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Este documento se trata de uma tradução não-profissional do capítulo “Emotional Memory, Mindfulness and Compassion”, de Paul Gilbert e Dennis Tirch, publicado no livro “Clinical Handbook of Mindfulness” (2009), editado por Fabrizio Didonna. A tradução foi realizada por Carlos Alberto Dorneles Nonnenmacher, estudante de Psicologia da Universidade Feevale. A tradução visa apenas a divulgação do conhecimento científico, da TFC e TCC. Qualquer consideração: carlosdornelesn@gmail.com. Clinical Handbook of Mindfulness, capítulo 6, p. 99-110, 2009 MEMÓRIA EMOCIONAL, MINDFULNESS E COMPAIXÃO Paul Gilbert e Dennis D. Tirch Mas quando o universo se torna seu self, quando você ama o mundo como a si mesmo, toda a realidade se torna seu refúgio, reinventando você como seu próprio paraíso. Lao Tzu, traduzido por Ralph Alan Dale Tao Te Ching Memória Emocional, Mindfulness e Compaixão Este capítulo considera o papel que mindfulness e compaixão podem ter ao ajudar pessoas que vieram de contextos difíceis e traumáticos. Esses indivíduos frequentemente têm uma percepção de ameaça realmente elevada – tanto externas (o que outros podem pensar de si) e internas (sentir-se sobrecarregado por memórias ou sentimentos aversivos; ou seu próprio desgosto/desprezo para consigo). A perspectiva básica é de que uma história traumática sensibiliza as pessoas a se tornarem excessivamente dependentes do processamento de seus sistemas de ameaça. Para explorar isso mais profundamente, precisamos delinear brevemente a ideia de que o cérebro evoluiu de diferentes tipos de sistemas de regulação de afeto- comportamento (Panskepp, 1998). Esses sistemas coordenam a atenção, pensamentos, emoções e ações. Uma maneira de conceitualizar essas regulações do afeto é como sistemas básicos (Depue & Morrone-Strupinsky, 2005). Eles são: (1) sistema de ameaça- proteção, (2) sistema de drive, busca e recompensa e (3) um sistema de contentamento- apaziguamento (contentment-soothing system). Esses sistemas estão em constante co- regulação e são demonstrados na Figura 6.1. Várias outras subdivisões têm sido sugeridas e descritas (Panskepp, 1998), mas a abordagem dos três sistemas oferece uma heurística útil para a terapia focada na compaixão (Gilbert, 2005, 2007a, b). Visto dessa forma, nosso sistema de ameaça pode ser visto como possuidor de certas emoções defensivas (por exemplo, raiva, ansiedade e nojo), uma gama de opções comportamentais (por exemplo, luta, fuga, congelamento e submissão; Marks, 1987) e vários vieses atencionais e de processamento baseado em “melhor prevenir do que remediar” (better safe than sorry) (Gilbert, 1998). Há claramente também sistemas fisiológicos que subjazem o sistema de ameaça (LeDoux, 1998). Uma vez ativado, ele cria vários padrões fisiológicos no corpo, associados a experiências sentidas que direcionam o pensamento e as tendências das ações. O sistema de drive, por outro lado, nos orienta para coisas que são recompensadoras (por exemplo, comida, sexo, dinheiro e status). Ele está associado com afetos de excitação, ligados a afetos positivos. Em contraste, o “sistema de contentamento” permite que os animais fiquem calmos quando não precisam adquirir recursos e não estão sob nenhuma ameaça. Esse sistema parece estar associado com uma percepção de bem-estar (apaziguador/soothing) pacífico. Durante a evolução, o sistema de contentamento evoluiu para um sistema de soothing que pode ser ativado por estímulos sociais de afeição, amor e cuidado (Carter, 1998; Depue & Morrone-Strupinsky, 2005). O desenvolvimento, coordenação e co-regulação desses três sistemas básicos dependem de interações entre genética-aprendizagem. De fato, organismos biológicos são projetados para serem mudados e moldados por experiências de vida. Experiências diferentes encorajam e fortalecem algumas conexões neuronais e enfraquecem outras (LeDoux, 2002). Por exemplo, atualmente é sabido que contextos de vida duros, negligentes e/ou abusivos têm maior impacto na maturação do cérebro de crianças pequenas, especialmente naquelas áreas que regulam emoções, como as conexões entre o córtex pré-frontal (PFC) e a amígdala (Cozolino, 2007; Schore, 1994; Siegel, 2001). As experiências de