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volume9 Formadores de cuidadores de idosos (1)

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Manual dos formadores 
de cuidadores de 
pessoas idosas
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
José Serra
Governador
Rita Passos
Secretária Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social
Nivaldo Campos Camargo
Secretário Adjunto
Carlos Fernando Zuppo Franco
Chefe de Gabinete
Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social – SEADS
Departamento de Comunicação Institucional – DCI 
Paulo José Ferreira Mesquita 
Coordenador
Coordenadoria de Gestão Estratégica – CGE 
Cláudio Alexandre Lombardi 
Coordenador
Coordenadoria de Ação Social – CAS 
Tânia Cristina Messias Rocha 
Coordenadora
Coordenadoria de Desenvolvimento Social – CDS 
Isabel Cristina Martin 
Coordenadora
Coordenadoria de Administração de Fundos e Convênios – CAF 
Carlos Alberto Facchini 
Coordenador
Fundação Padre Anchieta
Paulo Markun 
Presidente
Fernando Almeida 
Vice-Presidente
Coordenação Executiva – Núcleo de Educação 
Fernando Almeida 
Fernando Moraes Fonseca Jr. 
Mônica Gardeli Franco
Coordenação de Conteúdo e Qualidade 
Gabriel Priolli
Coordenação de Produção – Núcleo de Eventos e Publicações 
Marilda Furtado 
Tissiana Lorenzi Gonçalves
uma realização
Equipe de Produção do Projeto
Coordenação geral
Áurea Eleotério Soares Barroso 
SEADS
Fernando Moraes Fonseca Jr. 
Fundação Padre Anchieta
Desenvolvimento
SEADS
Elaine Cristina Moura 
Ivan Cerlan 
Janete Lopes 
Márcio de Sá Lima Macedo
Organização dos conteúdos/textos
Áurea Eleotério Soares Barroso
Colaboradores
Clélia la Laina, Edwiges Lopes Tavares, Izildinha Carneiro, 
Ligia Rosa de Rezende Pimenta, Maria Margareth Carpes, 
Marilena Rissuto Malvezzi, Paula Ramos Vismona, 
Renata Carvalho, Rosana Saito, Roseli Oliveira
Produção editorial
Maria Carolina de Araujo 
Coordenação editorial
Marcia Menin 
Copidesque e preparação
Paulo Roberto de Moraes Sarmento 
Revisão
Projeto gráfico, arte, editoração e produção gráfica
Mare Magnum Artes Gráficas
Ilustrações
Adriana Alves
[...] nós envelheceremos um dia, se tivermos este privilégio. 
Olhemos, portanto, para as pessoas idosas como nós seremos no 
futuro. Reconheçamos que as pessoas idosas são únicas, com 
necessidades e talentos e capacidades individuais, e não um grupo 
homogêneo por causa da idade.
Kofi annan, ex-secretário-geral da oNu.
Prezado(a) leitor(a),
Temos a grata satisfação de fazer a apresentação deste material elaborado pela 
Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo (SeadS) 
e pela Fundação Padre Anchieta – TV Cultura. 
Um dos objetivos do Plano Estadual para a Pessoa Idosa do Governo do Estado de 
São Paulo – Futuridade, coordenado pela SeadS, é propiciar formação permanente 
de profissionais para atuar com a população idosa, notadamente nas Diretorias 
Regionais de Assistência Social (dradS). 
No total, esta série contém dez livros e um vídeo, contemplando os seguintes 
conteúdos: o envelhecimento humano em suas múltiplas dimensões: biológica, 
psicológica, cultural e social; legislações destinadas ao público idoso; informações 
sobre o cuidado com uma pessoa idosa; o envelhecimento na perspectiva da 
cidadania e como projeto educativo na escola; e reflexões sobre maus-tratos e 
violência contra idosos.
Direitos de cópia
Serão permitidas a cópia e a distribuição dos textos integrantes desta obra sob as 
seguintes condições: devem ser dados créditos à SeaDS – Secretaria estadual de assistência e 
Desenvolvimento Social do estado de São Paulo e aos autores de cada texto; 
esta obra não pode ser usada com finalidades comerciais; a obra não pode ser alterada, 
transformada ou utilizada para criar outra obra com base nesta; 
esta obra está licenciada pela licença Creative Commons 2.5 Br 
(informe-se sobre este licenciamento em http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/)
as imagens fotográficas e ilustrações não estão incluídas neste licenciamento.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Duarte, Yeda aparecida de oliveira 
manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas / Yeda 
aparecida de oliveira Duarte ; [coordenação geral Áurea eleotério 
Soares Barroso]. -- São Paulo : Secretaria estadual de assistência e 
Desenvolvimento Social : Fundação Padre anchieta, 2009. 
Bibliografia.
1. administração pública 2. Cidadania 3. envelhecimento 
4. idosos - Cuidados 5. Planejamento social 6. Política social 
7. Políticas públicas 8. Qualidade de vida 9. Serviço social junto a 
idosos i. Barroso, Áurea eleotério Soares. ii. Título.
09-09500 CDD-362.6
Índices para catálogo sistemático:
1. São Paulo : estado : idosos : estado e assistência e 
desenvolvimento social : Bem-estar social 362.6 
2. São Paulo : estado : Plano estadual para a Pessoa idosa-
Futuridade : Bem-estar social 362.6
Com esta publicação, destinada aos profissionais que desenvolvem ações com 
idosos no Estado de São Paulo, o Futuridade dá um passo importante ao 
disponibilizar recursos para uma atuação cada vez mais qualificada e uma prática 
baseada em fundamentos éticos e humanos. 
Muito nos honra estabelecer esta parceria entre a SeadS e a Fundação 
Padre Anchieta – TV Cultura, instituição que acumula inúmeros prêmios em 
sua trajetória, em razão de serviços prestados sempre com qualidade.
Desejo a todos uma boa leitura.
Um abraço,
Rita Passos
Secretária Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social
Manual dos formadores 
de cuidadores de 
pessoas idosas
Yeda Aparecida de Oliveira Duarte é professora livre-docente da Escola de 
Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), gerontóloga e criadora do pri-
meiro curso de graduação em Gerontologia do Brasil, na Escola de Artes, Ciências 
e Humanidades da USP (EACH/USP).
Sumário
Capítulo 1 
Eixos norteadores para cursos de formadores de cuidadores de pessoas 
idosas e de cuidadores de pessoas idosas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Formadores de cuidadores de pessoas idosas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
I. Quem se quer formar? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
II. Por que se quer ou necessita formar essas pessoas? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
III. Quem será o formador e como se preconiza o ensino? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
IV. O que é necessário ensinar nos cursos de formadores e de cuidadores? . . . . . . . . 30
Cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Cursos de cuidadores de pessoas idosas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Capítulo 2
A construção de uma relação de ajuda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
Primeiros passos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Características necessárias para construir uma relação de ajuda . . . . . . . . . . . . . . . . . .47
Capacidade de escuta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47Capacidade de clarificar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Capacidade de respeitar-se e de respeitar o idoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Capacidade de ser congruente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Capacidade de ser empático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Capacidade de confrontação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Capítulo 3
Atitudes, mitos e estereótipos relacionados ao envelhecimento e ao 
cuidado com a pessoa idosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Atitudes, mitos e estereótipos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Capítulo 4
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: sono e repouso . . . . . . 68
O sono como ritmo biológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Padrão de sono e suas modificações com o envelhecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .70
Recomendações quanto ao uso de medicamentos para dormir . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75
Sugestões para um sono de melhor qualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .76
11
Auxiliando a pessoa idosa 
em suas atividades cotidianas 
P ode-se considerar “saúde” para a pessoa idosa a resultante da interação multidimensional de saúde física e mental, autonomia nas atividades de vida diária, integração social, suporte familiar 
e independência econômica. Qualquer dessas dimensões, associada 
a outra ou não, quando comprometida, pode afetar a capacidade do 
indivíduo de viver de forma autônoma e independente, repercutindo, 
por consequência, em sua qualidade de vida.
