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A indústria de seguros no Brasil Transformação e crescimento em um país de oportunidades I I I I I IV 1 A indústria de seguros no Brasil Transformação e crescimento em um país de oportunidades . Direção geral do projeto Clodomir Félix F. C. Junior Coordenação editorial Renato de Souza Mtb 26.563 Produção editorial Ester Rossi Mtb 47.283/SP Apoio à produção Laura Paoletti Sthefani Tironi Produção gráfica e pesquisa de imagem Elisa Paulillo Otavio Sarsano Complementação de informações econômicas Fernando Ruiz Giovanni Cordeiro Aline Oshiro Revisão Sonia Hagemann Versão em inglês Unitrad – Profissionais em tradução Arte Mare Magnum Fotos Walter Craveiro (fotógrafo oficial do projeto) Nelson Toledo (Enrico De Vettori e João Batista Pinto) Gilberto Alves (Jérôme Garnier) Jorge Luiz – ANS (Mauricio Ceschin) Nilton Santana (Fabio Luchetti) Gabriel Sales – Photocamera (Carlos Augusto Pinto Filho) Gráfica Intergraf Ind. Gráfica Ltda. Tiragem 1.700 exemplares na versão em português 300 exemplares na versão em inglês Empresas e entidades colaboradoras Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) Aon Risk Solutions Banco do Brasil Bradesco Seguros Caixa Seguros CESCEBRASIL Seguros HDI Seguros IRB-Brasil Re Itaú Auto e Residência S.A. MAPFRE Seguros Marítima Seguros S.A. Marsh Brasil OdontoPrev Porto Seguro SulAmérica Superintendência de Seguros Privados (Susep) •• As estatísticas mencionadas neste livro refletem a última informação disponível no fechamento da publicação. A divulgação de dados pela imprensa ou por quaisquer outras fontes do mercado que venham a atualizar as estatísticas aqui expostas não invalida, de forma alguma, o propósito informativo desta obra, que é o de articular movimentos e tendências essenciais que se estabelecem e se desenvolvem ao longo de anos, a despeito de mudanças pontuais ou ciclos curtos da economia e dos negócios. •• O conteúdo dos artigos assinados pelos articulistas colaboradores desta publicação não reflete necessariamente as opiniões da Deloitte. •• Estão reservados à Deloitte todos os direitos autorais desta obra. A reprodução de páginas deste livro está vetada e a citação de informações nele contidas está sujeita à autorização prévia, da Deloitte e dos articulistas colaboradores, mediante consulta formal e comprometimento de citação de fonte. Filiada à Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) Contato para leitores desta obra: comunicacao@deloitte.com Sobre a Deloitte A Deloitte oferece serviços nas áreas de Auditoria, Consultoria, Consultoria Tributária, Corporate Finance e Outsourcing para clientes dos mais diversos setores. Com uma rede global de cerca de 182.000 profissionais atuando a partir de firmas-membro em mais de 150 países, a Deloitte reúne habilidades excepcionais e um profundo conhecimento local para ajudar seus clientes a alcançar o melhor desempenho, qualquer que seja o seu segmento ou região de atuação. No Brasil, onde atua desde 1911, a Deloitte é uma das líderes de mercado e seus cerca de 4.500 profissionais são reconhecidos pela integridade, competência e habilidade em transformar seus conhecimentos em soluções para seus clientes. Suas operações cobrem todo o território nacional, com escritórios em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Fortaleza, Joinville, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Recife e Salvador. “Deloitte” refere-se à sociedade limitada estabelecida no Reino Unido “Deloitte Touche Tohmatsu Limited” e sua rede de firmas-membro, cada qual constituindo uma pessoa jurídica independente. Acesse www.deloitte.com/about para uma descrição detalhada da estrutura jurídica da Deloitte Touche Tohmatsu Limited e de suas firmas-membro. © 2011 Deloitte Touche Tohmatsu. Todos os direitos reservados. A excelência da indústria financeira do Brasil é hoje reconhecida em todo o mundo, contribuindo para projetar o País como um mercado de fato atraente para os principais agentes internacionais. Os sólidos fundamentos das organizações desse setor se traduzem em ótimos níveis de rentabilidade, ofertas diversificadas de produtos, penetração crescente em faixas pouco exploradas da população, invejável base tecnológica e destacável estrutura de gestão de riscos. O setor de seguros é, sem dúvida, parte muito importante dessa nossa robusta indústria financeira. Mais do que isso, ele representa hoje um mercado vibrante, em forte expansão e consolidando um nível significativo de maturidade. O atual sucesso do nosso mercado segurador é resultado não apenas de um momento promissor da economia e do ambiente de negócios do País, mas, sobretudo, da capacidade das próprias empresas que o constituem em se reinventar permanentemente. A Deloitte, que já completou 100 anos de atuação no Brasil, se orgulha em ter historicamente apoiado as organizações que compõem toda a nossa cadeia do mercado de seguros e financeiro em geral. Em nosso segundo século no País, queremos continuar participando ativamente do processo de crescimento e transformação desse setor. Esta coletânea de artigos que organizamos, com alguns dos principais executivos desse mercado, nos oferece uma visão panorâmica sobre um dos setores mais promissores da economia nacional. Desejamos a todos uma ótima leitura. Juarez Lopes de Araújo Presidente da Deloitte Uma visão sobre o nosso vibrante mercado de seguros “Em nosso segundo século no País, queremos continuar participando ativamente do processo de crescimento e transformação desse setor.” Carlos Augusto Pinto Filho Coordenador-geral de Monitoramento de Solvência da Superintendência de Seguros Privados (Susep) Cristiano Furtado CFO da Marsh Brasil Duarte Marinho Vieira Superintendente técnico atuarial da MAPFRE Seguros e professor de Ciências Atuariais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) Fabio Luchetti Vice-presidente executivo da Porto Seguro Francisco Caiuby Vidigal Presidente da Marítima Seguros S.A. e Marítima Saúde Seguros S.A. Jérôme Garnier Diretor financeiro da Caixa Seguros Leonardo André Paixão Presidente do IRB-Brasil Re Marcelo Homburger Vice-presidente de Recursos Técnicos da Aon Risk Solutions Articulistas colaboradores Deloitte•–•liderança•local•e•global Clodomir Félix Líder da Deloitte no Brasil para a indústria financeira Joe Guastella Líder global da Deloitte para a indústria de seguros Chris Harvey Líder global da Deloitte para a indústria financeira Marco Antonio Rossi Presidente do Grupo Bradesco Seguros Mauricio Ceschin Diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) Murilo Setti Riedel Vice-presidente da HDI Seguros e responsável pelas áreas técnicas de Seguros, Resseguros e Sinistros Ney Ferraz Dias Diretor geral do Itaú Auto e Residência S.A. Patrick de Larragoiti Lucas Presidente do Conselho de Administração da SulAmérica Seguros e Previdência Paulo Rogério Caffarelli Vice-presidente de Novos Negócios de Varejo do Banco do Brasil Randal Zanetti Presidente da OdontoPrev Valmir Forni Diretor administrativo financeiro da CESCEBRASIL Seguros Deloitte•–•expertise•na•indústria•e•na•prática•de•negócios Enrico De Vettori Sócio da área de Consultoria da Deloitte e especialista no setor de saúde João Batista Pinto Diretor da prática de Atuária da Deloitte 6 Um setor que avança com o novo Brasil Para analisar o universo de transformações pelas quais passa o mercado segurador, nada melhor do que uma coletânea de artigos de executivos e especialistas que conhecem a fundo o setor e trabalham pelo seu desenvolvimento. O mercado de seguros vivencia no Brasil um momento inédito, marcadopor acentuados níveis de expansão em praticamente todos os segmentos e tipos de produto e, principalmente, por amplas oportunidades nas mais diversas frentes. Uma série de fatores tem contribuído para que essa indústria avance rapidamente para consolidar conquistas históricas e efetivar seu reconhecido potencial de crescimento em uma das principais economias emergentes do mundo. O primeiro facilitador dos avanços recentes desse setor está ligado à própria estabilidade econômica do País, que passou a proporcionar nas últimas duas décadas uma maior capacidade de planejamento para consumidores e empresas, a fim de aumentar o interesse por produtos de seguro. Outro determinante dessa nova realidade – talvez o mais significativo de todos pela sua abrangência – tem sido a exuberância do nosso mercado interno, com a elevação do poder de consumo de partes significativas da população. A chamada “nova classe média”, que já vinha desencadeando mudanças em diversos setores econômicos, busca agora meios para preservar seus bens adquiridos e garantir segurança e um futuro mais estável para sua família. Desse modo, grandes oportunidades continuarão a se abrir para certos segmentos de seguros. O próprio microsseguro, em vias de ser regulamentado no País, projeta-se como alternativa importante nesse contexto. Felizmente, as excelentes perspectivas para o mercado segurador se sustentam não apenas como reflexo de eventos socioeconômicos do passado recente. Muito pelo contrário, há razões para se Introdução 7 Clodomir Félix Líder da Deloitte no Brasil para a indústria financeira acreditar na manutenção do crescimento em médio e longo prazos, em decorrência de fenômenos econômicos, mercadológicos e até demográficos em curso. A retomada dos investimentos em