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0 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Graduação em Administração de Empresas Paulo Henrique Félix Duarte TOCANDO EM FRENTE: Um estudo sobre empreendedorismo musical Arcos 2016 1 Paulo Henrique Félix Duarte TOCANDO EM FRENTE: Um estudo sobre empreendedorismo musical Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Administração. Orientador: Profa. Cíntia Borges Leal Arcos 2016 2 AGRADECIMENTOS À minha orientadora, Profa. Cíntia Borges Leal, que possibilitou a realização desta pesquisa e que sempre se mostrou colaborativa a me ajudar. À Profa. Isabel Cristina da Silva Arantes, que me sugeriu o tema da monografia, sabendo da minha grande paixão por música. Aos professores Késia Aparecida Teixeira Silva e Ramon Silva Leite, por terem contribuído nas etapas iniciais da pesquisa. Aos músicos Thalita Aneda, Saullo Morais e Carol Shineider por terem me concedido as entrevistas e demonstrarem interesse e colaboração com o estudo. Aos 125 respondentes dos questionários aplicados, que dedicaram seu tempo para contribuir com a pesquisa. Agradeço também à OMB – Ordem dos Músicos do Brasil, pela colaboração essencial para o desenvolvimento do trabalho. A todos que acreditaram em mim, me dando apoio e colaborando para a realização deste trabalho. 3 RESUMO Este trabalho buscou analisar características empreendedoras de músicos, de diversos gêneros musicais, residentes no estado de Minas Gerais. A pesquisa embasou-se em diversas obras sobre o empreendedorismo e características empreendedoras, adotando como parâmetro principal os estudos que desenvolveram o modelo PPE – Perfil do Potencial Empreendedor. Buscou-se também, nas consultas ao acervo teórico, embasar-se acerca da indústria da música e de termologias essenciais para compreende-la. Para alcançar os resultados esperados, o presente estudo pautou-se de uma metodologia qualitativa, sendo caracterizada por entrevistas semiestruturadas que compreenderam três músicos de diferentes gêneros musicais. A pesquisa compreendeu também uma metodologia quantitativa, sendo aplicados questionários a 125 músicos de todo o estado de Minas Gerais. As conclusões compreendem as características empreendedoras presentes nos músicos, bem como as características de menor influência, e ao fim, levanta novas indagações sobre o tema empreendedorismo, tanto no sentido mais amplo, quanto no mais específico, como é o caso do empreendedorismo musical. Palavras chaves: empreendedorismo, características empreendedoras, música, indústria da música. 4 ABSTRACT This work aims to analyze the entrepreneurial characteristics of musicians, from different musical genres, living in the state of Minas Gerais, Brazil. The research was based on several works on entrepreneurship and entrepreneurial characteristics, adopting as main parameter the studies that developed the PPE - Entrepreneurial Potential Profile model. It was also sought, in the consultations to the theoretical collection, to base itself on the music industry and thermologies essential to understand it. To achieve the expected results, the present study was based on a qualitative methodology, being characterized by semi-structured interviews that included three musicians of different musical genres. The research also included a quantitative methodology, and questionnaires were applied to 125 musicians from the entire state of Minas Gerais, Brazil. The conclusions include the entrepreneurial characteristics present in the musicians, as well as the characteristics of less influence, and to the end, raises new questions about the theme of entrepreneurship, both in the broader sense and in the more specific, as is the case of musical entrepreneurship. Keywords: entrepreneurship, entrepreneurial characteristics, music, music industry. 5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................6 1.1 Problemática.........................................................................................................8 1.2 Justificativa...........................................................................................................8 1.3 Objetivos...............................................................................................................9 1.3.1 Objetivo Geral....................................................................................................9 1.3.2 Objetivos Específicos........................................................................................10 2 REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................................11 2.1 Empreendedorismo............................................................................................11 2.2 Características empreendedoras.....................................................................17 2.2.1 O modelo McClelland........................................................................................18 2.2.2 O modelo de Carland........................................................................................20 2.2.3 O modelo PPE...................................................................................................20 2.3 A indústria da música........................................................................................25 3 METODOLOGIA.....................................................................................................32 3.1 Sujeitos de pesquisa, universo e amostra.......................................................32 3.2 Instrumento e técnica de coleta de dados.......................................................33 3.5 Instrumentos de análise de dados....................................................................34 4 ANÁLISE DE DADOS.............................................................................................35 4.1 Perfil dos músicos..............................................................................................35 4.2 História e trajetória.............................................................................................38 