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Arte e Direito - Daniel Nicory - primeira unidade

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Direito é a regulação da vida humana, é a controle da vida humana em sociedade, são regras de comportamento válidas para todos em sociedade. 
Arte parece o oposto do direito, mas os dois possuem aproximações. A arte, assim como o direito, é uma manifestação de cultura. A arte também possui regras, e o direito também vive em meio à regra e à ruptura. No entanto, na arte pode-se observar melhor o lado de transgressão e ruptura, já no direito observa-se o controle, a regulação, a estabilidade.
A arte expressa sentimento, a arte é destinada a comover, a sensibilizar e a tocar (segundo Aristóteles). A arte é uma forma de expressão de vida que procura realizar uma função estética, de acordo com suas regras. Enquanto o direito trata da vida humana com uma função normativa, a arte trata dessa mesma vida com uma função estética.
Tanto o direito quanto a arte são manifestações de cultura ou expressões do espírito humano que tratam sobre todos os aspectos da vida em sociedade. Inclusive um sobre o outro, ou seja, o direito fala da arte e a arte fala do direito. E esse é o primeiro ponto de manifestação entre eles, existe um direito que fala da arte e uma arte que fala do direito. Existe diversos dispositivos no nosso ordenamento que tratam sobre a arte (arte no direito ou arte na literatura). O direito da arte ou a arte no direito consiste no conjunto de disposições no ordenamento que tratam da relação do artista com sua obra, que trata da relação do artista com seu público, do artista com outros artistas, da obra com o público e da relação entre as obras, essas disposições estão espalhadas em diversos ramos do direito, temos o direito autoral e da propriedade intelectual que é na prática o direito civil, envolve tanto os direitos da personalidade quanto o lado patrimonial desses direitos, regras do direito civil que tratam da responsabilidade civil do artista e de qualquer criador, dispositivos penais podem se aplicar tanto para quem viola os direitos autorais ou para quem com sua obra ofende. E também as regras de direito administrativo e direito constitucional sobre o acesso a cultura e proteção da diversidade cultural e portanto artística. 
Direito na arte ou direito na literatura
Consiste no conjunto de obras de arte que tratam de temas jurídicos, encontram-se exemplos desde a Grécia antiga, as relações jurídicas são um elemento central para o primeiro gênero artístico importante do ocidente que é a tragédia grega, tinha como um de seus argumentos preferidos os argumentos jurídicos. Contextualização da ação mitológica da justiça, quando Agamenon mata a mãe em vingança pela trama que a mãe e o cunhado mataram o seu pai. Antígona é outro clássico em que temos a discussão entre o direito natural e o direito positivo, entre família versus estado. Foi justamente em cima desse campo (direito na arte) que os primeiros estudos teóricos começaram a ser feitos. Aloisio de Carvalho filho é um autor baiano que tratou sobre esse assunto. 
Direito e arte possuem estruturas comuns, bases comuns, em certo sentido o direito é arte, e esse campo do direito como arte estuda muitos desses problemas comuns, direito e arte precisam da interpretação para revelação do seu sentido, além disso direito e arte como são expressão precisam de uma boa expressão para poderem realizar bem a sua função e esse estudo da boa expressão está na retórica que é um campo da filosofia clássica que foi abandonado por muito tempo e voltou a moda agora nos últimos 60 anos. E por fim direito e arte são manifestações da vida, ou seja, envolvem frequentemente o ato de contar histórias, também discutem o problema comum da narrativa, nem toda arte é narrativa e nem todo direito tem essa concepção narrativa, mas principalmente a atuação prática do jurista, do advogado, do promotor, do defensor, do juiz, deve contar histórias com a linguagem jurídica. O direito do fato jurídico, o direito atribui consequências as fatos, esse fatos precisam ser contados a alguém, a quem decide, ou a quem negocia, transformar o fato em relato é uma atividade diária do jurista prático e também do artista quando vai expressar a vida que ele viveu e viu, a quem ele quer que conheça essa vida, a narrativa é fundamental para a construção de qualquer história do direito, se não tem narrativa o fato jurídico não é conhecido.