Nesse grupo etário não é rara a ocorrência de múltiplas doenças si-
multâneas (polimorbidade), em sua maioria de natureza crônica, 
cujas sequelas podem ocasionar incapacidade ou dificuldade de de-
sempenho das atividades cotidianas, gerando, muitas vezes, quadros 
de dependência.
a dependência aumenta a demanda por serviços sociais e de saúde. 
assistir o idoso dependente pode ser uma tarefa fisicamente extenuante, 
pois em geral implica sobrecarga da família, que costuma ser a prin-
Capítulo 5
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: alimentação . . . . . . . . . .79
Funções dos alimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .81
Capítulo 6
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: 
higiene, vestimenta e conforto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Higiene corporal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
As pessoas idosas realmente necessitam de banho diário? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
Princípios gerais para o banho de pessoas idosas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
Produtos para o cuidado com a pele utilizados no banho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .97
Tipos de banho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
Cuidados durante o banho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
Cuidado com as unhas das mãos e dos pés . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
Higiene oral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
Cuidados com o vestuário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
Capítulo 7
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: 
administração de medicamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .105
Aspectos gerais da aquisição de medicamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
Aspectos gerais da administração de medicamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .111
Capítulo 8
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: 
mecanismos corporais, mobilização e transferência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
Movimento humano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
Impacto do envelhecimento nas estruturas ligadas ao movimento humano . . . . . . .123
Mecânica corporal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .125
Aplicação da mecânica corporal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
Mobilização e transporte de pessoas idosas mais dependentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . .128
Auxílio na movimentação na cama de idosos mais dependentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . .129
Auxílio no transporte de idosos mais dependentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .132
Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .135
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
12
AuxiliAndo A pessoA idosA em suAs AtividAdes cotidiAnAs
13
cipal provedora de atenção a idosos portadores de incapacidades. 
outro fator preocupante é que muitos cuidadores de idosos com 
dependência também são idosos e, por essa razão, podem ter seu 
potencial de auxílio reduzido. 
ressaltam-se as mudanças que vêm ocorrendo na estrutura e contex-
to das famílias. No Brasil, a maior parte das que contam com presen-
ça de idosos é pequena, com pessoas em etapas do ciclovital mais 
avançadas. Soma-se a isso o fato de mais mulheres ocuparem, hoje, 
a condição de chefe do núcleo familiar e estarem cada vez mais tra-
balhando fora de casa; tradicionalmente, era delegado a elas o papel 
de cuidadoras de pessoas doentes ou com mais dependência. essas 
mudanças têm feito com que diversos idosos com algum grau de 
dependência não sejam assistidos, podendo sua condição agravar-se. 
Torna-se, assim, fundamental a criação de mecanismos sociais que 
garantam esse cuidado. 
em vista da situação de desamparo em que se encontram muitos 
idosos mais dependentes, o treinamento e a disponibilização de pes-
soas para seu cuidado são urgentes e imprescindíveis. a adequação 
das políticas públicas no atendimento de tais demandas ainda está 
aquém da necessidade existente. Perante esse quadro, o desafio que 
se coloca é formular propostas e ações que equacionem problemas e 
avancem no esforço de criar uma rede de assistência à população 
idosa mais vulnerável e fragilizada.
um dos passos nessa construção é o desenvolvimento de um conjun-
to de informações padronizadas que visem a auxiliar uma capacitação 
mais homogênea dos cuidadores e, assim, permitir que essa ocupação 
evolua para profissão, com pessoal bem preparado e numericamente 
disponível para atender às demandas da sociedade. Diante disso, a 
Secretaria de assistência e Desenvolvimento Social do estado de São 
Paulo (Seads), buscando traçar as diretrizes de uma política de aten-
ção à pessoa idosa adequada, elaborou, como uma de suas principais 
linhas de atuação, um programa de capacitação global destinado a 
desenvolver mão de obra qualificada para assistir os idosos mais de-
pendentes segundo um eixo de orientação uniforme. esse programa 
tem por objetivos:
Fornecer um “olhar gerontológico” aos profissionais que trabalham •	
com idosos. 
orientar os formadores de cuidadores de pessoas idosas e os próprios •	
cuidadores.
Tal iniciativa vem contribuir para o desenvolvimento de ações plane-
jadas e programadas que visem à construção de uma rede de atenção 
e cuidados às pessoas idosas que lhes permita envelhecer sem teme-
ridade, com dignidade e respeito. 
este material representa parte da concretização de tais ações. Teve por 
base os trabalhos desenvolvidos nessa área, associados às melhores 
práticas (evidências). Não tem, no entanto, a intenção de ser um fim 
em si mesmo; procura apenas fornecer um direcionamento mínimo 
e mais homogêneo na construção de um cuidado adequado às de-
mandas assistenciais das pessoas idosas. espera-se que seu conteúdo 
seja analisado e adaptado às realidades de cada região.
15
A oficina realizada em Blumenau (SC), em maio de 2007, coor-denada pela Área Técnica de Saúde da Pessoa idosa e pelo Departamento de Gestão da educação na Saúde (Deges) do 
ministério da Saúde, tratou especificamente dos cur-
sos de formadores de cuidadores de pessoas idosas e 
de cuidadores de pessoas idosas. a seguir, faremos uma 
síntese dos conteúdos trabalhados nessa ocasião.
uma de suas principais discussões versou sobre a ne-
cessidade de homogeneizar a formação de formadores, 
em decorrência das grandes disparidades entre os cur-
sos de graduação na área de saúde no que se refere ao 
ensino de tópicos relacionados ao envelhecimento 
(geriatria e gerontologia). Geralmente, os formadores 
são das áreas de saúde, educação ou serviço social ou 
estão ligados a elas. 
Capítulo 1 
Eixos norteadores para cursos 
de formadores de cuidadores de pessoas 
idosas e de cuidadores de pessoas idosas
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
16
eixos norteAdores pArA cursos de formAdores de cuidAdores de pessoAs idosAs e de cuidAdores de pessoAs idosAs
17
embora seja preconizada pela Política Nacional do idoso a introdução 
de conteúdos específicos nos diferentes currículos de graduação, sabe- 
-se que isso, ainda hoje, está aquém do necessário.
Na oficina, foi consenso que o formador deve ter conhecimentos 
básicos sobre envelhecimento populacional e individual (nos am-
plos aspectos) e sobre cuidados com pessoas idosas com vários 
níveis de dependência, de diversas culturas e contextos sociais, e, 
na orientação de cuidadores, adaptar esses conhecimentos às rea-
lidades locais, buscando sempre uma construção conjunta e uti-
lizando práticas pedagógicas que problematizem o processo de 
trabalho do cuidador.
Formadores de cuidadores de pessoas idosas
No que tange a esse grupo, a oficina teve por objetivos:
assegurar a formação docente integral dos profissionais envolvidos •	
nos processos de qualificação/formação, tendo como referência 
central o significado social da ação educativa no âmbito da saúde 
pública e, especialmente, na formação do cuidador de idosos.
Constituir um docente crítico, capaz de aprender a aprender, de •	
trabalhar em equipe, de levar em conta a realidade social para pres-
tar atenção humana de qualidade.
estimular práticas de atenção à saúde, voltadas ao fortalecimento •	
de ações de recuperação, promoção e prevenção, oferecendo cuida-
do integral e autonomia das pessoas na produção da saúde.
a formação desse profissional deve:
levar em conta o contexto sociopolítico, em interface com a assis-•	
tência social, a saúde, a educação e o meio ambiente.
atender às expectativas dos setores envolvidos para mudanças efe-•	
tivas das práticas de atenção à saúde – ampliação do acesso e da 
cobertura para a população idosa. 
ao final de sua preparação, o formador tem de ser capaz de:
Desenvolver ações que busquem a integração entre as equipes de •	
saúde e a população idosa, considerando as características e as 
finalidades do trabalho de acompanhamento dos idosos com 
 dependência.
realizar, em conjunto com a equipe, atividades de planejamento e •	
avaliação das ações no âmbito de atuação de cada profissional. 
Conduzir ações de promoção social e de proteção e desenvolvimen-•	
to da cidadania nas áreas social e da saúde.
Para a adequação do conteúdo, devem ser feitas as seguintes perguntas:
Quem se quer formar?•	
Por que se quer ou necessita formar essas pessoas?•	
Quem será o formador e como se preconiza o ensino? •	
o que é necessário ensinar nos cursos de formadores e de cuidadores?•	
a seguir, apresentamos a síntese dos resultados dessas discussões.
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Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
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eixos norteAdores pArA cursos de formAdores de cuidAdores de pessoAs idosAs e de cuidAdores de pessoAs idosAs
19
I. Quem se quer formar?
Cuidadores de pessoas idosas podem ser definidos como as pessoas 
que cuidam de idosos com dependência, desenvolvendo ações que 
promovam a melhoria de sua qualidade de vida em relação a si, à 
família e à sociedade. Suas ações fazem interface principalmente com 
a saúde, a educação e a assistência social e devem ser pautadas pela 
solidariedade, compaixão, paciência e equilíbrio emocional.
os cuidadores podem ser familiares, agregados à família ou 
profissionais (para atuar em domicílio ou em instituições). 
os requisitos mínimos, os conteúdos e as estratégias de abor-
dagem nos cursos a serem realizados diferem, dependendo 
do público-alvo.
os cursos para cuidadores familiares destinam-se, de modo 
geral, a parentes disponíveis para assumir essa função. Pode-se, 
portanto, lidar com pessoas de diferentes níveis culturais e 
graus de escolarização. Não é incomum que muitos cuidado-
res familiares tenham baixa escolaridade ou não sejam alfa-
betizados. embora isso possa comprometer o cuidado a ser 
ministrado, bem como a capacidade de absorver os conteúdos 
previstos, é uma realidade com que se tem de trabalhar.
