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Hermenêutica Jurídica e Aplicação do Direito Resumo do livro “Teoria dos Valores Jurídicos” do professor Glauco Barreira Magalhães Filho Camila Machado Lima Fernanda Amanda Leal Ingrid Carvalho Ivna K. Magalhães Mariana Estrela da Costa FORTALEZA/2013 INTRODUÇÃO Ingrid Carvalho A sociedade atual tem vivido uma imensa crise de valores, visto que não há mais a crença numa verdade absoluta e a moralidade tem entrado cada vez mais em decadência. Primeiramente, isso afeta as relações que os indivíduos travam entre si, e concomitantemente afeta o psicológico individual, pois faz com que a pessoa humana perca seu propósito de vida e o ânimo de lutar por ideais maiores. A família, enquanto núcleo básico de formação moral das pessoas, tem perdido sua importância e nem mais as igrejas conseguem resgatar o caráter dos indivíduos, o que as levam a tomar medidas desesperadas de persuasão para atrair mais adeptos. O Estado não funciona mais como proporcionador de segurança e condições adequadas de vida para seus cidadãos, antes busca um lugar no âmbito internacional, surgindo um imperialismo econômico e militar exercido pelas superpotências sobre os Estados em desenvolvimento. Nesse mundo impiedoso dominado pelo capitalismo e suas leis desumanas do mercado, as pessoas valem pelo que têm e não mais pelo que são, pelo que podem consumir, e não mais pelos valores que cultuam. Diante disso, revela-se a necessidade de um resgate dos valores do ser humano, especialmente dos valores jurídicos, daquilo que deveria ser e não o que é, papel que é fundamentalmente da filosofia. Para auxiliar nessa tarefa, deve-se recorrer ao Direito Natural, que sempre esteve preenchendo as insuficiências do Direito Positivo, ainda que alguns valores do Direito Natural estejam positivados através dos princípios. Essa apologia ao Direito Natural justifica-se pela necessidade de haver um conteúdo axiológico nas normas, para que o Direito não seja apenas baseado na força e sim cumprido por amor ao valor do qual deriva o dever. Recorrendo ao mundo dos valores, podem-se reconstruir os parâmetros ideais, para que a realidade possa ser comparada e analisada de forma crítica. PREMISSAS Para a realização do resgate dos valores, algumas premissas devem ser tomadas, como: (1) retorno a velhas questões metafísicas, adaptando os valores jurídicos imutáveis às necessidades concretas de cada sociedade específica; (2) a busca da validade ética nos vários segmentos do Direito, por exemplo, com o respeito dos direitos e garantias individuais no Direito Constitucional, com o princípio do respeito dos pactos e das promessas no Direito das Obrigações; (3) reação aos postulados da modernidade, como o agnosticismo ético, a relativização e a subjetivação dos valores por uma sociedade pluralista e cética; (4) considerar o Direito pelos prismas científico, da filosofia do Direito e da filosofia religiosa do Direito; (5) a aceitação da realidade transcendente e a busca pela essência mais última e absoluta das coisas. PARTE I - PRELIMINARES SOCIOLÓGICOS E ANTROPOLÓGICOS CAPÍTULO I - A CRISE DO MUNDO OCIDENTAL Durante o século XX, com as ideologias totalitárias e as duas guerras mundiais, foram presenciados os maiores crimes contra a humanidade. Os regimes totalitários, especialmente o nazismo, se apoiavam no pensamento de Nietzche, que criticava intensamente a existência de Deus e toda a moral cristã, além de fazer uma apologia a "vontade de poder" e ao domínio de terceiros mais "fracos". O cristianismo, até então, tinha servido como freio ao espírito dos antigos germanos, de lutar não importando a causa, apenas lutar, freio esse, quebrado pelos filósofos alemães mais influentes. A desvalorização do cristianismo foi confirmada na prática quando Hitler substituiu os símbolos, rituais e feriados cristãos por características próprias: festivais pagãos, símbolo da suástica, saudação 'Heil!", dentre outras medidas. Outra confirmação se deu quando o bispo Boldeschwing, eleito pelos luteranos, foi levado a renunciar seu cargo pela pressão dos que preferiam o germanismo ao cristianismo, e então Ludwig Müller foi eleito o bispo do Reich. Toda essa quebra da moral cristã e apologia à guerra geraram inúmeras consequências catastróficas para as pessoas, tanto no aspecto da grande quantidade de mortes, quanto nas repercussões psicológicas que isso trouxe aos alemães. Carl Gustav Jung, um dos mais famosos psicólogos analíticos, observou em seus pacientes a presença de um determinado arquétipo, o do antigo deus alemão Wotan, deus da tormenta, da embriaguez e do delírio. "Arquétipos" podem ser definidos como imagens simbólicas que habitam o inconsciente coletivo, isto é, imagens universais que existiram desde os tempos mais remotos. A presença dessas forças pagãs no inconsciente das pessoas foi reflexo direto da dissolução da imagem medieval do mundo, e um "endeusamento" do homem, que transferiu todo o entendimento psíquico de Deus para si próprio. Isso trouxe consequências desastrosas que não se reduziram somente à Alemanha, propagando-se pelas nações ocidentais. Toda essa catástrofe pode ser entendida quando se chega à conclusão de que perdendo a ideia de Deus, perdemos a nossa humanidade. Em síntese, o discurso filosófico de Nietzche, que negava os