz muito uso de eteno no comércio de frutas para causar o amadurecimento de tomates e bananas colhidos ainda verdes, já que frutas verdes são menos suscetíveis a danos durante o transporte. 1.3 ROTAÇÃO LIMITADA E DUPLA LIGAÇÃO O modelo σ (sigma) e π (pi) da dupla ligação carbono – carbono também explica uma importante propriedade da dupla ligação: há uma grande barreira à rotação livre associada aos grupos ligados por uma dupla ligação. A máxima superposição entre os orbitais p da ligação π ocorre quando os eixos dos orbitais p forem exatamente paralelos. A rotação, por 90º, de um dos carbonos da dupla ligação, rompe a ligação π, pois então os orbitais p ficam mutuamente perpendiculares e não há superposição real entre eles. Capítulo 2 – Hidrocarbonetos e Fórmulas Estruturais Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 13 Esse impedimento não existe entre átomos que estão ligados por ligações sigma apenas (ligações simples). A impossibilidade de ocorrência de rotação em torno da ligação pi faz surgir os isômeros geométricos, também denominados isômeros cis-trans, que serão mostrados mais à frente. 1.4 ALQUINOS: COMPOSTOS COM LIGAÇÃO TRIPLA CARBONO – CARBONO; ETINO (ACETILENO) E PROPINO Os hidrocarbonetos nos quais dois átomos de carbono compartilham mutuamente três pares de elétrons, e assim se ligam por uma ligação tripla, são chamados alcinos ou alquinos. Os dois alquinos mais simples são o etino e o propino. O etino, composto também conhecido como acetileno, é constituído por moléculas lineares. É o alcino mais simples. Alcinos ocorrem na natureza e podem ser sintetizados em laboratório. Um exemplo de aplicação do acetileno é a produção do PVC (policloreto de vinila), etanol e ácido acético Os ângulos das ligações hidrogênio – carbono – carbono – hidrogênio nas moléculas do etino valem 180º. EXERCÍCIOS DE REVISÃO 01. O carbono faz ligações simples, duplas e triplas. No total, são quatro ligações que um átomo de carbono pode fazer. Assim, um átomo de carbono pode fazer quatro ligações simples, ou então duas ligações simples e uma dupla, ou duas ligações duplas ou uma ligação simples e uma ligação tripla. Desenhe quatro estruturas de hidrocarbonetos (contêm apenas hidrogênio e carbono), para representar as diferentes possibilidades de ligações que o carbono pode fazer. 02. Classifique os hidrocarbonetos a seguir como alcano, alceno, alcino ou aromático. 03. Classifique os carbonos destacados com setas nas figuras a seguir como sp3, sp2 ou sp. 04. Classifique todas as ligações nos compostos a seguir como pi () ou sigma (): C CH H H H H H C CH H H H CH3 C CH H C H HH H C C C H H H H H C CH H H H C CH H C C C H H H H H CH3 C CH H H H C CH H Capítulo 2 – Hidrocarbonetos e Fórmulas Estruturais Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 14 2 FÓRMULAS ESTRUTURAIS Uma fórmula estrutural é a representação de uma molécula evidenciando as ligações existentes entre os átomos quedela fazem parte. Representamos um composto orgânico por fórmulas estruturais porque queremos saber a quem e como os átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio etc. estão ligados. E por que é importante saber isso? Os compostos inorgânicos geralmente são representados única e exclusivamente através de suas fórmulas moleculares (apenas compostos covalentes) ou unidades formais (todos os compostos, orgânicos e iônicos). Assim, por exemplo, H2SO4, NaC, H2O e NH3 são as unidades formais do ácido sulfúrico, cloreto de sódio (principal componente do sal de cozinha), água e amônia respectivamente. Todas as fórmulas moleculares ou unidades formais acima representam bem os compostos citados, e não deixam dúvida quanto ao composto a que representam. Por exemplo, ao ver no rótulo de um recipiente a fórmula HC, você não terá dúvida de que se trata do ácido clorídrico, ou se encontrar um frasco escrito NaHCO3, saberá que se trata do sal bicarbonato de sódio, muito usado para limpeza dos dentes. Todavia, não é sempre assim quando se trata de um composto