infraestrutura, por exemplo – associados ou não à realização dos megaeventos esportivos de 2014 e 2016 –, traz sinais promissores para segmentos como o resseguro e o seguro patrimonial. A própria instabilidade vigente em economias maduras deve contribuir, por sua vez, para que o setor de seguros brasileiro permaneça atrativo a investimentos estrangeiros, em particular, diante do movimento de abertura que o mercado local tem vivenciado. E a relevância cada vez maior da População Economicamente Ativa (PEA) na sociedade brasileira tende a concretizar o que se vem chamando de “bônus demográfico”, com um número maior de pessoas produzindo, consumindo e gerando ainda mais oportunidades para a indústria seguradora. Diante desse cenário sem precedentes, a indústria de seguros no Brasil vem promovendo uma transformação contínua nos mais diversos âmbitos: das estratégias de negócio adotadas à introdução de modelos de operação mais eficientes, de novos mecanismos de crescimento ao uso de canais alternativos de distribuição. É para tratar desse universo de transformações em um ambiente propício ao crescimento que a Deloitte decidiu convidar executivos e especialistas para expor suas visões sobre o desenvolvimento do mercado segurador. Desse modo, “A indústria de seguros no Brasil – Transformação e crescimento em um país de oportunidades” é uma coletânea de artigos que percorre os grandes determinantes das mudanças e da expansão 8 desse setor. O primeiro capítulo do livro (“Além da tempestade”) trata da conjuntura internacional do mercado de seguros, com os líderes globais da Deloitte para as indústrias financeira e de seguros – Chris Harvey e Joe Guastella, respectivamente – discorrendo a respeito dos novos determinantes da dinâmica do setor. Os cinco artigos do segundo capítulo (“O país do presente se revela”) discorrem sobre como o novo cenário social brasileiro vem trazendo oportunidades inéditas para as seguradoras. O capítulo “Horizonte sem fim” trata da relação entre o mercado de seguros e os caminhos que o capital vem tomando, no mundo e, em particular, no Brasil. Já o quarto capítulo (“Pela saúde do brasileiro”) inclui artigos sobre os desafios e as perspectivas para os seguros de saúde e odontológico. Os aspectos de gestão, que vão da precificação e rentabilidade aos papéis do corretor e do profissional atuário, estão no quinto capítulo, “A gestão moderna”. Para finalizar o livro, os três artigos do capítulo 6 (“A nova dinâmica da indústria”) tratam de movimentos próprios de um setor globalizado por definição, que abrangem aderência a regulamentações, gestão de riscos, consolidações e competitividade. Vistos no conjunto, os 20 artigos expostos nas páginas seguintes constituem retratos do presente e do futuro de uma indústria que aprendeu a se transformar permanentemente, adaptando-se sempre aos novos tempos da economia. Uma história de transformação e crescimento 1808 No ano da abertura dos portos brasileiros, é fundada a primeira organização de seguros do País, a Companhia de Seguros Boa-Fé 1996 O Brasil passa a permitir a entrada de grupos estrangeiros podendo controlar companhias seguradoras locais 1855 Já sob a regência de D. Pedro II, o Brasil Império vivencia a formação da Companhia de Seguros Tranquilidade, a primeira do País dedicada ao ramo vida 2006 São estabelecidas novas regras de solvência para as seguradoras, com a exigência de mais capital, acarretando novas consolidações 1850 Com a promulgação do "Código Comercial Brasileiro", o seguro marítimo é regulado plenamente, atividade fundamental para um país agroexportador 2000 É criada a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para regular o setor de serviços de saúde 1862 Surgem as primeiras sucursais no Brasil de seguradoras sediadas no exterior 2008 O Instituto de Resseguros do Brasil (IRB-Brasil Re) perde o monopólio do resseguro, favorecendo a chegada de competidores estrangeiros 9 Uma história de transformação e crescimento 1901 Criação da Superintendência Geral de Seguros, que passou a concentrar as responsabilidades de fiscalização do setor 2010 O País encerra uma década de forte expansão do crédito e inclusão social, ampliando o mercado interno e abrindo perspectivas a todo o mercado segurador 1939 É criado o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB-Brasil Re), que monopolizaria o resseguro no País até o início do século 21 2014 O País sediará a Copa do Mundo da FIFA, coroando uma fase de retomada dos investimentos em infraestrutura, que favorece segmentos do mercado segurador 1929 É fundada a primeira empresa de capitalização do Brasil, a Sul América Capitalização S.A. 2011 O Governo Federal lança o PAC 2, que, junto a empreendimentos privados, abre oportunidades a ramos como o resseguro e o seguro patrimonial 1966 São criados o Sistema Nacional de Seguros Privados e a Superintendência de Seguros Privados (Susep) 1985 O mercado brasileiro de seguros passa por uma reestruturação, com a desregulação gradativa do setor 1993 O Plano Real é lançado, sedimentando as bases da posterior estabilização econômica brasileira 2020 O Brasil deve alcançar o ápice do “bônus demográfico”, com a sua população economicamente ativa representando a maior parte da sociedade – mais oportunidades ao mercado segurador Fontes: Susep, revista Época Negócios e Deloitte (consolidação de dados públicos) 10 Sumário Capítulo 1 13••Além•da•tempestade Um olhar sobre o futuro da indústria no mundo 14 Os vetores da transformação Quatro fatores centrais para explicar as mudanças na indústria financeira Chris Harvey 18 Novas rotaspara o crescimento O foco nos mercados emergentes e em canais de distribuição não tradicionais Joe Guastella Capítulo 2 23••O•país•do•presente•se•revela As facetas do crescente mercado interno 24 Um bônus a conquistar As oportunidades que virão com o aumento da população economicamente ativa Fabio Luchetti 28 O novo objeto de desejo Após a ascensão social, as classes emergentes querem preservar suas conquistas Marco Antonio Rossi 32 As novas necessidades da nova classe média As demandas da classe C, que ajuda a impulsionar o setor de seguros Patrick de Larragoiti Lucas 36 Muito além de um “seguro barato” O potencial e o público-alvo de produtos promissores, como o microsseguro Paulo Rogério Caffarelli 40 A próxima etapa evolutiva Chegou a vez dos seguros de vida, previdência e saúde Jérôme Garnier Capítulo 3 45•••Horizonte•sem•fim De portas abertas para o investimento 46 A segurança das seguradoras Grandes perspectivas para o mercado de resseguros no Brasil Leonardo André Paixão 50 O ciclo virtuoso do patrimônio Um ambiente ideal para a expansão do seguro de patrimônio Marcelo Homburger 52 Mais proteção aos exportadores O seguro de crédito à exportação em tempos de globalização intensa do comércio Valmir Forni 11 Capítulo 6 91••A•nova•dinâmica•da•indústria Como avançar em um setor globalizado por excelência 92 Impactos e benefícios da norma Os esforços para ajustar a indústria de seguros aos padrões internacionais Carlos Augusto Pinto Filho 96 Lições aprendidas com a crise Os muitos aprendizados de toda a indústria financeira aplicados às seguradoras Francisco Caiuby Vidigal 100 O risco que vira oportunidade De pessoas a processos, de parcerias a concorrentes: os determinantes da competitividade Duarte Marinho Vieira Capítulo 4 57••Pela•saúde•do•brasileiro Alternativas para a indústria da vida 58 Oportunidades para crescer e incluir Acessibilidade e percepção de valor impulsionam o seguro odontológico no Brasil Randal Zanetti 62 Os desafios da cadeia da saúde A importância de se enfrentar o crescente aumento de custos no setor Enrico De Vettori 66 O plano de saúde do futuro O desafio de responder a consumidores cada vez mais bem informados Mauricio Ceschin Capítulo 5 71••A•gestão•moderna Operações na busca da eficiência 72 A informação que define o preço As novas possibilidades na construção de modelos de precificação Ney Ferraz Dias 76 Rentabilidade versus custos O complexo e fundamental processo de gestão profissional dos custos Murilo Setti Riedel 80 Profissão corretor A busca de especialização, atualização e soluções customizadas Cristiano Furtado 84 Novos papéis para o atuário Os desafios que a implementação do IFRS trouxe aos atuários de seguros João Batista Pinto 12 Além da tempestade Um olhar sobre o futuro da indústria no mundo Capítulo 1 14 Os vetores da transformação As mudanças mais importantes em curso nas instituições financeiras do mundo ocorrem hoje em torno de quatro fatores centrais: aderência a regulamentações, capital, clientes e concorrência. O peso dessas alterações afeta hoje todas as áreas de negócio das organizações do setor. uatro anos após o início da crise financeira global, grande parte do setor de serviços financeiros das economias maduras continua bastante inquieta. Nos Estados Unidos e nas nações da Europa Ocidental, as incertezas econômica, regulatória e política custaram a confiança do consumidor, o que se reflete na lenta recuperação econômica. Formuladores de políticas das duas regiões continuam a introduzir regulamentações complicadas e potencialmente custosas, que confundem os esforços de planejamento estratégico e podem ter um efeito cascata nas instituições financeiras das economias dos países em desenvolvimento. Muitas das maiores instituições financeiras do mundo estão lutando para encontrar oportunidades de crescimento, ao mesmo tempo em que enfrentam pressões do governo, dos órgãos reguladores e da opinião pública. Vimos reestruturações e alienações entre as maiores organizações do mundo para sobreviverem. Agora estamos vendo as empresas alterarem seu foco comercial, suas estratégias e seus mercados. Enquanto instituições de economias desenvolvidas digladiam-se com condições adversas, organizações de economias emergentes têm encontrado uma rara oportunidade para recuperar o atraso. Grandes empresas globais de serviços financeiros no Brasil e na China estão assumindo seu legítimo lugar no cenário internacional; os dois países têm hoje instituições financeiras classificadas entre as 25 maiores do mundo em termos de força e atratividade para investimentos. 