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Estomatologia Geriátrica

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Diagnóstico em Patologia Oral - Tommasi. Capítulo 30 
Envelhecimento 
Senescência são as alterações 
orgânicas, morfológicas e fisiológicas do 
processo de envelhecimento. 
Os idosos são classificados como 
(a) independentes, (b) parcialmente 
dependentes e (c) totalmente 
dependentes. 
Durante o processo de 
envelhecimento há progressiva redução 
das reservas funcionais do organismo, 
tornando-o pouco capaz, ou incapaz, de 
se adaptar às situações adversas, seja 
física, emocional ou econômico-social, 
ocasionando maior incidência de doenças 
que terminam por levar à morte. 
 
Alterações fisiológicas do 
sistema estomatognático durante o 
envelhecimento 
A força da mastigação diminui com 
a idade, torna-se evidente o decréscimo 
da potência muscular (principalmente dos 
músculos massetéricos). 
A mucosa labial torna-se mais fina, 
lisa e friável, sujeita á injúrias e sua 
cicatrização torna-se mais lenta. 
Há diminuição da sensibilidade 
gustativa devido a redução do número de 
papilas gustativas. 
Há modificação nas glândulas 
salivares, diminuição do fluxo salivar (vol), 
alterando a proteção aos tecidos bucais. 
O esmalte torna-se menos 
permeável e mais friável devido ao 
aumento da concentração de nitrogênio e 
flúor na sua camada superficial, sua 
coloração torna-se mais escura pela 
perda de translucidez, podendo 
apresentar trincas e manchas. 
A atrição é frequentemente 
encontrada e está relacionada à 
mastigação, ocorrendo a diminuição das 
cúspides (altura) e planificação das 
superfícies oclusais, influência de fatores 
como: dieta, fator ocupacional e bruxismo. 
Na dentina ocorre deposição 
contínua de tecido mineralizado (dentina 
secundária) causando obliteração gradual 
dos túbulos dentinários. 
Na polpa ocorre diminuição do 
volume pulpar (devido a deposição de 
dentina secundária) podendo chegar a 
obliteração dos canais radiculares, 
dificultando procedimentos endodônticos. 
Pode-se observar ainda a formação de 
cálculos pulpares. 
O espaço do ligamento periodontal 
diminui, enquanto há aumento gradual da 
espessura do cemento (que pode 
triplicar), sendo sua deposição mais 
acentuada no terço radicular. 
O periodonto, gengivas, osso, 
cemento e fibras periodontais parecem 
ser as estruturas mais afetadas com a 
senescência. A gengiva sofre migração 
apical, com diminuição dos rebordos 
alveolares em altura e espessura, que, 
por sua vez, pode levar a exposição 
radicular, aumento do espaço interdental, 
dando a sensação de aumento do 
tamanho dos dentes. 
 
Edentulismo 
É um achado comum nos estudos 
com idosos, entretanto não é sinônimo de 
envelhecimento. Além das principais 
causas atribuídas à perda dentária, um 
período de hospitalização ou 
institucionalização elevado contribui para 
o aumento da perda dentária. 
Decorrente da reabsorção severa 
dos rebordos alveolares, muitas vezes o 
forame mentual ou forame incisivo passa 
a se situar próximo ao rebordo residual, 
até mesmo sobre ele, podendo 
desencadear dor em forma de choque 
(dor neuropática). 
Com a perda dos dentes, 
acontece migração crônica e progressiva 
alterando a configuração do rebordo, essa 
reabsorção está associada a fatores como 
Diagnóstico em Patologia Oral - Tommasi. Capítulo 30 
sexo, idade, tempo que está edêntulo, 
nutrição, excesso de cargas, hábitos 
parafuncionais,instabilidade oclusal e má 
adaptação de próteses. 
Pode ocorrer aumento da glândula 
submandibular (devido à reabsorção da 
crista alveolar inferior), cobrindo o rebordo 
residual e fazendo aparente 
“alargamento” da língua, dificultando a 
estabilização de próteses inferiores. 
 
Cárie dentária e radicular 
A vitalidade dos dentes pode ser 
comprometida pela presença de cáries e, 
como consequência, pode haver o 
aparecimento de necrose pulpar e-/ou 
lesão periapical. Raiz residual com foco 
de infecção pode agravar a saúde de 
pacientes idosos, especialmente os com 
saúde comprometida. 
A cárie dentária é responsável por 
uma quantidade significativa de extrações 
dentárias entre os idosos. A cárie 
radicular inicia-se na porção da raíz 
exposta e há alta prevalência deste tipo 
de cárie em idosos (20-40%), sendo mais 
frequente em caninos inferiores e menos 
frequente nos incisivos. 
Fatores de risco adicionais para 
cáries em idosos são a diminuição do 
fluxo salivar, higiene bucal inadequada, 
não utilização do fio dental, uso frequente 
do açúcar, próteses, aumento da 
recessão gengival, diminuição da 
coordenação motora e acuidade visual. 
Lesões não cariosas são achados 
comuns em idosos, podem ser abrasões, 
abfrações, atrição e erosão dental. 
 