valores absolutos, juntamente com o de Heidegger, que defendia que não havia uma verdade objetiva, fizeram com que o ideal da verdade e o mundo ético fossem superados pelo nível estético. Mas sabe-se que o correto para o bom funcionamento das coisas é que o nível estético seja inferior ao nível ético, que por sua vez, deve ser superado pelo nível religioso. Alguns pensadores seguidores de Heidegger explicam a adesão dele ao nazismo pelo resquício de humanismo encontrado nele, segundo uma ótica de que os humanos autênticos seriam os arianos, e o restante seriam humanos não autênticos, o que justificaria a exterminação do não homem pelo homem. Porém, o humanismo nunca se utilizou de critérios biológicos ou étnicos para diferenciar os humanos e praticar o racismo, antes defendia a universalidade e igualdade dos homens pelo seu aspecto imaterial e transcendente. Ao pensamento de Nietzche, Heidegger e dos existencialistas europeus somaram-se as ideologias anti-humanistas que influenciaram o nazismo e eis o motivo da crise do mundo ocidental: um encaminhamento para o “nada”. Isto é, um nada de rebelião, violência, de hostilidade a Deus e aos seres humanos, nas palavras de Dietrich Bonhoeffer. Essa crise é de cunho axiológico e moral, pois com a quebra dos valores absolutos e ideais houve o surgimento de uma sociedade cética quanto à possibilidade de uma verdade objetiva e uma realidade transcendente. A verdade é que todo o caos trazido pelo século XX não pode apenas ser superado com o esquecimento do que aconteceu, mas é necessário retomar as forças morais e espirituais que ainda se encontram escassas, para que finalmente o mundo tenha paz. Uma peculiaridade observada por Fulton J. Sheen é que durante a 2ª Guerra Mundial, todos sabiam contra o que lutavam, mas não sabiam pelo que combatiam. Isso ressalta que a guerra não foi um conflito causado pela política ou economia, mas pelas finalidades destas que foram deturpadas, que deveriam ser voltadas para o bem comum e para a vida. É solução começa com a tentativa de que se volte a ter um vocabulário moral comum por meio dos princípios universais, pois na diversidade de ideologias que encontramos hoje, nãoé possível dialogar. Uma das mais evidentes anomalias do atual momento histórico é o ceticismo em relação ao absoluto, como já foi citado anteriormente. O ceticismo remonta aos tempos da Grécia com Heráclito (500 a.C), passando por Crátilo e pelo relativismo científico proposto por Albert Einstein. Porém, esses mesmos pensadores chegaram à conclusão de que não pode existir o relativo sem que se exista o absoluto, para servir como parâmetro, e para muitos o Absoluto seria justamente a ideia de Deus. Alguns preconceitos em relação ao universal surgem porque muitos valores particulares foram universalizados em ideologias e utilizados para legitimar formas de dominação. No entanto, a falta da crença numa verdade e justiça absolutas pré-definidas é justamente o que dá espaço para que se declare verdadeiro e justo aquilo que é conveniente no momento. A REJEIÇÃO DO PRINCIPIO LÓGICO DA NÃO CONTRADIÇÃO Fernanda Amanda Leal O princípio lógico da não contradição estabelece que uma coisa não pode ser ela e o que a contradita ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, sendo impossível que algo, sob idêntico aspecto esteja inserido e não inserido, ao mesmo tempo, na definição de um objeto. Percebe-se uma negação deste referido princípio na população cética do mundo contemporâneo uma negação da possibilidade de um conhecimento objetivo das coisas. Para rejeitar-se esse princípio, é necessário afirmar que ele é incompatível com as premissas por eles defendidas, apelando para o próprio princípio da não contradição, acabando por confirmar a sua validade. Porém, o que se pretende não é uma total negação da lógica dialética. O que se pretende é que um jogo dialético de contrários precisa ser conciliado com o princípio da não contradição através da reduplicação. A reduplicação consiste numa diferenciação dos aspectos de uma coisa da qual se predicam qualidades diversas. Por este caminho, desaparecem as incompatibilidades. A reduplicação é considerada ocultamente composta (classificação das proposições na lógica) por conter uma ou mais preposições escondidas. O sujeito da proposição recebe primeiro uma determinação particular para, em seguida, receber o predicado. Um exemplo é a afirmação de que Deus é um em três. No caso, Deus é uno em essência ou substância, enquanto é trino em número de pessoas ou subsistências. De Deus veio para o mundo tanto o princípio do uno como o do múltiplo, os quais são conciliados num plano superior mediante uma reduplicação (diferenciação dos aspectos) que torna a conclusão final mais complexa, porém, coerente. A lógica dialética deve, pelo jogo de contrastes, mostrar a beleza da verdade, mas é a lógica analítica com o princípio da não contradição que mostra a verdade na beleza. A não admissão do princípio da não contradição no pensamento humano faria com que tudo ficasse sob o signo da ausência de sentido. O pluralismo de ideias fomentadas pela globalização e informatização não deve intimidar a busca pela verdade. A existência de múltiplas opiniões não deve levar ao ceticismo, pois o confronto lúcido de argumentações excluirá aquelas que são incongruentes. Na visão