Aula 2
A ficção como repertório para o ensino jurídico
Introdução: análises de juristas sobre a ficção 
O ensino jurídico está ancorado em exemplos, que servem para ilustrar a teoria, são situações reais ou ficcionais, ou até construídas propositalmente para ilustrar uma teoria. Os manuais de direito tem vários desses exemplos, construídas para ilustrar a teoria que são tolos, inverossímeis, infactíveis... Mas isso não acontece com a arte, embora tenha ela imprecisões, apesar disso os exemplos encontrados em obras de arte servem para ilustrar (muito bem) várias situações que a teoria jurídica aborda.
A luta pelo direito – Ihering
Ele vai discutir uma questão que é bastante interessante, a diferença entre direito subjetivo e objetivo.
Direito subjetivo: 
Direito objetivo: tradicionalmente se ensina que o direito objetivo fundamenta o direito subjetivo, ou seja, é o que garante que cada um tenha situações jurídicas de vantagem e a exigência do seu cumprimento, é a relação entre a validade e a eficácia, é a validade do ordenamento que garante o direito de cada um. O que Ihering fala na sua obra é que a relação inversa também é relevante, ou seja, assim como o direito objetivo fundamenta o direito subjetivo, o ordenamento diz sim que tenho o direito que tenho, o oposto é verdadeiro, ou seja, é só por eu proclamar o direito que tenho que o ordenamento continua valendo para todos, essa afirmação de Ihering não é uma afirmação muito aceita pelos positivistas mais radicais, porque pela concepção tradicional do direito civil a eficácia não tem nenhuma relação com a validade, ou seja, mesmo que uma regra ou um principio tenham eficácia zero, se os preceitos formais e materiais de validade estão preenchidos, esse preceito de eficácia zero continua valendo no ordenamento, essa é a concepção do jurista tradicional (fim do século XIX).
Nessa mesma época Ihering vai discordar, na mesma medida que eu preciso do ordenamento para fundamentar minha pretensão, é a luta pela minha pretensão que faz o ordenamento continuar valendo. É curioso que o próprio Kelsen no fim de sua obra trabalha isso, toda regra de direito além de válida precisa ter um mínimo de eficácia. Ihering usa a metáfora “A luta pelo direito é a luta do direito contra a injustiça, então é preciso que todos lutem pela defesa e efetivação dos seus direitos, porque se não o fizerem vai ser como um exército que combate o outro e começa a ter desertores, quando um ou outro deserta do exército não faz diferença, mas quando o número de desertores aumenta e vai ficando cada vez maior começa a pesar para o batalhão, então os que continuam na luta pelos seus direitos vão ter um trabalho cada vez mais penoso para garantir os seus direito, que não é só deles, mas na verdade de todos, até que possa chegar o momento em que esse batalhão do direito perca para a injustiça já que sobraram muito poucos combatentes em favor dos seus direitos e ao defender o meu direito eu defendo o direito de toda comunidade ou algo semelhante.” 
Ihering usa nesse texto duas personagens literárias como exemplo de luta pelo direito, uma dessas personagem é de sheakspeare e a outra é de Von krist. 
Sheylock é a personagem de sheakspere da obra “O mercador de Veneza”, prestando atenção ao quarto ato: um jovem veneziano de grande coração Bassânio, mas sem muitas posses quer casar com uma jovem rica de Veneza Pórcia, ele não tem o dinheiro do dote 3000 ducados, Bassânio recorre ao amigo rico Antônio que é o mercador de Veneza, para Antonio esse dinheiro não é nada, mas no momento em que o amigo pede ele está sem capital de giro porque os barcos dele ainda estão voltando do oriente e ele não tem como emprestar esse dinheiro imediatamente.Antônio então recorre a Sheylock que é um agiota da época(renascimento cultural em que a moral católica reprova o lucro e trata como pecado), esses agiotas eram mal vistos e ele ainda era judeu, e por essas coisas era humilhado, mas tolerado pelo dinheiro que tinha. Sheylock disse que emprestaria os 3000 ducados, nem iria cobrar juros, só que com uma condição, caso você não cumpra sua obrigação de prazo, e não devolva o 3000 ducados no prazo, ele teria direito de tirar uma libra de carne do peito de Antonio. Para Antonio, que já estava acostumado a receber muito mais que isso de lucro, estava tudo bem e aceitou. Porém, Antonio não consegue honrar sua dívida no prazo porque seus barcos desaparecem no mediterrâneo, e ai Sheylock move uma ação de cobrança no judiciário, na época o judiciário era o próprio soberano de Veneza. Sheylock postula em juízo argumentando que se o direito dele for negado, todo direito de Veneza vai correr risco porque as relações contratuais não vão ser mais confiáveis. Por isso, Ihering vê em Sheylock a figura do sujeito que luta pelo seu direito, ele elege o vilão da história como o que guarda seu direito.
