Buscar

Trabalho Hermenêutica II

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Hermenêutica Jurídica e Aplicação do 
Direito 
 
 
Resumo do livro “Teoria dos Valores Jurídicos” do 
professor Glauco Barreira Magalhães Filho 
 
 
 
 
 
Camila Machado Lima 
Fernanda Amanda Leal 
Ingrid Carvalho 
Ivna K. Magalhães 
Mariana Estrela da Costa 
 
 
FORTALEZA/2013 
INTRODUÇÃO 
Ingrid Carvalho 
 
 A sociedade atual tem vivido uma imensa crise de valores, visto 
que não há mais a crença numa verdade absoluta e a moralidade tem entrado 
cada vez mais em decadência. Primeiramente, isso afeta as relações que os 
indivíduos travam entre si, e concomitantemente afeta o psicológico individual, 
pois faz com que a pessoa humana perca seu propósito de vida e o ânimo de 
lutar por ideais maiores. 
A família, enquanto núcleo básico de formação moral das pessoas, tem 
perdido sua importância e nem mais as igrejas conseguem resgatar o caráter 
dos indivíduos, o que as levam a tomar medidas desesperadas de persuasão 
para atrair mais adeptos. O Estado não funciona mais como proporcionador de 
segurança e condições adequadas de vida para seus cidadãos, antes busca 
um lugar no âmbito internacional, surgindo um imperialismo econômico e militar 
exercido pelas superpotências sobre os Estados em desenvolvimento. Nesse 
mundo impiedoso dominado pelo capitalismo e suas leis desumanas do 
mercado, as pessoas valem pelo que têm e não mais pelo que são, pelo que 
podem consumir, e não mais pelos valores que cultuam. 
 Diante disso, revela-se a necessidade de um resgate dos valores 
do ser humano, especialmente dos valores jurídicos, daquilo que deveria ser e 
não o que é, papel que é fundamentalmente da filosofia. Para auxiliar nessa 
tarefa, deve-se recorrer ao Direito Natural, que sempre esteve preenchendo as 
insuficiências do Direito Positivo, ainda que alguns valores do Direito Natural 
estejam positivados através dos princípios. Essa apologia ao Direito Natural 
justifica-se pela necessidade de haver um conteúdo axiológico nas normas, 
para que o Direito não seja apenas baseado na força e sim cumprido por amor 
ao valor do qual deriva o dever. Recorrendo ao mundo dos valores, podem-se 
reconstruir os parâmetros ideais, para que a realidade possa ser comparada e 
analisada de forma crítica. 
 
 
 
 
 PREMISSAS 
 
Para a realização do resgate dos valores, algumas premissas devem ser 
tomadas, como: (1) retorno a velhas questões metafísicas, adaptando os 
valores jurídicos imutáveis às necessidades concretas de cada sociedade 
específica; (2) a busca da validade ética nos vários segmentos do Direito, por 
exemplo, com o respeito dos direitos e garantias individuais no Direito 
Constitucional, com o princípio do respeito dos pactos e das promessas no 
Direito das Obrigações; (3) reação aos postulados da modernidade, como o 
agnosticismo ético, a relativização e a subjetivação dos valores por uma 
sociedade pluralista e cética; (4) considerar o Direito pelos prismas científico, 
da filosofia do Direito e da filosofia religiosa do Direito; (5) a aceitação da 
realidade transcendente e a busca pela essência mais última e absoluta das 
coisas. 
 
