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Informativo 881-STF (17/10/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
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 Informativo 881-STF 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
IMUNIDADE PARLAMENTAR 
 Judiciário pode impor aos parlamentares as medidas cautelares do art. 319 do CPP, no entanto, a respectiva Casa 
legislativa pode rejeitá-las (caso Aécio Neves). 
 
DEFENSORIA PÚBLICA 
 Inconstitucionalidade de contratação de advogados, sem concurso público, para serem Defensores Públicos. 
 
DIREITO PENAL 
REGIME INICIAL 
 Fixada a pena-base no mínimo legal, não é possível a imposição de regime inicial mais severo do que aquele 
abstratamente imposto. 
 
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR 
CRIME MILITAR 
 Militar que inseriu declaração falsa em documento liberando indevidamente embarcação sem as vistorias 
necessárias. 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
IMUNIDADE PARLAMENTAR 
Judiciário pode impor aos parlamentares as medidas cautelares do art. 319 do CPP, 
no entanto, a respectiva Casa legislativa pode rejeitá-las (caso Aécio Neves) 
 
Importante!!! 
O Poder Judiciário possui competência para impor aos parlamentares, por autoridade 
própria, as medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP, seja em substituição de prisão em 
flagrante delito por crime inafiançável, por constituírem medidas individuais e específicas 
menos gravosas; seja autonomamente, em circunstâncias de excepcional gravidade. 
Obs: no caso de Deputados Federais e Senadores, a competência para impor tais medidas 
cautelares é do STF (art. 102, I, “b”, da CF/88). 
Importante, contudo, fazer uma ressalva: se a medida cautelar imposta pelo STF 
impossibilitar, direta ou indiretamente, que o Deputado Federal ou Senador exerça o seu 
mandato, então, neste caso, o Supremo deverá encaminhar a sua decisão, no prazo de 24 horas, 
à Câmara dos Deputados ou ao Senado Federal para que a respectiva Casa delibere se a medida 
cautelar imposta pela Corte deverá ou não ser mantida. 
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Assim, o STF pode impor a Deputado Federal ou Senador qualquer das medidas cautelares 
previstas no art. 319 do CPP. No entanto, se a medida imposta impedir, direta ou 
indiretamente, que esse Deputado ou Senador exerça seu mandato, então, neste caso, a 
Câmara ou o Senado poderá rejeitar (“derrubar”) a medida cautelar que havia sido 
determinada pelo Judiciário. 
Aplica-se, por analogia, a regra do §2º do art. 53 da CF/88 também para as medidas cautelares 
diversas da prisão. 
STF. Plenário. ADI 5526/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, 
julgado em 11/10/2017 (Info 881). 
 
O Deputado Federal ou Senador pode ser preso antes da condenação definitiva? 
• Regra: NÃO. Como regra, os membros do Congresso Nacional não podem ser presos antes da 
condenação definitiva. 
• Exceção: poderão ser presos caso estejam em flagrante delito de um crime inafiançável. 
 
Isso está previsto no art. 53, § 2º da CF/88: 
Art. 53 (...) § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão 
ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro 
de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, 
resolva sobre a prisão. 
 
Pela redação literal do art. 53, § 2º da CF/88, o Deputado Estadual, o Deputado Federal e o Senador 
somente poderão ser presos, antes da condenação definitiva, em uma única hipótese: em caso de 
flagrante delito de crime inafiançável. Isso significa que, pela literalidade do dispositivo constitucional, tais 
parlamentares não podem ter contra si uma ordem de prisão preventiva. 
Trata-se da imunidade formal em relação à prisão, também chamada de “incoercibilidade pessoal relativa” 
(freedom from arrest). 
As imunidades parlamentares são prerrogativas conferidas pela CF/88 aos parlamentares para que eles 
possam exercer seu mandato com liberdade e independência. 
Vale ressaltar que a imunidade prevista no art. 53, § 2º da CF/88 aplica-se não apenas para Deputados 
Federais e Senadores, mas também para os Deputados Estaduais. Isso porque os Deputados Estaduais 
possuem as mesmas imunidades que os parlamentares federais, por força do art. 27, § 1º da CF/88. 
 
