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The Hire. O case da BMW Em 2001, a agência de propaganda Fallon apresentou uma ideia ousada à poderosa BMW: uma série de filmes de cerca de 10 minutos de duração cujas histórias girariam em torno de um carro BMW. A inovação estava associada ao conceito, não seriam comerciais e sim histórias ficcionais próximas do universo cinematográfico. O cliente comprou a ideia e contratou atores e diretores de sucesso em Hollywood para trabalhar na campanha. Entre os astros, James Brown, Gary Oldman, Madonna, Clive Owen (que interpreta o motorista em todos os filmes da série). Por trás das câmeras, diretores de peso: Guy Ritchie, John Woo, Ang Lee, John Frankenheimer, Tony Scott, Alejandro Gonzáles-Iñárritu. A estratégia estabeleceu uma diferença fundamental em relação aos comerciais interpretados e dirigidos por astros do cinema que geralmente reproduzem clichês da propaganda. A direção da BMW deu liberdade total aos diretores para criar suas histórias. “Para atrair esse talento de primeira grandeza, a BMW sabia de antemão que teria de quebrar as próprias regras e garantir aos diretores controle criativo quase total. (…) Assegurar a participação dos melhores diretores em Hollywood tinha como preço permitir que eles fizessem coisas que provocariam mal-estar nos executivos da BMW. Como um personagem sangrar até a morte no banco traseiro de um de seus veículos.” – Scott Donaton, no livro Publicidade + Entretenimento (Madison & Vine). Entre 2001 e 2002, a BMW produziu oito filmes de curta-metragem, quase todos no estilo cinema de ação, com perseguições, tiroteios, reviravoltas, ou seja, puro entretenimento. Os filmes da série, intitulada The Hire (a contratação), não foram exibidos nos cinemas e muito menos na TV. A estratégia da empresa contou com exibição de trailers que pareciam filmes de ação tradicionais do cinema, sugestionando o público a entrar no site da empresa para assistir às produções. Segundo Donaton, a série reverteu alguns conceitos tradicionais do universo publicitário: “Pedir que um consumidor busque por conta própria a mensagem publicitária, abra espaço para ela no hard drive do seu computador com o seu download e depois perca ainda mais tempo assistindo-a era algo pra lá de arriscado. A BMW ainda ia de encontro a outra vaca sagrada do negócio: para que os filmes tivessem a grandiosidade exigida, era necessário inverter as fatias do orçamento. Normalmente, um anunciante gasta 10% do seu orçamento para produzir os comerciais e 90% para distribuí-lo ao consumidor – comprando tempo de publicidade e espaço nas redes de televisão, revistas, jornais, outdoors e coisas do gênero. No entanto, para produzir os filmes com essa alta qualidade que fizessem jus ao alto padrão técnico e estético, a BMW teve de comprometer chocantes 90% do orçamento na produção. Com isso, sobraram apenas 10% para promover os filmes e atrair clientes em potencial para o seu site para baixar os filmes e assisti-los. Isso foi feito mediante comerciais em TV e jornais, mas também por meio de comerciais nos cinemas que imitavam os trailers de filmes.” Rapidamente The Hire alastrou-se pela rede, internautas passaram a indicar os filmes e diversas matérias saíram na imprensa divulgando gratuitamente a ação. O número de acesso ao site da BMW crescia após o lançamento de cada filme. Em 2002, o site registrava a impressionante marca de cerca de 50 milhões de downloads. “Pesquisas com consumidores indicaram que a imagem da BMW foi fortalecida, especialmente entre compradores jovens, e também que o carro passou a fazer parte de mais listas de desejos de compra dos consumidores. As visitas às concessionárias subiram espetacularmente e – mais importante – o mesmo aconteceu com as vendas nos Estados Unidos. A BMW vendeu um número recorde de 213.127 veículos em 2001, 12,5% a mais do que no ano anterior, e depois bateu o próprio recorde em 2002 e 2003.” – Scott Donaton. A campanha da BMW consolidou a estratégia de integração de marca ao entretenimento. Segundo Mitch Kanner, profissional de marketing de entretenimento em Hollywood, “se nos pegarmos os filmes da BMW, desenvolvidos como integração de marca, eles são