4.3 Potencial empreendedor...................................................................................41 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................60 REFERÊNCIAS..........................................................................................................62 APÊNDICE A – Questionário quantitativo..............................................................65 APÊNDICE B – Roteiro de entrevista......................................................................67 6 1 INTRODUÇÃO O conceito de empreendedorismo tem sido muito difundido no Brasil nos últimos anos, intensificando-se no final da década de 1990, mas cujo início, como marco na consolidação do tema e de sua relevânciapara o país, ocorreu a partir do ano 2000 (DORNELAS, 2014). O autor atribui o fenômeno a alguns fatores, como a desestabilização da economia, que provocou desemprego e fez com que os ex- funcionários deslumbrassem em seus próprios negócios uma alternativa de sobrevivência financeira. A partir daí, o empreendedorismo tem sido alvo de estudos que buscam mapear características empreendedoras, para que sejam trabalhadas ou desenvolvidas nos que buscam grandes perspectivas de crescimento. Duarte (2009) classifica o empreendedor como uma pessoa com características comportamentais que lhe confere a capacidade, o talento e a coragem para lançar-se em desafios, criando ou recriando um negócio, com a visão de futuro, desenvolvendo-o a partir de uma oportunidade ou de uma necessidade, elementos primordiais da ação empreendedora. A partir deste conceito podemos compreender o empreendedorismo não somente em profissionais formais, mas também em profissionais liberais. Nesse sentido, busca-se, por meio deste estudo, analisar características empreendedoras em músicos independentes da música popular brasileira, residentes no estado de Minas Gerais, através de entrevistas semiestruturadas, aplicadas a três músicos de diferentes segmentos musicais, e questionários quantitativos, aplicados a 125 artistas do segmento musical, de diferentes localidades. Tanto os questionários qualitativos quanto os roteiros de entrevista tiveram como base as questões abordadas no modelo PPE – Potencial do Perfil Empreendedor, desenvolvido por Viet & Filho (2007). O mercado fonográfico pode ser conceituado, de forma superficial, como a produção e comercialização de suportes como CDs, DVDs, VHS, singles, K7s e de música digital (NETO, SILVA, SOUSA & SOUSA, 2014). O mercado da música movimentou, somente no ano de 2014, o total de R$581,7 milhões em receitas no território nacional, segundo dados publicados na ABPD – Associação Brasileira dos Produtores de Disco (2014). Valor que demonstra um crescimento de 2% em relação ao ano anterior. Outro ponto curioso divulgado pela ABPD (2014), replicando dados 7 da IFPI – Federação Internacional da Indústria Fonográfica, é que as vendas físicas caíram 8,1% em índices mundiais, e as vendas digitais alavancaram 6, 9%, já representando 46% das vendas mundiais, por influência, principalmente, do bom desempenho do segmento de subscrição para acesso à música por streaming. Índices significativos relacionados à música na internet não representam grande surpresa, tendo em vista a evolução nos meios de distribuição fonográfica em relação ao desenvolvimento tecnológico. Porém existe o grande desafio da indústria fonográfica de lidar com o dowload ilegal de músicas pela internet (ALVIM, STREHLAU & KIRSCHBAUM, 2013). Apesar do crescimento no volume de receitas de música digital, a indústria fonográfica vem diminuindo significativamente nos últimos anos (MARTINS & SLONGO, 2014). Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), a indústria fonográfica vem encolhendo ano a ano em termos mundiais. No Brasil esse processo de diminuição de mercado tem sido mais agudo. Entre 1997 e 2003, a retração nas vendas chegou a 50% em valores nominais. No mesmo período, a participação do mercado ilegal atingiu 52% do total, num setor que faturou R$ 601 milhões em 2003 — somando CDs, DVDs e vídeos musicais. Dados da Associação Protetora dos Direitos Intelectuais Fonográficos (APDIF), considerando a inflação no período, apontaram para uma queda no faturamento com a venda de CDs em até 68% (NETO, SILVA, SOUSA & SOUSA, 2014). A internet possibilitou diversas formas de venda de música digital, como serviços de assinatura, downloads, dentre outros. Estima-se em 885 milhões o número de arquivos disponíveis para download nas redes domésticas em todo o mundo – apontadas como principal fonte de downloads ilegais de músicas –, contra cerca de seis milhões de faixas em sites licenciados para venda on-line de música digital (NETO, SILVA, SOUSA & SOUSA, 2014). Portanto, podemos citar a internet como uma “faca de dois gumes”, sendo fonte de receita através da comercialização da música digital, porém devemos considerar também o fator pirataria, como já citado anteriormente. O foco deste estudo é a mensuração das características empreendedoras em músicos, em grande maioria independentes, de diferentes gêneros musicais, do estado de Minas Gerais. Neto, Silva, Sousa & Sousa (2014) trazem que o termo Independente originou-se nos Estados Unidos, onde há uma longa história em 8 relação aos pequenos empreendimentos fonográficos. Frith (1981), citado por Neto, Silva, Sousa & Sousa (2014), afirma que o termo independente está ligado ao desenvolvimento do Blues, do Jazz e notadamente do Rock n’ Roll. Isso se deve, imprescindivelmente, a questões de períodos históricos, como por exemplo, a música popular brasileira nos dias atuais, que perdeu espaço para segmentos como funk brasileiro, pop americano, axé e vertentes do sertanejo, e teve que recorrer a meios alternativos para disseminação da nova MPB. O mercado fonográfico é, como qualquer outro mercado, metamórfico. Neste contexto as características empreendedoras acabam por gerar vantagem competitiva tal como no mercado varejista, por exemplo. Buscando responder a problemática apresentada a seguir, o presente estudo estrutura-se, inicialmente, na apresentação da justificativa, seguida pelos objetivos da pesquisa. Posteriormente será apresentado o estudo teórico, juntamente com o modelo PPE – Perfil do Potencial Empreendedor, bibliografia base para a coleta e tabulação dos dados. Após a apresentação da revisão bibliográfica, serão especificados, no tópico da metodologia, sobre os questionários e as entrevistas, bem como o caráter de pesquisa, público-alvo e demais fatores metodológicos. 