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RESUMO PENAL ART 129 AO 140 CP

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RESUMO 2° DIREITO PENAL 
Das Lesões Corporais
Art. 129 - Lesão corporal
Da periclitação da vida e da saúde
Art. 130 - Perigo de contágio venéreo
Art. 131 – Perigo de contágio de moléstia grave
Art. 132 - Perigo para a vida ou saúde de outrem
Art. 133 – Abandono de incapaz
Art. 134 – Exposição ou abandono de recém-nascido
Art. 135 – Omissão de socorro
Art. 135–A - Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial.
Art. 136 – Maus-tratos
Da Rixa
Art. 137 - Da Rixa
Dos crimes contra a honra
Art. 138 - Calúnia
Art. 139 - Difamação
Art. 140 - Injúria
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Conceito. A melhor definição de lesão corporal é aquela expressa na própria Exposição de Motivos do Código Penal: “qualquer dano ocasionado à normalidade funcional do corpo humano, quer do ponto de vista anatômico, quer do ponto de vista fisiológico ou mental”.
Vê-se que a lei não tutela apenas a higidez física do corpo, mas também a saúde mental, verificando-se a lesão corporal quando se produz qualquer distúrbio, permanente ou efêmero, capaz de afetar as atividades físicas, intelectivas, volitivas ou sentimentais do indivíduo. Traduz-se por ofensas de (a) natureza anatômica, tais como ruptura de tecidos, equimoses, edemas e fratura de ossos; (b) de natureza fisiológica, como distúrbios das funções orgânicas (função cardiológica, respiratória, renal, reprodutiva, excretora e outras) do corpo humano; ou, ainda, (c) de natureza psíquica, com afetação da higidez mental capaz de provocar abalos sensíveis de aspecto emocional ou sentimental.
Objetividade Jurídica
Incolumidade física ou psíquica do ser humano segundo a parêmia Mens sana in
corpore sano, significando Mente sã num corpo são.
Formas de Lesões Corporais (art. 129, CPB):
1) Lesão dolosa simples (art. 129, caput);
2) Lesão dolosa privilegiada (§§ 4° e 5°);
3) Lesão dolosa qualificada (§§ 1°, 2 e 3°);
4) Lesão culposa (§ 6°);
5) Lesão dolosa e culposa c/ aumento de pena (§ 7°);
6) Lesão dolosa praticada no ambiente doméstico e familiar (§ 9º), Lesão dolosa qualificada em situação de violência doméstica (§§ 10 e 11).
Sujeito ativo: crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, tendo como sujeito passivo qualquer pessoa diversa do próprio agente. A autolesão, em princípio, é impunível, mas pode configurar eventualmente fraude para recebimento de seguro (art. 171, § 2º, V, CP) ou criação ou simulação de incapacidade física com o fim de se esquiva da incorporação militar obrigatória (art. 184, do CPM).
O consentimento da vítima não afasta o crime, já que a saúde é um bem jurídico indisponível. Contudo, em situações especiais o Estado tolera a ofensa à integridade física em atividades que não atentem contra a segurança social ou quando não sejam capazes de gerar conflitos indesejáveis. Permite-se, assim, que a vítima disponha da integridade física no tratamento médico-cirúrgico consentido, nas lutas e outras modalidades esportivas onde há contato físico, na transfusão de sangue e de órgãos entre pessoas vivas, dentre outras.
No caso de tratamento médico cirúrgico, parte da doutrina considera que não há crime na conduta do cirurgião por não haver prejuízo, mas melhoria, à saúde; para outros, a cirurgia consentida constitui exercício regular de um direito ou configura o estado de necessidade, quando ocorre em situações de emergência, nas quais o médico tem o dever jurídico de afastar o risco à saúde, até mesmo contra a vontade expressa do paciente, como, por exemplo, na transfusão de sangue da testemunha de Jeová. Para alguns, a cirurgia para mudança de sexo é crime, mas a doutrina mais moderna a admite, quando precedida de avaliação clínica e psicológica, como imperativo da dignidade humana. Em alguns países é abertamente permitida, tais como Alemanha, Inglaterra, Suíça, Dinamarca, Suécia, França e Estados Unidos.
Em Brasília, a Promotoria de Justiça Criminal de Defesa dos Direitos de Usuários do Sistema de Saúde (PRÓ-VIDA) do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) tem autorizado médicos do Hospital Regional da Asa Norte a realizarem cirurgias que implicam a mudança de sexo em alguns casos. O procedimento é precedido de apuração em processo administrativo instaurado a partir do pedido do interessado, onde uma equipe de médicos e psicólogos e psiquiatras realizam perícia médica para comprovar o fenômeno do hermafroditismo, examinando os aspectos físicos e psicológicos do indivíduo que recomendem ou não a cirurgia. Tal procedimento, assim como a autorização para retirada de fetos anencefálicos não está isento de críticas, uma vez que, na dogmática jurídica, o aborto legal só é admitido nos casos de aborto terapêutico, quando está em perigo a vida da gestante, ou no aborto sentimental ou ético, na gravidez resultante de estupro o atentado violento ao pudor.
Vale ressaltar que a Lei 9.434, de 04.12.97 e seu regulamento (Decreto 2.268, de 30.06.97) regulam a retirada de órgãos e tecidos para fins de transplante e tratamento entre pessoas vivas ou post mortem, no caso de doação de órgãos.
Tipo subjetivo (ação física). O núcleo do tipo é “ofender a integridade física de outrem”, ou seja, praticar conduta capaz de provocar danos de natureza anatômica, fisiológica ou psíquica, isto é, lesão física interna ou externa (ruptura de tecidos, sangramento, equimoses, fraturas, edemas e outras lesões visíveis no corpo da vítima). Mas a lesão também pode ser de natureza psíquica ou mental, quando ocasiona distúrbios emocionais graves, pânico, terror moral e outros. Adotando o princípio da insignificância, a jurisprudência às vezes deixava de punir lesões leves ou resultantes de disputas familiares entre marido e mulher, irmãos, pais e filhos ou entre vizinhos, especialmente quando ocorria a reconciliação. Mais recentemente, a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340, de 07/08/2006), editada por razões de política criminal e visando combater o grave problema da violência familiar doméstica, tornou mais rigorosa a punição, criando um procedimento especial onde estão previstas medidas cautelares de urgência para proteção da integridade física e moral da mulher agredida no âmbito familiar. Ao contrário do que vinha ocorrendo, recrudesceu a punição como medida para coibir a violência contra a mulher no âmbito familiar e doméstico, inclusive afastando a possibilidade de aplicação das regras da Lei 9.099/65 (art. 41, da Lei 11.340/2006).
