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MOEDA FALSA – ARTIGO 289, CP. A. Bem Jurídico Tutelado É a fé pública. Trata-se da confiança estabelecida pela sociedade em certos símbolos ou signos, que, com o decurso do tempo, ganham determinada significação, muitas vezes impostas pelo Estado. B. Sujeito Ativo Qualquer pessoa. C. Sujeito Passivo É o Estado. D. Objeto É a moeda metálica ou papel-moeda. E. Conduta Típica Falsificar (produzir imitando ou imitar com fraude), fabricar (manufaturar ou cunhar) ou alterar (modificar ou adulterar) moeda metálica ou papel- moeda de curso legal no país ou estrangeiro. Incorrem ainda: importar, exportar, adquirir, vender, trocar, ceder, emprestar, guardar ou introduzir na circulação moeda falsa. E.1. Particularidade Exige-se que a reprodução imitadora seja convincente, pois se for grosseira e bem diversa da original não se configura o delito. Aliás, tratar-se-ia de crime impossível (objeto absolutamente impróprio). Entretanto, se o agente conseguir ludibriar a vítima, com uma falsificação grosseira qualquer, obtendo vantagem, pode-se, conforme a situação concreta, tipificar o crime de estelionato. F. Elemento Subjetivo É o dolo. G. Consumação/Tentativa A consumação se dá quando a moeda (papel ou metal) for falsificada, fabricada ou alterada, além das outras condutas descritas no tipo, independentemente de qualquer resultado naturalístico. A tentativa é admissível na forma plurissubsistente. H. Ação Penal Pública incondicionada. I. Competência É de competência da Justiça Federal, pois somente a União controla a emissão de moeda. I.1. ATENÇÃO!!! Se tipificado como estelionato, conforme salientado no item E.1, a competência será da Justiça Estadual (Súmula 73 do STJ: “A utilização de papel-moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual”). J. Figura Privilegiada e Qualificada J.1. Privilegiada Pune-se com detenção, de seis meses a dois anos, e multa, quem, tendo recebido (aceitado ou tomado como pagamento) de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui (devolve) à circulação, depois de conhecer (ter informação ou saber) a falsidade. J.2. Qualificada Pune-se com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou diretor, gerente ou fiscal de banco de emissão que fabrica (manufatura ou cunha), emite (põe em circulação) ou autoriza (dá permissão para manufaturar ou para colocar em circulação) a fabricação ou emissão de moeda com título (é o texto contido na liga metálica) ou peso (é o produto da massa de um corpo conforme a aceleração da gravidade, passível de determinação em medidas; aplica-se à moeda metálica, que possui peso determinado em lei) inferior ao determinado em lei ou de papel-moeda em quantidade superior à autorizada (há um limite para a fabricação ou emissão de papel-moeda, controlado pelo Conselho Monetário Nacional e pelo Banco Central). Nas mesmas penas incorre quem desvia (muda a direção ou afasta de determinado ponto) e faz circular (promove a propagação ou coloca em curso) moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO – ARTIGO 297, CP. A. Bem Jurídico Tutelado É a fé pública. Trata-se da confiança estabelecida pela sociedade em certos símbolos ou signos, que, com o decurso do tempo, ganham determinada significação, muitas vezes impostas pelo Estado. B. Sujeito Ativo Qualquer pessoa. C. Sujeito Passivo É o Estado. Secundariamente, pode ser a pessoa prejudicada pela falsificação. D. Objeto É o documento público. E. Conduta Típica Falsificar (reproduzir, imitando), no todo ou em parte, documento público (é o escrito, revestido de certa forma, destinado a comprovar um fato, desde que emanado de funcionário público, com competência para tanto; pode provir de autoridade nacional ou estrangeira, respeitada a forma legal prevista no Brasil, abrangendo certidões, atestados, traslados, cópias autenticadas e telegramas emitidos por funcionários públicos, atendendo ao interesse público), ou alterar (modificar ou adulterar) documento público verdadeiro (se construir documento novo, incide na primeira figura; caso modifique um verdadeiro, já existente, é aplicável esta figura). Incorre ainda: quem insere (introduz ou coloca) ou faz inserir (permite que outrem introduza ou coloque) na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório; na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado escrita; em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado (§ 3.