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Juventudes e Educação Carlos Antônio Costa Ribeiro(1)


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Azougue editorial
2014
juventudes
e educação:
escola e transições para a vida adulta no Brasil
Carlos Antonio Costa Ribeiro
Coleção PRONEX-JUVENTUDE
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
R37j
 Ribeiro, Carlos Antonio Costa
 Juventudes e educação: escola e transições para a vida adulta no Brasil / Carlos 
Antonio Costa Ribeiro. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Azougue editorial, 2014. 
 il. ; 23 cm. (Pronex-juventude ; 2)
 Inclui bibliografia
 ISBN 978-85-7920-163-9
 1. Jovens - Brasil - Condições sociais - Estatísticas. I. Título. II. Série. 
14-18104 CDD: 305.23
 CDU: 316.346.32-053.9
25/11/2014 26/11/2014 
Coordenação editorial
Sergio Cohn
Assistência editorial
Evelyn Rocha
Projeto gráfico
Tiago Gonçalves
Revisão
Barbara Ribeiro e Evelyn Rocha
Equipe Azougue
Barbara Ribeiro, Evelyn Rocha, Rafaela dos Santos, Tiago Gonçalves e Welington Portella
[ 2014 ]
Beco do Azougue Editorial Ltda.
Rua Visconde de Pirajá, 82, subsolo 115
CEP 22461-000 - Rio de Janeiro - RJ
Tel/Fax 55_21_2259-7712
facebook.com/azougue.editorial
www.azougue.com.br
azougue - mais que uma editora, 
um pacto com a cultura
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INTRODUÇÃO
7
CAPÍTULO I
PADRONIZAÇÃO E DESPADRONIZAÇÃO DAS 
TRANSIÇÕES PARA A VIDA ADULTA
17
CAPÍTULO II
DESIGUALDADES NAS TRANSIÇÕES PARA A VIDA ADULTA
37
CAPÍTULO III
ESTRATIFICAÇÃO EDUCACIONAL ENTRE JOVENS 
NO BRASIL: 1960 A 2010
com Ricardo Ceneviva e Murillo Marschner Alves de Brito
81
CAPÍTULO IV
ENSINO SUPERIOR E MERCADO DE TRABALHO: 
UMA ANÁLISE DE IDADE, PERÍODO E COORTE
115
CAPÍTULO V
ESTRATIFICAÇÃO HORIZONTAL DA 
EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL (1960 A 2010)
com Rogerio Schlegel
137
CONCLUSÕES
165
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
169
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Para Carlos e Rosa.
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INTRODUÇÃO
O objetivo deste livro é verificar em que medida e de que formas os jovens 
deixando a infância e entrando na vida adulta entre 1960 e 2010 se beneficia-
ram das mudanças econômicas, sociais e institucionais que marcaram o país 
neste período. A passagem da infância para a vida adulta não é apenas um fe-
nômeno biológico no ciclo de vida dos indivíduos. Ela também é marcada por 
instituições e normas sociais que se modificam ao longo do tempo e diver-
gem entre nações. Nas sociedades modernas a juventude passou a ser defini-
da como uma fase relativamente extensa nos ciclos de vida em que as pessoas 
mudam gradualmente sua posição na família e na vida produtiva. Deixam sua 
família de origem (dos pais) para criar novas unidades familiares, completam 
sua escolaridade e começam a trabalhar. Tendo em vista que essas mudanças 
ocorrem, de um modo geral, entre os 12 e os 30 anos de idade, a maioria das 
análises neste livro focaliza esta faixa etária, que na realidade pode ser vista 
como compreendendo quatro fases da juventude: início da adolescência dos 
12 aos 15 anos, final da adolescência dos 16 aos 18 anos, início da vida de jo-
vens adultos dos 19 aos 24 anos, e final da vida de jovens adultos dos 25 aos 30 
anos. Estas quatro fases, no entanto, são definidas de forma mais ou menos 
arbitrária porque as pessoas podem assumir papéis de adultos mais cedo ou 
mais tarde em suas vidas. Por exemplo, quando um grande número de ado-
lescentes começa a trabalhar, para de estudar e começa a se casar antes dos 
15 anos ou em idades próximas haveria, por assim dizer, uma antecipação da 
vida adulta, ao passo que quando a maioria passa a fazer estas transições de-
pois dos 25 anos (ou até mesmo depois dos 30 anos) haveria um retardamen-
to da entrada na vida adulta. Portanto, do ponto de vista sociológico – dos 
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papéis sociais que os indivíduos assumem – a entrada na vida adulta pode se 
dar em diferentes idades.
Entre 1960 e 2010 o país passou por períodos de mudanças que afetaram de 
diversas formas a vida dos jovens. Ser um jovem em 1960 era muito diferente 
de ser um jovem em 2010.1 Nas décadas 1960 e 1970 a economia do país crescia 
de forma acelerada, mas o sistema educacional, as políticas de proteção social 
e as formas de regulamentação do mercado de trabalho ainda eram muito inci-
pientes. Naquela época, a desigualdade de renda também aumentava rapida-
mente por dois motivos: havia um enorme contingente de mão de obra pouco 
qualificada que recebia salários muito baixos, e um pequeno percentual de tra-
balhadores com ensino médio ou superior que recebiam salários muitíssimo 
elevados porque suas qualificações eram altamente valorizadas e escassas no 
mercado2. A desigualdade aumentava em uma economia que crescia e se ur-
banizava rapidamente. Politicamente o país vivia a época da ditadura militar, 
em que qualquer luta por direitos políticos e sociais era reprimida. Os jovens 
tinham pouco acesso a educação e começavam a trabalhar mais cedo em seus 
ciclos de vida. O percentual de mulheres no ensino universitário e no mercado 
de trabalho ainda era bem menor do que o de homens. 
A década de 1980 representou um momento de transformação. Embora a 
economia tenha entrado em forte recessão e a inflação tenha alcançado ní-
veis assustadoramente altos, a década de 1980 foi um momento de retomada 
da democracia e avanço de direitos políticos e sociais. A constituição de 1988, 
conhecida como constituição cidadã, representa um marco neste sentido. 
Desde então vem ocorrendo no país uma ampliação das políticas de bem es-
tar social, tendo a expansão do sistema educacional como uma de suas prin-
cipais marcas, mas incluindo também diversas formas de proteção ao traba-
lho. Estas mudanças são o germe da diminuição das desigualdades que se 
iniciaria em meados da década de 1990. Os jovens enfrentavam um mercado 
de trabalho em recessão, mas começavam a encontrar mais oportunidades 
para estudar e se qualificar. As mulheres avançavam mais no sistema educa-
cional, já eram numerosas no sistema universitário, e se dedicavam cada vez 
mais ao mercado de trabalho.
A partir de meados dos anos 1990, e com mais intensidade desde o início 
do século XXI, a desigualdade de renda começou a diminuir. Entre os diversos 
fatores ligados à esta tendência um se destaca: a expansão do sistema educa-
1 Para o contexto francês ver Christian Baudelot e Roger Establet (2000).
2 Ver Langoni (2005[1973])
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cional e a consequente ampliação da escolaridade dos jovem. A educação da 
população contribui de duas formas. Por um lado, a expansão do ensino ele-
mentar se relaciona ao aumento da renda das pessoas que completam apenas 
as etapas iniciais de escolaridade. Nas décadas anteriores o número de jovens 
e adultos sem escolaridade era muito alto, o que implicava em pouca produ-
tividade e baixa rentabilidade do trabalho. A expansão do ensino elementar 
contribuiu para aumentar a renda na base da pirâmide e, portanto, para dimi-
nuir a pobreza. Por outro lado, a expansão do ensino médio e superior fez com 
que houvesse mais competição entre os indivíduos completando esses níveis 
educacionais e, consequentemente, diminuiu os retornos obtidos pelas cre-
denciais e diplomas, ou seja,a diferença entre as rendas médias daqueles com 
e sem alguma educação de ensino médio ou superior diminuiu. Esta tendên-
cia atuou principalmente como um fator que diminui as enormes vantagens 
que pessoas com educação superior tinham em relação aos outros. Diminui o 
prêmio pela obtenção de diplomas superiores e, portanto, as vantagens que os 
mais ricos tinham em relação aos mais pobres. Em suma, com a expansão edu-
cacional os mais pobres, com menos escolaridade em média, ficam menos po-
bres e os mais ricos (não os super-ricos, ou até mesmo os 1% mais ricos3), com 
mais escolaridade em média, diminuem um pouco a vantagem que tinham. 
As mulheres passaram a ser mais numerosas do que os homens no ensino uni-
versitário, embora continuassem a receber salários em média mais baixos. Nas 
décadas de 1990 e 2000 houve realmente mudanças expressivas em termos de 
ampliação do sistema educacional e suas consequências.
Além de estar estreitamente ligado aos níveis de desigualdade de renda en-
tre 1960 e 2010, o sistema educacional é a instituição que mais organiza a vida 
dos jovens. Sua ampliação, como mostro ao longo deste livro, desempenhou 
um papel fundamental nas mudanças nos padrões de transição para a vida 
adulta ao longo das últimas cinco décadas. Além de preparar para o mercado 
de trabalho criando capital humano, as escolas conformam de diversas outras 
maneiras a vida dos adolescentes e dos jovens adultos. Jovens que estão estu-
dando tendem a demorar mais para se casar e para ter filhos. Em alguns países 
e regiões os jovens têm que se afastar da casa dos pais para estudar, princi-
palmente no ensino médio e na universidade, mas quando as escolas se espa-
3 É importante notar que a diminuição da desigualdade de renda não afetou o topo da pirâ-
mide. Os 1% mais ricos permanecem abocanhando 18% da renda total entre 2000 e 2010, e 
aumentaram o montante que controlam desde 1970. Além disso, indivíduos com pós-gra-
duação continuam tendo vantagens. Para mais análises sobre os ricos no Brasil ver os traba-
lhos de Marcelo Medeiros (2005).