1.1 Problemática A partir do conceito de empreendedorismo e dos fatores relacionados ao mercado musical, o presente estudo propõe-se a responder a seguinte questão: quais características empreendedoras é possível identificar e nos músicos residentes em Minas Gerais? 1.2 Justificativa O empreendedorismo é tema de diversos estudos realizados dentro da área da administração. Por se tratar de um assunto amplo, observa-se uma grande ramificação de pontos e estudos específicos, relacionados diretamente a uma área, como é o caso do empreendedorismo musical. Neste sentido, o presente estudo busca enriquecer o debate da temática, através do compartilhamento de conhecimento sobre este estilo de empreendedorismo vivenciado na sociedade. 9 Câmara & Andalécio (2012) reforçam a importância do estudo do empreendedorismo, afirmando que esse entendimento pode ser útil para definição de programas de desenvolvimento nas características empreendedoras presentes ou reforço nas ausentes. A presente pesquisa justifica-se também pela importância do estudo da indústria musical, bem como o esclarecimento de conceitos e identificação de pontos fortes e fracos dos músicos, sobre uma ótica empreendedora. A música está por toda parte. Reconhecer e trazer esse mercado para os estudos científicos é extremamente válido. Há também um engrandecimento através do estudo do empreendedorismo relacionado à música a ser favorecido, possibilitando nortear esses profissionais às técnicas administrativas, à medida que explica práticas comumente observadas na administração da carreira musical. Observa-se um grande desconhecimento e até certo preconceito entre o mundo da cultura e o mundo dos negócios, o que impede o contato maior entre estes mundos, tão necessárioquanto benéfico para ambos, desde que feito de forma ética e sustentável (NETO, SILVA, SOUSA & SOUSA, 2014). Vale lembrar da grandiosidade da indústria musical em termos financeiros. O mercado musical movimentou, através de shows e festivais musicais, R$357 milhões somente no ano de 2013, segundo dados do Portal Brasil (2014). Observa-se, então, diante dos números apresentados, comparados aos anos anteriores, que se trata também de um mercado em expansão que movimenta significativamente a economia nacional, tornando-o um espaço de negócios interessante do ponto de vista empreendedor. O estudo busca ainda, além de alcançar o objetivo proposto, levantar novas indagações através dele, fortalecendo a continuidade dos estudos do tema. 1.3 Objetivos 1.3.1 Objetivo geral Analisar características empreendedoras identificadas em músicos do estado de Minas Gerais. 10 1.3.2 Objetivos específicos Analisar a trajetória pessoal e profissional dos entrevistados, verificando possíveis origens de características empreendedoras; Identificar métodos de gestão utilizados por esses músicos; Aplicar questionários quantitativos, baseados nas questões abordadas pelo modelo PPE – Perfil do Potencial Empreendedor, à amostra em questão; Relacionar informações obtidas pelo método qualitativo com o método quantitativo, buscando pontos comuns e incomuns entre as amostras. 11 2 REFERENCIAL TEÓRICO É comum o emprego do termo empreendedorismo para definir comportamentos, ideias inovadoras, perfil de gerenciamento, mudanças nos processos e criação de estratégias de sucesso (CÂMARA & ANDALÉCIO, 2012). Pensando neste contexto, é pertinente estudar a finalidade do conceito, bem como suas vertentes, características e aplicabilidades. O referencial teórico do presente estudo aborda inicialmente o conceito histórico do empreendedorismo, bem como a conceituação propriamente dita. Posteriormente são apresentadas as características empreendedoras através de um diálogo teórico e ainda estudos relacionados ao perfil empreendedor desenvolvidos por McCllend (1961), Carland (1996), Bygrave (2003) e Viet & Filho (2007). Ao fim, são apresentados conceitos da indústria da música, que posteriormente serão importantes para melhor compreensão do estudo. 2.1 Empreendedorismo O adjetivo “empreendedor” é comumente aplicado no meio empresarial, muitas vezes de forma errônea. Cada vez mais o empreendedorismo se constitui como um fenômeno de interesse crescente por parte de agentes da comunidade acadêmica e do mercado, uma vez que gera importantes repercussões em termos de geração de empregos e renda (BORGES, et al., 2015). Este destaque decorre do papel fundamental do empreendedorismo na criação e no desenvolvimento dos negócios, estando estreitamente relacionado com o crescimento e prosperidade das nações e regiões (ROSA, et al., 2015). Estudiosos como Câmara & Andalécio (2012) afirmam que o empreendedorismo é a base para um país se desenvolver, proporcionando oportunidades de trabalho e facilitando o progresso tecnológico, inovações e aprimoramentos em produtos e serviços. Ching & Kitahara (2015) complementam o raciocínio dizendo que o empreendedorismo é visto como um motor do progresso econômico, porém, não deve-se excluir os pequenos empreendedores do contexto, já que tanto os grandes empreendedores quanto os pequenos são responsáveis pelo crescimento econômico do país. 12 Tendo em vista a importância do empreendedorismo para o desenvolvimento de um país, é interessante buscar as origens dos estudos do tema, bem como terminologias e fatos marcantes para a academia. A palavra empreendedorismo originou-se há cerca de 800 anos, derivada do verbo francês “entreprendre”, que significa fazer algo, apesar de ainda não haver consenso sobre a definição exata do termo empreendedor (BOLTON & THOMPSON, apud FILARDI, BARROS & FISCHMANN, 2014). O que