º). Ainda, quem omite (deixa de inserir), nos documentos mencionados no § 3.º, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços (§ 4.º). Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular (§ 2.º). E.1. Particularidade 1) exige-se a potencialidade lesiva do documento falsificado ou alterado, pois a contrafação ou modificação grosseira, não apta a ludibriar a atenção de terceiros, é inócua para esse fim. Trata-se de crime impossível 2) é um delito de perigo abstrato, como os demais crimes de falsificação. Assim, para configurar risco de dano à fé pública, que é presumido, basta a contrafação ou modificação do documento público. Tal posição não afasta a possibilidade de haver tentativa, desde que se verifique a forma plurissubsistente de realização do delito. O fato de alguém manter guardado um documento que falsificou pode configurar o tipo penal, uma vez que não é impossível que, algum dia, venha ele a circular e prejudicar interesses. 3) é necessário exame de corpo de delito (perícia) para a prova da existência do crime, pois é infração que deixa vestígios. 4) aplica-se a Súmula 17 do Superior Tribunal de Justiça: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”. 5) quando houver concurso entre falsificação e uso de documento falso, implica no reconhecimento de uma autêntica progressão criminosa, ou seja, falsifica-se algo para depois usar. Deve o sujeito responder somente pelo uso de documento falso, pois o fato antecedente não é punível. 6) a falsificação de atestado ou certidão emitida por escola configura a falsidade de documento público e não o delito do art. 301 (certidão ou atestado ideológica ou materialmente falso). Este último tipo penal prevê que o atestado ou a certidão seja destinado à habilitação de alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou serviço público ou qualquer outra vantagem semelhante, o que não é necessariamente a finalidade do atestado ou da certidão escolar. 7) em confronto com o art. 49 do Decreto-lei 5.452/43 (CLT), se a falsidade gerada na Carteira de Trabalho e Previdência Social disser respeito ou produzir prejuízo no cenário dos direitos trabalhistas do empregado, aplica- se o mencionado art. 49. Porém, se a referida falsidade voltar-se ao contexto da Previdência Social, aplica-se o disposto no art.297, § 3.º, II, do CP. Afinal, cada um dos tipos penais tutela objeto jurídico diverso (direito do trabalhador versus direito relativo à Previdência Social). 8) há muito se distinguem os termos falsidade e falsificação. O primeiro liga-se a um valor neutro, aplicável às pessoas; o segundo vincula-se às ações. A falsificação demanda a prévia existência de um documento ou de um objeto verdadeiro, que, mediante certos procedimentos, se altera ou se falsifica, tornando-o inverdadeiro. A falsidade indica, ao contrário, a afirmação de um fato ou a execução de um ato, nos quais não se expressa a verdade. As condutas de falsificação supõem uma intervenção material no objeto alterado, enquanto a falsidade constitui uma atitude intelectual, declarando o falso no lugar do verdadeiro (cf. Muñoz Conde, Derecho penal – parte especial, p. 672). No direito brasileiro, como se pode observar no Código Penal, os tipos são divididos entre falsificações e falsidades. Às primeiras, reserva-se a classe da material; às segundas, a intelectual ou ideológica. F. Elemento Subjetivo É o dolo. G. Consumação/Tentativa A consumação se dá quando qualquer das condutas previstas no tipo for praticada, independentemente de resultado naturalístico, consistente em efetiva concretização de prejuízo material para o Estado ou para o particular. A tentativa é admissível. H. Ação Penal Pública incondicionada. I. Causa de Aumento de Pena A pena é aumentada de um sexto se o agente for funcionário público, valendo-se das facilidades permitidas pelo seu cargo ou função. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR – ARTIGO 298, CP. A. Bem Jurídico Tutelado É a fé pública. Trata-se da confiança estabelecida pela sociedade em certos símbolos ou signos, que, com o decurso do tempo, ganham determinada significação, muitas vezes impostas pelo Estado. B. Sujeito Ativo Qualquer pessoa. C. Sujeito Passivo É o Estado. Secundariamente, pode ser a pessoa prejudicada pela falsificação. D. Objeto É o documento particular. O documento particular, por exclusão, é aquele que não se enquadra na definição de público, isto é, não emanado de funcionário público ou, ainda que o seja, sem preencher as formalidades legais. E. Conduta Típica Falsificar (reproduzir, imitando), no todo ou em parte, documento particular (é todo escrito, produzido por alguém determinado, revestido de certa forma, destinado a comprovar um fato, ainda que seja a manifestação de uma vontade). O documento público, emitido por funcionário sem competência a tanto, pode equiparar-se ao particular, ou alterar (modificar ou adulterar) documento particular verdadeiro. E.1. Particularidade 1) exige-se a potencialidade lesiva do documento falsificado ou alterado, pois a contrafação ou modificação grosseira, não apta a ludibriar a atenção de terceiros, é inócua para esse fim. Eventualmente, pode se tratar de estelionato, quando, a despeito de grosseiramente falso, tiver trazido vantagem indevida, em prejuízo de outra pessoa, para o agente. 2) o cheque somente deve ser considerado como documento particular quando já tiver sido apresentado ao banco e recusado por falta de fundos, visto não ser mais transmissível por endosso. 3) fotocópias sem autenticação, documentos impressos sem assinatura ou documentos anônimos não podem ser considerados documentos particulares para os efeitos deste artigo. 4) é um delito de perigo abstrato, como os demais crimes de falsificação. Assim, para configurar risco de dano à fé pública, que é presumido, basta a contrafação ou modificação do documento público. Tal posição não afasta a possibilidade de haver tentativa, desde que se verifique a forma plurissubsistente de realização do delito. O fato de alguém manter guardado um documento que falsificou pode configurar o tipo penal, uma vez que não é impossível que, algum dia, venha ele a circular e prejudicar interesses. 5) há muito se distinguem os termos falsidade e falsificação. O primeiro liga- se a um valor neutro, aplicável às pessoas; o segundo vincula-se às ações. A falsificação demanda a prévia existência de um documento ou de um objeto verdadeiro, que, mediante certos procedimentos, se altera ou se falsifica, tornando-o inverdadeiro. A falsidade indica, ao contrário, a afirmação de um fato ou a execução de um ato, nos quais não se expressa a verdade. As condutas de falsificação supõem uma intervenção material no objeto alterado, enquanto a falsidade constitui uma atitude intelectual, declarando o falso no lugar do verdadeiro (cf. Muñoz Conde, Derecho penal – parte especial, p. 672). No direito brasileiro, como se pode observar no Código Penal, os tipos são divididos entre falsificações e falsidades. Às primeiras, reserva-se a classe da material; às segundas, a intelectual ou ideológica. 6) equipara-se a documento particular o cartão de crédito ou débito. F. Elemento Subjetivo É o dolo. G. Consumação/Tentativa A consumação se dá quando qualquer das condutas previstas no tipo for praticada, independentemente de resultado naturalístico, consistente em efetiva concretização de prejuízo material para o Estado ou para o particular. A tentativa é admissível. H. Ação Penal Pública incondicionada. I. Competência É de competência da Justiça Federal, pois somente a União controla a emissão de moeda. FALSIDADE IDEOLÓGICA – ARTIGO 299, CP. A. Bem Jurídico Tutelado O bem jurídico penalmente tutelado é a fé pública, em relação à veracidade do conteúdo dos documentos em geral. B. Sujeito Ativo A falsidade ideológica é crime comum ou geral, podendo ser cometido por qualquer pessoa. C. Sujeito Passivo É o Estado e, mediatamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada pela conduta criminosa. D. Conduta Típica Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir que fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia. ser. escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. E. Elemento Subjetivo O dolo, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), representado pela expressão "com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante". Como o dolo abrange a ciência da falsidade da declaração, não há crime quando o particular presta declaração perante o funcionário público desconhecendo sua falsidade. Todavia, se o funcionário público perceber a falsidade e elaborar o documento, somente ele será responsabilizado pelo delito, em face do seu dever legal ele impedir a inserção de declaração falsa em documento público, com fundamento no art. 13, § 2.