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0 Uso de Equações Diferenciais no Estudo da Cinética Química de uma Reação de 1ª Ordem Guilherme Henrique Wendland, gui_weendland@hotmail.com1 Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ 1. Introdução A cinética química é o ramo da Química que estuda a velocidade de uma reação, bem como os fatores que a influenciam, tais como a concentração, temperatura e pressão (CHANG, 2008). Apesar de a termodinâmica nos esclarecer a direção e a extensão de uma mudança química, ela não nos diz como e nem a que velocidade a reação se realiza. (ANGELUCCI, C. A; GODOI, G.S, 2010) Ao estudar a termodinâmica, consideramos somente os estados iniciais e finais de um processo químico, mas ignoramos o que acontece entre eles, no entanto o interesse de estudo da cinética química está baseado nos estados intermediários de um processo químico, investigando os detalhes das mudanças que os átomos e moléculas sofrem durante uma reação. (ATKINS, P.W, JONES, L, 2006) O presente trabalho tem o intuito de demonstrar a utilização de equações diferenciais no estudo da cinética química, mais especificamente em reações de primeira ordem, onde será abordado o estudo da cinética química na reação de decomposição catalítica do peróxido de hidrogênio em meio aquoso. 2. Metodologia A velocidade de uma reação química refere-se à variação da concentração de uma substância por unidade de tempo (CHANG, 2008). Durante uma reação química, as quantidades de reagentes diminuem com o passar do tempo, e as quantidades de produtos aumentam. Para que uma reação química ocorra é preciso que as moléculas dos reagentes interajam entre si, de modo com que seus átomos sejam trocados ou rearranjados. A partir de experimentos científicos pode-se obter informações sobre as concentrações das espécies reagentes em função do tempo, onde a equação de 1 velocidade que rege a reação é uma equação diferencial que nos dá as velocidades de variação das concentrações das espécies reagentes ( 𝑑[𝐴] 𝑑𝑡 ) (ANGELUCCI, C. A; GODOI, G.S). Para obter-se as concentrações frente ao tempo a partir da equação cinética deve-se integrar a equação. A relação entre a velocidade de uma reação química e as concentrações dos reagentes é complexa e deve ser determinada experimentalmente. Com relação à equação geral apresentada, usualmente a velocidade da reação pode ser expressa como: α [A]x[B]y = k[A]x[B]y Esta equação, conhecida como a lei de velocidade, nos diz que a velocidade de uma reação não é constante, seu valor em um tempo t qualquer é proporcional às concentrações de A e B elevadas a determinadas potências. (CHANG, 2008) A constante de proporcionalidade, k, é denominada constante de velocidade, e é definida nos termos das concentrações dos reagentes. De acordo com Chang (2008), a constante de velocidade para determinada reação não depende das concentrações dos reagentes e é afetada somente pela temperatura. Ao expressar a velocidade de uma reação podemos definir a ordem de reação, por exemplo, dizemos que a reação é de ordem x com relação a A e de ordem y com relação a B (CHANG, 2008). Assim, a reação tem uma ordem total (x+y), sendo de grande importância entender que a ordem de um reagente na expressão de velocidade não possui relação com o coeficiente estequiométrico em uma equação química balanceada. A ordem de uma reação pode ser zero, um número inteiro ou um número fracionário. Podemos usar a lei de velocidade para determinar as concentrações de reagentes em qualquer tempo durante o curso de uma reação. (CHANG, 2008), para determinar a lei de velocidade devemos integrar as expressões da lei de velocidade. 