podemos, no entanto, é relacionar o termo às características comuns dentre os empreendedores, o que será trabalhado mais afundo posteriormente. No ano de 1947, na Universidade Harvard, Estados Unidos, foi ministrado o primeiro curso sobre o tema, tendo por objetivo auxiliar os militares depois da segunda guerra mundial a encontrarem novas possibilidades no mercado, enfatizando o próprio negócio (FILARDI, BARROS & FISCHMANN, 2014). O evento em apoio aos militares marcou o início dos estudos da área, mas a evolução do ensinamento do empreendedorismo se deu muito lentamente, sendo que somente nos anos 70 as universidades americanas começaram a valorizar o tema em seus currículos (VESPER & GARTNER, apud FILARDI, BARROS & FISCHMANN, 2014). É inegável a contribuição do economista Schumpeter no contexto do empreendedorismo. Seus estudos, que englobavam economia de forma geral, se iniciaram muito antes do curso sobre empreendedorismo de Harvard, porém, o empreendedor teve ênfase principal em seus estudos dos anos 40. Ele buscou em suas pesquisas a contribuição dos empreendedores na formação de riqueza com o processo da destruição criativa (VIET & FILHO, 2007). Sousa et al. (2015), confirmam a importância do estudo, afirmando que a estreita relação entre empreendedorismo e desenvolvimento a partir da geração de empregos e da minimização da mortalidade de empresas se insere em uma abordagem unidimensional. Schumpeter contribuiu pioneiramente ao conceituar o empreendedor, atribuindo características, sendo comumente citado em pesquisas do tema. Outro acontecimento importante nos primeiros anos dos estudos do tema aconteceu graças a McClelland, que fundou a McBer & Company, uma empresa de consultoria que buscava fomentar o empreendedorismo. Esta empresa, em uma parceria com a Management Systems International (MSI), realizou diversos estudos 13 e treinamentos com o objetivo similar a da palestra que ocorreu em Harvard, através de estímulos nas competências empreendedoras (BARTEL, apud CHING & KITAHARA, 2015). Em meados de 1970 para os dias atuais, muito se desenvolveu acerca do tema, e cada vez mais se destaca a importância de estudar o empreendedorismo. Há, no atual contexto, rápidas mudanças e avanços tecnológicos, alterando também a estrutura de emprego propendo novas carreiras, qualificações e ocupações surgem, requerendo do sistema de ensino o desenvolvimento de novas competências. Essas competências necessitam de um ambiente que proporcione este desenvolvimento e cabe à universidade o papel de dispersão da cultura empreendedora (SOUZA et al., apud CHING & KITAHARA, 2015). A evolução do campo de estudos possibilitou a identificação de diferentes correntes de pesquisa, as quais procuram elucidar aspectos importantes que permitem compreender a configuração do referido fenômeno (BORGES, et al., 2015). Segundo Dornelas (2014), no Brasil, mesmo que os estudos do tema tenham se intensificado no final da década de 1990, somente a partir dos anos 2000 houve o marco na consolidação do tema e de sua relevância para o país. Em seu livro “Empreendedorismo: transformando ideias em negócios”, Dornelas (2014) atribui alguns fatores a ênfase dos estudos a partir dos anos 2000 no Brasil. Um deles refere-se às consequências imediatas da desestabilização da economia, resultando no aumento da taxa de desemprego, principalmente nas grandes cidades, onde a concentração de empresas é maior. Sem alternativas, os ex-funcionários buscaram abrir seus próprios negócios para suasobrevivência financeira. Outros fatores importantes para a popularização e ganho de forças do empreendedorismo, segundo Câmara & Andalécio (2012), foram a entrada das classes C, D e E na economia, privatizações e abertura de mercado interno. Dentro do amplo conceito do empreendedorismo é possível projetar cenários onde o empreendedor aplica suas habilidades, o que será visto posteriormente. A produção científica sobre empreendedorismo busca estabelecer as fronteiras teóricas desse fenômeno, delimitando conceitos, demarcando seus tipos específicos, e compreendendo suas características e sua manifestação (BORGES, et al., 2015). No Brasil, a figura do empreendedor está fortemente relacionada ao desenvolvimento das micro e pequenas empresas (CÂMARA & ANDALÉCIO, 2012). 14 Podemos incluir o fator ao inconformismo descrito pelo dramaturgo irlandês Bernard Shaw. Segundo ele, “o homem racional adapta-as ao mundo e o irracional tenta adaptar o mundo a si”. Sendo assim, o homem involuntariamente busca a inovação (OLIVEIRA, 2011). No Brasil, prova deste constante desenvolvimento é o Simples Nacional, regime fiscal diferenciado destinado aos pequenos negócios, que possuía em dezembro de 2012, 7,1 milhões de empresas registradas no regime, segundo o SEBRAE (2013). Atrelado às pesquisas e enriquecimento do debate sobre empreendedorismo o conceito de empreendedor ampliou-se. Dornelas (2007) apresenta 8 tipos diferentes de empreendedores. O empreendedor nato, também chamado de Mitológico, é o tipo mais conhecido dos apontados pelo autor. Caracterizados por histórias brilhantes, quase sempre começam do nada. Começam a trabalhar jovens, desenvolvendo habilidade de negociação e vendas, sendo no geral otimistas, visionários, à frente de seu tempo e comprometem-se totalmente a realizar seus sonhos (DORNELAS, 2007). O empreendedor que aprende, por sua vez, está relacionado a abraçar oportunidades que surgem. São pessoas que não esperavam empreender, mas ao se deparar com uma oportunidade muda seu estilo de vida. Normalmente demonstram resistência para mudar seu estilo de vida, e quando se inserem na carreira empreendedora precisam aprender a lidar com novas situações e se envolver em atividades de um negócio próprio. Funcionários que pensam em uma alternativa à aposentadoria se enquadram nesta categoria (DORNELAS, 2007). Outro tipo de empreendedor apresentado por Dornelas (2007) é o empreendedor serial. Este é aquele apaixonado por empreender. Geralmente é uma pessoa dinâmica, tendo grande preferência pela fase inicial da criação de um