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Este documento trata-se de uma tradução não-profissional do artigo “An Introduction to Compassion Focused Therapy in Cognitive Behavior Therapy”, de Paul Gilbert. A tradução foi realizada por Carlos Alberto Dorneles Nonnenmacher, psicólogo e psicoterapeuta cognitivo-comportamental. A tradução visa apenas a divulgação do conhecimento científico, da TCC e TFC. Qualquer consideração: carlosdornelesn@gmail.com. International Journal of Cognitive Therapy, 3(2), p. 97-112, 2010 UMA INTRODUÇÃO À TERAPIA FOCADA NA COMPAIXÃO NA TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL Paul Gilbert Kingsway Hospital, Derby, UK Este artigo salienta as origens antigas da Terapia Focada na Compaixão (TFC) de dentro da tradição cognitivo-comportamental (TCC). Ele então se focará em como nossa nova compreensão de áreas referentes a sistemas de regulação do afeto e a importância das relações afiliativas e gentis na regulação de estados mentais apontam a processos-chave que subjazem dificuldades de saúde mental – bem como possíveis mecanismos para a terapia e mudança. A TFC reconhece um débito imenso às psicologias Orientais, tais como o budismo, que tem articulado a importância da compaixão para nosso bem-estar pessoal e social por milhares de anos. Contudo, a TFC foi originalmente desenvolvida para e com pessoas que sofrem com altos níveis de vergonha e autocriticismo e que consideram experiências de apoio, gentileza e compaixão – tanto de si mesmos quanto de outros – difíceis ou até mesmo assustadoras. O artigo fornecerá o plano de fundo conceitual para os artigos seguintes, que se focam nas aplicações da TFC. Os terapeutas cognitivos há muito reconhecem que as raízes de muitas das nossas dificuldades emocionais recaem sobre nossos cérebros evoluídos. Isso foi esclarecido no trabalho seminal de em Beck, Emery e Greenberg (1985) sobre ansiedade e na abordagem de Beck (1987) à depressão. Existem também escritos específicos explorando a ligação entre a terapia cognitiva e a psicologia evolucionista (Gilbert, 2002). A terapia focada na compaixão (TFC) está enraizada na psicologia evolucionista (Gilbert, 1984, 1989, 2009a). Nesse pequeno artigo introdutório, eu salientarei as origens da TFC dentro da TCC, suas ligações com a psicologia evolucionista, e tocarei em algumas das suas aplicações à vergonha e autocriticismo. ORIGENS É sabido há tempos que a ligação entre a cognição e a emoção é complexa. Panksepp (2007) delimita diferenças neuroquímicas claras nesses processos, enquanto os psicólogos têm apontado distinções em tipos de sistemas de processamento da informação que distinguem emoção e cognição (Stott, 2007; Teasdale, 1997). Ademais, distinções baseadas em evidências existem entre o processamento consciente e inconsciente, implícito e explícito (Hassin, Uleman & Bargh, 2005). As pesquisas também têm demonstrado que podemos induzir subliminarmente indivíduos para que forneçam considerações imprecisas sobre suas emoções e reações aos estímulos (Haidt, 2001). Também sabemos que as autoavaliações e sentimentos estão ligados a representações conscientes e inconscientes do self-em-relação com outros – e que não deveríamos encarar esquemas de self como socialmente descontextualizados, mas sim como co- construídos (Baldwin, 1992, 2005; Baldwin & Dandeneau, 2005). Toda essa pesquisa claramente indica que devemos ser cuidadosos ao dependermos de declarações verbais e explicações conscientes daquilo que o indivíduo sente ou como se comporta. Nós também encontramos o problema da cognição-emoção no contexto clínico, na experiência bem conhecida de um paciente dizer que consegue enxergar a lógica de gerar pensamentos alternativos ou se envolver em várias “exposições”, mas que isso não ajudava sempre a se sentirem diferente. Mesmo que tais intervenções ajudem, eles ainda reclamam que se sentem vazios e com poucos sentimentos de bem-estar ou um sentimento de conexão com outros. Quando eu explorei em profundidade o porquê de os “pensamentos alternativos” não serem “experienciados” como úteis, os pacientes revelaram que o tom emocional, e a maneira como “ouviam” seus pensamentos alternativos em suas cabeças, era geralmente frio, desapegado ou até mesmo ligeiramente agressivo. Os pensamentos alternativos como “Vamos lá, a evidência não apoia essa visão negativa de mim como uma falha; lembre o quanto você conquistou semana passada!” terão um impacto diferente se ditos a si mesmo (experienciados) de maneira agressiva e irritada, do que se ditos lentamente e com gentileza e calor. O mesmo acontece para exposições ou tarefas de casa. A maneira como são realizadas (por bullying e se forçando versus encorajando e sendo gentil consigo) pode ser tão importante quanto o que está sendo feito (Gilbert, 2000ab). Então, pareceu claro para mim que precisávamos focar muito mais nos sentimentos das alternativas, não apenas o conteúdo – de fato, um foco excessivo no conteúdo não era útil para alguns pacientes com vergonha elevada. Há mais de 20 anos atrás, eu simplesmente tentei encorajar os clientes a imaginar uma voz calorosa e gentil (poderia ser a sua própria ou de outra pessoa), oferecendo/falando para eles as alternativas; ou trabalhando com eles as suas tarefas comportamentais com “sentimentos de encorajamento e gentileza”. Alguns pacientes acharam isso notavelmente útil – outros tiveram muita dificuldade. Com o passar do tempo, isso levou ao desenvolvimento de uma psicoterapia com um foco na compaixão (gentileza) e, então, à TFC. Na época da segunda edição de Counselling for Depression (Gilbert, 2000a), todo o foco tinha se tornado sobre o “desenvolvimento de calor