existencialista de Heidegger, a verdade está no modo como os fenômenos se desvelam a nós, sendo, portanto, variável segundo a percepção subjetiva de cada um. Nessa perspectiva, a tentativa de harmonização da vida social através de padrões comuns seria u problema insolúvel. Os marxistas dizem que as ideias pertencem à superestrutura da sociedade, sendo determinadas pelo fator econômico. O problema é que essa compreensão teria que valer também para a ditadura do proletariado, não existindo a verdade objetiva. Toda ideologia seria parcial e interessada. Todo o trabalho para desmascarar as ideologias acabaria caindo em outra ideologia. Alguns têm tentado escapar do ceticismo redefinindo o conceito de verdade. No lugar de entenderem a verdade de uma proposição pela sua correspondência com a realidade, afirmam que o critério da verdade é o consenso. É melhor afirmar que há dois tipos de objetividade no conhecimento. O primeiro é o da objetividade pura, existente somente na intuição originária do objeto. O segundo tipo de objetividade é a científica. O que é inadmissível é a afirmação de que o mero consenso da comunidade de argumentação determine a verdade originária. Ninguém pretende construir uma verdade mediante a adesão dos outros aos seus argumentos, antes, aquele que argumenta, já pressupõe como verdade a proposição que pretende defender. A comunidade da argumentação é necessária para sua consolidação e não para constituição. O PROBLEMA DO DISCURSO ÉTICO Grande parte dos pensadores da atualidade reduzem a ética à opinião sentimental e irracional de cada pessoa. A linguagem normativa, entretanto, não é meramente expressiva e subjetiva, mas, antes, é objetiva e de validade transpessoal ou intersubjetiva. A norma que prescreve que devo me comportar de um modo A está afirmando que a conduta A é boa, justa ou lícita. É claramente evidente que, se forem anulados os padrões absolutos e negada a existência de um critério supremo para definir o conhecimento do bem e mal, nossas ações se resumirão na manipulação de fatos e pessoas para satisfação de nosso próprio interesse. A falta de reconhecimento de Deus como o Sumo Bem e Pessoa infinita também tem contribuído muito para a confusão moral de nosso tempo. A razão de termos o conceito de algumas coisas como certas e outras como erradas é porque há um Deus. A razão de pensarmos nos atos como justos ou injustos é porque Deus é justo. Supondo que duas pessoas discutissem a respeito do tamanho de um objeto, não se iria fazer uma votação para saber quem estava certo, se iria medir o objeto e chegariam a uma conclusão. Verdade significa “fidelidade a um original ou padrão”. A instância imediata de avaliação de uma atitude seria a consciência, mas, em última instância, seria Deus. O cientificismo e o existencialismo produziram uma sociedade viciada no individualismo e no consumismo. E. L. Woodward disse acertadamente: “não faz sentido falar em direito humanos numa sociedade materialista”. A sociedade ocidental perdeu os seus modelos, a celebridade é prestigiada em detrimento do herói. Os recentes desequilíbrios da humanidade são resultados da falta de modelos pessoais. A maior necessidade atualmente não é de líderes políticos e sim de líderes morais. O mundo moderno está marcado pela superficialidade. Falta profundidade no pensamento filosófico e as perguntas mais importantes acerca da existência humana são ignoradas ou consideradas desprovidas de sentido. Diante de toda essa perspectiva marcada pelo ceticismo, subjetivismo, individualismo, relativismo, onde os valores como a Verdade, a Bondade e a Justiça perdem seu valor, surgem teóricos comprometidos a mudar esse cenário e a tentativa destes de despertar os valores adormecidos na consciência. CAPÍTULO II - A POSTURA GNOSIOLÓGICA A SER TOMADA DIANTE DO MUNDO DOS VALORES – O PARADIGMA DA CRIANÇA De acordo com o ensino cristão, o pecado original corrompeu a imagem divina no homem, ele nunca faz todo o bem exigido. A medida em que cresce, o homem se insere no mundo secularizado, distancia-se da imagem divina. Isso o faz perder, gradualmente, a sensibilidade necessária à apreensão dos valores. Como a criança tem uma maior proximidade com a origem, tende a ter uma consciência bem mais sensível do que o de um adulto e assim permanecerá quanto mais moralmente for a sua educação. As obrigações, então, deveriam seraprendidas antes dos direito, pois o adequado conhecimento dos deveres levaria ao uso responsável dos direitos. Há uma grande diferença entre adestrar (reflexos condicionados) e educar (caminhar junto). Quando se é criança, existe o costume de perguntar repetidas vezes sobre o mesmo assunto. Querem saber se as causas sempre se repetem e se está todo mundo ciente disso. É interessante observar que, apesar das explicações dadas, elas continuem com suas especulações anteriores acerca dos mesmos. Essa angústia infantil, como explica Kierkegaard, revela a profundidade do espírito das crianças. Os filósofos da pós-modernidade, ao contrário das crianças, não perguntam pelas causas finais e objetivos. Falta o amor pela verdade. Esses pensadores rejeitam a visão dos filósofos antigos por a acharem antiquada, como se o calendário fosse o critério da verdade e, o resultado disso tudo, é um distanciamento cada vez maior do objetivo. A modernidade