negócio, buscando desafios e adrenalina. Quase sempre demonstra grande habilidade em montar equipes, motivar o time, captar recursos para o início do negócio e colocar a empresa para funcionamento. Ao concluir um desafio, precisa de outros para se manter motivado. Às vezes se envolve em vários negócios simultaneamente e não é incomum ter alguns fracassos. Mas estes servem de estímulo para a superação do próximo desafio. O empreendedor corporativo tem ganhado destaque nos últimos anos, devido à necessidade das grandes organizações de se renovar, inovar e criar novos 15 negócios. São geralmente executivos, com capacidade gerencial e conhecimento de ferramentas administrativas. Trabalham buscando resultados para crescer no mundo corporativo. Assumem riscos e têm o desafio de lidar com a falta de autonomia, já que nunca terão o caminho totalmente livre para agir. Isso faz com que desenvolvam estratégias avançadas de negociação. São hábeis comunicadores e vendedores de suas ideias. Desenvolvem seu networking dentro e fora da organização isso porque sabem se autopromover e são ambiciosos. Não se contentam em ganhar o que ganham e adoram planos com metas ousadas e recompensas variáveis. Se saírem da corporação para criar o próprio negócio podem ter problemas no início, já que estão acostumados com as regalias e o acesso a recursos do mundo corporativo (DORNELAS, 2007). O empreendedor social tem como missão de vida construir um mundo melhor para as pessoas. Envolve-se em causas humanitárias com comprometimento singular. Suas características são similares às dos demais empreendedores, mas a diferença é que se realizam vendo seus projetos trazerem resultados para os outros e não para si próprios. De todos os tipos de empreendedores é o único que não busca desenvolver um patrimônio financeiro, ou seja, não tem como um de seus objetivos ganhar dinheiro. Prefere compartilhar seus recursos e contribuir para o desenvolvimento das pessoas. Está normalmente relacionado ao terceiro setor (DORNELAS, 2007). O empreendedor por necessidade cria o próprio negócio por não ter alternativa. Geralmente se envolve em negócios informais, desenvolvendo tarefas simples, prestando serviços e conseguindo como resultado pouco retorno financeiro. Suas iniciativas empreendedoras são simples, pouco inovadoras, geralmente não contribuem com impostos e outras taxas, e acabam por inflar as estatísticas empreendedoras de países em desenvolvimento, como o Brasil. No Brasil é o mais comum dos tipos de empreendedores (DORNELAS, 2007). Há também o empreendedor herdeiro, que vêm de sucessão familiar. Este tem que desde cedo levar a frente o legado de sua família. O desafio do empreendedor herdeiro é multiplicar o patrimônio recebido, o que cada vez tem sido mais difícil. Este aprende os macetes administrativos com a família, e geralmente segue seus passos (DORNELAS, 2007). 16 Por último, Dornelas (2007) caracteriza o empreendedor “normal” ou planejado, que é aquele que planeja sua carreira, usa técnicas para reduzir riscos, se preocupa com os próximos passos do negócio, tem visão de futuro clara e trabalha com metas. O empreendedor “normal” seria o mais completo no ponto de vista da definição de empreendedor, e o que teria como referência a ser seguida, porém, na prática não representa uma quantidade considerável de empreendedores. Estudos ainda mais recentes somam com as classificações de Dornelas (2007), mostrando que avanços tecnológicos e comportamentais aplicados à ciência da administração possibilitaram classificar subdivisões ainda mais novas do empreendedorismo. Temos, por exemplo, o intraempreendedor que, com uma ideia, liberdade, incentivo e recursos da empresa para qual presta serviços, dedica-se de forma entusiástica em transformá-la em um produto ou um serviço de sucesso, mesmo estando inserido em uma organização e não tendo um cargo de gerência (PINCHOT, apud MORAES, HASHIMOTO & ALBERTINI, 2013). Todas essas tipologias são na verdade formas de categorizar esses profissionais que possuem características muito peculiares e condizentes à busca pela inovação. 2.2 Características Empreendedoras Como já mencionado, não há uma definição exata do termo empreendedorismo, mas podemos, no entanto, relacionar a palavra empreendedor a algumas características marcantes deste fenômeno. As investigações acerca das características pessoais do empreendedor têm movido os pesquisadores ao longo dos anos, sendo que os estudos sobre o perfil empreendedor já somam mais de meio século e os resultados identificam alguns traços peculiares (MORAES, HASHIMOTO & ALBERTINI, 2013). A concepção de empreendedor é representada por um indivíduo de atitudes atomísticas, e capaz de construir aglomerados empresariais ou de alavancar lucros extranormais, frente a investimentos que envolvem riscos (SCHUMPETER, 1942, SOUSA, et al., 2015). Neste contexto o empreendedorismo é o “motor da economia capitalista”, na medida em que a geração de novos produtos e a busca de novos17 mercados é capaz de promover o desenvolvimento socioeconômico (SCHUMPETER, apud ROSA, et al., 2015). O empreendedor é visto contemporaneamente como transformador de um sonho de negócio em uma realidade (FORTIN, apud CÂMARA & ANDALÉCIO, 2012). Desenvolver o perfil empreendedor é capacitá-lo para que crie, conduza e execute o processo de elaborar novos planos de vida, e para isso desenvolver uma consciência para formação de pessoas disseminadoras da inovação e das características básicas para formação de empreendedores (CHING & KITAHARA, 2015). Não deve-se, porém, misturar conceitos de empreendedorismo com outros conceitos relacionados a atividades profissionais, como empresários, proprietários ou donos, executivos, gerentes e também identificar se trata de fundador ou não. As pesquisas indicam que empresários estabelecidos correm riscos mais moderados que empreendedores. McClelland, que terá seu modelo apresentado a seguir, não pretendia descrever as características do dono de um negócio em seus estudos, mas do empreendedor em si. O autor afirma que o empreendedorismo