Comete crime quem que induz ou instiga uma criança, louco ou bêbado a praticar autolesão; o mesmo se diga quando a vítima se lesiona fugindo de agressão.
A ofensa à integridade corpórea pode se efetivar mediante violência física (vis física ou vis corporalis) como socos, pernadas e golpes com objetos, facas ou disparo de arma de fogo, ou violência moral (vis compulsiva), quando se efetiva mediante ameaça, susto, terror. Admite-se a forma omissiva quando presente o dever jurídico de impedir a lesão, como no caso de pais que deixam de alimentar o filho ou não cuidam quando ele adoece; enfermeira que não ministra medicamento ao paciente; carcereiro que não cuida do preso doente. Distingue-se das vias de fato, que é o entrevero verbal acompanhado de empurrões, sacudidelas ou safanões. A bofetada no rosto geralmente configura a injúria real.
Elemento subjetivo é o dolo (animus laedendi ou nocendi), que se consubstancia na vontade livre e consciente de causar dano ao corpo ou a saúde de outrem, diferenciando-se da tentativa de homicídio, que é dirigida para o resultado morte. É mister a voluntariedade da ação e a finalidade de causar o dano, não se caracterizando, por exemplo, na ação de abraçar fortemente um amigo, sem saber que tem uma ferida que vem a abrir-se. A vontade de lesionar o corpo ou a saúde de outrem é o elemento distintivo entre o art. 129 e outros tipos onde pode haver igualmente a ofensa à integridade física, tais como ocorre nos crimes de perigo individual, especialmente maus tratos (art.136), e no exercício arbitrário das próprias razões (art. 345).
A ação cometida no intuito de lesionar pode causar danos cuja extensão e intensidade normalmente não estão delineadas com exatidão na consciência e vontade do agente, não havendo como dosar a força e o local do corpo humano a ser atingido para provocar esta ou aquela lesão previamente intencionada.
A lei não distinguiu um tipo específico de lesão corporal preterdolosa, que ocorre quando o agente provoca uma lesão mais grave do que aquela que pretendia. Assim, lesões mais graves ou menos graves são punidas de acordo com o resultado concreto produzido em cada caso. Há, portanto, um dolo genérico na causação do dano, mas a punição é dosada consoante o resultado efetivamente produzido: quanto mais grave a lesão, mais elevada é a pena correspondente, implicando a lesão leve, grave, gravíssima e a lesão corporal seguida de morte.
Consumação e tentativa. A consumação ocorre quando há lesão efetiva à integridade física ou psíquica da vítima. Quanto à possibilidade de tentativa, prevalece o entendimento de que é possível, já que se trata de delito material, mas, persistindo a dúvida, o réu sempre sairá beneficiado.
Classificação. As lesões corporais podem ser classificadas da seguinte forma:
1) Leves. É a figura do caput, que prevê pena de detenção de três meses a um ano, obedecendo o rito da Lei 9.099/95 (Juizados Especiais Criminais, e, portanto, dependente da representação da vítima para a instauração da ação penal competente (condição de procedibilidade).
2) Graves são aquelas previstas no § 1°, com pena de um a cinco anos, quando da conduta resulta:
I) Incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias. Por ocupação habitual se deve entender a atividade rotineira do indivíduo, e não apenas aquela de natureza econômica. Não se excluem, assim, a vítima criança e o ancião, que, normalmente, não exercem atividades lucrativas. Considera-se tanto a incapacidade psíquica quanto física, que deve ser parcial e temporária, perdurando, no máximo, por trinta dias;
II) perigo de vida. Decorre da intensidade e sede da lesão, acarretando risco à sobrevivência da vítima, o que é aferido mediante perícia médica;
III)) debilidade permanente de membro, sentido ou funçao. Trata-se da redução da capacidade operacional dos membros superiores (braços, antebraços e mãos) ou inferiores (coxas, pernas e pés), perda parcial da capacidade sensitiva (olfato, paladar, tato, visão e audição), ou, ainda, a diminuição da capacidade das funções orgânicas (respiração, circulação, digestão, secreção, locomoção, reprodução, sensibilidade tátil, etc.). Tratando-se de órgãos duplos (olhos, pulmões, ouvidos, rins, testículos) a perda de um deles acarreta debilidade da função correspondente e não sua perda, o que configuraria lesão gravíssima, consoante o inciso III, do § 2º;
IV) aceleração de parto. Implica a antecipação do nascimento do bebê em decorrência da lesão sofrida, resultando num parto prematuro. Mas se o feto falece ainda no útero materno, devido à formação incompleta dos tecidos, há aborto, e, consequentemente, lesão gravíssima (Inciso V, do § 2º). Portanto, para que se cogite da hipótese aqui prevista é indispensável o nascimento com vida.
3) Gravíssimas são previstas no § 2°, com pena de reclusão de dois a oito anos, quando a conduta apresenta um dos seguintes resultados possíveis:
I) Incapacidade permanente para o trabalho. Pressupõe o exercício de profissão, arte, ofício ou outra atividade rentável, excluindo, pois, a criança e o ancião. A prova é feita de acordo com a evolução do caso, devendo ser constatada mediante exames médicos complementares;
II) enfermidade incurável. Ocorre quando a lesão acarreta patologia de cura impossível pela ciência médica;
III) perda ou inutilização de membro, sentido ou função. Essa forma de lesão pressupõe a perda por mutilação ou amputação ou pela simples perda completa da capacidade funcional. Neste caso, o membro permanece ligado ao corpo, mas inoperante, sem poder realizar sua função normal. ;
IV) deformidade permanente. Lesão de natureza estética que acarreta severo constrangimento, desconforto ou desgosto à vítima, sem atingir necessariamente a horripilância ou aleijão grotesco. O dano, normalmente visível ou de grande extensão, deve também ser indelével ou irreparável, atentando-se para as condições pessoais da vítima (sexo, idade, condição social, etc.). Circunstâncias de caráter pessoal podem alterar o sentido do dano estético;
V) aborto. Dispensa maiores comentários, mas é importante distinguir com o delito do art. 127, primeira parte, que inverte as situações: aqui, a lesão é o fim visado pelo agente e não o aborto; naquele, o aborto é fim visado, e não a lesão. Há, portanto, o preterdolo.