O soberano de Veneza fica sem saber o que fazer porque Sheylock era visto como agiota e discriminado e Antonio era visto como um mercador bem sucedido, Bassânio traz o dinheiro de volta, mas sheylock não aceita, Bassânio oferece o dobro, e ele também não aceita. Diante de um jurisconsulto(professor) de Veneza a ação é analisada para ele dar seu parecer, vem um mensageiro jovem no lugar do professor que diz que o professor não tem como vir e me manda como quem vai dar o parecer, o duque aceita, o sujeito pega o contrato e vai dizer que nenhum dos dispositivos é inválido e nenhuma das leis de Veneza proíbe esse contrato, portanto, sheylock tem direito de retirar uma libra de carne do peito de Antonio, Sheylock comemora, mas o jovem jurista diz que lendo o contrato não foi deixada nenhuma margem para interpretação, Sheylock não pode retirar nem uma libra a mais nem a menos da libra de carne e além disso, não poderá derramar uma gota de sangue, pois isto não está previsto em contrato, se o fizer Sheylock terá todos os seus bens confiscados e terá pena de morte apenas protegido pela clemência de seu soberano. Sheylock desiste, o mensageiro diz que só pelo ato de ter atentado contra a vida do cristão ele teria os bens confiscados e a vida dele estaria nas mãos do soberano, dos seus bens metade vai para o estado, metade para Antonio. Antonio não aceita os bens, desde que Sheylock se converta ao cristianismo, ele pode continuar administrando os bens desde que pague a Antonio os juros, o que render na administração desses bens. Depois se revela que o jovem jurista era Pórcia a mulher de Bassânio disfarçada de homem.
O vilão da historia era quem luta pelo seu direito, Ihering diz que o contrato retratado por sheakspeare nunca poderia ter sido validado porque desde o direito romano tardio não era mais permitida a execução de dividas pelo corpo do devedor. 
A interpretação tradicional que se faz nessa obra é sobre o conflito entre direito e justiça, e o que o juiz deve fazer diante desse conflito, e Ihering da uma perspectiva diferente a isso. Se permitir que o sistema seja burlado com uma boa intenção, a mesma brecha pode acontecer ao contrário, para que burle o sistema mal intencionado. 
Aloysio de carvalho Filho – “crime e criminosos na obra de machado de Assis”.
História efeitual - interpretações posteriores a uma obra que agregam sentido a ela.