é, além de uma atividade econômica, uma forma de arte, a opção por um estilo de vida sem patrão (BARLACH, 2014). Buscando melhor conceituação do empreendedor e maior discernimento de outros cargos cooperativos, Filion, apresentado por Câmara & Andalécio (2012), relaciona diferenças entre perfis gerenciais e empreendedores. Os gerentes tendem a ser mais processuais, formais e ligados às estruturas da organização. Já os empreendedores são visionários e comprometidos com suas realizações. Filion destaca ainda que ser visionário é uma condição essencial no empreendedor. Outro ponto citado como crucial para um empreendedor surge dentro da característica social, onde desenvolvem-se as redes de relacionamentos, que possibilitam aos empreendedores adquirirem e desenvolverem seu capital social. O envolvimento em redes sociais é um componente central do capital social, possibilitando que empreendedores tenham acesso a informações, conhecimento e recursos que podem ser úteis na criação e desenvolvimento de empreendimentos (GIMENEZ & GIMENEZ, 2015). Temos então que o empreendedor sabe não somente gerir seus bens tangíveis, mas também os intangíveis. 18 Existem inúmeros modelos que buscam mapear as características empreendedoras. O estudo realizado por Moraes, Hashimoto e Albertini (2013) traz como base um modelo de medição para o perfil empreendedor, elaborado por Schmidt e Bohnenberger (2009). O modelo de embasamento enfatiza como características do empreendedor: ser eficaz; assumir riscos calculados; ser planejador; aquele que detecta oportunidades; é persistente; sociável; inovador; líder. No geral, os modelos não divergem em pontos centrais e derivam quase sempre dos estudos de David McClelland. A seguir serão apresentados três modelos relativos ao perfil empreendedor, iniciando pelo modelo McClelland. 2.2.1 O modelo de McClelland David McClelland foi um dos pioneiros nos estudos sobre a motivação humana e procedeu a inúmeros experimentos e pesquisas que buscaram entender a chamada “necessidade de realização”, base do comportamento empreendedor. É importante ressaltar que McClelland não acreditava em uma relação consistente entre a genética e o empreendedorismo, mas sim entre o meio ambiente e o empreendedorismo (BARLACH, 2014). Para McClelland, o comportamento empreendedor é consequência das variáveis cognitivas do aprendizado social que são produto da história de cada indivíduo e que, por sua vez, regulam novas experiências ou as afetam (BARLACH, 2014). Em uma parceria entre McClelland com a Management Systems International (MSI), foi realizado, a pedido da USAID (United States Agency for International Development), que visava a identificação de características comportamentais empreendedoras em países emergentes. Primeiramente foram elaborados alguns instrumentos que pudessem avaliar as características. Em 1987, após quatro anos de pesquisas, foi publicado o relatório final do projeto que apresentava sua aplicação em três países, sendo eles Equador, Índia e Malásia. Após essas aplicações, os autores chegaram à versão final de um questionário que seria capaz de mensurar as características comportamentais empreendedoras. A final, foi validada a sua aplicabilidade, por atingir o objetivo do modelo, que era o de construir uma 19 ferramenta capaz de proporcionar o desenvolvimento dos treinamentos em prol do empreendedorismo (MANSFILELD et al., apud CHING & KITAHARA, 2015). O questionário supracitado partia dos princípios de três grandes grupos (Necessidade de Realização, Planejamento e Poder). Destes grupos derivavam treze características, que eram mensuradas através de afirmações (cinco para cada uma das 13 características) em que os respondentes foram questionados a colocar, através de uma escala Likert de cinco pontos, o quanto eles concordavam com a afirmação (1 = nunca, ... , 5 = sempre). As cinco afirmações restantes, que não pertenciam a nenhuma característica, faziam parte de um fator de correção criado com o objetivo de controlar caso o indivíduo tentasse passar uma melhor imagem de si mesmo nas respostas (MANSFILELD et al., apud CHING & KITAHARA, 2015). Após alguns anos, a pedido da United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD), a Universidade de Harvard, em parceria com David McClelland, desenvolveu a metodologia do programa EMPRETEC, baseada no estudo já realizado por McClelland (UNCTAD, 2010). Nessa formulação ainda foram utilizados os três grandes constructos (Necessidade de Realização, Planejamento e Poder); havendo, porém, uma adaptação por parte de Ching & Kitahara (2015), e as 13 características tornaram-se 10. A relação das características empreendedoras desenvolvidas por McClelland em parceria com a UNCTAD, e adaptada no artigo de Ching & Kitahara (2015) demonstra de forma clara as características empreendedoras que os autores julgam mais importantes. Segue, no quadro 1, as 10 características em questão, agrupadas em três grupos: Necessidade de Realização, Necessidade de Planejamento e Necessidade de Poder. Quadro 1 – Modelo EMPRETEC Necessidade de Realização Necessidade de Planejamento Necessidade de poder - Busca de oportunidades e iniciativa - Comprometimento - Persistência - Correr riscos calculados - Exigência de qualidade e eficiência -Estabelecimento de metas - Planejamento e monitoramento sistemáticos - Busca de informações - Independência e autoconfiança - Persuasão e redes de contatos Fonte: Ching & Kitahara (2015) 20 Observa-se então, que o modelo McClelland, adaptado por Ching & Kitahara, agrupa em três fatores as características empreendedoras, sendo a busca por realização, planejamento e poder. Posteriormente, o estudo irá relacionar o modelo com os demais abordados em seguida, encontrando pontos em comum e validado os estudos de forma coletiva. 