vida são codificadas como memórias emocionais, ligadas a sensibilização sináptica em um nível – através de sistemas cerebrais complexos dedicados a diferentes tipos e formas de memória – bem como memória episódica, semântica, de curto e longo prazo (LeDoux, 2002). Compreender a maneira como as experiências moldam as várias sensibilidades em sistemas de ameaça e afeto positivo e em memórias emocionais é importante, pois sabemos que os transtornos emocionais estão relacionados a sensibilizações afetivas precoces e memórias emocionais. De fato, alguns terapeutas posicionam a ativação de memórias emocionais, tanto em nível implícito quanto explícito, no centro de psicopatologias (Brewin, 2006). Teóricos psicodinâmicos (Greenberg & Mitchell, 1983) e comportamentais (Ferster, 1973) muito já argumentaram que as memórias emocionais, associações e condicionamento não precisam ser conscientes, mas ainda são altamente influentes na forma como as pessoas processam e respondem a eventos e situações de vida. Figura. 6.1. Tipos de sistemas de regulação de afeto. A maioria das pessoas que experiencia problemas psicológicos que requerem algum tipo de intervenção se sente sob ameaça em vários aspectos de suas vidas (por exemplo, em relacionamentos sociais) ou em suas experiências internas (por exemplo, estar sobrecarregado por emoções ou memórias ou pensamentos negativos, ruminativos). Assim, depressão, ansiedade, paranoia, transtorno alimentar, fobias, TEPT e TOC são todos relacionadas ao processamento focado em ameaças e esforços para regular a ameaça e estar seguro. Dessa forma, a maioria das psicoterapias busca ajudar as pessoas a reconhecer as fontes primárias e atuais da sensibilidade elevada a ameaça e perda, vários pensamentos e sentimentos que automaticamente “pipocam na cabeça”, suas várias Foco em incentivos/recursos Busca e ativação comportamental Dopamina (?) Foco em afiliação Soothing/segurança social (safeness) Opiáceos (?) Foco em ameaça, busca de segurança Ativação/inibição Serotonina (?) Drive, excitação, vitalidade Contentamento, segurança social, conexão vitalidade Raiva, ansiedade, nojo Tipos de Sistemas de Regulação de Afeto formas de processar as ameaças/perdas pela memória (Brewin, 2006), representações esquemáticas do self e de outros (Beck, Freeman, Davis et al, 2003) e estratégias de enfrentamento (por exemplo, vigilância e evitação). Através de várias intervenções que podem envolver a relação terapêutica, exposição, mudança cognitiva e emocional e novas estratégias comportamentais, as terapias tentam reduzir as sensibilidades a ameaça/perda e seu processamento. Nesse sentido, os estímulos externos e internos que ativaram os sistemas de processamento relacionados a ameaça/perda perdem seu poder. Um aspecto que aumenta a sensibilidade e processamento da ameaça é o das nossas habilidades humanas de meta-cognição (Wells, 2000). Elas nos forneceram enormes vantagens para sermos capazes de planejar, antecipar e cooperar, além de serem a fonte da cultura, civilização e ciência – mas essas habilidades vêm com custos. Os chimpanzés provavelmente não se preocupam que a dor no peito poderia ser um ataque cardíaco ou que se comerem muito vão ficar gordos e, em alguns grupos sociais,poderão ser rejeitados. Eles não se preocupam com seus prospectos futuros na família e no trabalho. Os humanos, contudo, vivem tanto no mundo do “é” (ligado a experiências sensoriais diretas) quanto em um de “imaginação e meta-cognições”, onde podemos nos focar no passado e futuro, naquilo temido, perdido e esperado (Gilbert, 2007a; Singer, 2006). Podemos construir planos e cenários em nossas mentes e então responde-los como se fossem estímulos reais (Wells, 2000). Nossas imaginações não são fisiologicamente neutras; mais do isso, fantasias (por exemplo, sexuais) podem estimular sistemas fisiológicos e produzir excitação (por exemplo, excitação sexual). Quando nossa atenção está absorta nesse mundo interno de pensamentos, imaginações ou está sendo sobrecarregado por memórias emocionais, não estamos mais abertos para viver “no” momento presente. Somos arrastados para longe do “momento presente”, pois outros sistemas em nossos cérebros estão operando no campo da consciência, demandando atenção. Por