orgânico. Na verdade, a grande maioria dos compostos orgânicos não pode ser adequadamente representada por uma fórmula molecular. Para ilustrar esse fato, vamos usar como exemplo o etanol e o éter dimetílico, que apresentam a mesma fórmula molecular: C2H6O. Essas duas substâncias são totalmente diferentes, como é possível observar na tabela 1 a seguir: Tabela 2.1 – Propriedades do álcool etílico e do éter dimetílico. Álcool etílico Éter dimetílico Ponto de ebulição (ºC) 78,5 – 24,9 Ponto de fusão (ºC) – 117,3 – 138 Conforme é possível observar na tabela 1 acima, à temperatura ambiente, em torno de 25 a 29 oC, o etanol é um líquido e o éter dimetílico, um gás. Se dermos uma olhada nas fórmulas estruturais, na figura a seguir, perceberemos a diferença entre eles. Figura 2.1 – Estruturas do etanol (a), e do éter dimetílico (b). Ambas têm a mesma fórmula molecular, ou seja, C2H6O. O etanol e o éter dimetílico, cujas estruturas estão mostradas na figura acima, são denominados isômeros. Devido à versatilidade do átomo de carbono, que pode formar uma quantidade virtualmente enorme de diferentes compostos com as mais variadas formas estruturais, uma fórmula molecular não é representativa de uma substância orgânica, sendo, portanto, imprescindível a representação estrutural. A Teoria estrutural permitiu aos químicos orgânicos antigos solucionar o problema do isomerismo. Estes químicos encontravam freqüentemente exemplos de compostos diferentes que tinham a mesma fórmula molecular, tais como o etanol e o éter dimetílico, que são isômeros. C CH H H OH H H C OH H H C H H H (a) (b) Isômeros são compostos que têm a mesma fórmula molecular, mas são substâncias diferentes (apresentam estruturas diferentes). Capítulo 2 – Hidrocarbonetos e Fórmulas Estruturais Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 15 Existem diferentes formas de se representar a estrutura de uma molécula orgânica. A seguir estão mostradas as fórmulas estruturais mais importantes: EXERCÍCIOS DE REVISÃO 01. Proponha fórmulas estruturais desenvolvidas e fórmulas estruturais em linhas para cada uma das fórmulas moleculares a seguir e diga se há isômeros ou se não há: (a) C2H6 (b) C2H4 (c) C3H8 (d) C4H10 (e) C5H8 (f) C5H12 02. Escreva a fórmula molecular para cada uma das estruturas a seguir: C CC H H C H H O H H H H H H Fórmula estrutural desenvolvida CH3CH2CH2CH2OH CH3(CH2)3OH Fórmulas estruturais condensadas OH Fórmulas estruturais de linhas Fórmula estrutural bola-bastão OH H H H H Fórmula estrutural em perspectiva CH OH H (CH2)3CH3 H (CH2)3CH3 H OH Projeção de Fisher HH3C H Br H H HH3C H Br H H Representação em cavalete H CH 3 H Br H H H H H HH H Projeção de Newman C CH H H H H H C CH H H H CH3 C CH H C H HH H C C C H H H H H Capítulo 3 – Funções Orgânicas e Nomenclatura Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 16 CAPÍTULO 3 – FUNÇÕES ORGÂNICAS E NOMENCLATURA 1 FUNÇÕES ORGÂNICAS Uma função química é uma classe de compostos com características químicas semelhantes. Para fins de sistematização e facilitar o estudo dos compostos orgânicos, estes foram classificados em diferentes grupos de compostos, denominados de funções orgânicas, de acordo com a presença ou ausência dos grupos funcionais. Um grupo funcional é uma porção da molécula contendo, geralmente, um átomo diferente do carbono e do hidrogênio. Por exemplo, um composto orgânico que contenha o átomo de cloro ou iodo ligado, será classificado como haleto orgânico, devido à presença de um halogênio (flúor, cloro, bromo e iodo são os halogênios). São exemplos de funções orgânicas os álcoois, ácidos carboxílicos, cetonas, éteres, ésteres, aminas, amidas, tióis, ácidos sulfônicos etc. Um Quadro na página 19 traz um resumo com as principais funções orgânicas, seus grupos funcionais, nomenclatura e exemplos de compostos. As funções orgânicas são definidas de acordo com a presença dos grupos funcionais. Um composto orgânico pode apresentar mais de uma função, conforme apresente dois, três ou mais grupos funcionais diferentes, tratam-se de funções mistas. Para a nomenclatura de funções mistas, deve-se eleger a função principal e os grupos funcionais das demais funções deverão ser considerados ramificações. A seguir serão apresentados maiores detalhes a respeito de algumas das principais funções orgânicas, começando pelos haletos orgânicos ou haletos de alquila. 