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Análise de Política Externa - Putnam

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Análise da Política Externa da (des)nuclearização da Coreia do Norte 
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar um modelo de análise da política externa norte-coreana com bases na teoria dos jogos dos dois níveis criado por Putnam. Apresentarei o contexto teórico que dará estrutura para a exposição da relação entre a Guerra das Coreias e o início do modelo político de nuclearização da Coreia do Norte. Dissertarei brevemente os dados históricos e mostrarei as consequências diretas dessa ação para o sistema internacional. A teoria dos jogos de dois níveis, de Robert Putnam, será indispensável para desenvolver a análise da política externa de Kim Jon-un que se encaminha para uma possível desnuclearização de seu Estado.
Palavras-chave: Nuclearização, Desnuclearização, Coreia do Norte, Política Externa. 
INTRODUÇÃO	
	Robert D. Putnam é um cientista político e professor na Universidade de Harvard, que propôs desenvolver empiricamente uma teoria que discorresse sobre o vínculo da política doméstica com a política externa. Até a criação de sua teoria, vingava a teoria realista estatocêntrica, responsável por uma perspectiva analítica de Estado como o principal ator das relações Internacionais. 
	Influenciado pelos estudos da psicologia comportamental e das negociações sociais, Putnam estendeu sua análise à área política com a criação da teoria dos jogos de dois níveis. Através de uma análise de caso sobre a Cúpula de Bonn, o cientista político percebeu que os Estados têm tendência a adotar políticas diferentes quando negociados com outros Estados em relação ao que teriam legitimado na ausência de negociações internacionais.[1: WALTON, R., MCKERSIE, R. (1965). ][2: PUTNAM, R. 2010, p. 148. ]
	No entanto, para tais conclusões, o teórico relacionou as decisões e ações da política doméstica, conhecida como nível II, com a política internacional, chamada de nível I. Putnam define as funções de cada nível, sendo o cenário doméstico responsável pela pressão sobre o Estado a favor dos interesses de cada grupo e que, normalmente, políticos buscam formar coalizões com esses grupos. Já na esfera internacional o governo é responsável por potencializar suas aptidões para suprir os interesses e desejos dos grupos nacionais ao mesmo tempo que busca suprimir retaliações de atores internacionais.
	Há maior facilidade de influência das decisões internacionais nas políticas públicas nacionais do que o inverso. O cientista político acrescenta à sua exposição teórica o termo win-set, que significa o conjunto de vitórias que determina a base de apoio do nível II para que todos os acordos possíveis no nível I sejam aceitos. Assim, quanto maior o win-set, maiores as chances de acordos.
POLÍTICA EXTERNA NORTE-COREANA
	A República Popular Democrática da Coreia é um dos Estados do mundo que menos se tem informação, devido a sua política de fechamento informacional, político e econômico – já que segue a ideologia socialista-comunista. Esse fechamento dificulta as análises teóricas do meio acadêmico, que devem basear-se na política diplomática e na arte da negociação que o Estado norte-coreano desenvolveu durante as últimas décadas. 
	Geopoliticamente falando, a península coreana é formada por nações que se encontram em uma região marginalizada por potências como a China, o Japão, a Rússia e, de mais longe, pela influência protecionista dos Estados Unidos.
	A compreensão do processo histórico contemporâneo da RPDC é elemento condicionante para a realização de análises atuais. A Coreia, todavia, é uma nação antiga, com uma identidade forte e unidade relativa, que sofreu revoluções que dividiram o território em duas partes: o Norte revolucionário e o Sul não-revolucionário. Sendo o primeiro conflito armado decorrente da Guerra Fria, a Guerra das Coreias (1950-1953) separou o país em Norte socialista e Sul capitalista. Em junho de 1950 os norte-coreanos invadiram o território que hoje é a Coreia do Sul, ação que foi logo retaliada por uma contraofensiva do povo sul-coreano com o auxílio dos Estados Unidos e aprovação da ONU.
	Foi o receio de uma possível invasão a seu território que levou a China à decisão de enviar tropas em favor do exército norte-coreano, que, mesmo em superioridade total de soldados sofreram inúmeras ofensivas de bombardeio norte-americano. Em 1953, enfim, após ameaças estadunidenses de utilização de mísseis nucleares, foi assinado um armistício que objetivava suspender os combates na península coreana e não tencionava a um acordo de paz. O cessar-fogo, portanto, foi assinado em Panmujon e definiu a divisão das Coreias no paralelo 38, interseccionados por uma zona desmilitarizada, que protege o limite de trégua entre as Repúblicas e representa a fronteira de fato. O Acordo de Panmujon é uma clara demonstração da barganha entre os negociadores - a força militar superior dos Estados Unidos - que objetivou um acordo provisório, exemplificando o nível I. A Coreia do Norte teve ações repercutidas no plano doméstico e seus grupos - estágio de nível II-, porém esta é uma informação desconhecida para o Ocidente.
	Sobre o armistício entre as Coreias e a não existência de um Tratado de Paz efetivo, a sensação que pairou sobre o mundo foi de um estado de guerra permanente, ou seja, em que o conflito ainda existe, porém sem a violência militar. Putnam afirma: “Em qualquer jogo de dois níveis a credibilidade de um compromisso oficial pode ser baia, mesmo que custos reputacionais da rejeição sejam altos, pois o negociador pode ser incapaz de garantir a ratificação” (PUTNAM, 2010, p. 155).
	A consequência direta da guerra da Coreia foi implementação do programa nuclear norte-coreano, que o justifica como sendo uma resposta necessária contra a política externa agressiva dos Estados Unidos em oposição a seu governo. A primeira instalação de pesquisa nuclear nacional ocorreu com o fornecimento de um reator de pesquisa pela URSS, parceiro ideológico e comercial norte-coreano. Os materiais para a fissão nuclear eram assegurados pela própria Coreia do Norte, que dispunha de inúmeras jazidas de urânio. 
	Em 1970 ocorreu a construção de um segundo reator nuclear, o qual foi negada a inspeção pela AIEA. O programa militar, todavia, só foi iniciado a partir da década de 80. Especificamente na metade desta década, a Coreia do Norte, liderado por Kim II-sung, assinou o Tratado de Não-Proliferação de armas nucleares (TNP), no mesmo ano em que o serviço de informações norte-americano descobriu que um terceiro reator estava sendo construído. Já em 1990, os Estados Unidos, munidos de imagens de satélite, comprovaram a existência deste terceiro reator e utilizaram desta informação para pressionar uma negociação entre a Coreia do Norte e sua entrada na AIEA. Esta agência, por sua vez, descobriu mais duas instalações nucleares, porém não pôde inspecioná-las, gerando uma crise diplomática que ensaiou a saída do país da TNP. [3: Agência Internacional de Energia Atômica.]
	Foi somente em 2003 que a nação norte-coreana se ausentou da TNP, em uma negociação que envolveu a Rússia, a Coreia do Sul, a China e os Estados Unidos. Esta ação foi responsável por representar uma mudança no pensamento do então chefe de Estado, Kim Jon-Il, em construir uma arma nuclear. A partir deste episódio, os testes nucleares tornaram-se mais frequentes, sendo o primeiro efetivado em 2006 e em 2009 o segundo. 
	Indiferente às condenações mundiais, a Coreia do Norte, na liderança de Kim Jon-un, realizou em 2013 seu terceiro teste nuclear, porém de menores proporções. Três anos depois, o quarto teste nuclear ocorreu, sendo notificado pelas autoridades norte-coreanas como uma bomba de hidrogênio, informação suficiente para que a Coreia do Sul e os Estados Unidos concluíssem que a nação norte-coreana dispunha de condições de desenvolvimento de mísseis de curto e médio alcances, com capacidade para atingir o Japão e a Coreia do Sul.
	Ainda em 2016, Kim Jon-un efetuou o segundo teste do ano, algo nunca antes realizado pelo Estado e, o quintodesde 2006, sendo considerado, dentre todos, o mais poderoso, resultando em uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU. 
	Não obstante o ótimo resultado obtido um ano antes, em 2017 a Coreia do Norte colocou em prática um teste que foi definido como dez vezes mais potente do que qualquer um realizado anteriormente. Esta ação foi o início de uma grande resposta militar dos Estados Unidos, já liderada pelo Donald Trump.
	