PARTE I - PRELIMINARES SOCIOLÓGICOS E ANTROPOLÓGICOS 
 
CAPÍTULO I - A CRISE DO MUNDO OCIDENTAL 
 
 Durante o século XX, com as ideologias totalitárias e as duas 
guerras mundiais, foram presenciados os maiores crimes contra a humanidade. 
Os regimes totalitários, especialmente o nazismo, se apoiavam no pensamento 
de Nietzche, que criticava intensamente a existência de Deus e toda a moral 
cristã, além de fazer uma apologia a "vontade de poder" e ao domínio de 
terceiros mais "fracos". O cristianismo, até então, tinha servido como freio ao 
espírito dos antigos germanos, de lutar não importando a causa, apenas lutar, 
freio esse, quebrado pelos filósofos alemães mais influentes. 
A desvalorização do cristianismo foi confirmada na prática quando Hitler 
substituiu os símbolos, rituais e feriados cristãos por características próprias: 
festivais pagãos, símbolo da suástica, saudação 'Heil!", dentre outras medidas. 
Outra confirmação se deu quando o bispo Boldeschwing, eleito pelos 
luteranos, foi levado a renunciar seu cargo pela pressão dos que preferiam o 
germanismo ao cristianismo, e então Ludwig Müller foi eleito o bispo do Reich. 
 Toda essa quebra da moral cristã e apologia à guerra geraram 
inúmeras consequências catastróficas para as pessoas, tanto no aspecto da 
grande quantidade de mortes, quanto nas repercussões psicológicas que isso 
trouxe aos alemães. Carl Gustav Jung, um dos mais famosos psicólogos 
analíticos, observou em seus pacientes a presença de um determinado 
arquétipo, o do antigo deus alemão Wotan, deus da tormenta, da embriaguez e 
do delírio. "Arquétipos" podem ser definidos como imagens simbólicas que 
habitam o inconsciente coletivo, isto é, imagens universais que existiram desde 
os tempos mais remotos. 
A presença dessas forças pagãs no inconsciente das pessoas foi reflexo 
direto da dissolução da imagem medieval do mundo, e um "endeusamento" do 
homem, que transferiu todo o entendimento psíquico de Deus para si próprio. 
Isso trouxe consequências desastrosas que não se reduziram somente à 
Alemanha, propagando-se pelas nações ocidentais. Toda essa catástrofe pode 
ser entendida quando se chega à conclusão de que perdendo a ideia de Deus, 
perdemos a nossa humanidade. 
 Em síntese, o discurso filosófico de Nietzche, que negava os 
valores absolutos, juntamente com o de Heidegger, que defendia que não 
havia uma verdade objetiva, fizeram com que o ideal da verdade e o mundo 
ético fossem superados pelo nível estético. Mas sabe-se que o correto para o 
bom funcionamento das coisas é que o nível estético seja inferior ao nível ético, 
que por sua vez, deve ser superado pelo nível religioso. 
 Alguns pensadores seguidores de Heidegger explicam a adesão 
dele ao nazismo pelo resquício de humanismo encontrado nele, segundo uma 
ótica de que os humanos autênticos seriam os arianos, e o restante seriam 
humanos não autênticos, o que justificaria a exterminação do não homem pelo 
homem. Porém, o humanismo nunca se utilizou de critérios biológicos ou 
étnicos para diferenciar os humanos e praticar o racismo, antes defendia a 
universalidade e igualdade dos homens pelo seu aspecto imaterial e 
transcendente. 
 Ao pensamento de Nietzche, Heidegger e dos existencialistas 
europeus somaram-se as ideologias anti-humanistas que influenciaram o 
nazismo e eis o motivo da crise do mundo ocidental: um encaminhamento para 
o “nada”. Isto é, um nada de rebelião, violência, de hostilidade a Deus e aos 
seres humanos, nas palavras de Dietrich Bonhoeffer. 
Essa crise é de cunho axiológico e moral, pois com a quebra dos valores 
absolutos e ideais houve o surgimento de uma sociedade cética quanto à 
possibilidade de uma verdade objetiva e uma realidade transcendente. 
 A verdade é que todo o caos trazido pelo século XX não pode 
apenas ser superado com o esquecimento do que aconteceu, mas é 
necessário retomar as forças morais e espirituais que ainda se encontram 
escassas, para que finalmente o mundo tenha paz. Uma peculiaridade 
observada por Fulton J. Sheen é que durante a 2ª Guerra Mundial, todos 
sabiam contra o que lutavam, mas não sabiam pelo que combatiam. Isso 
ressalta que a guerra não foi um conflito causado pela política ou economia, 
mas pelas finalidades destas que foram deturpadas, que deveriam ser voltadas 
para o bem comum e para a vida. É solução começa com a tentativa de que se 
volte a ter um vocabulário moral comum por meio dos princípios universais, 
pois na diversidade de ideologias que encontramos hoje, nãoé possível 
dialogar. 
 Uma das mais evidentes anomalias do atual momento histórico é 
o ceticismo em relação ao absoluto, como já foi citado anteriormente. O 
ceticismo remonta aos tempos da Grécia com Heráclito (500 a.C), passando 
por Crátilo e pelo relativismo científico proposto por Albert Einstein. Porém, 
esses mesmos pensadores chegaram à conclusão de que não pode existir o 
relativo sem que se exista o absoluto, para servir como parâmetro, e para 
muitos o Absoluto seria justamente a ideia de Deus. 
 Alguns preconceitos em relação ao universal surgem porque 
muitos valores particulares foram universalizados em ideologias e utilizados 
para legitimar formas de dominação. No entanto, a falta da crença numa 
verdade e justiça absolutas pré-definidas é justamente o que dá espaço para 
que se declare verdadeiro e justo aquilo que é conveniente no momento. 
 
 
 
 
 
A REJEIÇÃO DO PRINCIPIO LÓGICO DA NÃO CONTRADIÇÃO 
Fernanda Amanda Leal 
 
O princípio lógico da não contradição estabelece que uma coisa não 
pode ser ela e o que a contradita ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, 
sendo impossível que algo, sob idêntico aspecto esteja inserido e não inserido, 
ao mesmo tempo, na definição de um objeto. Percebe-se uma negação deste 
referido princípio na população cética do mundo contemporâneo uma negação 
da possibilidade de um conhecimento objetivo das coisas. Para rejeitar-se esse 
princípio, é necessário afirmar que ele é incompatível com as premissas por 
eles defendidas, apelando para o próprio princípio da não contradição, 
acabando por confirmar a sua validade. 
Porém, o que se pretende não é uma total negação da lógica dialética. O 
que se pretende é que um jogo dialético de contrários precisa ser conciliado 
com o princípio da não contradição através da reduplicação. A reduplicação 
consiste numa diferenciação dos aspectos de uma coisa da qual se predicam 
qualidades diversas. Por este caminho, desaparecem as incompatibilidades. 
A reduplicação é considerada ocultamente composta (classificação das 
proposições na lógica) por conter uma ou mais preposições escondidas. O 
sujeito da proposição recebe primeiro uma determinação particular para, em 
seguida, receber o predicado. Um exemplo é a afirmação de que Deus é um 
em três. No caso, Deus é uno em essência ou substância, enquanto é trino em 
número de pessoas ou subsistências. De Deus veio para o mundo tanto o 
princípio do uno como o do múltiplo, os quais são conciliados num plano 
superior mediante uma reduplicação (diferenciação dos aspectos) que torna a 
conclusão final mais complexa, porém, coerente. 
A lógica dialética deve, pelo jogo de contrastes, mostrar a beleza da 
verdade, mas é a lógica analítica com o princípio da não contradição que 
mostra a verdade na beleza. 
A não admissão do princípio da não contradição no pensamento humano 
faria com que tudo ficasse sob o signo da ausência de sentido. O pluralismo de 
ideias fomentadas pela globalização e informatização não deve intimidar a 
busca pela verdade. A existência de múltiplas opiniões não deve levar ao 
ceticismo, pois o confronto lúcido de argumentações excluirá aquelas que são 
incongruentes. 
Na visão existencialista de Heidegger, a verdade está no modo como os 
fenômenos se desvelam a nós, sendo, portanto, variável segundo a percepção 
subjetiva de cada um. Nessa perspectiva, a tentativa de harmonização da vida 
social através de padrões comuns seria u problema insolúvel. 
Os marxistas dizem que as ideias pertencem à superestrutura da 
sociedade, sendo determinadas pelo fator econômico. 
O problema é que essa compreensão teria que valer também para a 
ditadura do proletariado, não existindo a verdade objetiva. Toda ideologia seria 
parcial e interessada. Todo o trabalho para desmascarar as ideologias acabaria 
caindo em outra ideologia. Alguns têm tentado escapar do ceticismo 
redefinindo o conceito de verdade. No lugar de entenderem a verdade de uma 
proposição pela sua correspondência com a realidade, afirmam que o critério 
da verdade é o consenso. 
É melhor afirmar que há dois tipos de objetividade no conhecimento. O 
primeiro é o da objetividade pura, existente somente na intuição originária do 
objeto. O segundo tipo de objetividade é a científica. O que é inadmissível é a 
afirmação de que o mero consenso da comunidade de argumentação 
determine a verdade originária. Ninguém pretende construir uma verdade 
mediante a adesão dos outros aos seus argumentos, antes, aquele que 
argumenta, já pressupõe como verdade a proposição que pretende defender. A 
comunidade da argumentação é necessária para sua consolidação e não para 
constituição. 
 