se define como a época da superação, da novidade que envelhece e é, então, substituída por uma novidade, numa rapidez que desmotiva qualquer criatividade. Se a filosofia de alguém vira moda, o próximo filósofo terá que, para criar fama, superar o pensamento daquele, ignorando, porém, os fundamentos filosóficos. Segundo C.S. Lewis, isso não significa que não deva haver uma evolução, mas sim, que as mudanças devem manter-se fiéis aos primeiros princípios. Os mitos e os sonhos infantis expressam uma aspiração da natureza humana. Se sentimos fome, deve haver comida; se temos impulsos sexuais, deve haver o sexo oposto quando que com ele não nos relacionemos. Ao seguir essa visão das crianças em ver o mundo, que poderá alcançar o verdadeiro filosofar, a busca pela verdade. CAPÍTULO III O HOMEM COMO AGENTE ÉTICO, LIVRE E RESPONSÁVEL Camila Machado Lima O homem tem o desejo de transcender o tempo e olhar de cima o seu “eu temporal”, saindo de si mesmo, sendo um observador, mas é sempre vencido pelo tempo e pela própria finitude humana. Como ensinou Carnelutti, o homem consegue julgar-se a si mesmo, mas esse ‘ele mesmo’ é apenas um ato, o seu espírito enquanto se incorporou na matéria. Conforme o pensamento de Hannah Arendt, somente Deus poderia nos conhecer a partir da eternidade, da atemporalidade, determinando o que realmente somos. O homem também é limitado quanto a sua liberdade, pois somente Deus é livre. Primeiramente, porque o homem é temporal e, também, porque suas ações, em razão do tempo, são irreversíveis. Do ponto de vista ético, a liberdade humana está atrelada ao fato da escolha consumada pelo homem (o ser) poder ir de encontro ao preceito (o dever ser). Dessa forma, a liberdade pode ser demonstrada pela responsabilidade moral. Seguindo o raciocínio Kantiano, a imutabilidade dos princípios éticos comprova a liberdade humana. Pode-se concluir, então, que nunca houve um juízo de valor drasticamente novo na história da humanidade. Valores, estes, que não podem ser analisados pelo método sociológico, vinculado ao mundo do ser, mas pelo método filosófico, em que se pode alcançar a lei moral. Já a apreensão de valores, requer a existência da consciência individual, com o desenvolvimento da interioridade individual de cada um. Alguns podem afirmar que o homem está limitado em suas possibilidades. Entretanto, essa ‘limitação’, ou destino, que o incentiva a usar a liberdade de maneira a maximizar suas potencialidades dentro das circunstâncias em que estão. Uma decisão humana consumada pode ser explicada pela causalidade natural, mas a escolha, que vai levar a essa decisão, transcende a citada causalidade, nela revelando-se a autonomia humana, elemento com o qual se eleva do corpo à supra-natureza. Há 2 tipo de fenômenos: os ligados à consciência, ao espírito, e os ligados à sensação, à matéria. Os materialistas reduzem todos os fenômenos aos físicos, mas a existência da liberdade é inconciliável a essa idéia, pois o homem é corpo e espírito. A percepção das coisas envolve os 5 sentidos, mas percebe-se o corpo, não a alma. Esta não deve ser confundida com aquele, mas apresentam uma interação entre si. Aquele que faz o bem, devido à sua liberdade, sempre pode fazer o mal, mas aquele que faz o mal vai perdendo sua capacidade de fazer o bem, perdendo sua virtude de realizar o bem. Segundo Agostinho e Plotino, tudo que existe, na medida em que existe em Deus, é bom. Dessa forma, a liberdade humana é boa, pois reflete uma característica divina, mas o seu uso negativo resulta o seu próprio desfazimento. O homem além de fazer perguntas, é uma pergunta. A existência humana é em sim mesma uma grande interrogação e é essa condição humana que assegura a liberdade na procura da resposta. O existencialismo ateu defendido por Sartre afirmava que o próprio homem “inventaria” o sentido da sua existência. Já para o pensamento teísta, Deus é aquele de quem procede o desafio lançado à interrogação existencial e a origem da liberdade, considerada como a procura de sentido para a existência humana. O homem, interrogando-se sobre a sua própria identidade, diferencia-se de si mesmo. A consciência moral é o homem enquanto ser afetado pela interrogabilidade radical. Na Antiguidade e na Idade Média, a consciência era tida como um resultado da participação da razão humana na razão divina ou, até mesmo, como a voz divina o coração humano. A partir do século XVIII, a consciência passa a ser uma espécie de autonomia absoluta da vontade individual. A liberdade de consciência era confundida com a liberdade de opinião ou representada como um capricho individual de cada pessoa. Assim, a consciência tinha direito, mas não deveres, sendo que, na verdade, ela tem direito porque tem deveres. Ela constitui-se na intuição que se converte em juízo prático e faz com que se julgue o que é bom ou ruim. A consciência religiosa pressupõe a consciência moral, pois em Santa Presença, deve-se ter vergonha do ato errado praticado e não da punição que dele acarretará. Resumidamente, o homem, intuitivamente, apreende valores e os explicita a partir da razão. Essa subjetividade é chamada de consciência. A consciência é um órgão sancionador. Quando as suas determinações são transgredidas, surge a dor íntima, a culpa. Algumas pessoas parecem não senti-las, mas isso não quer dizer