O Deputado Federal ou Senador pode ser preso se for condenado em processo criminal com trânsito em 
julgado? 
SIM. O § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar (provisória) do parlamentar, ou seja, 
não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada em julgado, como no caso de Deputado Federal 
condenado definitivamente pelo STF. 
STF. Plenário. AP 396 QO/RO, AP 396 ED-ED/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 26/6/2013 (Info 712). 
 
REGRA: Deputados Federais e Senadores não poderão ser presos. 
Exceção 1: 
Poderão ser presos em flagrante de crime 
inafiançável. 
Exceção 2: 
O Deputado ou Senador condenado por 
sentença judicial transitada pode ser preso 
para cumprir pena. 
Trata-se de exceção prevista 
expressamente na CF/88. 
 
Trata-se de exceção construída pela 
jurisprudência do STF. 
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Obs: os autos do flagrante serão remetidos, 
em até 24h, à Câmara ou ao Senado, para 
que se decida, pelo voto aberto da maioria 
de seus membros, pela manutenção ou não 
da prisão do parlamentar. 
Poderíamos ter, em tese, a esdrúxula 
situação de um Deputado condenado ao 
regime semiaberto que, durante o dia vai 
até o Congresso Nacional trabalhar e, 
durante a noite, fica recolhido no presídio. 
 
Obs: existe divergência na doutrina sobre a possibilidade de o Deputado ou Senador ser preso por conta 
de atraso no pagamento da pensão alimentícia (prisão civil). Admitem: Uadi Bulos e Marcelo Novelino. 
Não admitem: Pedro Lenza e Bernardo Fernandes. Não há precedente do STF sobre o tema. 
 
Em suma, pode-se dizer que o § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar (provisória) do 
parlamentar, ou seja, não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada em julgado, como foi a 
hipótese do ex-Deputado Federal Natan Donadon, condenado pelo STF na AP 396/RO. 
 
Medidas cautelares diversas da prisão 
A prisão preventiva é uma espécie de “prisão cautelar”. 
A prisão cautelar, por sua vez, é uma das espécies de “medida cautelar”. 
Assim, além da prisão existem outras espécies de medidas cautelares. 
As medidas cautelares são providências urgentes que devem ser decretadas na fase pré-processual ou 
durante o processo penal com o objetivo de assegurar a apuração do fato delituoso, a instrução 
processual, a aplicação da sanção penal, a proteção da ordem pública ou o ressarcimento do dano causado 
pelo delito. 
Como já disse, a prisão processual é uma espécie de medida processual. As demais medidas cautelares 
diversas da prisão estão elencadas no art. 319 do CPP: 
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: 
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar 
e justificar atividades; 
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias 
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o 
risco de novas infrações; 
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias 
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; 
IV - proibição de ausentar-seda Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária 
para a investigação ou instrução; 
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou 
acusado tenha residência e trabalho fixos; 
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira 
quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; 
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave 
ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código 
Penal) e houver risco de reiteração; 
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, 
evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; 
IX - monitoração eletrônica. 
 
Segundo o art. 53, § 2º da CF/88, o Deputado ou Senador não pode ser preso antes do trânsito em 
julgado, salvo prisão em flagrante de crime inafiançável. Assim, pelo texto da Constituição, o Judiciário 
não pode decretar a prisão preventiva de um Deputado ou Senador. E quanto às demais medidas 
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cautelares? O Judiciário pode decretar medidas cautelares diversas da prisão (art. 319 do CPP) em 
desfavor de Deputados ou Senadores que estejam sendo investigados ou que sejam réus? 
SIM. 
O Poder Judiciário possui competência para impor aos parlamentares, por autoridade própria, as 
medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP, seja em substituição de prisão em flagrante delito por 
crime inafiançável, por constituírem medidas individuais e específicas menos gravosas; seja 
autonomamente, em circunstâncias de excepcional gravidade. 
Obs: no caso de Deputados Federais e Senadores, a competência para impor tais medidas cautelares é 
do STF (art. 102, I, “b”, da CF/88). 
STF. Plenário. ADI 5526/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado 
em 11/10/2017 (Info 881). 
 
