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Cap´ıtulo 7 Polinoˆmios e Func¸o˜es Racionais 7.1 Polinoˆmios Ao iniciarmos nosso estudo sobre func¸o˜es, consideramos o problema de construir uma caixa sem tampa a partir de um pedac¸o quadrado de pla´stico malea´vel de lado igual a l cm. Naquela ocasia˜o, vimos que uma maneira de se fazer isto era cortando pequenos quadrados nos cantos da folha e, enta˜o, dobrando na linha pontilhada. O problema consistia em determinar o volume de a´gua que esta caixa pode conter, quando completamente cheia. Vimos que uma expressa˜o matema´tica que fornece tal volume e´ dada por V(x) = x (20− 2x)2. Esta func¸a˜o e´ um exemplo do que, em matema´tica, chamamos de polinoˆmio. Os polinoˆmios aparecem na resoluc¸a˜o de muitos problemas na vida pra´tica, por isso e´ importante estuda´-los com um pouco mais de cuidado. Este cap´ıtulo e´ destinado a um estudo mais aprofundado de polinoˆmios. Um polinoˆmio de grau n e´ uma func¸a˜o da forma p(x) = an x n + an−1 x(n−1) + . . .+ a2 x2 + a1 x+ a0 onde n e´ um nu´mero natural, os coeficientes ao, a1,..., an sa˜o nu´meros reais conhecidos e an 6= 0. A func¸a˜o linear afim y = a x+ b, cujo gra´fico e´ uma reta e a func¸a˜o quadra´tica y = a x2 + b x+ c, cujo gra´fico e´ uma para´bola , sa˜o exemplos de polinoˆmios de primeiro grau e de segundo grau, respectivamente. O polinoˆmio de grau zero e´ uma func¸a˜o constante. Cada uma das parcelas ai x i de um polinoˆmio e´ chamada de monoˆmio de grau i . Exerc´ıcio 1 Dado um polinoˆmio p(x) = an x n+an−1 x(n−1)+ . . .+a2 x2+a1 x+a0, qual o significado geome´trico da constante ao? O que se pode afirmar quando a0 = 0? Os exemplos mais simples de polinoˆmios sa˜o as func¸o˜es poteˆncias da forma 1, x, x2,..., xn. Ao lado esta˜o trac¸ados, em conjunto, os gra´ficos das seguintes func¸o˜es poteˆncia de grau ı´mpar f(x) = x, g(x) = x3 e h(x) = x5, respectivamente. –2 –1 0 1 2 y –2 –1 1 2 x Exerc´ıcio 2 – Quais sa˜o as principais caracter´ısticas dos gra´ficos dessas func¸o˜es? – Observando os gra´ficos acima, o que voceˆ pode concluir a respeito do lim x→∞ x n e do lim x→−∞ x n, se n e´ ı´mpar? Exerc´ıcio 3 Observe os gra´ficos das func¸o˜es y = x9 e y = x9 + 3x6 + 7x4 − x, trac¸ados na mesma janela, para −3 ≤ x ≤ 3 e −100 ≤ x ≤ 100, respectivamente. 99 100 Cap. 7. Polinoˆmios e Func¸o˜es Racionais –30 –20 –10 10 20 30 40 y –3 –2 –1 1 2 3x –1e+18 –8e+17 –6e+17 –4e+17 –2e+17 2e+17 4e+17 6e+17 8e+17 1e+18 –100 –80 –60 –40 –20 20 40 60 80 100x – O que se pode afirmar em relac¸a˜o ao comportamento dessas duas func¸o˜es quando x cresce, em valor absoluto? Ou seja, o que se pode afirmar a respeito do limite dessas duas func¸o˜es quando x→ +∞ e quando x→ −∞? – Verifique que este fato pode ser generalizado, isto e´, um polinoˆmio de grau ı´mpar se comporta como o seu monoˆmio de maior grau quando x cresce em valor absoluto. Para isso, trace na mesma janela va´rios gra´ficos de monoˆmios e polinoˆmios de mesmo grau para grandes valores de x. A u´ltima afirmac¸a˜o do exerc´ıcio anterior pode ser facilmente demonstrada. Para isso, basta observar que: lim x→∞ a0 + a1 x+ a2 x 2 + . . .