exemplo, diferentes memórias emocionais e condicionamentos significam que reagimos rapidamente a coisas – nossos corpos podem começar a reagir a uma situação antes de estarmos conscientemente cientes disso, e então nossas emoções nos apressam, focando nossos pensamentos e comportamentos. Mindfulness Mindfulness lida com ambos problemas. Podemos aprender a estarmos atentos às emoções e pensamentos quando são engatilhados, vê-los como relacionados a memórias emocionais e condicionamentos. Nós alternamos para um modo “observador” – capaz de perceber e descrever o que acontece internamente, mais do que ser capturado por essas coisas. Muitas terapias auxiliam as pessoas a alternar para esse modo atencional de observar-descrever. Mindfulness também nos ajuda a ficarmos mais cientes da maneira como nossas mentes divagam do momento presente para devaneios, o passado e futuro, e com arrependimento, antecipação ou apreensão. Ao notar a maneira como a consciência é “capturada por essas preocupações internas” e como nossas emoções são afetadas, nos permitimos trazer de volta nossa atenção e assim reduzir e acalmar os ciclos viciosos entre a ativação da ameaça e a perpetuação dos efeitos de certas meta-cognições e ruminações. Por mais de dois mil anos e meio, a psicologia budista tem visto a psicologia humana como dominada pelos esforços de nossas mentes para lidar com a inevitabilidade de ameaças, perdas e danos que produzem sofrimento; nenhum de nós está imune às frustrações, adversidades e decadência final da nossa vida e morte, bem como as daqueles que amamos. No coração da abordagem budista está o treinamento de nossas mentes em maneiras que nos permitam “encarar”, mas também “fluir com” as duras realidades da vida. As duas tarefas mais importantes nesse treinamento são as de mindfulness e compaixão. Nos últimos 20 anos, mindfulness tem atraído atenção considerável, tanto como uma maneira de promover bem-estar quanto como um processo terapêutico para dificuldades específicas (por exemplo, depressão recorrente). Em sua maioria, essas abordagens se focam em como treinar a atenção de forma que possamos aprender a direcioná-la para o momento presente sem julgamento. Assim, mindfulness é um modo de experienciar e é sugerido que seja um estado psicológico fundamental e envolvido no alívio do sofrimento (Corrigan, 2004; Martin, 1997; Fulton & Siegel, 2005). O mestre contemporâneo de meditação tibetana, Yongyey Mingyur Rinpoche (2007) descreveu mindfulness como “a chave, o como da prática budista [que] recai no aprendizado de simplesmente descansar em uma awareness estéril de pensamentos, sentimentos e percepções enquanto ocorrem”. Os humanos dependem de processamento verbal-linguístico e lógico-matemático em uma enorme parte de suas interações com o ambiente. Contudo, como salientado acima, a dominância desses mecanismos de processamento na experiência da consciência humana pode resultar em uma desconexão da experiência do momento-a-momento, uma reificação e concretização de experiênciais emocionais internas (Hayes, Barnes-Holmes, & Roche, 2001; Hayes, Stroshal, Wilson, 1999). Pelo fato de seres-humanos possuírem habilidades meta-cognitivas, podemos planejar (o que acontecerá se eu fizer X; como eu posso conseguir Y) e temer (o que acontecerá se X acontecer) – tudo puramente baseado em nossos pensamentos, atribuições, exceções e antecipações. Como resultado, os humanos podem frequentemente gastar seu tempo respondendo a pensamentos internos, predições e memórias intrusivas como se fossem eventos reais. Essa “literalização” de representações mentais tem sido referida como “fusão cognitiva” (Hayes et al, 1999). O sofrimento que pode advir na presença de cognições e memórias emocionais dolorosas e literalizadas é claro e óbvio. Contudo, a maneira como as pessoas tentam lidar com as sensibilidades emocionais, intrusões, ruminações e memórias – que aparecem em seus processos de pensamento – pode ser ainda mais significativa. Por exemplo, a literatura tem demonstrado que as tentativas de supressão ou evitação de pensamentos (ambas estratégias de enfrentamento comuns) geralmente servem apenas para aumentar a frequência, força e intrusividade de pensamentos, sentimentos e predições dolorosas (Hayes, Wilson, Gifford, Follette, & Strosahl, 1996; Wegner, Schneider, Knutson, & McMahon, 1991). Sob essas condições, nossas memórias emocionais, padrões de aprendizado associativo e a natureza da resposta relacional humana criam uma prisão paradoxal, na qual nossas tentativas de rejeitar e ignorar experiências dolorosas apenas servem para arrastar nossa atenção de volta para os constructos internos que motivam nosso sofrimento. A psicologia budista descreve tal fenômeno com Samsara (existência cíclica), um ciclo de re-experiência persistente (por exemplo, reencarnação) do nosso sofrimento através do apego àquilo que não podemos ter e da rejeição daquilo que não desejamos experienciar. Historicamente, esta re-experiência foi construída como um retorno a vidas de sofrimento após a morte. No entanto, uma perspectiva pós-moderna, do século 21 e ocidental pode interpretar essa Samsara como uma descrição notavelmente adequada e concisa de uma vida gasta em fusão experiencial com as memórias emocionais e cognições disfuncionais. Mindfulness é uma maneira de reconhecer as erupções nos pensamentos e sentimentos, sua força e fluxo ligados a sensibilidades pessoais, além de treinar a mente para estar com eles, mas não “dentro” deles. Nós ressaltamos acima que muitas das nossas sensibilidades pessoais à ameaça e as ligações entre pensamentos e emoções podem ser compreendidas como emergentes da interação entre vários sistemas neurofisiológicos. A pesquisa em mindfulness tem focado em seus efeitos neurofisiológicos. De fato, a pesquisa em vários níveis de análises, de estudos de neuroimagem a resultados clínicos, tem demonstrado a efetividade da prática baseada em mindfulness para ajudar pessoas a mudarem a relação com suas próprias emoções. Pesquisas experimentais recentes evidenciaram que uma indução focada na respiração de 15 minutos, que se assemelha a aspectos do treinamento em mindfulness, resultou em maior capacidade para regulação emocional e uma maior disposição para permanecer na presença de estímulos emocionalmente aversivos (Arch & Craske, 2006). Similarmente, também foi demonstrado que os indivíduos que completaram uma intervenção de 8 semanas em treinamento de mindfulness reportaram menor frequência de pensamentos automáticos negativos e acreditavam estar mais aptos para “deixar passar” esses pensamentos quando fossem encontrados. Esseachado foi apoiado pela pesquisa em mindfulness disposicional, que indicou que os indivíduos exibindo um alto nível de mindfulness disposicional reportaram menos pensamentos automáticos negativos e também acreditavam ser capazes de “deixar passar” (Frewen, Evans, Maraj, Dozois, & Partridge, 2006). A pesquisa em neuroimagem tem demonstrado que meditadores adeptos da prática de exercícios de respiração em mindfulness exibem uma ativação mais forte no córtex cingulado anterior (ACC) durante o exercício, quando comparado a controles (Holzel et al, 2007). Existem hipóteses de que essa diferença nos grupos pode ser atribuída a um processamento mais efetivo de eventos distratores e de memórias emocionais. É teorizado que o ACC esteja envolvido na resolução de conflitos, autocontrole emocional e respostas adaptativas a condições mutáveis (Allman, Hakeem, Erwin, Nimchinsky, & Hof, 2001). Tem sido postulado que o ACC pode estar envolvido em um mecanismo neural homeostático que regula a resposta individual ao sofrimento (Corrigan, 2004). As pessoas apresentam graus variados de mindfulness inato ou disposicional, refletindo sua capacidade de empregar um estado de mindful awareness para melhor lidar com experiências emocionais difíceis e adaptar-se na presença de suas memórias emocionais. Dados de fMRI sugerem que mindfulness disposicional está correlacionado a uma atividade fortemente ampla do córtex pré-frontal e atividade reduzida da amígdala bilateral durante o ato de rotular emoções (Creswell, Way, Eisenberger, & Lieberman, 2007). O treino de mindfulness frequentemente emprega a rotulação do fenômeno da experiência emocional (por exemplo, ao notar um sentimento triste, o mediador pode rotular a experiência de “tristeza”). Esses achados sugerem um possível componente de mindfulness, o fortalecimento da regulação pré-frontal do afeto através do ato