Medidas cautelares que impossibilitem direta ou indiretamente o exercício do mandato 
Importante, contudo, fazer uma ressalva: se a medida cautelar imposta pelo STF impossibilitar, direta ou 
indiretamente, que o Deputado Federal ou Senador exerça o seu mandato, então, neste caso, o Supremo 
deverá encaminhar a sua decisão, no prazo de 24 horas, à Câmara dos Deputados ou ao Senado Federal 
para que a respectiva Casa delibere se a medida cautelar imposta pela Corte deverá ou não ser mantida. 
Assim, o STF pode impor a Deputado Federal ou Senador qualquer das medidas cautelares previstas no 
art. 319 do CPP. No entanto, se a medida imposta impedir, direta ou indiretamente, que esse Deputado 
ou Senador exerça seu mandato, então, neste caso, a Câmara ou o Senado poderá afastar (“derrubar”) a 
medida cautelar que havia sido determinada pelo Poder Judiciário. 
 
A decisão judicial que estabelecer medidas cautelares que impossibilitem, direta ou indiretamente, o 
pleno e regular exercício do mandato parlamentar e de suas funções legislativas, será remetida, dentro 
de 24 horas, a Casa respectiva, nos termos do §2º do art. 53 da CF/88, para que, pelo voto nominal e 
aberto da maioria de seus membros, resolva sobre a medida cautelar. 
STF. Plenário. ADI 5526/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado 
em 11/10/2017 (Info 881). 
 
Exemplo: 
O Senador Aécio Neves é alvo de diversas investigações criminais. 
A pedido do PGR, o STF impôs ao investigado que cumprisse as seguintes medidas cautelares diversas da 
prisão: 
• suspensão das suas funções como Senador (art. 319, VI); 
• obrigação de recolhimento domiciliar noturno (art. 319, V); 
• proibição de entrar em contato com outros investigados por qualquer meio (art. 319, III); 
• proibição de se ausentar do país, com a entrega do passaporte (art. 319, IV). 
 
O Senado Federal, aplicando o entendimento do STF na ADI 5526/DF acima explicada, entendeu que as 
medidas cautelares impostas a Aécio Neves impossibilitavam que ele exercesse o seu mandato 
parlamentar. Em razão disso, o Senado se reuniu e decidiu rejeitar as medidas cautelares que haviam sido 
impostas pelo STF em desfavor de Aécio Neves. 
 
De onde o STF tirou essa conclusão de que deveria encaminhar a sua decisão para o Parlamento avaliar 
se deveria ou não ser mantida? 
Do art. 53, § 2º da CF/88: 
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, 
salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso (ou seja, na hipótese de o parlamentar ser 
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preso), os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo 
voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. 
 
Mas o art. 53, § 2º da CF/88 fala em resolver sobre a “prisão” e não sobre “medidas cautelares” do art. 
319 do CPP... 
O STF entendeu que o mesmo raciocínio que vale para a prisão dos parlamentares deve ser aplicado 
também no caso de medidas cautelares. 
O art. 53, § 2º da CF/88 foi pensado com um objetivo, qual seja, o de fazer com que o parlamentar somente 
fosse afastado do exercício de seu mandato conferido pelo povo em uma única hipótese: prisão em 
flagrante delito por crime inafiançável. Dessa forma, esta norma constitucional estabeleceu, 
implicitamente, a impossibilidade de qualquer outro tipo de prisão cautelar. 
Diante disso, o STF entendeu que impor ao Deputado ou Senador medidas cautelares que impeçam o 
exercício do mandato seria uma forma de violar a imunidade formal que protege o livre exercício do 
mandato parlamentar contra interferências externas. 
Assim, a decisão do Poder Judiciário que aplique medida cautelar que impossibilite direta ou 
indiretamente o exercício regular do mandato legislativo deve ser submetida ao controle político da Casa 
Legislativa respectiva, nos termos do art. 53, § 2º, da CF/88. 
Obs: o resultado deste julgamento ocorreu por apertada maioria (6x5). 
 
