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85517156-Direito-Penal-Alcian-Aulas-121-Ao-145

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Direito Penal II
Parte especial – art. 121 ao 145
Professor Alcian Souza
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Título I - Dos crimes contra a Pessoa
Capítulo I - Dos crimes contra a vida
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Homicídio
 Homicídio Simples
Art. 121. Matar Alguém
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.
Causa de diminuição de Pena
§ 1º - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
 Homicídio Qualificado
§ 2º - Se o homicídio é cometido:
 I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
 II - por motivo fútil;
 III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
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Homicídio
 IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
 V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
Homicídio Culposo
 § 3º - Se o homicídio é culposo:
 Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Aumento de Pena
 § 4º - No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. 
 § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
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Homicídio
Bem Jurídico -> Vida extra-uterina, iniciada com o parto.
Sujeito Ativo -> qualquer pessoa (crime comum). Citar a hipótese de irmãos siameses (xipófagos).
Sujeito Passivo -> Qualquer ser humano com vida.
Obs.1: Quando a vítima for Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do STF e o agente tiver motivação e objetivos políticos, o crime, em face do princípio da especialidade, será o do art. 29 da Lei de Segurança Nacional.
Obs. 2: Homicídio por omissão -> Responderá por homicídio aquele que omitir seu dever legal de evitar o resultado morte, ignorando sua condição de garantidor, nos termos do art. 13, §2º: dever/poder de prestar atendimento.
Tipo Subjetivo -> A forma dolosa (direta ou eventual) está prevista no caput, parágrafos 1º e 2º. A culpa vem tipificada no §3º. A modalidade preterdolosa se ajusta no disposto no art. 129, §3º.
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Homicídio
Consumação e Tentativa -> Consuma-se com a morte (cessação da atividade encefálica do ofendido) – Crime Material, comprova-se com exame de corpo delito, não sendo possível a realização do mesmo, a prova testemunhal poderá suprir esta falta. Trata-se de crime plurissubjetivo (admite fracionamento na execução), portanto a tentativa é admitida.
Hediondez -> o homicídio será hediondo quando qualificado ou quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio (chacina, matança generalizada), mesmo que por um único executor do grupo. Os delitos hediondos são insuscetíveis de graça, anistia ou indulto e fiança.
Privilegiado -> as três hipóteses constantes do art. 121, §1º:
 a) relevante valor social : interesses de toda coletividade, valor nobre, altruístico (ex. indignação contra um traidor da pátria);
 b) relevante valor moral: interesses individuais, particulares do agente, entre eles os sentimentos de piedade, misericórdia e compaixão (eutanásia por exemplo);
 c) estado anímico do agente (homicídio emocional): o sujeito ativo age, logo em seguida a injusta provocação da vítima, de imediato, sob intenso choque emocional, capaz de anular sua capacidade de autocontrole.
Tais circunstâncias interferem apenas na quantidade da pena e não na qualidade do crime, por isso, na hipótese de concurso de pessoas, tais circunstâncias minorantes, subjetivas, são incomunicáveis entre os concorrentes (art. 30 do CP). São ainda atenuantes genéricas, sendo indiferente o requisito temporal.
Reconhecido o homicídio privilegiado, a redução da pena é obrigatória, segundo entendimento majoritário da doutrina e da jurisprudência.
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Homicídio
Qualificadoras-> O artigo 121, § 2º descreve certas qualificadoras, umas ligadas aos motivos determinantes do crime, indiciários de depravação espiritual do agente (incisos I e II – circunstâncias subjetivas), e outras com o modo maligno que acompanham o ato ou fato em sua execução (incisos III e IV – circunstâncias objetivas). Não se pode confundir com as qualificadoras dos incisos I e II:
Motivo Torpe: motivo vil, ignóbil, repugnante e abjeto. Exemplo dado pelo próprio CP: homicídio mercenário, mediante paga ou promessa de recompensa, é dispensável a efetiva obtenção de vantagem e é aplicável somente ao executor e não ao mandante. Já a vingança pode ou não ser torpe, depende do caso concreto, o que mata o estuprador da filha por exemplo, não incorre nesta qualificadora.
Motivo Fútil: desproporcional, insignificante, como por exemplo por mesquinharia.
Obs. 1: Se o objetivo do agente é matar e ele usa a tortura como meio, incorrerá em homicídio qualificado. Entretanto, se o fim é a tortura, mas a morte adveio culposamente, incorrerá em tortura qualificada pela morte (crime preterdoloso).
Obs. 2: O homicídio pode ser privilegiado-qualificado? (sim, desde que a qualificadora que concorre com o privilégio seja objetiva – incisos III e IV).
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Homicídio
Obs. 3: O homicídio privilegiado-qualificado é crime hediondo? (Há duas correntes. 1. Não, fazendo analogia ao disposto no art. 67 do CP, o privilégio, sempre subjetivo, é preponderante, desnaturando a hediondez do delito. Assim entendem STF e STJ. 2. Sim, o art. 67 trata de atenuantes e agravantes portanto não serve para analogia. Esta corrente defende ainda que a lei 8.930/94 ao incluir o homicídio qualificado no rol dos delitos hediondos não fez qualquer ressalva. )
Obs. 4: Constitui qualificadora a prática de homicídio para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime ainda que este não se realize. Caso o outro crime se consuma, ou haja tentativa, haverá concurso material. Se for para assegurar execução e afins de contravenção não subsiste a qualificadora, podendo incidir em motivo torpe.
Obs. 5: Se o homicídio culposo ocorreu na direção de veículo automotor, aplica-se o art. 302 do CTB, segundo o princípio da especialidade. Como a pena prevista pelo CTB é mais dura que a cominada no CP certa parte da doutrina questiona a constitucionalidade do dispositivo. Prevalece o entendimento pela constitucionalidade, atentando-se para o maior desvalor da conduta.
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Homicídio
Obs. 6 Perdão Judicial -> há a extinção da punibilidade quando as conseqüências do homicídio culposo atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal torna-se desnecessária.
Obs. 7: A competência para processo e julgamento dos crimes dolosos contra a vida é do Tribunal do Júri. A ação penal sempre será pública incondicionada.
Obs. 8: se o agente incorrer em mais de uma qualificadora, uma incidirá no cálculo da pena base e as outras serão consideradas agravantes comuns.