interno” (veja também Gilbert, 2000b, e a terceira edição, 2007a). Contudo, a mudança de foco para as texturas emocionais dos pensamentos alternativos e imagens revelariam dois aspectos-chave do trabalho com compaixão. Primeiro, os sentimentos de calor e encorajamento estão ligados a sistemas de regulação de afeto específicos que evoluíram com apego e possuem uma base neuro-hormonal específica. Segundo, algumas pessoas eram resistentes e assustadas para desenvolver calor por si mesmos. De fato, ao longo dos anos ficou claro que as pessoas com alta vergonha e autocriticismo têm dificuldades na avaliação de sentimentos de (auto)calor, compaixão e reasseguramento. Nós até mesmo temos evidências neurofisiológicas para esse problema (Longe et al, 2010; Rockliffe, Gilbert, McEwan, Lightman & Glover, 2008). A história de vida de pessoas com dificuldades de sentir calor por si mesmos parece ser aquelas nas quais experimentaram muito pouco no que se refere a compaixão, validação, apaziguamento/tranquilização (soothing) e reasseguramento dos pais ou outras figuras de apego. Nós agora sabemos que as qualidades afetivas das interações primárias possuem um grande impacto no senso de self, habilidades de regulação do afeto e sistemas fisiológicos de crianças (Cozolino, 2007). Nós também sabemos que relações primárias de apego influenciam as habilidades para ser autocompassivo e resiliente (Masten, 2001). Então, a TFC foi desenvolvida originalmente para, e com, pessoas que sofrem de altos níveis de vergonha e autocriticismo, e para quem encontra dificuldades para se autotranquilizar e gerar sentimentos de gentileza interna, calor e autorreasseguramento (Gilbert, 2000ab, 2007a; Gilbert & Irons, 2005). Ficou óbvio que se esse sistema emocional não está funcionando, então o input cognitivo por si só iria encontrar dificuldades em ajudar o indivíduo a se sentir diferente. De fato, como agora exploraremos, a TFC é baseada nos achados evolucionistas e da neurociência sobre a existência de sistemas de regulação doafeto específicos em nossos cérebros. Devido ao fato de que o calor está ligado a um regulador inato e natural de nossos sistemas de processamento da ameaça (a gentileza nos acalma), a inabilidade de gerar o autocalor é um grande problema para algumas pessoas – deixando seus esforços de regulação do afeto muito mais frágeis. OS SISTEMAS DE REGULAÇÃO DO AFETO As pesquisas recentes sobre a neurociência da emoção sugerem que podemos distinguir ao menos três tipos de sistemas de regulação emocional (Depue & Morrone-Strupinsky, 2005). A saber: sistemas de ameaça e proteção; sistemas de drive, busca por recursos e excitação; e sistemas de contentamento, soothing e segurança social. Nós exploraremos cada um desses e sua relação com TFC. Estes são, é claro, simplificações para o que são sistemas muito mais complexos e de nenhuma forma são as únicas maneiras nas quais nossos sistemas de regulação emocional podem ser mapeados, subdivididos e conceitualizados (Panksepp, 1998), mas eles oferecem uma heurística útil ao pensamento clínico. Uma descrição simples de suas interações é fornecida na Figura 1. Drive, excitação e vitalidade Contentamento, segurança, conexão Raiva, ansiedade, aversão Figura 1. A interação entre os Três Sistemas Principais de Regulação Emocional. Nota. Gilbert (2009a), The Compassionate Mind. Reimpresso com permissão. Busca por coisas agradáveis Realização e Ativação Foco na afiliação Soothing/segurança Bem-estar Busca por segurança e proteção focada na ameaça Ativação/Inibição Nós deveríamos também manter em mente que esses sistemas estão interagindo e formando padrões. Então, é incorreto localizar excessivamente as funções em um sistema específico sozinho. 1. Sistema de Ameaça e Proteção Todos seres vivos evoluíram com sistemas básicos de detecção e proteção à ameaça. A neurociência desses sistemas está crescentemente sendo compreendida (LeDoux, 1998; Panksepp, 1998). A função desse sistema é localizar as ameaças rapidamente (focalização da atenção e enviesamento) e então nos fornece torrentes de sentimentos como ansiedade, raiva ou nojo. Esses sentimentos atravessam nossos corpos, nos alertando e fazendo com que tomemos ações para fazer algo quanto a ameaça – se proteger. Os outputs comportamentais incluem aqueles de luta, fuga e submissão (Gilbert, 2001; Marks, 1987). Em parte porque o sistema é orientado a “melhor prevenir do que remediar” (better safe than sorry, Gilbert, 1998), ele é facilmente condicionado (no sentido do condicionamento clássico), tornando possível a ativação rápida e pré-consciente de (por exemplo) detecção de ameaças baseadas na amígdala e de respostas a vários estímulos (Rosen & Schulkin, 1998). Podemos ser tomados com emoções baseadas em ameaça antes que pensamentos conscientes surjam. Devemos então tentar explicar que nossos sentimentos e explicações que damos a nós mesmos não são necessariamente verdadeiros (Haidt, 2001). Além disso, a regulação genética e sináptica de neurotransmissores como serotonina desempenha um papel no funcionamento do sistema de ameaça-proteção (Caspi & Moffitt, 2006). Problemas com o sistema de ameaça estão ligados a: 1. Os tipos de gatilhos que ativam o sistema de ameaça-proteção, ligados à natureza da ameaça, respostas emocionais condicionadas e significados pessoais. 2. Os tipos e formas da resposta de proteção, por exemplo: raiva ou ansiedade; luta ou fuga; batimento cardíaco, náusea, suor, enrubescimento; pensamentos rápidos e foco atencional. 3. A rapidez e intensidade da resposta de proteção à ameaça. 4. A duração da resposta de proteção à ameaça e das maneiras de acalmar a ativação aversiva à ameaça. 