perfeitos. Não há nunca um único plano em que o carro apareça bonitinho, ninguém fala nada a respeito das qualidades dele, e mesmo assim o que eles fizeram exibe a personalidade do carro em todos os seus quesitos de modo perfeito. Veja o filme Barril de Pólvora. Ele trata de um massacre devastador de mais de cem pessoas, não há um único plano elegante do carro. A vítima sangra por todo o veículo, a profanação é total. Porém, no fim das contas, quando você se dá conta que acabou de assistir a um filme da BMW diz: ‘Puta merda, o carro é bom mesmo.’” – Publicidade + Entretenimento. As influências da campanha da BMW Um dos grande méritos da estratégia da BMW foi definir um novo rumo para o tradicional merchandising, essa prática antiga de inserir marcas dentro de filmes, séries, novelas e programas de TV. Para muitas empresas, agora a marca é que gera o entretenimento, que cria o próprio conteúdo da ação. Pouco depois da iniciativa da BMW, a marca American Express patrocinou filmes curtos estrelados pelo ator americano Jerry Seinfeld. O ator contracena com o Superman (em desenho animado) em situações divertidas (clique aqui para ver). Foram apresentados teasers durante a programação das televisões americanas que terminavam sempre com um convite para acessar o site da empresa e assistir aos filmes completos que duravam cerca de 5 minutos. A idéia da campanha foi de Jerry Seinfeld, fã do Superman, que aproveitou o conceito de integração de marca para criar entretenimento para o espectador. Recentemente, a Pirelli também experimentou nesta área, criando um intrigante filme com o ator John Malkovich e a modelo Naomi Campbell, que interpreta ninguém menos do que o demônio. Tony Scott dirigiu uma série de curtas para internet promovendo o Dodge Dakota, utilitário de luxo. A marca Gatorade exibe vários filmes inspirados no clássico Em Busca do Cálice Sagrado (1975), do grupo inglês Monthy Pyton. A série pode ser vista no site criado especialmente para a ação. Em todas as campanhas, a marca é que produz entretenimento, definindo o que se chama de propaganda de conteúdo, story-telling ou product placement (como tudo em propaganda, os termos mudam com a velocidade das ações). Martin Lindstron, autor do livro Verdades e Mentiras Sobre Por Que Compramos, comenta os rumos dessas estratégias, a partir das pesquisas que realizou: “O product placement em seu antigo formato não vende mais. Analisamos ações de merchandising sofisticadas e mensagens colocadas na história de filmes e concluímos que o fator preponderante para o sucesso dessa estratégia é inseri-lo no contexto. As mensagens que estiverem fora da linha da atração serão simplesmente descartadas por nosso cérebro. Demonstramos que a idéia de pegar diversos valores da marca e colocá-los no filme, sem contexto, é um erro.” – entrevista concedida ao jornal Meio & Mensagem, edição de 6 de abril de 2009. Referência bibliográfica: Publicidade + Entretenimento (Madison & Vine). Scott Donaton. São Paulo: Cultrix, 2007. “The Hire”: a incrível série de ação da BMW está de volta – e já tem um novo trailer Em 2001, o mundo descobriu que a BMW não fazia apenas carros: eles também sabiam fazer filmes. Quer dizer, uma minissérie na Internet, com episódios de até dez minutos, mas com produção e elenco dignos de Hollywood. Era The Hire, que acompanhava um motorista, batizado simplesmente como “The Driver”, que era contratado por diversas pessoas para realizar diversas missões ao volante. O conceitopode soar familiar ao filme Drive mas, naturalmente, a ideia da BMW veio antes: Drive foi lançado em 2011. A série foi um verdadeiro sucesso. Apesar de ser, em essência, uma maneira mais refinada de promover as qualidades dinâmicas dos carros da BMW, The Hire tinha todos os elementos que um bom filme de ação precisa ter: produção bem feita, pitadas de humor, bons diretores e grande elenco e, claro, muitas perseguições. E fez bonito como propaganda, também: em 2001, depois da estreia da série, a fabricante alemã viu suas vendas aumentarem 12%. Não é para menos. Cada um dos episódios (foram cinco na primeira temporada, de 2001, e três na segunda, no ano seguinte) era dirigido por um diretor famoso, e estrelado