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Das penas, Regimes e Medidas de Segurança Apresentador: Me. Willian Vieira Costa Zonatto APLICAÇÃO DAS PENAS Regras de Tóquio sobre Penas e Medidas Alternativas, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas por meio da Resolução 45/110, de 14 de dezembro de 1990. Regra 14.3, proclama-se que: “O insucesso de uma medida não privativa de liberdade não deve implicar automaticamente na imposição de medida privativa de liberdade”. CF, XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis; APLICAÇÃO DAS PENAS CPP - Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: § 2º O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade. (Incluído pela Lei nº 12.736, de 2012). Para fins didáticos, pode-se intitular este direito (nota-se o uso de verbo impositivo ao magistrado “será”) de “detração processual”: nenhum requisito é exigido pela lei, salvo o simples desconto do total de pena cumprida em modalidade cautelar para a alteração do regime inicial de cumprimento de pena, parametrizado pelo art. 33, § 2º do Código Penal (aberto, semiaberto e fechado). APLICAÇÃO DAS PENAS Um exemplo simples: desconto de 6 meses de prisão preventiva numa dada condenação inicial à pena de 4 anos e 4 meses, de pessoa primária, deve levar à fixação do regime inicial aberto, diante do reenquadramento da reprimenda final abaixo dos 04 (quatro) anos – art. 33, § 2, alínea “c” do CP. Trata-se de direito público subjetivo do sentenciado, a desafiar recurso de apelação ou Habeas Corpus, diante dos evidentes tolhimento ou restrição à liberdade ambulatorial. Os efeitos desta aplicação são cruciais para o regular processamento do processo executivo penal, desde já antecipando o chamado desvio de execução, ainda em sede de processo de conhecimento. Não se trata de progressão de regime, mas de fixação de regime inicial de pena. Portanto, não se aplica o art. 112 da LEP. O presídio de Ilha Grande - RJ O comando vermelho teria surgido em 1979, no presídio de Ilha Grande (Instituto Penal Cândido Mendes – RJ). Tida como a primeira grande facção prisional brasileira, teria sido fruto da mistura de presos políticos do regime militar com presos “comuns”, na galeria B, nos fundos da penitenciária. Na época, a unidade era dividida de acordo com as “falanges”. O discurso revolucionário dos presos políticos alavancou o sentimento de revolta dos presos comuns, frente as condições de encarceramento. A falange LSN (que derivava da “lei de segurança nacional”) transformou-se na falange “vermelha”. Enquanto “comando vermelho” foi um nome atribuído pela imprensa. O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Taubaté Recomendação 62 do CNJ - pandemia Rebelião em unidades prisionais de São Paulo, em virtude do cancelamento da saída temporária, em 16 de março de 2020. Tivemos a oportunidade de acompanhar uma delas, no CPP de Tremembé, possivelmente a maior unidade prisional do país em extensão territorial. Uma das primeiras decisões coletivas exaradas para a concessão de prisão domiciliar a pessoas com comorbidades. O Caso “Plácido de Sá” - RHC 136.961 A 5ª turma do STJ determinou que seja contado em dobro período em que um homem esteve preso no Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, no Complexo Penitenciário de Bangu, localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro. resolução da CIDH - Corte Interamericana de Direitos Humanos, ao reconhecer o instituto inadequado para a execução de penas, especialmente em razão de os presos se acharem em situação degradante e desumana, determinou que se computasse "em dobro cada dia de privação de liberdade cumprido". Ministro Reynaldo Soares da Fonseca: "Ao sujeitar-se à jurisdição da Corte IDH, o país amplia o rol de direitos das pessoas e o espaço de diálogo com a comunidade internacional. Com isso, a jurisdição brasileira, ao basear-se na cooperação internacional, pode alargar a efetividade dos direitos humanos”. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca: "Os juízes nacionais devem agir como juízes interamericanos e estabelecer o diálogo entre o direito interno e o direito internacional dos direitos humanos, até mesmo para diminuir violações e abreviar as demandas internacionais.“ EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. LEGITIMIDADE. IPPSC (RIO DE JANEIRO). RESOLUÇÃO CORTE IDH 22/11/2018. PRESO EM CONDIÇÕES DEGRADANTES. CÔMPUTO EM DOBRO DO PERÍODO DE PRIVAÇÃO DE LIBERDADE. OBRIGAÇÃO DO ESTADO-PARTE. SENTENÇA DA CORTE. MEDIDA DE URGÊNCIA. EFICÁCIA TEMPORAL. EFETIVIDADE DOS DIREITOS HUMANOS. PRINCÍPIO PRO PERSONAE. CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE. INTERPRETAÇÃO MAIS FAVORÁVEL AO INDIVÍDUO, EM SEDE DE APLICAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS EM ÂMBITO INTERNACIONAL (PRINCÍPIO DA FRATERNIDADE - DESDOBRAMENTO). SÚMULA 182 STJ. AGRAVO DESPROVIDO. DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS - 1984 Art. 43. As penas restritivas de direitos são: I - prestação de serviços a comunidade; II - interdição temporária de direitos; III - limitação de fim de semana. Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: I - aplicada pena privativa de liberdade inferior a um ano ou se o crime for culposo; II - o réu não for reincidente; III - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. Das penas restritivas de direitos - 1998 Previstas, timidamente, na parte Geral do Código Penal (reforma de 1984), as penas restritivas de direito ganham fôlego legislativo com a edição da Lei 9.714 de 1998. Modalidades: CP - Art. 43. As penas restritivas de direitos são: (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998) I - prestação pecuniária; (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998) II - perda de bens e valores; (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998) III - limitação de fim de semana. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; (Incluído pela Lei nº 9.714, de 25.11.1998) V -interdição temporária de direitos; (Incluído pela Lei nº 9.714, de 25.11.1998) Das penas restritivas de direitos Previstas no Código Penal de 1984. Após, receberam o aporte com a lei de 1998. A princípio, nascidas para substituir a pena de prisão, trataram logo de representar mais uma forma de simbolismo e poder de expansão do direito penal. Em termos claros, diante dos requisitos exigidos, simplesmente são aplicáveis a quem já não sofria o encarceramento. Modalidades: prestação pecuniária, perda de bens e valores, prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas, interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana. Natureza jurídica: direito do condenado, embora, na prática incida uma discricionariedade desregrada do juízo. Basta usarmos como exemplo o crime de tráfico, ainda que privilegiado. Das penas restritivas de direitos - execução Execução provisória: vedada, como deveria ser vedada qualquer forma de execução de pena até o trânsito em julgado. Súmula 643 do STJ: “A execução da pena restritiva de direitos depende do trânsito em julgado da condenação”. Execução: art. 147 da LEP - uma vez transitada em julgado a sentença que aplicou a pena restritiva de direitos, o Juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, promoverá a execução, podendo, para tanto, requisitar, quando necessário, a colaboração de entidades públicas ou solicitá-la a particulares. Das penas restritivas de direitos – início da execução Qual o início da execução da pena?Dado relevante para fins de prescrição. Entendemos ser com o primeiro comparecimento ao local de trabalho, por exemplo, na prestação de serviço. Assim, a ciência (assinatura) dos termos da pena alternativa não é causa interruptiva da prescrição, mas somente seu efetivo início, por falta de previsão legal (não existe causa suspensiva ou interruptiva no CP). “Argumenta o agravante, em síntese, a ocorrência da prescrição da pretensão executória, pois a seu ver, a audiência de advertência de 16 de outubro de 2018 não interrompeu o decurso prescricional, vez que não consta do rol taxativo do art. 117 do Código Penal (fls. 01/04). Embora exista controvérsia acerca do tema, o Código Penal é claro, por meio de seu art. 112, inciso I, ao determinar que a prescrição executória começa a correr “do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou do livramento condicional”. Portanto, no caso, o lapso prescricional é de 04 anos, conforme o art. 109, V, e p. único, c.c. o art. 110, ambos do Código Penal, decorrido entre a data do trânsito em julgado da condenação para o Ministério Público e a presente, PORQUE A AUDIÊNCIA ADMONITÓRIA, DATA VÊNIA AO ENTENDIMENTO CONTRÁRIO, NÃO CONFIGURA INÍCIO DO