Vide: Súmulas 1) STF – 603 e 538. 2) STJ – 452, 417, 318 e 313.
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Induzimento, Instigação ou auxílio ao Suicídio
 Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
 Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Aumento de Pena 
 Parágrafo
único - A pena é duplicada:
 I - se o crime é praticado por motivo egoístico; (para receber a herança do suicida ou ocupar seu cargo, por exemplo)
 II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. (Alguns autores entendem que abrange a faixa etária entre 14 e 18 anos, menor de 14 anos, segundo eles, como não tem capacidade sequer para consentir um ato sexual, certamente não tem para eliminar a própria vida, razão pela qual configura-se homicídio. Exemplo de autor que entende assim é Guilherme de Souza Nucci. Menor para fins do artigo em comento seriam apenas os que não possuem suprimida, por completo, a capacidade de resistência).
Haverá suicídio quando o ser humano, de forma direta, voluntária e consciente, elimina a própria vida.
Bem Jurídico -> a vida humana.
Sujeito Ativo -> Qualquer pessoa (crime comum).
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Induzimento, Instigação ou auxílio ao Suicídio
Sujeito Passivo -> pessoa capaz (com consciência e discernimento). Sendo incapaz o crime será homicídio, encarando-se a incapacidade da vítima como mero instrumento de quem praticou a morte. Não haverá crime se o induzimento for genérico ( espetáculos, obras endereçadas ao público em geral, discos e afins).
Conduta -> Existem três formas de praticar o crime:
 1) Participação moral: a) Induzimento-> o agente faz nascer na vítima a idéia 			de se matar;
 b) Instigação-> o autor reforça a vontade mórbida 			preexistente na vítima.
 2) Participação Material: Auxílio -> o agente presta efetiva assistência material , emprestando objetos ou indicando meios, sem intervir nos atos executórios.
É admitida a conduta omissiva (garantidor).
Tipo Subjetivo -> dolo (direto ou eventual). Não se admite a forma culposa.
A ação penal é pública incondicionada. A competência para o processo e julgamento é do Tribunal do Júri.
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Induzimento, Instigação ou auxílio ao Suicídio
Consumação e Tentativa -> Há divergência doutrinária a respeito. Rogério Sanches Cunha entende que se consuma com a ocorrência do resultado morte (pena 2 a 6 anos) ou lesão grave (pena 1 a 3 anos), não admitindo tentativa. Em caso de lesão leve ou inexistente o fato será atípico. Já para Luis Regis Prado o delito consuma-se com a mera atividade. Entretanto a aplicação da pena estará sujeita à superveniência do evento morte ou lesão corporal grave (condição objetiva de punibilidade). Caso não se verifiquem o deito não será punível, sequer como tentado.
Obs. 1: o agente deve limitar-se aos atos preparatórios, a execução deve partir da própria vítima.
Obs. 2: quanto ao suicídio conjunto (pacto de morte) caso ambos colaborem para o evento morte e sobrevivam, há homicídio tentado. Se apenas um sobrevive, responde por homicídio consumado. Na roleta russa o sobrevivente responde pelo delito do art. 122.
Obs. 3: No caso do homicídio eutanásico o agente participa da execução delitiva, ainda que com o consentimento da vítima, por isso incorre no art. 121.
Obs. 4: Os delitos constantes do caput do 122 mesmo quando praticados por compaixão, não tem a pena atenuada.
Obs.5: A coação exercida para impedir suicídio não configura constrangimento ilegal.
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Infanticídio
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após.
Pena - detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
A ação é pública incondicionada.
Bem Jurídico -> a vida humana.
Sujeito Ativo -> Trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pela mãe (parturiente), sob influência do estado puerperal.
Concurso de Agentes -> A doutrina, em sua maioria, admite o concurso de agentes: participação (simples auxílio) e co-autoria (quando outrem pratica, juntamente com a mãe, o núcleo do tipo), concluindo que 
Sujeito Passivo -> O ser humano, durante o parto ou logo após. 
Conduta -> Duas circunstâncias elementares essenciais:
		a) elemento cronológico – causar a morte do próprio filho, durante ou LOGO APÓS o parto;
		b) etiológico – ter agido sob a influência do Estado Puerperal, que é aquele que se estende do início do parto até a volta da mulher às condições pré gravidez, trazendo profundas alterações físicas e psíquicas, deixando a mãe sem plenas condições de entender o que está fazendo, há portanto, uma semi imputabilidade.
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Infanticídio
Tipo Subjetivo -> dolo (direto ou eventual) consistente na vontade de matar o próprio filho.
Por qual crime responde a mãe que, sob a influência do estado puerperal, imprudentemente mata o filho recém nascido? (há duas correntes doutrinárias, a primeira defende que trata-se de fato atípico, vez que é inviável atesta a prudência da mulher desequilibrada psiquicamente. Já a segunda e majoritária corrente tipifica homicídio culposo, sendo o estado puerperal matéria decisiva na dosagem da pena.)
Consumação e Tentativa-> Consuma-se com a morte do nascente ou neonato. É crime material. A tentativa é admitida.
Confronto -> Não se confunde com o crime de abandono a recém nascido com resultado morte, o infanticídio é crime contra vida, julgado pelo Tribunal do Júri, prescinde dolo de dano. O segundo é crime de periclitação da vida ou saúde, julgado pelo juízo singular, o agente possui dolo de perigo e a morte é culposa. 
Obs. 1: sendo o estado puerperal elementar do tipo, comunica-se ao co-autor e partícipe.
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Aborto provocado pela gestante ou com o seu consentimento
Art. 124 - Provocar Aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Bem jurídico -> vida intra-uterina.
Início da Gravidez -> se dá com a negação do óvulo fecundado no útero materno. A pílula do dia seguinte não configura método abortivo.
Sujeito Ativo -> a mulher grávida. Crime de mão própria. Admite somente participação, a co-autoria está prevista no art. 126.
Sujeito Passivo -> o óvulo fecundado, embrião ou feto, dependendo do estágio da vida intra-uterina, na hipótese de vários fetos haverá concurso formal de crimes.
Conduta -> são admitidas duas formas. Na primeira a própria grávida por intermédio de meios químicos, físicos ou mecânicos pratica o abortamento. Na segunda ela consente que alguém o provoque.