5. A frequência da ativação do sistema de ameaça-proteção ligada a estímulos contextuais externos (por exemplo, viver em uma vizinhança violenta) e internos (por exemplo, autocriticismo, ruminação, preocupação). 6. A maneira como diferentes formas de coping (por exemplo, evitação experiencial e estratégias de segurança ineficazes) acentuam uma percepção da ativação da ameaça em 1 a 5. Como apontado em outro lugar (Gilbert, 1989, 1993), quase todas psicoterapias são focadas nas complexidades da autoproteção à ameaça (apesar de não necessariamente ser conceitualizada dessa forma), mas possuem diferentes teorias e métodos para se envolver com problemas desse sistema. A operação suave do sistema de ameaça e autoproteção pode ser difícil, por conta de “problemas no design” e como muitas das suas opções de resposta conflitam umas com as outras (Gilbert, 2009a, 2010). Por exemplo, imagine que você tem trabalhado muito em algo, entrega para seu chefe e ele critica você. Nesse contexto, você pode se sentir com raiva, ansioso e possivelmente triste – tudo ao mesmo tempo. A terapia cognitiva sugere que isso estará ligado a uma gama de interpretações sobre as críticas. Na TFC, nós sugeriríamos que o criticismo é uma ameaça interpessoal e, como somos seres evoluídos sensíveis a isso, ele pode ativar automaticamente o sistema de ameaça, dos quais várias emoções e interpretações podem advir – algumas podendo ser ligadas experiências passadas e memórias emocionais. Assim, na TFC presumiríamos isso e perguntaríamos: “Nessa situação, o que sua parte com raiva pensa; o que sua parte ansiosa pensa; o que sua parte triste-desapontada pensa?”. Isso ilumina e normaliza os pensamentos e sentimentos múltiplos e conflitivos. De fato, isso também ajudará a pessoa a pensar sobre os conflitos de se sentir com raiva e se sentir ansiosa, se sentir ansiosa sobre se sentir com raiva e, se ela se comporta muito submissamente, sentir raiva sobre se comportar ansiosamente e submissamente. A TFC ajuda as pessoas a pensar sobre os conflitos das emoções e as ambivalências, porque as pessoas ficam frequentemente confusas ou envergonhadas de algumas de suas reações às coisas – elas podem temer a raiva ou se entristecer quando são criticadas. A TFC treina os terapeutas para compreenderem as complexidades dos sistemas de ameaça-proteção a partir de bases da neurociência comportamental. Na TFC, há muita discussão sobre as respostas de ameaça-proteção como formas de estratégias de segurança (Salkovskis, 1996; Thwaites & Freeston, 2005), muitas das quais se desenvolveram cedo na vida. O foco está na autoproteção (com consequências não-planejadas e indesejadas) em vez de na patologia. A formulação explora como eventos passados podem ter sensibilizado os sistemas de ameaça, levando ao desenvolvimento de memórias emocionais que guiam várias estratégias de segurança e assim podem operar automaticamente como respostas condicionadas, incluindo respostas conflitivas. Por exemplo, algumas pessoas podem ter estratégias de segurança bem- sucedidas de submissão. Isso faz com que fiquem alertas do ranking, status e poder de outros em relação a si, ter uma tendência a se perceberem como inferiores, rapidamente se sentirem socialmente ansiosas e incertas, se envolverem em comportamentos de subjugação e evitação frente a conflitos interpessoais (Gilbert, 2005, 2007a). Essas estratégias podem levar a uma vulnerabilidade aumentada à ansiedade e depressão, ter consequências negativas não-planejadas sobre a autoestima e a habilidade de perseguir objetivos de vida. Então, no modelo evolucionista, as estratégias podem envolver combinações de estilos de pensamentos, comportamentos e sentimentos (Gilbert 2002; veja Gumley et al., este volume, Lowens, este volume; Welford, este volume — para mais exemplos de formulação). Estratégias sensibilizadas(de segurança) e fenótipos para a detecção e proteção à ameaças podem se tornar formas importantes nas quais uma pessoa percebe e transita no mundo. Como muitos autores deste volume assinalam, o terapeuta de TFC irá identificar, contextualizar historicamente e validar as funções e origens das estratégias de segurança, bem como buscará o seu desenvergonhamento (de-shame) (Gilbert, 2007a, 2007b; Linehan, 1993; Ogden, Mindon, & Pain, 2006; Van der Hart, Nijenhuis, & Steele, 2006). Na TFC, o foco está na compreensão das funções dos sintomas e dificuldades pessoais em termos de estratégias de segurança compreensíveis e da organização do sistema de ameaça. Os primeiros aspectos da compaixão crescem desse tipo de formulação, porque ela ajuda os pacientes a reconhecer que sua patologia e sintomas “não são culpa deles”, mas estão ligados à maneira como nossos cérebros evoluíram (nós temos cérebros muito difíceis de gerenciar; Gilbert, 2009a), como foram moldados socialmente pelos nossos ambientes, e que todos seres vivos são prontos para a autoproteção e criação de estratégias de segurança complexas – independente se elas são fontes de felicidade ou não (Gilbert, 2009a, 2010). A partir disso, é possível começar a desenvolver reflexões compassivas e validantes (não apenas insight) sobre o fato de se ter precisado desenvolver essas estratégias de segurança. Na TFC, uma vez que os indivíduos abrem mão da crítica, condenação e culpabilização de si mesmos por suas estratégias de segurança, sintomas, pensamentos ou sentimentos, eles se tornar mais livres para ir em direção à tomada de responsabilidade e aprendizagem de enfrentamento. A TFC considera um número de maneiras nas quais o sistema de ameaça pode ser ativado através da ativação de memórias emocionais condicionadas (Brewin, 2006; Rosen & Schulkin, 1998), significados pessoais e o conteúdo das crenças, mas também como um resultado da ruminação e preocupação. O impacto da ruminação e preocupação é que elas agem como estimuladores internos constantes do sistema de ameaça (Fisher & Wells, 2009; Wells, 2000). 