CUMPRIMENTO DE PENA, NEM TAMPOUCO É MARCO INTERRUPTIVO DA PRESCRIÇÃO, NÃO CONSTANDO DO ROL DO ART. 117 DO CÓDEX”. (AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL Nº 0008131- 34.2020.8.26.0625. TJSP – 19 DE FEVEREIRO DE 2021). Das penas restritivas de direitos - alteração Alteração da execução pelo juízo: previsão de que em qualquer fase da execução, poderá o Juiz, motivadamente, alterar a forma de cumprimento das penas de prestação de serviços à comunidade e de limitação de fim de semana, assentando às condições pessoais do condenado e às características do estabelecimento, da entidade ou do programa comunitário ou estatal (art. 148 da LEP). Alteração por outras penas restritivas: vigora na prática, pelo menos em nossa região, a impossibilidade de substituição de pena restritiva. Uma severa violação à individualização da pena em fase executiva. Exemplo: muito comum o sentenciado trabalhar e não conseguir exercer a prestação de serviço comunitário; a defesa requerer pelo pagamento de prestação pecuniária e ser indeferido. Leva, em muitos casos, à revogação do direito e opção pelo cumprimento de pena corporal (em regime aberto, por ex.). Das penas restritivas de direitos - alteração Das penas restritivas de direitos - extinção Extinção: prestação pecuniária e perda de bens e valores extinguem- se com o adimplemento. A prestação pecuniária é pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, valor fixado judicialmente. Nunca inferior a 1 salário-mínimo nem superior a 360 salários mínimos. O montante pode ser deduzido de ação de reparação civil, se forem os mesmos beneficiários (art. 45, § 1º, do CP). As demais modalidades dependem de um cumprimento continuado, que se protrai no tempo da pena fixada pelo juízo do processo de conhecimento criminal: prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas, interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana Da conversão de penas restritivas em privativa 1 – O Código Penal prevê que a pena restritiva de direitos se converte em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta (art. 44, § 4º). 2 – Num segundo caso (art. 44, §5º): superveniência de condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime - o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior. Observar sempre a necessidade inerente de exercício do contraditório e da ampla defesa, entendida como parte a autodefesa: oitiva do sentenciado. Obs.: Importante entendimento de Cezar Roberto Bitencourt – penas com caráter pecuniário são ilegalmente convertidas em privativas de liberdade (assim como no caso da multa, igual entendimento deveria ser adotado para a prestação pecuniária). A LEP prevê falta grave exclusiva para penas restritivas de direitos: Art. 51. Comete falta grave o condenado à pena restritiva de direitos que: I - descumprir, injustificadamente, a restrição imposta; II - retardar, injustificadamente, o cumprimento da obrigação imposta; III - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei. Da conversão de penas restritivas em privativa O art. 76 do CP deve prevalecer para todos os fins. Havendo penas restritivas de direito e privativas da liberdade, sempre propugnamos pela suspensão da execução "mais leve" em detrimento das mais cogentes. Às vezes obtemos êxito, como no caso deste acórdão (próximo slide), Lembrando que o choque de normas acontece com o art. 44, §§ 4⁰ e 5⁰ do mesmo CP. Art. 76 - No concurso de infrações, executar-se-á primeiramente a pena mais grave. Lembre-se que não há prejuízo ao Estado, uma vez que a prescrição da pena restritiva estará suspensa (art. 116; Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo). Prestação de serviços Prestação de serviços à comunidade: condenação superior a seis meses de privação da liberdade, devendo ser cumprida à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação. Se for superior a um ano, é facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo (art. 55 do CP), desde que não inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada. Regra geral: duração de 8 horas semanais, distribuída de maneira que não prejudique a jornada normal de trabalho do sentenciado. Limitação de fim de semana e interdição temporária de direitos Limitação de fim de semana: obrigação de permanecer em algum local designado pelo juízo, aos sábados e aos domingos, por 