Tipo Subjetivo -> pune-se somente a título de dolo, consistente na vontade de interromper a gravidez. Nelson Hungria admite ainda o dolo eventual, exemplificando o caso em que a mulher sabe que está grávida e tenta suicídio, resultando no aborto. Não se admite a forma culposa. Caso terceiro cause culposamente, responde por lesão corporal culposa.
Consumação e Tentativa -> Consuma-se com a morte do produto da concepção (crime material). A tentativa é possível.
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Aborto provocado por terceiro
Art. 125 - Provocar Aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos.
Bem Jurídico -> vida intra-uterina.
Sujeito Ativo -> crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa.
Sujeito Passivo -> dupla subjetividade passiva, são vítimas a gestante e o produto da concepção.
Conduta -> interromper uma gravidez , destruindo o feto, sem o consentimento válido da gestante.
Tipo subjetivo -> Dolo (direto ou eventual).
Consumação e Tentativa -> Consuma-se com a destruição do produto da contracepção. Admite tentativa caso o resultado não seja alcançado por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Obs. 1 : Se a gestante for menor de 14 anos, alienada ou débil mental ou se o consentimento é obtido mediante fraude, o consentimento não é válido, portanto o agente incorrerá no presente delito.
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Aborto provocado por terceiro
Art. 126 - Provocar Aborto com o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Parágrafo único - Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 (quatorze) anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.
Bem Jurídico -> vida intra-uterina.
Sujeito
Ativo -> crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa. O concurso de agentes é possível tanto na co-autoria, quanto na participação.
Sujeito Passivo -> apenas o produto da concepção.
Conduta -> interromper uma gravidez , destruindo o feto, com o consentimento válido da gestante. Será considerado crime impossível se manobras abortivas forem executadas em mulher que erroneamente se supunha grávida.
Tipo subjetivo -> Dolo (direto ou eventual).
Consumação e Tentativa -> Consuma-se com a interrupção da gravidez, sendo possível a tentativa.
Que crime pratica quem anuncia meios abortivos? (art. 20, LCP. Anunciar processo, substância ou objeto destinado a provocar o aborto. Pena: multa.)
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Aborto – forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Comentários: 
aplica-se somente aos artigos 125 e 126 uma vez que o direito penal não pune a auto-lesão. Se a gestante morreu provocando o auto-aborto o crime é extinto. Se lhe sobrevém lesão corporal de natureza grave não lhe agrava o crime, encara-se a lesão como uma punição natural. 
O colaborador do auto-aborto também não se submete a esta majorante, posto que não pratica condutas de execução do delito. 
Em qualquer caso se faz presente a figura do preterdolo. Querendo ou assumindo o risco o agente responderá pelo aborto e pela lesão corporal ou homicídio, em concurso formal.
a majoração da pena não pressupõe que o aborto se consume. Basta que a gestante sofra lesão grave ou venha a óbito. Neste caso o agente responde por tentativa de aborto qualificado? ( a doutrina diverge neste ponto. A primeira corrente entende que agente responde pelo crime consumado, aplicando o espírito da Súmula 610 do STF que trata do latrocínio. Já a outra corrente, majoritária, entende que se trata de crime preterdoloso tentado. Por fim, Frederico Marques, Nelson Hungria, Pierangeli e Mirabete entendem que seja tentativa de aborto qualificada pela ocorrência de lesões graves ou pelo evento morte.)
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Aborto 
Art. 128 - Não se pune o Aborto praticado por médico:
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
II - se a gravidez resulta de estupro e o Aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Comentários: 
O artigo supra, de acordo com maioria da doutrina, traz duas causas especiais de exclusão da ilicitude. O aborto necessário e o sentimental. 
Para configurar o aborto necessário necessita preencher três condições:
		a) deve ser praticado por médico, caso seja por outro profissional, apesar de configurar fato típico, o agente pode estar acobertado pelo estado de necessidade.
		b) perigo de VIDA da gestante.
		c) impossibilidade do uso de outro meio para salvá-la.
Este tipo de aborto dispensa autorização judicial ou consentimento da gestante.
No tocante ao aborto sentimental, faz-se necessário:
		a) que seja praticado por médico, caso contrário, haverá crime.
		b) que a gravidez seja resultante de estupro comprovado.
		c) prévio consentimento da gestante ou de seu representante legal.
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Aborto – observações
Havendo estupro de menor de 14 anos permite-se aborto sentimental? ( a maior parte da doutrina entende que sim. Além disso, com o advento da lei 12.015/09 o atentado violento ao pudor passou a ser comportamento alternativo ao crime de estupro e também admite aborto se do ato resultar gravidez.)
Aborto eugenésico (ou eugênico): praticado em face de comprovados riscos de que o feto nasça com anomalias psíquicas e físicas. Não é permitido pela legislação brasileira. Entretanto a doutrina e a jurisprudência admitem em algumas hipóteses, como no caso da acefalia.
Feto acéfalo: há má formação congênita do embrião de forma que este não possui parte vital do sistema nervoso central. Provocado a se manifestar o STF concedeu liminar à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde para reconhecer o direito constitucional das gestantes que decidam realizar a operação terapêutica de parto de fetos anencefálicos, condicionando a interrupção a prévio laudo médico. A liminar determinou ainda paralisação dos processos que discutiam essa possibilidade. 
Obs. 1: se expulso o feto com vida e sua morte é provocada por nova conduta, há concurso material de delitos (aborto tentado e homicídio/infanticídio consumado).
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Aborto – observações
Obs. 2: aborto causado pela inobservância de cuidados pela gestante é impunível.
Obs. 3: Agressão contra mulher grávida, quando agente conhece esta circunstância dá lugar ao concurso de crimes – lesão corporal dolosa e aborto tentado ou consumado. Contudo se o agente desconhecia a gravidez responde por lesão corporal gravíssima.
Obs. 4: a morte de gestante, ciente o agente da gravidez implica concurso formal de homicídio doloso consumado com aborto sem o consentimento da gestante.
Obs. 5: a conduta contra embrião fecundado in vitro não se subsume aborto, pois ainda não está no útero materno. Não obstante enquadram-se nas disposições da lei de Biossegurança.
A ação penal é pública incondicionada e a competência para processo e julgamento desses delitos é do Tribunal do Júri.
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Lesão Corporal
Art. 129 - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE
§ 1º - Se resulta:
I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos.