que para elas o mal seja o bem nem que elas não tenham consciência a ser despertada. Significa, na verdade, que elas já transgrediram tantos padrões morais que as suas consciências estão cauterizadas, ou seja, as primeiras transgressões geram dor, mas esta vai diminuindo. Para racionalizar os atos ‘errados’, a pessoa começa a inventar desculpas e justificativas para os mesmos. É importante ressaltar que uma educação pervertida, sem valores morais, poderá resultar a destruição de caráter. Uma geração pervertida degenera a próxima geração, causando uma célere decadência moral. Deve-se ressaltar, também, que a pessoa que deixa de sentir o peso das suas transgressões recebe a pior punição possível: estar afundado na imoralidade e, ainda por cima, tornar-se menos humano. A consciência é fundamento subjetivo e humano da eticidade, sendo fonte imanente e imediata da moral, e imanente e mediata do Direito. Este encontra a sua origem na consciência. Dessa forma, não se pode dizer que o Direito se ocupa da mera conduta externa e a Moral das intenções internas. A obrigatoriedade de uma norma vem do seu conteúdo justo. A força que ela possui deve vir em razão da consciência humana aderir ao valor contido nela e não por coação ou ameaça. “O preceito jurídico é um dever ser e não um ter que ser”.A vida regida pela consciência pode dar a impressão de ser limitada de liberdade, mas ocorre exatamente o oposto. Assim como é inverdade a afirmação de que a ética do dever deve ser rejeitada por ser contrária aos desejos que dão auto-expressão ao ser humano. A disciplina dos impulsos humanos de natureza inferior, pela razão, mostra a dimensão mais elevada do homem. Por isso, deve-se negar o Neoliberalismo que deixa o mercado ser regulado pelos instintos e pelo egoísmo. A liberdade do homem faz dele responsável pelas suas ações e a violação de preceitos o torna sujeito a sanções. O homem ser eticamente responsável é um dos fatores que o torna digno. Dessa forma, é inaceitável o pensamento Freudiano que diz que os desvios morais de uma pessoa são alógenos. Excluindo os casos de total insanidade, os fatores genéticos e o ambiente social podem mitigar a cultura ou aumentar a virtude, mas não excluir do homem a sua responsabilidade. Em uma escolha moral, estão envolvidas o ato da escolha e a matéria-prima psicológica, que pode ser normal ou anormal. A psicanálise deve cuidar de remover os sentimentos anormais, dando à pessoa melhor matéria-prima para suas escolhas. A escolha é o que se vai fazer com a matéria-prima. Quando se admite que o homem é responsável pelos seus atos, reconhece-se a sua liberdade, espiritualidade e transcendência. A idéia do Julgamento Final não atenta contra a dignidade humana, pois somente os homens, por terem sido criados à imagem e semelhança de Deus, serão julgados. Quando um assassino é preso, sua pena não tira a sua dignidade, mas mostra que ele é um agente moral livre e responsável. O comportamento reprovável o degrada, mas a pena devolve o seu valor. Além do mais, a pena objetiva levar o infrator a repensar as suas ações. O crime é trágico porque o ser humano é capaz de potencialidades sublimes. O ser humano possui grandeza na sua natureza. A pena extrema ou desproporcional em relação ao delito cometido, entretanto, atenta contra o valor humano. Assim como é inadmissível a pena de morte, principalmente, sobre o pressuposto que existem criminosos irrecuperáveis. Para julgar tal suposição, os juízes teriam que ser deuses. A prisão perpétua se mostra igualmente intolerável. Como afirmou Carnelutti: “a porta da cadeia não se abre a não ser para deixar passar o cadáver”. Analisando-se também o problema social da liberação do preso após cumprir a pena, percebe-se que ele, de certa forma, condenado à uma pena perpétua: a de ser um eterno criminoso. Ele é preso ao passado, ao crime que cometera, mesmo já tendo pagado pelo seu erro. A redenção de um criminoso fica a cargo de toda a sociedade e, para se alcançar tal objetivo, é preciso amor. O Estado impõe respeito, mas não infunde o amor. Ele dever vir de outra fonte. O castigo não é incompatível com o amor, assim como o amor pelo condenado não exclui a severidade da pena. O PROBLEMA DO ABORTO Ivna K. Magalhães O aborto, por ter como vítima um ser que além de indefeso encontra-se numa situação de fragilidade, torna-se ainda pior do que a pena capital, visto que, se não nos é dado o direito sobre a vida de alguém que cometeu um crime, mais inimaginável ainda é que se possa tirar a vida de quem ainda nem teve contato algum co o mundo exterior. Porém, o Código Penal, em seu art 128, permite a prática do aborto em duas situações: se não houver outro meio de salvar a gestante (Aborto necessário) ou se a gravidez é resultante de estupro e o aborto é precedido do consentimento da gestante. (Aborto no caso de gravidez resultante de estupro). O primeiro caso é, notoriamente, do ponto de vista jurídico, uma situação de estado de necessidade. Ora, uma das vidas necessariamente irá se interromper. Não se pode impor à gestante que pretira a sua vida à do seu filho, por mais que, do ponto de vista moral, seja o esperado, já que, por vezes mães doaram suas vidas para salvar filhos já nascidos. O fato da criança em questão ainda não se encontrar fora do ventre materno, não a torna menos