Atrição: Perda de estrutura dentária 
causada pelo contato entre dentes 
antagonistas durante a mastigação ou 
oclusão. Considerado processo 
fisiológico, entretanto, quando a perda 
de dentes é extensa e afeta a função e 
estética, pode ser considerado 
patológico. Mais associadas às 
superfícies incisais e oclusais, podendo 
ser encontradas em superfícies 
vestibulares dos dentes inferiores 
anteriores e palatinas dos superiores 
anteriores. 
Abrasão: perda patológica de estrutura 
dentária ou restauradora causada pela 
ação mecânica de um agente externo. 
A causa mais comum é a escovação 
com pasta abrasiva e intensa 
escovação horizontal. Hábitos podem 
estar associados (roer unha, colocar 
objetos abrasivos entre os dentes 
-canetas, lápis, etc.). 
Erosão ou Corrosão: ​Perda de 
estrutura dental causada por processos 
químicos associados à interação 
bacteriana com o dente. 
Caracteristicamente a erosão é 
causada por exposição a ácidos, mas 
agentes quelantes são geralmente sua 
causa primária. A fonte de ácidos 
geralmente está na alimentação e uso 
de bebidas (refrigerantes, álcool), mas 
pode ser resultado de regurgitação 
involuntária (esofagite, alcoolismo 
crônico, hérnia de hiato, gestação), 
regurgitação voluntária (bulimia), 
algumas medicações, etc. As áreas 
mais afetadas são, principalmente, as 
que não são protegidas pela secreção 
serótida das parótidas e 
submandibulares (superfícies 
vestibulares e palatinas dos dentes 
superiores e as vestibulares e oclusais 
dos posteriores inferiores). 
Abfração: Perda de estrutura dentária 
causada por estresse oclusal, que por 
flexão contínua, causa falha no esmalte 
e dentina do ponto de pressão. A 
dentina é capaz de suportar maior 
estresse que o esmalte, e uma vez 
rompido os cristais deste, é facilmente 
removido por erosão ou abrasão. A 
abfração tem aparência de cunha 
limitadas à região cervical e pode 
facilmente assemelhar-se à abrasão 
cervical ou erosão. Em geral, afetam 
um único dente. As lesões ocasionais 
Diagnóstico em Patologia Oral - Tommasi. Capítulo 30 
são subgengivais (áreas protegidas da 
ação da abrasão e erosão). 
 
Bruxismo é um hábito 
parafuncional e os pacientes com esta 
condição podem apresentar hipertrofia 
muscular, incremento da linha alba na 
mucosa jugal e dentações na borda lateral 
da língua e dor na musculatura da face. 
 
Doença periodontal 
Alterações das estruturas de 
suporte dos dentes nas pessoas idosasresultam mais de doenças sistêmicas e 
fatores do ambiente do que propriamente 
do envelhecimento fisiológico. A 
mobilidade dentária é frequente nestes 
pacientes e é grande causa das perdas 
dentais em idosos, principalmente quando 
associada à fatores de risco como 
tabagismo, etilismo e/ou doenças 
sistêmicas. 
A higiene torna-se mais difícil dado 
o acúmulo de biofilme, a deficiência da 
escovação, redução da capacidade 
cognitiva e da destreza manual. 
As doenças periodontais têm 
repercussão na saúde bucal e sistêmica, 
conduzindo à halitose, perda dentária, à 
diminuição da capacidade mastigatória, 
às dificuldades na deglutição e às 
alterações gustativas. 
 
Candidíase Bucal 
Infecção fúngica oportunista 
causada pela Cândida albicans. Ocorre 
em qualquer parte da mucosa bucal. 
Fatores predisponentes: uso de próteses, 
mudança de hábitos alimentares, 
tabagismo, etilismo, higiene bucal 
precária, hipossalivação, medicamentos, 
imunossupressão, AIDS, radioterapia e 
doenças sistêmicas (como o Diabetes 
Mellitus). 
A forma mais comum é a 
eritematosa atrófica (60% dos casos). 
Estomatite protética é uma reação 
inflamatória e/ou hiperplásica 
caracterizada por eritemas localizados na 
mucosa que mantém contato direto com 
uma prótese removível. 
Nas comissuras labiais, a Queilite 
angular é uma dermatose comum, de 
origem multifatorial, caracterizada por 
inflamação. fissuração e maceração das 
comissuras da boca. 
Outra lesão associada ao uso de 
próteses é a Hiperplasia Fibrosa 
Inflamatória, uma lesão proliferativa não 
neoplásica, de crescimento lento, 
frequentemente associadas ao uso de 
próteses mucossuportadas sem retenção 
ou mal adaptadas. 
Varicosidades sublinguais são 
veias anormalmente dilatadas e tortuosas 
que se apresentam como múltiplas lesões 
papulares púrpuro-azuladas situadas na 
superfície lateral da língua. 
Assintomáticas, ocorrem em ⅔ da 
população acima de 60 anos. 
Tórus mandibular/palatino é o 
crescimento ósseo congênito, benigno, 
localizados ou circunscritos, encontrados 
na superfície cortical óssea, cobertos por 
fina camada mucosa. Bilaterais em 90% 
dos casos. 
Entre as manifestações do vírus 
HIV, os sinais estomatológicos são 
candidíase, doença periodontal, gengivite 
necrosante e o Sarcoma de Kaposi 
(neoplasia que pode ser plana ou 
elevada, única ou múltipla, apresentando 
lesão com mácula, placas ou nódulos.

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