§ 2º - Se resulta:
I - incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
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Lesão Corporal
LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE
§ 3º - Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
DIMINUIÇÃO DA PENA
§ 4º - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
SUBSTITUIÇÃO DA PENA
§ 5º - O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.
LESÃO CORPORAL CULPOSA
§ 6º - Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano.
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Lesão Corporal
AUMENTO DE PENA
§ 7º - Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das hipóteses do Art. 121, § 4º.
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do Art. 121.
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).
§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos
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Lesão Corporal
Bem jurídico -> Incolumidade pessoal do indivíduo, protegendo-o na sua saúde corporal, física e mental. As lesões podem ser divididas quanto ao elemento subjetivo: dolosa simples, dolosa qualificada, dolosa privilegiada ou culposa. E também quanto à intensidade: leve, grave, gravíssima, seguida de morte.
Sujeito Ativo -> Qualquer pessoa (crime comum). A lei não pune a auto-lesão. Se
um inimputável entender por determinação de outrem praticar em si uma lesão, quem conduziu responderá pelo crime na condição de autor imediato.
Sujeito Passivo -> Qualquer pessoa viva. Em dois casos a lei vai exigir que seja mulher grávida (art. 129, par. 1º, incisos IV e V).
Conduta -> Ofender a integridade corporal e a saúde de outrem , causando enfermidade ou agravando alguma pré existente. A dor é dispensável, mas influenciará na fixação da pena. É crime de ação livre, admitindo as formas comissiva e omissiva. A pluralidade de ferimentos não desnatura a unicidade do delito.
Obs1.: Que crime comete quem, contra sua vontade, corta os cabelos de determinada pessoa? (a doutrina diverge, para alguns haverá lesão corporal, para outros caracteriza injúria real, pode ainda haver furto, pelo potencial econômico do cabelo, ou ainda ser fato atípico).
Obs. 2: Grande parte dos doutrinadores entendem que a integridade física trata-se de bem relativamente disponível (tatuagens, piercings) desde que não afronte interesses maiores e não ofenda os bons costumes, pequenas lesões podem ser consentidas. Por isso quando se trata de lesão corporal leve ou culposa será condicionada a representação do ofendido.
Obs. 3: Lesões corporais levíssimas, como o arranhão e o beliscão, são excluídas de tipicidade segundo o princípio da insignificância ou bagatela.
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Lesão Corporal
Tipo Subjetivo -> culpa, dolo e preterdolo.
Consumação e tentativa -> Consuma-se no instante em que a ofensa é praticada. A tentativa é admissível nas modalidades dolosas.
Lesão Leve -> por exclusão, será toda aquela que não for grave, gravíssima ou seguida de morte. Trata-se de crime de menor potencial ofensivo.
Obs. 1: Lesão Corporal não se confunde com a contravenção penal de vias de fato que consiste na agressão física sem intenção de lesionar.
Lesão Grave -> Lesões qualificadas pelo resultado, podendo evento ser querido pelo agente ou culposamente provocado.
Incapacidade para ocupações habituais por mais de trinta dias -> qualquer atividade costumeira, tradicional, não necessariamente ligada a trabalho. Até mesmo um bebê pode ser vítima, se ficar, por exemplo, desconfortável para dormir, mamar, tomar banho e etc.
Perigo de vida -> precisa ser comprovado por perícia. Essa qualificadora só admite preterdolo. Se o ofensor considerou a possibilidade de matar a vítima estará configurado o homicídio tentado.
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Lesão Corporal
Debilidade permanente de membro, sentido ou função -> resultando diminuição ou enfraquecimento da capacidade de membro, sentido ou função, cuja recuperação seja incerta e por tempo indeterminado, mas possível.
Aceleração de parto -> é imprescindível que o agente conheça a condição gravídica da vítima.
Lesão gravíssima -> Lesões irreparáveis ou de maior permanência.
Incapacidade permanente para o trabalho -> ficando a vítima incapacitada apenas para atividade específica, mas podendo exercer outra, segundo Mirabete, não se configura essa qualificadora. Há entretanto, corrente minoritária da doutrina que entende que configuraria.
Enfermidade incurável-> enfermidade que inexiste cura no atual estágio da medicina, ou em que o restabelecimento da saúde depende de intervenção cirúrgica arriscada ou tratamento incerto, onde não se pode exigir que a vítima se submeta aos mesmos.
Perda ou inutilização de membro, sentido ou função -> não se fala em debilidade, mas em perda (amputação, mutilação) ou inutilização (sem capacidade de exercer suas atividades próprias). Tratando-se de órgãos duplos, será lesão gravíssima se afetar ambos.
Deformidade permanente -> dano estético, aparente, considerável, irreparável pela própria força da natureza e capaz de provocar impressão vexatória (desconforto para quem olhe e humilhação para vítima. Se vítima se submeter a cirurgia plástica e a lesão desaparecer essa qualificadora resta descaracterizada.
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Lesão Corporal
Aborto -> crime preterdoloso. Dolo na lesão e culpa no abortamento.
Obs. 1: é possível a coexistência de qualificadoras, inclusive de natureza grave e gravíssima. Nesse caso, o crime permanece único, aplicando-se a pena mais grave. Devendo o juiz na fixação da pena base considerar as demais consequências sofridas pelo ofendido.
Lesão corporal seguida de morte -> homicídio preterdoloso. Não se trata de crime contra a vida posto que falta o animus necandi. O caso fortuito ou a imprevisibilidade do resultado elimina tal configuração, respondendo o agente apenas pela lesão corporal.
Lesão corporal culposa -> o grau das lesões sofridas não interfere no tipo, apenas na fixação da pena base. Caso a lesão corporal culposa se dê na direção de veículo automotor, a conduta será ajustada ao disposto no art. 303 do CTB, com suas penas próprias, segundo o princípio da especialidade.
Violência doméstica e familiar -> do parágrafo 9º qualifica a lesão dolosa de natureza leve, deixando de tratá-la como delito de menor potencial ofensivo. Se além das hipóteses do parágrafo supra a vítima foi portadora de deficiência a pena aumentará em um terço.
Violência doméstica e familiar -> do parágrafo 10, aumenta-se em 1/3 a pena da lesão de natureza grave e seguida de morte.
Ação Penal -> Em regra será pública incondicionada. Excepcionalmente (lesões leves e culposas) dependerá da representação do ofendido.
Vide: STJ 424.