+ an x n = ( lim x→∞ x n ) ( lim x→∞ a0 xn + a1 x(n−1) + a2 x(n−2) + an ) Como o u´ltimo limite e´ igual a an, o limite do polinoˆmio e´ dominado pelo limite do monoˆmio de maior grau. A mesma ana´lise pode ser feita para polinoˆmios de grau par. Ao lado esta˜o trac¸ados em conjunto os gra´ficos das seguintes func¸o˜es poteˆncia de grau par f(x) = x2, g(x) = x4 e h(x) = x6, respec- tivamente. –0.4 –0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 y –2 –1 1 2 x Exerc´ıcio 4 – Quais sa˜o as principais caracter´ısticas dos gra´ficos dessas func¸o˜es? – Observando os gra´ficos acima, o que voceˆ pode concluir a respeito do lim x→∞ x n e do lim x→(−∞) xn, se n e´ par? Exerc´ıcio 5 Examine abaixo os gra´ficos das func¸o˜es y = x10 e y = x10 + 3x7 + 7x4, trac¸ados na mesma janela, para −1 ≤ x ≤ 1 e −100 ≤ x ≤ 100, respectivamente. No segundo gra´fico, e´ poss´ıvel distinguir as duas func¸o˜es? –0.4 –0.2 0.2 0.4 0.6 0.8 1 y –1 –0.8 –0.6 –0.4 –0.2 0.2 0.4 0.6 0.8 1x 0 2e+19 4e+19 6e+19 8e+19 1e+20 –100 –80 –60 –40 –20 20 40 60 80 100x – O que se pode afirmar quanto ao comportamento dessas duas func¸o˜es, a` medida em que x cresce, em valor absoluto? Ou seja, qual o limite dessas duas func¸o˜es quando x→ +∞ e quando x→ −∞? – Reforce a sua intuic¸a˜o trac¸ando, na mesma janela, va´rios gra´ficos de monoˆmios e polinoˆmios de mesmo grau para valores grandes de x, para verificar que a afirmac¸a˜o acima pode ser generalizada, isto e´, um polinoˆmio de grau par se comporta como o seu monoˆmio de maior grau quando x cresce em valor absoluto. – Demonstre esta afirmac¸a˜o. (Esta demonstrac¸a˜o e´ a mesma que foi indicada para o caso n ı´mpar.) 7.2 Func¸o˜es racionais Os polinoˆmios podem ser, evidentemente, multiplicados por constantes, somados, subtra´ıdos e multiplicados, e os resultados sera˜o novamente polinoˆmios. No entanto, se dividirmos polinoˆmios nem sempre obteremos outro polinoˆmio. W.Bianchini, A.R.Santos 101 Esse quociente e´ chamado de func¸a˜o racional, isto e´, uma func¸a˜o racional f(x) e´ do tipo f(x) = p(x) q(x) , onde p(x) e q(x) sa˜o polinoˆmios. Se o denominador q(x) for uma constante na˜o nula, esse quociente sera´ ele pro´prio um polinoˆmio. Assim, os polinoˆmios esta˜o inclu´ıdos entre as func¸o˜es racionais. Evidentemente, nos pontos onde q(x) = 0 a func¸a˜o f na˜o esta´ definida, portanto, o maior domı´nio de uma func¸a˜o racional e´ constitu´ıdo pelo conjunto de todos os nu´meros reais excetuando-se esses pontos. Os zeros de q(x) sa˜o chamados de polos ou pontos singulares da func¸a˜o f . Como os polinoˆmios, as func¸o˜es racionais apresentam um comportamento caracter´ıstico quando x cresce em valor absoluto. Ale´m disso, e´ importante tambe´m estudar o comportamento dessas func¸o˜es em torno dos seus pontos singulares, pois ao redor desses pontos podem ocorrer mudanc¸as bruscas de sinal e crescimentos ilimitados. Sa˜o esses pontos que da˜o origem as ass´ıntotas verticais ao gra´fico de uma func¸a˜o, caso essas ass´ıntotas existam. O objetivo desta sec¸a˜o e´ estudar o comportamento de uma func¸a˜o racional em torno de seus pontos singulares e tambe´m o seu comportamento no infinito. Analisaremos, separadamente, os casos em que o grau do numerador e´ menor, igual e maior que o grau do denominador. Exemplo 1 Ja´ estudamos o comportamento das func¸o˜es y = 1x2 e y = 1 x . Observe abaixo os seus gra´ficos: –10 –8 –6 –4 –2 0 2 4 6 8 10 y –3 –2 –1 1 2 3x –10 –8 –6 –4 –2 0 2 4 6 8 10 y –3 –2 –1 1 2 3x Repare que, nos dois casos, o po´lo das duas func¸o˜es e´ o ponto x = 0 e que os valores das duas func¸o˜es se tornam ilimitados quando x se aproxima de 0. (A reta y = 0 e´ uma ass´ıntota vertical ao gra´fico das func¸o˜es.) Ale´m disso, nos dois casos, lim | x |→∞ f(x) = 0 e, portanto, a reta x = 0 e´ uma ass´ıntota horizontal ao