Ele diz que a obra de Machado teria sido influenciada pelo positivismo criminológico, dá o exemplo de uma citação da personagem de Machado chamada de Conselheiro Aires da obra Esaú e Jacó, que diz que o ditado popular está errado, não é a ocasião que faz o ladrão, a ocasião faz o furto porque o ladrão nasce feito, essa frase está alinhada ao positivismo criminológico de que haveria uma pré-disposição inata ao crime, vinda do berço com o sujeito. O próprio Aloysio em uma primeira fase de pensamento achava que Machado de Assis era positivista, em uma segunda fase Aloysio já vem com um olhar mais amadurecido sobre Machado, e no lugar de ver nele um positivista, vê o cético que ele é. Aloysio vai dizer que não é que os criminosos nasçam prontos e sejam uma espécie diferente de nós, o mal vem de berço se está imposto, como o bem também está, então somos todos portadores desse mal, dessa capacidade de fazer o mal, mas nós na maior parte dos casos conseguimos conter esse mal, somos capazes de nos refrear por medo das consequências, Aloysio agrega um outro elemento, dizendo que, além disso, Machado era um autor que não gostava muito dos crimes de sangue, por isso sua obra tem pouca violência letal, ele vai dizer que a obra de machado é perfeita para o estudo do Iter criminis que é o estudo das etapas do crime, itinerário do crime. Fases do crime: cogitação, atos preparatórios, atos executórios, consumação, exaurimento. Na obra de Machado ele vai dizer que todos somos capazes de cogitar, para ele até muita gente planeja, e um numero considerável de pessoas prepara, muitas vezes até inicia a execução, mas a maior parte vai desistindo nas fases preliminares, a partir da execução o crime é punível como crime tentado, se ele se consuma ele é punido com crime consumado, as outras fases só são puníveis se forem previstas em lei como crime autônomo, um exemplo clássico de um ato preparatório que é punido é o porte ilegal de arma. Aloysio vai indicar como exemplo disso a obra de Dom casmurro e como Bentinho cogita diversas vezes fazer mal a Capitu ou ao filho Ezequiel por desconfiar que ele é filho do seu amigo falecido. Uma das cenas clássicas é bentinho preparando um chá envenenado para levar ao filho e se arrepende.
Aula 3 (não cai)
Aula 4 – A narrativa como essência da prática jurídica
Introdução – o primeiro texto de Luis Eduardo soares é para dizer o que tem nessa introdução, embora em uma linguagem mais simples
Narrativa: o ato ou a arte de contar histórias, contar histórias é algo que está intimamente relacionado com a arte, com a literatura, cinema, teatro, com a TV. O ato de contar histórias na narrativa está presente em quase todas as humanidades e ciências que estudam homem e nas práticas profissionais também como no jornalismo(a missão dele é contar uma boa história), no direito não é diferente, muito do que fazemos numa prática jurídica é contar uma história a alguém. Quase todos os ramos do direito dedicam importância ao estudo do fato jurídico, só que todo fato para chegar ao conhecimento de quem vai decidir sobre ele tem que ser contado, tem que ser narrado. Os profissionais do direito para postular não têm contato direto com o fato, se presenciarem um fato eles não podem atuar nesse processo, há um impedimento porque eles são testemunhas do fato e perdem a imparcialidade, pois o subjetivo aparece. Há duas exceções o advogado que pode advogar causa própria e o delegado de polícia que pode prender em flagrante, lavrar o auto de prisão de uma pessoa que tenha cometido crime contra ele mesmo. Em compensação esse distanciamento com o fato é que pode levar a enganos, pode levar a erros e principalmente porque todo fato pode gerar mais de um histórico, mais de um relato, mais de uma narrativa, isso acontece porque a percepção(principal veículo com que nós vivemos) dos sujeitos é diferente, usando os nossos sentidos que percebemos o fato e eles não são ilimitados, possuem um certo alcance e também podem sofrer distorções na captação, as vezes o ambiente externo também influencia os sentidos (pouca luz, muita luz, barulho). Outra coisa que ajuda a compor a nossa experiência de vida e o nosso contato com o mundo é a nossa recordação ou memória, o que a percepção não capta, a recordação ou memória e a imaginação preenchem. E ainda há um quarto elemento que é a intuição (empatia) esses outros elementos complementam a percepção, e mesmo a percepção pode está enganada, nada do que percebemos faz sentido para nós se não for comparadocom a nossa experiência pretérita e aí de novo a recordação volta para nos ajudar a interpretar o que aconteceu. Ainda não estamos falando da transmissão do fato, e nem do interesse em que a pessoa tem em contar o fato que pode levá-la a mentir ou supervalorizar em favor dela. Toda essa introdução é para mostrar que o que parece pode não ser, de cada 10 presos em flagrante 6 são condenados, está muito longe de ter a certeza da culpa; mesmo o flagrante pode possuir uma interpretação errada.
O fato e o relato – Karl Larenz
Como o fato é relatado a autoridade, larenz vai dizer que o direito trata de fatos mas que os fatos só são apreensíveis para o direito quando são relatados, ou seja, quando transformados em texto.