De modo geral, os cursos para cuidadores familiares têm por 
objetivos:
Fornecer-lhes instrumentos para que cuidem da pessoa ido-•	
sasob sua responsabilidade da melhor forma possível.
Facilitar seu dia a dia.•	
minimizar sua ansiedade na realização desse cuidado, para •	
o qual não se sentem capazes (em todos os aspectos, incluin-
do o emocional).
o formador deve lembrar que, em geral, as pessoas não es-
peram se tornar cuidadoras de seus parentes idosos e não se 
prepararam para esse fim. Com muita frequência, assumem essa fun-
ção em circunstâncias mais ou menos repentinas e veem, assim, seu 
mundo se transformar rapidamente (necessidade de abandonar o 
trabalho, de realocar horários, de dispor de parte ou de quase toda 
a vida pessoal; gastos elevados e, quase sempre, nenhuma remunera-
ção pela atividade; baixa valorização e pouco reconhecimento da 
atividade por outros familiares e pelo próprio idoso assistido; confli-
tos familiares antes não tão evidentes; pouca ou nenhuma colabora-
ção de outros membros da família).
isso costuma gerar o que se denomina “sofrimento oculto” do cuida-
dor, que é expresso por estresse e sofrimento, angústia, sentimento 
de culpa (por algumas vezes negligenciar o cuidado ou gritar com a 
pessoa de quem cuida), ira e agressividade (com o idoso e com a fa-
mília), embaraço (na presença de outras pessoas, sobretudo com 
idosos com demência), fadiga física e emocional. essas situações serão 
mais ou menos acentuadas dependendo da funcionalidade familiar, 
ou seja, da capacidade da família de se reorganizar diante de tal im-
previsto (o de contar com uma pessoa idosa dependente).
Os cuidadores de 
pessoas idosas 
devem desenvolver 
ações que 
promovam a 
melhoria de sua 
qualidade de vida 
em relação a si, 
à família e à 
sociedade.
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Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
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eixos norteAdores pArA cursos de formAdores de cuidAdores de pessoAs idosAs e de cuidAdores de pessoAs idosAs
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a outra linha de formação de cuidadores visa à capacitação profissio-
nal. atualmente, os cuidadores aparecem na Classificação Brasileira 
de ocupações (CBo)1 na família 5162 – Cuidadores de 
crianças, jovens, adultos e idosos.
a ocupação é denominada “Cuidador de idosos” (código 5162-10) 
e tem como sinônimos “acompanhante de idosos, Cuidador de pes-
soas idosas e dependentes, Cuidador de idosos domiciliar, Cuidador 
de idosos institucional, Gero-sitter”.
Sua função primária é:
Cuidar de idosos, a partir de objetivos estabelecidos por instituições es-
pecializadas ou responsáveis diretos, zelando pelo bem-estar, saúde, 
alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da 
pessoa assistida.
a CBo deixa claro que essa ocupação não integra a família 3222 – 
Técnicos e auxiliares de enfermagem, minimizando quaisquer dúvidas 
que possam ser levantadas pelos respectivos conselhos profissionais.
as condições gerais de trabalho são as seguintes:
O trabalho é exercido em domicílios ou instituições cuidadoras [...] de 
idosos. As atividades são exercidas com alguma forma de supervisão, na 
condição de trabalho autônomo ou assalariado. Os horários de trabalho 
são variados: tempo integral, revezamento de turno ou períodos deter-
minados. No caso de cuidadores de indivíduos com alteração de com-
portamento, estão sujeitos a lidar com situações de agressividade.
a CBo também descreve a formação e experiência dos cuidadores 
em geral:
Essas ocupações são acessíveis a pessoas com dois anos de experiência em 
domicílios ou instituições cuidadoras públicas, privadas ou ONGs, 
em funções supervisionadas de pajem, mãe-substituta ou auxiliar de 
cuidador, cuidando de pessoas das mais variadas idades. O acesso ao 
emprego também ocorre por meio de cursos e treinamentos de formação 
profissional básicos, concomitante ou após a formação mínima, que 
varia da quarta série do ensino fundamental até o ensino médio. Podem 
ter acesso os trabalhadores que estão sendo reconvertidos da ocupação de 
atendentes de enfermagem. No caso de atendimento a indivíduos com 
elevado grau de dependência, exige-se formação na área de saúde, devendo 
o profissional ser classificado na função de técnico/auxiliar de enferma-
gem. A(s) ocupação(ões) elencada(s) nesta família ocupacional 
demanda(m) formação profissional para efeitos do cálculo do número 
de aprendizes a serem contratados pelos estabelecimentos, nos termos do 
artigo 429 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), exceto os casos 
previstos no art. 10 do Decreto 5.598/2005.
as áreas de atividades e suas especificações envolvem: 
a) Cuidar da pessoa idosa:
Cuidar da aparência e higiene pessoal. „
Observar os horários das atividades diárias. „
Ajudar no banho, na alimentação, no andar e nas necessidades „
fisiológicas. 
1. Disponível em: 
<http://www.mtecbo.gov.br>.
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Estar atento às ações da pessoa idosa. „
Verificar as informações dadas pela pessoa idosa. „
Informar-se do dia a dia da pessoa idosa no retorno de sua folga. „
Relatar o dia a dia da pessoa idosa aos responsáveis. „
Manter o lazer e a recreação no dia a dia. „
Desestimular a agressividade da pessoa idosa. „
b) Promover o bem-estar:
Ouvir a pessoa idosa, respeitando sua necessidade individual de „
falar.
Dar apoio psicológico e emocional. „
Ajudar na recuperação da autoestima, dos valores e da „
afetividade.
Promover momentos de afetividade. „
Estimular a independência. „
Auxiliar e respeitar a pessoa idosa em sua necessidade espiritual e „
religiosa.
c) Cuidar da alimentação da pessoa idosa:
Participar da elaboração do cardápio. „
Verificar a despensa. „
Observar a qualidade e a validade dos alimentos. „
Fazer as compras conforme lista e cardápio. „
Preparar a alimentação. „
Servir a refeição em ambientes e em porções adequadas. „
Estimular e controlar a ingestão de líquidos e de alimentos „
variados.
Reeducar os hábitos alimentares. „
d) Cuidar da saúde:
Observar temperatura, urina, fezes e vômitos. „
Controlar e observar a qualidade do sono. „
Ajudar nas terapias ocupacionais e físicas. „
Ter cuidados especiais com deficiências e dependências físicas. „
Manusear adequadamente. „
Observar alterações físicas. „
Observar alterações de comportamento. „
Lidar com comportamentos compulsivos e evitar ferimentos. „
Controlar armazenamento, horário e ingestão de medicamentos, „
em domicílios.
Acompanhar a pessoa idosa em consultas e „
atendimentos médico-hospitalares.
Relatar a orientação médica aos responsáveis. „
Seguir a orientação médica. „
e) Cuidar do ambiente domiciliar e/ou institucional:
Cuidar dos afazeres domésticos. „
Manter o ambiente organizado e limpo. „
Promover adequação ambiental. „
A CBO descreve 
a formação e 
experiência dos 
cuidadores, detalha
suas atividades 
e lista as 
competências 
pessoais.
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Prevenir acidentes. „
Fazer compras para a casa e para a pessoa idosa. „
Administrar finanças. „
Cuidar da roupa e objetos pessoais da pessoa idosa. „
Preparar o leito de acordo com as necessidades da pessoa idosa. „
f ) Incentivar a cultura e a educação:
Estimular o gosto pela música, dança e esporte. „
Selecionar jornais, livros e revistas. „
Ler histórias, textos e jornais para a pessoa idosa. „
Organizar biblioteca doméstica. „
g) Acompanhar em passeios, viagens e férias:
Planejar e fazer passeios. „
Listar objetos de viagem. „
Arrumar a bagagem. „Preparar a mala de remédios. „
Preparar documentos e lista de telefones úteis. „
Preparar alimentação da viagem com antecedência. „
Acompanhar a pessoa idosa em atividade sociais e culturais. „
Como competências pessoais do cuidador, a CBo lista as seguintes:
1. Manter capacidade e preparo físico, emocional e espiritual.
2. Cuidar de sua aparência e higiene pessoal.
3. Demonstrar educação e boas maneiras.
4. Adaptar-se a diferentes estruturas e padrões familiares e comunitários.
5. Respeitar a privacidade da pessoa idosa.
6. Demonstrar sensibilidade e paciência.
7. Saber ouvir.
8. Perceber e suprir carências afetivas.
9. Manter a calma em situações críticas.
10. Demonstrar discrição.
11. Observar e tomar resoluções.
12. Em situações especiais, superar seus limites físicos e emocionais.
13. Manter otimismo em situações adversas.
14. Reconhecer suas limitações e quando e onde procurar ajuda.
15. Demonstrar criatividade.
16. Lidar com a agressividade.
17. Lidar com seus sentimentos negativos e frustrações.
18. Lidar com perdas e mortes.
19. Buscar informações e orientações técnicas.
20. Obedecer a normas e estatutos.
21. Reciclar-se e atualizar-se por meio de encontros, palestras, cursos e 
seminários.