Houve uma mudança de entendimento do STF? 
SIM. Em 2016, o Plenário do STF aplicou a medida cautelar do inciso VI do art. 319 do CPP e afastou o 
Eduardo Cunha do seu cargo de Deputado Federal e da função de Presidente da Câmara dos Deputados 
durante a tramitação dos inquéritos que ele respondia. 
Naquela ocasião, o STF afastou Cunha do cargo e não cogitou dar à Câmara dos Deputados a possibilidade 
de reverter essa decisão. Em outras palavras, no caso de Cunha, o STF impôs a medida cautelar e o 
Parlamento não pode se manifestar sobre isso. 
STF. Plenário. AC 4070/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 5/5/2016 (Info 579). 
 
A posição manifestada pelo STF na ADI 5526/DF (poder do Parlamento de dar a última palavra sobre as 
medidas cautelares) aplica-se também aos Deputados Estaduais? 
O STF não apreciou este tema. No entanto, penso que o entendimento pode sim valer também para os 
Parlamentares estaduais. Isso porque o art. 27, § 1º da CF/88 determina que deverão ser aplicadas aos 
Deputados Estaduais as mesmas regras previstas para os Deputados Federais e Senadores relacionadas 
com inviolabilidade, imunidades, perda de mandato, licença, impedimentos, entre outros. 
 
 
 
DEFENSORIA PÚBLICA 
Inconstitucionalidade de contratação de advogados, 
sem concurso público, para serem Defensores Públicos 
 
É inconstitucional a contratação, sem concurso público, após a instalação da Assembleia 
Constituinte, de advogados para exercerem a funçãode Defensor Público estadual. 
Tal contratação amplia, de forma indevida, a regra excepcional do art. 22 do ADCT da CF/88 e 
afronta o princípio do concurso público. 
STF. 1ª Turma. RE 856550/ES, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, 
julgado em 10/10/2017 (Info 881). 
 
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Imagine a seguinte situação: 
Em 1990, o Espírito Santo editou a LC nº 55/94 prevendo, em seu art. 64, que os advogados que foram 
contratados pelo Estado, sem concurso público, para exercer assistência jurídica em favor dos 
hipossuficientes, até a data da edição da lei, deveriam permanecer no quadro de Defensores Públicos até 
aprovação em concurso público (art. 64). 
Em 2006, o STF declarou inconstitucional esse art. 64 da LC 55/94 por ampliar o prazo excepcional 
conferido pelo art. 22 do ADCT da CF/88 (ADI 1199, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 05/04/2006): 
Art. 22. É assegurado aos defensores públicos investidos na função até a data de instalação da 
Assembleia Nacional Constituinte o direito de opção pela carreira, com a observância das garantias 
e vedações previstas no art. 134, parágrafo único, da Constituição. 
 
Em 2009, o Governo do Estado do Espírito Santo, em cumprimento à decisão do STF, determinou o 
imediato desligamento dos advogados que se enquadravam na situação de inconstitucionalidade do art. 
64 da LC 55/94. 
Os advogados prejudicados impetraram mandados de segurança contra o desligamento e o TJ/ES acolheu 
o pedido para que eles permanecessem no cargo sob o argumento de que seria impossível à Administração 
Pública, após mais de 20 anos, rever o ato de admissão dos contratados. 
Segundo o TJ, os servidores estavam atuando de boa-fé e a irregularidade das contratações seria 
imputável ao próprio Poder Público. Ainda segundo o acórdão, a desconstituição do ato causaria mais 
danos que benefícios à Administração, que teria que reestruturar a Defensoria Pública. 
O Estado do Espírito Santo interpôs recurso extraordinário contra o acórdão. 
 