gra´fico dessas func¸o˜es. Este comportamento e´ t´ıpico das func¸o˜es racionais cujo grau do numerador e´ menor do que o grau do denominador. Para ilustrar esta afirmac¸a˜o, examinemos um outro exemplo. Exemplo 2 Considere a func¸a˜o f(x) = x x2 − 1 . O seu maior domı´nio e´ o conjunto do todos os reais, excetuando-se os pontos −1 e 1, que sa˜o os seus polos. Para estudar o comportamento dessa func¸a˜o perto dos polos e´ suficiente calcular lim x→1+ f(x), lim x→1− f(x), lim x→−1+ f(x) e lim x→−1− f(x). Em todos esses casos, os valores da func¸a˜o crescem sem limite, em valor absoluto. Como ja´ vimos, este compor- tamento se traduz, matematicamente, dizendo que a func¸a˜o tende a + ∞ ou a −∞e ocorre sempre que os valores do denominador se aproximarem de zero e o limite do numerador existir e for diferente de zero. (Lembre-se de que nada se pode afirmar a priori se o limite do numerador tambe´m for igual a zero.) O sinal dependera´ do sinal da frac¸a˜o quando x se aproximar do polo pela esquerda ou pela direita. No exemplo acima temos lim x→1+ x x2 − 1 = +∞, porque a frac¸a˜o assume valores positivos, cada vez maiores, a` medida que x se aproxima de 1 por valores maiores que 1 e, lim x→1− x x2 − 1 = −∞, porque a frac¸a˜o e´ negativa e assume valores cada vez maiores, em valor absoluto, quando x se aproxima de 1, por valores menores que 1. Observe as tabelas a seguir, onde se evidencia este comportamento numericamente. A primeira mostra o comportamento nume´rico da func¸a˜o quando x se aproxima de 1, pela direita, e a segunda, quando x se aproxima de 1, pela esquerda. 102 Cap. 7. Polinoˆmios e Func¸o˜es Racionais x x x2 − 1 1.500000000 1.200000000 1.250000000 2.222222222 1.125000000 4.235294118 1.062500000 8.242424242 1.031250000 16.24615385 1.015625000 32.24806202 1.007812500 64.24902724 1.003906250 128.2495127 1.001953125 256.2497561 1.000976563 512.2498780 x x x2 − 1 1.000488281 1024.249939 1.000244141 2048.249969 1.000122070 4096.249985 1.000061035 8192.249992 1.000030518 16384.25000 .5000000000 −.6666666667 .7500000000 −1.714285714 .8750000000 −3.733333333 .9375000000 −7.741935484 .9687500000 −15.74603175 x x x2 − 1 .9843750000 −31.74803150 .9921875000 −63.74901961 .9960937500 −127.7495108 .9980468750 −255.7497556 .9990234375 −511.7498779 .9995117188 −1023.749939 .9997558594 −2047.749969 .9998779297 −4095.749985 .9999389648 −8191.749992 .9999694824 −16383.75000 As retas x = 1 e x = −1 sa˜o ass´ıntotas verticais ao gra´fico dessa func¸a˜o. Da mesma forma lim x→−1+ f(x) = +∞ e lim x→−1− f(x) = −∞. Estudaremos, agora, o comportamento desta func¸a˜o quando x cresce em valor absoluto. Para isso precisamos calcular os limites da func¸a˜o quando x tende a + ∞ e quando x tende a −∞. Observe abaixo os gra´ficos desta func¸a˜o e da func¸a˜o f(x) = 1x . –10 –8 –6 –4 –2 0 2 4 6 8 10 y –3 –2 –1 1 2 3x –10 –8 –6 –4 –2 0 2 4 6 8 10 y –3 –2 –1 1 2 3x Compare o comportamento destas duas func¸o˜es quando |x | → +∞. Perceba que estas duas func¸o˜es se comportam da mesma maneira quando x→ +∞ ou quando x→ −∞. Para comprovar algebricamente este fato, basta colocar em evideˆncia os termos de maior grau no numerador e no denominador da frac¸a˜o e simplificar. Assim, como x x2 − 1 = x2 ( 1x ) x2 (1− 1x2 ) = 1 x (1− 1x2 ) , tem-se lim x→∞ x x2 − 1 = limx→∞ 1 x (1− 1x2 ) = 0. pois lim x→∞ 1 x = 0 e lim x→∞ 1 1− 1x2 = 1, portanto, o limite do produto e´ zero. (Repare que esta operac¸a˜o e´ poss´ıvel porque estamos estudando o comportamento