22. Respeitar a disposição dos objetos da pessoa idosa.
23. Dominar noções primárias de saúde.
24. Dominar técnicas de movimentação para a pessoa idosa não se 
machucar.
25. Dominar noções de economia e atividade doméstica.
26. Conciliar tempo de trabalho com tempo de folga.
27. Doar-se.
28. Demonstrar honestidade.
29. Conduta moral.
Cabe ressaltar que, como essas informações foram publicadas em 
2002, muito se evoluiu na questão dos cuidadores profissionais e será 
necessária uma revisão de tal descrição.
um dos pontos principais relaciona-se à formação: apenas expe-
riência anterior não deve ser considerada qualificação 
que exclua a capacitação. 
Quanto aos requisitos mínimos, a escolaridade é um 
tema controverso. especialistas da área de 
gerontologia preconizam que o cuidador 
profissional deve ter, pelo menos, o 
ensino fundamental. Não se aceita 
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a formação de um cuidador profissional sem escolaridade mínima, 
diferentemente do cuidador familiar. No projeto do ministério da 
Saúde, como a formação dos cuidadores no âmbito público ficaria a 
cargo (mas não exclusivamente) das escolas Técnicas de Saúde, esse 
requisito se elevaria para o ensino médio, dadas as características das 
instituições. Como a CBo ainda não foi revista e a ocupação não é 
regulamentada, esse tópico precisa ser mais bem discutido para que 
se chegue a um consenso.
II. Por que se quer ou necessita formar essas pessoas?
Sobretudo pelo expressivo crescimento da população idosa, que não 
tem sido acompanhado por aumento similar do número de cuidado-
res disponíveis – em vez disso, está decrescendo com o passar do 
tempo, influenciado pela queda da taxa de fecundidade e pelas com-
posições familiares cada vez menores. os índices de suporte e de 
dependência são utilizados como indicadores brutos das futuras ne-
cessidades de cuidados. Nos estados unidos, em 1980, havia 
11 potenciais cuidadores para cada idoso; estima-se que essa 
média declinará para dez em 2010, para seis em 2030 e para 
quatro em 2050. 
Soma-se a isso a crescente entrada das mulheres no mer-
cado de trabalho, antes as principais cuidadoras de seus 
parentes idosos. Pesquisas demonstram que as 
 norte-americanas gastam cerca de 17 anos cuidan-
do dos filhos e 18 dos pais e que hoje elas cuidam 
mais dos pais que dos filhos.
e ainda devem ser consideradas as alterações na 
dinâmica de estudo e trabalho em muitos países, 
o que faz com que os idosos passem a viver 
longe de seus parentes. os filhos podem tra-
balhar em outros locais, enquanto os pais 
permanecem em sua cidade natal. estudo norte-americano constatou 
que pelo menos um terço de todos os filhos adultos mora a pelo 
menos 30 minutos de distância dos pais. 
em grandes centros urbanos, destaque-se também o aumento do 
índice de violência, levando os filhos a falecer antes de seus pais.
esses fatores mostram que as pessoas idosas podem estar vulneráveis 
ao “não cuidado” caso apresentem qualquer problema mais incapa-
citante, pois seus familiares, que, ainda hoje, representam a principal 
fonte de cuidados, nem sempre estão facilmente disponíveis para 
atendê-las nessas situações de crise. isso tende a agravar o que seria 
um pequeno problema, por falta de assistência no tempo adequado, 
acarretando, muitas vezes, consequências irreparáveis.
É nesse contexto que urge a formação de pessoas habilitadas para 
cuidar de pessoas idosas, modificando o panorama ora instalado.
III. Quem será o formador e como se preconiza o ensino?
o consenso é o de que sejam profissionais de nível universitário das 
áreas de saúde, educação e serviço social, desde que com conhecimen-
tos gerais de saúde com ênfase no cuidado e específicos de geronto-
logia. o formador também deve ter ou desenvolver conhecimentos 
pedagógicos relacionados ao processo de ensino-aprendizagem, des-
critos sinteticamente a seguir.
Nem sempre a intenção de ensinar é traduzida em efe-
tivação do aprendizado. mesmo com a intenção since-
ra de ensinar, se o aluno não aprendeu, a meta (apreen-
são, apropriação do conteúdo por ele) não foi atingida, 
ou seja, o ensino não ocorreu. a pessoa que recebe uma 
informação nova tem de ser capaz de repassá-la e, para 
tanto, precisa apreender a informação, apropriando-se 
desse conhecimento. Para apreender é necessário agir, 
O número de 
cuidadores 
disponíveis 
deve acompanhar 
o expressivo 
crescimento 
da população 
idosa.
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exercitar-se, informar-se, tomar para si, apropriar-se do objeto em 
estudo. aprender deriva de apreender e significa tomar conhecimen-
to, reter na memória mediante estudo. 
o processo de ensino-aprendizagem decorre de ações efetivadas den-
tro e fora da sala de aula. É imprescindível o envolvimento comparti-
lhado com o conhecimento, que deve possibilitar o “pensar a situação” 
para que o aluno possa reelaborar as relações dos conteúdos, indo, 
portanto, além de “o quê?” e “como?”.
Nesse processo, o professor, no caso o formador, prepara 
e dirige as atividades e ações com base em estratégias se-
lecionadas e leva os alunos a desenvolver processos de 
mobilização, construção e elaboração da síntese do conheci-
mento para assim chegarem ao que se chama “compreen-
são”. Com isso, eles serão capazes de reproduzir o que foi 
aprendido em qualquer circunstância, pois um processo 
de reflexão foi estabelecido conjuntamente. 
Compreender é aprender o significado de um objeto ou de um 
acontecimento e visualizá-lo em suas relações com outros objetos 
e acontecimentos, compondo feixes de relações entrelaçados ou 
redes (construídas socialmente e em permanente estado de 
 atualização).
o principal desafio é conseguir que os alunos desenvolvam a capaci-
dade de abstração, ou seja, de reconstrução do objeto apreendido pela 
concepção de noções e princípios independentemente do modelo ou 
exemplo estudado/apresentado.
isso poderá ser desenvolvido pelo uso de diferentes estratégias. es-
tratégias são ferramentas facilitadoras definidas pelos formadores 
durante o processo de ensino-aprendizagem para que os alunos seapropriem do conhecimento. exigem de quem as utiliza criativida-
de, percepção aguçada, vivência pessoal profunda e renovadora, 
além da capacidade de pôr em prática uma ideia valendo-se da fa-
culdade de dominar o objeto trabalhado.
o formador deve utilizar estratégias que desafiem ou possibilitem 
que as operações de pensamento sejam despertadas, exercitadas, cons-
truídas e flexibilizadas pelas necessárias rupturas por meio da mobi-
lização, da construção e das sínteses – vistas e revistas. lidar com 
diferentes estratégias, no entanto, não é fácil.
Há predominância da exposição de conteúdos (aulas expositivas e 
palestras) – estratégia funcional para a passagem de informações e me-
morização – por ser bem-aceita tanto pelos professores como pelos 
alunos. os conteúdos são passados prontos, acabados e determinados. 
outras estratégias têm sido preconizadas na formação de cuidadores, 
entre elas: aula expositiva dialogada; portfólio; tempestade cerebral 
(brainstorming); estudo dirigido; fórum de discussão; solução de pro-
O formador pode 
usar diferentes 
estratégias para 
facilitar a 
apropriação do 
conhecimento 
pelos alunos.
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blemas; grupos de verbalização e de observação; dramatização; estu-
dos de caso; oficinas de trabalho.
o uso das estratégias requer habilidade, organização, preparação 
cuidadosa, planejamento compartilhado e mutuamente comprome-
tido com o aluno, que, como sujeito de seu processo de aprendizagem, 
atuará de maneira ativa. 
Para a adequada utilização de estratégias pedagógicas diferenciadas 
com habilidade, talvez seja necessário que os formadores participem 
de oficinas pedagógicas, ou seja, grupos em que os professores estudam 
e trabalham um tema/problema, sob a orientação de um especialista, 
aliando teoria e prática. Com isso, eles aprenderão a fazer melhor seu 
trabalho mediante a aplicação e o processamento de conceitos e co-
nhecimentos previamente adquiridos.
IV. O que é necessário ensinar nos cursos 
de formadores e de cuidadores?
Para o desenvolvimento dos cursos, foram definidos alguns eixos inte-
gradores e as competências e habilidades mínimas a eles relacionadas.
Eixo 1 – Interação e comunicação
Competências a serem desenvolvidas
No final do curso, o cuidador deverá ser capaz de:
Desenvolver ações que estimulem o processo de interação e comu-•	
nicação entre o idoso, seus familiares e a comunidade.