O PROBLEMA DO DISCURSO ÉTICO 
 
Grande parte dos pensadores da atualidade reduzem a ética à opinião 
sentimental e irracional de cada pessoa. A linguagem normativa, entretanto, 
não é meramente expressiva e subjetiva, mas, antes, é objetiva e de validade 
transpessoal ou intersubjetiva. A norma que prescreve que devo me comportar 
de um modo A está afirmando que a conduta A é boa, justa ou lícita. 
 É claramente evidente que, se forem anulados os padrões absolutos e 
negada a existência de um critério supremo para definir o conhecimento do 
bem e mal, nossas ações se resumirão na manipulação de fatos e pessoas 
para satisfação de nosso próprio interesse. A falta de reconhecimento de Deus 
como o Sumo Bem e Pessoa infinita também tem contribuído muito para a 
confusão moral de nosso tempo. 
A razão de termos o conceito de algumas coisas como certas e outras 
como erradas é porque há um Deus. A razão de pensarmos nos atos como 
justos ou injustos é porque Deus é justo. Supondo que duas pessoas 
discutissem a respeito do tamanho de um objeto, não se iria fazer uma votação 
para saber quem estava certo, se iria medir o objeto e chegariam a uma 
conclusão. Verdade significa “fidelidade a um original ou padrão”. A instância 
imediata de avaliação de uma atitude seria a consciência, mas, em última 
instância, seria Deus. 
O cientificismo e o existencialismo produziram uma sociedade viciada no 
individualismo e no consumismo. E. L. Woodward disse acertadamente: “não 
faz sentido falar em direito humanos numa sociedade materialista”. A 
sociedade ocidental perdeu os seus modelos, a celebridade é prestigiada em 
detrimento do herói. Os recentes desequilíbrios da humanidade são resultados 
da falta de modelos pessoais. A maior necessidade atualmente não é de 
líderes políticos e sim de líderes morais. 
O mundo moderno está marcado pela superficialidade. Falta 
profundidade no pensamento filosófico e as perguntas mais importantes acerca 
da existência humana são ignoradas ou consideradas desprovidas de sentido. 
Diante de toda essa perspectiva marcada pelo ceticismo, subjetivismo, 
individualismo, relativismo, onde os valores como a Verdade, a Bondade e a 
Justiça perdem seu valor, surgem teóricos comprometidos a mudar esse 
cenário e a tentativa destes de despertar os valores adormecidos na 
consciência. 
 
 
CAPÍTULO II - A POSTURA GNOSIOLÓGICA A SER TOMADA DIANTE 
DO MUNDO DOS VALORES – O PARADIGMA DA CRIANÇA 
 
De acordo com o ensino cristão, o pecado original corrompeu a imagem 
divina no homem, ele nunca faz todo o bem exigido. A medida em que cresce, 
o homem se insere no mundo secularizado, distancia-se da imagem divina. 
Isso o faz perder, gradualmente, a sensibilidade necessária à apreensão dos 
valores. 
Como a criança tem uma maior proximidade com a origem, tende a ter 
uma consciência bem mais sensível do que o de um adulto e assim 
permanecerá quanto mais moralmente for a sua educação. As obrigações, 
então, deveriam seraprendidas antes dos direito, pois o adequado 
conhecimento dos deveres levaria ao uso responsável dos direitos. Há uma 
grande diferença entre adestrar (reflexos condicionados) e educar (caminhar 
junto). 
Quando se é criança, existe o costume de perguntar repetidas vezes 
sobre o mesmo assunto. Querem saber se as causas sempre se repetem e se 
está todo mundo ciente disso. É interessante observar que, apesar das 
explicações dadas, elas continuem com suas especulações anteriores acerca 
dos mesmos. Essa angústia infantil, como explica Kierkegaard, revela a 
profundidade do espírito das crianças. 
Os filósofos da pós-modernidade, ao contrário das crianças, não 
perguntam pelas causas finais e objetivos. Falta o amor pela verdade. Esses 
pensadores rejeitam a visão dos filósofos antigos por a acharem antiquada, 
como se o calendário fosse o critério da verdade e, o resultado disso tudo, é 
um distanciamento cada vez maior do objetivo. 
A modernidade se define como a época da superação, da novidade que 
envelhece e é, então, substituída por uma novidade, numa rapidez que 
desmotiva qualquer criatividade. Se a filosofia de alguém vira moda, o próximo 
filósofo terá que, para criar fama, superar o pensamento daquele, ignorando, 
porém, os fundamentos filosóficos. Segundo C.S. Lewis, isso não significa que 
não deva haver uma evolução, mas sim, que as mudanças devem manter-se 
fiéis aos primeiros princípios. 
Os mitos e os sonhos infantis expressam uma aspiração da natureza 
humana. Se sentimos fome, deve haver comida; se temos impulsos sexuais, 
deve haver o sexo oposto quando que com ele não nos relacionemos. Ao 
seguir essa visão das crianças em ver o mundo, que poderá alcançar o 
verdadeiro filosofar, a busca pela verdade. 
 
