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NUTRIÇÃO CLÍNICA EM PEDIATRIA MATERIAL DIDÁTICO AULA 6 OBJETIVOS DA AULA Definir alergia alimentar; Perceber a epidemiologia da doença e seus impactos na saúde da criança; Conhecer os fatores de risco, diagnóstico e tratamento clínico das alergias alimentares; Distinguir os alérgenos alimentares mais comuns; Apreender os objetivos dietoterápicos do tratamento nutricional; Conhecer os substitutos e alternativas para tratamento dietoterápico. DEFINIÇÃO REAÇÕES ADVERSAS TÓXICAS (bact, farmaco,hosp) NÃO-TÓXICAS (imunológica) Substâncias ingeridas(alimentos) ou propriedades farmacológicas ou hospedeiro (def. enzimas e psico) Não imunomediada Imunomediada (mediada pela imunoglobulina E) ALERGIA mecanismos imunológicos INTOLERÃNCIA DEFINIÇÃO A reação adversa ao alimento consiste em uma resposta clínica anormal desencadeada pela ingestão de um alimento, classificando em alergia e intolerância. Alergia alimentar é um termo utilizado para descrever reações adversas a alimentos, dependentes de mecanismos imunológicos, IgE(imunoglobulina E) mediados ou não. Intolerância alimentar – são decorrentes das propriedades inerentes ao alimento (contaminantes) ou farmacológicos ou características do hospedeiro ( distúrbios metabólicos e reações psicológicas,) CLASSIFICAÇÃO Classificação Características Mediadas por IgE Formação de anticorpos específicos da classe IgE, contatos subsequentes determinam a liberação de mediadores vasoativos, que induzem às manifestações clínicas de hipersensibilidade imediata (dermatite, edema, rinite, anafilaxia(choque anafilático) Reações mistas Mecanismos mediados por IgE, com participação de linfócitos T e de citocinas pró-inflamatórias. Exemplos: esofagite eosinofílica, a gastrite eosinofílica, a gastrenterite eosinofílica, a dermatite atópica, a asma e a hemossiderose (acúmulo de ferro) Reações não mediadas por IgE Não tão imediatas. Ex: proctite(inflamação na mucosa do reto ), enteropatia induzida pela proteína alimentar (doença do TGIntestinal como a D. Celíaca ) e enterocolite induzida por proteína alimentar ( Inflam.) DEFINIÇÕES . Citocina é um termo genérico empregado para designar um extenso grupo de moléculas envolvidas na emissão de sinais entre as células durante o desencadeamento das respostas imunes. Eosinófilos são células sanguíneas responsáveis pela defesa ou imunidade do organismo. Quando os valores dos eosinófilos estão altos, em caso de eosinofilia, ou levemente aumentados significa que o indivíduo pode ter alguma alergia; EPIDEMIOLOGIA Alergia alimentar: mais comum em crianças. Prevalência: aproximadamente de 6% em menores de três anos e de 3,5% em adultos → tendência ao aumento = 80% dos sintomas ocorrem no primeiro ano de vida. Dermatite atópica: aproximadamente 35% das crianças têm alergia alimentar mediada por IgE. Asma: 6 a 8% das crianças asmáticas podem ter sibilância(Sonoridade aguda e/ou chiada produzida pelas vias respiratórias) induzida por alimentos. EPIDEMIOLOGIA Leite de vaca, ovo, trigo e soja: alergias desaparecem, geralmente, na infância. Amendoim, nozes e frutos do mar: alergias podem ser mais duradouras e algumas vezes por toda a vida. Reações graves e fatais: em qualquer idade, mesmo na primeira exposição conhecida ao alimento → mais suscetíveis adolescentes e adultos jovens com asma e alergia previamente conhecida a amendoim, nozes ou frutos do mar. EPIDEMIOLOGIA As reações adversas aos aditivos alimentares são raras (abaixo de 1%), sendo os sulfitos(inibir processos oxidativos nos alimentos como perda da cor) – asma Glutamato monossódico (sal de sódio do ácido glutâmico, capaz de realçar o sabor dos alimentos) e a tartrazina (corante muito utilizado para colorir alimentos artificialmente) - urticária sendo os mais implicados em reações adversas . MECANISMO DE DEFESA DO TGI Durante a vida, são ingeridas grandes quantidades de alimentos com alta carga protéica e, apesar disto, apenas alguns indivíduos desenvolvem alergia alimentar, demonstrando que existem mecanismos de defesa competentes no TGI (Trato Gastro Intestinal) que contribuem para o desenvolvimento de tolerância oral. Neonatos (recém-nascido) e lactentes jovens (Criança de 29 dias a 2 