2.1 Reações de Primeira Ordem Uma reação de 1ª ordem é aquela em que a velocidade da reação depende somente da concentração do reagente elevada a primeira potência: (CHANG, 2008) (1) 2 Velocidade = −𝑑[𝐴] 𝑑𝑡 = k[A] Onde o k, como falado anteriormente é a constante de velocidade. Rearranjando está equação teremos: −𝑑[𝐴] 𝑑𝑡 = kdt Integrando entre t=0 e t=t com concentrações [A]0 e [A], obtemos a seguinte equação: ∫ 𝑑[𝐴] [𝐴] [𝐴] [𝐴]0 = - ∫ 𝑘𝑑𝑡 𝑡 0 [𝐴] [𝐴]0 = -kt [A] = [A]0 𝑒−𝑘𝑡 A primeira expressão para a lei de velocidade integrada para uma reação de primeira ordem é a equação de uma reta, portanto se a equação em estudo for de primeira ordem o gráfico de ln [𝐴]𝑡 [𝐴]0 = -kt contra o tempo (t), terá de ser uma reta. (CHANG, 2008) 2.2 Meia-vida de uma Reação de Primeira Ordem O tempo de meia-vida de uma reação química possui grande importância prática em estudos cinéticos. Uma reação de primeira ordem, independendo da concentração inicial possui um tempo de meia-vida bem definido, e pode ser tratado como o tempo com que a concentração de um reagente diminui pela metade do seu valor original (CHANG, 2008). O tempo de meia vida pode ser determinado através da seguinte equação: T1/2 = 𝑙𝑛2 𝑘 3. Resultados e Discussões Para o estudo cinético foi realizado o experimento da decomposição catalítica do peróxido de hidrogênio em meio aquoso, com a seguinte reação química: 2H2O2(aq) 2H2O(l) + O2(g) (2) (3) (4) (5) (6) (7) 3 O experimento foi realizado nas dependências da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, na disciplina de Físico-Química II, e teve como objetivo avaliar a ação do catalisador Fe (III) sobre a decomposição do peróxido de hidrogênio, e calcular o tempo de meia-vida para o mesmo. Para a avaliação foram realizados 7 ensaios, onde utilizou-se solução de H2SO4, 1:5 (v/v), solução de 0,16 mol/L de H2O2, substância em estudo, e solução 6% de Fe (III), por fim para titulação, solução de KMnO4 8,0 x 10 -3 mol/L. A seguinte reação de oxirredução ocorre no experimento: 2MnO4 - (aq) + 5H2O2(aq) + 6H + (aq) 2Mn2+(aq) + 8H2O(l) + 5O2(g) Utilizando os dados da tabela 1, foram realizados os seguintes cálculos para os sete ensaios, tomando por exemplo o frasco 1, foi calculado o número de mols de MnO4 -: Pela estequiometria da reação temos a relação de 2 mol de MnO4 - para 5 mol de H2O2, deste modo descobrimos o número de mols de H2O2 presente na solução: Como foram adicionados 5 mL de H2O2 na solução, a concentração final de H2O2 será: 2MnO4----5H2O2 8,8x10-5------x X = 2,2x10-4 mol/L 5mL----2,2x10-4 mol/L 1000mL--------x X = 0,044 mol/L 1000 mL---- 0,008 mol/L 11 mL---------- x X = 8,8 x 10-5 mol/L 4 Abaixo os dados para o experimento, sendo na Tabela 1 o ln V[KMnO4] e na tabela 2 o ln [H2O2]: Pode-se observar neste experimento que a substância em estudo tanto na comparação do ln V[KMnO4] e do ln[H2O2] versus o tempo, tratou-se de uma reação de primeira ordem. Os gráficos plotados em função do tempo nos dois casos nos forneceram em ambos uma reta, onde os gráficos 1 e 2 comprovam afirmação de que se trata de uma reação de primeira ordem. Frasco Tempo(s) Volume de Permanganato gasto na titulação ln V[KMnO4] 1 0 11 2,3978 2 3,36 8,5 2,1400 3 6,43 6,1 1,8080 4 8,27 5 1,6090 5 10,1 4,5 1,5040 6 11,5 3,7 1,3080 7 14,46 