4) Lesão corporal seguida de morte. É a figura do § 3°, também conhecida como homicídio preterdoloso ou preterintencional. Ocorre quando resulta a morte da vítima, mas as circunstâncias indicam que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzí-lo, sendo prevista a pena de reclusão de quatro a doze anos.
Há que se ressaltar que, consoante o art. 19, do Código Penal, o agente só responde pelo resultado mais grave quando podia razoavelmente prevê-lo. Não há responsabilidade penal puramente objetiva (teoria causal) pela simples ocorrência do evento mais grave.
No homicídio preterdoloso ou preterintencional, o agente visa ofender a integridade física da vítima, mas o resultado vai além do desejado, devendo as circunstâncias do evento evidenciarem que o agente não desejou a morte da vítima nem assumiu o risco de produzi-la. A pena é de quatro a doze anos de reclusão, não chegando, assim, à pena equivalente à do homicídio simples. Há, aqui, uma figura mista, em que se misturam o dolo e a culpa, manifestando-se aquele no fato antecedente (lesão corporal) e esta no fato conseqüente (morte). Embora o resultado não estivesse predeterminado na vontade do agente, foi causado pela sua conduta, devendo estar presente o nexo de causalidade, razão da maior severidade da pena.
5) Lesão corporal privilegiada. Trata-se da hipótese prevista no § 4º: “se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço”. Encontra correspondência no homicídio privilegiado e é aplicável em qualquer das hipóteses do art. 129, §§ 1º, 2º e 3º (lesões leves, graves, gravíssimas ou seguidas de morte).
Substituição de pena: segundo o § 5º do art. 129, sendo leves as lesões, pode o juiz substituir a detenção por multa se ocorrer qualquer das hipóteses do parágrafo anterior ou se as lesões são recíprocas.
6) Lesões corporais culposas. A lei penal prevê punição das lesões corporais causadas por imprudência, negligência ou imperícia, com pena de detenção, de dois meses a um ano, valendo os mesmos ensinamentos relativos ao homicídio culposo, inclusive no tocante ao perdão judicial, previsto no § 8º, quando remete ao § 5º do art. 121.
7) Lesão corporal qualificada (causa especial de aumento de pena). Tanto na lesão dolosa quanto na culposa, incide a causa especial de aumento de pena prevista no art. 121, § 4º: tratando-se de lesão culposa, a pena é aumentada em um terço se há na inobservância de regra técnica de profissão arte ou ofício, se o agente deixa de prestar socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências de seu ato ou foge para evitar o flagrante; na lesão dolosa incide o mesmo acréscimo se a vítima é menor de 14 anos ou maior de sessenta.
8) Lesão corporal qualificada em razão de siatuação de violência familiar doméstica (Lei Maria da Penha). Reza o § 9º do art. 129, do Código Penal: “Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: Pena– detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. O § 10 determina que nos casos previstos nos §§ 1º a 3º do mesmo art. 129, quando as circunstâncias são aaquelas indicadas no § 9º, aumenta-se a pena em um terço. O § 11, por seu turno, determina que na hipótese do § 9º, a pena será aumentada de um terço, se a vítima for portadora de deficiência.
Crimes de Perigo - artigos 130 a 136, CP
Perigo de contágio venéreo. Art. 130. “Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. § 1º. Se é intenção do agente transmitir a moléstia: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. § 2º.
Somente se procede mediante representação.
Conceito: Consiste em submeter alguém ao risco de contrair moléstia venérea por meio de relação sexual, tendo consciência e vontade dirigida à produção do resultado. Em suma, o agente não se priva da realização do ato sexual, mesmo sabendo, ou devendo saber, ser portador de doença venérea. Assim, ao praticá-lo, expõe o parceiro ou parceira ao risco do contágio.
Objeto jurídico: SAÚDE, isto é, o ser humano, do ponto de vista da sua incolumidade física ou fisiológica.
O que se deve entender por “moléstia venérea?” O art. 130 configura norma penal em branco cuja complementação deve ser buscada nos regulamentos de saúde pública, que arrolam, dentre outras, as seguintes doenças venéreas: sífilis, blenorragia, cancro mole ou cancro venéreo simples, linfogranuloma inguinal ou adenite inguinal superaguda. AIDS não é moléstia venérea, mas doença sexualmente transmissível (DST).
Sujeito ativo: homem ou mulher portador de moléstia venérea. O exercício da prostituição não exclui o crime, porque a saúde é bem indisponível, não se podendo cogitar de consentimento ou aceitação do risco da contaminação. A contaminação pelo cônjuge constitui grave violação do dever matrimonial (Lei 6.515/77, art. 5º) sendo motivo justo para o divórcio.
Elemento subjetivo. A doutrina identifica há três modalidades: a) dolo eventual: o agente sabe estar contaminado; b) culpa stricu sensu, quando o agente não tem certeza, mas deveria saber da contaminação; c) dolo direto de dano ele conhece a contaminação e efetivamente quer transmitir a doença. Em qualquer dessas espécies, fica claro que a ignorância da moléstia exclui o dolo.[1]
Tipo objetivo: a ação física se realiza mediante conjunção carnal ou qualquer dos sucedâneos da cópula normal (felação ou fellatio in ore), coito cunnilingus, pennilingus, annilingus, coito anal e coito inter femora).
Perguntas importantes:
É imprescindível contato físico direto entre os sujeitos? O beijo pode transmitir moléstia venérea? A conduta exige contato corporal direto entre os sujeitos do delito. Se a amante contagia o marido e este a mulher, a primeira responderá pelo contágio do segundo, e este pelo da terceira. Ocorrendo contágio por meio diverso do constato sexual, incide o do art. 131. O beijo voluptuoso pode servir de meio à transmissão de algumas doenças venéreas, tais como a sífilis.