2. Sistema de Drive e Excitação Os animais precisam ter sistemas motivacionais e emocionais que os direcionem a importantes recompensas e recursos. Isso inclui comida, oportunidades sexuais, alianças, espaços para ninhos, territórios, assim em diante. Assim, a função desse sistema é fornecer sentimentos positivos que nos energizem e guiem para buscarmos coisas (por exemplo, comida, sexo, amizades); é um “sistema de desejos” que nos guia a importantes objetivos de vida, ligados fortemente com a atividade da dopamina (Depue & Morrone- Strupinsky, 2005). Se ganhamos uma competição, passamos em um exame ou conseguimos sair com uma pessoa desejada, podemos ter sentimentos de excitação e prazer (um furor de dopamina). Se as pessoas usam cocaína ou anfetamina, este é o sistema que elas mais provavelmente estimularão. Na psicologia budista, os sentimentos positivos ligados a esse tipo de sistema de realizações e satisfação de desejos pode nos dar prazer, mas não felicidade (Dalai Lama, 2001; Ricard, 2006). Isso ocorre em parte porque nossos sentimentos de prazer são dependentes de nossas recompensas, recursos e realizações. Eles têm vida curta, porque (de uma perspectiva evolucionista) os recursos como comida e sexo precisarão ser conquistados de novo e de novo – de forma que ninguém nunca pode estar satisfeito por muito tempo. O sistema de drive e o sistema de ameaça-proteção podem estar ligados de maneiras complexas, especialmente quando estamos motivados a evitar eventos negativos que aparecem em pensamentos de “poderias, terias e deverias”. Alguns indivíduos podem buscar status, posses materiais e realizações para se sentirem seguros e evitarem rejeição, ou evitarem a subordinação ou sentimentos de inferioridade. Esses indivíduos podem sentir que precisam provar a si mesmos e precisam estar constantemente conquistando coisas. Há crescentes evidências de que há ao menos dois tipos de motivações para a realização: uma focada em seus prazeres e benefícios, enquanto a outra foca na prova de autovalor e no recebimento de validação dos outros (Dykman, 1998). Essa segunda motivação é focada em ameaça e segurança, e quando as pessoas falham, elas não apenas ficam desapontadas, mas temem a ameaça da perda de recursos sociais, a marginalização e a rejeição (Gilbert, Broomhead, Irons, McEwan, Bellew, Mills, & Gale, 2007). Depue e Morrone-Strupinsky (2005) sugerem que a busca por status, a competitividade e a busca em evitar a rejeição estão todas ligadas a esse sistema de drive. Então, a TFC explorará as metas do paciente, as funções dessas metas e como ele reage se tropeça ou falha ao tentar atingi-las. Existem sentimentos de desapontamento ou um ataque mais agressivo ao self ou outros? Alguns indivíduos possuem uma meta de autoidentidade, ser “legal e gostado”. A função dessa meta é ganhar o afeto e evitar a rejeição e o conflito, mas se isso falha podem se tornar autocríticos. 3. Sistema de Contentamento, Segurança Social (social safeness) e Soothing Quando os animais não estão precisando atentar ou lidar com ameaças e perigos, e possuem recursos suficientes, eles podem tentar se tornar contentes ou entrar em estados de contentamento (Depue & Morrone-Strupinsky, 2005). As emoções positivas do sistema de contentamento são muito diferentes daquelas do sistema de drive, busca por recursos e excitação. O contentamento está associado com uma percepção de paz, bem- estar e tranquilidade – não buscar – e tem sido ligado a sistemas de endorfinas. O contentamento não é apenas a ausência de ameaça ou baixa atividade no sistema de ameaça. Em vez disso, é um sistema particular ligado a opiáceos que mediam os sentimentos de bem-estar e contentamento. Depue e Morrone-Strupinsky (2005) apontam que esse sistema foi significativamente desenvolvido na evolução do comportamento de apego. O comportamento de cuidado do pai/mãe e, em particular, a proximidade física possuem um efeito de soothing na fisiologia da criança. Assim, a TFC integra as descobertas e conceitos advindos da pesquisa em apego (Bowlby, 1973; Gilbert, 2005; Mikulincer & Shaver, 2007). Porges (2007) também escreveu extensivamente sobre a maneira como os sistemas nervosos simpático e parassimpático passaram por mudanças em mamíferos para permitir que eles se envolvam em relações interpessoais próximas e apaziguem (soothe) um ao outro. O ponto-chave é reconhecer a importância do comportamento de cuidado na estimulação do sistema de soothing e segurança social, e assim apaziguar a excitação e sofrimento relacionado a ameaças no indivíduo recipiente de cuidado. Trabalhos recentes demonstraram como o carinho-afiliação opera através de um sistema de opiáceos e oxitocina, sendo esta um neurohormônio ligado a sentimentos de afiliação, confiança e sentimentos de apaziguamento e calma dentro de relações interpessoais (Carter, 1998; Depue & Morrone-Strupinsky, 2005; Uväns-Morberg, 1998; Wang, 2005). Há crescente evidência de que a oxitocina (ligada a afiliação social) reduz a sensibilidade nos circuitos de medo na amigdala, especialmente aos estímulos socialmente ameaçadores (Kirsch, Esslinger, Chen et al, 2005). Gilbert (1989, 2005, 2007a, 2009a) referiu a esse sistema como um sistema de segurança social (social safeness) ligado ao afeto e gentileza com propriedades de soothing. O BÁSICO DA TFC E A NATUREZA DA COMPAIXÃO A TFC sugere que existam sistemas específicos em nossos cérebros que ajudam a regular o sistema de ameaça e