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APROVA – HISTÓRIA PARA VESTIBULANDOS. APROVA A Cavalaria Medieval e os Valores Cristãos O tempo da cavalaria, por correspondência, foi o tempo do feudalismo. A cavalaria, enquanto instituição medieval tem sua origem na tradição romana dos equites, e seus pilares nos valores guerreiros germânicos, que armavam seus jovens quando estes se tornavam adultos. Durante a Idade Média, muitos textos usaram a palavra "Cavalaria", com diversos significados que ganharam vários contornos ao longo dos anos, geralmente, associada à sua relação com indivíduos militares. A princípio, cavalaria e nobreza tinham identificação diferenciada. A cavalaria limitava-se a designar uma forma de combater enquanto a nobreza associava-se à descendência de famílias de sangue real, guardadas de posses. Definida a ruína da estrutura romana, no entanto, a exigência da capacidade militar mais apurada passou a ser vista com maior grandeza; isso impulsionou os valores de guerra e deu projeção de nobreza à figura do cavaleiro. O papel do cavaleiro ganhou prestígio. Muitos, por suas ações adquiriram bens e terras de seus suseranos. Paralelo a esse quadro de projeção da figura dos cavaleiros e, por consequência a dinâmica mais cotidiana dos embates, ocorria a propagação da mentalidade cristã. A Igreja Católica formulou para esses guerreiros novos códigos de valores e de conduta através dos quais podiam, mesmo vivendo como combatentes, alcançar o paraíso. Todo esse cenário se edifica entre os séculos V e X. Em princípios da Idade Média viu-se uma expressiva ocorrência de conflitos, fruto do desmantelamento da ordem romana. A instabilidade provocada pela presença de povos hostis – tradicionalmente chamados de bárbaros- fez da força militar algo necessário, e dentro dessa força se encontraria a figura do cavaleiro. As origens da cavalaria remontam a tradições dos povos germânicos que tinham de lutar para conseguir novos territórios e tinham que defender territórios já dominados das invasões de outras tribos. Os germânicos se pautavam em valores em que a lealdade e a coragem eram princípios altamente dignos. Mesmo depois do contato com os princípios cristãos, tais raízes não desapareceram. Para os reis bárbaros, contar com cavaleiros convencidos desses valores e equipados para os embates com armaduras e cavalos, era uma vantagem grandiosa. Com as vitórias vinham os saques (espólios de guerra), que eram ofertados pelo rei aos fiéis participantes da campanha – os romanos chamaram essa tradição de beneficium. Isso estabelecia um vínculo entre reis e guerreiros: combatentes fiéis que demonstrassem lealdade, eram por eles recompensados. Na Alta Idade Média, quando os germânicos se estabeleceram como agricultores- sedentários, defender o bem maior – a terra- se tornou fundamental, e os princípios de lealdade, honra e coragem ganharam ainda mais vigor. Os leais guerreiros passaram a se empenhar ainda mais tanto em defender seus reis quanto a atacar inimigos tendo em vista que a comprovação de tais valores poderia render-lhes prestígio junto aos monarcas e, por consequência, feodum – entendido como um direito ou um bem. É nesse cenário que se dissemina a relação de suserania-vassalagem: um suserano (dominus), geralmente em posição de oferecer benefício, que concede um direito ou bem (feodum) para um vassalo - homem livre, também nobre (não devendo essa interação ser confundida com a de senhor e servo). Entre suseranos e vassalos criavam-se vínculos bilaterais marcados especialmente pelo valor da lealdade. Cada um devia cumprir obrigações recíprocas de acordo com um código de honra cavaleiresco em que a fidelidade, a coragem, a força, a lealdade e a honra tornaram-se valores indispensáveis. A lógica da relação feudo-vassálica envolvia também os suseranos de posses menores que concediam feodum a seus vassalos próximos. A cadeia de vínculos podia, assim, envolver vários nobres. Num mundo em conflito, um aliado guerreiro tornava-se uma necessidade. Por conta desse clima de insegurança, cada vez mais a nobreza se tornaria guerreira, fato que acabava por enobrecer aos cavaleiros. Assim, nobres tornaram-se cavaleiros e defendiam seus territórios. Vassalos, por serem ligados aos seus suseranos, adquiriam direitos e deveres cada vez mais atrelados à nobreza. Os bellatores, diferentemente dos laboratores, deveriam proteger os domínios de outros bellatores inimigos. Os embates tornavam-se intensos entre os nobres. Eram comuns as guerras, os ataques a vilarejos, a estradas e os sequestros de outras figuras nobiliárquicas. Monastérios, templos e abadias da Igreja Católica, não escaparam das investidas de pilhagens. É neste cenário que a cavalaria sofreria a influência dos valores cristãos. Gradualmente a Igreja injeta nos cavaleiros a concepção de que seu papel era de proteger os que não podem portar armas (paupere), ou seja, os pobres, os fracos, e os oprimidos, figurando entre eles os religiosos, os órfãos, as viúvas, os mercadores, os serviçais em geral. Assim, a Igreja reconhece o papel dos que empunham a espada para protegê-la e proteger aos outros. O uso das armas se justificaria quando sendo a causa justa e necessária, conforme designo da Igreja. Entre fins do século X e início do século XI, os valores da Cavalaria ganharam definições de natureza cristã mais rígidos. No concílio de Charroux por volta de 989 se estipularam valores a serem respeitados pelos cavaleiros. Edificavam-se a Trégua de Deus (Tregua Dei) e a Paz de Deus (Pax Dei). A Trégua de Deus estabelecia que ficavam proíbidos os embates em determinadas épocas sagradas para o cristianismo como quaresma, páscoa e semana Santa. Também proibia os confrontos da noite de quinta-feira até a manhã de segunda-feira – fazendo alusão à paixão de Cristo. A Paz de Deus definia pela excomunhão e, por consequência, o eterno castigo divino àquele que empreendesse violência a quem não pudesse se defender como eclesiáticos, mulheres de nobres e camponeses desprotegidos. Assim, cabia ao cavaleiro proteger e não atacar os membros indefesos da sociedade, mantendo a paz e a ordem. Ao mesmo tempo, a Igreja tolerava a guerra em defesa da fé, defendendo a ideia da "guerra justa" que definia como alvo os inimigos da fé cristã. A influência ideológica da Igreja consolidou a Cristianização da Cavalaria Medieval. “[...] o domínio da fé é uno, mas há um triplo estatuto na Ordem. A lei humana impõe duas condições: o nobre e o servo não estão submetidos ao mesmo regime. Os guerreiros são protetores das igrejas. Eles defendem os poderosos e os fracos [...]. Os servos por sua vez têm outra condição. Esta raça de infelizes não tem nada sem sofrimento. Quem poderia reconstituir o esforço dos servos, o curso de sua vida e seus numerosos trabalhos? Fornecer a todos alimento e vestimenta: eis a função do servo. Nenhum homem livre pode viver sem ele. [...] A casa de Deus que parece una é portanto tripla: uns rezam, outros combatem e outros trabalham.” (LAON, Adalberon de Apud FRANCO JUNIOR, Hilário. O feudalismo. São Paulo: Brasiliense, 1983.)
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