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lham por toda parte diminuem as chances dos jovens terem que se afastar da 
casa dos pais. Além disso, com a expansão do acesso de mulheres e homens ao 
ensino superior é muito frequente que estes jovens encontrem seus parceiros 
para o primeiro casamento no curso superior, ou seja, casamentos educacio-
nalmente endogâmicos são muito frequentes entre pessoas com nível superior. 
Em suma, a escola é uma das principais instituições organizando a transição 
dos jovens para papéis sociais que caracterizam a vida adulta.
Além da escola, a família é outra instituição que determina em grande 
medida as características da entrada na vida adulta. A família influencia de 
duas formas. Primeiro, é nas famílias que os papéis de gênero são cristali-
zados. Tradicionalmente as mulheres assumiam os trabalhos domésticos e 
os homens o ganha pão no mercado de trabalho. Estas divisões, que são em 
grande medida definidas culturalmente, influenciam a forma como rapazes e 
moças assumem papéis sociais de adultos. No entanto, ao longo dos anos as 
mulheres deixaram de se dedicar exclusivamente à vida familiar e passaram 
a estudar por mais tempo e a se dedicar mais ao trabalho fora de casa. Entre 
1960 e 2010 as mulheres aumentaram enormemente sua participação no sis-
tema educacional em todos os níveis e principalmente no ensino universitá-
rio, passaram cada vez mais a trabalhar em uma economia em que o setor de 
serviços se expandiu constantemente, e deixaram de se dedicar apenas a vida 
familiar. Uma das melhores maneiras de observar como se modificou o papel 
das mulheres é analisar as transições para a vida adulta das jovens ao longo 
das décadas, porque as mulheres mais jovens têm mais chances de assumir 
posições sociais menos tradicionais. As análises que apresento mostram que 
os padrões de transição de homens e mulheres se tornaram mais parecidos 
na esfera do trabalho e da família ao longo do período. As desigualdades de 
gênero diminuíram muito, embora ainda permaneçam marcantes como 
mostrarei ao longo do livro.
A segunda forma de influência das famílias nas transições para a vida 
adulta é através das transmissões intergeracionais de vantagens e desvanta-
gens. As características da família em que os adolescentes e jovens são cria-
dos influenciam de diversas maneiras suas chances de progressão e perma-
nência no sistema educacional, o momento em que entram no mercado de 
trabalho, e o momento em que casam ou formam novos domicílios. Jovens 
de classes mais baixas tendem a se casar mais cedo, a permanecer na escola 
por menos tempo e a começar a trabalhar mais cedo. Em contraste, jovens 
de classes mais altas tendem a estudar por mais tempo, demorar mais para 
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se casar e começar a trabalhar bem mais tarde. A maioria destas diferenças 
tende a diminuir ao longo das décadas, como mostro em diversas análises 
ao longo do livro, mas algumas permanecem inalteradas. Um dos principais 
objetivos deste livro é verificar em que medida os padrões de transição para a 
vida adulta se tornaram mais, ou menos, homogêneos entre jovens com ori-
gens familiares em diferentes classes sociais.
Para analisar as mudanças na vida dos jovens ao longo dos últimos 50 anos 
utilizo: os Censos brasileiros (1960, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010), as “Pesquisas 
Nacionais por Amostragem Domiciliar” (PNADS coletadas entre 1981 e 2009), a 
“Pesquisa de Padrões de Vida” (PPV, 1996) e a “Pesquisa Dimensões Sociais das 
Desigualdades” (PDSD, 2008). Em alguns capítulos analiso o período inteiro 
que vai de 1960 a 2010, e em outros me concentro em alguns períodos histó-
ricos mais restritos dentro destes 50 anos. Como disse, a maioria das análises 
é feita para jovens entre 12 e 30 anos, mas os dois últimos capítulos analisam 
concluintes de cursos universitários que eram mais velhos quando foram en-
trevistados, embora o tema da posição no mercado de trabalho de pessoas com 
diplomas universitários continue focando questões relacionadas à juventude. 
Todos os capítulos tratam de temas relacionados à escolaridade e ao trabalho 
de adolescentes e jovens adultos ao longo dos últimos 50 anos. 
As enormes mudanças que ocorreram entre 1960 e 2010 são claramente 
observadas em mudanças nos ciclos de vida dos jovens neste período. O pri-
meiro capítulo do livro analisa os padrões de transição para a vida adulta de 
homens e mulheres entre 12 e 30 anos em 1970 e em 2010 – não usei a amostra 
do Censo de 1960 porque ela inclui poucos casos o que impossibilita o tipo 
de análises que faço. Segundo alguns sociólogos que se dedicam ao estudo 
dos ciclos de vida (KERCKHOFF: 1990) cinco transições marcam a entrada na 
vida adulta: (1) a saída das escolas, que prepara os jovens para a vida laboral e 
produtiva nas economias de mercado; (2) a entrada no mercado de trabalho, 
que marca o começo de uma carreira produtiva em algum setor de atividade 
econômica; (3) a saída da casa dos pais, que dá início a constituição de um 
domicílio independente; (4) o casamento, que significa a formação de uma 
nova família; e (5) o nascimento dos primeiros filhos, que possibilita a repro-
dução futura das famílias. Nem todos os jovens fazem todas estas transições, 
frequentemente fazem apenas algumas ou as fazem em ordem diferentes e 
em momentos distintos do ciclo de vida. Mas do ponto de vista populacional 
as cinco são importantes porque marcam mudanças nos papéis sociais que 
a maioria dos indivíduos assume. Estas transições são fortemente marcadas 
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pelos contextos culturais e institucionais que caracterizam diferentes países e 
épocas históricas. As análises do primeiro capítulo mostram que há mudan-
ças importantes entre 1970 e 2010 na fase do ciclo de vida em que os jovens 
brasileiros fazem estas cinco transições. Há padronização na adolescência, 
principalmente porque a maioria desta população passa a estar em tempo in-
tegral na escola, mas também há despadronização para os jovens adultos na 
medida em que passa a haver uma maior diversidade de combinações entre 
escola, trabalho e casamento. As análises do primeiro capítulo não levam em 
consideração o fato de que os padrões de transição podem variar enorme-
mente de acordo com a origem de classe dos jovens.
O segundo capítulo focaliza exatamente a questão da desigualdade de clas-
ses nos padrões de transição. Tendo em vista que para esse tipo de análise é im-
portante ter informações sobre a origem de classe dos jovens que vivem ou não 
com os pais é fundamental usar pesquisas que perguntem aos entrevistados 
qual era a ocupação e a educação dos pais em algum momento do passado, ou 
seja, é fundamental ter informações sobre mobilidade social. Por este motivo 
utilizo a PPV coletada em 1996 e a PDSD coletada em 2008. Mais uma vez anali-
so os padrões de transição dos jovens entre 12 e 30 anos de idade. Embora nes-
te capítulo o escopo temporal da análise esteja limitado às décadas de 1990 e 
2000, esse período é particularmente importante porque foi exatamente quan-
do mais se expandiu o sistema educacional e começou a diminuir a desigual-
dade de renda. Além disso, por motivos demográficos que explico no capítulo 
2 as coortes de jovens estudadas são as maiores de toda a história brasileira. 
O principal objetivo do capítulo 2 é analisar tendências da desigualdades de 
classes (medida pela ocupação e educação dos pais dos jovens) nos padrões de 
transição da escola para o trabalho, do domicílio paterno ou materno para o 
domicílio próprio ou para o casamento, e da vida de solteiro para o casamento 
e o nascimento do primeiro filho. Entre outras coisas as análises revelam que 
houve diminuição da diferença entre homens e mulheres nos padrões de tran-
sição para o mercado de trabalho, que os jovens de classes mais baixas passa-
ram a ficar mais tempo na escola e a demorar um pouco mais para constituir 
famílias, que os jovens de classes mais altas permaneceram na situação pri-
vilegiada que tinham, e que a maioria das mães solteiras são de classes mais 
baixas e que essa situação não se modificou muito ao longo dos anos. De um 
modo geral o capítulo indica que diminuíram as desigualdades nos padrões 
de transição. Portanto, a despadronização observada no capítulo anterior não 
é simplesmente uma consequência das desigualdades de classe. As diferentes 
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combinações entre casamento, trabalho, estudo e domicílio parecem estar se 
difundindo em todas as classes. As análises evidenciam que as principais mu-
danças se devem ao aumento do acesso ao sistema educacional.
Este é justamente o tema do terceiro capítulo que trata da expansão do aces-
so às escolas e das tendências da desigualdade de oportunidades educacionais 
entre 1960 e 2010. Neste capítulo são analisadas diversas transições educacio-
nais com o objetivo de verificar se houve diminuição ou aumento do efeito da 
classe de origem nas chances de progredir no sistema educacional. As análises 
revelam tendências importantes como, por exemplo, a diminuição da desi-
gualdade racial na progressão ao longo do sistema educacional. No entanto, 
os principais resultados dizem respeito ao efeito da renda e educação dos pais. 
Estas duas últimas características das famílias de origem dos adolescentes e jo-
vens apresentam tendências diferentes para os três principais níveis de ensino. 
