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Unidade IV FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO Profa. Josefa Alexandrina Análise sociológica da educação contemporânea Nesta unidade o foco de estudo será: Foucault e Habermas: poder, disciplina e ação comunicativa. A educação na sociedade global. Estudos culturais, pós-colonialismo e educação / O multiculturalismo. A questão de gênero / A questão étnica. Objetivos desta unidade Analisar as formas de exercício do poder do ambiente escolar. Refletir sobre o papel da ação comunicativa na formulação de identidades reflexivas. Compreender os procedimentos sociológicos que possibilitam a construção das conexões entre problemas educacionais e o funcionamento geral da sociedade. Compreender o foco das críticas estabelecidas ao sistema educacional pelos estudos pós-coloniais. Questões centrais Quais os mecanismos de exercício de poder existentes no ambiente escolar? Por que a racionalidade e o desenvolvimento tecnológico podem conduzir à desagregação social? Como podemos construir um discurso que elimine os efeitos do olhar do colonizador enquanto ainda estamos sob sua influência? Michel Foucault: poder, disciplina e educação Michel Foucault (1926-1984) foi o filósofo francês que publicou, entre outras obras, os livros Vigiar e punir (1975) e História da sexualidade (1984). Para Foucault, a sociedade moderna expandiu de maneira ilimitada o exercício de uma dominação inelutável sobre os indivíduos. O poder é concebido por Foucault como uma rede de relações de força que se difunde por todos os espaços da sociedade e se manifesta nas práticas cotidianas e na vida íntima dos indivíduos. Michel Foucault: poder, disciplina e educação Para Foucault, foi a partir do século XVIII que as disciplinas se transformaram em formas de dominação e passaram a exercer um controle minucioso das operações do corpo, visando a sujeição constante, a utilidade e a obediência. Deste modo, a disciplina cria “corpos dóceis” aptos a se submeterem à rotina de escritórios, hospitais, organizações militares e religiosas e escolas. A distribuição espacial bem-definida é o primeiro passo para formar os corpos disciplinados, expostos constantemente a sistemas de vigilância. O poder disciplinar A fábrica é um espaço organizado de acordo com os princípios do poder disciplinar: os vigilantes monitoram o ingresso dos trabalhadores; são utilizadas sirenes para indicar o início do trabalho. O poder disciplinar dificulta as ações coletivas, colocando os indivíduos cada qual em seu espaço específico e impedindo a formação de grupos. Procura tornar o controle individualizado por meio da vigilância de cada um. A produção de corpos disciplinados requer o exercício da vigilância hierárquica, que torna os subordinados visíveis para os superiores. O poder disciplinar O próprio edifício da escola é concebido como um aparelho para vigiar, ao possibilitar a vigilância dos educandos. A organização escolar permite o controle sobre a utilização do tempo pelos alunos (ausência, interrupção de tarefas), das suas atividades (desatenção, falta de zelo), da maneira de ser (grosseria, desobediência) etc. Utiliza sistemas de punição, desde pequenos castigos físicos, privações ligeiras e pequenas humilhações. Michel Foucault: poder, disciplina e educação A obra de Michel Foucault influenciou estudos em diversas áreas sociais e no campo da educação se constitui como um referencial para se refletir sobre as formas como o poder se manifesta na instituição escolar para disciplinar seus agentes. Habermas: educação e ação comunicativa Jürgen Habermas (1929-) é considerado um herdeiro da Escola de Frankfurt – nome dado ao grupo de pensadores alemães do Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt, fundado na década de 1920. Sua produção ficou conhecida como teoria crítica. Entre eles destacaram-se Theodor Adorno, Max Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Erich Fromm e Jürgen Habermas. Habermas vem desenvolvendo uma densa produção filosófica que visa resgatar a importância da relação intersubjetiva entre os sujeitos na busca do entendimento pelo diálogo. Habermas: educação e ação comunicativa A ação educativa pode prestar a contribuição de socializar as novas gerações para a construção de identidades de acordo com os padrões éticos de convivência e solidariedade. Habermas recupera o conceito de esclarecimento elaborado por Horkheimer e Adorno para designar o processo de desencantamento do mundo, que indica o processo de secularização da cultura com a eliminação do pensamento e das práticas mágicas. O desencantamento do mundo significaria a emancipação em relação ao medo da natureza, ao desconhecido e ao pensamento mítico. Habermas: educação e ação comunicativa Na obra Dialética do esclarecimento (1947), Horkheimer e Adorno procuram