da func¸a˜o para valores grandes de x, e, portanto, estamos considerando x 6= 0.) Da mesma forma, lim x→(−∞) x x2 − 1 = 0. A reta y = 0 e´ uma ass´ıntota horizontal ao gra´fico dessa func¸a˜o. Exerc´ıcio 1 Estude o comportamento da func¸a˜o f(x) = 1 x2 + 2x+ c , no infinito e pro´ximo aos po´los, para c = −1, 0, 1, 2 e 3, respectivamente. Determine tambe´m suas ass´ıntotas verticais e horizontais, caso existam. Confira suas concluso˜es trac¸ando o gra´fico dessas func¸o˜es com a ajuda do Maple. Exemplo 2 Considere a func¸a˜o f(x) = 2x+ 1 x− 3 . O domı´nio de f e´ o conjunto de todos os nu´meros reais, excetuando-se x = 3. Este ponto e´ o seu po´lo. Para determinar o comportamento desta func¸a˜o nas proximidades deste po´lo, e´ preciso calcular o lim x→3+ f(x) e o lim x→3− f(x). Para isto, observe que quando x se aproxima de 3, quer pela direita, quer pela esquerda, o numerador da frac¸a˜o se aproxima de 7 e, portanto, e´ positivo nos dois casos. Mas, quando x se aproxima de 3 pela esquerda, o denominador assume valores negativos cada vez mais pro´ximos de zero, de modo que o quociente e´ sempre negativo e cresce em valor absoluto, ou seja, o quociente tende a −∞. W.Bianchini, A.R.Santos 103 Por outro lado, quando x se aproxima de 3 pela direita, o quociente e´ um nu´mero positivo que se aproxima de zero, de modo que a frac¸a˜o e´ positiva e crescente, ou seja, tende a + ∞. Observe, mais uma vez, as tabelas a seguir, onde o comportamento desta func¸a˜o e´ evidenciado numericamente. A primeira tabela mostra o comportamento da func¸a˜o quando x→ 3+. A segunda, quando x→ 3−. x 2x+ 1 x− 3 2.500000000 −12. 2.750000000 −26. 2.875000000 −54. 2.937500000 −110. 2.968750000 −222. 2.984375000 −446. 2.992187500 −894. 2.996093750 −1790. 2.998046875 −3582. 2.999023438 −7166. x 2x+ 1 x− 3 2.999511719 −14334. 2.999755859 −28670. 2.999877930 −57342. 2.999938965 −114686. 2.999969482 −229374. 3.500000000 16. 3.250000000 30. 3.125000000 58. 3.062500000 114. 3.031250000 226. x 2x+ 1 x− 3 3.015625000 450. 3.007812500 898. 3.003906250 1794. 3.001953125 3586. 3.000976563 7170. 3.000488281 14338. 3.000244141 28674. 3.000122070 57346. 3.000061035 114690. 3.000030518 229378. Estes limites indicam que a reta x = 3 e´ uma ass´ıntota vertical do gra´fico desta func¸a˜o. Ale´m disso, lim | x |→∞ 2x+ 1 x+ 3 = lim | x |→∞ 2 + 1x 1 + 3x e, dessa u´ltima expressa˜o, e´ fa´cil concluir que este limite e´ 2. A reta y = 2 e´, portanto, uma ass´ıntota horizontal ao gra´fico dessa func¸a˜o. O gra´fico dessa func¸a˜o evidencia o seu comportamento caracter´ıstico. –20 –10 0 10 20 y –10 –8 –6 –4 –2 2 4 6 8 10x Exemplo 4 Analisemos agora a func¸a˜o y = x 2−4 x . Essa func¸a˜o na˜o esta´ definida para x = 0. O seu comportamento na vizinhanc¸a desse ponto e´ traduzido pelas expresso˜es lim x→0− f(x) =∞ e lim x→0+ f(x) = −∞. A reta x = 0 e´, portanto, uma ass´ıntota vertical ao gra´fico dessa func¸a˜o. Para analisar o comportamento desta func¸a˜o quando |x | → ∞, observe que x2 − 4 x = x− 4 x2 . Como lim x→∞ 4 x2 = 0, conclu´ımos que lim x→∞ x2 − 4 x = lim x→∞ x− limx→∞ 4 x2 = +∞ De maneira ana´loga, conclu´ımos que lim x→infty x2 − 4 x = −∞. No entanto, a igualdade x 2−4 x = x− 4x implica que o lim | x |→∞ ( x2 − 4 x − x ) = 0. Este limite indica que, a` medida que x cresce em valor absoluto, os valores da func¸a˜o se aproximam cada vez mais da reta y = x, portanto, essa reta e´ uma ass´ıntota inclinada ao gra´fico dessa func¸a˜o. (Veja Problema 9 do Cap. 