Havendo efetiva transmissão da doença há crime de dano?
Resultando efetiva transmissão da moléstia venérea, tem-se a lesão corporal dolosa (Noronha); Para Damásio e Celso Delmanto há exaurimento do delito; Custódio da Silveira opta por lesão corporal dolosa ou culposa, conforme o animus do agente; Heleno Cláudio Fragoso afirma que se há apenas dolo de perigo e a moléstia é transmitida, o agente responde por simples culpa.
Consumação e tentativa. A consumação ocorre com a conjunção carnal ou a prática libidinosa, sendo desnecessário efetivo contágio. Admite-se tentativa na modalidade dolosa, mais facilmente detectável na forma do § 1º (dolo direto de dano).
Ação penal. Somente se procede mediante representação da vítima (§ 2º). Trata-se de ação pública condicionada, pois depende necessariamente a manifestaçao expressa da vítima ou de quem a represente como condição de procedibilidade.
Perigo de contágio de moléstia grave
Art. 131: “Praticar, com o fim de transmitir moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir contágio: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa”.
Conceito, ação física e elemento subjetivo. Distingue-se esta conduta do tipo anterior porque só admite modalidade dolosa, devendo necessariamente estar presente o dolo específico de contagiar (dolo de dano). Portanto, é, de fato, crime de dano e não de perigo. Abrange moléstias venéreas, quando transmitidas por outro meio fora o contato sexual direto, e outras enfermidades graves e contagiosas, tais como tuberculose, tifo, dengue, hanseníase, sarampo, febre amarela, hepatite, entre outras. A tipicidade configura outra hipótese de norma penal em branco, pois sua descrição exige a complementação por normas de saúde pública. O regulamento editado pelo Ministério da Saúde é que irá definir quais são as doenças venéreas, as doenças graves e ao doenças contagiosas, que exigem a notificação obrigatória do médico às secretarias estaduais de saúde. A transmissão pode ocorrer de forma direta (aperto de mão, beijo, aleitamento, etc.) ou indireta (por meio de utensílios, roupas, vasilhames, instrumentos, objetos, etc.). Nesse ponto, difere do art. 130, que só se configura com o contato direto. Se culposa a transmissão, há lesão ou homicídio culposo, conforme o caso.
Perigo genérico ou perigo à vida ou a saúde de outrem.
“Art. 132. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto ou iminente: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, se o fato não constitui crime mais grave”.
Conceito. Forma genérica dos delitos do Capítulo IV, do Código Penal, que inclui todas as formas de perigo para a vida ou a saúde não enquadráveis em algum dos tipos precedentes. É delito eminentemente subsidiário, ou de subsidiariedade expressa. denotada pela redação da norma: “se o fato não constitui crime mais grave”.
Objeto jurídico. Vida e saúde da pessoa humana.
Sujeitos do delito. Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo ou passivo.
Ação física. Trata-se de crime de ação livre, comissiva ou omissiva, no qual a criação do perigo pode ser proveniente de qualquer ação que coloque em risco a incolumidade física de alguém. O perigo é concreto, exigindo efetiva demonstração em cada caso concretamente apurável.
Elemento subjetivo. Dolo de perigo, direito ou eventual, que exigem seja consciência e vontade de expor alguém a perigo ou simplesmente assumindo o risco proveniente do evento perigoso.
Causa de aumento de pena. O parágrafo único, introduzido pela Lei 9.777, de 29.12.98, acrescentou uma forma de agravação da pena cominada ao delito prevendo aumento da pena em um terço se a exposição a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em desacordo com as normas legais. Na verdade, a inspiração original do legislador era justamente conferir proteção aos retirantes da seca nordestina e aos bóias-frias, que eram costumeiramente contratados em suas regiões de origem e levados nos caminhões conhecidos como “pau-de-arara” para a “cidade grande” ou para realizarem a colheita em fazendas.
Mais recentemente, com o problema crônico do transporte de trabalhadores realizado em condições precárias de segurança, que não raro provocam tragédias de grandes proporções, houve por bem o legislador revigorar a norma, introduzindo uma causa especial de aumento de pena quando se caracteriza o transporte perigoso de pessoas realizado em desacordo com as normas legais previstas no Código de Trânsito Brasileiro.
Conflito aparente de normas.
Disparo de arma de fogo, art. 10, § 3º, Inciso III: "Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que o fato não constitua crime mais grave. Pena: um a dois anos de detenção e multa.
Crimes de perigo no trânsito. O Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/97) criou vários tipos de perigo:Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela Lei nº 11.705, de 2008)
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade competente, desde que resulte dano potencial à incolumidade pública ou privada:
Penas - detenção, de seis meses a dois anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em condições de conduzi-lo com segurança:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de escolas, hospitais, estações de embarque e desembarque de passageiros, logradouros estreitos, ou onde haja grande movimentação ou concentração de pessoas, gerando perigo de dano:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Abandono de incapaz. “Art. 133. Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono”. Pena: detenção, de seis meses a três anos”.
Objeto jurídico. Especial proteção aos menores, anciãos, incapazes e todas as pessoas com menores possibilidades de se defender sozinhas dos perigos inerenes à vida social.
Sujeito ativo: todo aquele que tem o dever de zelar pela vítima. É, portanto, crime próprio, porque exige essa qualidade especial do agente, que é a relação de dependência com a vitima e o garante ou garantidor.
Esse dever de garantia pode ser decorrente de vários atores:
1) lei, quando cria obrigações impostas a determina relação jurídica, tais como ocorre nas relações de parentesco, na tutela ou curatela de incapazes, e outras;
2) do contrato ou convenção, decorre de uma obrigação contratual assumida por certas especiais como obrigações específicas: enfermeiros, médicos, babás, diretores de colégio, guias de excursão, e outras;
3) qualquer fato, lícito ou ilícito, capaz de gerar a dependência. Consistem em obrigação de cuida decorrente das situações normais da vida social, como o ato de recolher criança abandonada ou se perdeu dos pais, a condução de um incapaz em viagem, a carona dada a um desconhecido, convite a um amigo para caçada, pescaria ou para acampar em lugares perigosos ou simplesmente desconhecidos, e outras situações assemelhadas.