15 Por Chris Harvey Líder global da Deloitte para a indústria financeira Enfrentando a perspectiva de crescimento estagnado internamente, instituições norte-americanas e europeias estão sendo atraídas para esses mercados emergentes. Elas estão buscando crescimento em economias menos voláteis e levando com elas não apenas ofertas bancárias padrão, mas produtos de seguro mais sofisticados, como, por exemplo, contra recessão para residentes não segurados ou subsegurados no exterior. Vários países estão mudando suas estruturas regulatória e tributária à medida que se tornam mais confiantes a respeito da força de seus setores financeiros e, assim, estão se tornando mais atraentes para essas instituições globais e estrangeiras, em particular, no Brasil. Para lidar com novos regulamentos e ampliar sua presença em novos mercados, organizações financeiras em todo o mundo estão evoluindo com o mercado Os vetores da transformação global pós-recessão. Grande parte da transformação nas instituições financeiras está ocorrendo em torno de quatro elementos centrais: aderência a regulamentações, capital, clientes e concorrência. Essas mudanças estão afetando as decisões em todas as áreas de negócio: modelos operacionais, gestão de riscos, governança, combinações estratégicas, desenvolvimento de produtos, talentos e objetivos estratégicos. Aderência•a•regulamentações Os governos e as instituições financeiras globais são vistos com desconfiança devido à crise e às ajudas emergenciais. O diálogo político em andamento, as ameaças de penalidades regulatórias e as táticas agressivas de lobby por parte de líderes do setor resultaram na mudança da supervisão da alta cúpula das instituições financeiras nas nações desenvolvidas. No entanto, essa 16 atividade em andamento deixou muitos detalhes operacionais vagos e aumentou o número de órgãos reguladores aos quais as instituições financeiras devem se reportar. Embora tenhamos visto um acordo geral entre os países do G-20 sobre exigências de estabilidade financeira e regulamentação, ainda há graus conflitantes de normas entre os países. Isso requer que esforços de adequação às regulamentações sejam empreendidos para adaptar as exigências a cada jurisdição. A não conformidade poderia levar a penalidades significativas e representa um risco relevante à reputação quando as atenções se voltarem para áreas sensíveis, como a remuneração de executivos. Vários ajustes importantes estão posicionando as empresas para reagirem à mudança regulatória, à medida que ela se desenrola. As instituições financeiras estão caminhando em direção a um programa de conformidade ágil e dimensionável, apoiado por soluções tecnológicas e uma força de trabalho altamente qualificada. Os líderes das instituições financeiras também estão tratando do processo de adequação às regulamentações de maneiraproativa, prevendo penalidades, quantificando vantagens competitivas e analisando cenários que desencadeariam eventualmente mudanças na atuação geográfica, saídas de produtos ou um plano alternativo de remuneração. Capital O capital não é mais uma mercadoria que possa ser adquirida facilmente. Somente o mercado de títulos negociáveis encolheu mais de 50% de 2007 a 2010. A introdução de novos padrões de capital por meio do Basileia III para os bancos e do Solvência II para as seguradoras aumentou ainda mais o custo do capital. Como resultado, a concorrência por fontes mais baratas e estáveis de capital, como depósitos bancários segurados, é intensa. Exigências de capital de prazo mais longo, no entanto, estão forçando as instituições financeiras a focar medidas de “retorno de capital” para identificar o melhor uso do investimento e os produtos mais eficientes. O resultado desse movimento provavelmente será pressionar as instituições financeiras a fim de diversificar em áreas varejistas do setor, que têm potencial para aumentar a liquidez, inclusive para produtos de seguro que gerem fluxos de caixa positivos no curto prazo. Clientes Os clientes saíram arranhados da instabilidade econômica dos últimos quatro anos, o que “Os setores financeiros estão se moldando em um número menor de grandes instituições líderes e em um número maior de empresas menores e especializadas.” 17 os forçou a se inteirarem mais sobre os riscos e a escrutinar a natureza dos produtos financeiros mais de perto. A instabilidade econômica também aumentou a sensibilidade do cliente em relação aos preços, forçando as instituições financeiras a reduzir taxas ou a diminuir as expectativas de venda. Na luta pela participação de mercado, as instituições financeiras estão preservando margens por meio de mais eficiência, concentrando-se em produtos de serviço intensivo para segmentos menos sensíveis aos preços e abrindo mão de relações com clientes de alto risco. A eliminação de produtos de qualidade mais baixa e o impulso a marcas viáveis mantêm a gama de produtos e serviços oferecidos de forma compatível com a qualidade do cliente e os padrões de preços. Concorrência O cenário concorrencial está repleto de novos participantes, consolidações e competidores dos mercados emergentes. Os novos participantes estão capitalizando seus serviços especializados para atrair clientes do setor financeiro, insatisfeitos e desconfiados dos atuais fornecedores. A consolidação continua a ser um caminho em direção ao crescimento nas economias anêmicas de hoje; a caça às pechinchas é o esporte financeiro do momento. Nos mercados emergentes, os competidores estão agindo com rapidez e agilidade para desenvolver uma presença regional, forçando os fornecedores internacionais a observar seus planos ambiciosos a fim de aumentar o reconhecimento de marca. Novos competidores, mais rápidos e criativos e com altos padrões de serviço ao cliente, estão motivando fornecedores tradicionais a melhorar a experiência do cliente e a resposta aos serviços para não perder terreno. Os setores financeiros estão se moldando em um número menor de grandes instituições líderes e em um número maior de empresas menores e especializadas. Para enfrentar esses desafios, as instituições financeiras estão se voltando para a inovação de serviços, na qual o uso aperfeiçoado da tecnologia pode levar a uma melhor experiência do cliente. Além disso, a capacitação em serviço para o pessoal da linha de frente tornou- se uma grande prioridade para fornecer uma experiência competitiva ao cliente. Aquisições e alienações estratégicas estão mantendo a penetração de mercado alinhada com os objetivos da organização, incluindo investimentos em países emergentes, como o Brasil. Apesar da intensificação das incertezas em torno de aderência a regulamentações, capital, clientes e concorrência, há um grau de estabilidade retornando aos sistemas financeiros mundiais. As instituições que se mantêm concentradas em aproveitar oportunidades nessas quatro áreas centrais estão fortalecendo sua posição para alcançarem êxito no novo cenário global. 18 Novas rotas para o crescimento Com perspectivas reduzidas de expansão nas economias mais maduras, as seguradoras globais estão direcionando seu foco de atuação e capital aos mercados emergentes e para o uso de canais de distribuição não tradicionais. Assim, buscam transitar com mais eficácia nas novas condições do mercado global. A crise financeira que teve início em 2008 acelerou o ritmo das mudanças no mercado de seguros, à medida que os fornecedores intensificaram seus esforços para escorar os fluxos das receitas em queda. Embora a causa-raiz do colapso possa remontar a bancos e empresas de valores mobiliários, o receio de contágio de novos reveses disseminou-se entre todas as instituições de serviços financeiros. As seguradoras estão se saindo melhor do que a maioria, no entanto, devido a medidas eficazes de gestão de riscos e reservas de capital suficientes durante o auge da crise. Apesar de problemas generalizados entre bancos e organizações de valores mobiliários, somente algumas poucas instituições de seguro – a maioria com sede nos Estados Unidos – foram prejudicadas pela crise do sistema financeiro. As seguradoras também continuam a ter uma classificação melhor do que outras instituições de serviços financeiros em pesquisas de avaliação de marca feitas com consumidores. Embora as seguradoras tenham resistido bem durante a crise, a retração econômica ressalta alguns problemas subjacentes com os fluxos tradicionais de receitas das seguradoras, que têm encolhido nos últimos anos. A capacidade das seguradoras de gerar receita a partir de subscrições tradicionais em economias desenvolvidas foi afetada de modo adverso