anos de idade. : sistema imunológico imaturo favorece a sensibilização → barreira intestinal imatura e mais permeável, com epitélio mais suscetível à penetração dos diferentes antígenos e produção diminuída de anticorpos IgA secretores específicos (presente em nossas mucosas e secreções da boca, nariz, garganta, pulmões, trato urinário, genital) confere uma imunidade mais dirigida às bactérias) Aleitamento materno: similaridade antigênica da espécie e pelos fatores protetores carreados, sejam imunológicos ou não-imunológicos → manutenção de uma microbiota adequada. Fonte de prebióticos e probióticos destacando como agente fundamental no equilíbrio da flora intestinal e como estimulador do sistema imunológico. MECANISMO DE DEFESA DO TGI RESPOSTA IMUNOLÓGICA NORMAL Para o desenvolvimento de alergia alimentar são necessários: substrato genético; dieta com proteínas com capacidade alergênica; quebra dos mecanismos de defesa do trato gastrintestinal, quando há incapacidade do desenvolvimento de tolerância oral. Causas para menor ativação das células T regulatórias ainda são desconhecidas se o papel dos demais fatores presentes no intestino sobre o sistema imunológico, como a microflora intestinal, ainda necessitam mais estudos para sua compreensão. ALÉRGENOS E ADITIVOS ALIMENTARES São na sua maior parte representados por glicoproteínas hidrossolúveis com peso molecular entre 10 e 70 kDa (unidade de peso molecular kilodaltons ), termoestáveis e resistentes à ação de ácidos e proteases. ALÉRGENOS E ADITIVOS ALIMENTARES ALÉRGENOS E ADITIVOS ALIMENTARES Aditivos alimentares: representados por antioxidantes, flavorizantes(confere sabor), corantes, conservantes e espessantes(viscosidade), entre outros - Apesar de serem frequentemente relacionados com reações adversas, apenas uma porção muito pequena apresenta verdadeira relação. Reações para investigar: em pacientes com história de sintomas a múltiplos e mal-referidos alimentos ou quando o mesmo alimento provocar reações quando ingerido na forma industrializada e não na forma “caseira” e pacientes com manifestações idiopáticas de alergia(da alergia como urticaria e outros) FATORES DE RISCO Herança Genética: histórico familiar; Microbiota intestinal: pode atuar no processamento de antígenos alimentares reduzindo sua alergenicidade. Restauração da permeabilidade intestinal, equilíbrio da microbiota, melhora das funções de barreira do epitélio intestinal e modulação da resposta inflamatória. Alguns estudos apontam que uma microflora predominante de lactobacilos sobre a população de clostrídeos tenham relação com menores índices de doença atópica(provocadas por uma reação alérgica pela ativação da IgE) - ainda faltam estudos longitudinais que comprovem a utilização de probióticos como medida preventiva eficaz. FATORES DE RISCO Dieta: A alimentação da gestante e da nutriz, a idade daintrodução de alimentos sólidos e de alimentos alergênicos, a exposição aos aeroalérgenos (presentes no ar) → fatores ambientais estudados. Ponto controverso = exclusão de determinados alimentos da dieta da gestante, bem como da nutriz, como potencial forma de prevenção da sensibilização. História familiar positiva para alergia alimentar a determinada proteína, recomenda-se a exclusão apenas desta proteína da dieta da nutriz Aleitamento materno exclusivo. Evite a introdução do leite de vaca no primeiro ano de vida e, a partir dos seis meses, introduzir outros alimentos disponíveis na região. FATORES DE RISCO Dieta - crianças com alto risco para atopia (tendência hereditária a desenvolver manifestações alérgicas como: asma, rinites, urticária etc.). Fórmulas e dietas extensa ou parcialmente hidrolisadas têm se mostrado eficaz, como prevenção = ALTO CUSTO!!! As fórmulas à base de soja não parecem demonstrar efeitos benéficos na prevenção primária. Leite de outros mamíferos (caprinos e ovinos) por sua similaridade antigênica ao leite de vaca não apresentam vantagem na sua utilização como preventivos da alergia à PLV Introdução de alimentos sólidos após os 4 meses é indicada. Crianças nascidas prematuramente, a introdução de outras proteínas antes da 17ª semana de vida (em torno de 4 meses) relacionou-se à maior prevalência de eczema