por atores do primeiro escalão. O motorista era interpretado por Clive Owen, que contracenava com gente do calibre de Mickey Rourke, Danny Trejo, Gary Oldman, Marilym Manson e Madonna. Vai achando que era brincadeira. Nos anos seguintes, a BMW lançou todos os episódios em DVD. Os discos foram distribuídos pela revista Vanity Fair, cujas edições desapareceram das bancas, e também em concessionárias BMW selecionadas. Além disso, podiam ser encomendados no site da BMW Films, mediante o pagamento das despesas de postagem. Hoje, os DVDs são considerados item de colecionador. Os episódios permaneceram disponíveis no site oficial até 2005, quando foram removidos. A série foi abandonada, porque a BMW acreditava que seus custos já não compensavam o aumento nas vendas. Bem, foi assim até agora. O estilo realista fica por conta do sul-africano Neill Blomkamp, que ficou famoso nos últimos anos com Distrito 9, um pseudo-documentário sobre a segregação de alienígenas invasores em Joanesburgo (se você nunca assistiu, faça isto logo). Também fazem parte do time Jon Bernthal (The Walking Dead), Dakota Fanning (“Guerra dos Mundos”, 2005) e Vera Farmiga (Bates Motel). Primeira temporada Ambush (“Armadilha”) - Carro: BMW 740i O motorista precisa transportar um senhor idoso para um local desconhecido, mas é pego em uma armadilha e descobre que o homem havia roubado um punhado de diamantes. Só tem um problema: ao que tudo indica, ele decidiu… engoli-los. Chosen (“Escolhido”) - Carro: BMW 540i O motorista agora escolta uma criança asiática que, de acordo com o que sabe, é sagrada e protegida por monges. O garoto diz dá um presente ao motorista, mas diz que ele só pode abri-lo quando a missão acabar. Acontece que o monge que acompanha a dupla é, na verdade, um impostor. The Follow (“A perseguição”) - Carro: BMW 328i cupê e Z3 roadster Contratado por um diretor de cinema para espionar a esposa de um ator paranóico, o motorista explica para a câmera como é faz para seguir alguém de carro sem ser notado. No fim das contas, ele descobre que a mulher estava fugindo de um marido abusivo e se recusa a receber pelo serviço. Star (“Estrela”) - Carro: BMW M5 Este deve ser o episódio mais famoso. Nele, Madonna é uma cantora muito famosa e muito, muito mimada. Seu empresário, então, resolve dar uma lição nela e contrata o motorista para levá-la para um passeio, digamos, “animado”. E ela se senta no banco de trás, sem cinto de segurança. O final é simplesmente hilário! Powder Keg (“Barril de Pólvora”) - Carro: BMW X5 3.0i Desta vez, quem contrata o motorista é a ONU, dando a ele a missão de resgatar um fotógrafo de guerra preso em território hostil, longe dos EUA, depois de um confronto militar. O homem está ferido, mas consegue conversar com o motorista e conta como decidiu ser fotógrafo, dizendo que foi sua mãe quem lhe ensinou a “ver”. Depois de cumprida a missão, com direito a chuva de tiros, descobrimos que a mãe do fotógrafo é cega. Segunda temporada Hostage (“Refém”) Enquanto a primeira temporada trouxe diferentes modelos da BMW disponíveis em 2001, a segunda temporada deu destaque ao Z4, que havia acabado de ser lançado. No primeiro episódio, o motorista é contratado pelo FBI para ajudar a prender uma quadrilha de sequestradores e libertar seu refém. Ticker (“Tic-tac”) O motorista precisa transportar um homem ferido com uma maleta enquanto foge dos tiros de um helicoptero. O homem não diz o que há na maleta mas, ao ser atingida por uma bala, um fluido cinza estranho começa a sair pelo buraco. É revelado, então, que se trata de um coração a ser transplantado no peito de um político. Beat the Devil (“Vencer o Diabo”) No episódio mais insano da série (ao menos até agora), quem contrata o motorista é ninguém menos que James Brown, a lenda do funk! Na história, Brown pretende renegociar uma dívida com o próprio Diabo, a quem deve sua alma depois de pedir fama e fortuna ao Tinhoso em 1954. A nova proposta: caso o motorista do Diabo perca para o protagonista em uma corrida de arrancada, deverá garantir mais 50 anos de carreira a Brown. Caso vença, fica com a alma do motorista. Confiante, o motorista topa!
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