CAPÍTULO III 
O HOMEM COMO AGENTE ÉTICO, LIVRE E RESPONSÁVEL 
Camila Machado Lima 
 
O homem tem o desejo de transcender o tempo e olhar de cima o seu 
“eu temporal”, saindo de si mesmo, sendo um observador, mas é sempre 
vencido pelo tempo e pela própria finitude humana. Como ensinou Carnelutti, o 
homem consegue julgar-se a si mesmo, mas esse ‘ele mesmo’ é apenas um 
ato, o seu espírito enquanto se incorporou na matéria. Conforme o pensamento 
de Hannah Arendt, somente Deus poderia nos conhecer a partir da eternidade, 
da atemporalidade, determinando o que realmente somos. 
O homem também é limitado quanto a sua liberdade, pois somente Deus 
é livre. Primeiramente, porque o homem é temporal e, também, porque suas 
ações, em razão do tempo, são irreversíveis. Do ponto de vista ético, a 
liberdade humana está atrelada ao fato da escolha consumada pelo homem (o 
ser) poder ir de encontro ao preceito (o dever ser). Dessa forma, a liberdade 
pode ser demonstrada pela responsabilidade moral. Seguindo o raciocínio 
Kantiano, a imutabilidade dos princípios éticos comprova a liberdade humana. 
Pode-se concluir, então, que nunca houve um juízo de valor drasticamente 
novo na história da humanidade. Valores, estes, que não podem ser analisados 
pelo método sociológico, vinculado ao mundo do ser, mas pelo método 
filosófico, em que se pode alcançar a lei moral. Já a apreensão de valores, 
requer a existência da consciência individual, com o desenvolvimento da 
interioridade individual de cada um. Alguns podem afirmar que o homem está 
limitado em suas possibilidades. Entretanto, essa ‘limitação’, ou destino, que o 
incentiva a usar a liberdade de maneira a maximizar suas potencialidades 
dentro das circunstâncias em que estão. 
Uma decisão humana consumada pode ser explicada pela causalidade 
natural, mas a escolha, que vai levar a essa decisão, transcende a citada 
causalidade, nela revelando-se a autonomia humana, elemento com o qual se 
eleva do corpo à supra-natureza. Há 2 tipo de fenômenos: os ligados à 
consciência, ao espírito, e os ligados à sensação, à matéria. Os materialistas 
reduzem todos os fenômenos aos físicos, mas a existência da liberdade é 
inconciliável a essa idéia, pois o homem é corpo e espírito. A percepção das 
coisas envolve os 5 sentidos, mas percebe-se o corpo, não a alma. Esta não 
deve ser confundida com aquele, mas apresentam uma interação entre si. 
Aquele que faz o bem, devido à sua liberdade, sempre pode fazer o mal, 
mas aquele que faz o mal vai perdendo sua capacidade de fazer o bem, 
perdendo sua virtude de realizar o bem. Segundo Agostinho e Plotino, tudo que 
existe, na medida em que existe em Deus, é bom. Dessa forma, a liberdade 
humana é boa, pois reflete uma característica divina, mas o seu uso negativo 
resulta o seu próprio desfazimento. 
O homem além de fazer perguntas, é uma pergunta. A existência 
humana é em sim mesma uma grande interrogação e é essa condição humana 
que assegura a liberdade na procura da resposta. O existencialismo ateu 
defendido por Sartre afirmava que o próprio homem “inventaria” o sentido da 
sua existência. Já para o pensamento teísta, Deus é aquele de quem procede 
o desafio lançado à interrogação existencial e a origem da liberdade, 
considerada como a procura de sentido para a existência humana. O homem, 
interrogando-se sobre a sua própria identidade, diferencia-se de si mesmo. A 
consciência moral é o homem enquanto ser afetado pela interrogabilidade 
radical. 
Na Antiguidade e na Idade Média, a consciência era tida como um 
resultado da participação da razão humana na razão divina ou, até mesmo, 
como a voz divina o coração humano. A partir do século XVIII, a consciência 
passa a ser uma espécie de autonomia absoluta da vontade individual. A 
liberdade de consciência era confundida com a liberdade de opinião ou 
representada como um capricho individual de cada pessoa. Assim, a 
consciência tinha direito, mas não deveres, sendo que, na verdade, ela tem 
direito porque tem deveres. Ela constitui-se na intuição que se converte em 
juízo prático e faz com que se julgue o que é bom ou ruim. A consciência 
religiosa pressupõe a consciência moral, pois em Santa Presença, deve-se ter 
vergonha do ato errado praticado e não da punição que dele acarretará. 
Resumidamente, o homem, intuitivamente, apreende valores e os explicita a 
partir da razão. Essa subjetividade é chamada de consciência. 
A consciência é um órgão sancionador. Quando as suas determinações 
são transgredidas, surge a dor íntima, a culpa. Algumas pessoas parecem não 
senti-las, mas isso não quer dizer que para elas o mal seja o bem nem que elas 
não tenham consciência a ser despertada. Significa, na verdade, que elas já 
transgrediram tantos padrões morais que as suas consciências estão 
cauterizadas, ou seja, as primeiras transgressões geram dor, mas esta vai 
diminuindo. Para racionalizar os atos ‘errados’, a pessoa começa a inventar 
desculpas e justificativas para os mesmos. É importante ressaltar que uma 
educação pervertida, sem valores morais, poderá resultar a destruição de 
caráter. Uma geração pervertida degenera a próxima geração, causando uma 
célere decadência moral. Deve-se ressaltar, também, que a pessoa que deixa 
de sentir o peso das suas transgressões recebe a pior punição possível: estar 
afundado na imoralidade e, ainda por cima, tornar-se menos humano. 
A consciência é fundamento subjetivo e humano da eticidade, sendo 
fonte imanente e imediata da moral, e imanente e mediata do Direito. Este 
encontra a sua origem na consciência. Dessa forma, não se pode dizer que o 
Direito se ocupa da mera conduta externa e a Moral das intenções internas. A 
obrigatoriedade de uma norma vem do seu conteúdo justo. A força que ela 
possui deve vir em razão da consciência humana aderir ao valor contido nela e 
não por coação ou ameaça. “O preceito jurídico é um dever ser e não um ter 
que ser”.A vida regida pela consciência pode dar a impressão de ser limitada de 
liberdade, mas ocorre exatamente o oposto. Assim como é inverdade a 
afirmação de que a ética do dever deve ser rejeitada por ser contrária aos 
desejos que dão auto-expressão ao ser humano. A disciplina dos impulsos 
humanos de natureza inferior, pela razão, mostra a dimensão mais elevada do 
homem. Por isso, deve-se negar o Neoliberalismo que deixa o mercado ser 
regulado pelos instintos e pelo egoísmo. 
A liberdade do homem faz dele responsável pelas suas ações e a 
violação de preceitos o torna sujeito a sanções. O homem ser eticamente 
responsável é um dos fatores que o torna digno. Dessa forma, é inaceitável o 
pensamento Freudiano que diz que os desvios morais de uma pessoa são 
alógenos. Excluindo os casos de total insanidade, os fatores genéticos e o 
ambiente social podem mitigar a cultura ou aumentar a virtude, mas não excluir 
do homem a sua responsabilidade. Em uma escolha moral, estão envolvidas o 
ato da escolha e a matéria-prima psicológica, que pode ser normal ou anormal. 
A psicanálise deve cuidar de remover os sentimentos anormais, dando à 
pessoa melhor matéria-prima para suas escolhas. A escolha é o que se vai 
fazer com a matéria-prima. 
Quando se admite que o homem é responsável pelos seus atos, 
reconhece-se a sua liberdade, espiritualidade e transcendência. A idéia do 
Julgamento Final não atenta contra a dignidade humana, pois somente os 
homens, por terem sido criados à imagem e semelhança de Deus, serão 
julgados. Quando um assassino é preso, sua pena não tira a sua dignidade, 
mas mostra que ele é um agente moral livre e responsável. O comportamento 
reprovável o degrada, mas a pena devolve o seu valor. Além do mais, a pena 
objetiva levar o infrator a repensar as suas ações. O crime é trágico porque o 
ser humano é capaz de potencialidades sublimes. O ser humano possui 
grandeza na sua natureza. 
A pena extrema ou desproporcional em relação ao delito cometido, 
entretanto, atenta contra o valor humano. Assim como é inadmissível a pena de 
morte, principalmente, sobre o pressuposto que existem criminosos 
irrecuperáveis. Para julgar tal suposição, os juízes teriam que ser deuses. A 
prisão perpétua se mostra igualmente intolerável. Como afirmou Carnelutti: “a 
porta da cadeia não se abre a não ser para deixar passar o cadáver”. 
Analisando-se também o problema social da liberação do preso após cumprir a 
pena, percebe-se que ele, de certa forma, condenado à uma pena perpétua: a 
de ser um eterno criminoso. Ele é preso ao passado, ao crime que cometera, 
mesmo já tendo pagado pelo seu erro. A redenção de um criminoso fica a 
cargo de toda a sociedade e, para se alcançar tal objetivo, é preciso amor. O 
Estado impõe respeito, mas não infunde o amor. Ele dever vir de outra fonte. O 
castigo não é incompatível com o amor, assim como o amor pelo condenado 
não exclui a severidade da pena. 
 