refletir sobre as razões pelas quais a humanidade, em vez de entrar em um estado verdadeiramente humano, caminha cada vez mais para a barbárie. O processo de racionalização e o desenvolvimento tecnológico trazem a possibilidade de desagregação social, pois não trazem a prosperidade para toda a humanidade. A racionalização traz a anulação dos indivíduos, que são transformados em meros apêndices do sistema capitalista. Habermas: educação e ação comunicativa Ao longo do processo de socialização, os seres humanos são estimulados ao conformismo com a ordem social, que se pretende inexorável, o que nega a possibilidade de emancipação. A modernidade é caracterizada como a era do individualismo, marcada pela crescente autonomia e ausência de vida comunitária e social. O consumismo é a base da vida social, em que a destruição e a depreciação planejada dos bens fundamentam o sistema econômico do desperdício, que propicia a nova produção. Habermas: o agir comunicativo A formação da identidade dos indivíduos deve ser um processo social que requer a aprendizagem da competência linguística (necessária para a comunicação); competência cognitiva (necessária para a busca de conhecimentos necessários para a vida social); e da competência para a interação, que facilita a ação, a convivência e a participação na vida social. O agir comunicativo deve ser orientado pelo acordo intersubjetivo e depende da emissão de um discurso com pretensão de validade que não vise “influenciar as decisões dos outros”; deve ser pautado na argumentação e na reflexão sobre valores e objetivos a serem alcançados. Interatividade A ação comunicativa proposta por Habermas tem como objetivo: a) influenciar as decisões dos outros. b) exercer o controle sobre os corpos. c) impor um saber disciplinador. d) aderir acriticamente aos poderes constituídos. e) a busca do consenso e soluções dialogadas para os conflitos. A educação no contexto global As formulações teóricas dos pensadores que fundaram a Sociologia e os desenvolvimentos temáticos que a estas se juntaram ao longo do século XX oferecem hoje um arsenal analítico substantivo e positivo, à disposição dos estudiosos da educação. Em que medida uma análise de um problema educacional qualquer pode ser considerada sociológica? São as conexões que a Sociologia é capaz de estabelecer entre os processos e instituições educacionais, de um lado, e os processos e instituições sociais mais gerais, de outro. A educação no contexto global Uma questão central para a Sociologia é identificar qual o peso que têm sobre as relações sociais da vida cotidiana as estruturas sociais já estabelecidas, consolidadase institucionalizadas. Em que medida um determinado fenômeno social, como uma reforma do sistema de ensino, é resultante do modo atual pelo qual as instituições sociais já estabelecidas (o Estado, as igrejas, o mercado etc.) estão organizadas ou, por outro lado, é resultante das ações inovadoras de sujeitos sociais interessados em modificar o funcionamento dessas instituições. A educação no contexto global O sociólogo precisa sempre ter um olho voltado para as estruturas (aquilo que está estabelecido) e outro olho para os processos (aquilo que está em mudança). Permanência e mudança são resultantes da tensão que sempre existe entre o peso das instituições e a capacidade de ação dos sujeitos, pois as práticas destes estarão sempre orientadas para manter ou mudar os conteúdos das estruturas. É possível esperar que as classes sociais que se encontram em desvantagem econômica empreendam ações visando a mudança dessa estrutura, enquanto que as classes em vantagem ajam objetivando sua manutenção. A educação no contexto global A análise da educação de hoje, sob a perspectiva sociológica, demanda que conheçamos o caráter da fase atual do capitalismo. Como compreender os debates e conflitos sociais que envolvem a educação contemporânea sem levar em conta a configuração atual dos conflitos em torno da economia e do Estado? A contribuição que a Sociologia pode dar ao estudo dos fenômenos educacionais é confrontá-los com os aspectos econômico, político e cultural que ocorrem em seu cotidiano. A educação no contexto global As análises sobre a educação no contexto global indicam que em muitos países os cidadãos têm dificuldade de obter acesso à educação. O analfabetismo continua disseminado nos países pobres. Dados da Unesco indicam que em 2004, 4,4% do PNB global foi investido em educação. Os níveis mais elevados de gastos com a educação foram na América do Norte e no Oeste Europeu, com 5,6% de seu PNB regional. A educação no contexto global Os Estados árabes gastaram 4,9% de seu PNB em educação. A África subsaariana gastou 4,5%. A América Latina e o Caribe gastaram 4,4%. A Ásia Central gastou 2,8% Leste da Ásia e do Pacífico gastou 2,8%. A América do Norte e o