Para o ensino elementar houve diminuição considerável da desigualdade de 
classe, ou seja, a renda e a educação dos pais passou a ter menos importância 
para a progressão dos filhos no ensino elementar. No ensino médio não houve 
diminuição da desigualdade de classe (efeito da renda e educação dos pais), 
mas para entrar no ensino superior houve aumento deste tipo de desigualda-
de. A diminuição da desigualdade de acesso e progressão no ensino elementar 
reforça os resultados obtidos nos dois capítulos anteriores, ou seja, reforça a 
ideia de que houve padronização do ciclo de vida na infância e adolescência. 
O aumento da desigualdade de classe no acesso a universidade, por sua vez, 
reforça a ideia de que a vida dos jovens adultos se tornou mais incerta e mais 
competitiva. Para investigar mais detalhadamente o que ocorreu no ensino su-
perior dediquei os dois últimos capítulos do livro a este tema.
O quarto capítulo analisa o acesso à universidade e a situação ocupacional 
dos formandos em termos de idade, coorte e período. Em estudos populacio-
nais de longa ou média duração, como os implementados neste livro, há três 
efeitos temporais que podem influenciar tendências observadas. O primeiro 
é o efeito de coorte de nascimento. O momento em que as pessoas nascem 
pode influenciar enormemente suas chances de vida. Por exemplo, indiví-
duos que nascem em épocas em que não há escolas para todos têm maiores 
chances de não ir à escola. Outro efeito temporal relevante é o de período, 
algumas mudanças históricas afetam todos os indivíduos em determinado 
momento histórico, independentemente do momento em que nasceram. Por 
exemplo, quando ocorre uma crise econômica o desemprego pode afetar a 
todos os trabalhadores independentemente de suas coortes de nascimento. 
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Finalmente, há o efeito da idade, algumas coisas mudam ao longo do ciclo 
de vida das pessoas. Por exemplo, a renda tende a aumentar até mais ou me-
nos os 50 anos e declinar daí em diante. A experiência no mercado de traba-
lho, que vem com a idade4, é valorizada até um certo ponto do ciclo de vida. 
Fazendo a distinção entre estas três dimensões temporais analiso as chan-
ces dos jovens entrarem na universidade e alcançarem posições no topo da 
hierarquia ocupacional ao longo das décadas. O principal objetivo é verificar 
em que medida a crise econômica dos anos 1980 e início da década de 1990 
afetou a entrada e a conclusão do ensino superior. Os resultados mostram 
efeitos de período e de coorte importantes que se relacionam, por um lado, 
às conjunturas de crescimento econômico das décadas de 1960 e 1970, e, por 
outro lado, à crise econômica nas décadas posteriores. O acesso e a conclusão 
do ensino universitário diminuiu no período de crise econômica.
 Tendo em vista a importância da expansão do ensino superior dedico 
o último capítulo ao estudo da estratificação horizontal entre carreiras univer-
sitárias a partir da análise de mudanças na desigualdade de gênero e raça entre 
os cursos superiores de 1960 a 2010. Sabemos que houve uma enorme expan-
são de cursos, bem como que houve aumento do acesso à universidade para 
mulheres, pretos e pardos ao longo do período. Além disso, sabemos que há 
uma hierarquia de prestígio e remuneração entre as carreiras. Embora mulhe-
res, pardos e pretos tenham aumentado sua participação no ensino superior 
ao longo das décadas, as análises desenvolvidas indicam claramente que estes 
grupos tendem a entrar em carreiras menos prestigiosas. Além disso, quando se 
formam têm em média renda inferior a dos homens brancos. Houve mudanças 
e diminuição da desigualdade de gênero e, em menor escala, das desigualda-
des raciais. Estes resultados também se relacionam aos resultados encontradosnos capítulos anteriores do livro. De fato, a vida dos jovens adultos parece ter 
se complexificado na medida em que há mais competição e maior amplitude 
de escolhas. Algo que também fica evidente quando se observa a estratificação 
entre os formandos em diferentes carreiras universitárias.
Em conjunto os cinco capítulos que se seguem apresentam análises sobre 
diversos aspectos da entrada dos jovens brasileiros na vida adulta entre 1960 
e 2010. Este período foi marcado por profundas mudanças que afetaram a 
escolaridade, o trabalho e a vida familiar dos jovens brasileiros. As tendên-
cias que analiso estão relacionadas, por um lado, ao boom de crescimento 
4 Inclusive a idade é geralmente usada como proxi para experiência no mercado de trabalho 
em muitos modelos analíticos.
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econômico nas décadas de 1960 e 1970, e, por outro lado, ao momento de cri-
se econômica e de expansão dos direitos sociais que vem ocorrendo no país 
desde a década de 1980. Na adolescência houve padronização dos ciclos de 
vida dos jovens, diminuição da desigualdade de acesso à educação, aumento 
da idade média para entrar no mercado de trabalho e para se casar, assim 
como outras modificações importantes. Em contraste, os jovens adultos estão 
crescentemente enfrentando mais competição no mercado de trabalho, mais 
possibilidades de escolha em suas carreiras educacionais e mais variedades 
de combinação entre trabalho, escola e família. Em todos os capítulos estas 
tendências são encontradas. Há aspectos que poderiam ter sido analisados 
em mais detalhe, como a gravidez na adolescência, o mercado de trabalho 
para os jovens que não entraram na universidade, entre outros. Espero que 
mais pesquisas sejam desenvolvidas em todas essas áreas. O que ocorre com 
os jovens não é importante apenas nesta fase do ciclo de vida, mas tem in-
fluência ao longo de toda a vida. Como se diz popularmente: “os jovens de 
hoje são os velhos de amanhã”. Tendo em vista que há uma tendência ine-
xorável de envelhecimento da população brasileira, as políticas sociais de 
proteção e criação de capacidades entre os jovens são também políticas de 
longo prazo que afetarão o enorme contingente de idosos que vai compor a 
população brasileira nas próximas décadas.
***
Meu trabalho neste livro foi realizado em diferentes momentos e contou 
com a contribuição de diversos colegas, amigos, instituições e projetos de 
pesquisa. As ideias que apresento são em certa medida coletivas e não so-
mente minhas. Quando eu estava no curso de doutorado um professor espe-
cialista em redes sociais me disse que todas as boas ideias que teve já estavam 
circulando há algum tempo entre seus colegas e amigos. Sempre gostei dessa 
ideia porque é anti-individualista e essencialmente sociológica. No caso des-
te livro ela se aplica perfeitamente à todos os capítulos.
Os dois primeiros capítulos foram desenvolvidos a partir de um projeto 
que participei enquanto estive no Center for Advanced Studies in the Beha-
vioural Sciences (CASBS) da Stanford University, em 2008. Naquela época 
desenvolvi as ideias que apresento neste livro em discussões e conversas 
principalmente com Sylvia Giorguli Saucedo (El Colegio de Mexico) e Elisa-
beth Fussel (Washington State University). Aprendi muito com as duas sobre 
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demografia e transições para a vida adulta. Naquele período também me be-
neficiei de conversas com Marlis Buchman (University of Zurich), Martin Be-
navides (GRADE, Lima, Peru) e Robert Crosnoe (University of Texas, Austin). 
Os três últimos capítulos foram desenvolvidos no contexto de outros dois 
projetos, desta vez desenvolvidos no CEBRAP e na USP. O capítulo 4 foi en-
comendado por Nadya Araújo Guimarães (USP e CEBRAP) para uma confe-
rência contando com colegas britânicos e brasileiros. Depois Marta Arretche 
(USP e CEBRAP) organizou um projeto para analisar detalhadamente os Cen-
sos brasileiros coletados entre 1960 e 2010. Sugeri este projeto para Marta, 
mas foi ela que teve a inteligência institucional para avançar e organizar os 
capítulos e bancos de dado, bem como para montar um incrível time de pes-
quisadores, incluindo diversos alunos de pós-graduação que ficaram respon-
sáveis pela manipulação dos bancos de dados dos Censos. Entre estes alunos 
destaco a ajuda de Rogério Barbosa e Ian Prates (ambos alunos do doutora-
do em Sociologia da USP). Também foi neste contexto que conheci Ricardo 
Ceneviva (IESP-UERJ), Murillo Marchner Alves de Brito (CEBRAP) e Rogério 
Schlegel (UNIFESP). Os dois primeiros são coautores do capítulo 3 e o tercei-
ro do capítulo 5. Fui realmente afortunado por ter trabalhado com os três e 
agradeço por terem concordado em publicar os textos neste livro.
A publicação do livro foi possível graças ao projeto de pesquisa “Pronex- Ju-
ventude, desigualdades e o futuro do Rio de Janeiro” coordenado por Adalber-
to Cardoso (IESP-UERJ), que também participou da conferência no CEBRAP, 
mencionada acima, e que convidou Sylvia Giorguli e Robert Crosnoe para uma 
outra conferência sobre juventude no Rio de Janeiro. Dessa forma, o projeto 
coordenado por Adalberto foi fundamental para que eu encontrasse uma uni-
dade entre os cinco capítulos que constituem esse livro. Agradeço ao Adalberto 
que tem sido um parceiro intelectual e em empreendimentos institucionais. No 
IESP-UERJ, antigo Iuperj, encontrei o estímulo e o pluralismo de ideias que são 
fundamentais para o trabalho acadêmico. Além disso, ao longo de todo o pe-
ríodo de elaboração deste livro contei com o apoio do CNPq, via bolsa de pro-
dutividade científica, e da Faperj, via bolsa “Jovem cientista do nosso estado”.