também subjazem sentimentos de bem-estar e segurança. Para uma descrição facilitada,nós chamamos eles de sistema de soothing (ligado a endorfinas e oxitocina), apesar de a compaixão nem sempre ser baseada em soothing. Por vários motivos, esse sistema não parece acessível para alguns pacientes que encontram dificuldades em ter sentimentos de calor e gentileza por si mesmos ou estarem abortos à gentileza de outros. Às vezes, as pessoas possuem uma gama de crenças sobre compaixão como uma fraqueza ou que ela “apenas faz eu me sentir muito triste”. É importante, assim, que os terapeutas sejam aptos a trabalhar essas questões e focar na retomada deste sistema natural de regulação de soothing junto aos outros sistemas de regulação do afeto. A TFC busca fazer isso com o uso de exercício e orientação focados na compaixão. COMPAIXÃO A compaixão é uma área de pesquisa crescente e pode ser definida de muitas maneiras (Fehr, Sprecher & Underwood, 2009), sem uma definição comum a todos. A palavra na realidade vem do latim, significando “sofrer com”. O Dalai Lama (2001) define a compaixão como “uma sensibilidade ao sofrimento do self e dos outros, com um profundo compromisso para tentar aliviá-lo”. É importante o aspecto motivacional em “compromisso para tentar aliviá-lo”. Ademais, Buda defendeu que os esforços deveriam ser habilidosos, baseados em uma gama de maneiras bem-informadas, sábias e perspicazes de pensar, prestar atenção e agir (chamadas de caminho óctuplo). Como uma abordagem evolucionista-neurocientífica, a TFC encara nossa capacidade de compaixão como produto de nossas capacidades para o comportamento altruísta e de cuidado (Gilbert, 1989, 2005). O altruísmo torna possível um desejo de ajudar outros a atingir suas metas e aliviar o sofrimento. Crianças pequenas de 14-18 meses possuem um interesse inato em ajudar outros a atingir seus objetivos – independentemente das recompensas (Warneken & Tomasello, 2009). Quanto ao cuidado, a TFC se baseia no modelo de cuidado de Fogel, Melson e Mistry (1986) (Gilbert, 1989), que define os elementos nucleares do cuidado como: “...a provisão de orientação, proteção e cuidado com o propósito de fomentar a mudança desenvolvimental congruente com o potencial esperado de mudança do objeto do cuidado” (p. 55). Eles também sugerem que o cuidado envolve awareness da necessidade de ser cuidado, motivação ao cuidado, expressão de sentimentos de cuidado, compreensão do que é necessário de ser cuidado e a habilidade de responder a partir do feedback do impacto que o cuidado teve no outro. Gilbert (2000ab) defendeu que esses aspectos podem ser autodirecionados, não apenas direcionados a alvos externos. Então, o cuidado é um aspecto nuclear da compaixão, e problemas com qualquer uma dessas competências pode interferir com a compaixão nos relacionamentos – incluindo na relação terapêutica. A compaixão pode envolver uma série de sentimentos, pensamentos e comportamentos, como aqueles voltados ao cuidado, proteção, resgate, ensino, orientação, soothing e pode oferecer sentimentos de aceitação e pertencimento – para beneficiar o alvo do cuidado (Gilbert, 1989, 2007a, 2007b, 2010). Nesse sentido, ela pode ser considerada uma mentalidade social – enquanto uma mentalidade social pode ser definida como “a organização de competências e modos de nossas mentes, guiadas por motivações, para perseguir objetivos sociais”. Então, por exemplo, se um indivíduo está motivado a buscar um relacionamento sexual, essa motivação irá organizar o que prestaremos atenção, a maneira como pensamos e como nos comportamos. Essa organização das nossas mentes (ligada à mentalidade de busca por sexo) pode ser bem diferente daquela referente ao cuidado de (digamos) uma criança (o que envolveria uma mentalidade de cuidado). A mentalidade liga motivações a competências – tais como atenção e pensamento (veja Gumley et al, este volume, para mais exemplos). A meta da TFC é tentar ativar a mentalidade de cuidado via compaixão. Treino Multimodal da Mente Compassiva Figura 2. O Círculo da Compaixão: Os Atributos e Habilidades da Compaixão. Nota. De Gilbert (2007a). Reimpresso com permissão. Intervenções compassivas requerem um número de diferentes competências interdependentes e atributos. Para clarificar essas interdependências, elas podem ser representadas por dois círculos em interação, chamados de círculos da compaixão (Gilbert, 2005, 2009a). Esses elementos interconectados aprimoram uns aos outros. Todos são infundidos com um calor básico (em vez de, digamos, desapego frio). Eles são apresentados na Figura 2. Podemos distingui um círculo interno de atributos – os “o quês” da compaixão – e um círculo interno de habilidades. O círculo externo contém os “comos” para o círculo interno. Então, podemos aprender a direcionar nossa atenção compassivamente, pensar e raciocinar compassivamente, sentir compassivamente, se comportar compassivamente, gerar imagens compassivas e trabalhar para criar uma percepção corporal da compaixão. Formas de fazer essas coisas estão ainda sendo desenvolvidas e reconhecidas em outras abordagens. Exemplos são fornecidos na Tabela 1. TABELA 1. Exemplo de Atributos Compassivos e Habilidades Compassivas Atributos Compassivos Habilidades Compassivas 1. Desenvolver uma motivação para ser cuidadoso consigo e outros – reduzir o sofrimento e florescer. A “intencionalidade” e reconhecimento do valor do esforço para desenvolver compaixão é crucial e frequentemente precede os “sentimentos” de compaixão. 2. Desenvolver sensibilidade a sentimentos e necessidades de si e de outros (diferente de apenas estar ciente dessa vulnerabilidade, medos ou preocupações). 