atópico. Introdução de leite de vaca, ovo, peixe e amendoim após o 1º, 2º e 3º anos (Academia Americana de Pediatria). FATORES DE RISCO Então... Manutenção do aleitamento materno exclusivo até o final do primeiro semestre de vida, retardando-se a introdução precoce de alimentos sólidos; Não há indicação de dietas restritivas hipoalergênicas para gestante no último trimestre de gestação, com exceção do amendoim. Restrições de ovo, leite de vaca e peixe não são recomendadas a priori, somente em situações individualizadas; Em caso de necessidade de utilizar fórmula infantil durante o período de aleitamento, a Academia Americana de Pediatria recomenda o uso de fórmulas hipoalergênicas; FATORES DE RISCO Então... O leite de vaca deve ser introduzido após o 1º ano de vida, o ovo após o 2º ano, o amendoim, as nozes e os peixes após o 3º ano, A Sociedade Européia de Alergia e Imunologia Pediátrica recomendam observação cuidadosa na introdução dos alimentos considerados potencialmente alergênicos a partir da interrupção do aleitamento materno exclusivo, e recomenda o uso de fórmulas hipoalergênicas ou hidrolisados como medida preventiva em situações onde o aleitamento não ocorre mais de forma exclusiva. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - DEFINIÇÕES Pápulas – lesão da pele menor que 1cm e é caracterizada por mudanças na cor e na textura entre outros; Angiodema - alergia bastante confundida com a urticária, referente a uma condição caracterizada por um inchaço na pele. Hiperemia - aumento do volume de sangue em um determinado local do organismo. Dermatite atópica ou de contato - doença inflamatória da pele caracterizada por lesões avermelhadas que causam coceira, localizadas na face das crianças pequenas e nas dobras do joelho e cotovelo das crianças maiores e dos adultos; Anafilaxia - reação alérgica aguda e grave, que começa subitamente Colite – doença inflamatória que atinge as camadas do cólon MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 1. História Clínica 2. Exame físico 3. Exames subsidiários 4. Teste de provocação oral DIAGNÓSTICO FEITO PELO MÉDICO! DIAGNÓSTICO 1. História Clínica Alimento suspeito Tempo de latência (tempo para aparecer) Quantidade necessária Ingestão de álcool associada Episódio mais recente Descrição das reações Exames físicos - sinais visíveis DIAGNÓSTICO 3. Exame subsidiários Teste cutâneo de hipersensibilidade imediata (TCHI) Pesquisa de IgE sérica específica Biópsias Exames de sangue (hemograma, ferritina, dosagens de proteínas séricas) Exames proctológicos Teste de tolerância à lactose – diagnóstico diferencial DIAGNÓSTICO Teste de Provocação Oral (TPO) São considerados os métodos mais confiáveis para diagnosticar ou excluir a alergia alimentar. Só deve ser feito em hospitais com estrutura para emergências, no caso de reação grave. Em asmáticos, o exame só pode acontecer próximo a uma unidade semi-intensiva, com o paciente já com acesso venoso. No Brasil, a prática do teste de provocação oral já é conhecida e adotada. DIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICO TRATAMENTO Exclusão da proteína alergênica da dieta Maior risco de ingestão acidental Restrições exageradas ou desnecessárias Comprometimento do crescimento pondero- estatural(crescimento ) Prejuízos psicossociais à criança TRATAMENTO A prevenção da alergia alimentar em pacientes com alto risco de desenvolvê-la é uma das principais armas disponíveis. Os probióticos (lactobacillus) têm sido explorados como opção terapêutica para a alergia alimentar O único tratamento preconizado até o momento para as alergias alimentares é a restrição absoluta do alimento responsável da dieta do paciente. Apesar dos muitos estudos nesta área de pesquisa, nenhuma forma de tratamento definitivo foi estabelecida até o momento HISTÓRIA NATURAL Em relação ao leite de vaca, ocorre frequentemente perda da sensibilidade progressiva com o avançar da idade: 50% até um ano; 70% até os dois anos e 85% até os três anos de idade. Cerca de 10% a 30% de crianças com alergia às proteínas do leite de vaca podem se sensibilizar à soja. Em relação ao ovo, sabe-se que a maior parte das crianças apresenta remissão até a idade escolar. OBJETIVOS DA TERAPIA NUTRICIONAL Evitar o