Comecei a finalizar a redação do livro durante o inverno de 2014 em Ber-
lim graças ao convite de Sérgio Costa (Frei Universität Berlin) para passar 
uma curta temporada no instituto que coordena. Na Alemanha continuei a 
apreender mais sobre adolescência com meus filhos, Joaquim e Clara, que em 
breve estarão de volta ao Rio. Maria Clara Gama leu algumas partes do texto e 
fez comentários essenciais para que eu conseguisse fechar o livro.
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CAPÍTULO 1: 
 PADRONIZAÇÃO E DESPADRONIZAÇÃO DAS 
TRANSIÇÕES PARA A VIDA ADULTA
1. Introdução
O fenômeno da entrada na vida adulta, ou passagem da adolescência para 
a vida adulta, pode ser entendido de diversas maneiras. Do ponto de vista 
psicológico, por exemplo, há uma preocupação em entender como os indi-
víduos passam a ter posicionamentos e sentimentos mais maduros, condi-
zentes com os deveres e necessidades da vida adulta. Os antropólogos, por 
sua vez, procuram interpretar o significado cultural dos papéis e comporta-
mentos dos jovens no momento em que começam a assumir posições sociais 
de adultos. Uma perspectiva bastante diferente, embora muito interessante 
e certamente complementar, é adotada pela macrossociologia voltada para 
o entendimento das dinâmicas populacionais. O foco das pesquisas socioló-
gicas e demográficas é entender como mudam as tendências na população 
como um todo. Mais especificamente é fundamental descrever, do ponto de 
vista populacional, algumas transições sociais que levam os indivíduos a as-
sumir papéis sociais característicos da vida adulta.
Nesta perspectiva pelo menos cinco transições podem ser definidas. Para 
se tornarem adultos os indivíduos devem: (1) terminar sua escolaridade, (2) 
entrar no mercado de trabalho, (3) estabelecer uma residência própria, (4) 
casar, e (5) ter filhos. Em tese estas transições deveriam ocorrer durante um 
curto períododo ciclo de vida. Embora seja socialmente esperado que as 
transições ocorram desta maneira, sabemos que nem sempre as coisas acon-
tecem exatamente assim. Obviamente a ordem e o tempo entre as transições 
podem variar bastante entre os indivíduos, mas o que é mais importante na 
perspectiva macrossociológica é observar as tendências de variação entre po-
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pulações. Em alguns países ou épocas históricas a maioria da população faz 
as cinco transições de forma concatenada e em um curto período do ciclo 
de vida, enquanto em outros lugares e momentos um número significativo 
de pessoas não completa algumas das transições ou leva muito tempo para 
completar algumas. Estas variações históricas e entre países estão em geral 
relacionadas às características que marcam algumas importantes instituições 
sociais, em particular o sistema educacional, o mercado de trabalho, a famí-
lia e as políticas de proteção social. Estas instituições se modificam ao longo 
do tempo e entre países, o que leva a mudanças e diferenças nos padrões de 
transição para a vida adulta.
De acordo com a teoria dos ciclos de vida dois movimentos históricos ca-
racterizam a transição para a vida adulta. O primeiro é denominado de “pa-
dronização”. Com o advento das instituições modernas (sistemas educacio-
nais, famílias nucleares, mercados de trabalho regulado, e estado de proteção 
social) houve uma tendência de padronização dos ciclos de vida, ou seja, a 
maior parte da população passou a seguir um caminho semelhante de entra-
da na vida adulta. A maioria dos jovens passa a frequentar escolas, que pre-
parariam para o mercado de trabalho, e portanto passa a ter uma definição 
institucional dos períodos que separam a escolaridade da vida produtiva na 
esfera do trabalho. Paralelamente, as famílias deixam de ser extensas, com 
várias gerações vivendo no mesmo domicílio, para se tornarem nucleares 
com pais e filhos vivendo por um período determinado na mesma residência 
e os avós vivendo em outras casas. Em outras palavras, as pessoas passam, 
em tese, a viver num novo domicílio, diferente do de seus pais, no momento 
em que se casam. As esferas produtivas (trabalho e educação) são separadas 
das reprodutivas (família e criação de domicílio próprio). Estas tendências, 
que ocorreram em diversos países na medida em que se industrializaram e se 
modernizaram, colaboraram para criar uma espécie de “padronização” dos 
ciclos de vida e das transições para a vida adulta. Ou seja, a maior parte da 
população faz as cinco transições definidas acima em um curto período do 
ciclo de vida. 
Em diversas sociedades modernas, principalmente nos países de indus-
trialização avançada, esta “padronização” vem sendo desfeita aos poucos. 
Um percentual significativo de indivíduos fica um longo período dentro dos 
sistemas educacionais, demora mais para começar a trabalhar, não se casa ou 
se casa diversas vezes, e raramente têm filhos ou posterga a maternidade ou 
paternidade para idades mais avançadas. Em alguns países os filhos adultos 
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permanecem por longos períodos, até ficarem relativamente mais velhos, na 
casa dos pais, mesmo que tenham terminado seu período de escolarização 
e já sejam profissionais ou trabalhadores totalmente integrados no mercado 
de trabalho. Além disso, as cinco transições, quando ocorrem, se espalham 
por um longo período do ciclo de vida, não são mais feitas de forma seguida 
e em poucos anos, mas ocorrem de forma desordenada e ao longo de muitos 
anos. Alguns autores acreditam que esteja ocorrendo uma expansão do perío-
do de juventude, em que os indivíduos estão experimentando diferentes for-
mas de vida. Outros dizem que há uma maior incerteza, tendo em vista que 
as transições não são mais socialmente determinadas. Esta desconcentração 
temporal e diversidade de padrões de transição para a vida adulta têm sido 
denominada de “despadronização” dos ciclos de vida. 
A maior parte dos estudos nesta área vem sendo desenvolvida em países 
industrializados do hemisfério norte. Países nos quais os níveis de igualda-
de, de institucionalização do estado de bem-estar, de expansão do sistema 
educacional e de desenvolvimento econômico são bem maiores do que no 
Brasil. Será que os padrões observados nestes países também estão presentes 
no Brasil? Para responder a esta pergunta, examino diferenças na heteroge-
neidade nas combinações de status demográficos específicos (estuda ou não 
estuda, trabalha ou não trabalha, casado ou não, chefe de domicílio ou não) 
em diferentes idades (entre 12 e 30 anos) no Brasil em 1970 e 2010 (dados 
dos Censos populacionais). Neste período o país se industrializou crescente-
mente, se institucionalizou e experimentou crescimento significativo da de-
sigualdade de renda (que só começou a diminuir nos últimos 10 anos desse 
período). Além disso, do ponto de vista demográfico, houve uma diminuição 
da fecundidade, o que levou coortes de idade relativamente grandes (porque 
a fecundidade de seus pais era alta) a terem poucos filhos. Consequentemen-
te, houve uma diminuição das razões de dependência (diminuiu o número de 
pessoas dependentes por pessoas trabalhando). Outra mudança importante 
foi a enorme expansão do sistema educacional de nível fundamental e médio, 
principalmente a partir da década de 1980. 
Apesar de todos estes avanços, na década de 1980 o Brasil passou por um 
sério período de crise econômica com altos níveis de inflação, de forma que os 
jovens neste período, mesmo aqueles que tinham completado níveis altos de 
educação, enfrentaram um mercado de trabalho em contração. Além disso, os 
altos níveis de desigualdade econômica no Brasil, que começaram a diminuir 
apenas em 1994 e na década de 2010, permaneceram altos. Isso significa que 
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pessoas com condições socioeconômicas muito diferentes experimentaram 
padrões também muito diferentes de transição para a vida adulta. A despeito 
de todas estas diferenças é provável que algumas tendências observadas em 
outros países estejam ocorrendo também no Brasil, mais do que isso é pro-
vável que entre 1970 e 2010 estas tendências tenham se tornado mais claras e 
parecidas com as observadas em outras sociedades industriais.
Para descrever as mudanças nos padrões de transição para vida adulta en-
tre 1970 e 2010, uso um indicador ou medida chamado “índice de entropia da 
variância qualitativa” que resume como coortes com idades específicas combi-
nam os diferentes status demográficos (BILLARI: 2000, 2001; FUSSELL: 2005). 
Uso quatro marcadores de transição: (1) frequenta escola (sim ou não), (2) 
trabalha (sim ou não), (3) chefia de domicílio (sim ou não), e (4) estado civil 
(casado ou solteiro). A partir dos Censos de 1970 e 2010, calculei a medida de 
entropia (joint entropy), que pode ser interpretada como a heterogeneidade na 
combinação de status demográficos para a população em cada idade entre 12 e 
30 anos. Quando combinados por idade estes índices (para cada idade específi-
ca) descrevem a experiência de coortes sintéticas na heterogeneidade de status 
demográficos no período de transição para vida adulta. Essa medida quantita-
tiva da variância qualitativa (variância nos status demográficos) permite com-
parar a experiência de transição para vida adulta dos jovens em 1970 e 2010. 
A heterogeneidade na combinação de status demográficos indica o grau 
de “padronização” do ciclo de vida dos jovens com respeito a um número 
fixo de combinação de status em cada idade. Estudiosos dos ciclos de vidaargumentam que enquanto o período de adolescência ou juventude passou 
a ser mais “padronizado”, a transição para a vida adulta se tornou cada vez 
mais diversificada e “despadronizada” nos países de industrialização avan-
çada (MODELL, FURSTENBERG e HERSHBERG: 1976; BRUCKNER e MAYER: 
2005; MACMILLAN: 2005). No entanto, não há muitas pesquisas procurando 
verificar se estas tendências também se aplicam à países de industrialização 
recente nos quais as instituições que estruturam a vida dos adolescentes e 
jovens adultos se desenvolveram mais recentemente e de formas distintas. 