1.1 HALETOS DE ALQUILA OU HALOALCANOS Os haletos orgânicos são compostos nos quais um átomo de halogênio (F, C, Br ou I) substitui um átomo de hidrogênio em um alcano. Exemplos: CH3C (cloreto de metila ou clorometano); CH3CH2C (Cloreto de etila); CH3CH2Br (Brometo de etila). Os haletos de alquila são classificados como primários, secundários ou terciários. Esta classificação refere-se ao átomo de carbono ao qual o halogênio está diretamente ligado, como já discutido anteriormente. 1.2 ÁLCOOIS O grupo funcional característico para esta família é a hidroxila (–OH) ligada a um átomo de carbono com hibridização sp3. Os álcoois podem ser reconhecidos estruturalmente de dois modos: a) como derivados hidroxi de alcanos; b) Como derivados alquilados da água. (a) (b) Assim como os haletos de alquila, os álcoois são classificados em três grupos: primários, secundários e terciários. Esta classificação baseia-se no grau de substituição do carbono ao qual o grupo hidroxila está diretamente ligado, de modo análogo ao haleto de alquila. 1.3 ÉTERES Possuem a fórmula geral R-O-R ou R-O-R’, onde R’ pode ser um grupo alquila (ou fenila) diferente de R. Éteres podem ser vistos como derivados da água em que ambos os átomos de hidrogênio foram substituídos por grupos alquila. Um éter muito comum, usado para assepsia em hospitais, é o éter etílico ou etóxi-etano: CH3CH2–O–CH2CH3 CH3CH3 CH3CH2 O H O H H CH3CH2 O H O H H R O R Capítulo 3 – Funções Orgânicas e Nomenclatura Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 17 1.4 AMINAS Assim como os álcoois e os éteres podem ser considerados derivados orgânicos da água, as aminas podem ser consideradas como derivados orgânicos da amônia. Portanto, uma amina é uma molécula da amônia com um átomo ou mais de hidrogênio substituído porum grupo alquila. As aminas podem ser classificadas como primárias, secundárias e terciárias. Esta classificação baseia-se no número de grupos orgânicos que estão ligados ao átomo de nitrogênio. N CH2CH3CH3CH2 CH2CH3 Trietilamina (n,n-dietil-etanamina) 1.5 ALDEÍDOS E CETONAS Aldeídos e cetonas, também conhecidos como compostos carbonilados, são compostos que contêm o grupo carbonila, um grupo no qual um átomo de carbono se liga ao oxigênio por uma ligação dupla, ou seja um carbono sp2: Grupo carbonila O grupo carbonila nos aldeídos está ligado a pelo menos um átomo de hidrogênio, e nas cetonas está ligado a dois átomos de carbono. Exemplos de compostos carbonilados: H C H O CH3 C H O C6H5 C H O CH3 C CH3 O CH3CH2 C CH3 O Formaldeído Acetaldeído Benzaldeído Acetona Etilmetil cetona 1.6 ÁCIDOS CARBOXÍLICOS, AMIDAS E ÉSTERES São grupos que, assim como o aldeído, também possuem uma carbonila, porém o hidrogênio é substituído por outro grupamento. 1.6.1 Ácidos carboxílicos Possuem fórmula geral RCO-OH. O grupo funcional é chamado de grupo carboxila (carbonila + hidroxila). Exemplos: H C OH O CH3 C OH O C6H5 C OH O Ácido fórmico Ácido acético Ácido benzóico C O Fórmula geral de um aldeído Fórmula geral de cetonas R C H O R C R O R C R' O ou R pode ser H também R C OH O Grupo funcional Capítulo 3 – Funções Orgânicas e Nomenclatura Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 18 1.6.2 Amidas Possuem as fórmulas gerais RCO-NH2, RCO-NHR’, RCO-NR’R’’. R C N O H R' R C NH2 O R C N O R' R'' Amidas primárias Amidas Secundárias Amidas Terciárias Exemplos: CH3 C NH2 O CH3 C NH O CH3 CH3 C N O CH3 CH3 Acetamida N-Metilacetamida N,N-Dimetilacetamida 1.6.3 Éster É um derivado do ácido carboxílico, formado a partir da reação desse ácido com um álcool. Possuem fórmula geral RCO-OR ou RCO-OR’. R C O O R'R C O O R CH3 C O O CH2CH3 Fórmulas gerais