O que se deve entender por cuidado, guarda, vigilância ou autoridade?
Nelson Hungria afirmou o seguinte: “cuidado significa assistência a pessoas que, de regra, são capazes de valer a si mesmas, mas que, acidentalmente, venham a perder essa capacidade (Ex. o marido é obrigado a cuidar da esposa enferma e vice-versa). Guarda é a assistência a pessoas que não prescindem dela, e compreende, necessariamente, a vigilância. Essa pode ser alheia (ex. guia alpino vigia a segurança de seus companheiros de ascensão, mas não os tem sob sua guarda). Finalmente, a assistência decorrente da relação de autoridade é a inerente ao vínculo de poder de uma pessoa sob a outra, quer a potestas, seja de direito público, quer de direito privado”.
Sujeito passivo: pessoa incapacitada para enfrentar sozinha os riscos do abandono; quem não tem condições físicas ou psíquicas de cuidar de si. Não se trata de incapacidade civil, mas aquela decorrente da menoridade ou de outras circunstâncias que inabilitem a vítima, total ou parcialmente, temporária ou permanentemente, para defender-se, sozinha, do estado de abandono, tais como menores, doentes físicos e mentais, velhos, ébrios, entre outros. Eventual consentimento da vítima não exclui antijuridicidade ou culpabilidade, pois a vida e a saúde são indisponíveis.
Tipo objetivo. abandonar significa descuidar, largar, desassistir. Geralmente, é conduta omissiva (deixar de prestar cuidados indispensáveis), mas admite forma comissiva, como ocorre se a vítima é levada para local determinado para então ser colocada em situação de risco. É crime de perigo concreto.
Tipo subjetivo. Dolo, ou seja, a vontade livre e consciente de abandonar a vítima, ciente dos riscos desse abandono e de que é responsável pela sua segurança da vítima. Portanto, não há tipicidade se o agente ficar à distância, espreitando o abandonado e zelando para que o perigo não acarrete probabilidade de dano. Caso deseje a morte ou lesão, haverá homicídio tentado, lesões corporais ou, eventualmente, infanticídio.
Formas qualificadas (pelo resultado - Preterdolo): se resulta lesão corporal grave ou morte (§§ 1º e 2º). Presente o dolo de dano, configura-se a lesão corporal grave ou o homicídio. A pena é aumentada em um terço se o abandono ocorrer em local ermo ou é praticado contra ascendente, descendente, cônjuge, irmão, tutelado ou curatelado (§ 3º, Incisos I e II).
Conflito aparente de normas. 1) há omissão de socorro (art. 135) quando inexistir relação de dependência; 2) há abandono de recém-nascido (art. 134) se o motivo da conduta for ocultar desonra própria; 3) cogita-se de homicídio ou lesões corporais, consumados ou tentados, se estiverem presentes o animus necandi ou nocendi; 4) Distingue-se, ainda, do crime de abandono material, (art. 244), porque, neste tipo, não se exige perigo para a vida ou a saúde da vítima, havendo apenas o descumprimento de um dever legal de prover o seu sustento.
Exposição ou abandono de recém-nascido
“art. 134. Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria. Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
Conceito. Constitui forma privilegiada em relação ao tipo do art. 133, pois, aqui, o sujeito ativo é a própria mãe, que age impelida pela necessidade de resguardar sua própria honradez, ocultando o nascimento de uma criança capaz de lhe proporcionar grave constrangimento no seu meio social, seja qual for a causa (gravidez extramonial, adulterina ou incestuosa, por exemplo).
Objetividade jurídica. A incolumidade pessoal e segurança do recém-nascido.
Sujeito Ativo. Trata-se de crime próprio, pois só quem é mãe pode cometê-lo ou, excepcionalmente, o pai (no caso de filho adulterino ou incestuoso), posição que é bastante controvertida. Contra ela se levantam, por exemplo, Euclides Custódio da Silveira, Celso Delmanto, Cezar Bitencourt. São a favor Magalhães Noronha, Mirabete e Damásio de Jesus.
Pergunta inquietante: a prostituta pode ser sujeito ativo do crime de abandono de recém-nascido? NÃO, porque, pela sua qualidade, o nascimento de um filho não acarreta qualquer constrangimento; não tendo, assim, caráter desonroso.
Sujeito Passivo. O recém nascido, havendo controvérsia quanto ao limite de tempo para o fim de considerar recém-nascido. Afirma Hungria: “o limite de tempo da noção de recém nascido é o momento em que a délivrance se torna conhecida de outrem, fora do círculo da família”. Magalhães Noronha opina com a expressão ”poucos dias”. Flamínio Fávero considera até sete dias; Fragoso, trinta dias; Mirabete e Damásio, até a queda do cordão umbilical.
Tipo objetivo. Expor significa remover a vítima para local diverso daquele onde é assistido (Damásio); abandonar é omitir-se na prestação de assistência. Alguns entendem, como Delmanto, que se tratam de expressões sinônimas. Para Magalhães Noronha éredundância. Mirabete, mais pragmático, afirma que o legislador procurou apenas evitar dúvidas. Trata-se de crime de perigo concreto, exigindo demonstração de que a vítima ficou exposta a um perigo plausível, capaz de comprometer a saúde ou a vida, por lapso de tempo considerável.
Formas qualificadas. São as formas preterdolosas, nas quais decorre a morte ou lesão grave do recém-nascido(§§ 1º e 2º).
Tipo subjetivo: Vontade de expor ou abandonar recém-nascido, ciente da obrigação de garante e do perigo à sobrevivência da vítima. É dolo direto e específico, onde o fim especial de agir, que configura o chamado elemento normativo da conduta, e a ocultação da desonra própria. No concurso de terceiro, há co-autoria ou participação, pois as circunstâncias elementares do tipo são comunicáveis.
Consumação e tentativa. A consumação ocorre no momento do abandono, ou seja, quando a vítima fica efetivamente exposta ao perigo. É crime instantâneo, que só admite tentativa na forma comissiva.