 
O PROBLEMA DO ABORTO 
 Ivna K. Magalhães 
O aborto, por ter como vítima um ser que além de indefeso encontra-se 
numa situação de fragilidade, torna-se ainda pior do que a pena capital, visto 
que, se não nos é dado o direito sobre a vida de alguém que cometeu um 
crime, mais inimaginável ainda é que se possa tirar a vida de quem ainda nem 
teve contato algum co o mundo exterior. Porém, o Código Penal, em seu art 
128, permite a prática do aborto em duas situações: se não houver outro meio 
de salvar a gestante (Aborto necessário) ou se a gravidez é resultante de 
estupro e o aborto é precedido do consentimento da gestante. (Aborto no caso 
de gravidez resultante de estupro). 
O primeiro caso é, notoriamente, do ponto de vista jurídico, uma situação 
de estado de necessidade. Ora, uma das vidas necessariamente irá se 
interromper. Não se pode impor à gestante que pretira a sua vida à do seu 
filho, por mais que, do ponto de vista moral, seja o esperado, já que, por vezes 
mães doaram suas vidas para salvar filhos já nascidos. O fato da criança em 
questão ainda não se encontrar fora do ventre materno, não a torna menos 
humana, nem a sua morte menos real. 
Por se tratar de uma situação de estado de necessidade, nem a 
gestante nem o médico serão punidos, o que não muda o fato, de segundo o 
ponto de vista moral, ser um ato injusto, e de não afastar a culpa, mas sim a 
punibilidade. Segundo Dietrich Bonhoeffer, essa rejeição tão intensa ao aborto, 
vem do pensamento de que a morte da mãe, nesse caso, seria uma morte 
natural, enquanto que a morte da criança seria proveniente de uma 
arbitrariedade. A vida da mãe está nas mãos de Deus (ainda que haja uma 
possibilidade remota, ela pode vir a sobreviver), enquanto que a vida da 
criança é ceifada, não havendo para esta, possibilidades. 
Uma vida não vale mais do que a outra, portanto, a resolução que o 
legislador encontrou para essa situação foi a possibilidade de a gestante 
cometer o aborto quando for configurado o estado de necessidade. 
 A outra situação na qual se permite o aborto no ordenamento jurídico 
brasileiro é no caso de a criança ter sido concebida em um estupro. No caso 
anterior, os dois bens juridicamente protegidos são equiparados, porque os 
bens em questão são vidas. Já nesse caso, os bens em questão são a vida da 
criança e a honra da mãe. É fácil perceber que a vida tem uma importância 
muito maior que a honra de alguém. Além do mais, o direito à vida é inviolável, 
assegurado em nossa constituição, o que tornaria, portanto, inconstitucional 
leis que regulamentassem o aborto. 
 