Esquema de Larenz
Para ser apreendido e julgado pelas esferas jurídicas o fato bruto passa por um processo de conformação jurídica até chegar ao fato definitivo, segundo Karl larenz o juiz só aplica o direito a esse fato definitivo. Mas como ele faz para chegar ao fato definitivo? Descartando elementos que seriam inúteis na relação e procurando aprofundar nos elementos que seriam úteis. Ele diz que chega o relato originário e para larenz seria igual ao fato bruto, se alguém entra com uma ação de indenização contra o dono de um cachorro porque esse cachorro mordeu a sua mão saber se esse cachorro tem pedigree ou não, não faz diferença, saber a raça faz diferença, saber a cor pode não fazer diferença, mas essa informação pedigree pode ter importância para outro processo, como uma ação do dono do animal contra o dono do canil, por exemplo. Você só sabe o que é importante ou não num fato em relação ao que a parte está pedindo, além disso o juiz quando esta fazendo essa conformação ele antecipa qual o direito aplicável, quem terá razão, mas ele só aplica no fato definitivo, mas ele pode se enganar, por isso as partes devem cuidar para que todos os elementos estejam presentes no processo para que mesmo que essa parte perca ela possa recorrer depois. Tem um coisa que larenz não observa, o fato bruto não é o relato originário, larenz diz que é e o professor diz que não, porque o fato bruto na verdade está antes e o relato depois, então esse relato já sofreu uma transformação, ele já sofreu uma conformação entre o que a pessoa viu e o que ela apresentou ao juiz e por isso complementa-se o esquema lembrando que todo fato passa por uma conformação prévia, até virar o relato originário. Uma coisa que agrava esse problema é que as vezes o mesmo fato pode ser contado num processo varias vezes pela mesma pessoa e varias vezes por pessoas diferentes e ai não é uma coisa simples.
Conformação do fato: pegar o fato, descartar os elementos que não são importantes e procura buscar em outras fontes os elementos que são importantes para complementar. O que chega como historia para o juiz pode ser diferente do fato bruto. Por isso que tem que ouvir todos os lados para tentar chegar ao fato bruto. Relato originário é o primeiro relato feito ao juiz.
Formas e autores do relato
As duas principais formas de se contar uma história são oral(audiência) e escrita(petição), as vezes esse mesmo relato fica durante todo processo migrando de uma forma para outra, nessas passagens de uma forma para outra perde-se informações, tanto isso é verdade que quando você passa da forma oral para forma escrita, isso recebe o nome de redução a termo (oral->escrita), uma ata de uma audiência não é perfeitamente igual ao que aconteceu ali, costuma perder detalhes e há uma mudança de linguagem, perde também conteúdo, como alguma coisa que o juiz não achou que era importante mas que poderia ser para alguma das partes, gravar a audiência foi uma estratégia/solução que o legislador usou para evitar essas perdas, quando se reduz a termo, a experiência da audiência na oralidade se perde muito, até a questão do estado de ânimo das testemunhas da tensão ou não. 
Distinção entre autor e narrador 
Narrador observador e o narrador personagem,
Opiniao de llioza
Autor é quem está fora do texto criando-o, o narrador e a personagem são figuras internas do texto, estão dentro do texto e mesmo que você tenha essa voz aparentemente imparcial e onisciente contando a história dentro do texto como nos contos de fadas, essa voz onisciente e imparcial não se confunde com o autor, o autor estaria em outro plano, fora do texto, então teríamos 3 planos, plano do texto, plano da ação e plano da vida. O autor está fora do texto no plano da vida, o narrador está no plano do texto contando a história e o personagem no plano da ação, onde a ação está se desenrolando, mesmo que seja uma voz onisciente e imparcial ela não é o autor porque nós não somos oniscientes fora do texto no mundo da vida, e mesmo que seja o exemplo radical da autobiografia que aparentemente parece que o personagem e o narrador são o autor, no fundo mesmo nela narrador e personagem são somente uma projeção do autor do texto, é como o autor se projeta na história para nos contar é ai que você não consegue ter uma percepção completa de si mesmo, por mais que você ache que se conhece bem, o que aparece na autobiografia não é o próprio autor, é a projeção dele.
