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apelação pratica penal

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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA ___ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE NOVA YORK-RS
APELAÇÃO
Processo n.º ______
BRAD PITT, já qualificado nos autos do processo supra epigrafado que lhe move a Justiça Pública, por seus advogados subscritores, vem ante a ilustre presença de Vossa Excelência, salientar que não se conformando, com a r. decisão que o condenou à pena de 2 anos e seis meses de reclusão e pagamento de 20 dias-multa, por infração ao artigo 180 “caput” do CP, na forma a ser estabelecida pelo Juízo das Execuções Criminais, vem interpor o recurso de 
APELAÇÃO
com fulcro no artigo 593 Inc. I do Diploma Processual Penal, consubstanciado nos motivos de fato e de direito que passa a aduzir nas RAZÕES DE APELAÇÃO que ora anexa, pelo que REQUER a Vossa Excelência se digne a determinar o cumprimento das formalidades de estilo, para que, ao depois, seja ordenada sua remessa à Superior Instância, a fim de que seja conhecido e provido como medida de inteira justiça.
Nestes termos, com inclusos os documentos
Pede e espera deferimento.
Nova York, __ de maio de 2018.
Advogado
OAB/RS
RAZÕES DE APELAÇÃO
APELANTE : Brad Pitt.
APELADA : Justiça Pública.
XXª Vara Criminal – Processo nº XXX/XX.
EGRÉGIO TRIBUNAL,
COLENDA CÂMARA,
EMÉRITOS DESEMBARGADORES.
BRAD PITT, já qualificado nos autos em epígrafe, que lhe move a Justiça Pública, com incurso na pena do 180, “caput”, do Código Penal, nesse contexto, inconformado com a r. sentença de fls. _____, vem, dela recorrer para essa Corte, pelos fatos e fundamentos a seguir alinhavados:
SÍNTESE DOS FATOS
Conforme denúncia, o acusado foi abordado no dia 06/05/2017, por volta das 09h00, na avenida das Curvas, na cidade de Nova York – RS, conduzindo um veículo Renault Duster ano/modelo 2015, placas ITB – 0171, produto de roubo, avaliado em R$ 64.000,00, de propriedade de Mel Gibson.
	
	Jeniffer Lopez, policial militar, relatou que recebeu denúncia, via rádio, versando sobre o paradeiro do veículo circulando em via pública. Estava em patrulhamento quando se deparou com o citado veículo, oportunidade em que deu sinal de parada e procedeu à abordagem. Brad Pitt era o condutor do automóvel e estava sozinho naquele momento. Afirmou que o acusado não apresentou qualquer justificativa para o fato de estar conduzindo um veículo produto de roubo. 
	