Ex: Acetato de etila Podemos dizer que o acetato de etila, mostrado na fórmula acima, é um derivado do ácido acético obtido através da reação desse ácido com o álcool etílico (etanol), conforme a equação: CH3C O OH + CH3CH2OH CH3C O O CH2CH3 + H2O 1.7 NITRILAS Possuem fórmula geral R-CN. O carbono e o nitrogênio de uma nitrila possuem hibridização do tipo sp. Exemplos: CH3 C N CH3CH2CH2 C N CH2 CH C N CH2 CHCH2CH2 C N Etanonitrila butanonitrila propenonitrila 4-Pentenonitrila Quando são cíclicas as nitrilas, o sufixo passa a ser carbonitrilas: C N C N Benzenocarbonitrila Ciclohexanocarbonitrila Capítulo 3 – Funções Orgânicas e Nomenclatura Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 19 Quadro 3.1 – Resumo das principais funções orgânicas, seus grupos funcionais, fórmula geral, exemplos e nomes. Função Orgânica Grupo Funcional Fórmula Geral Exemplo Específico Nome IUPAC Nome comum Alcano C e C – H RH CH3CH2CH3 Propano Propano Alceno C RCH=CH2 RCH=CHR’ RR’’C=CHR’ ... H2C=CH2 Eteno Etileno Alcino C RC CH RC CR' HC CH Etino Acetileno H id ro ca rb on et os a li fá ti co s Cicloalcano Anel alifático C Cn Ciclohexano Ciclohexano Hidrocarboneto Aromático Anel aromático ArH Benzeno Benzeno Álcool C OH (hidroxila) ROH CH3CH2OH Etanol Álcool Etílico Enol C OH ROH H2C C OH H Etenol Etenol Fenol OH Ar – OH OH hidroxibenzeno Fenol Éter C – O – C ROR’ CH3– O –CH2CH3 Metoxietano Éter etil-metílico Cetona C O CC (carbonila) CH3CCH3 O Propanona Acetona Aldeído C O HC C O HH RCH O ou HCH O C H 3C H O Etanal Acetaldeído Ácido carboxílico C O OH (carboxila) RCR' O CH3COOH Ácido etanóico Ácido acético F un çõ es o xi ge na da s Éster C O O C RCOOR’ CH3COOCH2CH3 Etanoato de etila Acetato de etila Capítulo 3 – Funções Orgânicas e Nomenclatura Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 20 Quadro 3.1 – Resumo das principais funções orgânicas, seus grupos funcionais, fórmula geral, exemplos e nomes – continuação. Função Orgânica Grupo Funcional Fórmula Geral Exemplo Específico Nome IUPAC Nome comum Amina C N RNH2 (amina primária) RR’NH (amina secundária) RR’NR’’ (amina terciária) CH3NH2 Metanamina Metilamina Amida C O N RCNH2 O RCNHR' O RCNR'R'' O H3CCNH2 O Etanamida Acetamida Nitrocomposto – NO2 RNO2 CH3 NO2O2N NO2 2-metil-1,3,5-trinitrobenzeno Trinitrotolueno (TNT, um explosivo importante) F un çõ es n it ro ge na da s Nitrila C N RCN CH3CN Etanonitrila Acetonitrila ou cianeto de metila Parte 3 – Funções Orgânicas e Nomenclatura Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 21 2 CLASSIFICAÇÃO DO CARBONO E DAS CADEIAS CARBÔNICAS As cadeias carbônicas podem ser classificadas de acordo com a existência ou não de ligações múltiplas, de ramificações, de anel benzênico ou outro grupo aromático, de átomo de elemento químico diferente do carbono ligado entre dois átomos de carbono e da forma da cadeia, se aberta ou fechada. O quadro a seguir resume tudo isso: Característica a classificar Classificação Exemplos Saturada CH3CH2CH3 CH3 CH CH3 CH3 H2C H2C CH2 CH2 CH2 CH2 Presença/ausência de ligações múltiplas Insaturada HC CHCH3 CH3 CH CH3 CH3 HC HC CH2 CH2 CH2 CH2 Alifática CH3CH2CH3 CH3 CH CH3 CH3 H2C H2C CH2 CH2 CH2 CH2 Presença/ausência de grupo aromático Aromática CH3 CH3 CH CH2 CH3 Homogênea CH3CH2CH3 CH3CH2CH2OH CH3CH2CH2C Presença/ausência e heteroátomo Heterogênea CH3CH2OCH3 CH3SCH3 Normal CH3CH2CH3 HC CHCH3 Presença/ausência de ramificação Ramificada CH3 CH CH3 CH3 CH3 CH CH2 CH3 Aberta (acíclica) CH3CH2CH3 CH3 CH CH3 CH3 Forma da cadeia Fechada (cíclica) H2C H2C CH2 CH2 CH2 CH2 HC HC CH2 CH CH2 CH2 CH3 O carbono também pode ser classificado como primário, secundário ou terciário, de acordo com o número de outros átomos de carbono ligados diretamente nele. Essa classificação é importante porque muitas reações químicas envolvendo compostos orgânicos dependem do tipo de carbono ao qual um grupo funcional está ligado. Sejam, por exemplo, três diferentes compostos orgânicos halogenados, mostrados a seguir. Dependendo do carbono ao qual