com a alta saturação do mercado e com prejuízos de bilhões de dólares em riscos seguráveis durante a retração econômica. Fluxos de ganhos de investimento, que constituem uma das principais fontes das 19 receitas dos seguros, também estiveram sob pressão devido à constante volatilidade do mercado. A ameaça de recessão global pressionou as taxas de juros para baixo. A continuidade de taxas de juros mais baixas reduz a capacidade das seguradoras de gerar receita suficiente para cobrir custos fixos de produtos de investimento e limita o retorno que podem oferecer aos consumidores em seguros de vida e produtos de anuidade. O ambiente saturado de regulamentações complica os esforços das seguradoras de agir estrategicamente e caminhar em novas direções. Tanto os países individualmente quanto as organizações normatizadoras continuam a introduzir medidas regulatórias em resposta à crise financeira. No âmbito internacional, medidas destinadas à estabilidade do setor, como o Solvência II, já estavam sendo adotadas antes da crise. A ênfase no foco da reforma regulatória na União Europeia e nos Estados Unidos impõe muitos desafios, entre os quais, nas áreas de estrutura operacional, planejamento fiscal e aderência a regulamentações. O ajuste fino das Normas Internacionais de Relatórios Financeiros (o IFRS, de “International Financial Reporting Standards”), do International Accounting Standards Board (IASB), provavelmente terá impacto na elaboração dos relatórios das seguradoras, além de ônus fiscal. As seguradoras estão enfrentando um período prolongado no qual ficarão sem saber o que será esperado delas, que demandas e custos de conformidade enfrentarão ou mesmo se continuarão viáveis em determinados mercados. As seguradoras estão agindo para aproveitar o potencial de novas Por Joe Guastella Líder global da Deloitte para aindústria de seguros 20 possibilidades de geração de lucros, apesar da incerteza regulatória. Com o crescimento estagnado nas economias avançadas, os líderes do setor de seguros estão mudando seu foco e capital – financeiro, tecnológico e intelectual – para mercados emergentes e canais de distribuição não tradicionais, onde podem ter maiores oportunidades para direcionar o crescimento. As seguradoras estão estudando a possibilidade de ampliar sua presença em economias em desenvolvimento, nas quais a penetração do setor de seguros é baixa. O grande número de pessoas não seguradas ou subseguradas no Brasil, junto com uma economia resiliente e uma classe média em crescimento, apresenta uma nova frente atrativa para melhores retornos. Além de ter a quinta maior população do mundo, o Brasil tem várias qualidades que tornam as perspectivas de venda animadoras para as seguradoras. Entre essas qualidades, estão mercados comerciais internacionais abertos, um crescimento projetado consistente e taxas estáveis de inflação, consumo, impostos e dívida pública. O Brasil é um dos vários países que estão agindo para mudar estruturas fiscais e regulatórias a fim de atrair empresas estrangeiras de serviços financeiros. O setor interno de seguros foi liberalizado para permitir investimentos e participação de empresas estrangeiras no crescimento emergente do setor no País. Como resultado, a previsão é de que o mercado brasileiro de seguros cresça a uma taxa média de quase 10% até 2013, ultrapassando em muito a média projetada do mercado global de cerca de 3%. À parte a nova penetração de mercado, as seguradoras estão ajustando seu conjunto de produtos e serviços para atender aos tipos de produtos de seguro que os consumidores querem nas economias pós-recessão. Com pouco dinheiro e desconfortáveis com produtos que não entendem, os consumidores das economias avançadas em geral estão passando de produtos complexos ou híbridos para produtos simples e fáceis de entender, com cobertura em áreas que os compradores acreditam não poder bancar por não ter proteção, como contratos de anuidade à prova de inflação e seguros de vida e saúde. Isso está limitando as oportunidades do setor para avançar com produtos e serviços inovadores de margem mais alta. “Nos mercados emergentes, a economia pode ser diferente, mas as demandas do consumidor são surpreendentemente similares. Empresas e consumidores têm mais ativos para proteger e renda disponível para comprar produtos de seguro em função de suas economias em expansão.” 21 Diferenças•e•semelhanças Nos mercados emergentes, a economia pode ser diferente, mas as demandas do consumidor são surpreendentemente similares. Empresas e consumidores têm mais ativos para proteger e renda disponível para comprar produtos de seguro em função de suas economias em expansão. Os novos compradores, que representam o grosso das vendas, demandam coberturas simples a fim de proteger ativos e futuros fluxos de renda. Atingir esses e outros consumidores globais pode ser inicialmente problemático. Embora as seguradoras tenham um alto índice de satisfação do cliente, historicamente tiveram dificuldade em atingir novos clientes. As seguradoras estão buscando melhorar a experiência do cliente e ampliar os canais de distribuição para criar vários pontos de contato no mundo virtual e também no mundo real. As seguradoras estão explorando canais não tradicionais de distribuição para aumentar os fluxos de receita e reconstruir a confiança do consumidor no setor, com melhores respostas aos serviços. Cada vez mais os consumidores estão acessando a internet com a finalidade de comparar produtos de seguro em seus dispositivos móveis. Agregadores online também estão surgindo para atuar como atacadistas para agentes independentes e também como fontes de mercado para pequenos empresários e consumidores de seguro pessoal. Nos mercados em desenvolvimento, o bancassurance é uma maneira fundamental de conectar as seguradoras com potenciais clientes porque o banco é um ponto de contato inicial para aqueles que usam serviços financeiros pela primeira vez. O setor bancário no Brasil é fortemente capitalizado e bem regulamentado e as redes de agências são bem estabelecidas, dando ao bancassurance um público-alvo com interesse em obter apoio financeiro. A maioria das grandes empresas do setor de seguros local é filiada a bancos que têm extensos canais de distribuição internos por meio das redes de agências. O bancassurance permite às seguradoras vender produtos em mercados onde outros concorrentes não podem estar presentes. Os fluxos de receita foram inexoravelmente alterados com a crise financeira, forçando os líderes do setor de seguros a equilibrar a incerteza regulatória com a busca de crescimento em novos centros globais de lucro. As seguradoras que abrirem caminho para os mercados emergentes e canais não tradicionais de distribuição estarão transitando com mais eficácia nas novas condições de mercado. As seguradoras que reavaliam constantemente seus modelos de negócio e os reposicionam para aproveitar as oportunidades predominantes, tanto nas economias avançadas quanto nas emergentes, têm um futuro brilhante pela frente. O país do presente se revela As facetas do crescente mercado interno Capítulo 2 24 Um bônus a conquistar O aumento da população ativa no País, com o chamado “bônus demográfico”, trará grandes perspectivas para as seguradoras que conseguirem oferecer diferenciais como tranquilidade e segurança, além de produtos e formas de pagamento acessíveis às classes menos favorecidas. O momento de consistente otimismo econômico vivido no Brasil nos últimos anos – e que se projeta para os próximos – tem relação com um fenômeno chamado “bônus demográfico”. Isso significa que, em um determinado período, a População Economicamente Ativa (PEA) vai ultrapassar a de dependentes, formada por idosos e crianças. Portanto, nos próximos 20 anos, teremos uma maior concentração de pessoas na faixa etária entre 15 e 60 anos, que, com mais emprego e educação, uma vez supridas suas necessidades mais básicas, chegarão a conquistar um patrimônio maior – e ampliarão seus sonhos. Cria-se um cenário mágico e otimista para o mercado segurador, principalmente para profissionais e empresas que perceberem que é preciso proporcionar tranquilidade e segurança, além dos aspectos econômicos, oferecendo instrumentos e orientação para a proteção das conquistas e dos sonhos de cada um. Porém, para que os efeitos econômicos e socialmente benéficos do bônus social sejam plenamente alcançados, o País precisa superar alguns desafios básicos, conhecidos e amplamente debatidos, mas que ainda carecem de planejamento efetivo e ações mais dinâmicas de resultado palpável. É preciso investir consistentemente em infraestrutura e, fundamentalmente, em educação. A partir do momento em que os gargalos logísticos forem desfeitos e a educação de qualidade fizer desabrochar todo o talento dos profissionais brasileiros, o Brasil vai confirmar seu papel de destaque continental e mundial. 