3. Desenvolver simpatia, estar tocado e emocionalmente conectado com os sentimentos do self e de outros (em contraste a estar desassociado, com raiva ou medo de nossos sentimentos). Também significa estar mais sensível às necessidades do crescimento – por exemplo, ajuda ou time out. 4. Desenvolver habilidades de tolerar em vez de evitar sentimentos, memórias ou situações difíceis (incluindo emoções positivas). 5. Desenvolver insight e compreensão como a nossa mente e a de outros funcionam; por que nós/eles sentimos/sentem o que sentimos/sentem. 6. Desenvolver uma orientação conosco e com outros baseadas em aceitação, não-condenação e não-submissão. 1. Aprender a focar deliberadamente nossa atenção em coisas que são úteis e levam a uma perspectiva equilibrada. Isso envolve “mindful awareness” e o desenvolvimento de atenção mindful – utilizar nossa atenção para trazer à mente imagens compassivas e/ou um senso de self úteis. Isso pode ajudar a desenvolver a tolerância emocional. 2. Aprender a pensar e raciocinar, “dando um passo para trás” e objetivamente olhar as evidências – trazendo uma perspectiva balanceada. Se utiliza diversas formas de escrita. 3. Aprender a planejar e se envolver em comportamentos que agem para aliviar o sofrimento e nos mover (e mover outros) em direção a objetivos de vida nossos (ou de outros), para florescer. 4. O comportamento compassivo pode envolver atos de gentileza a si ou outros, ou demonstrar gratidão e apreciação. Contudo, isso pode exigir coragem – reconhecimento de que a mudança pode ser dolorosa e difícil, mas estar preparado para se envolver nela. 5. Imagens mentais compassivas envolvem a criação de diversas imagens que buscam emoção e estados corporais compassivos – ela pode ser utilizada isoladamente, mas também para a realização de todas outras intervenções. Os atributos e habilidades da compaixão são coisasque podemos escolher desenvolver em nossas relações com outras pessoas, mas é importante também na nossa relação com nosso self. Quando ativa, a compaixão cria padrões em toda nossa mente; assim, é chamada de mente compassiva. As habilidades e práticas que utilizamos para treinar nossas mentes em compaixão são chamadas de treinamento da mente compassiva (TMC). Muitas intervenções da TFC utilizam intervenções da TCC tradicional como: encadeamento de inferências, resolução de problemas, diminuição da ruminação, geração de alternativas, análise de evidências, desenvolvimento de aceitação, exposição gradual, experimentos comportamentais, diminuição de comportamentos de segurança – para citar alguns. Essas são habilidades muito importantes que não são exclusivas da TFC; é o contexto e a maneira na qual elas são aplicadas que é distinto (Gilbert, 2010). Então, podemos contrastar diferentes tipos de mentalidade e “mentes”, por exemplo, mente focada na ameaça ou mente focada na compaixão, reconhecendo que mentes diferentes orientam nossa motivação, atenção, pensamento, comportamento, sentimentos, imagens e fantasias de maneiras muito diferentes. Isso pode ser ilustrado na Figura 3 – algo que se desenha junto ou se mostra ao cliente. USO DE IMAGEM MENTAL (COMPASSIVA) A imagística é crescentemente utilizada em uma série de terapias, incluindo terapias cognitivas, com o reconhecimento de que ela pode impactar em processos cognitivos (implícitos e explícitos), emocionais e fisiológicos. Por exemplo, Rein, Atkinson e McCraty (1995) descobriram que o direcionamento de pessoas em imagens mentais compassivas tinha efeitos positivos em um indicador de funcionamento imunológico (S- Iga), enquanto imagens de raiva tinham efeitos negativos. Práticas de compaixão por outros produzem mudanças no córtex frontal, sistema imune e bem-estar (Lutz, Brefczynski-Lewis, Johnstone & Davidson, 2008). Pace, Negi e Adame (2009) descobriram que a meditação compassiva (por seis semanas) melhora o funcionamento imunológico e respostas neuroendócrinas e comportamentais ao estresse. Mente Ameaçada Mente Compassiva AMEAÇA Atenção Pensamen to/raciocí nio Emoções Imagens / Fantasias Comporta -mentos Motivação COMPAI XÃO Atenção Pensamen to/raciocí nio Emoções Imagens / Fantasias Comporta -mentos Motivação Figura 3. Ajudando Pacientes a Distinguir Diferentes Tipos de Mente. Nota. De Gilbert (2010). Reimpresso por permissão. Existe uma vasta literatura sobre budismo Mahayana e vários tipos de imagens compassivas (Leighton, 2003; Vessantara, 1993). Contudo, no Ocidente, a forma mais comum de imagem mental compassiva tem sido tirada de tradições Theravada e em particular daquelas associadas com amor-bondade (Salzberg. 1995). Kabat-Zinn (2005, p. 285-296) fornece uma breve introdução e panorama sobre as meditações de amor- bondade, que podem envolver: lembrar de outros sendo gentil com você; lembrar de momentos quando você foi gentil com outros; e, se tiver dificuldades de lembrar outros sendo gentis com você, então imaginar figuras sendo gentis com você. A visualização de amor-bondade é atualmente utilizada de várias maneiras para a autoajuda (veja Germer, 2009; Salzberg, 1995). Muitas tradições de práticas espirituais e outras psicoterapias t~em focado em imagens interpessoais associadas com ser ajudado, gentil e encontrar um outro ou amigo sábio e apoiador e receber compaixão (Frederick & McNeal, 1999). Exercícios focados na compaixão e imagens mentais estimulam sistemas cerebrais particulares – especialmente o sistema afiliativo e de soothing (oxitocina-endorfina) (Longe et al, 2010; Rockliff et al, 2008). Em suas raízes, o TMC está interessado com a regulação fisiológica, utilizando exercícios para ajudar a trazer à tona tipos e padrões particulares de estados cerebrais, tais como a ativação da insula