de notá-lo e então rotulá-lo – o que requer trabalho cognitivo. Dados recentes de neuroimagem também sugerem que a efetividade de mindfulness pode envolver uma alternação na percepção do self experienciado durante a mediação. Estudos de fMRI têm contrastado os aspectos neurais envolvidos no modo “narrativo” de auto-referência e um modo “experiencial” (Farb et. al., 2007). Uma percepção “narrativa” de self corresponde à visão de self convencional no ocidente, como uma identidade individual pervasiva e separada que permanece através do tempo e situações. O modo narrativo de auto-referência está correlacionado com o córtex medial pré-frontal (mPFC), que está envolvido na manutenção de um senso de self através do tempo, na comparação dos traços individuais com os de outros e na manutenção do autoconhecimento (Farb et. al., 2007). O “modo experiencial” de auto-referência corresponde à awareness focada no momento presente, encontrada na meditação em mindfulness, e representa o modo de ser que tem sido descrito como um “Self Observador” (Deikman, 1982). A pesquisa de Farb et al. (2007) examinou a atividade neurológica envolvida nesses modos de auto-referência entre meditadores experientes e participantes novatos de um treinamento de 8 semanas em mindfulness. Os meditadores novatos exibiram uma redução na atividade do mPFC enquanto mantinham um foco experiencial, o que pode refletir uma redução na percepção narrativa de auto-referência. Praticantes mais experientes de mindfulness exibiram maiores reduções nessa atividade do mPFC. Ainda, os participantes treinados também exibiram uma atividade cortical da rede neural mais lateralizada no lado direito, incluindo o córtex pré-frontal lateral, áreas viscerosomáticas e lóbulo parietal inferior. Essa atividade da rede neural parece se correlacionar com a fenomenologia de um “self observador” e pode indicar um modo mais efetivo de processar as memórias emocionais de uma postura mindful. Adicionalmente, os meditadores novatos evidenciaram um pareamento mais forte entre áreas do córtex pré- frontal envolvidos na auto-referência narrativa (mPFC) e áreas que podem estar envolvidas na transição de estados emocionais viscerais a sentimentos conscientes (por exemplo, insula direita) (Damasio, 1999). Meditadores mais experientes exibiram um pareamento mais fraco entre essas áreas, o que pode refletir uma capacidade cultivada de se desengajar da conexão habitual entre uma percepção de self identificado através do tempo e o processamento de memórias emocionais, sustentando os aspectos benéficos previamente descritos da experiência de mindfulness. O exposto acima delineia uma variedade de formas pelas quais mindfulness pode ajudar as pessoas a recrutar e treinar seus cérebros para melhor surfar nas ondas das emoções e pensamentos que estão em fluxo constante. Também oferece maneiras pelas quais elas podem melhor coreografar seus sistemas de regulação do afeto. Compaixão Alguns praticantes de mindfulness sugerem que a compaixão é uma qualidade emergente da mente que vem junto com a “prática mindful”. Isso se deve em parte porque mindfulness ajuda-nos a experienciar as ilusões do ego-self apegado e restringido, e, em vez disso, experienciar os sentimentos/insights de todo ser como uma parte e parcela de uma consciência unificada que permeia o universo. Contudo, outras escolas de budismo (por exemplo, Mahayana) sugerem que é importante focar e praticar especificamente o desenvolvimento de uma “mente compassiva”. Para isso, elas desenvolveram uma gama de conceitos sobre a natureza e benefícios da compaixão e as formas de pensar e se comportar para praticar e fortalecer a compaixão, incluindo uma série de meditações focadas em compaixão e exercícios de imagens mentais (Leighton, 2003). Interessantemente, muitos dos escritos do Dalai Lama (por exemplo, 1995, 2001) têm focado menos no processo de mindfulness e muito mais na natureza e valor do desenvolvimento de compaixão. Têm havido importantes explorações de visões ocidentais e orientais de compaixão e como fortalece-la em todos os âmbitos da vida, bem como pessoalmente (Davidson & Harrington, 2002; Neff, 2003a, b). Em algumas formas de treinamento em mindfulness, meditações de amor-bondade (compaixão) são