desencadeamento de reações e a progressão da doença. Proporcionar à criança crescimento e desenvolvimento adequadas; Auxiliar à equipe interdisciplinar na evolução da dieta e monitoramento da doença; Ajudar a evitar um consequente isolamento social. ETAPAS DA TERAPIA NUTRICIONAL 1. Identificação dos alimentos envolvidos; 2. Orientação da dieta de restrição; 3. Suplementação quando necessário; 4. Acompanhamento da dieta, identificando possíveis transgressões; 5. Avaliação do crescimento (peso, altura) ORIENTAÇÃO DA DIETA DE EXCLUSÃO Alimentos a serem evitados; Reatividade cruzada entre alimentos; Alimentos permitidos; Leitura de rótulos; Contaminação durante o preparo; Cuidados em situações de risco (restaurantes, festas, etc); Inclusão de receitas. ALERGIA AO LEITE DE VACA 1ª opção para lactentes ↓ Dieta de restrição para a mãe SUBSTITUTOS AO LEITE DE VACA SUBSTITUTOS AO LEITE DE VACA Orientação de preparo das fórmulas Diluição correta Não aquecer a fórmula O que pode ser acrescentado? APLV – SUPLEMENTAÇÃO DE CA Lactentes 0-6 m Lactentes 7-12 m Lactentes 1-2 a Crianças 3-8 a Adolescentes 9-18 a Cálcio (mg/dia) 200 260 700 1000 1300 Necessidades de cálcio de acordo com a idade Não ultrapassar 500 mg por refeição. DRI, 2011. APLV – OUTRAS FONTES DE CA APVL – ALIMENTOS E PRODUTOS A SEREM EVITADOS Produtos e preparações Contaminações Termos Desconfie Pudins Bolos Sorvetes Pures BiscoitosEmbutidos Balas Margarinas Cremes “Na chapa” Farofas Frios Caseína Caseinato Lactoalbumina Lactoglubulina Lactulose Proteínas do soro Soro de leite Whey protein Proteína lactea Composto lácteo Aroma de queijo Sabor iogurte Sabor manteiga Sabor caramelo Sabor creme de coco Sabor de açúcar queimado KRAUSE, 2002. ALERGIA ALIMENTAR MÚLTIPLA - AAMÚLTIPLA Variando o cardápio: Ex: produtos à base de arroz ALERGIA A OVO – ALIMENTOS E PRODUTOS A SEREM EVITADOS Produtos Preparações Termos Suspiro Marshmallow Maionese Marengue Suflês Massas Biscoitos Pães Quiches Bolos Tortas “à milanesa” Empanados Albumina Ovo em pó Ovoglicoproteína Ovomucina Ovoalbumina Flavoproteína Globulina Lisozima Ovomucóide KRAUSE, 2002. ALERGIA A SOJA – ALIMENTOS E PRODUTOS A SEREM EVITADOS Produtos e preparações Contaminação/f ontes ocultas Termos Permitidos Shoyo Tofu Tempeh Missô Shakes com proteína de soja Bebidas à base de soja Alimentos integrais Atum enlatado Balas Doces Molhos Sopas Embutidos Cosméticos Medicamentos Proteína texturizada de soja Proteína vegetal Amido vegetal Shoyo Óleo de soja Lecitina de soja KRAUSE, 2002. ALERGIA A TRIGO – ALIMENTOS E PRODUTOS A SEREM EVITADOS Preparações Fontes ocultas Termos Permitidos Kibe Bolos Massas Salgadinhos A milanesa Empanados Biscoitos Chocolate Sopas prontas Molhos cremosos Temperos prontos Glúten Semolina Extratos de cereais Farinha de cereais Batata Fécula de mandioca Tapioca Araruta Polvilho Milho Amido de milho Farinha de milho Fubá Pipoca Canjica Arroz Farinha de arroz Flocos de arroz Macarrão de arroz KRAUSE, 2002. RECEITAS ALTERNATIVAS ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL Controlar transgressões e situações de risco! Recordatório 24h a cada consulta Diário alimentar (casa e escola) Rótulos dos alimentos consumidos Verificar aquisição de tolerância Receitas alternativas PREVENÇÃO Medidas Apresenta impacto na prevenção de alergias alimentares? Dieta de exclusão durante a gestação NÃO Dieta de exclusão durante a lactação NÃO Aleitamento materno exclusivo até 6 meses SIM Fórmulas de aminoácidos Não há estudos Fórmulas extensamente hidrolisadas Podem ser considerados Fórmulas parcialmente hidrolisadas Podem ser considerados Fórmulas à base de soja NÃO Atraso na introdução de alimentos sólidos NÃO CONCLUSÃO... O nutricionista como o profissional mais qualificado para orientar a terapia nutricional do paciente com alergia alimentar. Avaliação, orientação e acompanhamento nutricional são imprescindíveis no tratamento de alergias alimentares. REFERÊNCIAS SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA E ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E IMUNOPATOLOGIA. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2007. Rev. bras. alerg. imunopatol. Vol. 31, Nº 2, 2008.
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