humana, nem a sua morte menos real. Por se tratar de uma situação de estado de necessidade, nem a gestante nem o médico serão punidos, o que não muda o fato, de segundo o ponto de vista moral, ser um ato injusto, e de não afastar a culpa, mas sim a punibilidade. Segundo Dietrich Bonhoeffer, essa rejeição tão intensa ao aborto, vem do pensamento de que a morte da mãe, nesse caso, seria uma morte natural, enquanto que a morte da criança seria proveniente de uma arbitrariedade. A vida da mãe está nas mãos de Deus (ainda que haja uma possibilidade remota, ela pode vir a sobreviver), enquanto que a vida da criança é ceifada, não havendo para esta, possibilidades. Uma vida não vale mais do que a outra, portanto, a resolução que o legislador encontrou para essa situação foi a possibilidade de a gestante cometer o aborto quando for configurado o estado de necessidade. A outra situação na qual se permite o aborto no ordenamento jurídico brasileiro é no caso de a criança ter sido concebida em um estupro. No caso anterior, os dois bens juridicamente protegidos são equiparados, porque os bens em questão são vidas. Já nesse caso, os bens em questão são a vida da criança e a honra da mãe. É fácil perceber que a vida tem uma importância muito maior que a honra de alguém. Além do mais, o direito à vida é inviolável, assegurado em nossa constituição, o que tornaria, portanto, inconstitucional leis que regulamentassem o aborto. PARTE II FUNDAMENTOS PARA UMA AXIOLOGIA IDEALISTA E TRANSCENDENTE CAPÍTULO I - ELEMENTOS PARA UMA AXIOLOGIA JURÍDICA Há uma diferenciação básica no mundo como conhecemos, uma divisão: o mundo dado e o mundo construído. O mundo dado refere-se à natureza, a tudo aquilo que não depende diretamente da ação humana para passar a existir. Já o mundo construído é o dito mundo da cultura, o qual é fruto da ação humana, que depende diretamente do homem para existir. A existência do homem é autoconstrutiva, visto que por ser consciente, conhece e domina as leis da natureza, assim, não segue o programa natural que existe em todos os seres vivos, como uma planta. Entre os objetos culturais do mundo construído, está o Direito, visando atingir um fim, fim esse que deve estar ligado a um valor metafisicamente desejado, qual seja, a justiça. Portanto, o jurista não pode ater-se apenas aos conhecimentos técnicos, necessitando também pensar o direito sempre ligado a valores, a fundamentos éticos. Ao contrário do que muitos acreditam os valores não são mutáveis de um momento histórico pra outro, de uma sociedade para outra. Eles possuem uma existência objetiva em um mundo ideal e transcendem o tempo. Nota-se isso ao perceber que em situações históricas distintas, os critérios de valoração dos fatos pode ocorrer de modo bem similar. Mas, inúmeras vezes o oposto também se dá. Isto ocorre devido à complexidade da realização histórica dos valores, já que o nosso conhecimento dos fatos é relativo e pela dificuldade de dimensioná-los axiologicamente. A justiça, como um valor, é de natureza imutável. Porém, precisa-se de uma compreensão correta dos fatos para realizar-se na sociedade. Uma compreensão errada dos fatos implica numa aplicação errada dos valores. Como nos casos dos países que adotam o princípio de que todos são iguais, porém tratam a mulher como inferior ao homem. O valor continua imutável, mas a sua compreensão e aplicação, nesse caso, é que é errônea e deturpada. O desdobramento dos valores se dá em umdever ser ideal, que se adapta á realidade por meio de um dever ser normativo. Explicitando melhor, no Direito, o valor é a justiça, que se desdobra no direito natural, que seria o dever ser ideal, que é ajustado á realidade por meio do Direito positivo, este sendo o dever ser normativo. O dever ser ideal passa a ser normativo quando o conteúdo daquele passa a ser considerado e possível de realização. Para esclarecer, podemos usar o seguinte exemplo: as proposições ‘não deve existir mortes de um homem pela mão de outro’ e ‘não matar’ são exemplos, respectivamente dois deveres-seres. Essa lógica dever ser ideal – deve ser normativo, proposto por Scheler, pode ser encontrada no nosso ordenamento, de forma que o dever ser ideal seriam as normas principiológicas que garantem os direitos e garantias fundamentais, enquanto que o dever ser normativo seriam as normas regras que legislam sobre esses direitos e garantias fundamentais.A lei moral, portanto, é um meio para atingir um fim. Não pode ser identificada como um fim em si mesmo, pois é uma idéia de razão, é um caminho proposto para a realização de um fim, não podendo assim ser considerada o bem supremo. Não se pode conceber os valores nem exclusivamente no mundo ontológico nem no mundo axiológico, pois ao ter-se Deus como o Sumo Bem, no qual todos os outros valores são baseados, estes valores são e devem ser. Os valores interferem na sociedade de modo que o ideal moral demonstra o tipo de sociedade que se deseja. A sociedade se adapta aos valores (já que estes são imutáveis), por meio da mutabilidade das normas, por isso há a necessidade da mutabilidade do Direito. As normas mudam devido à forma de organização social de determinada sociedade, e não devido aos valores. Interessante notar que os valores apesar de estarem na nossa interioridade existem fora de nós, independentemente de