5 horas diárias. Também entendemos, para fins prescricionais, que a pena tem início com o primeiro comparecimento. Interdição temporária de direitos: alguns exemplos - a) proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo; b) proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público; c) suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo; d) proibição de frequentar determinados lugares; e) proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos... Como todo o sistema penal, carrega em si alta dose de violação da dignidade humana, com comprometimento direto da sobrevida do sentenciado e de seu núcleo familiar (violação à garantia fundamental da intranscendentalidade da pena). SURSIS Sursis vs. suspensão condicional do processo (Lei 9.099/95): implica na condenação do réu e suspensão do cumprimento da pena. Gerador, portanto, de reincidência, suspensão dos direitos políticos, obrigação de reparação do dano. (Lei. 9099/95 - Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal). Requisito objetivo: a – sursis simples – pena privativa de liberdade até 02 anos; b – sursis etário – pena até 4 anos, desde que o sentenciado tenha 70 anos de idade; sursis humanitário – pena até 4 anos – razões de saúde justifiquem a suspensão. SURSIS Outros requisitos: Não reincidência em crime doloso; culpabilidade, antecedentes, conduta social e personalidade do agentes bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão; não seja cabível substituição por pena restritiva de direitos. sursis em leis especiais: Lei de Segurança Nacional (art. 5º) e na Lei de Contravençõespenais (art. 11); sursis na lei 9.605/98 – art. 16 – penas não superiores a 03 anos (crimes ambientais). Sursis especial: além dos requisitos exigidos para o sursis simples, há a necessidade de reparação do dano ou a comprovação da impossibilidade de fazê-lo. E mais: no sursis especial o réu fica proibido de frequentar determinados lugares, não pode se ausentar da comarca sem autorização do juiz e deve comparecer pessoalmente em juízo mensalmente. Condições aplicadas cumulativamente. Recusa ao Sursis Recusa ao Sursis: o sentenciado pode recursar a aplicação do sursis, diante da evidente desproporção de seu uso em grande parte dos casos (sobretudo em condenações ao regime aberto, sem casa do albergado). A redação do art. 161 da LEP denota a clara necessidade de adesão do sentenciado ao aceite das condições. Art. 161. Se, intimado pessoalmente ou por edital com prazo de 20 (vinte) dias, o réu não comparecer injustificadamente à audiência admonitória, a suspensão ficará sem efeito e será executada imediatamente a pena. Trata-se de um direito e como tal é facultativo. Assim, se ele pode não comparecer à audiência, pode igualmente comparecer e negar o direito e optar pelo cumprimento da pena fixada. Momento para a recusa: No caso concreto, é inviável, neste momento processual, a análise de revogação do sursis, porquanto esta Corte possui a orientação de que somente após o trânsito em julgado e designada audiência admonitória pelo juízo da execução penal é que poderá o apenado renunciar ao sursis, caso não concorde com as condições estabelecidas e entenda ser mais benéfico o cumprimento da pena privativa de liberdade (REsp n. 1.384.417/DF, Rel. MinistroRogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 06/04/2015) – (AgRg nos EDcl no REsp n. 1.830.877/SP, Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe 21/2/2020). Sursis e Crimes hediondos / crimes da lei de drogas Não há qualquer vedação à aplicação do sursis, em caso de condenação a crimes hediondos ou equiparados, sobretudo diante dos julgados do STF sobre a inconstitucionalidade de uma série de previsões que limitavam a individualização da pena (progressão de regime, regime inicial obrigatório, etc.). Atenção à previsão do art. 44 da Lei 11.343/06 – lei de “drogas”. Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º , e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos. A opção legislativa permanece em vigência, apesar de sua inconstitucionalidade, por ampliar o rol restritivo de proibições da Constituição Federal (XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos) e impedir a individualização da pena. Como um direito subjetivo, todas as interpretações possíveis só podem ser direcionadas à ampliação de seu cabimento e não à sua restrição. É inconstitucional a vedação à conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos, prevista nos artigos 33, § 4º, e 44, caput, da Lei 11.343/2006 (ARE 663261/SP, DJe 06/02/2013, Tema 626). Revogação do Sursis Causas obrigatórias: 1 – condenado por sentença irrecorrível, por crime doloso; 2 – frusta, mesmo solvente, o pagamento da pena de multa ou não efetua a reparação do dano, injustificadamente; 3 – Descumpre as condições fixadas no primeiro ano – prestar serviços à comunidade ou submeter-se à limitação de fim de semana. Causas facultativas: 1 – descumprimento das outras condições impostas; 2 - Condenação irrecorrível pela prática de crime culposo ou contravenção, a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos. Contraditório e ampla defesa: necessidade de intimação da defesa técnica para manifestação, em quaisquer das situações. Requerimento: sugere-se pedido de prorrogação do período de prova, como prática de redução de danos, destinando a revogação à impossibilidade de concomitância de cumprimento. Sursis e prescrição A regra constitucional é pela ocorrência da prescrição, sendo a CF expressa nas hipóteses proibitivas à ocorrência do direito subjetivo. Ex vi art. 5º, (inciso XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático). Termo inicial da prescrição após a sentença condenatória irrecorrível Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr: I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional Pena de Multa Histórico legislativo: 1984: Art. 51. A multa converte-se em pena de detenção, quando o condenado solvente deixa de paga-la ou frustra a sua execução. Modo de conversão § 1º Na conversão, a cada dia-multa corresponderá um dia de detenção, não podendo esta ser superior a um ano. 1996: Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se lhe as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública. 2019/2020: Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição. MP e PGE Ordinariamente, cabia somente à Fazenda Pública a execução da multa penal. Entretanto, o STF, ao julgar a ADI 3150, indicou que o MP tem legitimação prioritária para tanto. Apesar disso, o STF estabeleceu um prazo para que o MP inicie essa execução, qual seja, 90 dias contados a partir de sua intimação. Se for ultrapassado, a cobrança será feita pela Fazenda Pública, na Vara de Execução Fiscal: “EMENTA: EXECUÇÃO PENAL. CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PENA DE MULTA. LEGITIMIDADE PRIORITÁRIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. NECESSIDADE DE INTERPRETAÇÃO CONFORME. PROCEDÊNCIA PARCIAL DO PEDIDO. 1. A Lei nº 9.268/1996, ao considerar a multa penal como dívida de valor, não retirou dela o caráter de sanção criminal, que lhe é inerente por força do art. 5º, XLVI, c, da Constituição Federal. MP e PGE 2. Como conseqüência, a legitimação prioritária para a execução da multa penal é do Ministério Público perante a Vara de Execuções Penais. 3. Por ser também dívida de valor em face do Poder Público, a multa pode ser subsidiariamente cobrada pela Fazenda Pública, na Vara de Execução Fiscal, se o Ministério Público não houver atuado em prazo razoável (90 dias). 4. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido se julga parcialmente procedente para, conferindo interpretação conforme à Constituição ao art. 51 do Código Penal, explicitar que a expressão “aplicando-se lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição”, não exclui a legitimação prioritária do Ministério Público para a cobrança da multa na Vara de Execução Penal COBRANÇA NO PROCESSO DE CONHECIMENTO ABATIMENTO DA FIANÇA E POSSIBILIDADE DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. INTIMAÇÃO PARA PAGAMENTO E POSSIBILIDADE DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. NÃO ENCONTRADO/A; NÃO PAGOU – EXPEDIÇÃO DE CARTA DE SENTENÇA E ABERTURA DE VISTA AO MP INÍCIO DOS 90 DIAS PARA A AÇÃO DE EXECUÇÃO DISPOSTOS NA ADI 3150 . INEXISTINDO AÇÃO DE EXECUÇÃO APÓS ESSE PROCEDIMENTO E OCORRENDO CAUSA EXTINTIVA DA PUNIBILIDADE, O JUIZ DO CONHECIMENTO DECLARARÁ EXTINTA A PUNIBILIDADE PENHORA DO PECÚLIO IMPENHORABILIDADE EXPRESSA ART. 833, IV DO CPC Art. 833. São impenhoráveis: IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios,bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º HÁ VEDAÇÃO NO