De acordo com os padrões de mudança no Brasil, brevemente apresentados 
acima, é plausível imaginar que na primeira fase da adolescência (idades en-
tre 12 e 15) a heterogeneidade de status deve ter diminuído, uma vez que me-
ninos e meninas tiveram mais acesso ao sistema escolar e diminuíram sua 
participação no mercado de trabalho. Esta expectativa é consistente com a 
ideia de que há uma “padronização” da adolescência.
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Em contrapartida, as pesquisas sobre transições para a vida adulta em 
países desenvolvidos observaram “despadronização” dos ciclos de vida no 
período posterior ao final da educação de ensino médio (idades de 18 anos 
ou mais). Em muitas destas sociedades há uma demora na transição para os 
status ou papéis sociais de adultos, principalmente para o casamento e para 
a constituição de um domicílio próprio (chefia de domicílio). Estas demoras 
estão associadas ao prolongamento da educação pós-secundária (de terceiro 
grau), por um lado, e a um período de instabilidade ou experimentação com 
diferentes tipos de carreira profissional, por outro lado. O resultado é uma 
“despadronização” do ciclo de vida e uma maior heterogeneidade na combi-
nação de status (FUSSELL e FURSTENBERG: 2005; LICHTER, MCLAUGHLIN 
e RIBAR: 2002; MACMILLAN: 2005; OPPENHEIMER, KALMIJN, e LIM: 1997; 
RINDFUSS: 1991; SETTERSTEN, RUMBAUT e FURSTENBERG: 2005; SHA-
NAHAN: 2000). Estes atrasos também estão associados a dificuldades sociais 
e econômicas em fazer diversas transições em uma faixa de idade conden-
sada, o que resulta em uma maior demora na formação de famílias próprias 
(casamento e paternidade) (MODELL, FURSTENBERG e HERSCHBERG: 
1976; FUSSELL e FURSTENBERG: 2005). Neste capítulo, procuro verificar se 
estas expectativas baseadas nos resultados de pesquisas feitas em países in-
dustrializados são válidas para o Brasil, que é um país com altos níveis de 
desigualdade econômica, com industrialização relativamente recente, com 
menos acesso ao sistema educacional, com um mercado de trabalho mais 
informalizado (menos regularizado), e com menos desenvolvimento de polí-
ticas de proteção social.
Para facilitar a verificação das possíveis semelhanças e diferenças entre o 
Brasil e os países industrializados estudados anteriormente uso os mesmos 
status de adulto presentes nos estudos mencionados, ou seja, frequência a 
escola, emprego, casamento ou coabitação, e chefia de domicílio.1 Algumas 
diferenças são marcantes. Por exemplo, a ligação entre casamento e formação 
de um domicílio próprio parece ser menos direta no Brasil do que nos países 
do hemisfério norte anteriormente estudados, onde filhos adultos deixam a 
casa dos pais antes ou no momento em que se casam. No Brasil, em contra-
posição, é comum que filhos casados continuem a viver com seus pais e rara-
mente vivem separadamente de suas famílias quando são solteiros. A ideia de 
que jovens adultos serão economicamente independentes de seus pais tam-
1 Não incluí análises sobre paternidade/maternidade porque os Censos não tem essa 
informação para os homens, e eu prefei manter a comparabilidade entre homens e mulheres.
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bém não se aplica perfeitamente. Assim, diferenças em normas sociais sobre 
o status de adulto podem contribuir para aumentar ou diminuir a heteroge-
neidade de status entre os jovens adultos (18-30 anos) dependendo do padrão 
de combinação ou concentração de alguns poucos status demográficos. 
Se não houvesse mudanças significativas nas instituições sociais e nor-
mas estruturando o tempo e os status que constituem a vida adulta, não ha-
veria mudanças nos níveis de heterogeneidade entre os jovens adultos (22 a 
30 anos). Como no Brasil a educação universitária se expandiu moderada-
mente entre 1970 e 2000, mas de forma um pouco mais acentuada na déca-
da de 2010, imagino que o nível de heterogeneidade tenha aumentado um 
pouco. Mudanças nos padrões de casamento e formação de novos domicí-
lios também podem afetar a heterogeneidade em idades específicas, embora, 
por causa do fato destes eventos serem menos dependentes de instituições 
organizadas para certos grupos etários (como, por exemplo, são as escolas), 
o efeito no grau de heterogeneidade pode ser mais fraco. Por exemplo, uma 
mudança na idade média de casamento com pouca variação no tempo em 
que os casamentos ocorrem, como na Coreia do Sul, causaria um decréscimo 
na heterogeneidade quando poucas pessoas estão casadas e um aumento da 
heterogeneidade nas faixas etárias nas quais os casamentos se concentram. 
Uma mudança mais modesta na idade média ao casar com muita variação no 
tempo de demora até o casamento, como ocorre no Brasil, causaria mudan-
ças mais modestas nos níveis de heterogeneidade.
2. Mudanças nas estruturas e instituições econôMicas e sociais
Até a década de 1970 o Brasil apresentou níveis de desenvolvimento e 
crescimento econômico altíssimos. Até este momento o país adotava um mo-
delo de substituição de importações, fortemente baseado em empréstimos 
estrangeiros, que não se sustentou depois das crises do petróleo e da dívida 
externa a partir dos anos 1980. Nos anos 1990 o país se viu obrigado a im-
plementar políticas de liberalização e de reestruturação econômica. Neste 
período, décadas de 1980 e 1990, o país diminuiu drasticamente seu ritmo de 
crescimento (o PIB per capita cresceu apenas 1,75% nestas décadas). Como 
consequência deste período de crise o governo e as famílias não foram capa-
zes de investir de forma consistente em educação.
Não obstante o país expandiu enormemente o acesso a educação fun-
damental e média. O acesso ao ensino médio, por exemplo, passou de 17% 
para 68% dos jovens entre 1970 e 2010. A expansão do ensino fundamental 
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foi ainda maior, dado que na década de 1990 praticamente se universalizou 
entre as crianças na faixa etária relevante. O ensino superior se expandiu 
de forma mais lenta, embora também tenha passado de 5% para 16% da 
população em idade relevante entre 1970 e 2010. Embora a expansão tenha 
sido significativa, ainda foi insuficiente uma vez que o governo começou a 
investir de forma mais consistente em educação apenas na década de 1980. 
A crise também contribuiu para que muitos jovens escolhessem o trabalho 
em detrimento dos estudos. 
Paralelemente, houve uma redução da fecundidade e uma diminuição das 
taxas de crescimento populacional no Brasil. A taxa de fecundidade total caiu 
de 5,4 para 2,5 entre 1970 e 2010. A expectativa de vida também se expandiu 
bastante, aumentou aproximadamente 10 anos. Estas mudanças demográfi-
cas levaram a diminuição da taxa de dependência, proporção de pessoas tra-
balhando em relação a pessoas não trabalhando (crianças, jovens e velhos), 
para menos de 1, o que em tese aumentaria a capacidade das famílias e da 
sociedade de investimento na educação e no bem-estar das crianças e jovens.
De fato, a habilidade dos pais e famílias para manter seus filhos naescola 
e fora do mercado de trabalho é uma forma fundamental de investimento 
nas crianças que contribui diretamente para a “padronização” da adolescên-
cia. Em 1970 cerca de 59,3% dos homens jovens e 23,3% das mulheres jovens 
entre 15 e 19 anos estavam participando do mercado de trabalho no Brasil. 
Em 2010, a participação no mercado de trabalho para a população nesta fai-
xa etária diminuiu para 44% entre os homens e aumentou para 25% entre 
as mulheres. Estes números revelam que no Brasil o trabalho entre os jovens 
continua a ser bastante comum, o que combinado com o aumento do acesso 
a educação de ensino médio acabou por levar a pouca “padronização” nesta 
fase do ciclo de vida, como mostro mais adiante.
Estas macromedidas das mudanças sociais e econômicas no Brasil aju-
dam a entender algumas mudanças históricas e institucionais que podem ter 
afetado os padrões de transição para a vida adulta entre 1970 e 2010. De fato, 
neste período o investimento brasileiro em instituições favorecendo a “pa-
dronização” da adolescência foi muito baixo, se limitando em grande parte 
a expansão do ensino fundamental. Além disso, também houve um enorme 
aumento do acesso das mulheres ao sistema educacional, o que pode ter le-
vado a mudanças nas transições para vida adulta entre 1970 e 2010. Em outras 
palavras, o parco desenvolvimento econômico, a pouca expansão da educa-
ção de ensino médio e superior, e alguns avanços demográficos levaram a 
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um investimento ainda pequeno em áreas que favoreceriam um aumento da 
“padronização” da adolescência no Brasil. De fato, as transições para a vida 
adulta no Brasil ainda ocorrem em idades relativamente baixas quando com-
paradas a outros países industrializados.
3. dados e Métodos
Índices baseados na transformação entrópica foram desenvolvidos e usados 
por diversos pesquisadores para mensurar as desigualdades na distribuição de 
variáveis contínuas ou ordinais tais como renda, distribuições populacionais 
e ocupações (ALLISON: 1984; GORARD e TAYLOR: 2002; MAGIDSON: 1981). 