nós. O método para conhecê-los, difere dos métodos discursivos, como a indução e a dedução, sendo o método utilizado o método intuitivo, que permite conhecer sem a necessidade de uma sucessão de fases. O ser humano tem dimensões imateriais, como a alma. Teorias mais modernas já defendem a existência do mundo não só baseada em matéria e energia, mas também em informação. Um exemplo disso seria o gene, que seria um pacote de informações. Assim, a molécula de DNA seria o meio, e não a mensagem. A mensagem e o meio são distintos, exemplo disso é o livro: a mensagem, a informação contida numa boa obra independe do papel na qual é impresso, e da tinta que é usada. Os meios de exprimir essa dimensão imaterial do ser humano, a alma, é a mesma utilizada para expressar emoções, visto que a natureza não criou mecanismos (meios) diferenciados para a expressão dessa nossa imaterialidade. CAPÍTULO II O JUÍZO JURÍDICO DE VALOR E SUA APLICAÇÃO A norma une o elemento temporal (fato) com o elemento ideal (valor), desse modo acaba por ser um instrumento de coesão do imutável ao mutável. O Direito Natural tem princípios, os quais são imutáveis, mas as normas do Direito Positivo são passíveis de mudança, pois não são deduzidas do Direito Natural de forma lógica-demonstrativa, mas são adaptações desses princípios às necessidades das sociedades. A norma não consegue abarcar todos os fatos particulares, sendo, em alguns casos específicos, injusta. Isso ocorre porque a norma refere-se ao caso abstrato, que diverge do caso concreto, por este ter peculiaridades. Dessa forma, há a justiça do caso abstrato e a do caso concreto, também conhecida como equidade. Daí a inviabilidade de um código que se interprete apenas por meio da interpretação literal, um código sem lacunas. Evidentemente que um código com essas características acabaria se tornando injusto. O juiz, portanto, tem importância na busca da justiça como valor, já que é comum, através da jurisprudência, algumas regras de conduta moral passarem ao direito positivo. O problema central dessa figura jurídica não é valorar um fato, mas, saber o que realmente aconteceu, posicionar-se diante de algo que ele não viu, limitando-se a conhecer o caso pelas provas que lhe são apresentadas. Portanto, é necessário ao juiz características como o conhecimento profundo da natureza humana e a intuição aguçada. Por vezes, pensa-se que o juiz precisa adotar uma posição imparcial, distanciando-se das partes, de modo que acaba-se caindo no erro de querer conhecer o homem “cientificamente”, distanciando-se dele. Seria mais fácil compreender o homem lembrando que também o somos. Desse modo o juiz terá sempre como guia principal a sua consciência, o seu discernimento e seus conceitos sobre o que é bom e o que é mau. CAPÍTULO III Mariana Estrela da Costa A ontologia é a parte da filosofia que estuda o ser. O ser é o que permite que as coisas sejam definidas, entretanto, ele mesmo não pode ser definido. Não significa que ele não tenha significado, sentido, apenas que como é a partir do ser que definimos tudo, ele não pode se “autodefinir”. O ser como absoluto, como perfeito, é Deus. Assim, quanto mais os seres se aproximam da perfeição, maior sua participação no ser, mais próximo de Deus. Nesse sentido, o ser também passa a ser uma medida de perfeição. Segundo São Tomás de Aquino: “ Em todas as coisas ordenadas verifica-se, em geral, que aquilo que é primeiro e perfeitíssimo em determinada ordem é causa das coisas restantes e existentes nessa ordem”. Como não há nenhum gênero de coisas existentes acima do ser, determinando mais uma razão pelo qual ele não pode ser definido, e sendo o ser absoluto e perfeito, Deus, conclui-se que Deus é “causa das coisas restantes e existentes”. Desse modo, é feito a ligação entre Deus e todas as outras coisas existentes no universo. Ele como Ser Maior e todo o resto como seres a procura da perfeição, gêneros abaixo. O homem criou o Direito Positivo é, dessa forma, a sua causa, assim como Deus é a causa do homem. Dessa forma, o Direito Positivo participa da dimensão espiritual do homem. O Direito Positivo prova, então, que o homem é capaz de uma natureza ética e procura sempre uma convivência harmoniosa e pacífica, pois estes são os valores que o próprio Direito procura promover. Como tudo que é criado pelo homem tem um fim, no caso do Direito, o fim seria a Justiça. Carlos Cossio conceitua Direito como “conduta em interferência intersubjetiva”. Ou seja, um conduta apreciada em interferência em mais de um sujeito, condutas que afetam a vida de outras pessoas. Ainda citando condutas, a ética seria uma conduta valorada, podendo ser divida em duas espécies: o Direito e a Moral. O Direito seria então uma conduta ética, ou seja, valorada, que causa interferência em terceiros. O Direito subjetivo é “o poder que a ordem jurídica confere a alguém de agir e de exigir de outrem determinado comportamento”1. Assim, o direito de um é a obrigação de outro, demonstrando o caráter de “intersubjetivo” do Direito. O Direito diferencia-se da Moral pois esta é unilateral, não afeta diretamente a vida de terceiros. A Moral é uma conduta valorada em interferência subjetiva – e não intersubjetiva. Uma conduta é imoral por si mesma, esteja ela influenciando a vida de outrem ou não. Seguindo o conceito de Carlos