Conflito aparente de normas. Homicídio e infanticídio: o primeiro exige o dolo de dano enquanto no abandono o dolo é de perigo. Inexistindo o elemento subjetivo do injusto (ocultação da desonra própria), não havendo relação de parentes (pai/mãe) ou não sendo recém-nascido, ocorre o abandono de incapaz. Também não se confunde com crimes contra a assistência familiar (art. 244 e 247), onde o abandono é moral, e não físico.
Omissão de socorro
“Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, a criança abandonada ou extraviada, ou a pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, socorro à autoridade competente. Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa”.
Conceito. Trata-se da obrigação moral de amparo e proteção aos mais fracos erigida à condição de dever legal. Na tipificação, estão previstas duas condutas: deixar de prestar assistência e não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública.
Objetividade Jurídica. Vida e incolumidade física do indivíduo, mediante a tutela da sua segurança.
Sujeito ativo. Qualquer pessoa, existindo ou não vínculo jurídico anterior entre os sujeitos. Se há essa vinculação, configura-se um dos tipos anteriores. Normalmente, há proximidade entre autor e vítima, mas pode ocorrer a omissão se o agente estiver distante da vítima (médico que toma conhecimento de pessoa ferida, necessitando de cuidados, mas não presta assistência). O autor não pode ser responsável pela situação de perigo. Não comete o crime quem fere alguém, seja culposamente ou com animus necandi ou laedendi, deixando-o privado de socorro. No caso, responderá por lesão corporal ou homicídio, doloso ou culposo (aqui, a omissão qualifica o delito art. 121, § 4º e 129, § 7º).
Sujeito passivo. a) criança abandonada ou extraviada: é a vítima das figuras precedentes ou a criança que se perdeu dos pais ou responsáveis; b) pessoa inválida: quem por motivo de doença, deficiência, senilidade, embriaguez, etc., não tem forças para conjurar o perigo. c) pessoa ferida: alguém lesionado, física ou psiquicamente, mesmo sem gravidade. A vítima deve estar desamparada, incapacitada para valer-se a si mesma, necessitando de auxílio, sendo irrelevante seu consentimento.
Tipo objetivo. É crime omissivo puro, realizável por duas condutas: 1) deixar de prestar assistência, quando seja possível fazê-lo sem risco pessoal. O dever de assistência é limitado pela possibilidade e capacidade do sujeito ativo, apuráveis caso a caso; 2) não pedir socorro à autoridade pública. O agente não escolhe entre prestar socorro ou pedir auxílio: essas condutas são ditadas pelas circunstâncias. O pedido de socorro (ao delegado de polícia, pronto-socorro, corpo de bombeiros, etc.) só é admitido quando o agente, por si próprio, não tem condições de prestar socorro, por estar acima de sua capacidade. Não se exige ao sujeito arriscar sua vida ou integridade pessoal, podendo eventualmente configurar-se o estado de necessidade. É comum, nos delitos automobilísticos, alegar temor de linchamento como justificativa da omissão. Isso deve ser demonstrado e provado em cada caso. Se várias pessoas estiverem em condições socorrer, a ação de uma desobriga as demais.
Elemento subjetivo. Dolo de perigo, direto ou eventual. Está implícito o elemento subjetivo do tipo, que aé a intenção de se omitir, tendo consciência do perigo a que fica exposto o sujeito passivo em razão dessa omissão.
Consumação e tentativa. O crime se consuma no momento em que o agente deixou de agir quando devia, diante da situação de perigo para a vítima e das condições que permitiriam o socorro sem risco pessoal. A consumação é instantânea. O retorno do agente ao local, prestando o socorro exigido pela situação de perigo não elide a tipicidade. Sendo crime omissivo puro, não cabe tentativa.
Formas qualificadas. Dispõe o parágrafo único: “a pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta morte”.Para que a pena seja agravada, é necessário demonstrar que o resultado não ocorreria e o agente tivesse prestado o socorro. Evidenciado que tal resultado ocorreria independentemente da diligência empregada pelo autor, não se aplica a qualificadora. É bastante discutida a omissão quando a vítima falece instantaneamente após um atropelamento.
Conflito aparente. Havendo dever jurídico do agente em cuidar da vítima, poderá ocorrer outro crime, como o homicídio, as lesões corporais culposas, o abandono de incapaz, etc.
Maus tratos. “Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para o fim de educação, ensino tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: Pena – detenção, de 02 (dois) meses a 1 (um) ano, ou multa. § 1º. Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. § 2º. Se resulta morte: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. §3º. Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) anos.”
Conceito. Trata-se de delito de ação múltipla, pois há várias maneiras de cometê-lo: privação de alimentos ou de cuidados, sujeição a trabalho excessivo ou abuso dos meios de correção e disciplina. Algumas dessas formas não prescindem de habitualidade para sua configuração.
Objetividade Jurídica. Tal como nos artigos precedentes, tutela-se a incolumidade física da pessoa humana (vida e saúde), que não deve ficar exposta a perigo. O ECA criou duas figuras penais muito parecidas, além de criar a figura qualificada do § 3º. (arts. 232 e 233, da Lei 8.069 –ECA).
Sujeito Ativo. Trata-se de crime próprio, que só pode ser cometido por parte de quem tenha autoridade, guarda ou vigilância sobre a vítima. É mister a existência de prévia relação jurídica de natureza subordinante entre agente e vítima, podendo essa relação ser natureza civil ou administrativa. Exs. Pais, tutores, curadores, professores, patrões enfermeiras, carcereiros, etc. Essa subordinação deve estar ligada a atividades educativas, tratamento ou custódia.
Sujeito Passivo. Quem está sob autoridade, guarda ou vigilância do autor: filhos, pupilos ou curatelados, discípulos, empregados, enfermos, presos, etc. A mulher não pode ser vítima desse crime, uma vez que esta sempre estará subordinada ao agente, para fins de educação (atividade docente para aperfeiçoar a capacidade individual), ensino (no sentido restrito do termo, ou seja, educação básica), tratamento (cuidados médicos ou responsabilidade pela subsistência da vítima) ou custódia (detenção física da vítima, autorizada na lei).