2,8 1,0290 Frasco Tempo(s) Concentração de H2O2 (mol/L) ln [H2O2]1 0 0,044 -3,12357 2 3,36 0,034 -3,38139 3 6,43 0,024 -3,72970 4 8,27 0,020 -3,91202 5 10,1 0,0180 -4,01730 6 11,5 0,0148 -4,21313 7 14,46 0,0112 -4,49184 Tabela 1 – Tempo x Volume x ln V[KMnO4] Gráfico 1 – ln V[KMnO4] x Tempo Fonte: Autor Tabela 2 – Tempo x Concentração H2O2 x ln V[H2O2] -5 -4,5 -4 -3,5 -3 -2,5 -2 -1,5 -1 -0,5 0 1 2 3 4 5 6 7 ln V [K M n O 4 ] Tempo ln Linear (ln) Fonte: Autor Fonte: Autor 5 Já conhecida a ordem de reação através do experimento, podemos por meio das equações diferenciais determinar a expressão, lei de reação, de primeira ordem. A equação 6, já integrada é a lei da reação de primeira ordem, e para este estudo a usamos para determinação da constante k, e por fim efetuar o cálculo do tempo de meia-vida através da equação 7. Abaixo, tomamos por exemplo o frasco 2 para os cálculos da constante, k, e o tempo de meia vida: [A] = [A]0 𝑒−𝑘𝑡 0,034 = 0,044 e-k x 3,36 0,034 0,044 = e-k x 3,36 ln 0,7727 = ln e-k x 3,36 -0,2578 = -k x 3,36 −0,2578 3,36 = -k 𝑘 = 0,0767 T1/2 = 𝑙𝑛2 𝑘 T1/2 = ln 2 0,0767 T1/2 = 9,0371 s Gráfico 2 - ln[H2O2] x Tempo Fonte: Autor -5 -4,5 -4 -3,5 -3 -2,5 -2 -1,5 -1 -0,5 0 1 2 3 4 5 6 7 ln [ H 2O 2] Tempo ln Linear (ln) 6 Na tabela 3 os resultados, tanto para constante, k, como o tempo de meia-vida para os sete ensaios: A partir dos cálculos do tempo de meia vida observou-se que conforme a decomposição do H2O2 ocorria, sua concentração diminuía, o que ocasionou o decaimento do tempo de meia-vida. No gráfico 3 pode ser visto a diminuição do tempo de meia-vida conforme o decaimento da concentração. 4. Considerações Finais Através deste experimento a importância do uso de catalisadores em reações químicas se mostrou de grande importância, pois o peróxido de hidrogênio em meio aquoso possui velocidade de reação lenta, e com o uso do catalisador Fe (III) conseguimos Frasco Tempo (s) [H2O2] mol/L Constante de Velocidade (k) Tempo de meia-vida (t1/2) 1 0 0,044 - - 2 3,36 0,034 0,0767 9,0371 3 6,43 0,024 0,0942 7,3582 4 8,27 0,020 0,0953 7,2733 5 10,1 0,018 0,0884 7,8410 6 11,5 0,0148 0,0947 7,3194 7 14,46 0,0112 0,0946 7,3271 Tabela 3 – Tempo x Concentração H2O2 x Constante de velocidade (k) x Tempo de meia -vida 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 2 3 4 5 6 7 [H 2 O 2 ] Tempo de meia-vida Tempo Gráfico 3 – [H2O2] x Tempo de Meia-Vida Fonte: Autor Fonte: Autor 7 acelerar sua reação de decomposição, o que facilitou a determinação da lei de velocidade de 1ª ordem. O uso das Equações diferenciais mostram-se importante em vários aspectos. Na cinética química as equações diferenciais são essenciais, tanto no cálculo da constante de velocidade em qualquer tempo, como no cálculo do tempo de meia-vida. O experimento tinha por objetivo avaliar a decomposição do peróxido de hidrogênio, e determinar sua lei de reação. Através dos gráficos ln V[KMnO4] e ln [H2O2] constatou-se que a reação proposta tratava-se de uma equação de primeira ordem. 5. Referências [1] CHANG, R. Físico-Química para as Ciências Químicas e Biológicas. 3ª ed. São Paulo: McGrawHill, 2008, v.1. [2] ATKINS, P.W; JONES, Loretta. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 3ª ed. Porto Alegre. Editora Bookman, 2006. [3] ATKINS, P.; PAULA, J. Físico-química. 9.ed. Rio de Janeiro: LTC , 2012. v.2. [4] ANGELUCCI, C. A; GODOI, G.S. Cinética Química. São Cristovão. 2010.
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