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Atividades de Geografia Nome: Alexandre Anselmo de Sousa Curso: Geografia – Licenciatura - Noite Disciplina: Geografia da população Professora: Denise Bomtempo Fortaleza - CE 2013 Max Sorre e a Geografia Humana SORRE, Max. Geografia. Organizador: MEGALE, Francisco Januário. São Paulo: Editora Ática, 1984. Capítulos: Fundamentos de Geografia Humana. A noção de gênero de vida e sua evolução. Migrações e mobilidades (Pág. 87 a 139). Max Sorre, geógrafo francês nascido em 1880, dedicou seu tempo a pesquisar e a estudar sobre a Geografia Humana e suas particularidades. Em Fundamentos de Geografia Humana, o autor discorre sobre o surgimento desta nova abordagem geográfica, onde o conceito primordial da geografia em ser descritiva, passa a ser exercida de forma também explicativa. Para uma melhor aplicação desses novos conceitos que irão ser explanados, faz-se necessário também a colaboração de outras esferas científicas, como a Etnografia e a Sociologia. A partir dessa tríade, se torna possível uma compreensão do meio e sua associação com os grupos humanos, para um melhor entendimento de seus costumes e relações. Sorre também se utiliza da Ecologia, sendo para ele o ponto de partida, onde “a descrição do meio ou do ambiente em função das características do ser que nele reage representa o primeiro termo da equação de equilíbrio” (SORRE, pág.88). Tendo influências do geógrafo Vidal de La Blache, Sorre com seus estudos e pesquisas também destacou a importância da ligação entre a geografia física e a geografia humana, que é de onde seu trabalho evolui e passa a expor essa relação de forma bastante minuciosa. Para apreensão dessa realidade, ele utiliza diversos conceitos e definições onde através deles começamos a aprofundar o conhecimento de geografia humana. A noção de gênero de vida é a ideia central, onde tenta caracterizar o conjunto de atividades de um grupo humano, mantidas pela tradição que lhes garante sua sobrevivência em um determinado ambiente. Sorre considera o gênero de vida um conjunto de técnicas. E por conta disso, seu projeto se desenvolve na busca dos fundamentos técnicos, onde abrange a complexidade dos extremos, desde uma forma de vida arcaica, até as formas de vida mais modernas. Esses fundamentos se subdividem em: técnicas de vida, técnicas de energia e técnicas de produção das matérias-primas e sua transformação. Essa ramificação de conceitos tem por objetivo abordar todos os eventos que surgem dessa relação do homem com o meio, de sua evolução de um ambiente rural para um industrializado, de como se desenvolvem as relações sociais dos grupos, do trabalho e da circulação de pessoas e mercadorias na evolução das civilizações. O gênero de vida tem por objetivo definir e dar uma melhor compreensão das atividades do grupo humano e sua evolução. Para isso, faz-se necessário utilizar como base de estudo os elementos espirituais, materiais e sociais que são produzidos a partir da interação desse grupo numa sociedade. 2 Sorre considera o gênero de vida como “formas ativas de adaptação do grupo humano ao meio geográfico” (SORRE, pág.103). Dentro dessa perspectiva, há uma evolução desses gêneros, iniciando com os traços criadores ou organizadores, e também se elevando à função de fixadores, através do trabalho e suas estruturas sociais. É perceptível que toda essa teia de costumes é diretamente relacionada ao ambiente onde o grupo se estabelece. A evolução dos instrumentos e ferramentas de trabalho também contribuiu para uma divisão social do trabalho no grupo e o crescimento demográfico. A partir daí, começamos a ter uma necessidade de expansão do meio agrícola para o industrial, gerado também pelo aumento da mão-de-obra. Essa expansão do grupo e de suas atividades acaba por gerar novos gêneros de vida, diferentes daqueles anteriormente vivenciados. Esses novos gêneros também podem surgir mediante contato com outros grupos. Mesmo tendo essa tendência de evolução, há determinados grupos que são limitados ou que não abrem mão de seus costumes. A circulação e deslocamento dos grupos no globo é algo que Sorre identificou com um fator de renovação dos antigos costumes e gêneros de vida. Essa expansão causa uma proximidade e adaptação com outras regiões do globo como também uma possível extinção dos mais antigos gêneros de vida. A circulação também permitiu a oportunidade das pessoas de saírem do meio rural em busca de outros locais e meios de trabalho, desta forma desestabilizando a vivência e o costume local de atividades rurais. Essa maior liberdade de locomoção também permitiu novos gêneros de vida industriais com dependência da agricultura, visando à exportação de mercadorias. Esse novo modelo estabelece uma mudança