Tipo objetivo. Crime de ação múltipla, admitindo várias formas de cometimento. Maus tratos são condutas que expõem a vida e a saúde da vítima através de uma das formas previstas no tipo, a saber:
a) privação de alimentosou cuidados indispensáveis. Exige reiteração de conduta;
b) sujeição à trabalho excessivo ou inadequado;
c) abuso dos meios de correção ou disciplina
Tipo Subjetivo. Exclusivamente doloso, exige a vontade deliberada e consciente de praticar qualquer uma das ações descritas no tipo. Não há vontade de lesionar, mas apenas o dolo de perigo, consubstanciado na consciência do agente de estar expondo sua vítima à probabilidade concreta de um dano físico ou psicológico.
Consumação e Tentativa. Consuma-se o crime quando presente a situação de perigo. Trata-se de perigo concreto, que deve ser aferido em cada caso. Algumas modalidades exigem reiteração de conduta; outras, basta uma só ação para configurar o crime. Admite-se a tentativa nas formas comissivas.
Excludente de criminalidade. Estado de necessidade: a jurisprudência tem admitido a exclusão de crime quando os pais humildes necessitam trabalhar, deixando filhos amarrados ou presos dentro de casa.
Formas Qualificadas: §§ 1º e 2º.
Causa especial de aumento de pena: § 3º.
Art. 137 - Rixa
Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.
1. Objeto Jurídico –
Com o fim de tutelar ordem pública e coibir sua perturbação, assim como preservar a incolumidade da pessoa, o Código Penal descreve a figura da rixa, que se caracteriza quando há uma briga, um entrevero desordenado envolvendo três pessoas ou mais, em que não é possível distinguir as condutas dos participantes.
Exige-se que a contenda se dê com três pessoas ou mais porque no embate entre duas apenas configura a prática da contravenção vias de fato ou de lesões corporais recíprocas.
Assim, a norma penal quer reprimir o ato da pessoa que, em meio a uma coletividade em combate, atua com violência indeterminada contra outrem, ocasião em que não se mostra possível individualizar a autoria das agressões.
A exceção posta na parte final do dispositivo (“... salvo para separar os contentores.”) poderia caracterizar, ao menos em tese, uma situação de legítima defesa de terceiro. Não obstante, vê-se a intenção do legislador de antecipar o debate nesse sentido, já descrevendo a hipótese em que a intervenção no tumulto não resultará em responsabilidade daquele que atua para pôr fim ao delito.
2. Sujeito Ativo e Sujeito Passivo: Por pressupor uma agressão mútua, recíproca e indefinida entre os participantes, eles todos são simultaneamente sujeitos ativos e passivos do crime.
3. Elemento Subjetivo: Exige-se o animus rixandi. A voluntária participação na contenda caracteriza o dolo do sujeito na prática do crime, não havendo sanção àquela praticada culposamente.
4. Consumação e tentativa: Diz-se inviável a tentativa por se considerar que a conduta e o evento exaurem-se simultaneamente.
5. Rixa Qualificada: Apesar de a norma dispensar, na definição do crime, a individualização das condutas dos contendores, trata de dar pena mais severa para hipóteses extremas nas quais a violência resulta em lesão corporal grave ou morte de qualquer dos envolvidos (crime preterdoloso).
Na hipótese de lesão corporal grave, também responderá pela forma qualificada o próprio lesionado.
Obs: É corrente na jurisprudência que a incidência da norma do artigo 137 do Código Penal é subsidiária, sendo aplicável apenas quando impossível a identificação da conduta e da posição dos envolvidos na briga. Do contrário, deve ser imputada aos autores a prática da lesão corporal ou do homicídio que houver:
PROCESSO PENAL. CO-AUTORIA. DENUNCIA. INEPCIA INOCORRENTE. HOMICIDIO QUALIFICADO. RIXA. DEFINIÇÃO. FORO PRIVILEGIADO. SEPARAÇÃO DOS PROCESSOS. IMPOSSIBILIDADE. - DENUNCIA FORMULADA, INDICANDO CONSELHEIRO DO CONSELHO DE CONTAS DOS MUNICIPIOS DO ESTADO DE GOIAS E SEU FILHO COMO AUTORES DE HOMICIDIO QUALIFICADO. - INEXISTINDO DISSENSO ENTRE O EXPOSTO NA DENUNCIA E OS FATOS COLHIDOS NA INFORMAÇÃO POLICIAL, NÃO HA DE ACOLHER-SE A DESCARACTERIZAÇÃO DA FIGURA DELITUOSA DO HOMICIDIO PARA O CRIME DE RIXA, COMO PRETENDEM OS ACUSADOS. A DOUTRINA E A JURISPRUDENCIA DOMINANTES ENTENDEM NÃO HAVER RIXA QUANDO A POSIÇÃO DOS CONTENDORES E DEFINIDA. PORTANTO, NA ESPECIE, NÃO HA DUVIDA TRATAR-SE DO CRIME DESCRITO NA PEÇA ACUSATORIA. EM CONSEQUENCIA, AFASTA-SE A PRELIMINAR DE INEPCIA DA DENUNCIA. - A ALEGADA INCOMPETENCIA DESTA EGREGIA CORTE PARA JULGAR AMBOS OS ACUSADOS TAMBEM NÃO PROCEDE, ANTE O DISPOSTO NOS ARTS. 77 E 78, III, DO  C.P.P. - NÃO EXISTE NOS AUTOS NENHUM DOS VICIOS ARROLADOS NO ART. 43 DO CODIGO DE PROCESSO PENAL. - DENUNCIA RECEBIDA. 
Calúnia (art. 138 do CP)
caluniar é imputar a alguém, um fato concreto, definido como crime, onde o agente tem a consciência da falsidade desta imputação.
Bem Jurídico
O bem jurídico protegido pelo delito de calúnia é a honra objetiva, isto é, a reputação do indivíduo, aquilo que o agente entende que goza em seu meio social.
Sujeitos
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa física, desde que seja imputável, sem necessidade de reunir qualquer outra condição. A pessoa jurídica por faltar-lhe a capacidade penal, não pode ser sujeito ativo dos crimes contra a honra.
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, inclusive os inimputáveis, sejam menores, sejam enfermos mentais, não se lhes exigindo, literalmente, qualquer condição especial.
Tipo objetivo
Calúnia é a imputação falsa a alguém de fato definido como crime. É em outros termos, uma espécie de “difamação agravada” por imputar, falsamente, ao ofendido não apenas um fato desonroso, mas um fato definido como crime.