6 ). Observe a seguir o comportamento dessa func¸a˜o evidenciado pelo seu gra´fico trac¸ado em conjunto com o da func¸a˜o y = x. 104 Cap. 7. Polinoˆmios e Func¸o˜es Racionais –10 –8 –6 –4 –2 0 2 4 6 8 10 y –10 –8 –6 –4 –2 2 4 6 8 10x Este comportamento e´ t´ıpico das func¸o˜es racionais cujo grau do numerador e´ maior do que o grau do denominador. Quando o grau do numerador e´ uma unidade maior que o grau do denominador, a func¸a˜o racional tem uma ass´ıntota inclinada. Para determinar a equac¸a˜o dessa ass´ıntota basta dividir o numerador pelo denominador, como fizemos no exemplo anterior. De um modo geral, dada uma func¸a˜o racional do tipo f(x) = n(x) d(x) , se o grau de n(x) for maior ou igual ao grau de d(x), podemos dividir o numerador pelo denominador para obter n(x) = d(x) q(x) + r(x), onde o grau do resto da divisa˜o r(x) e´ menor que o grau do divisor d(x). Assim, podemos escrever f(x) = q(x) + r(x) d(x) . Esta forma de exprimir a func¸a˜o e´ ideal para estudarmoso seu comportamento no infinito. Como o grau de d(x) e´ maior do que o grau de r(x), temos que lim | x |→∞ r(x) d(x) = 0, o que nos leva a concluir que lim | x |→∞ (f(x)− q(x)) = 0, isto e´, a func¸a˜o f se comporta como a func¸a˜o q para grandes valores de x, em valor absoluto. Dizemos, neste caso, que o gra´fico de f(x) e´ assinto´tico ao gra´fico de q(x). Em outras palavras, a` medida que x cresce em valor absoluto, o gra´fico de y = f(x) se aproxima cada vez mais do gra´fico de y = g(x), sem nunca chegarem a se interceptar. Se o gra´fico de q(x) for uma reta, dizemos que esta reta e´ uma ass´ıntota ao gra´fico de f. (Veja Problema 9 do Cap. 6 e Projeto Ass´ıntotas e Outras Func¸o˜es Limitantes.) Exerc´ıcio 2 Fac¸a a mesma ana´lise dos exemplos anteriores para as seguintes func¸o˜es: 1. y = xx2−4 2. y = x 2 x+1 3. y = x 2+1 x2−1 4. y = x 3−1 x 7.2.1 Comportamento no infinito de func¸o˜es racionais - Conclusa˜o Os exemplos anteriores indicam que o comportamento de uma func¸a˜o racional f(x) = p(x)q(x) e´ determinado pelo com- portamento do quociente dos monoˆmios de mais alto grau do numerador p(x) e do denominador q(x). Este fato pode ser justificado em cada caso particular, como voceˆ viu nos exemplos acima, colocando-se em evideˆncia a parcela de maior grau do numerador e do denominador. Assim, deixamos para voceˆ mostrar que, se p(x) = a0+a1 x+ . . .+an x n e q(x) = b0 + b1 x+ . . .+ bm x m, tem-se: 1. Se n < m, enta˜o, lim | x |→∞ p(x) q(x) = 0 . 2. Se n > m, enta˜o, lim | x |→∞ p(x) q(x) pode ser +∞ ou −∞, dependendo dos sinais de an e bm. 3. Se n = m, enta˜o, lim | x |→∞ p(x) q(x) = an bm . W.Bianchini, A.R.Santos 105 7.3 Atividades de laborato´rio Utilizando o Maple e um computador, fac¸a as atividades propostas no arquivo lab3.mws da versa˜o eletroˆnica deste texto. 7.4 Para voceˆ meditar: N-e´sima diferenc¸a Considere o polinoˆmio y = x 2 2 − 3x+ 52 . Vamos calcular os seus valores para x = 0, 1, 2, 3 e 4 . > f:=x->x^2/2-3*x+5/2; f := x→ 1 2 x2 − 3x+ 5 2 > x[1]:=0;x[2]:=1;x[3]:=2;x[4]:=3;x[5]:=4; x1 := 0 x2 := 1 x3 := 2 x4 := 3 x5 := 4 > for i from 1 to 5 do y[i]:=f(x[i]) od; y1 := 5 2 y2 := 0 y3 := −3 2 y4 := −2 y5 := −3 2 Vamos, agora, calcular as diferenc¸as entre dois valores consecutivos de y. > for i from 1 to 4 do dif[i]:=y[i+1]-y[i] od; dif 1 := −5 2 dif 2 := −3 2 dif 3 := −1 2 dif 4 := 1 2 E´ fa´cil ver que os pontos (xi, dif i) esta˜o alinhados. > plot([[x[1],dif[1]],[x[2],dif[2]],[x[3],dif[3]],[x[4],dif[4]]]); –2.5 –2 –1.5 –1 –0.5 0 0.5 Isto indica que se formarmos as diferenc¸as das diferenc¸as obteremos constantes. De fato, temos: > for i from 1 to 3 do dif2[i]:=dif[i+1]-dif[i] od; dif2 1 := 1 106 Cap. 7. Polinoˆmios e Func¸o˜es Racionais dif2 2 := 1 dif2 3 := 1 A diferenc¸a das diferenc¸as e´ chamada segunda diferenc¸a, e nesse exemplo e´ constante e igual a 1. A questa˜o que surge e´ se isto ocorre por acaso ou se existe uma regra para as func¸o˜es quadra´ticas que garanta que a sequ¨eˆncia formada pelas segundas diferenc¸as e´ uma constante. 1. Prove que, se os valores de x sa˜o igualmente espac¸ados, as primeiras diferenc¸as definem uma func¸a˜o linear e as segundas diferenc¸as permanecem constantes. 2. Mostre que, para a func¸a˜o cu´bica f(x) = x3, se os valores de x sa˜o igualmente espac¸ados, as primeiras diferenc¸as definem uma func¸a˜o quadra´tica de x, as segundas, uma func¸a˜o linear de x e as terceiras diferenc¸as sa˜o constantes. 3. Esta propriedade pode ser generalizada para um polinoˆmio de grau n? Mais tarde voltaremos a este problema para mostrar como ele esta´ relacionado com o problema das retas tangentes a uma curva. 7.5 Projetos 7.5.1 Ass´ıntotas e outras func¸o˜es limitantes Vimos ao estudar as func¸o˜es racionais, que quando o grau do numerador e´ maior que o grau do denominador, a func¸a˜o f(x) = p(x)q(x) na˜o tem nenhuma ass´ıntota horizontal, pois os valores da func¸a˜o crescem sem limite quando |x| → ∞. No entanto, como vimos no Exemplo 4 , estas func¸o˜es podem apresentar ass´ıntotas inclinadas, isto e´, pode existir uma reta y = ax + b tal que lim | x |→∞ (f(x)− (ax + b)) = 0. Isto significa que, a` medida que os valores de x crescem, em valor absoluto, os pontos do gra´fico da func¸a˜o f se aproximam cada vez mais do gra´fico da reta y = ax + b. A questa˜o que se coloca agora e´ saber se existem outras func¸o˜es g(x), na˜o lineares, tais que lim | x |→∞ (f(x)− g(x)) = 0. Nesse caso dizemos que o gra´fico da func¸a˜o g(x) e´ assinto´tico ao gra´fico da func¸a˜o f , ou que g determina o comportamento assinto´tico de f . O objetivo desse projeto e´ estudar o comportamento assinto´tico das func¸o˜es racionais determinando a equac¸a˜o da func¸a˜o limitante. 1. Seja f(x) = x 3+5 x+8 x+3 . (a) Determine a ass´ıntota vertical ao gra´fico dessa func¸a˜o. (b) Existem ass´ıntotas horizontais? (c) Escreva f(x) na forma f(x) = s(x) + r(x)q(x) e trace os gra´ficos de f(x) e s(x) na mesma janela para −10 ≤ x ≤ 10 e −10 ≤ y ≤ 100. O que voceˆ pode observar ? (d) Prove que s(x) e´ uma ass´ıntota inclinada ao gra´fico de f . 2. Seja f(x) = 2 x 4+7 x+4 x+3 . (a) Determine uma func¸a˜o g tal que lim | x |→∞ (f(x)− g(x)) = 0. (b) Trace na mesma janela os gra´ficos de g e de f . 3. Como e´ poss´ıvel reconhecer e determinar o comportamento assinto´tico de uma func¸a˜o racional? 4. Use a sua conclusa˜o para determinar a func¸a˜o limitante de f(x) = x 3−x2+6 x−2 2 x−2 e trace o gra´fico de f e de sua func¸a˜o limitante na mesma janela. 5. Determine uma func¸a˜o f(x) que seja assinto´tica a q(x) = x + 1 e que tenha uma ass´ıntota vertical em x = 0. Trace o gra´fico dessas duas func¸o˜es na mesma janela. 6. Determine uma func¸a˜o f(x) que seja assinto´tica a q(x) = x2 − 2x e tenha uma ass´ıntota vertical em x = 2. Trace o gra´fico dessas duas func¸o˜es na mesma janela. 