Para o direito essa distinção é importante porque quem produz os relatos são as partes do processo, as testemunhas. Nas histórias que eles contam tem narrador observador e narrador personagem. Os profissionais do direito são narradores observadores, vão estar fora da história, pois se eles presenciaram a história eles não podem atuar como operadores(profissionais), as partes e testemunhas serão narradores personagem, uma testemunha de um fato está no mesmo plano desse fato, portanto ela conta a história de como ela viu o fato, ela conta um pouco dela mesma para contar a história até para situar os interessados da história, para saber onde a testemunha estava, para saber de onde o relato partiu. O narrador onisciente é um tipo de narrador observador que sabe sobre tudo que aconteceu inclusive sentimentos, pensamentos dos personagens. Quando um juiz decide sobre um fato muitas vezes ele precisa afirmar que tal pessoa agiu com dolo ou com culpa, ou que tal pessoa agiu de boa ou de má fé, esses elementos do fato são elementos subjetivos, rigorosamente falando esses elementos são impossíveis de provar, você deduz das outras provas, no entanto na sentença deve-se transmitir uma certeza sobre isso. Nas sentenças em especial o juiz que é o autor usa um narrador observador onisciente como técnica para transmitir segurança e credibilidade na decisão. Isso não ocorre quando o juiz absolve por falta de prova, então diz que não tem certeza se é culpado, portanto, é inocente. Nenhum autor pode ser onisciente, o narrador pode, porque o narrador é uma construção do texto para contar a história. Os operadores do direito em geral são narradores observadores, exceto o advogado em causa própria. 
Aula 5
Aula 25/02/2014- Aula 05- Modelos narrativos aplicados ao direito 1.Introdução- Estruturalismo é uma forma de pensamento da ciência que fez muito sucesso em meados do século 20 e essas correntes estruturalistas são formas de pensamento até conservador ou tradicional. O ESTRUTURALISMO É A BUSCA PELAS NAS ESTRUTURAS COMUNS TODOS OS EXEMPLOS E OCORRÊNCIAS DOS FENÔMENOS ESTUDADOS. Além de forma a estrutura tem uma função pro todo, é como se fosse um esqueleto, cada peça tem uma função para o todo, o estruturalismo literário busca encontrar a estrutura comum na narrativa, que compõem a narrativas, não só as narrativas da literatura ou ficção. Encontrar o modo de se organizar e o modo de funcionamento da narrativa. 
2. Intriga mínima completa: é um modelo que foi proposto por Tzvetan Todorov é um autor búlgaro radicado na França que traz a herança de uma outra teoria anterior ao estruturalismo que é o formalismo russo, que concentrou o histórico no próprio formalismo mesmo. Todorov propõe que toda narrativa começa em um estado de equilíbrio que passa por um período de desequilíbrio e nesse podem incidir processos de degradação e de melhora, é como sefosse a célula da narrativa. *Equilíbrio- Deterioração- Desequilíbrio- Melhora- Equilíbrio. Em família- Equilíbrio- Fase de inocência e é quebrado na adolescência ele foge e abre um equilíbrio, desequilíbrio quando ele volta da Europa. Ele vai mostrar que as vezes o equilíbrio inicial não começa no início da trama e faz flash backs para o momento de desequilíbrio a partir do momento de equilíbrio. Todorov estuda a literatura policial, ao estudar a literatura policial ele identifica que cada história tem pelo menos duas estruturas, a história do crime e da investigação. Sherlock Holmes se tem a busca dos sinais do crime, a investigação é a reconstrução da realidade do crime através das pistas, reconstruir uma história que faça sentido a partir dos seus sinais. Degradação e melhora dependem da perspectiva da personagem, o que pode ser melhora pra um pode ser degradação para outro.