Obs. 1: O STJ reconheceu o princípio da insignificância para lesões levíssimas.
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Lesão Corporal
Obs. 2: é admissível o perdão judicial em caso de lesão culposa. Há extinção da punibilidade portanto se as consequências da infração atingem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
Obs. 3: o processo e julgamento das lesões leves e culposas são de competência dos juizados especiais criminais. Admitem suspensão condicional do processo lesões leves, culposas e graves. Casos de violência doméstica e familiar contra a mulher tal hipótese é vedada. 
Obs. 4: a lei só pune a auto-lesão quando caracterizar fraude para recebimento de indenização ou seguro, ou de criação ou simulação de incapacidade física para furtar-se a incorporação militar.
Obs. 5: No caso de intervenção médica com finalidade curativa não se pode falar no delito em comento. Poderá haver no máximo lesão corporal culposa.
Obs. 6: o agente que expõe a perigo a vida ou saúde alheia, mas não quer a superveniência do evento lesivo responde pelo art. 132 do CP.
Obs. 7: O consentimento do ofendido em cirurgias experimentais e afins pode elidir a ilicitude da conduta, se preenchidos os requisitos.
Obs. 8: as lesões produzidas na prática de determinados esportes configuram exercício regular do direito, se o esportista observou o cuidado exigível e atuou com ânimo de exercer seu direito a prática desportiva.
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Dos crimes contra as pessoas
Da periclitação da vida e da saúde.
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Perigo de contágio venéreo
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 2º - Somente se procede mediante representação.
Bem jurídico -> incolumidade física e saúde da pessoa, aqui exposta, por meio de relações sexuais ou ato libidinoso.
Sujeito Ativo -> Pessoa portadora de moléstia venérea. 
Sujeito Passivo -> Qualquer pessoa, irrelevante o consentimento, ainda que entre cônjuges.
Conduta -> exige contato sexual entre o agente e a vítima, não admite a forma omissiva. Trata-se de norma penal em branco uma vez que não indica que moléstias são consideradas venéreas cabendo ao Ministério da Saúde tal determinação.
Tipo Subjetivo -> dolo (direto ou eventual). Caso o ofendido consiga contaminar a vítima, produzindo ferimentos graves à saúde, responderá por lesão corporal.
Consumação e Tentativa -> Consuma-se no momento da prática do ato sexual (crime formal). Não haverá
crime, se mesmo com o ato sexual, o contágio for impossível, como no caso de uso de preservativo. A doutrina ensina que a tentativa é impossível, mas existe uma minoria que acredita ser cabível.
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Perigo de contágio venéreo
Observações: a AIDS não é doença venérea, ainda que passível de contato através de relações sexuais, a prática de ato com intenção de transmiti-la pode configurar perigo de contágio de moléstia grave, lesão corporal grave ou homicídio.
O processo e julgamento é de competência do Juizado Especial Criminal, admitindo suspensão condicional do processo, ressalvada a hipótese de violência doméstica e familiar contra a mulher.
Se a vítima encontra-se contaminada da mesma moléstia, há crime impossível.
É irrelevante o consentimento da vítima uma vez que a incolumidade da pessoa é bem indisponível. Se o crime decorrer de estupro há concurso formal.
se o agente tinha o animus necandi e adveio o resultado morte há homicídio consumado, haverá culposo se faltou com o cuidado objetivamente devido.
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Perigo de contágio de moléstia grave
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Bem jurídico -> incolumidade física e saúde da pessoa, para parte da doutrina protege-se também a vida.
Sujeito Ativo -> Pessoa portadora de moléstia grave e contagiosa. 
Sujeito Passivo -> Qualquer pessoa, desde que não contaminada por tal moléstia.
Conduta -> Pune-se a prática por qualquer meio direto ou indireto capaz de transmitir a moléstia. A exemplo do crime anterior, é norma penal em branco.
Tipo Subjetivo -> pune-se apenas a título de dolo direto , o dolo eventual é incompatível.
Consumação e Tentativa -> É crime formal, sendo suficiente a prática de ato perigoso capaz de transmitir o mal visado. Se resultar lesão lesse, esta ficará absorvida. Entretanto se resultar lesão grave ou morte o agente responderá por estes crimes em concurso formal impróprio. A tentativa é admitida.
Vide: STF 603.
É cabível a suspensão condicional do processo e a ação penal é pública incondicionada.
Se o agente culposamente pratica o ato, não há crime. Se o agente pratica conduta não-sexual com fim de transmitir doença venérea a outrem incorre no delito em comento.
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Perigo para a vida ou saúde de outrem
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, se o fato não constitui crime mais grave.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. (Acrescentado pela L-009.777-1998)
Bem jurídico -> a saúde e a vida da vítima.
Sujeito Ativo -> Qualquer pessoa (crime comum). Crime de natureza subsidiária, quando não configurarem os delitos supra relatados. 
Sujeito Passivo -> Pessoa certa e determinada, sendo um número indeterminado incorre no crime de perigo comum.
Conduta -> pune-se quem de qualquer forma coloca pessoa certa e determinada em perigo de dano direto, efetivo e iminente. Para parcela considerável da doutrina, tratando-se de delito subsidiário não há possibilidade de concurso de crimes.
Tipo Subjetivo -> vontade consciente de colocar saúde ou vida de pessoa determinada em perigo. O dolo pode ser direto ou eventual. O tipo não prevê a modalidade culposa. Havendo dolo de dano responderá por outro delito, tentativa de homicídio ou lesão corporal.
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Perigo para a vida ou saúde de outrem
Consumação e Tentativa -> Consuma-se com o surgimento do risco. Se advir dano, será absorvido por crime mais grave. Admite-se a forma tentada.
No caso de disparo de arma de fogo , pela conduta mais gravosa, incorre no art. 15 do Estatuto do Desarmamento.
O processo e julgamento incumbe ao Juizado Especial criminal e admite-se a suspensão condicional do processo. A ação penal é pública incondicionada
O consentimento do ofendido é irrelevante pois o bem jurídico tutelado é indisponível.
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Abandono de incapaz
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos.
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:
I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.
III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos
Bem jurídico -> vida e integridade física e psíquica da vítima, pessoa incapaz de sozinha se proteger ou defender.
Sujeito Ativo -> Aquele que tem o dever de cuidado, guarda, vigilância ou autoridade sobre o incapaz. Caso o sujeito ativo não seja o garantidor pode configurar omissão de socorro.