Aplicando uma ideia semelhante às variáveis binárias, Billari (2001) usou 
o índice de entropia de Theil para mensurar a heterogeneidade em uma 
sequência de status demográficos entre jovens italianos. Neste capítulo uso 
uma abordagem semelhante a de Billari, que examinou a combinação de 
status em coortes de idade ao longo do ciclo de vida para calcular o índice 
de entropia para cada idade em dados do Censo italiano. Neste capítulo, 
cálculo o índice para homens e mulheres separadamente em cada um dos 
Censos brasileiros analisados, ou seja, para descrever as diferenças temporais 
ou históricas no momento e na complexidade da transição para vida adulta, 
comparo a distribuição do índice de entropia por idade nos Censos de 1970 
e 2010 respectivamente para homens e mulheres. Seguindo o trabalho de 
Fussell (FUSSELL: 2005), considero a medida de entropia entre os grupos 
de idade em cada Censo como sendo uma medida de coortes sintéticas, que 
provavelmente seguem um padrão comum ao longo dos ciclos de vida em 
cada distribuição de idade específica. Ou seja, imagino que pessoas em cada 
idade vão seguir um padrão semelhante aos de outras pessoas com idades 
superiores dentro da faixa de 12 a 30 anos de idade em cada Censo analisado. 
Quatro status diferentes, marcando a transição para vida adulta, são anali-
sados: frequência a escola (sim ou não), participação no mercado de trabalho 
(sim ou não), estado civil (casado ou não) e status como chefe de domicí-
lio ou cônjuge do chefe (sim ou não). Para obter esses quatro marcadores de 
transição para vida adulta para um grande número de indivíduos em cada 
idade entre 12 e 30 anos uso dados das amostras de um por cento dos Cen-
sos brasileiros de 1970 e 2010. Apenas distinções dicotômicas entre os status 
foram definidas. Em cada Censo fiz a distinção entre as pessoas que estavam 
frequentando ou não a escola no momento do Censo. Para a participação no 
mercado de trabalho, separei aqueles que tinham algum trabalho ou não (de-
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sempregados foram considerados como sem trabalho), independentemente 
do fato de o trabalho ser em tempo integral ou parcial. Para o status de estado 
civil, codifiquei aqueles que estavam casados, divorciados ou viúvos como 1 
(alguma vez casado na vida) e aqueles que nunca estiveram casados como 0. 
Aqueles que estavam em coabitação também foram considerados como ca-
sados (1). Finalmente, fiz a distinção entre chefes ou cônjuges dos chefes de 
domicílio (1) e aqueles que não tinham nem um dos dois status.
Levando em conta estes quatro status dicotomizados há a possibilidade 
de que em cada idade os indivíduos se distribuam em 16 combinações dife-
rentes de status. O índice de entropia com quatro dimensões pode ser calcu-
lado de acordo com a seguinte fórmula (COVER e THOMAS: 1991): 
∑∑∑∑
= = = =
−=
Ss Ww Mm
i
Hh
i hmwsphmwspHMWSH ),,,(log),,,(),,,( 2
Onde S, W, M, e H são quatro variáveis dicotômicas representando os sta-
tus dos indivíduos em cada idade (S = frequência a escola, W = participação 
no mercado de trabalho, M = estado civil, e H = chefia de domicílio), p é a 
distribuição conjunta dos indivíduos em cada uma das 16 combinações de 
status possíveis, e i é o indicador para idade. Com um total de 16 combinações 
de status o índice de entropia assume valores de 0 a 4 indicando o grau de 
heterogeneidade na combinação de status em cada idade específica (quanto 
maior o valor maior o grau de heterogeneidade).
Tendo em vista que esse índice é uma medida qualitativa da variância, 
uso um padrão qualitativo para determinar se as diferenças entre os perío-
dos e entre homens e mulheres são relevantes. A entropia de status em cada 
idade específica de cada coorte sintética se distribui de forma altamente pa-
dronizada, consequentemente ao invés de me preocupar com o tamanho da 
diferença entre cada medida específica, proponho o exame da diferença no 
padrão geral da distribuição ao longo das idades que parece ser significativa. 
Nas análises apresentadas neste capítulo estou interessado principalmen-
te nas diferenças entre 1970 e 2010 nas idades pico (pontos mais altos das 
curvas) da entropia conjunta total [join entropy: (H(SWMH))], na entropia 
conjunta dos status econômicos [economic status joint entropy: (H(SW))] e na 
entropia conjunta de status familiares [family status joint entropy: (H(MH))]. 
O que espero observar é um aumento na idade pico das transições econô-
micas entre 1970 e 2010, mudança associada principalmente à expansão do 
acesso ao sistema educacional. Esta mudança nas transições dos status eco-
nômicos deve também estar associada a um aumento das idades pico nas 
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transições familiares, tendo em vista que as coortes de idade mais novas reor-
ganizam seus cursos de vida para minimizar as demandas associadas com as 
novas características educacionais e econômicas de suas vidas. 
4. resultados
O índice de entropia total da combinação de todos os status demográfi-
cos (joint entropy of status combinations) mostra um padrão consistente de 
crescimento entre os doze anos de idade e os vinte e poucos anos de idade, 
e em seguida diminuem. Tendo em vista que as idades estruturam a vida das 
pessoas, vale à pena fazer algumas divisões etárias socialmente significati-
vas. Neste sentido, sugiro a divisão nas seguintes etapas do ciclo de vida dos 
jovens: idades mais novas do que 15 anos, idades entre 15 e 17 anos, idades 
entre 18 e 24 anos e 25 anosou mais. Para facilitar a apresentação dos resul-
tados chamo cada uma destas faixas etárias pelos seguintes termos: início da 
adolescência (12 a 14 anos), final da adolescência (15 a 17 anos), primeira fase 
(18 a 24) e segunda fase (25 a 30 anos) da juventude (i.e., jovens adultos). 
Figuras 1a-c. Entropia conjunta (Joint entropy) para homEns E mulhErEs no Brasil 
1970 E 2010
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No início da adolescência, antes dos 15 anos de idade, a combinação de 
status demográficos é relativamente homogênea, o que torna a entropia con-
junta relativamente baixa. A combinação de status típica nesta fase da vida 
(combinação modal) é: frequentar a escola, não trabalhar, não ser chefe de 
domicílio e não ser casado. Entre 1970 e 2010 houve um declínio na heteroge-
neidade da combinação de status, na entropia conjunta, no início da adoles-
cência, o que está de acordo com a hipótese de “padronização da adolescên-
cia”. A entropia conjunta diminuiu de 1,6 para meninos e meninas de 14 anos 
em 1970 para 1,2 e 1,1 respectivamente em 2010. A padronização do início 
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da adolescência realmente está ocorrendo no Brasil. Quando comparamos o 
Brasil com outros países, Coreia do Sul e México, observamos que a mudança 
brasileira é semelhante à Mexicana, mas muito menos acentuada do que a 
coreana, que também parte de um patamar semelhante (FUSELL, HYNJOON, 
RIBEIRO: 2010).
No final da adolescência (15 a 17 anos) a combinação típica de status des-
crita acima diminui na medida em que os jovens passam a ser legalmente 
aptos a entrar no mercado de trabalhou e a deixar a escola. Com 15 anos de 
idade os jovens brasileiros têm permissão legal para trabalhar como aprendi-
zes, e também não são obrigados a seguir a escola no ensino médio, que não 
é obrigatório. Se os jovens mudarem de status em proporções substanciais a 
entropia conjunta aumenta, o que expressa uma maior heterogeneidade na 
combinação de status das coortes de idade. No Brasil não há “padronização 
da adolescência” nesta faixa etária dos 15 aos 17 anos, ou seja, os adolescen-
tes nesta faixa etária ainda continuam a apresentar uma grande diversidade 
de combinação dos quatro status demográficos definidos. Entre 1970 e 2010 
a entropia conjunta aos 16 anos de idade mudou muito pouco. Passou de 1,8 
para homens e 2,0 para mulheres em 1970 para 1,8 e 1,9 em 2010. Isso sig-
nifica que ainda há uma grande proporção de jovens assumindo status ou 
papéis de adultos nesta segunda fase da adolescência. Enquanto uma parte 
dos jovens segue o padrão tradicional (estuda, não trabalha, não está casado 
e não é chefe de domicílio), há um número significativo que já começa a as-
sumir alguns status da vida adulta (deixa a escola, começa a trabalhar, se casa, 
e é chefe ou cônjuge em domicílio). Isso significa que a alta heterogeneidade 
populacional nesta fase da vida dos jovens no Brasil não mudou significativa-
mente entre 1970 e 2010. 
A entrada na vida adulta, entre os 18 e 30 anos de idade, coincide com 
o final da escolarização de ensino médio e a possibilidade de continuar os 
estudos em universidades ou em outros cursos de ensino de especialização. 
Também é nesta fase que os indivíduos começam a se estabelecer de forma 
mais regular no mercado de trabalho. Além disso, os jovens adultos passam 
a ter autonomia legal para decidir se vão ou não se casar e também podem 
assumir contratos que lhes permitem estabelecer um domicílio próprio (via 
aluguel, por exemplo). Estas possibilidades de mudança de status, permitidas 
por lei e socialmente esperadas, podem se refletir em um aumento do índi-
ce de entropia em relação ao observado para pessoas mais novas. Tudo isso 
passa a ser importante principalmente depois que os indivíduos completam 
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18 anos de idade. Desta idade em diante é muito provável que o índice de 
entropia cresça em relação às idades anteriores da adolescência, tendo em 
vista que a combinação possível de status demográficos aumenta muito. No 
entanto, mudanças entre 1970 e 2010 podem ocorrer principalmente se hou-
ver alguma mudança no padrão dos cursos de vida que gere um aumento ou 
diminuição da heterogeneidade de combinação de status dos jovens adultos. 