ART. 50, DO CP: § 1º - A cobrança da multa pode efetuar-se mediante desconto no vencimento ou salário do condenado quando: a) aplicada isoladamente; b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de direitos; c) concedida a suspensão condicional da pena. § 2º - O desconto não deve incidir sobre os recursos indispensáveis ao sustento do condenado e de sua família PROGNOSES DEFENSIVAS Fundamentos: violação à dignidade humana (art. 1º, inciso III, CF); Violação à proibição de penas de caráter perpétuo; Violação à intranscendência da pena (atinge todo o núcleo familiar); Tentativa de balizamento de que a insolvência seja explicitamente uma condição para a não extinção da punibilidade; Violação ao art. 15, inciso III da CF (perpetuidade da suspensão dos direitos políticos); Não poderia nunca ser executada pelo Ministério Público, muito menos na Vara de Execuções Penais, mesmo porque, conforme art. 129, IX da Constituição Federal, veda-se ao Ministério Público a “representação judicial de entidades públicas.” Vedação de acesso a uma série de direitos sociais: a) Bolsa família: exige CPF ou título de eleitor para o cadastro; b) b) Minha Casa, Minha Vida: idem; c) c) Tarifa Social de Energia Elétrica: idem; d) d) Benefício de Prestação Continuada: exige CPF; e) e) Auxílio Emergencial em razão da pandemia do COVID-19: exige CPF PRESCRIÇÃO CTN - Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva. CP - Art. 114 - A prescrição da pena de multa ocorrerá: I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou aplicada; II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada. MULTA PENAL E LEI DE DROGAS Para efeito de demonstração da inequívoca desproporcionalidade da multa cominada a alguns tipos penais da Lei 11.343/2006: a aplicação da multa mínima (500 dias-multa), prevista pelo caput do art. 33 - referencial exemplificativo (principal infração penal prevista pela Lei 11.343/2006 a motivar o encarceramento). Se para cada dia multa, impuser o valor mínimo de 1/30 do salário mínimo vigente ao tempo do fato, fazendo incidir o redutor máximo de 2/3 previsto pelo § 4º do art. 33, temos o montante de R$ 5.500,00 (cinco mil e quinhentos reais), quase cinco vezes e meio o valor do salário mínimo. A imposição de pena pecuniária nos valores previstos pela Lei 11.343/2006 trabalha no sentido de impedir a reintegração social dos condenados, que terão dívidas impagáveis, pendente por anos MULTA PENAL E LEI DE DROGAS Multa - CP Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. § 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário. § 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária. Lei de Drogas – “tráfico de drogas – pena de multa” Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias MEDIDA DE SEGURANÇA 1 – INTRODUÇÃO - Sanção - Inimputável - Periculosidade - Medida de segurança: definição - Sistemas: vicariante e duplo binário MEDIDA DE SEGURANÇA 2 – A MEDIDA DE SEGURNÇA NO CÓDIGO PENAL - Modalidades: internação e tratamento ambulatorial - STJ, 3ª Seção: pode aplicar tratamento ambulatorial em caso de reclusão - STF, HC 107.432 e HC 97.621; STJ, Súmula 527 - Desinternação: cessação de periculosidade - “Direitos do internado” MEDIDA DE SEGURANÇA 3 – A LÓGICA MANICOMIAL - Segregação hospitalar -“equipe de segurança” x “equipe de saúde” - Hospital-prisão MEDIDA DE SEGURANÇA 4 – REFORMA PSIQUIÁTRICA E LUTA ANTIMANICOMIAL - Franco Basaglia - Lei 10.216/01 - Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo. - Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental: - I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades; MEDIDA DE SEGURANÇA II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração; IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas; V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária; VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento; VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis; IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental. MEDIDA DE SEGURANÇA 6 – QUESTÕES DA EXECUÇÃO NO PLANO PRÁTICO - O exame de cessação de periculosidade - Drogadição - Superveniência de transtorno mental - Descumprimento de tratamento ambulatorial - Negativa do incidente e estratégia de defesa – HC 133.078 STF - Indulto - Estabelecimento Penal comum
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