adicionadas a procedimentos padrão e podem ser um dos ingredientes-chave para a mudança (por exemplo, Shapiro, Astin, Bishop, & Cordova, 2005). As terapias focadas em compaixão também são emergentes e focadas no desenvolvimento da compaixão para com o self e outros como um processo terapêutico (Gilbert, 2000; Gilbert & Procter, 2006; Leary, Tate, Adams, Allen, & Hancock, 2007). Enquanto algumas destas são diretamente ligadas às tradições budistas (por exemplo, Neff, 2003a; Leary et al., 2007), outras estão focadas em psicologia evolucionista (por exemplo, teoria do apego), neurociência social e regulação do afeto (Gilbert, 2005, 2007). A maioria dos teóricos vê a compaixão como um processo multifatorial. Por exemplo, Mckay e Fanning (1992) enxergam a compaixão envolvendo o desenvolvimento de compreensão, aceitação e perdão. Neff (2003a, b), a partir de psicologia social e tradição budista, desenvolveu uma escala de autocompaixão que encara a compaixão a partir de construtos bipolares relacionados a gentileza, humanidade comum e mindfulness. Gentileza envolve a compreensão das próprias dificuldades e uma forma de ser gentil e calorosa em face dos fracassos e decepções, em vez de fazer julgamentos duros e ser autocrítico. Humanidade comum envolve enxergar as próprias experiências como parte da condição humana, em vez de pessoais, isoladoras e vergonhosas. Aceitação mindful envolve mindful awareness e aceitação de pensamentos e sentimentos dolorosos, em vez de sobreidentificar comeles. Neff, Kirkpatrick e Rude (2007) demonstraram que a autocompaixão é diferente da autoestima e está relacionada a muitos indicadores de bem-estar. O modelo evolucionista de Gilbert (1989, 2005, 2007a, b) sugere que o potencial para compaixão evoluiu com o lado de fornecimento de cuidado do sistema de apego. Assim, o recebimento de compaixão tem os mesmos efeitos de ser cuidado – ou seja, estimula os sistemas de soothing (veja a Figura 6.1) nos recipientes de compaixão, auxiliando as pessoas a se sentirem seguras e calmas. Neste modelo, o fornecimento humano de compaixão advém de competências motivacionais, emocionais e cognitivas específicas que podem ser fortalecidas através do treino. Os seis principais componentes da compaixão são os seguintes: 1. Desenvolver uma motivação para cuidar do próprio bem-estar e do de outros. Esse aspecto motivacional também se estende a auto-identidade – ou seja, se desenvolver e se tornar mais compassivo. Com essa motivação, as pessoas podem se envolver na busca por “conhecimento” e no desenvolvimento de habilidades compassivas, que incluirão: 2. Desenvolver sensibilidade para com o próprio sofrimento e necessidades e dos outros; reconhecer como as próprias emoções de ameaça (por exemplo, raiva, ansiedade) podem bloquear tal sensibilidade. 3. Desenvolver a própria capacidade para simpatia, o que envolve a habilidade de ser emocionalmente aberto e tocado pelos sentimentos, sofrimento e necessidades de outros. 4. Desenvolver a capacidade de tolerância às emoções e sofrimento, a qual está ligada a habilidade de “estar com” emoções dolorosas ou aversivas dentro de si ou outros sem evitá-las ou tentar dominá-las. Assim, também está ligada a competências para aceitação. 5. Desenvolver empatia, o que envolve competências mais cognitivas e imagísticas de “se colocar no lugar do outro” e desenvolver insights para a compreensão dos motivos de eles se sentirem ou agirem de determinada maneira. Isso também está ligado ao que às vezes é chamado de mentalização, ou teoria da mente. 6. Desenvolver não-julgamento como uma maneira de abster-se de condenações e acusações. Essa capacidade é vista como evoluída para a empatia e aprofundamento do próprio entendimento da condição humana, em vez de ser adotada como “uma instrução”. Isso não significa não-preferência. Por exemplo, o Dalai Lama (2001) realmente amaria que o mundo fosse mais compassivo. Enquanto essas qualidades e competências se desenvolvem, todas são cultivadas na atmosfera emocional de calor e gentileza. Sendo assim, calor e também mindfulness são formas de desenvolver as qualidades e competências de compaixão. Estas são vistas como qualidades interconectadas e interdependentes – como mostrado na Figura 6.2. O