25 Quanto ao setor de seguros, temos três necessidades principais, gerais, além daquelas específicas para cada segmento. Primeiro, é preciso criar soluções de produtos e formas de pagamento acessíveis para classes menos favorecidas. É necessário considerar também os efeitos da degradação ambiental, que já começam a ser sentidos com mais intensidade em algumas regiões e afetam cálculos, sinistros e prêmios. E ainda há um longo caminho no sentido de ampliar a visão da importância do seguro na sociedade brasileira. Necessidades•específicasPor segmentos específicos, hoje, em média, apenas 25% da frota brasileira de automóveis é segurada. Os mercados de São Paulo e Rio de Janeiro são os que estão mais amadurecidos, mas há ampla oportunidade de crescimento. A estimativa é de que esse mercado cresça entre 9% e 11% ao ano até Um bônus a conquistar 2013. Algumas ações poderiam tornar o seguro auto mais acessível a uma parcela maior da frota, como: redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para veículos com idade superior a dez anos, modificações na lei que permitiria o uso de peças genéricas ou até mesmo usadas para a reparação dos veículos e, por último, uma fiscalização mais intensa focando o uso de álcool, responsável por uma parcela significativa dos acidentes envolvendo veículos. No seguro de vida, de um lado, falta consciência da população para a importância dessa segurança, ou mesmo para contratar capitais de proteção que estejam em sinergia com suas verdadeiras necessidades. No que se refere às classes C e D, as seguradoras devem buscar criar produtos que tenham como ponto principal a forma de cobrança mais barata, evitando Por Fabio Luchetti Vice-presidente executivo da Porto Seguro 26 boletos bancários. Os seguros de vida e acidentes pessoais também podem crescer anualmente entre 9% e 11% até 2013. Já em previdência, o aumento do nível de conscientização, com educação eficiente, é que vai levar ao aumento do consumo. Nosso país tem carência de consumo de bens e serviços e a previdência ainda não é vista como uma prioridade nos orçamentos das pessoas. Também até 2013, pode crescer em média 10% ao ano. Ainda falta consciência da população sobre a proteção da residência e há muito espaço para desenvolvimento, uma vez que o ticket médio é bem menor do que as pessoas imaginam. A dotação de serviços agregados, como assistência 24 horas e soluções de conveniência, pode ampliar a receptividade por esse ramo de seguro. A previsão é que os seguros patrimoniais em geral cresçam, até 2013, em média 7% ao ano. No Brasil, o seguro de transporte é obrigatório, porém, calcula-se que mais de 50% das transportadoras ou 50% das cargas transportadas no Brasil não tenham seguro, e isso ocorre basicamente por falta de fiscalização eficiente. O desenvolvimento econômico do País deve impulsionar uma ampla conscientização nesse segmento, além de maiores investimentos em infraestrutura. Acreditamos que esse cenário se reverta em uma maior profissionalização e mais exigência por parte do mercado. O crescimento anual até 2013 pode ficar entre 5% e 7%. Seguros para grandes riscos e de garantia têm grande potencial – com crescimento previsto entre 20% e 40% anualmente, entre 2012 e 2013 – devido à Copa do Mundo e à Olimpíada. Estes são seguros bem complexos, que contam com poucas seguradoras, mas que são especialistas. Do lado do segurado – que, em geral, são grandes empresas –, conta-se com bons gestores de risco e a assessoria de corretores de seguros competentes. O Brasil recentemente abriu o monopólio do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB-Brasil Re), o que permitiu que várias resseguradoras internacionais oferecessem produtos adequados para o mercado nacional (leia mais a respeito desse tema em artigo nas páginas 46-49). O seguro rural pode crescer de 12% a 20% ao ano até 2013, visto que o Brasil tende a se fortalecer como um grande “Os seguros são importantes instrumentos de tranquilidade e proteção dos sonhos e das conquistas da população, e devem ser disseminados da forma adequada para que os ganhos com o desenvolvimento econômico sejam protegidos agora, e no futuro.” 27 0147 258 369 Idade 0 a 4 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49 50 a 54 55 a 59 60 a 64 65 a 69 70 a 74 75 a 79 80 ou mais 5 a 9 9852 741 630 A•revolução•etária•do•Brasil• Em•1980 Em•2010 Em•2030 Milhões de pessoas 0147 258 369 9852 741 630 0 a 4 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49 50 a 54 55 a 59 60 a 64 65 a 69 70 a 74 75 a 79 80 ou mais 5 a 9 Idade Fonte: Research – Deloitte (a partir de dados do IBGE) Milhões de pessoas Milhões de pessoas Idade 9852 741 6300147 258 369 0 a 4 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49 50 a 54 55 a 59 60 a 64 65 a 69 70 a 74 75 a 79 80 ou mais 5 a 9 competidor mundial na produção de alimentos e bioenergia. Porém, depende dos governos aumentarem os subsídios para a consolidação desse seguro. A•cultura•do•seguro Portanto, o bônus demográfico é fato, e pode proporcionar um período de grande prosperidade – consta que a reconstrução da Europa e do Japão no pós-Segunda Guerra Mundial foi auxiliada pela larga faixa de população economicamente ativa para amparar o crescimento. Entretanto, é preciso que as condições socioeconômicas e o trabalho das empresas sejam direcionados para potencializar esse momento. Penso que estamos no caminho certo. É importante que o Brasil continue se desenvolvendo e ampliando a renda. Do lado dos seguros, também é importante que as regras e resoluções permitam o desenvolvimento de produtos que atinjam públicos cada vez maiores, de diversos nichos e segmentos da população. Também precisamos disseminar a cultura do seguro, tanto nos principais centros urbanos como em regiões menos centrais. Os seguros são importantes instrumentos de tranquilidade e proteção dos sonhos e das conquistas da população, e devem ser disseminados da forma adequada para que os ganhos com o desenvolvimento econômico sejam protegidos agora, e no futuro. Mulheres Homens O comparativo entre como era o perfil etário da população brasileira há três décadas, como é hoje e como ficará ao final da terceira década do século evidencia o tamanho da transformação social, o que impulsionará o consumo de bens e serviços. E também de produtos de seguros. Pirâmide etária no Brasil 28 O novo objeto de desejo A expansão do mercado de seguros reflete o aumento do poder de compra da população brasileira. Nela, estão pessoas que, depois de um primeiro momento de ascensão social, passaram a consumir novos bens e a criar o seu patrimônio. Agora, elas querem preservar suas conquistas e proteger suas famílias. O mercado brasileiro de seguros, previdência complementar aberta e capitalização vive um ótimo momento. Apenas no primeiro semestre de 2011, esses três segmentos, juntos – sem contar o seguro saúde –, faturaram mais de R$ 61 bilhões, 20% a mais do que nos seis primeiros meses de 2010. Para a sociedade, a boa notícia foi o crescimento de 19% da soma das indenizações de seguros. Até junho de 2011, as seguradoras destinaram a esse fim cerca de R$ 13,1 bilhões. Isso significa que, do começo do ano até o dia 30 de junho, o mercado devolveu para os segurados aproximadamente R$ 72,7 milhões por dia ou, ainda, R$ 3 milhões a cada hora. São recursos que garantem a sobrevivência das famílias no caso do óbito do segurado, asseguram a continuidade dos negócios, protegem o investidor e impulsionam novos empreendimentos. Praticamente todas as carteiras mantiveram um ritmo acelerado de crescimento, mas é importante destacar os seguros de pessoas, que cresceram 24% no primeiro semestre, movimentando R$ 9,3 bilhões. Essa carteira espelha com exatidão um dos pilares do atual estágio de crescimento da economia brasileira, qual seja, a recuperação do poder de compra da população e, principalmente, a inserção no mercado de consumo das classes de menor renda. As pessoas, com dinheiro no bolso, viajam mais, o quese refletiu no comportamento do seguro turístico, ou de viagem, destaque no semestre, com crescimento de 42,3%. O cidadão comum, diante de um quadro econômico favorável, também 29 consome mais, investe em educação e contrata proteções para a família. Não por acaso, os seguros prestamista (que garante o pagamento das prestações em caso de morte ou desemprego do segurado), educacionais e de vida geraram receita de prêmios da ordem de R$ 9,3 bilhões no primeiro semestre, com um salto de 24% em comparação ao registrado nos seis primeiros meses de 2010. E, para atender a um contingente cada vez maior – e mais exigente – de consumidores, o mercado brasileiro conta com empresas sólidas e solventes. Prova disso está no site da Superintendência de Seguros Privados (Susep), autarquia do Ministério da Fazenda responsável pela fiscalização e regulamentação desse mercado, que não lista, neste momento, nenhuma companhia de seguros, entidade de previdência aberta nem sociedade de capitalização sob o regime de direção fiscal ou mesmo sob intervenção. E, mesmo nos casos de empresas em liquidação extrajudicial ou ordinária e falência, constam apenas casos muito antigos, alguns instaurados há mais de duas ou três décadas. As empresas são sólidas e o modelo é bem estruturado. O desafio, agora, é tornar os seguros mais simples e a linguagem mais clara. É preciso que o cliente, de qualquer classe social, entenda o que está contratando e o que, eventualmente, o seguro não irá cobrir. Não é exagero afirmar que estamos diante de uma grande janela de oportunidade para tornarmos mais fácil o acesso aos seguros nos próximos anos. Temos bons produtos e o consumidor está predisposto a comprar. Por Marco Antonio Rossi Presidente do Grupo Bradesco Seguros 30 O Grupo Bradesco Seguros, por exemplo, com frequência vai a campo para apurar o que a sociedade pensa e quais produtos são adequados para cada nicho de consumo. Nesses trabalhos, o Grupo descobriu que um seguro que atende às necessidades de comunidades carentes de São Paulo pode não servir para regiões mais pobres do Rio de Janeiro, apesar da proximidade geográfica desses dois grandes centros urbanos. Essa constatação pode ser útil no desenvolvimento de produtos da linha de microsseguros, cujas vendas, segundo a Susep, devem ter início em 2012, seguindo uma nova regulamentação, em fase “Não é exagero afirmar que estamos diante de uma grande janela de oportunidade para tornarmos mais fácil o acesso aos seguros nos próximos anos.” A•voz•do•consumidor As pesquisas demonstram que a caminhada é longa, mas as perspectivas são as melhores possíveis. Contudo, não é aconselhável seguir por atalhos e é importante ter cuidado especial com eventuais obstáculos. Por garantia, o melhor é ouvir o que tem a dizer o consumidor. 