7. Determine as condic¸o˜es sobre uma func¸a˜o racional que garantam (a) a existeˆncia de uma ass´ıntota inclinada. (b) a existeˆncia de uma func¸a˜o assinto´tica na˜o linear. (c) Deˆ exemplos de cada um dos casos. W.Bianchini, A.R.Santos 107 7.5.2 Interpolac¸a˜o de Lagrange e ajuste de curvas Nas atividades de laborato´rio aprendemos como utilizar o Maple para encontrar a equac¸a˜o do polinoˆmio que passa por um certo conjunto de pontos. Como um polinoˆmio de grau n tem n+ 1 coeficientes, e´ necessa´rio conhecer, pelo menos, n+ 1 pontos desse polinoˆmio para que possamos determinar a sua equac¸a˜o, isto e´, para determinar uma reta precisamos conhecer dois de seus pontos, para determinar uma para´bola da forma y = a x2 + b x+ c sa˜o necessa´rios treˆs pontos e assim por diante. Nesse caso, para determinar os coeficientes do polinoˆmio, precisamos resolver um sistema linear de n+ 1 equac¸o˜es e igual nu´mero de inco´gnitas. Se esse sistema for determinado, o problema esta´ resolvido. Entretanto, resolver sistemas de equac¸o˜es e´ um processo muito caro computacionalmente, em termos de dispeˆndio de tempo e de memo´ria, por isso outras abordagens sa˜o utilizadas. O objetivo desse projeto e´ descrever a te´cnica chamada de Interpolac¸a˜o de Lagrange para resolver este problema. Esta te´cnica foi desenvolvida por Joseph L. Lagrange (1736-1813), um dos primeiros matema´ticos a demonstrar o Teorema do Valor Me´dio e um dos fundadores do Ca´lculo das Variac¸o˜es. A ide´ia e´ descrita a seguir. Suponha que se deseja determinar o polinoˆmio de grau n que passa por n+ 1 pontos (xi, yi) dados. Para cada um dos pontos xi e´ fa´cil construir um polinoˆmio pi tal que pi(xi) = yi e pi(xj) = 0 para todo j 6= i. Esse polinoˆmio sera´ da forma pi(x) = ∏n+1 j=1 A (x− xj) , j 6= i onde a constante A e´ determinadapela condic¸a˜o pi(xi) = yi. O polinoˆmio p = n+1∑ i=1 pi(x) sera´ o polinoˆmio que procuramos. Os pontos usados nessa construc¸a˜o sa˜o chamados de no´s. O exemplo a seguir ilustra essa te´cnica. Problema : Determinar a para´bola que passa pelos pontos (1, 0.346), (2, 0.974) e (3, 0.141). Primeiro vamos definir os valores dos pontos: > valores_x:=[1,2,3]: > valores_y:=[0.346,0.974,0.141]: Qualquer polinoˆmio com zeros nos pontos x = 2 e x = 3 e´ mu´ltiplo de (x− 2)(x− 3). Assim temos: > p[1]:=x->A[1]*(x-2)*(x-3); p1 := x→ A1 (x− 2) (x− 3) Para determinar o valor de A, usamos a condic¸a˜o p1(x1) = y1: > A[1]:=solve(p[1](valores_x[1])=valores_y[1],A[1]); A1 := .1730000000 Procedendo da mesma maneira para os outros pontos, obtemos: > p[2]:=x->A[2]*(x-1)*(x-3); p2 := x→ A2 (x− 1) (x− 3) > A[2]:=solve(p[2](valores_x[2])=valores_y[2],A[2]); A2 := −.9740000000 > p[3]:=x->A[3]*(x-1)*(x-2); p3 := x→ A3 (x− 1) (x− 2) > A[3]:=solve(p[3](valores_x[3])=valores_y[3],A[3]); A3 := .07050000000 A para´bola que queremos e´ a soma dos treˆs polinoˆmios obtidos acima: > p[1]:=A[1]*(x-2)*(x-3); p1 := .1730000000 (x− 2) (x− 3) > p[2]:=A[2]*(x-1)*(x-3); p2 := −.9740000000 (x− 1) (x− 3) > p[3]:=A[3]*(x-1)*(x-2); p3 := .07050000000 (x− 1) (x− 2) > Lagrange:=expand(sum(p[i],i=1..3)); Lagrange := −.7305000000x2 + 2.819500000x− 1.743000000 108 Cap. 7. Polinoˆmios e Func¸o˜es Racionais Vamos verificar que este e´ o polinoˆmio que queremos: > f:=unapply(Lagrange,x); f := x→ −.7305000000x2 + 2.819500000x− 1.743000000 > f(1); .346000000 > f(2); .974000000 > f(3); .141000000 1. Usando a Interpolac¸a˜o de Lagrange, ache a func¸a˜o polinomial de quarto grau determinada pelos pontos (−5, 1630), (−2, 15), (0, 3), (3, 630) e (6, 7215). 