 
PARTE II 
FUNDAMENTOS PARA UMA AXIOLOGIA IDEALISTA E 
TRANSCENDENTE 
 
CAPÍTULO I - ELEMENTOS PARA UMA AXIOLOGIA JURÍDICA 
 
Há uma diferenciação básica no mundo como conhecemos, uma divisão: 
o mundo dado e o mundo construído. O mundo dado refere-se à natureza, a 
tudo aquilo que não depende diretamente da ação humana para passar a 
existir. Já o mundo construído é o dito mundo da cultura, o qual é fruto da ação 
humana, que depende diretamente do homem para existir. A existência do 
homem é autoconstrutiva, visto que por ser consciente, conhece e domina as 
leis da natureza, assim, não segue o programa natural que existe em todos os 
seres vivos, como uma planta. 
Entre os objetos culturais do mundo construído, está o Direito, visando 
atingir um fim, fim esse que deve estar ligado a um valor metafisicamente 
desejado, qual seja, a justiça. Portanto, o jurista não pode ater-se apenas aos 
conhecimentos técnicos, necessitando também pensar o direito sempre ligado 
a valores, a fundamentos éticos. 
Ao contrário do que muitos acreditam os valores não são mutáveis de 
um momento histórico pra outro, de uma sociedade para outra. Eles possuem 
uma existência objetiva em um mundo ideal e transcendem o tempo. Nota-se 
isso ao perceber que em situações históricas distintas, os critérios de valoração 
dos fatos pode ocorrer de modo bem similar. Mas, inúmeras vezes o oposto 
também se dá. Isto ocorre devido à complexidade da realização histórica dos 
valores, já que o nosso conhecimento dos fatos é relativo e pela dificuldade de 
dimensioná-los axiologicamente. A justiça, como um valor, é de natureza 
imutável. Porém, precisa-se de uma compreensão correta dos fatos para 
realizar-se na sociedade. Uma compreensão errada dos fatos implica numa 
aplicação errada dos valores. Como nos casos dos países que adotam o 
princípio de que todos são iguais, porém tratam a mulher como inferior ao 
homem. O valor continua imutável, mas a sua compreensão e aplicação, nesse 
caso, é que é errônea e deturpada. 
O desdobramento dos valores se dá em umdever ser ideal, que se 
adapta á realidade por meio de um dever ser normativo. Explicitando melhor, 
no Direito, o valor é a justiça, que se desdobra no direito natural, que seria o 
dever ser ideal, que é ajustado á realidade por meio do Direito positivo, este 
sendo o dever ser normativo. O dever ser ideal passa a ser normativo quando o 
conteúdo daquele passa a ser considerado e possível de realização. Para 
esclarecer, podemos usar o seguinte exemplo: as proposições ‘não deve existir 
mortes de um homem pela mão de outro’ e ‘não matar’ são exemplos, 
respectivamente dois deveres-seres. Essa lógica dever ser ideal – deve ser 
normativo, proposto por Scheler, pode ser encontrada no nosso ordenamento, 
de forma que o dever ser ideal seriam as normas principiológicas que garantem 
os direitos e garantias fundamentais, enquanto que o dever ser normativo 
seriam as normas regras que legislam sobre esses direitos e garantias 
fundamentais.A lei moral, portanto, é um meio para atingir um fim. Não pode 
ser identificada como um fim em si mesmo, pois é uma idéia de razão, é um 
caminho proposto para a realização de um fim, não podendo assim ser 
considerada o bem supremo. 
Não se pode conceber os valores nem exclusivamente no mundo 
ontológico nem no mundo axiológico, pois ao ter-se Deus como o Sumo Bem, 
no qual todos os outros valores são baseados, estes valores são e devem ser. 
 Os valores interferem na sociedade de modo que o ideal moral 
demonstra o tipo de sociedade que se deseja. A sociedade se adapta aos 
valores (já que estes são imutáveis), por meio da mutabilidade das normas, por 
isso há a necessidade da mutabilidade do Direito. As normas mudam devido à 
forma de organização social de determinada sociedade, e não devido aos 
valores. Interessante notar que os valores apesar de estarem na nossa 
interioridade existem fora de nós, independentemente de nós. O método para 
conhecê-los, difere dos métodos discursivos, como a indução e a dedução, 
sendo o método utilizado o método intuitivo, que permite conhecer sem a 
necessidade de uma sucessão de fases. 
O ser humano tem dimensões imateriais, como a alma. Teorias mais 
modernas já defendem a existência do mundo não só baseada em matéria e 
energia, mas também em informação. Um exemplo disso seria o gene, que 
seria um pacote de informações. Assim, a molécula de DNA seria o meio, e 
não a mensagem. A mensagem e o meio são distintos, exemplo disso é o livro: 
a mensagem, a informação contida numa boa obra independe do papel na qual 
é impresso, e da tinta que é usada. Os meios de exprimir essa dimensão 
imaterial do ser humano, a alma, é a mesma utilizada para expressar emoções, 
visto que a natureza não criou mecanismos (meios) diferenciados para a 
expressão dessa nossa imaterialidade. 
 