treino em compaixão envolve o desenvolvimento dessas qualidades “para o self”. Elas podem ser utilizadas quando os indivíduos se sentirem estressados, mas também para promover uma percepção de bem-estar e contentamento. Isso ocorre porque treinar nossas mentes em compaixão pode nos ajudar a estimular esses sistemas emocionais e facilitar uma percepção de bem-estar. Sendo assim, diferente de mindfulness, que não é projetado para estimular qualquer sistema de afeto em particular (mas sim desenvolver um self observador), o trabalho com compaixão é realizado para estimular o sistema de soothing que evoluiu com o apego. Isso porque, como referido anteriormente, este é o sistema que é um regulador natural dos sistemas de ameaça e drive, e subjaz os sentimentos de contentamento, conexão e bem-estar. Há muitos exercícios e processos que podem ser utilizados terapeuticamente para estimular a compaixão pelo self e por outros. Eles envolvem a relação terapêutica (Gilbert, 2007b) e ajudar pessoas a desenvolver atenção, pensamentos, comportamento e sentimentos compassivos. Foco na respiração e no corpo, técnicas de dramatização, imagens mentais, reestruturação e escrita de carta compassiva podem todos ser utilizados para melhorar essas habilidades (Gilbert, 2007a, no prelo; Gilbert & Irons, 2005). A terapia focada na compaixão utiliza mindfulness, mas é também muito focada e ativa, assim sendo diferente de mindfulness tanto em sua formulação quando como no processo. O foco principal no treino em compaixão é de que, independente do que a pessoa adote e tente fazer para facilitar a mudança, ela faça isso através da criação de sentimentos de calor e apoio dentro do self. Apesar da pesquisa limitada, há alguma evidência de que o desenvolvimento da compaixão seja útil (Gilbert & Procter, 2006; Mayhew & Gilbert, 2008). Deve ser notado, contudo, que boa parte do trabalho terapêutico está frequentemente focado no medo, resistência ou inabilidade para sentir compaixão pelo self. Componentes da Compaixão da Mentalidade de Fornecimento de Cuidado Criar oportunidades de crescimento e mudança com Calor Figura 6.2. Círculo da compaixão. Conclusão Este capítulo olhou para o modelo neurofisiológico das sensibilidades psicológicas e explorou maneiras nas quais terapias focadas em mindfulness e compaixão podem impactar sistemas neurofisiológicos. Mindfulness opera através de um treinamento atencional que facilita diferentes estados cerebrais e permite que as pessoas ganhem novos insights e manejem pensamentos, sentimentos e memórias de sofrimento. As terapias focadas na compaixão utilizam mindfulness, mas a serviço da criação de Compaixão Sensibilidade ao sofrimento e às necessidades Cuidado pelo bem-estar Não-julgamento Simpatia Tolerância ao sofrimento Empatia sentimentos e pensamentos compassivos dentro de si. Uma das razões para se fazer isso é porque se estimula um tipo particular de sistema de afeto que possui qualidades de soothing/apaziguamento. Foi sugerido que tal sistema evoluiu com o apego e originou sentimentos parecidos, como calma, percepção de conexão e empatia por outros. Mindfulness ensina uma observação sem julgamentos do surgimento e emergência de pensamentos e sentimentos dentro da tela de nossa consciência. O treino em mente compassiva faz uso disso, mas também se foca em (re)direcionar a atenção e tentar gerar sentimentos de calor, docilidade e gentileza (Gilbert, 2000; Gilbert & Irons, 2005). Quando as pessoas se sentem ameaçadas e traumatizadas e possuem poucas memórias emocionais ou esquemas sobre serem ajudadas, amadas ou desejadas, elas podem não ter a capacidade de acessar seu sistema de afeto de soothing e reasseguramento. Através de processos que envolvem o aprendizado em cultivar atenção, pensamentos, imagens, comportamentos e sentimentos compassivos, elas podem ser treinadas para desenvolver uma orientação autocompassiva para com suas dificuldades. Essa orientação busca mudar o foco do sistema de ameaça para o sistema de soothing e pode ser especialmente útil em face de grandes afetos e ao se envolver com memórias emocionais dolorosas. Referências Allman, J. M., Hakeem, A., Erwin, J. M., Nimchinsky, E., & Hof, P. (2001). 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