para permitir a empatia, que por sua vez permite aos pacientes o processamento da informação com compaixão empática. As pesquisas têm demonstrado que a insula (uma área cerebral importante para a empatia) é ativada quando as pessoas utilizam uma abordagem de autorreasseguramento e compaixão aos eventos ameaçadores – mas não quando elas tomam uma abordagem autocrítica (Longe et al, 2010). Na TFC, os terapeutas são mais mindful quanto aos sistemas cerebrais que precisam ser ativados (e como fazer isso), para processar a informação de maneiras que levem ao bem-estar e recuperação. Além disso, a TFC busca estimular tipos de afeto positivo que fomentam sentimentos de segurança, reasseguramento e bem-estar e aliviam a ativação de sistema de ameaça. Por exemplo, se a imagem compassiva é capaz de liberar oxitocina (e essa e uma pesquisa que ainda precisa ser feita), então, já que sabemos que a oxitocina ajuda a reduzir o processamento baseado em ameaça, a imagem compassiva pode ter efeitos fisiológicos diretos. Exercícios focados na compaixão podem ser orientados de quatro maneiras principais: Desenvolver o self compassivo interno: Nestes exercícios, nos focamos em criar uma percepção de se tornar um self compassivo, como atores fazem quando estão tentando entrar em um papel. Compaixão fluindo de você para outros: Nestes exercícios, nos focamos no preenchimento de nossas mentes com sentimentos compassivos por outras pessoas. Compaixão fluindo para dentro de você: Nestes exercícios, nos focamos em abrir nossas mentes para a compaixão de outros. Isso objetiva abrir a mente e estimular áreas de nossos cérebros que são responsivas à gentileza de outros. Compaixão para si: Está ligada ao desenvolvimento de sentimentos, pensamentos e experiências que são focadas na compaixão para si mesmo. A vida é geralmente muito difícil e aprender como gerar autocompaixão pode ser muito útil nesses momentos, particularmente para nos ajudar com nossas emoções. A ideia básica é de que é muito fácil ficar preso em ciclos de pensamento, imagens e sentimentos quando nos sentimentos ameaçados, ansiosos ou com raiva. Então, é útil aprender a praticar a criação de estados mentais (ativando sistemas em nossos cérebros) que podem regular o sistema de ameaça. Os clientes podem aprender a: 1. Aceitar sentimentos como são – em vez de tentar evita-los ou toma-los como intoleráveis, sobrecarregados ou assustadores. 2. Utilizar uma formulação evolucionista das razões pelas quais esses sentimentos existem: eles advêm em parte por conta de como nossos cérebros evoluíram. Logo, isso não é minha culpa – mas se pode aprender a tomar responsabilidade, aprendendo a regular os próprios sentimentos. 3. Aprender a ser compassivo e compreensivo consigo, despersonalizar e desenvergonhar (eu não sou o único), e alternar para um foco de compaixão se ameaçado. 4. Reconhecer o autocriticismo inútil e refocalizar para a autocompaixão ao se tornar ciente de que o autocriticismo foi ativado. 5. Reconhecer a ruminação inútil e substitui-la com foco compassivo útil e práticas ao se tornar ciente de que se adentrou um ciclo ruminativo. Um dos exercícios mais importantes é a prática de se imaginar como “uma pessoa compassiva”. Ele utiliza técnicas de “atuação” (Gilbert, 2009a). Utilizando a respiração em ritmo de soothing, focando na sabedoria interior (que advém da formulação e psicoeducação) e gerando gentileza, os pacientes tentam criar o estado mental de “uma pessoa compassiva”. Não importa se eles sentem que são ou não são compassivos, apenas que eles pratiquem – como um ator faria, para aprender um papel. A partir dessa posição, começamos a nos envolver comqualquer material que seja o foco do trabalho. Então, por exemplo, o indivíduo poderia imaginar ser uma pessoa compassiva e então mentalmente trabalhar um problema de ansiedade. Aqui nós entraríamos no modo/papel de self compassivo e visualizaríamos o envolvimento, a tolerância e o enfrentamento da ansiedade; imaginando a si mesmo sendo gentil e oferecendo apoio e encorajamento à imagem de si mesmo que existe mentalmente. Isso é similar ao processo utilizado na inibição recíproca – a criação de estados competitivos. Quando uma pessoa vê o problema “através dos olhos/mente do self compassivo”, vários aspectos da terapia, como a exposição e a mudança cognitiva, podem se tornar mais fáceis. O trabalho focado na compaixão é uma maneira de alternar, redirecionar, tomar controle e deliberadamente permitir a si mesmo se mover em direção a sistemas de emoção e sentimentos que podem estar causando problemas, mas também aqueles que conduzem ao bem-estar. Não é fácil, é claro, e requer prática. Figura 4. Demonstrando as Ligações entre a Ameaça e o Soothing. Nota. De Gilbert (2010). Reimpresso com permissão. MEDO DA COMPAIXÃO Apesar de eu ter apresentado o modelo básico, na realidade a maior parte do trabalho em casos complexos é referente ao medo da compaixão. O espaço não permite que entremos em detalhes sobre a natureza dessas intervenções, exceto que digamos que existem várias formas e funções do medo da compaixão. Para alguns, os sentimentos de compaixão reativam sentimentos de apego que se conectam a um senso de perda e luto (o que pode ser sobrecarregador) ou memórias de abuso que podem parecer assustadoras. Por vezes, as pessoas possuem pensamentos metacognitivos sobre a compaixão, de que é uma fraqueza ou que não merecem ela. Outras vezes, as pessoas possuem muita raiva não- processada, o que significa que elas não querem realmente ser compassivas – apesar das aparências externas. Veja Gilbert (2010) para uma maior discussão. PANORAMA A TFC sugere que não se pode apenas depender de refocalização de conteúdo ou desengajamento da ruminação ou aprendizagem de como enfrentar e aceitar emoções quando ajudamos as pessoas – nós devemos também ativar um importante sistema de regulação do afeto que evoluiu com o sistema de apego e está ligado a importantes neurohormônios que influenciam o sistema de ameaça. Logo, a TFC busca mecanismos-chave de mudança, como: 1. Desengajar de estimuladores (internos) de ameaça, por exemplo, a ruminação de autocriticismo ou raiva (mecanismo compartilhado com terapias metacognitivas e baseadas em mindfulness) e refocalizar para insights, sentimentos, pensamentos e comportamentos compassivos. 