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Atividade 03 turma 7hrs

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ATIVIDADE 03 – O DIREITO NO CINEMA
Matéria: Instituição de Direito Público e Privado
Turma: ter-qui (07:00-0850)
Docente: Camila Magalhães
 O DIREITO NO CINEMA
 Resenha do filme Carandiru
                                                              Sobre a obra:
Carandiru foi um filme dirigido por Hector Babenco, lançado em 2003 e baseado na obra Estação Carandiru escrita pelo Dr. Dráuzio Varella. O filme aborda as histórias contadas por diversos detentos que tiveram contato com o médico, portanto, vários são os depoimentos de como cada detento chegou ali, sobre a sua rotina dentro da cadeia e sobre as suas relações amorosas. Por outro lado, o filme retrata - com um caráter realista - as condições em que cada um dos presos são submetidos, como a superlotação de celas, a proliferação de doenças - a AIDS é um exemplo delas - ou a infestação de animais. Outro ponto importante abordado no filme é a falta de assistência para os detentos, seja ela psíquica ou médica. 
No filme, algumas personagens são representadas de forma caricata e estereotipados em sua raça, gênero, sexualidade e classe social. Dessa forma, o imaginário do senso comum é reforçado, ou seja, o preso é visto como um indivíduo quase animalesco, sem desprovimento de intelecto crítico destes sobre as suas realidades.
Ainda sobre os personagens, a história se estrutura em torno do médico e dos detentos do Carandiru. O médico - este contido em uma posição mais privilegiada socialmente - promove um trabalho de prevenção à AIDS e do seu relacionamento com os detentos, nasce a figura de um confidente. Os presos, por sua vez, trazem uma forte carga de crítica social. Cabe aqui citar alguns: Nego Preto - espécie de autoridade na prisão, capaz de julgar e aplicar as sanções como um juiz final, Lady Di - representa a figura do travesti, Majestade - respeitado e comanda o tráfico na prisão, Deusdete - decidido a vingar sua irmã e aplicar o “direito” como acha certo, com as próprias mãos.
                                              O Direito na obra “Carandiru”:
1. O princípio da dignidade da pessoa humana:
O princípio da dignidade da pessoa humana - exposto no art. 1º, III da Constituição Federal - concede a unidade dos direitos fundamentais à todas as pessoas. Portanto, é dever do Estado Democrático de Direito oferecer condições para que as pessoas se tornem dignas, o que, atualmente, pode ser questionado haja vista o não cumprimento desse dever elementar. No filme, o princípio da dignidade da pessoa humana é ferido diversas vezes, afinal, o preso é visto como um ser inferior e encontra-se em condições sub-humanas.
O “setor amarelo” da Casa de Detenção é um exemplo claro de ferimento ao princípio da dignidade da pessoa humana, onde os presos ficam amontoados nas celas, sem nenhum tipo de iluminação ou ventilação, correndo, inclusive, risco de vida ao permanecerem no local. 
No que diz respeito, à saúde dos presos, uma série de irregularidades que resultam da omissão do Estado, podem ser citadas. A sarna, por exemplo, foi representada em uma cena do filme em que vários detentos se encontram presos numa cela e quase todos possuem a doença de pele. 
2. A hierarquia e as normas no presídio: 
O filme inicia-se com um desentendimento entre presos e para conter a confusão, “Nego”, o responsável pelo pavilhão, se impõe. A partir dessa cena, podemos perceber que quem comanda o presídio são os residentes do local. Além disso, é possível observar que as regras obedecidas no presídio transcendem as normas jurídicas positivadas, transformando em costumes locais impostos pelos presos de maior escala hierárquica. 
3. O tráfico de drogas:
Em Carandiru, é comum que os usuários de drogas consumam entorpecentes diante dos seus companheiros sem que haja qualquer intervenção dos agentes penitenciários ou da Polícia Militar de Choque, o que revela, portanto, total omissão do poder estatal no que diz respeito ao combate às drogas. 
4. O massacre do Carandiru:
No tocante ao histórico massacre é possível inferir que houve uma total violação do direito humano primordial: a vida, no momento em que a tropa de choque invade o presídio e, “com o objetivo de conter” uma briga, mata cento e um presidiários. O Estado brasileiro, portanto, trata os seus presídios como locais em que o direito não existe, demonstrando, em certo grau, um caráter totalitário.  
                                             Importância do Direito:
Por fim, vale fazer algumas ressalvas a respeito do tema. Primeiro, a situação de presidiário limita, mas não extingue os seus direitos: continuam sendo protegidos pelo direito à vida, à saúde, à dignidade da pessoa humana. Ao longo do filme, muitos desses direitos - citados ao longo do art. 5° da Constituição - se mostram violados e demonstram a importância da proteção e do papel do Estado.
Não se pode esquecer das características que cercam o Direito e os seus objetivos. A igualdade de direitos, as normas positivadas (que determinam como as situações devem acontecer), as formas de resolução de conflitos, dentre as tantas características que cercam o Direito Moderno, desempenham papel preponderante. 
Cabe ressaltar, ainda, a respeito do julgamento do massacre do Carandiru. Em 2 de outubro de 1992, após rebelião, 111 presos foram mortos no presídio. No entanto, passados 26 anos, os responsáveis pelas mortes ainda não foram julgados. 
Recentemente, no dia 22 de maio de 2018, o TJ-SP em mais uma decisão polêmica optou por manter a anulação do julgamento do caso e ainda criou uma nova etapa para o processo, o que pode resultar na absolvição dos policiais militares acusados. Nos anos de 2013 e 2014, 74 policiais haviam sido condenados, no entanto, essas decisões foram anuladas pelo TJ em 2016. 
O Estado (Poder Judiciário), portanto, se revela, através de sua inércia, mais uma vez desfavorável ao que propõe os direitos fundamentais. Por certo, diversos fatores como raça ou classe econômica dos mortos, bem como a condição de cárcere, influenciam nessa lentidão do Poder Judiciário e na possível absolvição dos militares.

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