 
CAPÍTULO II 
O JUÍZO JURÍDICO DE VALOR E SUA APLICAÇÃO 
 
A norma une o elemento temporal (fato) com o elemento ideal (valor), 
desse modo acaba por ser um instrumento de coesão do imutável ao mutável. 
O Direito Natural tem princípios, os quais são imutáveis, mas as normas do 
Direito Positivo são passíveis de mudança, pois não são deduzidas do Direito 
Natural de forma lógica-demonstrativa, mas são adaptações desses princípios 
às necessidades das sociedades. 
A norma não consegue abarcar todos os fatos particulares, sendo, em 
alguns casos específicos, injusta. Isso ocorre porque a norma refere-se ao 
caso abstrato, que diverge do caso concreto, por este ter peculiaridades. Dessa 
forma, há a justiça do caso abstrato e a do caso concreto, também conhecida 
como equidade. Daí a inviabilidade de um código que se interprete apenas por 
meio da interpretação literal, um código sem lacunas. Evidentemente que um 
código com essas características acabaria se tornando injusto. 
O juiz, portanto, tem importância na busca da justiça como valor, já que 
é comum, através da jurisprudência, algumas regras de conduta moral 
passarem ao direito positivo. O problema central dessa figura jurídica não é 
valorar um fato, mas, saber o que realmente aconteceu, posicionar-se diante 
de algo que ele não viu, limitando-se a conhecer o caso pelas provas que lhe 
são apresentadas. Portanto, é necessário ao juiz características como o 
conhecimento profundo da natureza humana e a intuição aguçada. Por vezes, 
pensa-se que o juiz precisa adotar uma posição imparcial, distanciando-se das 
partes, de modo que acaba-se caindo no erro de querer conhecer o homem 
“cientificamente”, distanciando-se dele. Seria mais fácil compreender o homem 
lembrando que também o somos. Desse modo o juiz terá sempre como guia 
principal a sua consciência, o seu discernimento e seus conceitos sobre o que 
é bom e o que é mau. 
 
 
CAPÍTULO III 
Mariana Estrela da Costa 
 
A ontologia é a parte da filosofia que estuda o ser. O ser é o que permite 
que as coisas sejam definidas, entretanto, ele mesmo não pode ser definido. 
Não significa que ele não tenha significado, sentido, apenas que como é a 
partir do ser que definimos tudo, ele não pode se “autodefinir”. 
O ser como absoluto, como perfeito, é Deus. Assim, quanto mais os 
seres se aproximam da perfeição, maior sua participação no ser, mais próximo 
de Deus. Nesse sentido, o ser também passa a ser uma medida de perfeição. 
Segundo São Tomás de Aquino: “ Em todas as coisas ordenadas 
verifica-se, em geral, que aquilo que é primeiro e perfeitíssimo em determinada 
ordem é causa das coisas restantes e existentes nessa ordem”. Como não há 
nenhum gênero de coisas existentes acima do ser, determinando mais uma 
razão pelo qual ele não pode ser definido, e sendo o ser absoluto e perfeito, 
Deus, conclui-se que Deus é “causa das coisas restantes e existentes”. Desse 
modo, é feito a ligação entre Deus e todas as outras coisas existentes no 
universo. Ele como Ser Maior e todo o resto como seres a procura da 
perfeição, gêneros abaixo. 
O homem criou o Direito Positivo é, dessa forma, a sua causa, assim 
como Deus é a causa do homem. Dessa forma, o Direito Positivo participa da 
dimensão espiritual do homem. O Direito Positivo prova, então, que o homem é 
capaz de uma natureza ética e procura sempre uma convivência harmoniosa e 
pacífica, pois estes são os valores que o próprio Direito procura promover. 
Como tudo que é criado pelo homem tem um fim, no caso do Direito, o fim 
seria a Justiça. 
Carlos Cossio conceitua Direito como “conduta em interferência 
intersubjetiva”. Ou seja, um conduta apreciada em interferência em mais de um 
sujeito, condutas que afetam a vida de outras pessoas. Ainda citando condutas, 
a ética seria uma conduta valorada, podendo ser divida em duas espécies: o 
Direito e a Moral. O Direito seria então uma conduta ética, ou seja, valorada, 
que causa interferência em terceiros. O Direito subjetivo é “o poder que a 
ordem jurídica confere a alguém de agir e de exigir de outrem determinado 
comportamento”1. Assim, o direito de um é a obrigação de outro, demonstrando 
o caráter de “intersubjetivo” do Direito. O Direito diferencia-se da Moral pois 
esta é unilateral, não afeta diretamente a vida de terceiros. A Moral é uma 
conduta valorada em interferência subjetiva – e não intersubjetiva. Uma 
conduta é imoral por si mesma, esteja ela influenciando a vida de outrem ou 
não. 
Seguindo o conceito de Carlos Cossio sobre Direito, o Direito Natural 
seria então um “conduta em interferência intersubjetiva” que é manifestado 
através dos princípios. Sendo o Direito Positivo o ordenamento jurídico em 
vigor, as normas postas, poder-se-ia pensar que ambos são contrários, porém, 
um complementa o outro. Enquanto o Direito Positivo determina as condutas 
lícitas e ilícitas, o DireitoNatural procura determinar as condutas como justas 
ou injustas. Assim, o Direito Natural serve como um molde, como inspiração 
para o Direito Positivo. 
 