Sujeito Passivo -> Somente a pessoa assistida, ou seja, incapaz de defender-se dos riscos decorrentes do abandono, pode ser sujeito passivo.
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Abandono de incapaz
Conduta -> é a de abandonar, infringindo o dever de guarda e assistência, por tempo juridicamente relevante, capaz de colocar o incapaz em risco. O crime pode ser praticado por ação ou omissão. Afasta-se o crime quando o responsável permanece próximo da vítima, cuidando para que alguém a recolha, ou mesmo a abandone em ambiente rodeado de assistência. Se o incapaz tiver condições de se defender inexistirá o delito. Dependendo do local de abandono pode espelhar dolo eventual de homicídio, aceitando o agente o resultado fatal. Sendo o abandono moral, pode caracterizar crime contra a assistência familiar.
Tipo Subjetivo -> Dolo de perigo (direto ou eventual). Não admite a modalidade culposa. Demonstrado o dolo de dano o delito será outro.
Consumação e Tentativa -> Consuma-se quando a vítima sofre concreta situação de risco. É crime instantâneo.
Observações: As qualificadoras configuram modalidades preterdolosas do delito em estudo.
Não há abandono se o próprio incapaz se subtrai dos cuidados que lhe são dispensados, ainda que o responsável não o persiga.
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Exposição ou Abandono de recém-nascido
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Bem jurídico -> integridade física e psíquica do recém-nascido.
Sujeito Ativo -> prevalece na doutrina que apenas os pais podem ser sujeitos ativos deste crime, há doutrinadores entretanto, como Cezar Bitencourt que entendem que somente a mãe poderá ser autora. É possível o concurso de pessoas, tanto na modalidade co-autoria quanto na participação.
Sujeito Passivo -> só o recém-nascido.
Conduta -> expor (ação) ou abandonar (omissão) recém-nascido colocando-o em perigo concreto, visando ocultar desonra própria. Alguns autores entendem que o nascimento deve ter sido sigiloso, entretanto tal exigência não consta no tipo legal e há ampla divergência doutrinária acerca de sua necessidade.
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Exposição ou Abandono de recém-nascido
Tipo Subjetivo -> o dolo, consistente na vontade consciente de abandonar para ocultar desonra própria. Sem tal finalidade, desaparece o privilégio e a conduta será abandono de incapaz. O marido de mulher infiel que abandona recém-nascido também incorre no delito de abandono de incapaz, uma vez que oculta desonra alheia e não própria. Não se pune a título de culpa.
Consumação e Tentativa -> Consuma-se com o perigo experimentado pelo recém-nascido após ter sido abandonado. O perigo deve ser real. A tentativa é admissível.
Observações: os parágrafos 1º e 2º são as qualificadoras, configurando as modalidades preterdolosas do delito.
a ação penal é pública incondicionada. O processo e julgamento do delito previsto no caput é de competência dos Juizados Especiais Criminais, nesta hipótese também se admite a suspensão condicional do processo
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Omissão de socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Bem jurídico -> a segurança do indivíduo, protegendo-se a vida e a saúde das pessoas.
Sujeito Ativo -> qualquer pessoa (crime comum).
Sujeito Passivo -> criança abandonada ou extraviada, pessoa inválida ou ferida, ao desampara ou em grave e iminente perigo.
Conduta -> duas formas:
				a) Quando o agente se omite em prestar o auxílio diretamente.
				b) quando o agente, sem condições de prestar auxílio diretamente, não solicita socorro a autoridade sem demora. 
O agente não pode escolher que tipo de ajuda prestar (direta ou indiretamente) . O recurso indireto só é cabível quando o direto oferece riscos ao agente
O risco que exclui a ilicitude do tipo deve ser pessoal, físico, concreto e iminente. O risco meramente patrimonial ou moral não exclui a tipicidade.
Tipo Subjetivo -> dolo (direto ou eventual). Não admite a forma culposa.
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Omissão de socorro
Consumação e Tentativa -> no caso da criança o perigo é presumido, nos demais casos o perigo deve ser concreto, devendo a vítima ser certa e determinada. A tentativa não é admitida.
Causa de aumento de pena -> modalidades preterdolosas do crime em comento.
Omissão de socorro no CTB -> art. 302, III, art. 303, parágrafo único e art. 304.
Omissão de socorro – estatuto do Idoso: quem deixa de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência a saúde, sem justa causa, ou não pedir o socorro a autoridade pública, configura o crime do art. 97 do Estatuto do Idoso. 
a ação penal é pública incondicionada. O processo e julgamento é de competência dos juizados especiais criminais.
Se o próprio agente deu lugar ao perigo, responderá por lesão corporal ou homicídio, restando a omissão de socorro absorvida pelo delito mais grave.
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Maus tratos
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.
Bem jurídico -> a vida e a incolumidade das pessoas que se encontram, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, sob guarda, vigilância ou autoridade do agente.
Sujeitos do Delito-> aquele que tem autoridade, guarda ou vigilância em relação a vítima (crime próprio).
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Maus tratos
Conduta -> crime de ação múltipla, o tipo penal contém várias modalidades de conduta, mas o agente responde apenas por um crime, por mais que pratique mais de um dos verbos constantes do caput. 
			a) privação de alimentos ou cuidados indispensáveis: conduta omissiva.
			b) sujeição a trabalho excessivo ou inadequado: devem ser consideradas as condições físicas da vítima. Trabalho excessivo é o desumano e inadequado é o impróprio, inadequado as condições (idade, sexo, condição física) da vítima.
			c) abuso do meio corretivo ou disciplinas: que pode ser físico ou moral. Difere-se da tortura pois esta exige intenso sofrimento físico e mental enquanto que para os maus tratos é suficiente o simples perigo, o agente encontra-se abusando do exercício de um direito regular.
Tipo Subjetivo -> dolo, na consciência de maltratar a vítima, expondo-a ao perigo. O agente deve estar consciente do abuso. Não admite modalidade culposa.
Consumação e Tentativa -> consuma-se com a criação de risco real. A tentativa é admitida.
Estatuto do Idoso: se a vítima for idosa, maior de 60 anos, responderá o agente pelo crime do art. 99 da lei 10.741/2003.
Observações: 
O processo e julgamento é de competência dos Juizados Especiais Criminais. Admite-se a suspensão condicional do processo. A ação penal é pública incondicionada.