O STF concordou com a decisão do TJ/ES? 
NÃO. 
É inconstitucional a contratação, sem concurso público, após a instalação da Assembleia Constituinte, 
de advogados para exercerem a função de Defensor Público estadual. 
Tal contratação amplia, de forma indevida, a regra excepcional do art. 22 do ADCT da CF/88 e afronta o 
princípio do concurso público. 
STF. 1ª Turma. RE 856550/ES, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado 
em 10/10/2017 (Info 881). 
 
Os advogados prejudicados alegaram que o seu desligamento das funções causaria mais prejuízos que 
eventuais vantagens para a Administração Pública, razão pela qual o ato de admissão deveria ser 
mantido. Esse argumento foi aceito pelo STF? 
NÃO. A própria Administração Pública (Estado do Espírito Santo) recorre ao STF dizendo que é o contrário, 
ou seja, que a manutenção desses advogados nos quadros da Defensoria é que está causando mais 
prejuízos do que vantagens. O Poder Público argumenta, com razão, que essa situação irregular 
compromete a composição do órgão com Defensores concursados. 
Além de reduzir o número de vagas disponíveis, o Estado fica sujeito a impugnações judiciais dos 
classificados no concurso, que se vêem preteridos por conta da ocupação ilegal das vagas. 
 
Outro precedente no mesmo sentido: 
(...) No julgamento da ADI 1.199 (Rel. Min. Joaquim Barbosa, Pleno, DJ de 16/6/2006), a declaração de 
inconstitucionalidade de norma do Estado do Espírito Santo que assegurava a permanência em quadro 
especial de defensores públicos contratados sem concurso após a instalação da Assembleia Nacional 
Constituinte se deu com efeitos ex tunc, daí porque não é cabível a invocação de exceção não prevista 
nesse julgado para fins de reintegração desses servidores. (...) 
STF. 2ª Turma. Rcl 15796 ED-AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 18/08/2015. 
 
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DIREITO PENAL 
 
REGIME INICIAL 
Fixada a pena-base no mínimo legal, não é possível a imposição de 
regime inicial mais severo do que aquele abstratamente imposto 
 
Se todas as circunstâncias judiciais são favoráveis, de forma que a pena-base foi fixada no 
mínimo legal, então, neste caso, não cabe a imposição de regime inicial mais gravoso. 
STF. 2ª Turma. RHC 131133/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/10/2017 (Info 844). 
Obs: o STJ possui um enunciado nesse sentido: 
Súmula 440-STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional 
mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata 
do delito. 
 
Fixação do regime inicial 
O juiz, ao prolatar a sentença condenatória, deverá fixar o regime no qual o condenado iniciará o 
cumprimento da pena privativa de liberdade. A isso se dá o nome de fixação do regime inicial. 
Os critérios para essa fixação estão previstos no art. 33 do Código Penal. 
 
O que o juiz deve observar na fixação do regime inicial? 
O juiz, quando vai fixar o regime inicial do cumprimento da pena privativa de liberdade, deve observar 
quatro fatores: 
1) o tipo de pena aplicada: se reclusão ou detenção; 
2) o quantum da pena definitiva; 
3) se o condenado é reincidente ou não; 
4) as circunstâncias judiciais (art. 59 do CP). 
 
Vamos organizar a aplicação desses quatro fatores: 
 
RECLUSÃO 
O regime inicial 
pode ser: 
 
FECHADO: se a pena é superior a 8 anos. 
 
 
SEMIABERTO: se a pena foi maior que 4 e menor ou igual a 8 anos. 
Se o condenado for reincidente, o regime inicial, 
para esse quantum de pena, é o fechado. 
 
 
ABERTO: se a pena foi de até 4 anos. 
Se o condenado for reincidente, o regime inicial, 
para esse quantum de pena, será o semiaberto ou o fechado. 
O que irá definir isso vão ser as circunstâncias judiciais: 
 se desfavoráveis, vai para o fechado; 
 se favoráveis, vai para o semiaberto. 
 
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Súmula 269-STJ: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos 
reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as 
circunstâncias judiciais. 
 
 
 
DETENÇÃO 
O regime inicial 
pode ser: 
 
FECHADO: nunca 
 
 
SEMIABERTO: se a pena foi maior que 4 anos. 
 