 
CAPÍTULO IV 
 
Valores são tudo que contribuem para a perfeição, para a participação 
máxima no Ser e, como já foi dito, quanto mais próximo do Ser, mais próximo 
de Deus. Há duas perspectivas de pensamento em relação aos valores, a de 
Tomás de Aquino, a visão metafísica e a de Max Scheler, a visão 
fenomenológica. Segundo Tomás de Aquino os valores são considerados a 
partir de uma visão ontológica do homem e das coisas, não há autonomia da 
axiologia em relação a ontologia, ou seja, o estudo dos valores está ligado ao 
estudos do ser. A razão, ainda segundo Tomás de Aquino, seria o instrumento 
de apreensão dos valores e os valores éticos seriam uma forma de maior 
participação no ser. Segundo Max Scheler, entretanto, deve haver uma 
 
1Francisco Amaral, Direito Civil. 
separação da axiologia e da ontologia, pois os valores são autônomos. Os 
seres seriam apenas o suporte para os valores, e não a causa de existência 
destes. Ao contrário de Tomás de Aquino, considera que os valores são 
descobertos primeiramente por uma intuição emocional e somente depois pela 
razão. 
Deus, como ser absoluto não está submetido a normas, a leis, isso 
porque Ele, como símbolo máximo da perfeição, é a sua própria lei. Todas as 
outras coisas criadas por Ele, inclusive o homem, estão sujeitas as leis e, 
portanto, sujeitas a Deus. Pelo homem ser produto da criação de Deus e feito à 
sua imagem e semelhança, tendo assim capacidade de discernir valores, ele 
tem em sua consciência ideias em relação ao Bem e ao Mal. Essas ideias são 
traduzidas no Direito como Justo e Injusto, respectivamente. 
O Direito Natural tem como fonte a Lei Eterna. A Lei eterna seria uma 
princípio presente na razão divina, pelo qual Deus conduz o universo para o fim 
supremo da criação. O homem também participa da Lei Eterna. Primeiramente, 
o homem apreende valores a partir da sua intuição, é puramente emocional. A 
partir disso, a razão vai conceber esses valores apreendidos como princípios. 
Após essa primeira parte, chamada de nível intuitivo de conhecimento, tira-se 
conclusões desses princípios, chegando assim a princípios secundários, que, 
apesar de já serem derivados da razão, ainda estão muito abstratos. É 
necessário, dessa forma, o conhecimento prudencial. O conhecimento 
prudencial seria nada mais do que colocar os princípios em um plano mais 
concreto, é “apreciar em cada caso as exigência de ordem ética”. Seria então 
um juízo prático formulado pela consciência moral, esta tem três funções: 
Aplicar os princípios gerais à ação humana; examinar a conduta passada, do 
que pode resultar o arrependimento; dirigir as ações futuras. É assim que 
ideias como Bem e Mal, Justo ou Injusto são concebidas na consciência do 
homem. 
Por muito tempo o Direito Natural foi dito como permanente e estático, 
essa, porém, é uma conclusão equivocada. O Direito Natural é composto de 
princípios - estes como intuídos imediatamente são universais e não variam - e 
de conclusões práticas. As conclusões práticas são adaptações dos princípios 
a cada caso, variando assim no tempo e no espaço, muda-se de época em 
época, de acordo com a cultura vigente. 
O Direito Positivo deve utilizar o Direito Natural como um instrumento 
para reformas sociais voltadas para a Justiça. Por isso o papel do Judiciário é 
tão importante, pois, apesar de o Direito Natural ter princípios estáticos, suas 
conclusões são variáveis, e cabe ao Judiciário julgar cada caso a partir de sua 
particularidades. Ao Judiciário cabe, então, um papel decisivo, porque mesmo 
que uma norma criada seja justa, se não for aplicada segundo as 
particularidades do caso concreto poderá tornar-se injusta. 
 
 
CAPÍTULO V 
 
Pode-se analisar o Direito Natural sobre dois aspectos, o objetivo e o 
subjetivo. Sob o aspecto objetivo, o Direito Natural seria um sistema de valores, 
intuitos emocionalmente, mas transformados em princípios pela razão, na 
medida em que a razão humana participa da razão divina, da Lei Eterna. Sob 
o aspecto subjetivo, o Direito Natural seria um conjunto de Direito Subjetivos 
dispostos ao homem “a fim dele maximar sua condição de pessoa”. 
Atualmente pode-se perceber que muitos princípios do Direito Natural 
hoje estão positivados nas Constituições de muitos países ocidentais, na forma 
de direitos fundamentais. O Pós-Positivismo, doutrina que surgiu após a 
Segunda Guerra Mundial para “substituir” o Positivismo, indica então, que 
como tais princípios do Direito Natural já estão protegidos pelas Constituições 
não é preciso mais que o Direito Natural sirva como molde ao Direito Positivo. 
Não é certo porém, esse esquecimento do Direito Natural, já que diante desse 
afastamento os direitos fundamentais ficariam sem a sua base ética, seriam 
apenas leis, sem levar-se em consideração se seriam justas ou não.

Outros materiais