contínua no âmbito rural. O que antes a produção gerada era como fim de seu sustento e manutenção do grupo humano, agora se torna uma fonte de produção excedente visando à expansão do comércio, através das monoculturas. Com o enfraquecimento e descaracterização do gênero rural pela mudança de importância, começam a surgir os gêneros de vida urbanos, trazendo uma nova perspectiva de costumes, habitação e relações sociais. O surgimento das cidades é a prova do desenvolvimento das civilizações. No que tange às migrações, Sorre disserta que sua definição vai muito além de seu conceito original. Ela não reflete somente o deslocamento dos mais variados grupos humanos, mas também de seus costumes e de sua realidade com o meio anterior ocupado e sua futura adaptação a uma nova realidade. Por conta dessa realidade tão complexa, cabe ao geógrafo ter uma abordagem mais ampla de entendimento dessa ação. O ecúmeno está sempre em mobilidade. Motivado pela migração, esta mudança contínua tem por objetivo a sobrevivência, melhorias de habitação e de novas oportunidades de arraigamento. A evolução converte o conceito de estabilidade, tornando-o uma situação relativa, atrelada ao meio ambiente. 3 Para uma melhor compreensão desses fluxos de mobilidade e migração, Sorre fez estudos do habitat e quais as motivações que levam os grupos a saírem de seus locais de origem em busca de novos habitats. Dentro deste viés, também há os grupos que não se apegam à terra, de mobilidade total. Com o passar dos tempos, é notório que as migrações são motivadas por uma quantidade maior de situações. Há casos que ocorrem de forma individual, coletiva, com objetivos determinados, como também a esmo. Devido a essa complexidade de situações, não há registros mais eficientes anteriores ao século XIX. Na análise das abordagens contemporâneas dos fluxos migratórios, é importante utilizar um método mais detalhado, onde “seu estudo só se torna completo quando relacionado com a massa demográfica das regiões de partida e de chegada, por meio de cálculos de relações e de índices que indicam causas e efeitos” (SORRE, pág. 138). Max. Sorre com seu estudo enriqueceu o conhecimento sobre a geografia humana e suas aplicações em nosso cotidiano para compreensão de nossa realidade. É de suma importância para entender as relações dos diversos grupos humanos que hoje estão estabelecidos, fruto de diversas mudanças e miscigenações de povos e tribos no passado. Apesar do devir do ecúmeno, das migrações e dos gêneros de vida se manterem até os dias atuais, sua obra se tornaatemporal para a compreensão de como surgiu toda essa rede transformadora da paisagem e das relações sociais estabelecidas no meio habitado. Palavras-chave: Geografia humana. Gênero de vida. Civilização. Ecúmeno. Migrações. 4 Desenvolvimento da população e povoamento GEORGE, Pierre. Geografia da População. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1991. Geógrafo francês, Pierre George em sua obra Geografia da População realiza um estudo sobre o povoamento e dispersão populacional no globo e suas interações. Em um primeiro momento, sua pesquisa tem por objetivo discorrer de forma detalhada sobre as mais variadas formas de povoamento, tendo como variante as condições climáticas. Existem três domínios que afetam de forma mais incisiva o ambiente e que se tornam um obstáculo a mais para o arraigamento das populações, que são ambientes demasiadamente frios, de aridez ou de alta concorrência vital com demais seres vivos que põem em risco o estabelecimento e o desenvolvimento de forma mais segura dos grupos humanos. Mesmo tendo diversas dificuldades a se transpor nesses ambientes, muitos povos - embora em algumas regiões a quantidade seja bem menor de povoamento – conseguiram se adaptar as mais variadas adversidades e se estabeleceram nesses locais mais inóspitos. Apesar do estudo tentar abordar o tema da forma mais ampla possível, George admite que o fator territorial e suas particularidades de solo, vegetação e características regionais são muito extensos e que se torna muito difícil e inviável determinar de fato todo o potencial habitável do planeta. Por conta disso, o mesmo utilizou o processo de descontinuidade de povoamento em todo o globo, onde com este recurso ele poderá estudar as formas de povoamento de vários ambientes e tentar entender o porquê de áreas extremamente concentradas e posteriormente ao redor existam grandes vazios territoriais. A geografia natural tem um fator decisivo na ocupação desses territórios. George define que na zona temperada do hemisfério norte é uma área que favorece ao povoamento e ao seu desenvolvimento econômico e industrial. Por conta disso, em torno de metade da população encontra-se nessa região. É perceptível