o halogênio está ligado, podemos classificar também o haleto orgânico como primário, secundário ou terciário: C H H H C H Cl C H H H C Cl CH3 H3C CH3 Cl H H C H H H C Carbono primário Carbono secundário Carbono terciário Parte 3 – Funções Orgânicas e Nomenclatura Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 22 3 NOMENCLATURA DE COMPOSTOS ORGÂNICOS Para os compostos orgânicos, a nomenclatura é tão importante quanto a fórmula estrutural porque, dada a grande quantidade de compostos orgânicos existentes e mais aqueles que são descobertos ou sintetizados a cada dia, um nome sistemático e que não permita ambigüidades precisa ser dado a cada um deles. Para isso, a IUPAC (International Union for Pure and Aplied Chemistry) criou um sistema de nomenclatura que leva em consideração, basicamente, três aspectos: 1º - A quantidade de átomos de carbono na cadeia principal; 2º - A existência de ligações duplas e/ou triplas entre átomos de carbono, ou sua ausência na cadeia principal;3º - A função orgânica, se é álcool, ácido carboxílico, cetona etc. ou, simplesmente, hidrocarboneto. A tabela a seguir faz um resumo das regras de nomenclatura para esses três aspectos: Prefixo – Indica o número de átomos de carbono na cadeia principal No carbonos Prefixo No carbonos Prefixo No carbonos Prefixo 1 Met 11 Undec 21 Eneicos 2 Et 12 Dodec 22 Dodeicos 3 Prop 13 Tridec 23 Trieicos 4 But 14 Tetradec 30 Triacont 5 Pent 15 Pentadec 31 Untriacont 6 Hex 16 Hexadec 32 Dotriacont 7 Hept 17 Heptadec 40 Tetracont 8 Oct 18 Octadec 50 Pentacont 9 Non 19 Nonadec 60 Hexacont 10 Dec 20 Eicos 70 Heptacont Infixo – Indica a existência de ligações múltiplas (duplas, triplas) entre átomos de carbono na cadeia principal. Ligações Infixo Ligações Infixo Só simples an 1 tripla in 1 dupla en 2 triplas diin 2 duplas dien 1 dupla e 1 tripla enin 3 duplas trien 2 duplas e 1 tripla dienin 4 duplas tetraen 2 duplas e 3 triplas dientriin Sufixo – Informa a função orgânica do composto Função Sufixo Função Sufixo hidrocarboneto o Ácido carboxílico Ácido + prefixo + infixo + óico Álcool ol Amina amina Cetona ona Amida amina Aldeído al 3.1 GRUPO ALQUILA E RAMIFICAÇÕES Um composto orgânico pode ser formado por uma cadeia carbônica linear, também chamada de cadeia normal, ou uma cadeia ramificada. Ao construir a nomenclatura para compostos de cadeia ramificada, os grupos alquila que formam ‘ramos’ nessa cadeia, as ramificações alquila, também devem receber nomes de acordo com o número de átomos de carbono que contêm e de acordo com o arranjo desses átomos. Freqüentemente é utilizado um símbolo (R) que representa qualquer grupo alquila em um composto orgânico. Assim a fórmula geral para um alcano é R-H. A tabela da página seguinte traz uma lista de grupos alquila com seus respectivos nomes para serem usados na nomenclatura de um composto orgânico de cadeia ramificada. Parte 3 – Funções Orgânicas e Nomenclatura Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 23 Quadro 3.3 – Grupos Alquila, nomenclatura e abreviações. Alcano Grupo alquila Nome do Grupo Abreviação CH4 (metano) CH3– Metila Me- CH3CH3 (etano) CH3CH2– Etila Et- CH3CH2CH2– Propila ou n-propila 6 Pr- ou n-Pr- CH3CH2CH3 (propano) C H3C H3C Isopropila i-Pr- C CH3H3C CH3 terc-butila ou t-butila t-bu CH3CH2CH2CH3 (Butano) H3C CH2 CH CH3 sec-butila ou s-butila s-bu CH2=CH2 (eteno) CH2 C H vinila vin CH2=CHCH3 (propeno) CH2 C CH2 H alila alil (benzeno) fenila fen CH3 (tolueno) CH2 benzila ben C para-cloro-fenila p-C-fen C (clorobenzeno) C meta-cloro-fenila m-C-fen CH3OH (metanol) CH3O– metoxila metox Os grupos fenila e benzila são formados a partir do anel benzênico. Quando o anel do benzeno faz parte da ramificação, ele é chamado de grupo fenila, ou grupo benzila, caso haja um grupo CH2 fazendo ponte entre o anel benzênico e a cadeia principal. Quando existe um substituinte ligado ao anel benzênico da ramificação, este precisa ser identificado bem como a posição em que ele se encontra no anel benzênico. Assim, existem três