º, a, do Código Penal. Não se admite a modalidade culposa. F. Consumação/Tentativa Trata-se de crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado. Consuma-se com a omissão, em documento público ou particular, da declaração que dele devia constar, ou então com a inserção em tais objetos, direta ou determinada por outrem, da declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Na modalidade omissiva - "omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar" - não se admite o conatus. Cuida-se, nessa hipótese, de crime omissivo próprio ou puro, e unissubsistente. Como o tipo penal descreveurna omissão, ou o sujeito omite a declaração, e o delito estará consumado, ou corretamente efetua a declaração, e seu comportamento será indiferente ao Direito Penal. Todavia, nas modalidades comissivas ··· "inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita'· -- a tentativa é cabível, em face do caráter plurissubsistente do delito, permitindo o fracionamento do inter criminis. G. Ação Penal A ação penal é pública incondicionada H. Competência Via de regra, é de competência da Justiça Estadual. Contudo, será competente a Justiça Federal quando o crime for praticado em detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, nos termos do art. 109, inc. IV, da Constituição Federal, a exemplo da conduta cometida no âmbito da Justiça do Trabalho. I. Formas Agravadas Art. 299, parágrafo único: Corno preceitua o parágrafo único do art. 299 do Código Penal: "Se o agente é funcionário público e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte. São causas de aumento da pena, suscetíveis de aplicação na terceira e derradeira etapa ela dosimetria da pena privativa ele liberdade, em compasso com o critério trifásico acolhido pelo art. 68, caput, do Código Penal. A falsidade ideológica é crime comum ou geral. Todavia, se o sujeito ativo for funcionário público, e cometer o crime prevalecendo-se do cargo (requisitos cumulativos), a pena será aumentada de sexta parte. USO DE DOCUMENTO FALSO – ARTIGO 304, CP. A. Bem Jurídico Tutelado O bem jurídico penalmente tutelado é a fé pública, relativamente à proibição do emprego de documentos falsificados ou alterados. B. Sujeito Ativo Pode ser qualquer pessoa (crime comum ou geral), exceto aquela de qualquer modo envolvida na falsificação do documento, que somente responde pelo crime antecedente. Anote-se que não há concurso ele pessoas entre o responsável pela falsificação ou alteração e o usuário cio documento falso, pois o Código Penal elenca crimes diversos para cada um dos sujeitos. Nessa seara, o sujeito que concorreu de qualquer medo para a falsificação do documento (exemplo: solicitando a um "especialista" sua contra razão) e posteriormente em a utilizá-lo, deve ser tratado corno coautor ou partícipe do crime anterior (falsificação de documento público ou particular, falsidade de atestado médico etc.),e não como autor do delito de uso de documento falso, em face da regra contida no art. 29, caput, do Código Penal: "Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade” C. Sujeito Passivo É o Estado e, mediatamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada pela conduta criminosa. D. Conduta Típica Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados a que se referem os arts. 297 a 302. E. Elemento Subjetivo É o dolo, direto ou eventual. O dolo deve abranger o conhecimento da falsidade do papel utilizado pelo agente. Não há crime, portanto, quando alguém usa documento falso ignorando sua origem ilícita. Exemplo: "A" comparece à Polícia Federal e apresenta a documentação exigida para obtenção de passaporte, efetuando inclusive o pagamento da taxa respectiva. Dias depois, retira o documento e se dirige ao aeroporto para viagem internacional. Entretanto, "A" vem a ser abordado ao passar pela alfândega, em face da falsidade ele seu documento. Durante o inquérito policial, a autoridade policial apura a existência de organização criminosa, envolvendo diversos agentes federais, que subtraíram diversos passaportes, inclusive o de "A ", substituindo-os por