Cossio sobre Direito, o Direito Natural seria então um “conduta em interferência intersubjetiva” que é manifestado através dos princípios. Sendo o Direito Positivo o ordenamento jurídico em vigor, as normas postas, poder-se-ia pensar que ambos são contrários, porém, um complementa o outro. Enquanto o Direito Positivo determina as condutas lícitas e ilícitas, o DireitoNatural procura determinar as condutas como justas ou injustas. Assim, o Direito Natural serve como um molde, como inspiração para o Direito Positivo. CAPÍTULO IV Valores são tudo que contribuem para a perfeição, para a participação máxima no Ser e, como já foi dito, quanto mais próximo do Ser, mais próximo de Deus. Há duas perspectivas de pensamento em relação aos valores, a de Tomás de Aquino, a visão metafísica e a de Max Scheler, a visão fenomenológica. Segundo Tomás de Aquino os valores são considerados a partir de uma visão ontológica do homem e das coisas, não há autonomia da axiologia em relação a ontologia, ou seja, o estudo dos valores está ligado ao estudos do ser. A razão, ainda segundo Tomás de Aquino, seria o instrumento de apreensão dos valores e os valores éticos seriam uma forma de maior participação no ser. Segundo Max Scheler, entretanto, deve haver uma 1Francisco Amaral, Direito Civil. separação da axiologia e da ontologia, pois os valores são autônomos. Os seres seriam apenas o suporte para os valores, e não a causa de existência destes. Ao contrário de Tomás de Aquino, considera que os valores são descobertos primeiramente por uma intuição emocional e somente depois pela razão. Deus, como ser absoluto não está submetido a normas, a leis, isso porque Ele, como símbolo máximo da perfeição, é a sua própria lei. Todas as outras coisas criadas por Ele, inclusive o homem, estão sujeitas as leis e, portanto, sujeitas a Deus. Pelo homem ser produto da criação de Deus e feito à sua imagem e semelhança, tendo assim capacidade de discernir valores, ele tem em sua consciência ideias em relação ao Bem e ao Mal. Essas ideias são traduzidas no Direito como Justo e Injusto, respectivamente. O Direito Natural tem como fonte a Lei Eterna. A Lei eterna seria uma princípio presente na razão divina, pelo qual Deus conduz o universo para o fim supremo da criação. O homem também participa da Lei Eterna. Primeiramente, o homem apreende valores a partir da sua intuição, é puramente emocional. A partir disso, a razão vai conceber esses valores apreendidos como princípios. Após essa primeira parte, chamada de nível intuitivo de conhecimento, tira-se conclusões desses princípios, chegando assim a princípios secundários, que, apesar de já serem derivados da razão, ainda estão muito abstratos. É necessário, dessa forma, o conhecimento prudencial. O conhecimento prudencial seria nada mais do que colocar os princípios em um plano mais concreto, é “apreciar em cada caso as exigência de ordem ética”. Seria então um juízo prático formulado pela consciência moral, esta tem três funções: Aplicar os princípios gerais à ação humana; examinar a conduta passada, do que pode resultar o arrependimento; dirigir as ações futuras. É assim que ideias como Bem e Mal, Justo ou Injusto são concebidas na consciência do homem. Por muito tempo o Direito Natural foi dito como permanente e estático, essa, porém, é uma conclusão equivocada. O Direito Natural é composto de princípios - estes como intuídos imediatamente são universais e não variam - e de conclusões práticas. As conclusões práticas são adaptações dos princípios a cada caso, variando assim no tempo e no espaço, muda-se de época em época, de acordo com a cultura vigente. O Direito Positivo deve utilizar o Direito Natural como um instrumento para reformas sociais voltadas para a Justiça. Por isso o papel do Judiciário é tão importante, pois, apesar de o Direito Natural ter princípios estáticos, suas conclusões são variáveis, e cabe ao Judiciário julgar cada caso a partir de sua particularidades. Ao Judiciário cabe, então, um papel decisivo, porque mesmo que uma norma criada seja justa, se não for aplicada segundo as particularidades do caso concreto poderá tornar-se injusta. CAPÍTULO V Pode-se analisar o Direito Natural sobre dois aspectos, o objetivo e o subjetivo. Sob o aspecto objetivo, o Direito Natural seria um sistema de valores, intuitos emocionalmente, mas transformados em princípios pela razão, na medida em que a razão humana participa da razão divina, da Lei Eterna. Sob o aspecto subjetivo, o Direito Natural seria um conjunto de Direito Subjetivos dispostos ao homem “a fim dele maximar sua condição de pessoa”. Atualmente pode-se perceber que muitos princípios do Direito Natural hoje estão positivados nas Constituições de muitos países ocidentais, na forma de direitos fundamentais. O Pós-Positivismo, doutrina que surgiu após a Segunda Guerra Mundial para “substituir” o Positivismo, indica então, que como tais princípios do Direito Natural já estão protegidos pelas Constituições não é preciso mais que o Direito Natural sirva como molde ao Direito Positivo. Não é certo porém, esse esquecimento do Direito Natural, já que diante desse afastamento os direitos fundamentais ficariam sem a sua base ética, seriam apenas leis, sem levar-se em consideração se seriam justas ou não.
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