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1 OS DESAFIOS SOCIOEDUCATIVOS INCLUSIVOS NA RESSOCIALIZAÇÃO DOS PRIVADOS DE LIBERDADE DO SISTEMA PENAL DO ESTADO DO CEARÁ PARA O SÉCULO XXI MARCUS AURÉLIO DE MEDEIROS KARBAGE Orientadora: Drª. Sandra Siqueira Santos Co-Orientador: Dr. José Evangelista Damasceno Linha de Pesquisa: Segurança, Sistema Penal e Ressocialização. Asunción - 2017 2 Analisando criticamente a eficácia da ressocialização do condenado que, independente do ilícito penal cometido, quando do cumprimento em regime fechado, e ou semiaberto é submetido a condições desumanas em presídios superlotados, sendo, na maioria dos casos, “instruído” ali numa “faculdade do crime”, ou seja, quando posto em liberdade, sai pior do que quando ingressou naquela instituição prisional, pois as inúmeras leis não produzem os resultados concretos desejados e esperados pela comunidade brasileira. Diante dessa situação, a grande problemática talvez seja a ressocialização, quase sempre ineficaz, que por parte do Estado com sua estrutura em desarranjo e sistemas de informações precarizados, existe pouca iniciativa para mudança quanto a isto, pois as prisões atualmente têm como finalidade apenas castigar, esquecendo sua meta principal que seria reconduzi-lo a sociedade de maneira mais humana e digna. PROBLEMATIZACÃO 3 Analisar os Desafios Socioeducativos inclusivos enfrentados na Ressocialização dos Privados de Liberdade no Estado do Ceará, presentes no Século XXI no ano de 2015. OBJETIVO GERAL 4 Identificar os tipos de Desafios Socioeducativos inclusivos enfrentados na Ressocialização dos Privados de Liberdade aplicados no Sistema Penal do Ceará no ano de 2015. Estabelecer a população carcerária que está sendo contemplada nos Desafios Socioeducativos de Ressocialização destes Privados de Liberdade em 2015, fazendo um estudo comparativo dos últimos cinco anos. Demonstrar os impactos positivos e negativos enfrentados na Ressocialização dos Privados de Liberdade dentro dos Estabelecimentos Prisionais do Estado do Ceará no ano de 2015. Avaliar a contribuição social, educacional, familiar, religiosa, material na ressocialização e inclusão dos Privados de Liberdade no Sistema Penal do Ceará para o Século XXI no ano de 2015. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 5 No mundo moderno que vivemos percebe-se a existência de uma inegável discrepância entre a realidade prisional do Estado do Ceará e o que é preconizado na legislação brasileira e em legados internacionais. A falta de políticas públicas no contexto macro e o descaso com as normas legais e institucionais existentes no Brasil fazem com que a ressocialização e a inclusão social do privado de liberdade não ocorra de forma equânime e igualitária. Contudo a lei que mais discute sobre a real efetivação ou não, se trata da Lei de Execução Penal – LEP, considerada uma das mais modernas do mundo, mas é inexeqüível em muitos de seus dispositivos por falta de estrutura adequada ao cumprimento das penas privativas de liberdade e das medidas alternativas previstas, pois fazendo um paralelo do que está escrito na Lei para a nossa realidade. JUSTIFICATIVA 6 MARCO TEÓRICO LEI Nº 7.210, de 11 de Julho de 1984 – Lei de Execução Penal – LEP LEI 12. 433 – Dispõe sobre a remição de parte do tempo de execução da pena por estudo ou por trabalho. LEI 12.403 - Altera dispositivos do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, relativos à prisão processual, fiança, liberdade provisória, demais medidas cautelares, e dá outras providências. CALHAU, Lélio Braga (2015). A “ressocialização” de presos e a terceirização de presídios: impressões colhidas por um psicólogo em visita a dois presídios terceirizados CABRAL, Luisa Rocha; SILVA, Juliana Leite. O trabalho penitenciário e a ressocialização do preso no Brasil. GOMES NETO, Pedro Rates. A prisão e o sistema penitenciário: uma visão histórica. 