réplicas, para vendê-los a contrabandistas. Nesse caso, o fato é atípico, em razão da ausência de dolo. Entretanto, se o agente, após descobrir a falsidade do documento, continuar a usá-lo estará configurado o crime definido no art. 304 do Código Penal. Não se exige qualquer finalidade específica, e não há espaço para a modalidade culposa. F. Consumação/Tentativa Trata-se de crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado consuma-se com a efetiva utilização, ainda que por uma única vez, de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302 do Código Penal, independentemente ela obtenção ele qualquer vantagem ou da causação de prejuízo a alguém. A perícia acerca da falsidade do documento, embora recomendável no caso concreto, é prescindível para a comprovação da materialidade do fato. Na visão do Superior Tribunal de Justiça. O conatus será cabível nas hipóteses em que a conduta for composta de diversos atos (crime plurissubsistcnte), comportando o fracionamento do iter criminis. De outro lado, não será admissível a tentativa nos casos cm que a conduta integrar-se de um único ato (crime unissubsistente). No entanto, existem entendimentos em contrário sustentando a incompatibilidade da tentativa no crime de uso documento falso. Destaca-se a opinião de, Nelson 1-Iungna, para quem "qualquer começo de uso já é uso". G. Ação Penal A ação penal é pública incondicionada. H. Competência Em regra, o crime de uso de documento falso é de competência da Justiça Estadual. Será competente a Justiça Federal, entretanto, na hipótese de utilização de documentos federais falsificados ou alterados, e também quando o delito for praticado em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, com fulcro no art. 109, inc. IV, da Constituição Federal, a exemplo da apresentação de CRLV -· Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo - à Polícia Rodoviária Federal, bem como de carteira de trabalho e previdência social com anotações falsas cm ação previdenciária, objetivando a obtenção de benefício previdenciário junto ao INSS (autarquia federal). I. Uso de documento falso Unidade e pluralidade de crimes. J. Duas Situações Devem Ser Diferenciadas J.1. Uso de vários documentos falsos no mesmo contexto fático Nessa hipótese, estará configurado um único crime, em razão ela unidade de lesão à fé pública. J.2. Uso de documento falso cm contextos distintos Se o sujeito usar um documento, ou vários documentos, em momentos diferentes e para finalidades diversas, estará caracterizada a continuidade delitiva, se presentes os requisitos elencados pelo art. 71, c11p111, do Código Penal, ou então o concurso material (CP, art. 69), em caso contrário. K. Particularidades K.1. Falsificação ou alteração do documento e uso pela mesma pessoa Conflito aparente de normas penais e solução Se o usuário do documento falsificado ou alterado é o próprio falsificador, deve ser a ele imputado somente o crime de falsificação. De fato, o uso do documento falso desponta como post factum impunível, pois a falsidade documental já traz em seu bojo o dano potencial que o uso busca tomar efetivo. Vale lembrar, o dano potencial é suficiente para caracterização dos crimes contra a fé pública, entre eles o uso de documento falso. A utilização do documento falso constitui-se em consectário lógico do crime antecedente, pois é evidente que os documentos são falsificados para uso posterior. Destarte, inexiste nova afronta ao bem jurídico protegido, qual seja, a fé pública. O conflito aparente ele normas penais é resolvido pelo princípio da consunção, afastando o bis in idem, pois o falsificadornão pode ser duplamente punido. K.2. Confronto entre uso de documento falso e exercício da autodefesa O princípio da ampla defesa, consagrado como cláusula pétrea no art. 5.", inc.LV, da Constituição Federal, no âmbito penal compreende a defesa técnica de incumbência do defensor constituído ou dativo, e também a autodefesa, exercida pelo próprio acusado (suspeito, indiciado, réu, condenado etc., variando a terminologia em conformidade com o momento da persecução penal). E, no terreno da autodefesa, surge uma indagação: Constitui crime o uso de documento falso por alguém com o propósito ele acobertar antecedentes criminais ou evitar qualquer medida coercitiva, tal como a prisão em flagrante ou em cumprimento