31 final de análise (leia mais a respeito de “microsseguros” em artigo nas páginas 36-39). É um mercado que, para muitos analistas, pode atrair até 100 milhões de pessoas para a indústria do seguro – cidadãos que nunca na vida tiveram acesso a uma apólice. Porém, em um patamar acima desse público-alvo do microsseguro, do ponto de vista da capacidade financeira, estão aqueles cidadãos que, nos últimos anos, conseguiram ascender socialmente, conquistaram um maior poder de compra e passaram a consumir, inclusive seguros. Essa é a nova classe média, composta por cerca de 50 milhões de pessoas que, de acordo com levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), subiram um degrau na escala social, entre 2003 e 2011, e fizeram do Brasil o país do chamado “BRIC” (integrado também por Rússia, Índia e China) que melhor conciliou crescimento econômico e redução das desigualdades sociais (leia mais a respeito da “nova classe média” em artigo nas páginas 32-35). São pessoas que, no primeiro momento da sua ascensão social e financeira, correram para consumir bens e aumentar o seu patrimônio e que, a partir de agora, precisam assegurar a manutenção desse novo status quo e ainda proteger suas famílias de infortúnios. São consumidores que precisam ser tratados com distinção e cautela. Para a conquista desses novos segurados, é recomendável oferecer, primeiro, produtos mais simples, tais como os seguros residenciais e de vida, deixando para um segundo momento os produtos com maior sofisticação. O estudo feito pela FGV apurou ainda que o brasileiro é o povo mais otimista com relação ao que lhe reserva o futuro. Em uma escala que varia de zero a dez para medir o que os pesquisadores classificaram de “felicidade futura”, a população brasileira surpreendeu ao dar nota 8,7 à expectativa de satisfação com a vida até 2014. Em outros 146 países pesquisados, a média foi de 6,5. É um quadro extremamente favorável para quem almeja, como o mercado de seguros, estar ao lado desse otimista cidadão no momento em que ele for comprar, por exemplo, um carro ou a casa própria. Cria-se, assim, um processo que repercute no ânimo de toda a sociedade e, consequentemente, no desenvolvimento econômico e social do País. Dessa forma, o Brasil, habitado por um povo essencialmente otimista e que, além disso, se sente protegido, deixou de ser o país do futuro, para ser a nação do agora. Um país onde a pirâmide social virou um barril, com o achatamento dos extremos e o crescimento inexorável de uma forte classe média. 32 As novas necessidades da nova classe média Os brasileiros que passaram a ter maior acesso ao consumo nos últimos anos se transformaram em protagonistas da economia nacional e representam hoje o grande fator de impulso ao setor de seguros no País. D urante muitas décadas, empresários dos mais diversos setores usaram como argumento para os índices de crescimento medianos e, em muitos casos, baixos de seus mercados a falta de uma classe consumidora forte no Brasil. O empresariado ansiava por um grupo de pessoas que demandasse grandes volumes de produtos e serviços, que movimentasse a indústria nacional e reduzisse a dependência do Brasil em relação à exportação de commodities. No setor de seguros e previdência, a situação não era diferente. Acreditávamos que um dos motores que impulsionaria a expansão desse segmento seria o maior acesso à renda. O discurso de que o brasileiro não tinha a “cultura do seguro” era apenas em parte verdadeiro. Afinal, como ter o hábito de fazer seguro se não há patrimônio a ser protegido, se não há padrão de vida a ser conservado? Por essa razão, os seguradores torciam pela chegada de um tempo em que o País finalmente formaria uma massa de pessoas propensas ao consumo. Pois bem, nos últimos anos, o desejo dos empresários e empreendedores brasileiros parece ter se tornado realidade. Entre os anos de 2003 e 2009, quase 30 milhões de pessoas entraram para a classe C, grupo que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tinha, no último ano desse período, uma renda familiar de até R$ 4.854,00. São pessoas que emergiram das classes D e E e que deixaram a miséria e a pobreza para trás ao conseguirem um emprego formal, ao obterem renda por meio de programas 33 governamentais, ao disporem de crédito, ao terem acesso à educação. Esse fenômeno, que não aconteceu da noite para o dia, e é resultado de diversas políticas sociais e inúmeras iniciativas do setor privado, alterou drasticamente o desenho da sociedade brasileira. A chamada “classe média” ganhou corpo e forma e hoje representa mais da metade (50,5%) da população do País, em um total de 94,9 milhões de indivíduos. Os dados que cito são do estudo “A Nova Classe Média – O Lado Brilhante dos Pobres”,produzido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) a partir de dados da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao ascender socialmente, esse contingente de milhões de brasileiros passou a consumir. As novas necessidades da nova classe média E muito! Dados do Instituto Data Popular mostram que, em oito anos, entre 2002 e 2010, os gastos da classe C com produtos e serviços aumentaram 6,8 vezes, chegando a 41,3% dos gastos totais dos brasileiros e quase se igualando às despesas das classes A e B somadas. Ou seja, atualmente, as pessoas que pertencem à “nova classe média” nacional são as que mais consomem no País. Esses fatos tornaram a classe C a grande protagonista da economia nacional. O País se apoiou nessa nova demanda interna para passar praticamente incólume pela crise internacional de 2008. As grandes multinacionais passaram a depender muito mais dos resultados de suas subsidiárias brasileiras. E os investidores estrangeiros não hesitaram em depositar milhões no Brasil, contando com retornos vindos, em grande parte, dessa nova massa de consumidores. Por Patrick de Larragoiti Lucas Presidente do Conselho de Administração da SulAmérica Seguros e Previdência 34 A•resposta•do•mercado•segurador Assim como outros setores, o mercado de seguros não ignorou esse movimento social brasileiro. Temos como vantagem o fato de que a segurança é uma necessidade básica do ser humano. Teorias sobre a motivação e o comportamento dos indivíduos apontam que a necessidade de segurança, ou seja, a estabilidade ou a manutenção do que se tem, é a segunda em importância entre todas as demandas dos seres humanos, atrás apenas das necessidades fisiológicas. Essa necessidade vai desde a sensação de estar seguro dentro de casa até o sentimento de estar protegido por um plano de saúde, um seguro de automóvel ou mesmo um seguro de vida. Por essa ótica, a ascensão social da classe média brasileira configura-se como o grande impulso ao setor de seguros. Ao passar a adquirir bens aos quais antes “O Brasil caminha para ter um setor de seguros com um maior número de participantes, maior variedade de perfis de consumidores, produtos mais diversificados e maior geração de receita.” 35 de R$ 500 bilhões. São milhares de bens de alto custo de aquisição, automóveis e residências que demandarão seguros para garantir a preservação desses patrimônios. Isso sem falar em bens de menor valor, mas igualmente representativos na vida das famílias brasileiras, como eletrodomésticos. Vale destacar também as inúmeras oportunidades oriundas de um novo mercado que se abre, o de microsseguros, voltado aos segmentos de baixa renda, com produtos desenvolvidos para proteger pessoas das camadas sociais mais humildes contra riscos como morte, acidentes pessoais, doenças e desastres, entre outros (leia mais a respeito desse tema em artigo nas páginas 36-39). Diante dessas portas que se abriram com as mudanças sociais ocorridas no Brasil, o setor de seguros tem se movimentado para criar novos produtos e coberturas adequadas a esse novo perfil de consumidor. Projetos-piloto de empresas ou das instituições que representam o setor ocorrem em diversas cidades do País. O Brasil caminha para, nos próximos anos, ter um setor de seguros com um maior número de participantes, maior variedade de perfis de consumidores, produtos mais diversificados e maior geração de receita. E o que começou com uma alteração na estrutura social do Brasil será, certamente, muito positivo para todos. De autorrealização Desenvolvimento pessoal, conquistas De estima Autoestima, reconhecimento, status Sociais Relacionamento, senso de pertencimento a um grupo De segurança Proteção, abrigo, defesa, emprego Fisiológicas Fome, sede, sono etc Hierarquia