7 O estudo privilegia o método descritivo exploratório, tendo uma abordagem Mista (Qualitativa e Quantitativa), por utilizarmos métodos dedutivos e indutivos, onde trabalharmos um número de Privados de Liberdade do Sistema Prisional do Estado do Ceará para produzir o delineamento da investigação. Para Alvarenga (2012, pág. 40), Sampieri et al (2015 pág. 364) e Damasceno (2015, pág. 163) “A investigação quantitativa emprega diferentes concepções filosóficas; estratégia de investigação; métodos de coleta, análise e interpretação dos dados, proporcionando respostas aos problemas em questão”. No entanto, no enfoque qualitativo, não se busca uma relação de causa e efeito, más sim, a explicação do fenômeno estudado. MARCO METODOLÓGICO 8 METODOLOGIA Caráter do estudo: Revisão Documental, Bibliográfica com enfoque – Quali-quantitativo. Quantitativo: Utilizarmos métodos dedutivos, que tem por objetivo descrever ou explicar as descobertas, trabalhando geralmente com amostra probabilísticas [...] da qual se extrai uma amostra para estudar. Qualitativo: Utilizarmos métodos indutivo, que procura compreender as ações e atitudes dos sujeitos envolvidos no estudo, não procura validar teorias e nem generalizar suas descobertas. 9 METODOLOGIA Nível do estudo: Analítico, Comparativo e Descritivo. Período/Tempo : Janeiro a Dezembro 2016. Local da pesquisa: Secretaria da Justiça do Estado do Ceará, Fortaleza. Abrangência: Cenário Estadual do Ceará 10 UNIVERSO, POPULAÇÃO E AMOSTRA Universo: Privados de Liberdade do Sistema Penal do Estado do Ceará População: 21.320 Privados de Liberdade sob custódia do Estado. Amostra: 10 (dez) grandes Unidades Prisionais da Região Metropolitana de Fortaleza. 11 METODOLOGIA TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE COLETAS DE DADOS Procedimentos Técnicas Coleta de dados Documentais e Bibliográficas. Análise dos dados Análises de Conteúdos; Análises Descritivos; e Análises de Estatísticas Multivariadas. 12 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 13 DÉFICIT DE VAGAS DO SISTEMA PRISIONAL DO CEARÁ Total de Vagas Abril/13 Abril/14 Total N % N % N % 10.636 13.751 29,28 16.501 55,14 2.750 25,86 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 14 Capacidade e População das Unidades Prisionais ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Capacidade e População das Unidades Prisionais UNIDADE PRISIONAL Capacidade N % Instituto Penal Professor Olavo Oliveira (IPPOO II) 492 657 5,5 Casa de Privação Provisória de Liberdade Des. Francisco Adalberto de Oliveira Barros Leal (CPPL Caucaia) 900 1065 8,8 Casa de Privação Provisória de Liberdade Agente Penitenciário Luciano Andrade de Lima (CPPL I) 900 1099 9,1 Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto (CPPL II) 952 982 8,2 Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor José Jucá Neto (CPPL III) 952 1049 8,7 Casa de Privação Provisória de Liberdade Agente Elias Alves da Silva (CPPL IV) 936 1093 9,1 Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS) 940 297 2,5 Penitenciária Francisco Hélio Viana de Araújo (Pacatuba) 525 596 5 Instituto Penal Feminino Desembargadora Auri Moura Costa (IPF) 374 426 3,5 Penitenciária Industrial Regional do Cariri (PIRC) 549 459 3,8 Penitenciária Industrial Regional de Sobral (PIRS) 500 527 4,4 Hospital Geral e Sanatório ProfessorOtávio Lobo (HSPOL) 30 36 0,3 Instituto Psiquiátrico Governador Stênio Gomes (Manicômio) 104 76 0,6 Cadeias Públicas 3228 3678 30,5 TOTAL 11382 12040 100 15 Distribuição de presos por faixa etária e unidade prisional UNIDADE PRISIONAL Faixa Etária 18-24 25-29 30-34 35-45 46-60 >60 Total Casa de Privação Provisória de Liberdade Des. Francisco Adalberto de Oliveira Barros Leal (CPPL Caucaia) 469 326 190 167 