que cada região, teve suas motivações e suas formas de ocupação e migração. Mesmo tendo essas peculiaridades territoriais, um fator que afetou praticamente o globo em sua totalidade, foi a revolução industrial. Intensas concentrações populacionais ocorridas primeiramente na Europa e posteriormente nos demais países ricos, desenvolvidos e tardiamente nos países mais pobres, foram motivados por esse avanço de produção. A partir de então, a mensuração de povoamento deve ser feita não somente pela economia agrícola, mas também industrial. Mesmo a industrialização sendo um fator modificador importante, causando grandes êxodos rurais e abandono do campo, ainda existem países que possuem um povoamento determinado pela economia agrícola e 5 também associados à industria, como é o caso da China. De forma geral, o autor expõe didaticamente que a nível global, podemos entender que “um mostruário original da humanidade tendo a ocidente as grandes acumulações humanas do mundo industrial e a leste a mais antiga região agrícola” (GEORGE, pág.30). Existem as mais variadas formas de ocupação e suas motivações. Seja pela atividade exercida, fontes de renda, recurso hídrico, por povoamento agrícola ou industrial. A escravatura também foi um fator motivacional na miscigenação e povoamento na América central e na América do Sul. Toda essa teia de eventos ao redor do mundo gerou uma diferenciação das regiões agrícolas e industriais, sendo que esta última proporcionou o surgimento das populações urbanas. A partir destas modificações, começou uma relação desproporcional entre o meio rural e o urbano. Apesar de existirem inúmeros grupos étnicos, George nos traz a afirmação de que todos somos mestiços. Por conta dos fluxos migratórios, é impossível determinar com clareza a origem pura de cada grupo e o que se tem é um agrupamento de características comuns a determinados agrupamentos étnicos. Os maiores grupos étnicos em que podemos nos basear como início dessa miscigenação são os brancos de origem européia, semitas e indo-iranianos, os amarelos, os negros e os índios. Mesmo tendo toda essa variação étnica e cultural, a maior disparidade no mundo atual foi com a desvalorização do campo e com o surgimento da vida social. É dessa nova ordem mundial, que surgem os desequilíbrios sociais onde, com a ascensão do capitalismo, também surge a concentração de renda, a falta de instrução da população, moradias precárias como as favelas devido a sobrecarga das cidades causados pelo crescimento desordenado, motivado pelo fluxo migratório e a expectativa de melhores oportunidades. Esse mesmo fluxo migratório causa também descontinuidade na distribuição da população, gerando agrupamentos maiores de pessoas em espaços menores, como também o abandono das regiões campestres. Diante dessa realidade, George nos diz o efeito que ocorre nos grandes centros urbanos, onde “o espaço é densamente ocupado de modo contínuo na massa principal das cidades. O habitat não se dilui, a não ser na periferia” (GEORGE, pág. 63). Após esse efeito, é que as cidades menores ao redor vão ganhando mais importância e volume de atividades que até então, só existiam na cidade principal. Há uma expansão da periferia tanto em moradia como na prestação de serviços. A descontinuidade também tem seu reflexo dentro do campo, onde o fator crucial é a forma de utilização dos solos. Esse efeito gera uma divisão na agricultura, onde há países que exercem uma agricultura voltada para a economia de culturas, também conhecida como agricultura de chuvas e também para a agricultura de regadio. Essas modalidades de plantio também geram um reposicionamento do povoamento como também alteram a sua relação com as terras cultivadas. 6 Em seu trabalho, percebemos como Pierre George faz uma espécie de linha do tempo com os eventos que foram surgindo provenientes do povoamento e de sua locomoção dentro do globo. Mesmo sendo de uma ordem muito complexa essa cadeia de ações e conseqüências, fica evidente de como o progresso tem realidades antagônicas: evolução e melhorias para a perpetuação da espécie, como também nos traz um descontrole social diante das novas realidades econômicas e estruturais. Essa expansão ocorre de forma desigual, excludente e precária, onde o meio ambiente em um primeiro momento tinha uma importância crucial nessa relação de habitat e subsistência. Hoje, essa situação se tornou secundária, onde o que prevalece são as relações sociais e a produtividade visando o comércio e o estímulo ao consumo. Ao mesmo tempo, vemos a capacidade dos grupos humanos em se adaptarem as mais diversas situações do ambiente em busca de seu estabelecimento e desenvolvimento. Palavras-chave: Povoamento. Território. Geografia da população. Descontinuidade. Sociedade.7