CONSIDERAÇÕES FINAIS
	Em décadas de conflitos na Península Coreana, iniciadas principalmente pela influência ocidental nos assuntos políticos internos dos asiáticos durante a Guerra Fria, colabora para a compreensão da perspectiva de nuclearização do Estado norte-coreano como forma de política externa vinculada à defesa nacional e ao campo militar.
	A abordagem teórica sobre os dois níveis é capaz de clarificar as características de ações da política externa norte-coreana com base no cenário internacional. Sobre o nível II a compreensão se torna obscurecida pela falta de transparência do governo desde a sua divisão com a Coreia do Sul. Porém, mesmo sem informações específicas sobre as respostas dos grupos de interesse e dos grupos sociais norte-coreanos, podemos afirmar que as ações internacionais dos líderes do Estado cuja capital é Pyongyang existiram, porém sem noção de suas proporções. 
	O último e sexto teste nuclear norte-coreano foi decisivo para que o atual presidente dos EUA, Donald Trump, aumentasse os exercícios em suas bases militares que se encontram na Coreia do Sul e trabalhasse internacionalmente em prol de medidas econômicas restritivas para punir a Coreia do Norte pelas suas ações de testes nucleares em espaços abertos e próximos ao litoral japonês e chinês. O representante diplomático da Coreia do Norte, Ri Yong-ho, culpabilizou as ações de Trump e dos EUA em geral em razão de suas deficiências políticas internas para o desenvolvimento social e econômico de seu país. 
	O enfraquecimento da Coreia do Norte era o objetivo dos Estados Unidos e outras grandes potências. Possíveis motivações para um suposto acordo de desnuclearização da parte norte da península coreana podem envolver a pressão das classes sociais, a diminuição das relações econômicas – já estipuladas pelas sanções norte-americanas – e a manutenção da imagem interna do ditador Kim Jon-un com seus parlamentares e cidadãos. 
	Uma possível desnuclearização da Península ocorrerá devido à pressão internacional que se sobrepôs aos interesses internos da política de Kim, que, em situação tida como “normal” – ou sem pressão internacional -, não ocorreria, pelo menos não neste momento da história atual.

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