	O acusado exerceu o direito constitucional de permanecer em silêncio na fase policial (fl. 06) e negou a prática do delito quando interrogado em juízo. Alegou desconhecer que o veículo era produto de roubo, dizendo que, na ocasião, trabalhava temporariamente em uma oficina mecânica (POP STAR). Um indivíduo, cuja qualificação não soube informar, deixou o automóvel na oficina para que descarga fosse consertada e, no momento em que circulava com o carro para testá-lo, o réu foi abordado pelos policiais. Disse que não ofereceu resistência à abordagem porque não sabia da procedência ilícita do bem, e que a oficina pertencia a uma mulher, que se chama Angelina Jolie. Disse que apresentou tal versão na delegacia, mas os policiais não quiseram escutar.
	A vítima MEL GIBSON relatou ter sido vítima de um sequestro relâmpago, cometido por três agentes, ocasião em que subtraíram dinheiro, equipamentos eletrônicos e seu automóvel. Viu o acusado na delegacia e não o reconheceu como sendo um dos assaltantes. Relatou que o veículo, quando recuperado, estava sujo, sem o pneu estepe e sem o aparelho de som. 
	Durante a instrução do feito, JOHNNY DEPP, também policial militar, ratificou a versão apresentada pela colega Jennifer, acrescentando que o acusado alegou ter tomado emprestado o veículo de um amigo.
	O acusado Brad Pitt calou-se na polícia, ainda que os policiais militares tenham informado em juízo que teria dito na ocasião que o veículo pertencia a um amigo, sem informar o nome do mesmo. Em juízo, negou os fatos. Tal negativa permaneceu isolada e destoa dos demais elementos de provas que constam dos autos, e ainda, MEL GIBSON no interrogatório, esclareceu que BRED PITT não seria nenhum dos elementos do prévio sequestro relâmpago e roubo de seu carro no dia 05, dia anterior ao que o acusado foi abordado pelos policiais.
	Por determinação exclusiva do juízo, fundamentando na busca da verdade dos fatos, Angelina Jolie, foi ouvida como testemunha, onde afirmou conhecer o réu, mas que jamais havia recebido o veículo em seu estabelecimento.
	Em memoriais orais o Ministério Público pugnou pela condenação do réu e a Defesa, em memoriais escritos, postulou a absolvição por ausência de dolo.
	A sentença condenou Brad Pitt como incurso no artigo 180, “caput” do Código Penal, impondo-lhe a pena carcerária definitiva de 02 anos e 06 meses de reclusão (basilar fixada em 02 anos, agravada em 06 meses pela reincidência) a ser cumprida em regime inicial semiaberto e pagamento de multa cumulativa de 20 dias-multa, na razão unitária mínima legal. Entendeu o magistrado que a materialidade está evidenciada pela ocorrência policial; exibição, apreensão e avaliação indireta (fl. 12,13 e 15) e prova oral colhida.
DO MÉRITO
	1. PRELIMINARMENTE: DO DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE – Art. 5º, LVII da CF/88.
	A condenação exige certeza absoluta, fundada em dados objetivos indiscutíveis, o que não ocorre no caso em tela. Trata-se da devida materialização do princípio constitucional da presunção de inocência - art. 5º, inc. LVIII da CF, pela qual não há condenação sem a real comprovação da autoria e da materialidade do fato, conforme destaca Celso de Mello no seguinte precedente:
“É sempre importante reiterar - na linha do magistério jurisprudencial que o STF consagrou na matéria - que nenhuma acusação penal se presume provada. Não compete, ao réu, demonstrar a sua inocência. Cabe ao contrário, ao Ministério Público, comprovar, de forma inequívoca, para além de qualquer dívida razoável, a culpabilidade do acusado. Já não mais prevalecem em nosso sistema de direito positivo, a regra, que, em dado momento histórico do processo político brasileiro (Estado novo), criou, para o réu, com a falta de pudor que caracteriza os regimes autoritários, a obrigação de o acusado provar a sua própria inocência (Decreto-lei nº. 88, de 20/12/37, art. 20, nº. 5). Precedentes.” (HC 83.947/AM, Rel. Min. Celso de Mello).
	Dessa forma, diante a ausência de provas contundente e justificativa plausível na manutenção do denunciado preso, requer a concessão do direito de recorrer em liberdade, conforme precedentes sobre o tema:
HABEAS CORPUS. DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE. Uma vez que o paciente respondeu ao processo em liberdade e por não ser a reincidência, isoladamente, motivo suficiente para determinar o seu recolhimento ao cárcere após sentença penal condenatória, é de ser concedido o direito de recorrer em liberdade. ORDEM CONCEDIDA. LIMINAR RATIFICADA. (Habeas Corpus Nº 70056891195, Quinta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Francesco Conti, Julgado em 23/10/2013)
	Ademais, importa destacar que o réu trata-se de pessoa íntegra, possuindo ainda endereço certo na Rua _________, onde reside com sua família.
Neste sentido, Julio Fabbrini Mirabete em sua obra, leciona:
“Como, em princípio, ninguém deve ser recolhido à prisão senão após a sentença condenatória transitada em julgado, procura-se estabelecer institutos e medidas que assegurem o desenvolvimento regular do processo com a presença do acusado sem sacrifício de sua liberdade, deixando a custódia provisória apenas para as hipóteses de absoluta necessidade.” (Código de processo penal interpretado, 8ª edição, pág. 670)
	À vista do exposto, requer-se a consideração de todos os argumentos acima e diante a falta de motivação suficiente para a manutenção da prisão, requer o deferimento para recorrer em liberdade.
	2. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO DOLO OU CULPA - aplicação do princípio in dúbio pro reo
	A condenação do réu está pautada nos seguintes elementos:a) ocorrência policial; b) exibição, apreensão e avaliação indireta; c) prova oral colhida; d) interrogatório.