Oeste Europeu, com apenas 8% da população mundial, detêm 55% da despesa global com educação. A crise no sistema educacional No contexto global, o sistema educacional encontra-se em crise: taxas de evasão elevadas, perda dos padrões de qualidade e disciplina, falta do desenvolvimento de habilidades economicamente úteis, resultados fracos em exames padronizados –elementos que têm conduzido ao declínio da produtividade econômica, ao desemprego, à pobreza, à perda da competitividade internacional. A busca da eficiência dos sistemas de ensino tem se tornado um discurso relevante socialmente. A educação no contexto global A busca por padrões de qualidade mais altos, testes mais rigorosos, educação para o emprego e uma relação mais próxima entre educação e economia em geral, expressa o sistema de competitividade internacional, em que países lutam para manter índices de empregabilidade e atrair investimentos. A necessidade de reformar a educação é vista como primordial para os neoliberais. As escolas são concebidas como “buracos negros” dentro dos quais o dinheiro é jogado e não oferecem os resultados esperados. A economia do conhecimento Com o avanço rumo a uma economia do conhecimento, a educação se tornará ainda mais importante. À medida que as oportunidades para trabalhadores braçais não especializados diminuírem, o mercado de trabalho exigirá trabalhadores que se sintam confortáveis com a nova tecnologia da informação, que possam adquirir novas habilidades e que sejam capazes de trabalhar de maneira criativa. Interatividade Qual o papel dos sistemas educacionais no contexto de globalização? a) Perdem relevância, pois valoriza-se cada vez mais o autodidatismo. b) Adquirem importância, pois formam a mão de obra qualificada para a competição internacional. c) São indiferentes, pois a globalização é um processo eminentemente produtivo. d) São indiferentes, pois o desenvolvimento tecnológico conduziu à automação dos sistemas produtivos. e) Perdem importância, pois são ineficientes para competir no mercado internacional. Estudos culturais, pós-colonialismo e educação Os estudos culturais se constituíram como área transdisciplinar de pesquisa e intervenção política na Inglaterra na década de 1960, com a fundação do Centre for Contemporary Cultural Studies da Universidade de Birmingham. Seus principais pesquisadores foram: Richard Hoggart, Raymond Williams, Edward Thompson e Stuart Hall. Nos Estados Unidos surgiram vertentes do pensamento pós-colonial sob a influência da obra Orientalismo: o oriente como invenção do ocidente, de Edward Said. Estudos culturais, pós-colonialismo e educação Os estudos culturais e pós-colonialismo partem da hipótese de que entre as diferentes culturas existem relações de poder e dominação que devem ser questionadas. Parte-se de um questionamento das pretensões de universalidade das manifestações culturais europeias, assim como a contestação das narrativas e demais produções intelectuais eurocêntricas. No Brasil, a dominação cultural se manifestaria na seleção de autores utilizados no processo formativo de professores e mesmo nos programas de pós-graduação. Estudos culturais, pós-colonialismo e educação Os estudos culturais desenvolvem uma crítica à maneira como o conhecimento é tratado no mundo acadêmico e da excessiva subordinação deste aos interesses das classes dominantes. Questões colocadas pelos estudos culturais no Brasil: Em que medida a educação escolar e os currículos não estão comprometidos com a herança colonial, possibilitando assim a manutenção do preconceito e da discriminação étnica? Estudos culturais, pós-colonialismo e educação Em que medida a noção de raça, forjada nos séculos XVIII e XIX pelo pensamento europeu, continua influindo na formação das identidades de alunos e educadores? Como os materiais didáticos, as narrativas literárias e os textos científicos e filosóficos continuam celebrando a soberania do sujeito imperial europeu? Como as subjetividades de alunos e educadores de diferentes grupos étnicos e raciais são influenciados pelos padrões culturais europeus? Estudos culturais, pós-colonialismo e educação O estabelecimento de oposições binárias deram legitimidade às relações de opressão, dominação e exclusão dos povos não europeus. “O pensamento bipolar se define por uma hierarquia entre dois polos, ou seja, não concebe a diferença sem hierarquização, estabelecendo como polo normativo e dominante as religiões cristãs e suas concepções de divino e de bem, complementadas por valores que mitificam a luz, a brancura, o lado direito, o masculino, como definidores de uma ordem que deve ser imposta aos praticantes das demais religiões, que representam o caos, a escuridão, a negrura, o lado esquerdo, o feminino, enfim, as pessoas sem poder nem propriedade” (PILETTI, N.; PRAXEDES, W., 2010). Estudos