 
ABERTO: se a pena foi de até 4 anos. 
Se o condenado for reincidente, o regime inicial é o semiaberto. 
 
 
É possível que seja imposto ao condenado primário um regime inicial mais rigoroso do que o previsto 
para a quantidade de pena aplicada? Ex.: uma pessoa pode ser condenada a 6 anos de reclusão e o juiz 
fixar o regime inicial fechado? 
SIM, é possível, desde que o juiz apresente motivação idônea na sentença. 
Súmula 719-STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir 
exige motivação idônea. 
 
O juiz pode fundamentar a imposição do regime mais severo devido ao fato do crime praticado ser, 
abstratamente, um delito grave? Ex.: o juiz afirma que, em sua opinião, no caso de tráfico de drogas o 
regime deve ser o fechado em razão da gravidade desse delito. 
NÃO. A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime NÃO constitui motivação idônea paraa imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada (Súmula 718-STF). 
 
O que é considerado, então, motivação idônea para impor ao condenado regime mais gravoso? 
Exige-se que o juiz aponte circunstâncias que demonstrem que o fato criminoso, concretamente, foi grave. 
Se as circunstâncias judiciais do art. 59 forem desfavoráveis, é possível que o juiz se fundamente nesses 
dados para impor ao condenado regime inicial mais gravoso que o previsto para a quantidade de pena 
aplicada. Nesse sentido: 
(...) Se as penas-base de ambos os crimes são fixadas acima do mínimo legal em face da valoração negativa 
das circunstâncias do art. 59 do Código Penal, não há ilegalidade na imposição de regime inicial mais 
gravoso do que o abstratamente previsto de acordo com a quantidade de pena aplicada. (...) 
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1471969/RN, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 20/11/2014) 
 
Se a pena privativa de liberdade foi fixada no mínimo legal, é possível a fixação de regime inicial mais 
severo do que o previsto pela quantidade de pena? Ex.: Paulo, réu primário, foi condenado a uma pena 
de seis anos de reclusão. As circunstâncias judiciais foram favoráveis. Pode o juiz fixar o regime inicial 
fechado? 
NÃO. A posição que prevalece é a de que, fixada a pena-base no mínimo legal e sendo o acusado primário 
e sem antecedentes criminais, não se justifica a fixação do regime prisional mais gravoso. 
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 303.275/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 03/02/2015. 
 
O STJ possui um enunciado no mesmo sentido: 
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Súmula 440-STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais 
gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito. 
 
Esse é também o entendimento do STF: 
Habeas corpus. Penal. Processual penal. Roubo. Artigo 33, § 2º, do CP. Imposição de regime inicial de 
cumprimento de pena mais gravoso. Possibilidade, desde que seja a decisão devida e concretamente 
fundamentada. Circunstâncias judiciais reconhecidamente favoráveis. Pena-base fixada no mínimo legal. 
Ausência de fundamentação apta ao agravamento do regime prisional. Habeas corpus deferido. 
(...) 
3. A Corte tem entendido que a fixação de regime mais severo do que aquele abstratamente imposto pelo 
art. 33, § 2º, do CP não se admite senão em virtude de razões concretamente demonstradas nos autos. 
4. Ausência, no caso concreto, de fundamentação válida, nas razões de convencimento, para a fixação do 
cumprimento da pena em regime inicialmente fechado. 
STF. 1ª Turma. HC 118.230, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 08/10/2013. 
 
Resumindo: 
Se todas as circunstâncias judiciais são favoráveis, de forma que a pena-base foi fixada no mínimo legal, 
então, neste caso, não cabe a imposição de regime inicial mais gravoso. 
STF. 2ª Turma. RHC 131133/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/10/2017 (Info 844). 
 