possibilidades, denominadas posições orto, meta e para, como mostrado a seguir: C orto-cloro-fenila C meta-cloro-fenila C para-cloro-fenila 6 Quando a ramificação for uma cadeia normal e existe a possibilidade de a cadeia não ser normal, como é o caso do CH3CH2CH2–, a cadeia normal recebe o prefixo “n” que indica “normal”. Por isso, escreve-se “n-propila”, para distinguir do “iso-propila”. Entretanto, o prefixo “n” é facultativo, e o nome da ramificação poderia ser apenas “propila”, ficando subentendido que se refere a cadeia normal. Parte 3 – Funções Orgânicas e Nomenclatura Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 24 3.2 AS REGRAS DA NOMENCLATURA IUPAC Na atribuição do nome de um composto orgânico, de acordo com as regras IUPAC, devemos seguir alguns passos: 1 – Em primeiro lugar, devemos definir a cadeia principal. A cadeia principal é uma cadeia linear que deve ser distinguida na fórmula estrutural e se houver mais de uma possibilidade que leve a tamanhos diferentes, a escolha deve recair sobre a possibilidade que fornecer a cadeia mais longa, ou seja, a cadeia com o maior número de átomos de carbono. 2 – Em segundo lugar, devemos enumerar os átomos de carbono começando por uma das extremidades da cadeia principal. Obviamente, existem duas extremidades, então por onde começaremos? Isso também é definido por regras, conforme o composto seja hidrocarboneto ou não, e seja saturado ou não: Hidrocarboneto saturado devemos começar pela extremidade de tal modo que as ramificações fiquem nos átomos de carbono com o menor número; Hidrocarboneto insaturado Se houver ligação dupla ou tripla, devemos escolher a cadeia principal de modo a incluir a ligação múltipla, e começamos a enumerar pela extremidade de modo que a ligação múltipla fique no carbono de menor número; Outras funções orgânicas Se o composto não for hidrocarboneto, ou seja, se houver algum grupo funcional halogenado, oxigenado etc., a cadeia principal será enumerada de modo que o grupo funcional principal fique no carbono de menor número. 3 – Em seguida, damos os nomes das ramificações precedidas pelo número que indica o carbono da cadeia principal ao qual estão ligadas, e organizamos em ordem alfabética. Se houver grupos repetidos (duas metilas, três propilas etc.), usamos os prefixos “di”, “tri”, “tetra” antes do nome da ramificação. Por exemplo, vamos supor que haja três metilas, uma no carbono 3, e duas no carbono 6, devemos escrever: “3,6,6-trimetil”. 4 – A posição das ligações duplas e triplas também precisa ser identificada, bem como o número destas ligações. Por exemplo, vamos supor que haja duas ligações duplas, uma no carbono 3 e outra no carbono 5, então, no nome do composto devemos escrever: 3,5-dieno. 5 – Se a cadeia principal for cíclica, acrescentamos ao nome o prefixo “ciclo”. Assim, por exemplo, se um hidrocarboneto saturado tem 6 átomos de carbono e a cadeia é cíclica, ele deverá ser chamado “ciclohexano”. EXERCÍCIO RESOLVIDO – Forneça o nome oficial do composto dado a seguir: EXERCÍCIOS DE REVISÃO (a) Circule a cadeia principal; (b) classifique a cadeia carbônica; (c) informe a (principal) função orgânica; (d) forneça a nomenclatura oficial e (e) escreva a fórmula molecular dos seguintes compostos orgânicos: CH3CHCH2 C CH CH3 CH2 CH3 O composto em questão é um hidrocarboneto, tem duas ramificações e uma dupla ligação. A cadeia principal apresenta sete átomos de carbono, portanto, o composto deve se chamar um “hepteno”. Enumerando-se a cadeia principal a partir da extremidade próxima da dupla, o nome ficará: 3-fenil-5-metil-hept-2-eno CH CH3 C CH2CH2CHCH3 CH2 CH3 CH3 CH CH2 CH3 CH3 CH CH3 C CH2CH2C CH3 CH CH2 CH3 CH3 C C CH2CH2OH CH3 O OH O O O CH3CH2CHCH3 C CH3CH2CCH3 O (i) (v) (ii) (iii) (vi) (vii) (viii) CH3CH CH3 CHCH2CH2CH3 CH2CH3 (iv) Capítulo 4 – Propriedades Físicas e Estrutura Molecular Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 25 CAPÍTULO 4 – PROPRIEDADES FÍSICAS E ESTRUTURA MOLECULAR 1 PROPRIEDADES FÍSICAS DOS COMPOSTOS ORGÂNICOS