	Pois bem, ao percorrer os elementos probatórios acima não se obtém outra conclusão senão a ausência de dolo do réu.
	O auto de prisão, o boletim de ocorrência, o termo de declaração das testemunhas e o interrogatório do réu informaram que no ato da apreensão do veículo ele ficou surpreso com a informação de que seria produto de ilícito. 
	Assim dispõe o art. 180 do CP:
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
	Conclui-se que é imprescindível a configuração do dolo direto na conduta, entretanto, da análise fática é impossível extrair qualquer indício concreto de que o réu tinha consciência da origem criminosa do veículo.
	As provas contidas nos autos em nenhum momento vieram a desabonar a conduta do réu, a associá-lo ao crime organizado, ou sequer firmar um estreitamento entre os responsáveis pelo furto/roubo do veículo e o réu.
	Logo impondo-se a absolvição do réu, conforme já vem decidindo os tribunais pátrios:
APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO. RECEPTAÇÃO QUALIFICADA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE DOLO OU CULPA. PRINCÍPIO PRO-LIBERTATE QUE IMPÕE A ABSOLVIÇÃO DO RÉU. Tendo em vista a dificuldade de aferição do dolo nos crimes de receptação, as circunstâncias do fato tomam especial relevo de avaliação da conduta do agente. A probatória, todavia, tem de expor elementos seguros que autorizem visualizar a ponte fática entre a suposta subtração e a conduta prevista no artigo 180 do Código Penal. No caso dos autos, não há qualquer indicativo seguro, produzido à luz do contraditório, que evidencie a ciência do réu quanto à origem ilícita do bem. Ainda, diante da inconsistência do conjunto probatório, tampouco é viável imputar ao réu o crime de receptação na sua forma culposa, uma vez que inexiste qualquer evidência no sentido de que o apelante devesse presumir a origem ilícita da res. Do acervo probatório não se tem como extrair juízo de condenação, sendo, neste contexto de incerteza, imperiosa a absolvição do réu, uma vez que a interpretação na esfera penal deve orientar-se pelo princípio Pro-libertate. APELAÇÃO PROVIDA. (Apelação Crime Nº 70056297674, Sétima Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Conrado Kurtz de Souza, Julgado em 20/02/2014)
	Dessa forma, resta descabida a condenação do apelante com fundamento no suposto “dolo” relatado nos autos, o qual, não se configura sequer a culpa do agente, seja na modalidade própria/imprópria, consciente ou inconsciente.
	3. NÃO APLICAÇÃO DA PENALIDADE DE MULTA
	Admitindo-se que a condenação venha a ser mantida, é necessária a isenção do réu da penalidade de multa.
	Apesar de a condenação ter fixado a pena de multa no mínimo legal, quando se observa o valor total, é perceptível que o impacto na vida econômica do réu, hipossuficiente, é enorme, exigindo a isenção da pena de multa.
4. DA REINCIDÊNCIA
	Ademais, inadmissível, tenha o apelante agravada sua pena pela reincidência, haja vista, que pelo delito anterior onde houve a extinção da punibilidade pela prescrição bem como a extinção da pena, não podendo o mesmo expiar duas vezes pelo mesmo fato - ainda que a exasperação da pena venha dissimulada pela agravante estratificada no artigo 61, inciso I, do Código Penal - sob o risco de incidir-se num bis in idem, flagrantemente inconstitucional.
Neste sentido:
FURTO E RECEPTAÇÃO DOLOSA. AUSÊNCIA DE NEXO SUBJETIVO ENTRE AS DUAS SUBTRAÇÕES EFETUADAS, SENDO APENAS UMA DELAS COMETIDA EM CONCURSO DE AGENTES. AFASTAMENTO DA QUALIFICADORA RELATIVA AO ARROMBAMENTO, PELA AUSÊNCIA DE PORTARIA DE NOMEAÇÃO DOS PERITOS PARA O LAUDO DE EXAME DE FURTO QUALIFICADO E IMPOSSIBILIDADE DE VERIFICAÇÃO SOBRE TEREM FORMAÇÃO EM CURSO SUPERIOR, CONFORME DETERMINA O ART. 159, §1º, DO CPP. ABSOLVIÇÃO QUANTO AO DELITO DE RECEPTAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO INEQUÍVOCA DE QUE O RÉU TINHA CONHECIMENTO DE SE TRATAR, O BEM ADQUIRIDO, DE PRODUTO DE CRIME (ELEMENTO SUBJETIVO ESPECIAL DO TIPO). NA APLICAÇÃO DA PENA, UTILIZAÇÃO DA MAJORANTE DO ROUBO QUALIFICADO PELO CONCURSO DE AGENTES, EM FACE DO PRINCÍPIO DA ISONOMIA; POSSIBILIDADE DE REDUÇÃO AQUÉM DO MÍNIMO, NA SEGUNDA FASE; E AFASTAMENTO DA AGRAVAÇÃO PELA REINCIDÊNCIA, POR SE TRATAR DE BIS IN IDEM. Apelações providas integralmente e em parte para absolver e reduzir as penas. Extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva. (Apelação Crime Nº 70005999362, Sexta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Antônio Bandeira Scapini, Julgado em 21/08/2002)
Portanto, cumpre exorcizar-se a agravante da reincidência, reduzindo-se a pena-base, a qual somente não operou em virtude de concorrer com a, redimencionando-se, assim, a pena definitiva, bem como alterando-se o regime de cumprimento da pena, o qual do semi-aberto, passará para o aberto.
DOS PEDIDOS
Considerando-se todo o exposto, requer-se:
1. que seja reconhecido e provido o presente recurso, para a absolvição do réu; 
2. conceda LIMINARMENTE ao apelante o direito de recorrer em liberdade em respeito ao princípio da presunção da inocência;
2.1. se digne esta c. Turma dar provimento ao pedido de absolvição do apelante, pelo fato de não haver nos autos prova inequívoca da acusação;
3. a admissibilidade da apelação e razões, manejadas regular e tempestivamente, com completo provimento do mérito para absolver o réu da conduta do art. 180 por falta de prova das elementares do tipo (dolo);
3.1. subsidiariamente, reconhecimento da forma culposa/privilegiada da conduta do art. 180 do CP;
4. que seja dada a concessão do perdão judicial;
5. que não seja utilizada a aplicabilidade da pena de multa;
 
Termos que,
Pede e espera deferimento.
Nova York, __ de maio de 2018.
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Advogado, OAB-RS

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