de ordem judicial? Em outras palavras, o exercício ela autodefesa vai a ponto de permitir o uso de documentos falsos? Para o Supremo Tribunal Federal, a autodefesa não é ilimitada, pois a ninguém é assegurado o direito de se valer de meios ilícitos para a salvaguarda de interesses pessoais. K.3. A problemática inerente à permissão para dirigir e à Carteira Nacional de Habilitação Se o documento falso consistir na Permissão para Dirigir ou na Carteira Nacional ele Habilitação, e o agente encontrar-se na condução de veículo automotor, estará caracterizado o crime definido no art. 304 do Código Penal, cm face da regra contida no art. 159, § !.º, da Lei 9.503/1997 - Código de Trânsito Brasileiro: "É obrigatório o porte da Permissão para Dirigir ou da Carteira Nacional de Habilitação quando o condutor estiver à direção do veículo". K.4. Apresentação do documento falso em virtude de solicitação da autoridade pública. A apresentação de documento falso em atendimento á solicitação (ou exigência) da autoridade pública importa na prática do crime tipificado no art. 304 do Código Penal') Embora existam entendimentos em contrário, temos como irrelevante questionar se o sujeito usou o documento falso espontaneamente ou com atendimento à solicitação (ou exigência) da autoridade pública. Em qualquer caso, deve ele ser responsabilizado pelo crime delineado no art. 304 do Código Penal. FALSA IDENTIDADE – ARTIGO 307, CP. A. Bem Jurídico Tutelado O bem jurídico penalmente tutelado é a fé pública no tocante à credibilidade depositada pela sociedade na identificação das pessoas em geral. B. Sujeito Ativo Pode ser qualquer pessoa (crime comum ou geral). C. Sujeito Passivo É o Estado e, mediatamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada pela conduta criminosa. D. Conduta Típica Atribuir-se a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem. E. Elemento Subjetivo É o dolo, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico) representado pela expressão "para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a nutrem". A vantagem legalmente exigida pode ser econômica ou de qualquer natureza (moral, política etc.). Se não é buscada nenhuma vantagem, o fato é atípico. No campo da vantagem econômica (ou patrimonial), cumpre mencionar que, se for obtida mediante fraude, induzindo ou mantendo alguém em erro, e causar prejuízo a alguém, estará caracterizado o crime de estelionato (CP. art. 171, caput), afastando-5e a falsa identidade, em decorrência da sua subsidiariedade expressa. F. Consumação /Tentativa A falsa identidade é crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado: consuma-se com a conduta de atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade, independentemente da obtenção ele vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou da causação de dano a outrem. A tentativa é possível, nas hipóteses em que a falsa identidade se apresentar como crime plurissubsistente, comportando o fracionamento do iter criminis. Contudo, não será cabível o conatus nos casos em que a conduta se compõe de um único ato (crime unissubsistente}, impossibilitando a divisão do iter criminis. Em situações deste jaez, ou o agente atribui a si próprio ou a terceiro a falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem, e o delito estará consumado, ou deixa ele fazê-lo, e não haverá crime algum. G. Ação Penal Ação penal é pública incondicionada. H. Competência A falsa identidade é de competência do Juizado Especial Criminal. I. Subsidiariedade Expressa Falsa identidade é crime expressamente subsidiário, pois o preceito secundário do art. 307 comina a pena de detenção, de três meses a um ano ou multa, “ se o fato não constitui elemento de crime mais grave" J. Falsa Identidade e Uso de Documento Falso: Distinção A falsa identidade e o uso ele documento falso (CP, art. 304), situados no Título X da Parte Especial do Código Penal - Crimes contra a fé pública -, não se confundem. De fato, aquele se insere no Capítulo V ("De outras falsidades"), enquanto este figura no Capítulo IIl ("Da falsidade documental"). Mas as diferenças vão além. O crime definido no art. 307 do Código Penal consiste na simples atribuição de falsa identidade, sem a utilização de documento falso. Com efeito, se houver o emprego de documento falsificado ou alterado, estará