culturais, pós-colonialismo e educação Como superar a polarização no modo de raciocinar e admitir o diverso, o diferente, o múltiplo, o complexo e o heterogêneo? Para Giroux, pensador educacional radicado nos Estados Unidos, o estabelecimento de uma escola democrática requer o desenvolvimento de consciências críticas quanto aos processos de imposição de culturas e visões de mundo; e convivência entre identidades culturais e sociais múltiplas.Estudos culturais, pós-colonialismo e educação Sob a influência de Habermas, defende-se que a educação crítica e democrática requer que as relações entre os agentes do espaço escolar devem se pautar pela democracia na procura do consenso por meio do diálogo, capacitando todos para o exercício da democracia e da participação. Sob a influência de Gramsci, defende-se que os professores assumam a postura de “intelectuais transformadores”. Estudos culturais, pós-colonialismo e educação Para Giroux, é preciso construir uma ética política de respeito às diferenças nas relações sociais dentro e fora da escola, sem preconceitos depreciativos, estereótipos negativos e discriminação de ninguém. Giroux concebe a escola como local de luta contra a hegemonia cultural dos grupos sociais dominantes e como local de expressão cultural dos grupos subalternos. Estudos culturais, pós-colonialismo e educação A educação pós-colonial deve se livrar do eurocentrismo, que concebe as culturas das populações de todas as regiões do mundo como primitivas, atrasadas, exóticas, ignorantes e inferiores. A superação do eurocentrismo na educação requer a criação de formas locais de convivência baseadas na autonomia das comunidades e escolas e na solidariedade e respeito às diferenças. Multiculturalismo, identidade e educação As sociedades contemporâneas são heterogêneas, formadas por diferentes grupos humanos, interesses contrapostos, classes e identidades culturais em conflito. Vivemos em sociedades nas quais os diferentes são obrigados ao encontro e à convivência. As ideias multiculturalistas discutem como podemos entender e até resolver os problemas gerados pela heterogeneidade cultural, política, religiosa, étnica, racial, comportamental e econômica, já que temos de conviver. O multiculturalismo A diversidade de formas culturais do mundo contemporâneo convive com a força da homogeneização cultural veiculadas pelos meios de comunicação de massa, que dá destaque às produções culturais estadunidenses. O multiculturalismo é um fenômeno originário dos países do Norte, onde a presença de grupos raciais e étnicos coloca a necessidade de ampliar a participação destes grupos diante da cultura nacional dominante. O multiculturalismo O multiculturalismo não pode ser separado das relações de poder que, sobretudo, obrigaram essas diferentes culturas raciais, étnicas e nacionais a viverem no mesmo espaço. É preciso compreender que a atração que movimenta os fluxos migratórios em direção aos países ricos não pode ser separada das relações de exploração, que são responsáveis pelos profundos desníveis entre as nações do mundo. O multiculturalismo O multiculturalismo transfere para o terreno político uma compreensão da diversidade cultural, que esteve restrita por muitos anos a campos especializados da Antropologia. A Antropologia, como ciência, contribuiu para compreendermos que não se pode estabelecer uma hierarquia entre as culturas humanas. Portanto, não se pode estabelecer nenhum critério pelo qual uma determinada cultura seja julgada superior a outra. Deste modo, o multiculturalismo apela para o respeito, a tolerância e a convivência pacífica entre as culturas. O multiculturalismo Existem diversas concepções de multiculturalismo na atualidade, desde grupos que defendem a assimilação de minorias, os que defendem a integração como iguais na sociedade, entre outros. Estes grupos nos ensinam a reconhecer que existem indivíduos e grupos diferentes entre si, mas que possuem direitos correlatos, e que a convivência em uma sociedade democrática depende da aceitação da ideia de compor uma totalidade social heterogênea. Multiculturalismo e educação democrática A escola, como espaço público de convivência fora da vida privada, íntima e familiar, deve capacitar os estudantes a participar do restante da vida social. A escola, como esfera pública, deve capacitar sua comunidade a buscar soluções para os problemas não só da escola, mas também do bairro, da cidade, do Estado e do país. Interatividade Os estudos culturais dirigem sua crítica para: a) a visão de mundo estabelecida no meio escolar da superioridade da cultura europeia. b) a visão de mundo de que todas as culturas humanas possuem seu valor intrínseco. c) a visão de mundo de que as culturas humanas devem viver segregadas para evitar conflitos. d) a visão de mundo de que as diferenças culturais devem ser administradas