Compreender/interpretar as mensagens verbais e não verbais do •	
idoso e se fazer entender.
Promover/fazer a inter-relação entre família-serviços-comunidade •	
(rede).
Compreender e reconhecer o processo de comunicação do idoso •	
(verbal e não verbal).
Para atender a esse eixo, no final do curso, o cuidador deverá ter 
habilidade para:
Estimular a pessoa idosa na manutenção do convívio familiar e „
social.
Propor atividades que estimulem o uso da linguagem oral e de „
outras formas de comunicação pela pessoa idosa.
Promover, na família, ambiente favorável à conversação com a „
pessoa idosa.
Incentivar a socialização da pessoa idosa por meio da participação „
em grupos, tais como: grupos de acompanhamento terapêutico, de 
atividades socioculturais, de práticas corporais/físicas e outros.
Identificar redes de apoio na comunidade e estimular a participação „
da pessoa idosa, conforme orientações do plano de cuidado.
Apoiar a pessoa idosa na execução das atividades instrumentais de „
vida diária.
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Utilizar recursos de informação e comunicação adequados à „
pessoa idosa.
Verificar a necessidade e/ou condições de órteses (bengalas, „
andadores etc.) e próteses dentárias, auditivas e oculares.
Favorecer a leitura labial pela pessoa idosa durante as „
 conversações.
Utilizar linguagem clara e precisa com a pessoa idosa e seus „
familiares.
Eixo 2 – Cuidados em relação às atividades do “andar da vida”
Competências a serem desenvolvidas 
No final do curso, o cuidador deverá ser capaz de:
identificar as necessidades de cuidado.•	
reconhecer a possibilidade de independência e a autonomia do •	
idoso para a realização das atividades de vida diária (aVDs) e, a 
partir daí, organizar as atividades de suporte. 
atuar de forma a estimular o resgate e/ou manutenção da indepen-•	
dência e autonomia do idoso.
Conhecer/reconhecer/identificar o nível/tipo de dependência do •	
idoso, a fim de auxiliar o desempenho de suas aVDs na medida 
de suas necessidades
Para atender a esse eixo, no final do curso, o cuidador deverá ter 
habilidade para:
Identificar a relação entre problemas de saúde „
e condições de vida.
Coletar informações sobre a história de vida „
e de saúde da pessoa idosa.
Identificar o contexto familiar e social de vida da „
pessoa idosa.
Identificar valores culturais, éticos, espirituais e „
religiosos da pessoa idosa e de sua família.
Participar da elaboração do plano de cuidado para „
a pessoa idosa, sua implementação, avaliação e reprogramação 
com a equipe de saúde.
Realizar ações de acompanhamento e cuidado da pessoa idosa com „
dependência, conforme as demandas e necessidades identificadas.
Identificar situações e hábitos presentes no contexto de vida do idoso „
que são potencialmente promotores ou prejudiciais a sua saúde. 
Estimular a autonomia e independência da pessoa idosa em face „
de suas necessidades. 
Apoiar a pessoa idosa na execução das atividades de vida diária, „
conforme o plano de cuidado.
Apoiar a pessoa idosa na execução das atividades instrumentais „
de vida diária.
Sensibilizar a pessoa idosa e sua família quanto à necessidade „
de mudanças graduais e contínuas de hábitos e atitudes, a fim de 
facilitar a vida do idoso.
No final do curso,
 o cuidador 
deverá ter 
desenvolvido 
uma série de 
competências 
e habilidades 
específicas.
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Atentar para possíveis reações indesejadas em relação ao uso „
de medicamentos.
Providenciar suporte adequado às necessidades específicas da „
pessoa idosa.
Atentar para a necessidade e/ou para as condições das próteses „
e órteses em uso pela pessoa idosa.
Estimular a prática de atividades que diminuam o risco de „
doenças crônicas, conforme orientações do plano de cuidado.
Identificar sinais de fragilização da pessoa idosa. „
Identificar sinais de depressão e demência na pessoa idosa „
e encaminhá-la para os cuidados específicos.
Encaminhar o idoso para atendimento à saúde, quando „
necessário.
Acompanhar o idoso no uso da medicação. „
Acompanhar a situação vacinal da pessoa idosa. „
Orientar a família e atuar no caso de óbito da pessoa idosa. „
Eixo 3 – Prontidão para agir em situações imprevistas 
Competências a serem desenvolvidas
No final do curso, o cuidador deverá ser capaz de:
reconhecer situações de urgência e emergência e realizar os pri-•	
meiros socorros e demais ações sob orientação do profissional 
responsável. 
agir com prontidão e presteza em situações imprevistas dentro do •	
limite de suas atribuições. 
Para atender a esse eixo, no final do curso, o cuidador deverá ter 
habilidade para:
Reconhecer situações de urgência e emergência. „
Realizar primeiros socorros. „
Providenciaratendimento de suporte. „
Eixo 4 – Prevenção de riscos, acidentes e violência 
Competências a serem desenvolvidas
No final do curso, o cuidador deverá ser capaz de:
identificar e reconhecer situações de risco à integridade física e •	
psicológica da pessoa idosa a fim de evitar situações de agravo. 
Promover ambiente seguro.•	
Para atender a esse eixo, no final do curso, o cuidador deverá ter 
habilidade para:
Identificar as situações de risco de violência. „
Prevenir, atuar e mobilizar os recursos que reduzam riscos. „
Analisar os riscos sociais e ambientais à saúde da pessoa idosa „
com dependência.
Avaliar as condições de risco de acidentes „
domésticos e propor alternativas para 
resolução ou minimização.
Identificar as situações de „
autonegligência e promover os 
encaminhamentos necessários. 
Reconhecer os sinais de maus-tratos „
e promover os encaminhamentos 
necessários.
Identificar as situações de violência „
intra e extrafamiliar.
Estimular a pessoa idosa e seus „
familiares a participar de programas 
sociais locais que envolvam orientação 
e prevenção da violência intra e 
extrafamiliar, dentre outros.
Notificar caso suspeito ou confirmado „
de violência contra a pessoa idosa.
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Eixo 5 – Direitos da pessoa idosa
Competências a serem desenvolvidas 
No final do curso, o cuidador deverá ser capaz de:
Conhecer a legislação e os recursos para promover a garantia dos •	
direitos.
identificar espaços de reivindicação dos direitos da pessoa idosa.•	
Para atender a esse eixo, no final do curso, o cuidador deverá ter 
habilidade para:
Identificar as situações que apontem negligência aos direitos da „
pessoa idosa e promover os encaminhamentos necessários. 
Reconhecer e saber utilizar os mecanismos que asseguram os „
direitos dos idosos como cidadãos.
Garantir o acesso da pessoa idosa a seus direitos legais utilizando „
os meios e recursos disponíveis.
Divulgar para a pessoa idosa, para seus familiares e para a comunidade „
a legislação em vigência sobre os direitos dos idosos. 
os conteúdos ministrados visam a atender às competências e habili-
dades a serem desenvolvidas. a carga horária prevista para os cursos 
é de 160 horas, integrando conteúdos presenciais, não presenciais e 
atividades práticas. 
Com base nessa proposta, a escola de enfermagem da universidade 
de São Paulo iniciou o desenvolvimento de tais cursos e acrescentou 
que, para certificação, os participantes deveriam elaborar e executar, 
em grupos de, no máximo, cinco pessoas, um curso para, no mínimo, 
dez cuidadores. Só seriam certificados como formadores os que tives-
sem seus cursos aprovados segundo critérios preestabelecidos e 
 antecipadamente divulgados, após avaliação em todas as fases (pla-
nejamento, execução e avaliação).
a seguir, apresentamos uma sugestão de conteúdo mínimo para de-
senvolvimento dos cursos.