30 3 1185 Casa de Privação Provisória de Liberdade Agente Penitenciário Luciano Andrade de Lima (CPPL I) 391 426 282 214 45 1 1359 Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto (CPPL II) 1056 378 195 153 30 0 1812 Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor José Jucá Neto (CPPL III) 621 396 207 123 12 1 1360 Casa de Privação Provisória de Liberdade Agente Elias Alves da Silva (CPPL IV) 834 494 249 145 27 0 1749 Centro de Execução Penal e Integração Social Vasco Damasceno Weyne 481 433 315 434 165 6 1834 Hospital Geral e Sanatório Professor Otávio Lobo (HSPOL) 17 6 2 11 3 0 39 Irmã Imelda 22 19 12 28 30 45 156 Instituto Penal Feminino Desembargadora Auri Moura Costa (IPF) 290 181 104 153 64 8 800 Instituto Penal Professor Olavo Oliveira (IPPOO II) 86 126 101 110 41 3 467 Instituto Psiquiátrico Governador Stênio Gomes (Manicômio) 11 17 18 26 26 10 108 Penitenciária Francisco Hélio Viana de Araújo (Pacatuba) 73 134 101 118 39 1 466 TOTAL 4351 2936 1776 1682 512 78 11335 16 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Situação Jurídica UNIDADE PRISIONAL I % II % III % IV % Total % CPPL Caucaia 308 2,71% 40 0,35% 798 7,02% 39 0,34% 1185 10,42% CPPL I 509 4,48% 0 0,00% 771 6,78% 81 0,71% 1361 11,97% CPPL II 236 2,07% 25 0,22% 1528 13,43% 18 0,16% 1807 15,89% CPPL III 364 3,20% 29 0,25% 928 8,16% 39 0,34% 1360 11,96% CPPL IV 383 3,37% 89 0,78% 1239 10,89% 38 0,33% 1749 15,38% CEPIS 612 5,38% 47 0,41% 1080 9,50% 96 0,84% 1835 16,13% HSPOL 8 0,07% 0 0,00% 28 0,25% 3 0,03% 39 0,34% UP IILP 45 0,40% 11 0,10% 77 0,68% 23 0,20% 156 1,37% IPF 173 1,52% 73 0,64% 536 4,71% 19 0,17% 801 7,04% IPPOO II 22 0,19% 8 0,07% 5 0,04% 432 3,80% 467 4,11% Manicômio 6 0,05% 0 0,00% 99 0,87% 3 0,03% 108 0,95% UP Pacatuba 441 3,88% 6 0,05% 15 0,13% 44 0,39% 506 4,45% TOTAL 3107 27,32% 328 2,88% 7104 62,46% 835 7,34% 11374 100% Nota: I – Fechado, II – Hibridos, III – Provisórios, IV – Semi-Aberto 17 Motivações das Detenções ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Crimes Homem % Mulher % Total % Crime contra patrimônio 5.527 49,10% 334 2,97% 5861 52,07% Contra a pessoa 2.907 25,82% 163 1,45% 3070 27,27% Entorpecentes 2.267 20,14% 59 0,52% 2326 20,66% TOTAL 10.701 95,06% 556 4,94% 11257 100,00% 18 Motivações das Detenções por idade ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Idades / Crimes Crime contra patrimônio % Contra a pessoa % Entorpecentes % Total % 18-21 186 1,73 923 8,60 392 3,65 1501 13,98 22-25 469 4,37 1378 12,83 633 5,89 2480 23,10 26-29 580 5,40 1160 10,80 430 4,00 2170 20,21 30-33 495 4,61 797 7,42 300 2,79 1592 14,83 34-37 435 4,05 496 4,62 178 1,66 1109 10,33 38-41 274 2,55 228 2,12 158 1,47 660 6,15 42-45 189 1,76 147 1,37 100 0,93 436 4,06 46-49 136 1,27 83 0,77 74 0,69 293 2,73 50-53 117 1,09 49 0,46 64 0,60 230 2,14 54-57 69 0,64 19 0,18 31 0,29 119 1,11 58-61 24 0,22 11 0,10 24 0,22 59 0,55 62-65 28 0,26 5 0,05 14 0,13 47 0,44 66-69 14 0,13 2 0,02 5 0,05 21 0,20 70-73 6 0,06 0 0,00 6 0,06 12 0,11 74-76 3 0,03 0 0,00 6 0,06 9 0,08 TOTAL 3025 28,17 5298 49,34 2415 22,49 10738 100 19 Distribuição dos detentos por gênero e nível de escolaridade Distribuição dos detentos por gênero e nível de escolaridade ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Nível de Escolaridade Homens Mulheres Total N % N % N % Analfabeto 1189 10,38% 51 8,75% 1240 10,30% Sabe ler e escrever, mas não frequentou escola 174 1,52% 4 0,69% 178 1,48% 1º Grau Incompleto 6022 52,56% 292 50,09% 6314 52,44% 1º Grau Completo 1370 11,96% 67 11,49% 1437 11,94% 2º Grau Incompleto 1613 14,08% 92 15,78% 1705 14,16% 2º Grau Completo 862 7,52% 48 8,23% 910 7,56% Ensino Técnico Incompleto 11 0,10% 0 0,00% 11 0,09% Ensino Técnico Completo 16 0,14% 1 0,17% 17 0,14% Ensino Superior (3º Grau) Incompleto 83 0,72% 19 3,26% 102 0,85% Ensino Superior (3º