2.2.2 O modelo de Carland Carland, Carland e Hoy (1992) desenvolveram um instrumento para medir o potencial empreendedor de um indivíduo, intitulado método CEI – Carland Entrepreneurship Index. Os autores concluíram que o empreendedorismo é uma integração de cinco elementos: necessidade de realização, criatividade, propensão à inovação, ao risco e à postura estratégica, relacionado com a busca de oportunidades. A maior ou menor presença destas características indicam maior ou menor potencial empreendedor dentro da escala CEI, que pontua os respondentes com valores de 0 a 33 pontos, contidosem três faixas, intituladas como: micro- empreendedor, empreendedor e macro-empreendedor (VIET & FILHO, 2007). A metodologia do modelo resume-se a um questionário de auto-resposta com 33 frases combinadas e afirmativas em pares, no formato de escolha forçada e seu objetivo principal era identificar o potencial empreendedor dos respondentes (VIET & FILHO, 2007). Carland (1996) e sua equipe de pesquisadores identificaram nos resultados das pesquisas três características de maior destaque da personalidade empreendedora, como: a propensão a assumir riscos, a preferência pela inovação e pela criatividade e a necessidade de realização (VIET & FILHO, 2007). 2.2.3 O modelo PPE Viet & Filho (2007) elaboraram o modelo PPE – Perfil do Potencial Empreendedor, que se fundamentou em uma ferramenta de mensuração do que os autores chamam de “potencial empreendedor”. Buscando embasar o modelo foi realizado uma pesquisa em duas fases distintas. A primeira fase, exploratória, fez uso de uma abordagem qualitativa, aplicando revisão de literatura de autores 21 conhecidos dentro do segmento de estudo, como McClelland (1961), Schumpeter (1982), Timmons (1989), Carland (1996), Filion (1999), Mintzberg (2001), Dornelas (2001), e Drucker (2003). Foram realizadas ainda, na fase exploratória, entrevistas em profundidade com empreendedores, especialistas e estudiosos do tema. A segunda fase teve como foco o desenvolvimento da pesquisa por meio de uma abordagem quantitativa. A população pesquisada compreendeu a participação de 965 empresários de pequenas empresas juridicamente constituídas no Estado de Minas Gerais, Brasil, procurando abranger todas as principais regiões do estado. A coleta de dados utilizou três modalidades: a) correio; b) pontos de atendimento SEBRAE e c) internet. O instrumento de pesquisa foi elaborado inicialmente a partir de uma revisão de literatura de autores já mencionados, e pesquisas realizadas com empresários e empreendedores pelo SEBRAE e GEM (2001 a 2006). Em seguida uma lista dos construtos e itens foi submetida à especialistas em empreendedorismo, que contribuíram para aprimorar o instrumento da pesquisa. Após a análise de conteúdo, foi realizado um pré-teste com 35 respondentes, empresários das empresas (VIET & FILHO, 2007). Observando os estudos dos autores Carland e Carland (1996) sobre o potencial empreendedor, bem como outros autores como McClelland (1961), Schumpeter (1982), Timmons (1989), Filion (1999), Mintzberg (2001), Dornelas (2001), Drucker (2003) e Bygrave (2004), Viet & Filho (2007), elaboraram um modelo hipotético, representado na figura 1. Figura 1 – Modelo hipotético de pesquisa Fonte: Viet & Filho (2007) 22 Os autores consideram também uma alternativa nula para o modelo, classificando como H0,1 quando não há uma relação linear positiva entre o potencial empreendedor e o desempenho das organizações, e como H1,1 quando a relação é considerável. A pesquisa aplicou aos resultados da pesquisa um filtro buscando analisar as questões que obtiveram resultado significativo. As questões que obtiveram carcas significantes (mais de 0,25, positivamente ou negativamente). As que não obtiveram os resultados almejados, e que consequentemente não acrescentaram validade de face e conteúdo das medidas, foram descartadas. As questões selecionadas, bem como os resultados obtidos estão representados abaixo no quadro 2. Quadro 2 – Análise fatorial exploratória INDICADORES FATOR 1 2 3 4 5 6 7 8 V37) Eu penso que procedimentos operacionais padrões são cruciais. (I) 0,73 V1) Ter os objetivos deste negócio por escrito é crucial (N) -0,47 v67) Ser sistemático nas definição de procedimentos é crucial para aprimorar o negócio. -0,44 V15) Um plano deve ser escrito para ser efetivo. (N) -0,28 V30) Eu penso que sou uma pessoa imaginativa (N) 0,79 V44) Eu prefiro pessoas que são imaginativas. (N) 0,49 V4) Eu gosto de pensar que sou uma pessoa criativa (N) 0,41 v38) Eu aprecio o desafio de inventar mais do que qualquer coisa. (N) 0,29 0,26 v48) Minha vida real é fora deste negócio, com minha família e amigos. (I) 0,53 v21) Minhas prioridades incluem muitas coisas fora deste negócio. (I) 0,45 v47) Meus objetivos pessoais giram em torno deste negócio. (N) 0,41 v22) Uma das coisas mais importantes na minha vida é este negócio. (N) 0,40 v52) Se você quer exceder a concorrência, você tem que assumir alguns riscos. (N) 0,81 v60) Se eu quero que este negócio cresça preciso assumir alguns riscos. (N) 0,68 v26) As pessoas que trabalham para mim gostam de mim. (I) 0,71 Continua 23 v58) As pessoas pensam em mim como alguém fácil de se relacionar. (I) 0,53 v64) Eu me preocupo com os sentimentos das pessoas que trabalham para mim. (I) 0,44 V23) Eu sou uma pessoa que gosta de pensar e planejar. (N) 0,59 v12) Eu gosto de abordar as situações de uma perspectiva analítica. (N) 0,54 v9) A coisa mais importante que eu faço para este negócio é planejar. (N) 0,43 v34) Eu procuro estabelecer procedimentos padrões para que as coisas sejam feitas certas. (I) 0,29 -0,38 V36) Eu penso que é importante ser lógico. (N) 0,35 V14) Eu não descansarei até que sejamos os melhores (N) 0,42 v49) Eu adoro a idéia de tentar ser mais esperto que os concorrentes. (N) 0,39 v31) O desafio de ter sucesso é tão importante quanto ganhar dinheiro. (N) 0,25 Fonte: Viet & Filho (2007) Após a seleção das questões que obtiveram resultado significativo segundo os métodos aplicados, foi exposto o quadro de fatores a serem analisados. Os fatores que compõe o PPE, Perfil do Potencial Empreendedor, estão expostos na quadro 3 e foram desenvolvidos pelos autores através do acervo teórico estudado. Quadro 3 – Fatores que compõe o PPE Ordem FATORES DO PPE 01 Competência Estratégica 02 Planejamento Formal 