Cursos de formadores de cuidadores de pessoas idosas
oficinas pedagógicas – estratégias de ensino-aprendizagem voltadas •	
ao ensino de adultos
envelhecimento da população e da pessoa – aspectos epidemioló-•	
gicos e psicossociais
envelhecimento da população e da pessoa – aspectos sociais•	
envelhecimento da população e da pessoa – aspectos psicológicos•	
envelhecimento da população e da pessoa – aspectos biofisioló-•	
gicos (senescência)
aspectos funcionais do envelhecimento humano: autonomia, •	
dependência e independência
a construção e manutenção de uma rede de suporte social e familiar •	
no transcorrer da vida
Cuidadores: definição, papéis, direitos e deveres (familiar, domici-•	
liar, institucional, acompanhantes de idosos) 
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Desenvolvimento de uma relação de ajuda•	
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: nutrição •	
e alimentação
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: higiene, •	
vestimenta e conforto
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: mobi-•	
lização e transferência
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: •	
 locomoção
Facilitando o desenvolvimento de atividades de vida diária: •	
 continência
Cuidando de idosos com distúrbios cognitivos•	
Prevenindo situações de violência doméstica•	
atuando em situações de urgência e emergência•	
auxiliando no final da vida: processo de morrer, morte e luto•	
Cursos de cuidadores de pessoas idosas
Princípios da relação de ajuda•	
mitos, atitudes e estereótipos relacionados ao •	
envelhecimento
aspectos biopsicossociais do envelhecimen-•	
to do ser humano
autonomia, dependência e independên-•	
cia da pessoa idosa – aspectos conceituais 
e legais e sua relação com o cuidado
Compreendendo as atividades de vida •	
diária (aVDs) em suas diferentes 
 dimensões: 
básicas (aBVDs), −
instrumentais (aiVDs) e −
avançadas (aaVDs) −
organizando o cuidado relacionado ao melhor •	
 desempenho das atividades cotidianas (oficinas)
mecanismos corporais −
Higiene pessoal e banho −
mobilização e transferência −
Cuidados com a alimentação −
organização dos medicamentos −
manejando a incontinência (urinária e fecal) −
Sono e repouso −
repensando e organizando o dia a dia −
Direitos e deveres da pessoa idosa (estatuto do idoso) −
mantendo um ambiente saudável•	
o cuidado da pessoa idosa com comprometimento de memória •	
(ênfase em demências)
entendendo a doença de alzheimer (Da) −
a) reagindo ao diagnóstico
b) o que acontece depois
c) Contando aos familiares e amigos
d) Possibilidades e perspectivas de tratamento
reorganizando a vida −
a) reorganizando o futuro
b) Discutindo as possibilidades de cuidado com a família
Cuidando/auxiliando o portador de Da −
a) Comunicação
b) Higiene e conforto
c) Vestimenta
d) alimentação
e) Programando atividades e exercícios
f ) incontinência
g) Sono e repouso
h) reconhecendo sinais e sintomas
i) atuando em urgências e emergências
Oficinas 
pedagógicas 
fazem parte 
dos cursos de 
formadores 
e de cuidadores.
Manual dos formadores de cuidadores de pessoas idosas
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Cuidando/auxiliando a família do portador de Da −
a) lidando com alterações de comportamento
b) lidando com comportamentos agressivos
c) Compreendendo e manejando alucinações e delírios
d) Perambulação
e) Tornando o ambiente seguro
f ) recebendo visitas
g) mantendo a estrutura familiar
h) lidando com o luto
identificando e atuando em situações de urgência e emergência•	
Cuidando no final da vida (processo de morrer, morte e luto)•	
o papel do cuidador – limites e possibilidades•	
Cuidando do cuidador•	
Q uando os cuidadores não forem os familiares, é fundamental que os conteúdos sobre a construção de uma relação de ajuda sejam desenvolvidos, pois isso vai constituir-se na base das 
atividades desses profissionais.
relação de ajuda pode ser entendida como uma ligação profunda e 
significativa entre a pessoa que ajuda e a que é ajudada, a qual ultra-
passa as simples trocas funcionais, mantendo um prisma de cresci-
mento e evolução. Cria vínculos com a execução de atividades de 
cuidado que tenham por princípio o respeito e 
a liberdade, ou seja, tenham por finalidade 
auxiliar a pessoa que é ajudada a resta-
belecer e manter sua autonomia. 
Nesse contexto, entende-se “cuidar” 
como “ajudar a viver”. esse 
cuidado pode ser interno 
Capítulo 2
A construção de uma relação de ajuda
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ou externo, ou seja, posso ajudar a mim mesmo respondendo pessoal-
mente pelos cuidados usuais (cuidar-se) ou, ainda, ser ajudado por 
alguém integral ou parcialmente.
No transcorrer de nossa existência, vivenciamos muitas situações de 
ajuda, nas quais ora somos ajudados (cuidados), ora nos ajudamos 
(autocuidado), ora ajudamos (cuidamos) outras pessoas. Compreen-
der isso nos remete a outro conceito, o de “ajuda compartilhada”, que 
envolve reciprocidade e solidariedade, em que todos necessitam uns 
dos outros e a troca referente ao cuidado prestado não gera sentimen-
tos de dependência.
aquele que se propõe ajudar precisa ter adquirido experiência pes soal, 
relacionada ao processo de viver, às diferentes etapas da vida e a di-
ferentes relações sociais em uma convivência com os mais diversos 
grupos de indivíduos. Nem sempre isso é permitido a algumas pes-
soas, pois às vezes elas se veem diante de situações de ajuda a outros 
sem nem sequer terem ultrapassado algumas etapas da vida adulta 
que lhes possibilitariam conjugar experiência e formação. 
este capítulo foi elaborado com o propósito de suscitar reflexões e 
discussões acerca do que se faz necessário para a construção de uma 
relação de ajuda, peça fundamental no desenvolvimento, com quali-
dade, das atividades dos cuidadores. os pressupostos colocados a 
seguir basearam-se nas considerações de alguns autores sobre a cons-
trução de relações de ajuda (Carkhuff, 1977; lazure, 1994; Bérger, 
1996; miranda e miranda, 1996).
Primeiros passos
a primeira consideração a ser feita é que os cuidadores envolvidos 
com atividades de ajuda devem desenvolver habilidades específicas. 
embora sejam elementos fundamentais, não são suficientes apenas 
o interesse e a boa vontade. Não basta também apenas “saber” ou 
“saber fazer” para o desenvolvimento de um “bom” cuidado. É ne-
cessário “saber ser” para si mesmo e para a pessoa idosa a quem se 
destina seu olhar. 
Devemos reconhecer que, em muitas ocasiões, ajudamos porque isso 
nos faz bem, porque nos sentimos especialmente lisonjeados quando 
sabemos que somos responsáveis pelo bem-estar de alguém ou porque 
utilizamos esses momentos para fortalecimento próprio, durante o 
qual, de alguma forma, exercemos nosso “poder” sobre o outro, por-
que nos consideramos detentores do saber (e, portanto, do poder) 
perante aqueles que necessitam de nosso auxílio.
Conhecer-se é fundamental. Compreender que muitas das dificuldades 
que sentimos para lidar com os problemas, medos e sofrimentos 
das pessoas idosas ocorrem porque, talvez, tenhamos as mesmas di-
ficuldades para lidar com nossos próprios medos e com nosso próprio 
sofrimento. 
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Conhecer-se não é fácil, pois isso geralmente nos coloca 
diante de questões que não queremos ou com as quais 
não gostamos de nos confrontar. Tememos ser rejeitados, 
julgados, cobrados, pegos em situações desfavoráveis, 
correr riscos ou falhar e ter de admitir as falhas. Tememos, 
sobretudo, tomar consciência de nosso verdadeiro “eu” 
e descobrir que é preciso mudar nosso comportamento e 
nossa vida. Somente com esse conhecimento pessoal po-
demos compreender o outro e, então, tentar estabelecer 
uma relação de ajuda. É fundamental entender que aju-
dar é “dar de si”, já que envolve doação (de tempo, 
 competência, saber, interesse), capacidade de escuta 
e compreensão. 
Situações de emergência que possam pôr em risco a vida 
da pessoa idosa e mesmo as situações de substituição, na 
qual o cuidador faz pelo idoso o que ele está temporária 
ou permanentemente incapacitado de realizar, são exemplos 
de ações que não estão em conformidade com a definição 
e finalidades da relação de ajuda. 
Nas relações de ajuda, auxiliamos as pessoas idosas a enfrentar e a 
superar uma situação de crise com os recursos de que elas dispõem. 
Tais situações manifestam-se de diferentes maneiras, mais ou menos 
 explícitas e/ou penosas. a capacidade e o limite de cada idoso são 
inerentes ao próprio idoso e construídos durante suas experiências 
pessoais, cabendo ao cuidador a habilidade de reconhecê-los.
embora toda relação de ajuda envolva comunicação, nem toda comu-
nicação é obrigatoriamente uma relação de ajuda. Quando o cuidador 
pergunta à pessoa idosa sobre dados precisos (quantas vezes urinou no 
dia, se tomou café pela manhã etc.), ela vai lhe dar uma resposta 
precisa (desde que tenha capacidade de ouvir e compreender). Nesse 
caso, ambos apenas circulam informações. 
a segunda consideração a ser feita é a compreensão de que, em uma 
relação de ajuda, o idoso é o principal detentor dos recursos para a 
resolução das dificuldades ou demandas apresentadas. o estabeleci-
mento de uma relação de ajuda possibilita a ele identificar, sentir, 
saber, escolher e decidir sobre suas ações (autonomia). ao profissional 
cuidador cabe auxiliá-lo a descobrir ou redescobrir capacidades e 
potencialidades próprias, redirecionando suas energias para um novo 
olhar sobre si mesmo, que, diante das circunstâncias, pode não exis-
tir ou estar muito deteriorado.
a principal ênfase da relação de ajuda é a dimensão afetiva do pro-
blema, pois muitas das desadaptações não ocorrem por falta de co-
nhecimento, e sim por insatisfações emocionais. ela busca auxiliar a 
pessoa idosa a compreender-se, a fazer escolhas de forma indepen-
dente e significativa e a fazer com que suas relações lhe sejam mais 
satisfatórias. essa relação visa, sobretudo, à melhoria da autoestima, 
ao alcance da autorrealização, à promoção de conforto psicológico 
e ao fornecimento do apoio necessário para se confrontar com as 
próprias dificuldades existenciais.