2. Ser capaz de se distanciar compassivamente das próprias tempestades internas de emoção e se tornar mais “observador e espectador” dos próprios pensamentos e sentimentos “à medida que surgem” (como nas terapias baseadas em mindfulness e aceitação). Possuir uma motivação compassiva pode ajudar nesse processo. 3. Estimular o regulador natural de ameaças no cérebro – o sistema de soothing, alternando para a refocalização e imagens compassivas. Isso também pode ajudar se estamos trabalhando com conteúdos cognitivos. 4. Ser capaz de se envolver com experiências internas aversivas, como memórias traumáticas ou emoções evitadas, primeiro desenvolvendo uma base interna de compaixão. EVIDÊNCIAS PARA O VALOR DA FOCALIZAÇÃO COMPASSIVA Fredrickson, Cohn, Coffey, Pek e Finkel (2008) alocaram 67 empregados da Compuware para um grupo de meditação de amor-bondade e 72 para um grupo-controle de lista de espera. Eles descobriram que sessões grupais semanais de uma hora e práticas em casa baseadas em um CD de meditações de amor-bondade (compaixão direcionada ao self, então outros, então estranhos) aumentaram emoções positivas, mindfulness, sentimentos de propósito na vida e apoio social e diminuíram sintomas de doenças. Hutchinson, Seppala e Gross (2008) descobriram que uma breve meditação de amor-bondade aumenta os sentimentos de conexão social a afiliação para com estranhos. Neff (2003) tem sido uma pioneira nos estudos da autocompaixão e tem demonstrado que ela pode ser diferenciada da autoestima, prediz alguns aspectos de bem- estar melhor que a autoestima (Neff & Vonk, 2009) e que a autocompaixão auxilia no enfrentamento de fracassos acadêmicos (Neff, Hsieh & Dejitterat, 2005). Achados parecidos foram reportados por Neely, Schallert, Mohammed, Roberts e Chen (2006). Como apontado, contudo, os conceitos de autocompaixão de Neff são diferentes dos da teoria evolucionista. A escrita de carta compassiva para si melhora o enfrentamento de eventos de vida e reduz depressão (Leary, Tate, Adams, Allen & Hancock, 2007). Em um pequeno estudo não-controlado com pessoas com problemas crônicos de saúde mental, o treino em compaixão reduziu significativamente a vergonha, o autocriticismo, a depressão e a ansiedade (Gilbert & Proctor, 2006). Também se descobriu que o treino em compaixão também foi útil para pessoas psicóticas que ouviam vozes (Mayhew & Gilbert, 2008). Em um estudo de TFC grupal para 19 clientes de uma instalação psiquiátrica de alta segurança, Laithwaite et al (2009; veja Gumley et al, este volume) descobriram “... uma grande magnitude de mudança nos níveis de depressão e autoestima... uma magnitude de mudança moderada foi encontrada na escala de comparação social e psicopatologia geral, com uma pequena magnitude de mudança para a vergonha, medida pela Other as Shamer Scale. Essas mudanças foram mantidas em um follow-up de seis semanas”. Finalmente, como será visto neste volume, os terapeutas de TFC estão tentando desenvolver uma base de evidências. Importantemente, a TFC não deseja ser outra tribo de psicoterapia, mas oferecer um modelo e intervenções que se baseiam em outras terapias e outras terapias podem utilizar, se acharem útil. Na TFC, nós consideramos que nossos modelos e compreensões de psicopatologias e nossas intervenções não deveriam estar enraizadas em uma única escola de psicoterapia ou processos psicológicos, mas sim clarificar uma ciência da mente integrativa que está aberta a todos – sujeita ao rigor e debate científico. CONCLUSÃO A TFC cresceu de dentro da TCC. Contudo, eu sempre tive um interesse e preocupação pela teoria evolucionista e a neurociência. Talvez mais nas tradições comportamentais e de condicionamento clássico, a TFC sugere que precisamos trabalhar diretamente com a emoção. Ela também sugere que são certos tipos de emoções positivas que são problemáticas às pessoas, especialmente aquelas ligadas à afiliação e afeto – ainda que elas sejam reguladores naturais dos sistemas de processamento de ameaça. A TFC sugere que quaisquer intervenções realizadas – seja cognitiva, comportamental, focada na emoçã ou no corpo – elas podem ser feitas mais efetivamente se os terapeutas estiverem certos de estar trabalhando com sistemas de compaixão. A falha em endereçar esses sistemas de processamento do afeto que fornecem os sentimentos de reasseguramento pode limitar a efetividade de algumas intervenções terapêuticas para algumas pessoas. Se envolver em intervenções “através dos olhos do self compassivo” pode contribuir para a efetividade da terapia. REFERÊNCIAS Baldwin, M.W. (1992). Relational schemas and the processing of social information. Psychological Bulletin, 112, 461-484. Baldwin, M.W. (Ed.). (2005). Interpersonal cognition. New York: Guilford. Baldwin, M.W., & Dandeneau, S.D. (2005). Understanding and modifying the relational schemas underlying insecurity. In M.W. Baldwin (Ed.), Interpersonal cognition (p.33 61). New York: Guilford. Beck, A.T. (1987). Cognitive models of depression. 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