Para facilitar a interpretação, e baseado nos padrões empiricamente ob-
servados, separei a fase de vida dos jovens adultos em duas partes: dos 18 
aos 24 anos e dos 25 aos 30 anos. De fato, os dados revelam que entre os 18 
e 24 anos o índice de entropia chega aos seus valores mais altos. Isso é uma 
consequência direta da grande proporção de pessoas em cada tipo diferente 
de combinação de status. Neste período do ciclo de vida os indivíduos fazem 
as transições em momentos e ordens diferentes o que aumenta o número de 
combinações observadas. Há alguns que já se casaram, não trabalham, ainda 
estudam e moram com os cônjuges; outros que não se casaram, trabalham, 
ainda moram com os pais e já pararam de estudar; outros que trabalham, es-
tudam, são casados, e chefes de domicílio; e etc. Enfim há proporções relati-
vamente altas de indivíduos em muitas combinações de status possíveis. Essa 
situação, de muita heterogeneidade, é típica da fase da vida em que muitas 
pessoas estão fazendo as transições para a vida adulta, a partir do momen-
to que a maioria já fez as transições é comum que haja uma diminuição do 
índice de entropia uma vez que uma maior proporção de pessoas passa a se 
concentrar em uma combinação de status semelhante e característica da vida 
adulta. Tipicamente esta combinação de status na vida adulta seria: não estu-
dar, trabalhar, estar casado e ter um domicílio próprio. De fato, entre 25 e 30 
anos observamos uma diminuição dos índices de entropia. 
Como esperado, entre os 18 e 24 anos observamos índices altos de en-
tropia, justamente porque há diferentes combinações dos quatro status para 
proporções relativamente altas de indivíduos em cada idade. Entre 1970 e 
2010 o índice de entropia aumenta. Por exemplo, para pessoas com 21 anos 
de idade em 1970 o índice foi de 2,3 e 2,6 para homens e mulheres respecti-
vamente, e em 2010 esses números passaram para 2,8 e 3,2. Essa tendência 
de aumento do índice de entropia entre 1970 e 2010 para os jovens adultos 
entre 18 e 24 anos mostra que há uma mudança nos padrões populacionais 
caracterizando a vida dos jovens adultos no Brasil. Há mais heterogeneidade, 
ou seja, mais combinações de status diferentes em 2010 do que em 1970. Isso 
significa que os jovens adultos estão cada vez mais experimentando diferen-
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tes padrões de transição para a vida adulta no Brasil. Ou, em outras palavras, 
há uma tendência de “despadronização” das transições para a vida adulta. 
Na Tabela 1 apresento algumas informações que ajudam a entender esse au-
mento de heterogeneidade nos padrões de transição para vida adulta no Bra-
sil. Este aumento entre 1970 e 2010, expressando uma “despadronização” desta 
fase do ciclo de vida (18 a 24 anos), está provavelmente relacionado à expansão 
da participação no ensino médio, ao aumento das taxas de desemprego entre 
os homens jovens, ao aumento do emprego entre as mulheres jovens, e a um 
aumento da idade média ao casar para homens e mulheres.
Na segunda fase da juventude (25 a 30 anos) há uma tendência de concen-
tração em algumas poucas combinações de status demográficos relacionados 
à vida adulta. De fato, há uma tendência geral de diminuição da heterogenei-
dade em relação à fase anterior do ciclo devida (18 a 24 anos). Não obstante 
entre 1970 e 2010 também há um aumento de heterogeneidade, o que reve-
la que ao longo dos anos também há uma “despadronização” desta segunda 
fase da vida dos jovens adultos (25 a 30 anos) no Brasil. Por exemplo, entre as 
pessoas com 27 anos de idade há um aumento, entre 1970 e 2010, do índice 
de entropia que passa de 2,1 e 2,6 respectivamente para homens e mulheres 
para 2,6 e 2,9. 
Esses padrões de mudança nos índices de entropia podem ser interpre-
tados como evidências de que realmente está havendo uma “padronização” 
da adolescência no Brasil entre 1970 e 2010. No entanto, o índice de entropia 
total ou conjunto (join entropy) não permite verificar quais são as principais 
causas do aumento nos níveis de entropia. Para responder a esta pergunta di-
vidi o índice de entropia total ou conjunto (join entropy) em dois componen-
tes: um relativo à escola e ao trabalho, que são expressões da vida econômica 
(esfera produtiva), e outro relacionado ao casamento e a chefia de domicílio, 
que são expressões da vida familiar (esfera reprodutiva). 
As figuras 2a-d apresentam o índice de entropia total, H(SWMH), entropia 
relacionada a status econômicos, H(SW), e a status de família, H(MH). Esses 
gráficos revelam em que medida o nível de entropia conjunta total em cada 
ano deriva dos status econômicos e dos relativos à família. Também mostram 
a mudança que ocorre nesta composição entre os anos. Ao construir estes 
gráficos eu estava interessado especificamente em duas questões. Por que a 
entropia conjunta aumentou relativamente pouco, entre 1970 e 2010, na se-
gunda fase da adolescência? Por que aumentou a heterogeneidade entre os 
jovens adultos? 
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Figuras 2a-d. Entropia conjunta (Joint entropy) dE todos os status, status Econô-
micos E FamiliarEs para homEns E mulhErEs Em 1970 E 2010 
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Os dados apresentados acima indicam que houve “padronização” da pri-
meira fase da adolescência (12 a 14 anos), mas muito pouca na segunda fase 
(15 a 17 anos). Essa falta de “padronização” se deve principalmente ao fato de 
que, no Brasil, a educação de ensino médio se expandiu moderadamente en-
tre 1970 e 2010. As figuras 2a-d confirmam essa interpretação na medida em 
que os valores para os indicadores de entropia conjunta total, H(SWMH), en-
tropia de status econômicos, H(SW), e entropia de status de família, H(MH), 
praticamente não mudam entre 1970 e 2010. Em palavras mais simples, a dis-
tribuição da combinação de status nesta segunda fase da adolescência não 
mudou significativamente entre 1970 e 2010. Realmente a expansão educa-
cional parece ser a principal fonte de “padronização” da adolescência e essa 
expansão nas décadas estudadas se deu principalmente para indivíduos na 
primeira fase da adolescência, mas não para aqueles na segunda fase.
É mais difícil demonstrar porque os jovens adultos se tornaram mais 
heterogêneos em termos de status demográficos e transições para a vida 
adulta entre 1970 e 2010 porque todos os quatro status estão provavelmente 
relacionados a esse aumento. Os gráficos apresentados mostram um 
aumento da importância dos status familiares na primeira fase da vida 
adulta (18 a 24 anos). O que ocorre é que os status econômicos, H(SW), e 
de família, H(HM), formam duas corcovas diferentes, mostrando que as 
transições da escola para o trabalho e da solteirice e residência com os pais 
para o casamento e a chefia de domicílio ocorrem em idades diferentes. Isso 
é mais verdadeiro para os homens do que para as mulheres, porque para 
elas a saída da escola e entrada no casamento e em um novo domicílio estão 
mais diretamente relacionadas. 
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O aumento da heterogeneidade entre 1970 e 2010 se deve a um grande au-
mento da flexibilidade na combinação de status em 2010 do que em 1970. Para 
os homens em ambos os períodos a distribuição etária dos status econômicos 
e de família formam duas corcovas separadas, enquanto para as mulheres as 
distribuições dos status econômicos e de família se cruzam durante a primeira 
fase da vida adulta (18 a 24 anos), levando a níveis bastante altos de entropia 
conjunta nestas idades. As diferenças entre 1970 e 2010 são mais de grau do 
que de tipo. Enquanto os status econômicos apresentam níveis de entropia li-
geiramente mais altos no início da vida adulta tanto para homens quanto para 
mulheres, os status de família permanecem estáveis para os homens e crescem 
ligeiramente para as mulheres. Estes padrões sugerem que o aumento da he-
terogeneidade na combinação de status se deve a uma relativa falta de “padro-
nização” na combinação de status entre os jovens adultos e a interseção nas 
idades em que as transições de status econômicos e familiares ocorrem.
5. conclusão
As análises apresentadas neste capítulo levam à algumas conclusões im-
portantes sobre as mudanças nos padrões de transição para a vida adulta da 
população de jovens brasileiros entre 1970 e 2010. Em primeiro lugar, obser-
vei que a adolescência, principalmente até os 15 anos de idade, está se tor-
nando mais “padronizada” no Brasil. Em contrapartida os jovens adultos (a 
partir dos 18 anos) estão seguindo cada vez mais padrões distintos de tran-
sição para a vida adulta, ou seja, estão fazendo as transições (parando de es-
tudar, começando a trabalhar, casando e saindo da casa dos pais) de forma 
cada vez menos “padronizada”. Está “despadronização” é ainda maior para as 
mulheres do que para os homens. 