das necessidades de Maslow Segurança,•a•nova•necessidade•básica•do•brasileiro Na clássica hierarquia de necessidades proposta pelo teórico Abraham Maslow, a busca por segurança apresenta-se logo na sequência das necessidades fisiológicas, as mais básicas do ser humano. É justamente a essa procura por segurança que a indústria de seguro no mundo todo busca responder, provendo às pessoas a sensação de estarem protegidas por um plano de saúde ou um seguro de vida ou patrimonial. A nova classe média brasileira, ao ter acesso a bens que não possuía, passa a ter agora também a preocupação de protegê-los. não tinham acesso, os novos consumidores brasileiros passarão a ter a preocupação de protegê-los. Para se ter uma ideia, em 2008 foram licenciados 2,8 milhões de novos automóveis e, em 2014, o número deve girar em torno de 4 milhões. Adicionalmente, a estimativa de recursos para o crédito imobiliário em 2014 é 36 Muito além de um “seguro barato” A ascensão de novos consumidores propiciou o desenvolvimento de produtos como o microsseguro no Brasil, mas, para ser bem-sucedido em mercados como este, é preciso mergulhar fundo no universo social dos potenciais compradores e criar soluções de alta qualidade. D esde o lançamento do Plano Real, cerca de 45 milhões de brasileiros foram inseridos no mercado de consumo. No período entre 2002 e 2010, a população brasileira cresceu 10%, enquanto a classe média ampliou-se em mais de 30%. Como reflexo da ascensão social, reduzem-se as taxas de mortalidade, ampliando a população de idosos. Ao mesmo tempo, diminui a taxa de fecundidade. O resultado acumulado é um “bônus demográfico”, quando a maior concentração da população está na faixa considerada economicamente ativa, entre 15 e 64 anos. Essa condição apresenta-se como propícia ao desenvolvimento econômico, à melhoria da qualidade de vida e ao crescimento do consumo de bens e serviços. O volume de arrecadação de seguros no Brasil ficou acima de R$ 112 bilhões em 2010, com reservas da ordem de R$ 178 bilhões. Nesse período, a relação entre seguros e o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro chegou a 3,1% e a tendência para os próximos anos é que essa proporção cresça. É importante ressaltar que o índice de penetração seguros/PIB no Brasil é menor do que em outros países, como Índia (5,1%), Chile (4%), China (3,8%) e Venezuela (3,5%), fato que mostra o amplo espaço existente para crescimento no setor. Não obstante a crise internacional, as perspectivas para a economia brasileira continuam positivas. Para o período entre 2011 e 2014, é esperado um crescimento de 15% a 20% em prêmios de seguro. Os seguros residenciais e habitacionais se ampliarão movidos pela expansão do setor 37 imobiliário, cujo crédito alcançou a cifra de R$ 100 bilhões em 2010, com expectativas de que cheguem a R$ 500 bilhões em 2014. Na parcela da população classificada como de baixa renda – que ganha até dois salários mínimos per capita –, 50% já possuem ou estão pagando sua casa própria e são clientes potenciais para os dois seguros citados. Já os seguros de vida e de acidentes pessoais e o seguro prestamista têm projeção de crescimento da ordem de 60% para os próximos quatro anos. Um•conceito•a•ser•compreendido A mudança no painel demográfico do Brasil trouxe a demanda pelo desenvolvimento do microsseguro, considerado parte da Política de Microfinanças do Governo Brasileiro e um valioso instrumento de redução da vulnerabilidade a que estão expostas as populações economicamente menos favorecidas. Muito além de um “seguro barato” Teoricamente, o microsseguro é definido como “a proteção financeira fornecida por provedores autorizados para a população de baixa renda contra riscos específicos, em troca de pagamentos de prêmios proporcionaisàs probabilidades e aos custos dos riscos envolvidos, em conformidade com a legislação e os princípios de seguro globalmente aceitos”. Uma simplificação grosseira leva alguns a considerarem que o microsseguro é o seguro barato e ponto final. Contudo, a questão é mais complexa, já que se trata de um público com características econômicas e socioculturais específicas, que resultam em necessidades e expectativas diversificadas. Formatar uma solução de proteção (e assegurar sua venda) para esse segmento requer, assim, um mergulho no universo social dos novos consumidores. Por Paulo Rogério Caffarelli Vice-presidente de Novos Negócios de Varejo do Banco do Brasil 38 Quem•são•e•o•que•pensam•os•• novos•consumidores Os novos consumidores têm famílias numerosas, com domicílio predominantemente urbano. Possuem, em média, poucos anos de estudo e altas taxas de analfabetismo funcional. A família é o centro da vida e a fonte de apoio. A convivência familiar e a estabilidade financeira estão entre seus valores básicos, e a casa própria, o automóvel e as viagens são os objetos de desejo maior. O acesso aos bens e serviços financeiros – entre os quais, estão incluídos os seguros – é visto como conquista de cidadania, sobretudo, quando possuem crédito em seu nome (“nome limpo”). Ainda assim, olham os bancos com desconfiança e sentem-se mais próximos das redes de varejo. A proteção à família e aos bens adquiridos é bem vista, mas sentem necessidade da evidência de uma vantagem imediata para fazerem um investimento em seguros. Seguros•em•sintonia O desenvolvimento do mercado de microsseguros pressupõe a formatação de soluções de alta qualidade, que combinem preço acessível, viabilidade econômica com redução de custos e simplificação de processos de regulação de sinistro sem comprometer as seguradoras. Algumas soluções e diferenciais que merecem destaque são: seguro de vida e acidentes pessoais; inclusão de sorteios entre os segurados; ênfase no auxílio-funeral como assistência; seguros de proteção financeira; pacote de assistências voltadas à família, lazer, reparos residenciais e veiculares, além de descontos em medicamentos; e seguros residenciais e habitacionais para fazer frente à expansão do mercado imobiliário. Quanto ao desenvolvimento de soluções que contemplem as necessidades desses novos consumidores, o momento exige, ainda, que a precificação se dê com base em fórmulas de cálculo que considerem os diferenciais do microsseguro, combinando preço acessível e massificação das vendas. Outro desafio diz respeito ao aperfeiçoamento e à ampliação dos canais de distribuição. No caso do sistema financeiro, a adoção dos correspondentes bancários ampliou significativamente os pontos de vendas e aproximou a oferta dos locais de vida e trabalho do consumidor. “(...) os agentes reguladores também têm a sua tarefa: regulamentar o mercado de microsseguros, definindo critérios e atualizando marcos regulatórios para a sustentação do pleno desenvolvimento desse mercado promissor.” 39 Mas é preciso diversificar os canais: lojas, empresas concessionárias e provedoras de serviços públicos e redes varejistas são outras alternativas. Da mesma forma, a comunicação deve ser inovadora. A linguagem a adotar, com tom menos formal e fugindo do complicado “segurês”, deverá fortalecer a credibilidade da marca, desmistificar o produto e apresentá-lo de forma clara e transparente, deixando ao cliente o direito de decidir entre prós e contras. Igual simplificação se impõe aos processos internos e mecanismos de venda, com a adoção de dispositivos automáticos de venda, regulação descomplicada do sinistro – sem que isso implique maior risco para as seguradoras – e capacitação de equipes, sempre com foco na eficiência. Para alcançar tal aprimoramento, os agentes reguladores também têm a sua tarefa: regulamentar o mercado de microsseguros, definindo critérios e atualizando marcos regulatórios para a sustentação do pleno desenvolvimento desse mercado promissor. 40 A próxima etapa evolutiva Depois dos avanços sociais e do aumento da demanda, a indústria de seguros no Brasil já começa a entrar em uma nova etapa, com a ênfase do consumidor por seguros de vida, previdência e saúde. Evolução própria de um mercado em crescimento e com maior penetração dos produtos. O Brasil é hoje um mercado observado e cortejado por governos, empresas e investidores de todo o mundo. Os importantes avanços nas áreas social, econômica, política e financeira garantiram um ambiente estável de negócios e de geração de riqueza – o que, associado ao tamanho do País, tornou o Brasil rota obrigatória no fluxo de investimentos internacional. O sétimo maior Produto Interno Bruto (PIB) do mundo, com aproximadamente US$ 2,3 trilhões, tem espaço nobre nas decisões sobre presente e futuro. Quando olhamos mais especificamente para o mercado interno, notamos que a demanda é muito robusta, puxada principalmente pelo crescimento da classe média, que representa hoje aproximadamente um potencial de consumo de US$ 700 bilhões, ou seja, mais do que o PIB da Suíça ou mais do que o PIB da Argentina e do Chile juntos. Continuam existindo, no entanto, grandes necessidades de consumo reprimidas, principalmente nas classes sociais com renda menor. É nesse público que o potencial de vendas do setor de seguros será, nos próximos anos, o maior. Por isso, torna-se hoje um desafio estratégico entender o perfil desse consumidor e ficar cada vez mais próximo desse potencial futuro cliente. A população das classes C, D e E tem um perfil de consumo relativamente diferente e diversificado. Enquanto a classe E