configurado o crime tipificado no art. 304 do Código Penal, afastando-se o delito de falsa identidade, em razão da sua subsidiariedade expressa. K. Particularidades K.1. A questão inerente ao silêncio daquele a quem foi atribuída falsa identidade. O núcleo do tipo é "atribuir", indicativo da atuação positiva (comissiva) do agente. Destarte, é fundamental a imputação a si próprio ou a terceiro de falsa identidade, para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem. Consequentemente, não se caracteriza o delito quando alguém silencia ou deixa ele negar a falsa identidade a ele atribuída por terceiro. Para Damásio E. de Jesus: "Não comete crime quem silencia a respeito da errônea identidade que lhe é atribuída. Dessa forma, inexiste delito na conduta de quem, confundido com terceiro, não esclarece ao interlocutor sua verdadeira identidade" K.2. Cotejo entre falsa identidade e exercício da autodefesa. No campo ela autodefesa, surge uma relevante discussão: Pratica o crime tipificado no art. 307 do Código Penal o sujeito que atribui a si próprio falsa identidade para ocultar antecedentes criminais desfavoráveis ou afastar alguma medida coercitiva, a exemplo da prisão em flagrante ou em cumprimento de ordem judicial? Em síntese, o exercício da autodefesa é compatível com a atribuição de falsa identidade? Para o Supremo Tribunal Federal, a autodefesa não vai a ponto de deixar impune a prática de fato descrito como crime, no qual há dolo de lesar a fé pública. Destarte, aplica-se o delito tipificado no art. 307 do Código Penal à pessoa que, ao ser presa ou mesmo interrogada pela autoridade policial ou judicial, identifica-se com nome falso, com a finalidade de esconder seus maus antecedentes ou alguma medida coercitiva em seu desfavor. É também o entendimento cio Superior Tribunal de Justiça, consolidado na Súmula 522: "A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa". JURISPRUDÊNCIAS Ementa Processual Penal. Competência. Moeda falsa. Falsificação grosseira. Estelionato. Tratando-se de falsificação grosseira, incapaz de enganar o homem comum, o crime se caracteriza como o de estelionato e, não o de moeda falsa,sendo pois competente o juízo estadual comum. Conflito conhecido, para declarar competente o Juiz de Direito da Divisão de Processamento de Inquéritos Policiais de São Paulo, o suscitado. Ementa JUSTA CAUSA. FALSIDADE IDEOLÓGICA. A falsidade ideológica (adulteração do prazo de licença médica consignado em atestado médico) sujeita o empregado à dispensa por justa causa. Vistos, (TRT-24 00014803620125240022, Relator: JÚLIO CÉSAR BEBBER, 1ª TURMA, Data de Publicação: 13/02/2014) Ementa FALSA IDENTIDADE. ATIPICIDADE. AUTODEFESA. ABSOLVIÇÃO. 1) É ATÍPICA A CONDUTA DE ATRIBUIR-SE FALSA IDENTIDADE NA DELEGACIA DE POLÍCIA, OBJETIVANDO ENCOBRIR ANTECEDENTES CRIMINAIS E DIFICULTAR A APURAÇÃO DE CRIME. 2) PRECEDENTES DO STJ E TJDFT. 3) RECURSO PROVIDO. (TJ-DF - APJ: 20050310247127 DF, Relator: FÁBIO EDUARDO MARQUES, Data de Julgamento: 20/03/2007, Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do D.F., Data de Publicação: DJU 12/04/2007 Pág.: 121) Ementa USO DE DOCUMENTO FALSO. ABSOLVICÃO. USO DE DOCUMENTO FALSO. ABSOLVICÃO. USO DE DOCUMENTO FALSO. ABSOLVICÃO. USO DE DOCUMENTO FALSO.- ABSOLVICÃO. PRECARIEDADE DA PROVA, Deve ser confirmada a sentença condenatória quando a prova não deixa dúvida de que o agente utilizou documento falso para a prática do crime. Recurso improvido. (TJ-RJ - APL: 00096299120038190000 RIO DE JANEIRO MADUREIRA REGIONAL 2 VARA CRIMINAL, Relator: VALMIR DOS SANTOS RIBEIRO, Data de Julgamento: 28/08/2003, OITAVA CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 07/10/2003) https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista- sumulas-2009_5_capSumula73.pdf https://trt-24.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/417403268/14803620125240022 https://tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/2724952/apj-20050310247127-df https://tj-rj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/419832388/apelacao-apl- 96299120038190000-rio-de-janeiro-madureira-regional-2-vara-criminal Masson, Cléber Rogério. Direito Penal. Parte Especial. V3. Fonte: Cleber Masson Direito Penal volume 3-Parte Especial (arts 213 a 359-H) esquematizado
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