O aumento da padronização entre 1970 e 2010 para os adolescentes (até 
os 15 anos) se deve em grande medida a expansão educacional. Há um au-
mento da proporção de jovens nesta faixa etária frequentando a escola e não 
trabalhando. Esta tendência é altamente positiva porque mostra que os jo-
vens estão cada vez mais investindo em educação, o que é positivo para suas 
vidas. Surprende, no entanto, o fato de que o efeito da expansão educacional 
não perdure até idades mais avançadas e que os jovens comecem a deixar 
os estudos ainda muito cedo em suas vidas. O fato de que boa parte dos jo-
vens também começa a trabalhar a partir dos quinze anos também contribui 
para aumentar a heterogeneidade na combinação de transições. O início do 
trabalho nesta fase da vida, quando combinado ao estudo, não é necessaria-
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mente negativo, uma vez que pode representar alguma forma de aprendizado 
e treinamento. No entanto, este não parece ser o caso para a maioria dos jo-
vens que iniciam o trabalho por necessidade financeira e não por motivação 
de treinamento e aprendizado de uma ocupação. Em um pais extremamente 
desigual como o Brasil mais anos de escolaridade sempre significa melhor 
posicionamento futuro no mercado de trabalho e mais recursos para a ob-
tenção de recompensas financeiras e outras. Seria melhor que houvesse um 
aumento da “padronização” das transições até um período mais avançado do 
ciclo de vidas. Seria bom que os jovens ficassem mais tempo estudando, o 
que implicaria em retardar a saída da casa dos pais, o início do trabalho e o 
casamento.
Por outro lado, observamos um aumento ao longo dos anos na diversi-
dade de combinações de status (estado civil, estudo, trabalho e moradia pró-
pria) a partir dos 17 ou 18 anos. Esse aumento é ainda mais acentuado para 
as mulheres do que para os homens (ver gráfico 3). O aumento da heteroge-
neidade significa que os jovens não estão todos seguindo o mesmo caminho, 
ou seja, há diferentes formasde combinação de status. Há alguns que estu-
dam por mais tempo, continuam na casa dos pais e não casam; outros que 
se casam, continuam na casa dos pais e não trabalham; outros que param de 
estudar, trabalham e continuam na casa dos pais; e etc. Em outras palavras há 
um aumento no número de combinações entre os status. É interessante ima-
ginarmos alguns casos específicos. Por exemplo, passou a ser mais comum 
em algumas famílias de classe média que os filhos terminem a faculdade e 
comecem a trabalhar, mas permaneçam morando com seus pais e não se ca-
sem. Antigamente esse tipo de combinação não era tão comum, mas hoje 
há vários casos deste tipo. Há obviamente diversas outras situações, como 
por exemplo, indivíduos de classes mais baixas se casando e permanecendo 
morando com os pais. O que é importante do ponto de vista populacional é 
que há um aumento visível dos tipos de combinações de status e um espa-
lhamento das transições por um período mais longo do ciclo de vida. Esta 
tendência é positiva na medida em que representa uma extensão do período 
de experimentação com novos estilos de vida entre os jovens, mas também 
pode levar a apreensões na medida em que não há um padrão definido de 
transições. Essa expansão da heterogeneidade também pode ser vista como 
uma tendência de prolongamento do período do ciclo de vida definido como 
juventude uma vez que retarda uma série de transições que definem a entra-
da na vida adulta. Finalmente, é importante levar em conta que o aumento 
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da heterogeneidade é ainda mais acentuado para as mulheres, o que é uma 
consequência do aumento do acesso das mulheres ao mercado de trabalho 
e do prolongamento do período em que permanecem solteiras. Ambos são 
movimentos importantes e significativos relacionados a ampliação das pos-
sibilidades de escolha das mulheres na sociedade brasileira.
anexo ao capítulo 1:
taBEla 1. indicadorEs Econômicos, dEmográFicos E sociais para o Brasil
1970 2010
PIB per capita (US $, 2005) 4761 12100
Matrículas no ensino médio (%) 17 68
Matrículas no ensino superior (%) 5 16
População (1000s) 95684 190755
Taxa de crescimento (%) 2,7 1,4
Taxa total de fecundidade 5,4 2
Expectativa de vida ao nascer (anos) 64,4 73,48
% com 0-17 anos 52,7 37,7
% com 18-22 anos 9 10,2
% com 65+ anos 5,1 5,8
Razão de dependência infantil (0-17 1,11 0,7
anos de idade/ 18-64 anos de idade)
Indicadores sociais homens mulheres homens mulheres
Idade de escolaridade obrigatória 6 a 10 6 a 10 6 a 14 6 a 14
Idade legal para começar a trabalhar 14 14 14 14
% na escolar com 10-14 anos de idade 66,8 63,8 93,9 94,6
% na escolar com 15-19 anos de idade 38,3 34,8 65,5 64,9
% na escolar com 20-24 anos de idade 17,1 13,2 25,1 23,6
% na escolar com 25-29 anos de idade 6,7 4,7 12,2 10,2
Idade legal para casamento 18 18 18 18
 Idade media no primeiro casamento 25 22 28 26
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CAPÍTULO 2: 
DESIGUALDADES NAS TRANSIÇÕES PARA VIDA ADULTA
1 – introdução 
No Brasil, a passagem do milênio também foi um momento de virada de-
mográfica importante para a população jovem. Em 1996, a coorte de idade 
entre 12 e 30 anos contava com 60 milhões de pessoas, sendo responsável 
por um pouco mais de um terço da população (35%). Uma coorte mais nova 
entre 12 e 30 anos em 2008, que tinha entre 1 e 18 anos em 1996, contava 
com 58 milhões, o que também correspondia a cerca de um terço da popu-
lação (33%). Em termos relativos a população jovem fora maior em períodos 
anteriores. Em números absolutos, no entanto, nunca foi tão grande quanto 
durante as décadas de 1990 e 2000. O que é ainda mais impressionante é que, 
devido as taxas de fecundidade e mortalidade, a população de jovens nunca 
mais voltará a ser tão grande. Há uma tendência inexorável de envelhecimen-
to da população brasileira (IBGE: 2008). Essa situação é uma consequência do 
que alguns demógrafos chamam de “onda de jovens” que começou a crescer 
nas décadas de 1960 e 1970 (BERCOVICH: 1992; WAJNMAN: 1998). 
Essas duas enormes coortes de jovens começaram a entrar na vida adulta 
durante os anos 1980, 1990 e 2000; décadas marcadas por forças opostas. Por 
um lado, estagnação econômica e altos níveis de desigualdade de renda e, por 
outro lado, avanços nos direitos civis e benefícios tais como a expansão do 
sistema educacional, aumento do acesso ao sistema de saúde, maior regula-
mentação do mercado de trabalho e mais proteção social por parte do Estado. 
Estagnação econômica e desigualdades implicam em mais heterogeneidade 
e diferenças nos padrões de transição para vida adulta, ou seja, são forças que 
levam indivíduos com características socioeconômicas distintas a fazerem 
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transições para a vida adulta em momentos diferentes do ciclo de vida. Em 
contrapartida, a expansão da cidadania e dos benefícios sociais funcionam 
como um forte mecanismo de padronização, levando à uma homogeneiza-
ção dos padrões de transição entre diferentes grupos sociais, ou seja, diminui 
a diferença entre os padrões de transição para vida adulta de jovens com di-
ferentes origens socioeconômicos. O principal objetivo deste capítulo é loca-
lizar os mecanismos institucionais relacionados à família, ao sistema escolar 
e ao mercado de trabalho através dos quais a desigualdade e a expansão dos 
benefícios sociais contribuíram para a criação de diferentes padrões de tran-
sição para a vida adulta. As análises são baseadas em dados referentes à duas 
coorte de idade sucessivas: a primeira, nascida entre 1966 e 1984, represen-
tando jovens entrando no mercado de trabalho, casando e se tornado pais 
entre a metade dos anos 1980 e 1996; e a segunda nascida entre 1978 e 1996 
fazendo as transições para vida adulta entre meados dos anos 1990 e 2008. 
Este grande grupo de jovens, representado no presente capítulo por estas 
duas coortes de idade, tem sido objeto de preocupações políticas e acadêmi-
cas desde o fim da década de 1990 (BERQUÓ: 1998; SILVA: 2002; CANO: 2003; 
HASENBALG: 2003; BARROS: 2005; BERQUÓ: 2005; BRANDÃO: 2006). Em geral 
estes estudos abordam questões específicas e não procuram tratar da questão 
das transições para vida adulta1. Partindo de uma abordagem mais analítica 
procuro estudar a relação, o tempo e a estratificação nas transições marcadas 
pela entrada no mercado de trabalho, pela constituição do primeiro domicí-
lio autônomo (independente dos pais), pelo primeiro casamento e pelo nas-
cimento do primeiro filho (para mulheres apenas). Para tanto uso modelos es-
tatísticos para definir fatores correlacionados às transições no que denomino 
de esfera produtiva (trabalho e escolaridade) e esfera reprodutiva (domicílio, 
casamento e maternidade) da vida. Alguns trabalhos anteriores também ado-
taram uma perspectiva analítica para entender transições para o mercado de 
trabalho (CORSEUIL: 2001) e para o casamento e a maternidade (OLIVEIRA: 
2006). Minhas análises se diferenciam destes trabalhos na medida em que estu-
do conjuntamente as esferas produtiva e reprodutiva da vida dos jovens. Além 
disso, uso dois bancos de dados que contém informações sobre a família de 
origem dos jovens (as pesquisas usuais do IBGE não incluem essa informação 
pelo menos desde 1996), o que permite analisar de forma direta o efeito das 
condições socioeconômicas e culturais das famílias de origem nos padrões de 
transição para a vida adulta dos jovens. Parto da ideia de que essa abordagem 
1 Uma exceção é o estudo