Dessa forma, a relação de ajuda visa a auxiliar a pessoa idosa a:
ultrapassar uma situação-limite.•	
resolver uma situação atual ou potencial.•	
encontrar um funcionamento pessoal mais satisfatório, aumentan-•	
do sua autoestima e seu sen-
timento de segurança e 
diminuindo sua ansie-
dade ao mínimo.
Desenvolver atitudes •	
positivas pe-
rante suas 
(in)capaci-
dades.
Nas relações de 
ajuda, auxiliamos 
as pessoas idosas a
enfrentar e a 
superar uma 
situação de crise 
com os recursos de 
que elas dispõem.
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melhorar sua capacidade de comunicação e suas relações com os •	
outros.
identificar o sentido para sua existência.•	
manter um ambiente estimulante no que se refere aos níveis bio-•	
psicossociais.
Para desenvolver uma relação de ajuda, é fundamental que o cuidador 
seja: 
Preciso e objetivo no que lhe diz respeito e no que diz respeito aos •	
outros.
Capaz de respeitar-se e de respeitar os outros.•	
Congruente consigo mesmo e com a pessoa de quem cuida.•	
empático.•	
Capaz de confrontar-se.•	
É importante destacar que, para ser um cuidador, a pessoa deve: re-
conhecer seus valores pessoais; ser capaz de analisar as próprias emo-
ções; estar apta a servir de modelo e a influenciar outros; ser altruísta; 
desenvolver alto senso de responsabilidade em relação a si mesma e 
aos outros; ser ética. essas características auxilia-
rão a formação de interações mais abertas 
entre cuidador e idosos, mantendo atitudes 
positivas com o objetivo de alcançar a au-
tonomia em vez de controle.
No estabelecimento de uma relação deajuda, é necessário definir os objetivos 
das duas partes envolvidas – cuidador 
e pessoa idosa. Cabe ao cuidador:
identificar com clareza os problemas •	
vivenciados pelo idoso.
estabelecer conjuntamente com •	
idoso/família os objetivos concretos 
e pertinentes.
avaliar com o idoso suas capacidades e suas limitações.•	
escolher os meios para ajudá-lo a atingir seus objetivos levando em •	
conta o sistema de valores do cliente.
Cabe à pessoa idosa/família:
Participar ativamente na definição dos objetivos.•	
Trabalhar um elemento de cada vez.•	
iniciar pelo problema atual.•	
Características necessárias para construir 
uma relação de ajuda
Capacidade de escuta
“escutar” não é sinônimo de “ouvir”. escutar é constatar por meio 
do estímulo do sistema auditivo; é um processo ativo e voluntário 
em que o indivíduo permite-se impregnar pelo conjunto de suas 
percepções externas e internas. Na relação de ajuda, escutar repre-
senta um instrumento para compreender a pessoa idosa de forma a 
poder determinar com precisão as intervenções necessárias. ao es-
cutar a pessoa idosa, o cuidador pretende: mostrar-lhe sua impor-
tância; permitir que o idoso identifique suas emoções; auxiliá-lo na 
identificação de suas necessidades e na elaboração de um planeja-
mento objetivo e eficaz para atender a elas. Para escutar de modo 
eficiente, o cuidador deve:
Desejar estabelecer uma relação mais estreita com a pessoa idosa.•	
escolher um local calmo que propicie a escuta.•	
manter-se a uma distância confortável do idoso, mas que permita •	
boa visualização de ambos.
Procurar compreender não só a linguagem verbal, mas principal-•	
mente a não verbal da pessoa idosa.
evitar julgamentos com base em valores pessoais.•	
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reformular com o idoso, porém com as próprias palavras, o que ele •	
lhe referiu, validando sua compreensão.
respeitar, compreender e interpretar o silêncio da pessoa idosa. •	
o silêncio pode traduzir a intensidade da procura da resposta con-
siderando tudo o que a precedeu; pode significar o medo ou o so-
frimento que impedem a elaboração de palavras ou, ao contrário, 
uma alegria tão intensa que também não pode ser traduzida por 
palavras. É a escuta do silêncio que exige a presença mais intensa e 
mais verdadeira do cuidador, pois isso pode levá-lo ao encontro real 
do que o outro vive de mais profundo. Silêncio não é sinônimo de 
vazio nem ausência de relação; costuma ser rico em significados. 
Para ser traduzido e transformado em instrumento de ajuda, deve 
ser compreendido, respeitado, acolhido e nunca prematuramente 
interrompido.
escutar não é memorizar as palavras emitidas pela pessoa idosa; é 
com preendê-la, ver, apreender e sentir o contexto e os sentimentos 
relacionados com o conteúdo das mensagens emitidas. exige grande 
empenho, vigilância sensorial, intelectual e emocional, o que conso-
me muita energia e requer preparo e amadurecimento. o cuidador 
que de fato escuta o idoso reflete atentamente sobre o significado de 
suas mensagens (verbais e não verbais), buscando o estabelecimento 
de intervenções apropriadas às necessidades identificadas. 
Escutas que não ajudam
Escuta inadequada•	 – o cuidador está mais atento às próprias re-
flexões que às do idoso, está distraído, tem “pressa” em responder 
a ele ou identifica a situação descrita como familiar e faz um pro-
cesso de transferência.
Escuta apreciativa•	 – o cuidador faz juízos de valor durante a escu-
ta. embora normal, essa atitude pode ser nociva. Para evitar isso, o 
cuidador precisa desenvolver a habilidade de aceitar os idosos 
e escutá-los objetivamente.
Escuta filtrada•	 – relaciona-se a nossa defesa pessoal, ou seja, sele-
cionamos de modo inconsciente o que permitimos ou não entrar 
em contato conosco e criamos barreiras que, mesmo involuntaria-
mente, deformam nossa capacidade de escutar. isso pode ser evita-
do com o desenvolvimento de um profundo autoconhecimento.
Escuta compassiva•	 – refere-se ao sentimento de compaixão desen-
volvido pelo cuidador em relação ao idoso que assiste. Tal atitude 
pode deturpar a percepção dos fatos, gerando ações inadequadas.
Capacidade de clarificar
“Clarificar” quer dizer tornar claro, limpo ou puro. Na relação de 
ajuda, significa ser capaz de delimitar mais precisamente o problema 
em si e os envolvidos de maneira concreta e realista. Para tanto, o 
cuidador deve ser capaz de auxiliar o idoso a refletir sobre seus pro-
blemas e a descrevê-los em toda a sua extensão, intensidade e com-
plexidade. após escutá-lo, deve repetir com suas palavras a mesma 
questão, permitindo, assim, sua reinterpretação. 
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as perguntas “Quem?”, “o quê?”, “onde?”, Como?” e “Por quê?” 
auxiliam na clarificação, mas o uso indiscriminado do “por quê?” 
pode despertar no idoso a necessidade de se justificar, geralmente 
defendendo-se. Cada pergunta deve ter por objetivo auxiliar o idoso 
a perceber com maior clareza o problema ou suas soluções.
a utilização, pelo cuidador, de generalizações, abstrações ou termos 
imprecisos pode estar relacionada ao medo de enfrentar o problema. 
agindo dessa forma, o problema se torna maior. o cuidador não deve 
usar linguagem intelectual, abstrata, impessoal e/ou vaga, pois isso 
não auxilia a pessoa idosa a clarificar e precisar seu pensamento.
Capacidade de respeitar-se e de respeitar o idoso
o respeito é uma necessidade humana, uma qualidade, 
um valor, uma atitude básica expressada pelo comporta-
mento. respeitar alguém significa acreditar em sua unici-
dade, em sua capacidade de viver de forma satisfatória. 
respeitar-se significa ser verdadeiro consigo mesmo e com 
os outros. respeitar o idoso significa comunicar-lhe que 
procuramos compreendê-lo como pessoa, com sua expe-
riência, seus valores e a situação que está vivenciando de 
acordo com seu ponto de vista. Significa ainda identificar 
suas capacidades e seu potencial remanescente e auxiliá-lo 
a reconhecê-los e a utilizá-los para lidar com essas situações, 
dando-lhe condições de resgatar o máximo de autonomia. 