 
 
DIREITO PENAL E 
PROCESSUAL PENAL MILITAR 
 
CRIME MILITAR 
Militar que inseriu declaração falsa em documento liberando 
indevidamente embarcação sem as vistorias necessárias 
 
Compete à Justiça Militar julgar militar acusado de autorizar a navegação de uma balsa sem a 
realização de vistorias necessárias. 
Essa conduta caracteriza-se como sendo falsidade ideológica (art. 312 do CPM), sendo crime 
militar, nos termos do art. 9º, II, “e”, do CPM. 
STF. 1ª Turma. HC 110233/AM, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 
10/10/2017 (Info 881). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João, Capitão-Tenente da Marinha do Brasil, servia na Capitania Fluvial localizada em determinado 
Município. 
Determinado dia, ele inseriu declaração falsa em documento, liberando indevidamente um barco para 
navegação e afirmando no documento que a embarcação havia passado pelas vistorias necessárias. 
Foi, então, denunciado pela prática de falsidade ideológica, crime militar previsto no art. 312 do CPM: 
Art. 312. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dêle devia constar, ou nêle 
inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar 
direito, criar obrigação ou alterar a verdade sôbre fato jurìdicamente relevante, desde que o fato 
atente contra a administração ou o serviço militar: 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 881-STF (17/10/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
Pena - reclusão, até cinco anos, se o documento é público; reclusão, até três anos, se o documento 
é particular. 
 
O réu suscitou a incompetência da Justiça Militar alegando que os fatos ocorreram num contexto de prestação 
de serviços públicos federais desvinculados das funções de natureza militar, típicas das Forças Armadas. 
Argumentava que ele atuou em atividade de polícia administrativa naval, atuação subsidiária das Forças 
Armadas, não atraindo a incidência do Código Penal Militar. 
Assim, pedia o arquivamento da ação penal e a nulidade do processo, com o declínio da competência para 
a Justiça Federal comum. 
 
A tese da defesa foi aceita pelo STF? 
NÃO. 
Compete à Justiça Militar julgar militar acusado de autorizar a navegação de uma balsa sem a realização 
de vistorias necessárias. 
STF. 1ª Turma. HC 110233/AM, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 
10/10/2017 (Info 881). 
 
O réu falsificou documento de regularidade técnica necessário para a navegação de embarcação civil. 
O delito de falsidade ideológica tem natureza formal, ou seja, é consumado independentemente do 
resultado, e foi praticado em detrimento da fé pública militar, considerando que o documento falsificado 
tinha natureza militar. 
Dessa forma, o STF entendeu que a conduta se amoldava ao crime militar previsto no art. 9º, II, “e”, do CPM. 
“Temos um acusado que, ostentando a condição de militar em atividade, vulnerou a ordem administrativa 
militar consistente na segurança da navegação aquaviária de incumbência expressa da Marinha do Brasil, 
não deixando nenhuma dúvida quanto à competência da Justiça Militar para o caso.” (Min. Roberto Barroso). 
 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
Julgue os itens a seguir: 
1) Segundo decidiu o STF, o Poder Judiciário não possui competência para impor aos Deputados Federais e 
Senadores as medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP. ( ) 
2) O Poder Judiciário possui competência para impor aos parlamentares, por autoridade própria, as 
medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP, seja em substituição de prisão em flagrante delito por 
crime inafiançável, por constituírem medidas individuais e específicas menos gravosas; seja 
autonomamente, em circunstâncias de excepcional gravidade. ( ) 
3) Foi assegurado assegurado aos defensores públicos investidos na função até a data de instalação da 
Assembleia Nacional Constituinte o direito de opção pela carreira, com a observância das garantias e 
vedações previstas na Constituição. ( ) 
4) É inconstitucional a contratação, sem concurso público, após a instalação da Assembleia Constituinte, de 
advogados para exercerem a função de Defensor Público estadual. ( ) 
5) Se todas as circunstâncias judiciais são favoráveis, de forma que a pena-base foi fixada no mínimo legal, 
então, neste caso, não cabe a imposição de regime inicial mais gravoso. ( ) 
6) Compete à Justiça Federal comum julgar militar acusado de autorizar a navegação de uma balsa sem a 
realização devistorias necessárias. ( ) 
 
Gabarito 
1. E 2. C 3. C 4. C 5. C 6. E

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