para não incomodar os interesses dominantes. e) a visão de mundo de que todos são iguais diante do consumo. A questão de gênero na educação O emprego da palavra “gênero” inicialmente designava, na gramática, o “sexo” dos substantivos. Posteriormente, sua definição foi se sofisticando para tornar-se oposição ao termo sexo. Enquanto “sexo” designa os aspectos estritamente biológicos da identidade sexual, o termo “gênero” refere-se aos aspectos socialmente construídos do processo de identificação sexual. No âmbito da educação, a questão de gênero e raça passaram a ser vistas como relevantes no processo de produção e reprodução das desigualdades sociais. O feminismo vem mostrando, com força cada vez maior, que as linhas de poder na sociedade estão estruturadas não apenas no capitalismo, mas também no patriarcado. A questão de gênero na educação No passado, a educação e o currículo escolar se diferenciavam ao longo das linhas de gênero. De um modo geral, as meninas aprendiam habilidades necessárias para a vida doméstica e os meninos aprendiam habilidades necessárias para o trabalho. Até a década de 1970, a questão de gênero não era central à sociologia da educação, e as pesquisas sobre a experiência das meninas tinha alcance limitado. A questão de gênero na educação Os sociólogos que trabalhavam em uma perspectiva teórica feminista tenderam a considerar que as escolas colocavam as meninas sistematicamente em posição de desvantagem frente aos meninos. Em 1983, Michelle Stanworth estudou as experiências de sala de aula de um grupo de crianças na Inglaterra e constatou que as meninas tendiam a ter menos atenção dos professores do que os meninos. Ela concluiu que este tipo de ensino diferencial enfraquecia a confiança das meninas em sua própria capacidade. A questão de gênero na educação Embora esta realidade esteja mudando, os livros didáticos escolares também ajudam a perpetuar a imagem dos gêneros. Até recentemente, era comum os livros de história em escolas primárias retratarem os meninos com iniciativa e independência, enquanto as meninas, quando apareciam, eram mais passivas. Pesquisadores ingleses analisaram como os professores induzem as meninas a seguir carreiras menos prestigiosas do ponto de vista acadêmico. Todavia, o desempenho escolar das meninas em muitos sistemas educacionais ao redor do mundo supera o desempenho masculino. A questão de gênero na educação Na Inglaterra, desde o começo da década de 1990, o desempenho escolar masculino têm sido inferior ao feminino. As meninas têm superado os garotos em todas as áreas disciplinares (inclusive em ciências e matemática) e em todos os níveis do sistema educacional. No Brasil, dados do Censo da Educação do Inep indicam que, em 2011, 61,1% dos concluintes dos cursos de graduação no Brasil eram do sexo feminino e 38,9% do sexo masculino. A questão de gênero na educação O que podemos concluir é que as mulheres tiveram um avanço significativo dentro dos sistemas de educação nos últimos 40 anos. Em números absolutos, elas superam os homens em qualificações obtidas e frequêncianas instituições de ensino superior. Porém, ainda ocorrem desigualdades significativas quando as mulheres com mais formação educacional entram para o mercado de trabalho, com os homens mantendo salários maiores e mais perspectivas de promoção. Etnia e educação Vivemos em uma sociedade multicultural, em que convivem inúmeras etnias e já não é mais aceito que só os conhecimentos proporcionados pela visão de mundo eurocêntrica estejam representados nos currículos escolares. A escola é um espaço público e um direito de todos os brasileiros. Embora seja um direito, não basta a presença física dos negros na escola para se dizer que são respeitados. Os negros formam um contingente de aproximadamente 50% da população brasileira que hoje tem acesso à escolarização, mas suas origens, história e cultura não são tratadas adequadamente nos currículos, nas concepções e práticas dos educadores. Etnia e educação Nas últimas décadas, a comunidade científica concluiu que a classificação dos seres humanos por raças deve ser cientificamente desacreditada. Veja o que diz a Declaração sobre Raça da Associação Norte-Americana de Antropologia, de 1998: “Dado o nosso conhecimento a respeito da capacidade de seres humanos normais serem bem-sucedidos e funcionarem dentro de qualquer cultura, concluímos que as desigualdades atuais entre os chamados grupos raciais não são consequências de sua herança biológica, mas produtos de circunstâncias sociais históricas e contemporâneas e de conjunturas econômicas, educacionais e políticas.” Etnia e educação A conceito de “raça” foi abolido nas ciências biológicas. Nas ciências sociais, o termo é utilizado para designar indivíduos e grupos sociais com base na cor da pele e identificar os grupos sociais que foram