A primeira observação que certamente fazemos em qualquer trabalho experimental é se uma certa substância é um sólido, um líquido ou um gás. A solubilidade de um composto e as temperaturas nas quais ocorrem transições entre fase, isto é, pontos de fusão (pf) e pontos de ebulição (pe) também estão entre as propriedades físicas mais facilmentemedidas. Essas propriedades físicas simples, podem nos ajudar a identificar ou até mesmo isolar diversos compostos orgânicos. Um exemplo é a destilação do álcool, em que o etanol (ponto de ebulição de 78 ºC) pode ser separado de uma solução aquosa através de um aquecimento controlado (destilação fracionada). As constantes físicas, que ajudam a separar e caracterizar os inúmeros compostos orgânicos, podem ser encontradas facilmente na literatura (livros, Internet, Hand books etc.). 1.1 FORÇAS INTERMOLECULARES As propriedades físicas das substâncias, como ponto de fusão e ebulição, que é o que define se são líquidas, sólidas ou gases à temperatura ambiente ou qualquer outra temperatura, a densidade, a solubilidade nesse ou naquele solvente etc. estão relacionadas com forças que atuam entre as moléculas e os íons individuais que formam aquelas substâncias. Essas forças são denominadas forças intermoleculares. As forças intermoleculares podem ser do tipo: íon-íon, dipolo-dipolo, dipolo-dipolo induzido, íon-dipolo, ligações de hidrogênio e forças de dispersão de London. A seguir falaremos de alguns desses tipos. 1.1.1 Forças Íon-Íon São atrações eletrostáticas entre os íons, que, no estado sólido, encontram-se muito organizados formando um retículo cristalino. Uma grande quantidade de energia térmica é necessária para quebrar a estrutura organizada do sólido e levá-la para a forma líquida. Conseqüentemente, o ponto de fusão dos compostos orgânicos iônicos é muito elevado, bem como o ponto de ebulição e a maioria dos compostos se decompõem antes de atingirem o ponto de ebulição. Exemplo: Acetato de sódio (CH3CO2Na), ponto de fusão: 324 ºC. Ponto de ebulição: não determinado porque se decomposição antes da ebulição. 1.1.2 Forças dipolo-dipolo A maioria das moléculas orgânicas não é plenamente iônica, mas possui um momento dipolo permanente que resulta em moléculas polares. Acetona e o acetaldeído são exemplos de moléculas com dipolos permanentes pois o grupo carbonila que contêm é altamente polarizado. As atrações dipolo-dipolo forçam as moléculas a se orientarem de modo que a extremidade positiva de uma molécula se direcione para a extremidade negativa da outra. 1.1.3 Ligações de hidrogênio São ligações dipolo-dipolo muito fortes que ocorrem entre os átomos de hidrogênio ligados a átomos pequenos e fortemente eletronegativos (O, N ou F) e pares de elétrons não ligantes de outros desses átomos. Esse tipo de força intermolecular é chamada ligação hidrogênio. A ligação hidrogênio é mais fraca que uma ligação covalente comum, porém muito mais forte do que as interações dipolo-dipolo que ocorrem na acetona, ilustradas acima. C H3C H3C O -+ C H3C H3C O -+ C H3C H3C O -+ - + Z H - + Z H Z = O, F, N Ligação hidrogênio Capítulo 4 – Propriedades Físicas e Estrutura Molecular Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 26 A ligação de hidrogênio é responsável pelo fato de o álcool etílico ter um ponto de ebulição muito mais elevado (+78,5 ºC) que o do éter dimetílico (-24,9 ºC), apesar de ambos possuírem o mesmo peso molecular. As moléculas do álcool etílico podem formar ligações hidrogênio muito fortes entre si, já que apresentam um átomo de hidrogênio ligado covalentemente a um átomo de oxigênio. As moléculas do éter dimetílico, por não terem átomo de hidrogênio ligado a um átomo fortemente eletronegativo, não podem formar ligação hidrogênio umas com as outras. No éter dimetílico as forças intermoleculares são interações dipolo-dipolo mais fracas. Outro fator (além da polaridade e ligação de hidrogênio) que afeta o ponto de fusão de muitos compostos orgânicos é a compactação e a rigidez de suas moléculas