Não são sujeitos passivos a esposa ou o filho maiores de 18 anos.
Não há direito de correção dos filhos alheios
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Rixa
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa.
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
Bem jurídico -> a incolumidade física e mental da pessoa humana. Trata-se de crime de perigo presumido, punindo-se a simples troca de agressões.
Sujeitos -> Crime comum e de concurso necessário, para sua configuração exige-se, no mínimo, três contendores, computando-se, nesse número, inimputáveis, pessoas não identificadas ou que tenham morrido durante a briga. Segundo parte da doutrina, outras pessoas que apenas assistem o combate, podem figurar como sujeitos passivos do delito. 
Conduta -> participar do tumulto. Não haverá rixa quando se puder definir dois grupos contrários lutando entre si, nesta hipótese, os integrantes de cada grupo serão responsabilizados pelas lesões corporais causadas nos integrantes do grupo contrário. A participação deve ser material e moral (incentivar os contendores). A simples troca de agressões verbais recíprocas e generalizadas não configuram este crime 
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Rixa
Tipo Subjetivo -> o dolo é o de perigo (direto ou eventual). Consistente na vontade consciente de tomar parte da briga, sendo irrelevante o motivo da rixa. Não há conduta culposa. Inexistirá dolo se a intenção é de separar os contendores, desde que não passe a tomar parte na contenda.
Consumação e Tentativa -> crime de mera conduta, consuma-se com o início do conflito. A tentativa não é admissível, não obstante, boa parte da doutrina entende que admite-se.
Observações: 
Inexiste legítima defesa entre os contendores.
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Dos crimes contra as Pessoas
Dos Crimes contra a Honra
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Calúnia
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do Art. 141;
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
 Bem jurídico -> a honra objetiva da vítima, isto é, sua reputação perante terceiros. 
Sujeito Ativo -> qualquer pessoa. Algumas pessoas não podem ser autores, posto que desfrutam da inviolabilidade (senadores, deputados, vereadores, estes nos limites do município que exerçam a vereança). Os advogados não estão imunes ao direito de calúnia, apenas a difamação e injúria cometidas no exercício regular de suas atividades.
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Calúnia
Sujeito Passivo -> qualquer pessoa, até mesmo o “desonrado”
pode ser vítima deste crime. O menor (inimputável) também pode ser vítima. No caso dos mortos a calúnia contra eles também é punida, porém os sujeitos passivos serão seus parentes, uma vez que a honra é um atributo dos vivos.
Conduta -> imputar a alguém, mesmo que de forma reflexa, determinado fato criminoso, SABIDAMENTE falso, por meio de palavras, gestos ou escrita. A falsa imputação de contravenção penal não caracteriza calúnia e sim difamação. Haverá calúnia quando o fato jamais ocorreu, ou quando, real o acontecimento, não foi a pessoa apontada seu autor.
Tipo Subjetivo -> a intenção do agente de lesar a honra objetiva da vítima. Na figura do caput o dolo pode ser direto ou eventual, na figura do par. 1º só se admite o dolo direto. Não incorre no delito aquele que tem intenção de brincar, aconselhar, narrar fato próprio da testemunha, corrigir ou defender direito.
Consumação e Tentativa -> consuma-se no momento em que a imputação chega ao conhecimento de terceira pessoa. A tentativa é admitida quando a calúnia for proferida por escrito e este não chega a terceira pessoa por circunstâncias alheias à vontade do agente(ou seja, interceptada pela própria vítima).
Observações: 
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Calúnia
Exceção da verdade -> incidente processual, uma forma de defesa indireta, através do qual, o acusado de ter praticado calúnia pretende provar a veracidade do que alegou, o réu pode agir assim porque se trata do interesse público apurar quem é o verdadeiro autor do crime. Entretanto não poderá ser feita: a) se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; b) se o fato imputado a Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro, ou ainda, seu primeiro ministro; e c) se o crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absorvido por sentença irrecorrível.
Exceção da notoriedade -> Oportunidade facultada ao réu de demonstrar que suas afirmações são de domínio público. Ela será admitida também no crime de difamação. Se o fato é de domínio público não há como afetar a honra objetiva.
Vide: STF sum. 396, STJ- informativos de jurisprudência – 458 e 443.
Observações: 
O querelado que, antes da sentença, se retratar cabalmente da calúnia fica isento de pena (art. 143).
A retratação completa e incondicional pode ser feita pelo próprio ofensor ou por seu procurador com poderes especiais, até a publicação da sentença, extinguindo a punibilidade (art. 107, VI)
A ação pena é privada, exceto quando crime for cometido contra Presidente da República, Chefe de Estado estrangeiro ou funcionário público em razão de suas funções, quando será pública condicionada a requisição ou representação do ofendido.
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Calúnia
Se distingue da injúria por consistir na imputação de fato concreto, havido como crime. Exemplo: “Karen roubou meu coração semana passada” é calúnia. Enquanto que “Karen é ladra” é injúria. Além disso, ao contrário da difamação, exige a falsidade da imputação feita que precisa além de ser desonroso, fato criminoso.
Não se confunde com a denunciação caluniosa, que é quando o sujeito dá causa a investigação policial contra alguém que se sabe ser inocente.
O consentimento do ofendido exclui a ilicitude da conduta, precisa ser expresso e ortogado por sujeito passivo capaz de consentir. Não é válido se for ortogado pelos representantes legais do menor ou incapaz, é necessário que o agente conheça sua existência e que seja um dos motivos que o levaram a agir.
Para alguns autores, a exceção de notoriedade não exclui a configuração de delito, se o agente age com dolo.
Se a calúnia for praticada através de imprensa, aplica-se o disposto na Lei de imprensa e no Código Brasileiro de Telecomunicações.
Caluniar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando fins de propaganda, configura o delito do art. 324 da lei 4.737/65.
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Difamação
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.
 Bem jurídico -> a honra objetiva, a reputação perante terceiros.
Sujeito Ativo -> qualquer pessoa não inviolável pode praticar este crime.
Sujeito Passivo -> Qualquer pessoa. A doutrina entende que as pessoas jurídicas somente podem ser vítimas deste delito. Menores, loucos e desonrados podem ser sujeitos passivos. Não se pune a difamação contra os mortos. 