Tipo subjetivo
O elemento subjetivo do tipo é o dolo de dano, a vontade específica de ofender a honra da vítima (animus calumniandi), o dolo pode ser direto ou eventual.
Consumação e tentativa
A consumação da calúnia se dá quando um terceiro passa a conhecer da imputação falsa de fato definido como crime. A tentativa, em regra, não é admitida, mas pode ocorrer dependendo do meio pelo qual é executado o delito. Se por exemplo, for através de documento escrito, onde uma pessoa está preparando folhetos caluniosos contra outro e, está prestes a distribuí-los, sendo interrompido por este, ocorre a tentativa, pois houve o início da realização do tipo, que não se findou por motivos alheios à sua vontade.
Pena e ação penal
A sanção penal é cumulativa, de seis meses a dois anos de detenção e multa, para a modalidade simples. Há previsão de duas majorantes: em um terço (art. 141, I,II e III) ou duplicada (art. 145, § único).
Classificação Doutrinária
Crime formal – consuma-se independente de o sujeito ativo conseguir obter o resultado pretendido;
Crime comum – podendo ser praticado por qualquer pessoa;
Instantâneo – consuma-se no momento em que a ofensa é proferida ou divulgada;
Comissivo – em nenhuma de suas formas cabe a conduta omissiva;
Doloso – não há previsão de modalidade culposa;
Difamação (art. 139 do CP)
Bem Jurídico
É a honra, isto é, a reputação do indivíduo, a sua boa fama, o conceito que a sociedade lhe atribui.
Sujeitos
Sujeito ativo – qualquer pessoa, sem qualquer condição especial;
Sujeito passivo - qualquer pessoa, até mesmo os inimputáveis, desde que tenham capacidade de entender que estão sendo ofendidos em sua honra pessoal.
Tipo objetivo
É a imputação, a atribuição a alguém de fato ofensivo à sua reputação. O fato não precisa ser falso nem ser definido como crime.
Tipo subjetivo
É o dolo de dano, vontade consciente de difamar o ofendido imputando-lhe a prática de fato desonroso, sendo irrelevante tratar-se de fato falso ou verdadeiro e é indiferente que o sujeito ativo tenha consciência dessa circunstância. O dolo pode ser direto ou eventual. 
Consumação e tentativa
Consuma-se quando o conhecimento da imputação chega a uma terceira pessoa; Em regra a tentativa não é admitida. Mas a tentativa será admitida quando existir um iter criminis que pode ser fracionado.Pena e ação penal
A sanção penal é cumulativa, de três meses a um ano de detenção e multa. Pode ser majorada de um terço se o fato é cometido contra o presidente da República ou chefe de governo estrangeiro, contra funcionário público em razão de suas funções;
A ação penal, como regra geral, é de exclusiva iniciativa privada (art. 145). Será , porém, pública condicionada quando praticada contra os sujeitos citados acima.
Classificação Doutrinária
Crime comum – podendo ser praticado por qualquer pessoa, não sendo exigida nenhuma condição ou qualidade especial do sujeito ativo;
Crime formal – consuma-se independente de o sujeito ativo conseguir obter o resultado pretendido;
Instantâneo – consuma-se no momento em que a ofensa é proferida ou divulgada;
Comissivo – não pode ser praticado através de conduta omissiva;
Doloso – não há previsão de modalidade culposa;
Unissubisistente – (via oral) completando-se com ato único;
Plurissubisistente – (por escrito) que permite fracionamento.
Formas Qualificadas
Não possui formas qualificadas, somente algumas figuras majoradas.
Injúria (art. 140 do CP)
Bem Jurídico
É a honra subjetiva, isto é, a pretensão de respeito à dignidade humana, representada pelo sentimento ou concepção que temos a nosso respeito.
Sujeitos
Sujeito ativo – qualquer pessoa, sem qualquer condição especial;
Sujeito passivo - qualquer pessoa, até mesmo os inimputáveis, desde que tenham consciência de que está sendo lesada sua dignidade ou decoro.
Tipo objetivo
Injuriar é ofender a dignidade ou o decoro de alguém. É essencialmente uma manifestação de desprezo e de desrespeito suficientemente idônea para ofender a honra da vítima no seu aspecto interno.
Tipo subjetivo
É o dolo de dano, vontade livre e consciente de injuriar o ofendido, atribuindo-lhe um juízo depreciativo.
Consumação e tentativa
Consuma-se quando a ofensa irrogada chega ao conhecimento do ofendido; Em regra a tentativa não é admitida. Mas a tentativa será admitida quando existir um iter criminis que pode ser fracionado.
Pena e ação penal
A sanção penal para a figura simples é alternativa, detenção de um a seis meses ou multa. Na injúria real é cumulativa, detenção de três meses a um ano e multa, além da pena correspondente à violência (§2º) e finalmente, a injúria por preconceito é sancionada, cumulativamente com reclusão de um a três anos e multa (§3º);
A ação penal, como regra geral, é de exclusiva iniciativa privada (art. 145). Será, porém, pública condicionada quando praticada contra presidente da República ou chefe de governo estrangeiro, contra funcionário público, em razão de suas funções. Outra exceção a regra geral, ocorre quando, na injúria real, da violência resultar lesão corporal (arts. 140, §2º, e 145, caput, 2ª parte).
Classificação Doutrinária
Crime comum – podendo ser praticado por qualquer pessoa, não sendo exigida nenhuma condição ou qualidade especial do sujeito ativo;
Crime formal – consuma-se independente de o sujeito ativo conseguir obter o resultado pretendido que é o dano à dignidade ou ao decoro do ofendido;
Instantâneo – consuma-se no momento em que a ofensa chega ao conhecimento do ofendido;
Comissivo – dificilmente poderá ser praticado através de conduta omissiva;
Doloso – não há previsão de modalidade culposa;
Unissubisistente – (via oral) completando-se com ato único;
Plurissubisistente – (por escrito) que permite fracionamento.
Formas Qualificadas
Injúria real – consiste em violência ou via de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, são considerados aviltantes;
Injúria preconceituosa – praticada com a utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.

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