3. Modelo quinário: Vem do autor francês, tem cinco etapas, a história começa no estado inicial que é movido por uma força duradoura que a partir daí tem uma dinâmica e que vai ter uma força duradoura que vai para o estado final. O estado final pode ser igual ou diferente do inicial e pode ser um final feliz ou infeliz, representa o fim da dinâmica e estabelecimento de um novo estado. Em família a força equilibradora é a prisão no altar. A diferença entre os dois modelos é que no modelo quinário o autor isola as forças duradoura e equilibradora e destaca a força que inicia e a força que encerra a dinâmica, que precedem o equilíbrio final e sucedem o equilíbrio inicial. A função das forças é equilibrar a história. Qual desses dois modelos é mais adequado? O modelo quinário pois é mais completo e a ideia de força na narrativa parece com a ideia de causa nas teorias do fato jurídico em que as conexões entre causa e efeito são um dos fundamentos da causalidade, como força. Autos de prisão em flagrante- A história da apresentação do preso, da prisão e da história do crime.
 O modelo de Todorov é da busca de sinais de um crime que já aconteceu, nos autos de prisão em flagrante o crime já ocorreu. Dentre tantos exemplos disponíveis para a riqueza de descrição dos fatos, os autos de prisão em flagrante vão ter várias perspectivas do mesmo fato. Na prisão em flagrante qualquer um pode dar voz de prisão, seria estar cometendo um crime, ter acabado de ter cometido um crime, alguém que é perseguido mesmo se de forma aparente tenha cometido o crime e do sujeito que é encontrado depois de cometer o crime, com instrumentos, objetos, armas ou papeis que façam parecer que cometeu o crime (presumida). Proximidade temporal entre crime e prisão, a força da prova, na prisão em flagrante a prova é forte contra o autor. A prisão em flagrante é a única que pode ser feita em condições normais. 
Comparação e utilidade para o direito: Juízo de fundada suspeita- Não é juízo de certeza do crime, depois de analisar o crime manda a pessoa para a prisão, analisa as provas para ver se realmente houve prisão em flagrante e se vai mandar a pessoa presa ou não. Nos casos em que o flagrado confessou o crime o Estado inicial a força equilibradora é a cessação da atividade delituosa, no inter criminis a cessação vai ser a força equilibradora, ou ainda na tentativa ou logo depois da consumação ou no exaurimento, o complicado é que há uma diversidade de possibilidades, as várias formas de prisão em flagrante ocorrem em tempo diferente no inter criminis.
Aula 6 – o discurso narrativo dos participantes da prisão em flagrante
Introdução
Autoridade policial
A autoridade policial (o delegado de polícia) como responsável por lavrar o auto de prisão em flagrante e por colher os depoimentos de todos os participantes da prisão, o trabalho mais importante dele é transformar a linguagem coloquial dos participantes, em especial do preso e da vítima, mas também do condutor e das testemunhas, na linguagem técnica que é necessária para o auto, para que o auto seja apresentado às demais autoridades, aquelas que vão intervir no processo. Nessa transformação de uma linguagem para outra ocorre também a passagem de um discurso direto para um discurso indireto, o direto é a fala e o indireto é uma referência a uma fala. O que é curioso nesse caso é que o delegado passa da linguagem coloquial para técnica e do discurso direto para o indireto, portanto, alterando formalmente e as vezes até no conteúdo as falas, mas em alguns casos extremos ele ressalta o uso da expressão coloquial porque ele acha aquela expressão particularmente significativa, ou seja, ele acha marcar aquela expressão como tão importante que ele mantém o discurso direto e aí aspeia(coloca aspas), para interpolar um discurso no outro e para dizer que ele não concorda com aquilo. Em geral os depoimentos são conduzidos de forma provocada, ou seja, perguntas e respostas. Normalmente vem primeiro uma pergunta genérica, depois quem está conduzindo o depoimento vai especificando pergunta a pergunta para colher cada vez mais detalhes e passa a palavra. O fato é que nem sempre as perguntas que são feitas no momento do depoimento são transcritas para o auto, ou são transcritas para a ata. Quando se omite a pergunta dar-se a narrativa uma fluidez maior, dar-se uma aparência de espotaniedade, como se não tivesse dúvida. Às vezes é a formulação da pergunta que leva a uma resposta, sendo assim é importante saber a pergunta. 