Grau) Completo 37 0,32% 4 0,69% 41 0,34% Pós Graduação 2 0,02% 0 0,00% 2 0,02% Não informado 78 0,68% 5 0,86% 83 0,69% TOTAL 11457 100% 583 100% 12040 100% 20 CONCLUSÕES A maioria das unidades prisionais do Estado abrigam um número de detentos superior à sua capacidade. Em sua consequência, nestes ambientes, a superlotação na maioria das vezes é comum, bem assim as condições deficientes de infraestrutura. Principalmente os homens recolhidos sofrem com esta situação. Em relação às mulheres, as condições de abrigo são melhores. Também para elas, além do trabalho, são oferecidos mais cursos profissionalizantes, ademais de contar com mais projetos realizados pela sociedade civil, além, dos religiosos. Dentro das celas, encontram-se símbolos e vestígios de uma tentativa por parte do que está isolado de manter um imperceptível fio com a sociedade que os tenta aliviar. Observam-se afixadas nas paredes páginas de revistas com fotografias, nomes de familiares ou ente queridos, versículos bíblicos, frases de incentivo, nomes de baixo calão, riscos com a contagem dos dias ali passados. Também é comum encontrar um televisor. A oferta de vagas para trabalho nas unidades prisionais é insuficiente ante o contingente populacional encarcerado, consequentemente, a ociosidade predomina. 21 Diante da analise e coleta de dados feitas no transcurso do estudo, percebeu- se a existência de falhas na elaboração das informações do Censo 2013/2014 da Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado do Ceará, porém essas inconsistências não prejudicaram os resultados da pesquisa que ajudaram no fundamentação deste estudo. Contudo, o cenário encontrado revela uma realidade dura e que ratifica o processo de exclusão de que é vítima essa população. O reconhecimento, por intermédio do Censo, do perfil desse sujeito, das condições de encarceramento e da vivência do cotidiano dessas pessoas pode ser tomado, entretanto, como um esforço do estabelecimento de ações e desenvolvimento de políticas que não façam perdurar historicamente a condição precária dessa população ante a sociedade, que, bem ou mal, integram. Os dados apresentados constituem um momento fundamental, mas ainda embrionária diante do potencial que pode proporcionar às instituições que, direta ou indiretamente, atuam junto aos encarcerados. O trabalho precisa ser desdobrado e efetivado, para cumprir, assim, o objetivo precípuo de promover a reinserção dessas pessoas. 22 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS Em virtude da complexidade do tema aqui dissertado, considera-se que não se exaurem as possibilidades discursivas sobre a temática Ressocialização e Inclusão Social dos Privados de Liberdade do Estado do Ceará. Como sugestões e recomendações seguem-se: Que seja garantido aos Privados de Liberdade o direito de retorno à sociedade, livres de preconceitos, estigmas e rotulações; Que seja aplicada a Lei de Execução Penal Brasileira e outros dispositivos legais nacionais e internacionais que garantam a eficácia do processo de reinserção do Privado de Liberdade; Queseja promovida de maneira clara e objetiva a Assistência Educacional, fomentando a necessidade do estudo básico, formal e profissionalizante como um dos pilares do processo de retorno a sociedade; Que a Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado do Ceará, venha a ser mais criteriosa quanto da coleta, elaboração, estruturação e veiculação de informações estatísticas sobre o perfil socioeconômico dos Privados de Liberdade. E por fim, que o estudo venha a contribuir como norteador da real situação pelo qual o Sistema Penitenciário do Estado do Ceará vem passando. A partir dessas considerações se abra uma gama de oportunidades para composição de outros estudos com essa temática. 23
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