individuais. Moléculas simétricas geralmente possuem pontos de fusão anormalmente elevados. C CH3 CH3 CH3 OH CH3CH2CH2CH2OH CH3CHCH2OH CH3 CH3CH2CHOH CH3 Álc. butílico Álc. isobutílico Álc. sec-butílico Álc. Terc-butílico pf = -90ºC pf = -108ºC pf = -114ºC pf = +25ºC 1.1.4 Forças de Dispersão de London Se considerarmos uma substância como o metano, cujas partículas são moléculas apolares, veremos que o ponto de fusão e ebulição são muito baixos: -182,6 ºC e -162 ºC, respectivamente. Em vez de perguntar “por que metano funde ou evapora a temperaturas tão baixas?”, a pergunta mais apropriada seria “por que o metano, uma substância não iônica e apolar, pode tornar-se um líquido ou um sólido?” A resposta é porque existem forças intermoleculares atrativas chamadas forças de dispersão de London. Devido à movimentação dos elétrons, estes podem gerar um pequeno dipolo temporário que pode induzir dipolos opostos em moléculas vizinhas. Tais dipolos temporários alteram-se constantemente, mas o resultado final de sua existência é produzir forças atrativas entre moléculas apolares e assim tornar possível a existência nos estados líquidos e sólidos. A magnitude das forças de dispersão de London é determinada pela polarizabilidade das moléculas envolvidas. Quanto mais forte a ligação menos entre os átomos da molécula, menos polarizável será a molécula. Se compararmos moléculas que apresentam os mesmos grupos de átomos, por exemplo, dois ou mais diferentes hidrocarbonetos, existem dois fatores importantes responsáveis pela magnitude das forças de dispersão de London e, conseqüentemente, responsáveis por propriedades como ponto de fusão e ebulição: a massa molecular e a forma da molécula (se normal ou ramificada). Os alcanos apresentam um regular aumento no ponto de ebulição e de fusão à medida que aumenta a massa molecular. Quanto maior for o tamanho da molécula, maiores serão seus pontos de ebulição e fusão. É por isso metano (CH4) e etano (CH3CH3) são gases, o hexano (CH6CH2CH2CH2CH2CH3) é um líquido, enquanto o decano é um sólido pastoso, todos à temperatura ambiente. Como era de se esperar, as forças de dispersão de London aumentam à medida que aumenta o tamanho da molécula, levando a maiores pontos de fusão e ebulição. O outro efeito interessante visto em alcanos é que o aumento no número de ramificações diminui o ponto de ebulição de um alcano. A tabela a seguir traz alguns exemplos de alcanos e seus pontos de ebulição. CH3 CH2 O H CH3 O CH3 Éter dimetílico Etanol CH3 CH2 O H CH3CH2O H Ligação hidrogênio Capítulo 4 – Propriedades Físicas e Estrutura Molecular Licenciatura em Química e Biologia/ UVA Química Orgânica – Prof. Walber Henrique. 27 Quadro 4.1 – Alguns alcanos isômeros e seus pontos de ebulição. Substância Fórmula estrutural Ponto de ebulição Pentano CH3CH2CH2CH2CH3 36,1 oC Isopentano (2-metil-butano) CH3CHCH2CH3 CH3 27,85 oC Neopentano (2,2-dimetil-propano) CH3CCH3 CH3 CH3 9,5 oC Octano CH3CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH3 125,7 oC Isooctano (2,2,4-trimetil-pentano) CH3CCH2CHCH3 CH3 CH3 CH3 99,3 oC 1.2 SOLUBILIDADE As forças intermoleculares são de importância vital para explicar as solubilidades das substâncias. Solubilidade nada mais é que a quebra das ligações químicas que compõe o sólido, retirando de um arranjo ordenado para um desordenado em que o composto tem uma interação como o solvente. Exemplo: Substância iônica sofre uma hidratação (água) ou solvatação (outro solvente). De modo geral podemos dizer que iguais dissolvem iguais, compostos polares são dissolvidos em solventes polares e vice-versa. Porém a estrutura irá definir também a solubilidade. Exemplo: O etanol é miscível em qualquer proporção com a água devido as pontes de hidrogênio, já o decanol (álcool com 10 carbonos) é pouco solúvel, devido a sua estrutura possuir uma parte hidrofóbica, ou seja pouco polarizada. CH3CH2 OH CH3CH2CH2CH2CH2 CH2CH2CH2CH2CH2 OH (Solúvel em água em qualquer
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