O grande papel do delegado é justamente ser o mediador do discurso e um condutor da narrativa.
Condutor
O condutor é quem leva o preso a presença da autoridade, que apresenta o preso a autoridade, por lei qualquer do povo podem fazer isso, e os policiais devem fazer isso quando presenciam um crime, na prática, a esmagadora maioria de condutores é de ou policiais militares ou civis, um ou outro condutor não é policial e quando não é, é um crime mais simples, seguranças privados fazem isso também. Os principais recursos discursivos identificados na fala dos condutores são recursos também do jargão policial, o primeiro e recorrente é dizer que interferiram na situação porque tal pessoa estava em atitude suspeita, ou o policial presencia um crime acontecendo na sua frente, ou ele começa uma investigação porque ele percebeu algo que chamou sua atenção, como por exemplo, um rapaz está andando pelo aeroporto pisando como um astronauta, a polícia federal para ele e tinha meio quilo de cocaína no solado do tênis, outro exemplo é de um rapaz no verão do hemisfério sul saindo de salvador para a Austrália de casaco, e ficou nervoso quando viu a policia, tudo isso pode ser uma atitude suspeita que chamou sua atenção, quando isso acontece frequentemente os policiais relatam essas circunstâncias de forma mais detalhada, mais clara, mais explícita. Pode ser uma forma de encobrir um preconceito na hora da abordagem e de encobrir uma intervenção baseada em critério social, racial de gênero e etc, pode ser uma arbitrariedade, por isso a expressão vaga de atitude suspeita. Também pode haver o emprego de uma expressão vaga do jargão policial também para narrar como se desenvolveu essa ação, ele pode dizer que fez a abordagem (é uma ordem de se manter imóvel, é uma revista pessoal, é uma blitz, uma ordem de para), que ele adotou o procedimento padrão. Quanto mais vago o discurso, cheio de clichês, de expressões muito amplas, maior a probabilidade de a história estar mal contada. Isso vale para todos os envolvidos, pois vagueza não é um bom sinal de veracidade da história. Por fim, existe a expressão de que a polícia agiu porque aquela pessoa era uma velha conhecida dos meios policiais, é abordagem feita exclusivamente por seus antecedentes, porque tem fama de bandido, pode até levar a descoberta de outro crime, mas pode também levar a imputação incorreta de um crime que essa pessoa não cometeu, preconceito direcionado a quem cometeu um crime. 
Testemunhas
O código de processo penal exige a presença de testemunha para que se possa prender uma pessoa em prisão em flagrante, além do condutor. Em alguns pode não haver testemunhas,a lei autoriza que na ausência de testemunhas no momento do fato, tenha testemunhas na apresentação do preso. Quando for esse o caso de testemunhas da apresentação, essas testemunhas não terão nada a dizer sobre a história da prisão, vão ter somente sobre a história da apresentação. Tanto quanto o delegado, quando são testemunhas presenciais da prisão, o papel dessas testemunhas deveria ser enriquecer o número de pontos de vista narrativos, é uma lógica da lei que não se cumpre de fato na maioria dos casos, porque na maior parte dos casos as testemunhas são policiais, os policiais que trabalharam da abordagem, quem aparece como condutor é o policial mais graduado entre aqueles, ou a patente mais alta na policia militar, ou o investigador mais experiente na polícia civil, e as testemunhas são os subordinados a ele, que vão dizer exatamente o que ele disse. Desconstruir essa história é muito difícil, quando você pega uma contradição na fala pode enfraquecer. A sociedade exige que seja abusivo na abordagem. É preciso ter multiplicidade de pontos de vista, é indispensável, para evitar injustiça, mas nem sempre se tem isso, no caso da prisão em flagrante, as testemunhas que serviriam para isso são na prática 3 condutores. 
Conduzido
Existe uma crença equivocada de que o réu nunca confessa, muitas vezes confessa, mas também quase nunca confessa exatamente o que está sendo atribuído a ele, confessa tentando amenizar. Ou também, alegando algum motivo que justifique o comportamento, legítima defesa, estado de necessidade. O discurso pode ser e não ser verdadeiro.

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