Conduta -> imputação de fato ofensivo a reputação de alguém, desde que tl fato não seja criminoso. Quem imputa a alguém contravenção penal incorre em difamação. Todo aquele que propala ou divulga fato desonroso imputado por alguém também comente difamação, segundo entendimento majoritário da doutrina.
Tipo Subjetivo -> a intenção do agente é o de causar dano à honra objetiva da vítima. O dolo pode ser direto ou eventual, não se admite a modalidade culposa.
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Difamação
Consumação e Tentativa -> O crime se consuma quando terceiro conhecer da imputação desonrosa. Trata-se de crime formal, consumando-se independente de dano à reputação do imputado. A tentativa mostra-se possível apenas na forma escrita.
Exceção da verdade: é excepcional, só é admitida se a ofensa for proferida contra funcionário público no exercício de suas funções.
Exceção da notoriedade: parcela da doutrina tem sustentado que não se justifica punir alguém porque repetiu o que todo mundo sabe e todo mundo diz, ou seja, fato de amplo domínio público.
Vide: Súmula STF 396, informativo de jurisprudência 443 STJ.
Observações: 
Se a difamação for praticada através de imprensa, aplica-se o disposto na Lei de imprensa e no Código Brasileiro de Telecomunicações.
Difamar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando fins de propaganda, configura o delito do art. 325 da lei 4.737/65.
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Injúria
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
§ 3º - Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de Pena - reclusão de um a três anos e multa. 
 Bem jurídico -> a honra subjetiva da vítima, aquilo que a pessoa pensa sobre si mesma, a sua dignidade ou decoro.
Sujeito Ativo -> Qualquer pessoa, desde que não inviolável nas opiniões e palavras.
Sujeito Passivo -> Qualquer pessoa capaz de entender as ofensas prolatadas contra ela.
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Injúria
Conduta -> Insultar determinada pessoa por ação (palavras ofensivas, gestos ou sinais) ou omissão (ignorar cumprimento), ofendendo-lhe a dignidade ou decoro. Não há imputação de fatos criminosos ou desonrosos, mas emissão de conceitos negativos contra a vítima. Há atribuição de qualidade negativa e não de fatos. Imputação de fato desonroso genérico, vago, impreciso e indeterminado caracteriza injúria (ex. fulano é assaltante de bancos), uma vez que calúnia e difamação pressupõe imputação de fato determinado.
Tipo Subjetivo -> Dolo (direto ou eventual), não admite modalidade culposa.
Consumação e Tentativa -> Consuma-se com a chegada da informação ao conhecimento da pessoa a qual o agente queria ofender. A maior parte da doutrina admite tentativa apenas na forma escrita.
Exceção de verdade ou notoriedade: a exceção da verdade nunca é permitida, também se mostra impossível a exceção da notoriedade, posto que afeta a honra subjetiva e não a reputação perante terceiros.
Provocação e retorsão: o § 1º prevê as hipóteses de perdão judicial, a maior
parte da doutrina entende que atendido os requisitos o perdão é obrigatório. O perdão judicial só aproveita àquele que revidou, já a retorsão aproveita a todos os envolvidos.
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Injúria
Injúria real: definida pelo § 2º como qualificadora do crime em comento. Para sua tipificação a lei exige que a violência seja alvitante, agindo o agente com propósito de ofender a vítima (puxões de orelha ou de cabelo, cuspir em alguém). Há divergência doutrinária se subsume o concurso formal impróprio ou se há concurso material. Há corrente que entende que a punição do agente pela violência que qualificou a injúria configura bis in idem.
Injúria qualificada pelo preconceito: não se confunde com o crime de racismo, posto que dirige-se a pessoa determinada, o delito é prescritível e a ação penal é pública condicionada a representação, enquanto que racismo refere-se a grupo, é imprescritível, inafiançável e é de ação pública incondicionada. O perdão judicial não se aplica a esta forma de injúria.
Vide: informativo de jurisprudência STJ 443.
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Disposições comuns aos crimes contra a honra
Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria.
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria.   
Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro. 
Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício.
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade. 
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena. 
Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa. 
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do Art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3º do art. 140 deste Código. 
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Disposições comuns aos crimes contra a honra
Observações:
No crime cometido mediante paga ou promessa de recompensa é desnecessário que o agente receba efetivamente o pagamento ou que a promessa seja cumprida, basta que a prática do delito seja impulsionada por tal motivação
O querelado que antes da sentença se retrata (retira o que disse) cabalmente da calúnia ou difamação fica isento de pena. A retratação não depende da aceitação do ofendido, devendo anteceder decisão de primeira instância. Se feita posteriormente, só terá efeito atenuante art. 65, III, b).
O pedido de explicação de que trata o art. 144 é medida preliminar (anterior a instauração de inquérito policial ou oferecimento de queixa-crime) e facultativo. Visa dirimir dúvida sobre o verdadeiro animus do agente acerca do animus ou da pessoa a quem a declaração foi dirigida. O prazo de decadência não é interrompido nem suspenso pelo pedido de explicações.
A ação penal será privada, exceto se praticada contra Presidente da República, Chefe de Estado estrangeiro ou funcionário público no exercício de suas funções.
Na injúria real, resultando lesão corporal de natureza grave a ação penal será pública incondicionada, se resultar lesões leves será condicionada a representação e no caso das vias de fato a ação permanece privada.
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Disposições comuns aos crimes contra a honra
A calúnia e difamação feitas contra o Presidente da República com o fim subversivo são disciplinadas pela lei de segurança nacional.
Os crimes contra honra de funcionário público distinguem-se do desacato (art. 331). No desacato a ofensa é infligida na presença do funcionário e pode ou não se referir ao exercício de suas funções, desde que o atinja durante o expediente. Já os crimes contra a honra, o agravo não foi feito a sua presença, mas diz respeito às suas funções.
Injuriar alguém na propaganda eleitoral ou visando fins de propaganda constitui delito descrito no art. 326 da lei 4.737/65.
O art. 53 da CF estabelece: “os Deputados e Senadores são invioláveis civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”, desde que no exercício do mandato ou em razão dele. Trata-se da imunidade material extensível aos deputados estaduais (art. 27, par. 1º, CF). No que se refere aos vereadores, eles serão invioláveis por suas opiniões, palavras e votos, no exercício do mandato e na circunscrição do Município ( art. 29, VIII, CF).
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