Será o idoso, no entanto, que decidirá utilizá-la ou não, 
quer dizer, a palavra final é dele, e respeitá-lo significa 
compreender e aceitar essa decisão mesmo que ela não 
corresponda à expectativa do cuidador.
o respeito se manifesta por meio de atitudes e comporta-
mentos, ativos ou passivos. estar com o idoso, querer 
ajudá-lo e preocupar-se com seu bem-estar; considerá-lo 
como ser único, independentemente de suas doenças ou limitações; 
acreditar que ele é capaz de decidir sobre o próprio destino e acredi-
tar em sua boa vontade são exemplos de atitudes.
os comportamentos expressam o significado e o valor do idoso para 
o cuidador. Ser capaz de estabelecer uma relação que envolva escuta 
e presença física atentas; aceitar o idoso incondicionalmente, evitan-
do juízos críticos; demonstrar empatia, afeto e cordialidade; auxiliá-lo 
a desenvolver seus recursos pessoais, encorajando-o, motivando-o e 
apoiando-o e não agindo por ele; manifestar compreensão e dedicação 
são exemplos de comportamentos respeitosos.
enumeramos, a seguir, alguns exemplos de como o cuidador pode 
demonstrar respeito pelo idoso:
mostrar que o aprecia como pessoa, respeitando sua idade e sua •	
personalidade.
Não utilizar linguagem infantilizante ou demasiadamente familiar.•	
Chamá-lo pelo nome (nome próprio ou apelido, desde que tenha •	
autorização para tanto) e tratá-lo por senhor ou senhora.
Cumprimentá-lo ao chegar e sempre que ele adentraro recinto em •	
que o cuidador estiver.
Dedicar-se inteiramente a ele quando da execução de algum cuida-•	
do, procurando não se distrair com outros estímulos (televisão, 
rádio etc.) e evitando interrupções por telefone.
evitar demonstrar compaixão. a piedade não é sinal de respeito e •	
não ajuda, sobretudo os idosos.
mostrar-se confiante no potencial e nas capacidades do idoso, va-•	
lorizando-as de forma construtiva e realista.
Demonstrar apoio afetivo.•	
respeitar a intimidade do idoso e a confidencialidade da conversa •	
e compartilhar informações apenas com sua prévia autorização.
aguardar as respostas e as decisões da pessoa, que podem ser mais •	
demoradas, e não apressá-la.
Respeitar o 
idoso significa 
comunicar-lhe 
que procuramos 
compreendê-lo 
como pessoa, com 
sua experiência 
e valores.
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Planejar conjuntamente com o idoso as atividades de cuidado, •	
perguntando sua opinião e buscando segui-la.
o respeito na relação de ajuda auxilia na elevação da autoestima e do 
autoconceito, que, em muitos idosos mais dependentes, podem estar 
rebaixados.
Obstáculos ao respeito 
Comportamentos punitivos e reprovadores.•	
Juízos de valor.•	
utilização de frases feitas (despersonalização da relação).•	
escuta falsa, não centrada no idoso.•	
linguagem infantilizante (muito frequente no tratamento com •	
idosos).
Negação da experiência e das emoções do idoso.•	
Não valorização das capacidades do idoso.•	
Capacidade de ser congruente
“Congruência” significa harmonia, coerência de algo com o fim a 
que se destina. Possibilita ao idoso a existência de concordância 
entre seu ser e sua experiência e sua expressão em seu comporta-
mento. É, em outras palavras, a capacidade de ser autêntico. a 
pessoa que não possui essa competência separa-se de seu verdadeiro 
“eu”, reduzindo sua identidade aos papéis que desempenha. Pode, 
assim, sentir-se insatisfeita e dividida. 
a autenticidade do cuidador pode se 
manifestar: por sua espontaneidade; 
valorização de seu papel; coerência 
e capacidade de compartilhar 
 experiências.
estes são os obstáculos à autentici-
dade: atitude defensiva; não mani-
festação dos próprios sentimentos; 
ser inconveniente (a relação profissional exige tato e juízo crítico); 
atitudes pessimistas.
Para desenvolver congruência e autenticidade, o cuidador deve apri-
morar o autoconhecimento e o autorrespeito, obter segurança interior, 
evitando esconder-se atrás de um papel social, e observar atentamen-
te seu comportamento não verbal, buscando a coerência entre o que 
diz e o que demonstra.
Capacidade de ser empático
“empatia” é a capacidade de se colocar no lugar do outro e sentir 
como se estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por ele 
sem, no entanto, perder o próprio sistema de referência. É, portanto, 
a base de toda relação de ajuda. Para que o cuidador seja empático, 
ele deve ser capaz de:
aproximar-se da situação que o idoso está vivenciando.•	
Desenvolver a capacidade de colocar-se no lugar dele, buscando ver •	
o mundo como ele vê, o que não significa fazer suas as emoções e 
a vivência do outro, porque a diferenciação é fundamental na rela-
ção de ajuda.
Ter consciência de que o problema é do idoso.•	
Só assim o cuidador será capaz de identificar e compreender de forma 
verdadeira o conteúdo das mensagens da pessoa idosa, pois estará em 
posição de ver o mundo do mesmo prisma que ela o vê.
a empatia pode ser desenvolvida por uma personalidade afetuosa e 
flexível; pela capacidade de generalizações relativas às experiências de 
vida; pela capacidade de tolerar e utilizar o silêncio na relação; por 
semelhanças de experiências e vivências; pela disponibilidade e escu-
ta atenta; pela tolerância ao estresse; por experiências de vida variadas, 
propiciando maior flexibilidade e espontaneidade; pela autoafirmação; 
pelo uso de linguagem apropriada e pela capacidade de compreender 
a linguagem simbólica utilizada pelo idoso.
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Na relação de 
ajuda, a 
confrontação 
só deve ser 
utilizada 
quando existe 
entre cuidador 
e idoso um 
verdadeiro clima 
de confiança.
a empatia, por si só, não soluciona os problemas do idoso como 
se fosse um passe de mágica; constitui-se em um meio para fazer 
com que ele não se sinta solitário diante deles. ao perceber que 
alguém entende a dimensão que os problemas tomam em sua vida, 
sente-se mais confortável e, assim, pode canalizar sua energia na 
resolução deles com o apoio daquele com quem mantém uma re-
lação de ajuda.
Capacidade de confrontação
“Confrontar” significa colocar frente a frente, defrontar, comparar; 
não envolve disputa como “afrontar”. a confrontação origina-se na 
empatia e no respeito ao idoso e é uma manifestação suplementar à 
congruência do cuidador. a confrontação permite ao idoso estabele-
cer um contato mais profundo com seu interior, com aquilo que ele 
de fato é, com suas forças e seus recursos, assim como com suas fra-
quezas e comportamentos prejudiciais. Na relação de ajuda, a con-
frontação só deve ser utilizada quando existe entre cuidador e idoso 
um verdadeiro clima de confiança. o cuidador que pretende utilizá-la 
deve fazer uma avaliação acurada do estado geral do idoso.
a confrontação exige do cuidador habilidade e tato. ele vai con-
frontar não o idoso, mas seu comportamento, descrevendo-o sem 
emissão de julgamentos, pois isso, nesse momento, 
poderia representar demonstração de desrespeito, le-
vando a pessoa idosa a assumir uma postura defensiva. 
No entanto, nem sempre a confrontação é reconheci-
da como instrumento de ajuda pelo idoso. Caso ele 
resista a essa forma de intervenção, convém não insis-
tir, aguardando ocasião mais oportuna para fazê-lo.
Quando a relação não é de ajuda?
muitas vezes, os cuidadores querem estabelecer uma 
relação de ajuda adequada, mas se frustram com seus 
resultados. listaremos, a seguir, algumas intervenções 
que costumam ser muito utilizadas, mas que normal-
mente não respondem às necessidades de ajuda dos 
indivíduos.
Dar ordens sem avaliar o contexto que envolve as •	
 situações (pode levar o idoso a ter de negar suas emo-
ções traduzidas por seu comportamento).
Fazer ameaças (“Se não cumprir as orientações, não •	
viremos mais visitá-lo...”). em geral esse com-
portamento acrescenta mais um elemento, o 
medo, à problemática apresentada pela 
pessoa.
Censurar o idoso, adverti-lo de forma •	
contundente (representa uma afirmação 
de sua incapacidade de discernir entre 
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o certo e o errado, entre o bem e o mal, colocando-o como 
incapaz de resolver seus problemas).
Dar soluções (não permite ao idoso refletir sobre seu •	
problema e sobre sua potencialidade de ação).
argumentar logicamente (“o problema voltou, obvia-•	
mente, porque o(a) senhor(a) não seguiu as orientações 
que dei...”), pois pode colocar o idoso em uma situação 
desconfortável, fazendo-o sentir-se um tolo, incapaz de 
seguir recomendações.
Julgar e criticar (utilizando o próprio sistema de valores), •	
porque pode levar o idoso a não mais confiar no cuidador 
por não se sentir compreendido por ele.
aprovar, lisonjear (“Desta vez tomou a •	
decisão correta...”).

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