2. O Maple faz interpolac¸o˜es automaticamente com o comando interp(valores x, valores y,x). Use esse comando para conferir a resposta obtida para o item anterior. Na verdade, as u´nicas func¸o˜es cujos valores sabemos calcular por meio de um nu´mero finito de operac¸o˜es elementares (adic¸o˜es, multiplicac¸o˜es e suas inversas) sa˜o os polinoˆmios, por isso eles sa˜o usados, em geral, para aproximar outras func¸o˜es, tais como func¸o˜es trigonome´tricas e exponenciais, cujos valores na˜o podem ser calculados diretamente. Para analisar como esse me´todo funciona, vamos comparar a func¸a˜o y = xx2+1 com diferentes interpolac¸o˜es por polinoˆmios. Em primeiro lugar, vamos definir a func¸a˜o f : > f:=x->x/(x^2+1); f := x→ x x2 + 1 A seguir, escolhemos os pontos que sera˜o os no´s da interpolac¸a˜o e calculamos o valor de f nesses pontos: > valores_x:=[0,2,4]; valores x := [0, 2, 4] > valores_y:=map(f,valores_x); valores y := [0, 2 5 , 4 17 ] > L2:=interp(valores_x,valores_y,x); L2 := − 6 85 x2 + 29 85 x Vamos agora, comparar as duas func¸o˜es trac¸ando os seus gra´ficos na mesma janela: > plot([f(x),L2],x=-1..5); –0.4 –0.2 0 0.2 0.4 –1 1 2 3 4 5x Aumentando o nu´mero de pontos havera´ mais valores onde a func¸a˜o f e a sua interpolac¸a˜o polinomial coincidira˜o: > valores_x:=[0,1,2,3,4]; valores x := [0, 1, 2, 3, 4] > valores_y:=map(f,valores_x); valores y := [0, 1 2 , 2 5 , 3 10 , 4 17 ] W.Bianchini, A.R.Santos 109 > L4:=interp(valores_x,valores_y,x); L4 := − 2 85 x4 + 41 170 x3 − 73 85 x2 + 97 85 x > plot([f(x),L4],x=-1..5,y=-1..1,color=black); –1 –0.8 –0.6 –0.4 –0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 y –1 1 2 3 4 5x Essa parece ser uma aproximac¸a˜o melhor para a func¸a˜o f definida acima? Aumentando o nu´mero de pontos considerados na interpolac¸a˜o, podemos melhorar a aproximac¸a˜o produzida. Desta vez, em vez de considerarmos os no´s igualmente espac¸ados, vamos aumentar o nu´mero de no´s, no intervalo onde a func¸a˜o muda mais rapidamente: > valores_x:=[0,0.3,0.6,1,1.3,1.6,2,3,4]; valores x := [0, .3, .6, 1, 1.3, 1.6, 2, 3, 4] > valores_y:=map(f,valores_x); valores y := [0, .2752293578, .4411764706, 1 2 , .4832713755, .4494382022, 2 5 , 3 10 , 4 17 ] > L8:=interp(valores_x,valores_y,x); L8 := .005211224118x8 − .07569373843x7 + .4527348679x6 − 1.438481276x5 + 2.562033154x4 − 2.306532380x3 + .3346833462x2 + .9660448014x Veja o resultado obtido, graficamente: > plot([f(x),L3],x=-1..5,y=-1..1); –1 –0.8 –0.6 –0.4 –0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 y –1 1 2 3 4 5x 1. Tendo em vista que a func¸a˜o f , definida acima, tem uma ass´ıntota horizontal, o que se pode esperar de uma interpolac¸a˜o polinomial para essa func¸a˜o para grandes valores, positivos ou negativos, de x? 2. A u´ltima aproximac¸a˜o obtida e´ consideravelmente melhor que a anterior? Para responder a essa pergunta trace va´rios gra´ficos da func¸a˜o y = |f(x)− Lk| para estimar o erro ma´ximo que cometemos no caso de aproximarmos f por polinoˆmios de grau 2, 4, 8 e 12, respectivamente e conclua se L12 e´ uma aproximac¸a˜o significativamente melhor que L7 ou L4. Essa medida para o erro e´ chamada norma do supremo. 3. Por meio desse processo, sempre e´ poss´ıvel obter uma boa aproximac¸a˜o para qualquer func¸a˜o sobre um intervalo fixado. Escolha criteriosamente os no´s para obter uma aproximac¸a˜o polinomial para a func¸a˜o y = cos(2pi x), com erro menor que 0, 01, no intervalo [0, 5]. Use a norma do supremo para estimar o erro cometido.
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