historicamente excluídos pelas suas marcas físicas. Entre os ativistas dos movimentos políticos negros, já se convencionou chamar de “racismo à brasileira” a maneira preconceituosa e discriminatória de tratamento dispensada aos indivíduos classificados como negros nos país. O “racismo à brasileira” concebe como natural a hierarquia entre as raças, cada qual ocupando um lugar na pirâmide social, com os brancos no topo. Etnia e educação Pesquisas educacionais já demonstraram que o racismo contra os alunos considerados negros interfere no desempenho escolar. Utilizando dados do Ministério da Educação, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), pesquisadores do Rio de Janeiro concluíram que os alunos negros apresentam desempenho escolar menos satisfatório do que os alunos brancos que vivem nas mesmas condições sociais. Análises indicam que, por meio do material didático, das aulas e das práticas pedagógicas, a escola difunde representações erradas, distorcidas e mal-intencionadas sobre os negros. Etnia e educação É possível considerar que o racismo e as desigualdades socioculturais se refletem no sistema escolar de inúmeras maneiras, uma vez que o simples acesso à escola não assegura igualdade de resultados, pois muitos alunos negros não competem com os demais em igualdade de condições: os filhos de pais mais escolarizados são favorecidos pela estruturação dos currículos; o nível de renda dos negros prejudica a competitividade dos seus filhos no sistema escolar; o preconceito e a discriminação sofridos pelos alunos negros no cotidiano escolar também influenciam no desempenho de maneira negativa. Considerações finais A educação foi um dos temas fundadores da Sociologia, considerado importante processo de socialização para a transmissão dos valores e regras morais da sociedade. Apresentamos as concepções teóricas de alguns sociólogos clássicos e contemporâneos a respeito da educação. Examinamos o impacto da globalização sobre os sistemas educacionais. Exploramos as relações entre as principais divisões sociais – classe, cultura, gênero e etnia. Considerações finais As ideias e valores, o mundo da cultura, enfim, o conteúdo que ao fim é ensinado nas relações educacionais, são fruto da luta cotidiana por interesses econômicos e por poder político. Os grupos e classes dominantes procuram sempre fazer com que as ideias e os valores aceitos por todos sejam os seus próprios valores e ideias. Portanto, as práticas pedagógicas estão sujeitas ao conflito ideológico vigente numa dada sociedade. Interatividade Podemos concluir que a escola, como instituição social voltada para a transmissão da cultura humana: a) está imune aos problemas sociais. b) limita-se a preparar moralmente os indivíduos para enfrentar os conflitos sociais. c) reflete os conflitos existentes na sociedade. d) distancia-se dos problemas sociais e cria um sistema de proteção dos jovens e crianças. e) resolve os problemas sociais ao colocar o poder do saber a serviço da formação das novas gerações. ATÉ A PRÓXIMA! Slide Number 1 Análise sociológica da educação contemporânea Objetivos desta unidade Questões centrais Michel Foucault: poder, disciplina e educação Michel Foucault: poder, disciplina e educação O poder disciplinar O poder disciplinar Michel Foucault: poder, disciplina e educação Habermas: educação e ação comunicativa Habermas: educação e ação comunicativa Habermas: educação e ação comunicativa Habermas: educação e ação comunicativa Habermas: o agir comunicativo Interatividade Resposta A educação no contexto global A educação no contexto global A educação no contexto global A educação no contexto global A educação no contexto global A educação no contexto global A crise no sistema educacional A educação no contexto global A economia do conhecimento Interatividade Resposta Estudos culturais, pós-colonialismo e educação Estudos culturais, pós-colonialismo e educação Estudos culturais, pós-colonialismo e educação Estudos culturais, pós-colonialismo e educação Estudos culturais, pós-colonialismo e educação Estudos culturais, pós-colonialismo e educação Estudos culturais, pós-colonialismo e educação Estudos culturais, pós-colonialismo e educação Estudos culturais, pós-colonialismo e educação Multiculturalismo, identidade e educação O multiculturalismo O multiculturalismo O multiculturalismo O multiculturalismo Multiculturalismo e educação democrática Interatividade Resposta A questão de gênero na educação A questão de gênero na educação A questão de gênero na educação A questão de gênero na educação A questão de gênero na educação A questão de gênero na educação Etnia e educação Etnia e educação Etnia e educação Etnia e educação Etnia e educação Considerações finais Considerações finais Interatividade Resposta Slide Number 60
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