vive um momento de recuperação de um longo período de consumo reprimido, mais concentrada no ciclo de compra de bens de primeira necessidade, como alimentação, 41 vestuário ou até bens eletrodomésticos, as classes C e D apresentam já uma cesta de compra mais sofisticada. As classes C e D, consideradas em geral como a classe média, já pensam ou investem, por exemplo, em produtos mais caros, como computadores, carros e imóveis. Grande parte da classe E de hoje tende a evoluir e crescer amanhã para as classes D e C, entrando, assim, na classe média. Diante disso, essas classes criam um potencial de mercado importantíssimo para os diferentes nichos e segmentos de mercado, tanto na indústria como para os serviços. No caso da indústria de seguros, a realidade não é diferente. O potencial é tão grande que tem uma regulamentação própria em estudo, a de microsseguros (leia mais a respeito de “microsseguros” em artigo nas páginas 36-39). Esse projeto deverá, assim, criar, em um futuro relativamente próximo, a exemplo do que já é observado em outros países emergentes, um novo segmento de seguros mais populares, com prêmio baixo e volumes de venda importantes. O objetivo aqui é dar acesso às classes com renda menor (C, D e E) aos diferentes produtos de seguros, no sentido de garantir tranquilidade no presente e segurança no futuro. A cultura de busca de proteção pelo brasileiro nas coberturas dos produtos de seguros está começando a emergir no Brasil e cada vez mais brasileiros adquirem produtos de seguros. A criatividade das empresas do setor de seguros, observada nos últimos anos em termos de lançamento de produtos, tem ajudado muito, mas o grande passo, o principal, está sendo feito pelo brasileiro, cada vez mais interessado em buscar e adquirir o produto. Por Jérôme Garnier Diretor financeiro da Caixa Seguros 42 Proteção•à•vida Enquanto alguns anos atrás era priorizada a proteção de um bem, como o automóvel, por exemplo,hoje se dá mais ênfase à proteção da vida ou ao planejamento financeiro. Essa evolução é típica de um mercado de seguros em crescimento e com avanço da penetração. Assim, costuma-se observar que, nos países menos desenvolvidos, o segmento de seguros não-vida, geralmente auto, tem o maior peso. Nos países onde a indústria de seguros está mais desenvolvida e mais avançada, os seguros de vida e previdência ganham uma importância mais relevante. Espera-se, dessa forma, que, com o crescimento da atividade e da classe média nos próximos anos, o mercado de seguros no Brasil deverá ser caracterizado por um forte crescimento no segmento de seguros de vida e previdência, mas também em saúde, pois o padrão de saúde pública mostra os seus limites. A Caixa Seguros, seguradora da Caixa, está bem posicionada para atender a esse novo mercado consumidor. De fato, a Caixa Econômica Federal, hoje o segundo maior banco público da América Latina, é considerada o banco do povo brasileiro. Está entre os poucos bancos que têm presença em todos os municípios do Brasil. Além disso, a sua rede bancária é complementada pela rede de agências lotéricas e correspondentes bancários presentes também em todo o País. No total, são mais de 60 mil pontos de atendimento para atender a toda a diversidade das classes brasileiras. Com isso, a sua presença e o seu relacionamento no dia a dia com o brasileiro são muito intensos. Para a Caixa Seguros, isso traduz importantes nichos de mercado. Com aproximadamente 9 milhões de clientes, a seguradora apresenta um potencial de penetração de produtos de seguros muito grande, certamente um dos maiores do mercado brasileiro nos próximos anos, considerando os 54 milhões de clientes da Caixa, a diversificação da sua carteira, a sua experiência em termos de produtos e, principalmente, a confiança do povo brasileiro na marca Caixa. É importante lembrar que a Caixa Seguros foi a primeira empresa a lançar no mercado brasileiro, em 1995, produtos de seguros populares de venda massificada, como os seguros Caixa Fácil Acidentes Pessoais e Caixa Fácil Residencial. Hoje, o Grupo tem diversos “É importante que se entenda o papel da indústria de seguros, que não diz respeito apenas a uma pessoa ou família ou mesmo empresa, mas a toda a sociedade.” 43 produtos populares à disposição do brasileiro, como, por exemplo, o seguro de vida “Vida da Gente” na rede Caixa, o seguro Amparo e o título de capitalização “Super X Cap” na rede lotérica. A Caixa Seguros tem, de fato, vocação para se tornar uma das maiores seguradoras desse segmento. É importante que se entenda o papel da indústria de seguros, que não diz respeito apenas a uma pessoa ou família ou mesmo empresa, mas a toda a sociedade. Quando os elos da cadeia econômica e social estão protegidos, garante-se uma corrente forte, que funciona sem sustos ou falhas em sua estrutura. “Nos países onde a indústria de seguros está mais desenvolvida e mais avançada, os seguros de vida e previdência ganham uma importância mais relevante.” 44 Horizonte sem fim De portas abertas para o investimento Capítulo 3 46 A segurança das seguradoras O cenário econômico e os empreendimentos em infraestrutura e grandes eventos impulsionam o setor de resseguros no Brasil, cuja atual legislação contribui para o vigor do mercado nacional, protegendo as seguradoras diante de instabilidades financeiras do exterior. O Brasil apresenta um cenário econômico bastante promissor, a despeito dos inúmeros desafios colocados pela crise financeira internacional. Inflação sob controle, um nível adequado de reservas e uma trajetória favorável da relação entre dívida e Produto Interno Bruto (PIB) são algumas das condições macroeconômicas que permitem antever a continuidade do ciclo de crescimento econômico, da distribuição de renda e da redução das desigualdades regionais. Em função desse contexto, os setores público e privado brasileiros retomaram suas capacidades de investir em infraestrutura – notadamente em energia, transporte e saneamento – e de realizar megaeventos esportivos, como a Copa do Mundo de futebol, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016. Sem falar nos investimentos necessários para a exploração do petróleo do pré-sal, que, por sua magnitude, constituem um capítulo à parte. A concretização de todas essas conquistas da sociedade brasileira exigirá – além de muito planejamento, determinação e trabalho – uma ampla oferta de seguros bem estruturados e a preços razoáveis. As seguradoras, por sua vez, em razão da grande capacidade técnica e financeira necessária para dar cobertura a tais empreendimentos, têm buscado proteção para suas carteiras por meio de resseguro. Felizmente, a indústria de resseguros encontra-se preparada para isso. Depois de 70 anos de monopólio, o mercado 47 brasileiro de resseguros foi aberto à entrada de competidores nacionais e estrangeiros. Atualmente, são cerca de 100 cadastrados no órgão regulador de seguros do Brasil. Sobram capacidade, conhecimento e vontade de fazer parte deste momento positivo do País. Mais importante até do que a simples abertura do mercado foi o fato de a legislação de 2007 ter assegurado a permanência de um mercado nacional de resseguros pujante e apto a oferecer proteção ressecuritária para as seguradoras que operam no Brasil. Esse aspecto é fundamental, pois uma crise internacional pode retirar subitamente a liquidez e o apetite por risco dos resseguradores globais, como ocorreu no final de 2007 e no início de 2008, e, nesse cenário adverso, a preservação de um mercado local forte garante não A segurança das seguradoras apenas que empregos, expertise e tributos permaneçam no Brasil, mas também que haja capacidade financeira a fim de contribuir para o desenvolvimento do País. O Instituto de Resseguros do Brasil (IRB- Brasil Re), na qualidade de ressegurador estatal, ex-monopolista e atual líder do mercado aberto, também tem feito sua parte, viabilizando soluções de resseguro, como a cobertura da construção da usina de Angra III, por exemplo, o maior negócio do mercado brasileiro em 2011. Para atender cada vez melhor a seus clientes no Brasil e no exterior, a empresa passa por uma grande transformação, caracterizada pela revisão de todas as suas políticas e diretrizes de aceitação e gerenciamento de riscos, pela atualização de todos os seus processos de trabalho e pela completa modernização de seus sistemas de tecnologia da informação. Por Leonardo André Paixão Presidente do IRB-Brasil Re 48 A atuação do IRB-Brasil Re, a criação de resseguradores de capital brasileiro e a vinda para o País de dezenas de resseguradores globais demonstram o sucesso das novas regras, que disciplinam o resseguro no Brasil e reafirmam a confiança dos agentes privados e do governo brasileiro em um futuro pleno de oportunidades – não apenas para resseguradores, mas para todos aqueles que, direta ou indiretamente, fazem parte do processo de aprimoramento da nossa infraestrutura e, em um sentido mais amplo, da construção de um país economicamente mais forte e socialmente mais justo e solidário. “Mais importante até do que a simples abertura do mercado foi o fato de a legislação de 2007 ter assegurado a permanência de um mercado nacional de resseguros pujante e apto a oferecer proteção ressecuritária para as seguradoras que operam no Brasil.” 49 2008 2009 2010 *2011 38 67 82 94 Maior•competição•
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