03 Inovação 04 Dedicação 05 Risco 06 Relacionamento 07 Pensamento Analítico 08 Desafio Fonte: Viet & Filho (2007) O fator competência estratégica aponta a postura pró-ativa, autoconfiança nas estratégia dos empreendedores. É importante lembrar que este fator é diferente da 24 postura estratégica proposta por Carland e Carland (1996), pois para este indicador fora extraído através de outras fontes da literatura, não do CEI. O fator planejamento formal demonstra o grau de formalização de procedimento e planos por parte do empreendedor. O fator inovação está relacionado com a capacidade de se reinventar do empreendedor. O fator dedicação considera o grau em que o negócio representa um aspecto central na vida do respondente, em detrimento de sua família e outras atividades de trabalho. O fator risco busca compreender a disposição e aceitação do risco de negócios. O fator relacionado a facilidade de relacionamento com funcionários e outros membros do círculo profissional foi denominado de relacionamento. O fator pensamento analítico aponta para a afinidade do empreendedor para com o processo de planejamento formal e pensamento analítico do negócio. Por fim, o fator desafio engloba o grau em que o empreendedor vê um desafio no sucesso de negócio, tal como uma metade realização pessoal (VIET & FILHO, 2007). Após definir os fatores que serão analisados dentro do modelo PPE, o estudo dirige-se a explorar a dimensionalidade da escala de desempenho dos negócios. Foi observado que uma solução unidimensional fora encontrada para a escala de desempenho, demonstrando que ela pode ser considerada como uma faceta única do desempenho da empresa. Isso demonstra que os empreendedores consideram todos os itens nela definidos como facetas do desempenho do negócio (VIET & FILHO, 2007). Faz-se importante citar a ligação direta do modelo PPE com os estudos apresentados anteriormente, embasando teoricamente o modelo de mensuração do perfil potencial empreendedor. Seguem, no quadro 4, os pontos em comum entre os estudos. Quadro 4 – Relação do modelo PPE com outros estudos PPE 2007 McClelland 1961 CCE’s Shumpeter 1982 Carland 1996 CEI Timmons 1998 Filion 1999 Mintzberg 2001 Dornelas 2001 Drucker 1992/ 2003 Bygrave 2003 GEM Competência Estratégica - - Postura Estratégica - - Estratégia - - Estratégia Risco Correr risco calculado Risco Propen- são ao risco Incerteza - Incerteza Risco Risco Assumir Riscos Inovação - Inovação Inovação Criativida- de Imagi- nação - Assumir Riscos Inovação Criatividade Continua 25 Planejamento Formal Planejamento Lucratividade - Plano de Negócios Visão - Plano de Negócios - - Dedicação Persistência - - - Persis- tência - - - Valores Pessoais Relaciona- mento Comprometim ento - - Carisma - - - Relaciona- mento Pensamento Analítico Informações - - Conhe- cimento - Oportunida- des - Oportuni- dade - Desafio Realização - Reali- ção Motiva- ção - - Propósito Realiza- dor Realização Fonte: Viet & Filho (2007) Através do quadro 4 percebemos que as teorias relacionadas ao empreendedorismo que foram utilizadas para o desenvolvimento do modelo PPE, sendo que algumas delas também foram apresentadas isoladamente neste estudo, estão diretamente conectadas. Algumas englobam mais fatores, outros fatores pouco explorados. O modelo PPE vem buscando centralizar todas estas teorias em seu método, englobando todos os pontos nos fatores apresentados no quadro 3, justificando assim o porquê adotá-lo como centralizador das questões teóricas para análise do presente estudo. 2.3 A Indústria da Música O mercado tinha por conceito inicial o lugar onde se compravam mercadorias. Para Ramal (2006) mercado é o conjunto de pessoas, empresas e demais entidades que tem necessidades, intenção e capacidade financeira para comprar algo. Porém, com a internet, conceitos como este passaram a se transformar, tal como as formas de que a música se relacionava ao mercado e as novas tecnologias. Ao contrário do que se imaginam, não há somente o grande mercado, o grande hit, a grande estrela da música. Há também, milhares de micromercados, de minihits e de artistas satélites (SEBRAE, 2015). O negócio da música está repleto de profissionais. São autores, artistas, técnicos, produtores, empresários, profissionais liberais, além dos veículos de comunicação. Existem empresas que fornecem produtos e serviços, órgãos e entidades que regulam e fiscalizam o setor. Essa cadeia de pessoas, processos, produtos e serviços – além do público consumidor – forma o que se chama indústria da música (SEBRAE, 2015). 26 A indústria da música se forma através de 3 elementos: O Show Bussines, a indústria fonográfica e o direito autoral. O show business diz respeito à cadeia produtiva que gira em torno da apresentação musical e do artista, ou seja, os shows e apresentações ao vivo dos cantores e músicos (SEBRAE, 2015). A indústria fonográfica mundial pode ser conceituada, de forma superficial, como a produção e comercialização de suportes como CDs, DVDs, VHS, singles, K7s e de música digital (NETO, SILVA, SOUSA & SOUSA, 2014). Entende-se então que este conceito gira entorno do comércio da música gravada. O direito autoral abrange a exploração econômica dos direitos de autor e dos que lhe são conexos (SEBRAE, 2015). Hoje, no Brasil, a arrecadação derivada dos direitos autorais ficam submetidos aos cuidados do ECAD – Escritório Central de Arrecadação e Distribuição. No Brasil existem hoje, segundo o SEBRAE (2015), 14 atividades econômicas, identificadas segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE, relacionadas à indústria da música abrangendo atividades fonográficas, direitos autorais e do show business, englobando todas as etapas da cadeia produtiva. Existem 91.023 pequenos negócios formalizados operando nessas atividades no Brasil (2015). São elas: a) reprodução de som em qualquer suporte; b) fabricação de instrumentos musicais, peças e acessórios; c) comércio varejista especializado em instrumentos musicais e acessórios; d) comércio varejista de discos, CDs, DVDs e fitas; e) gravação de som e edição de música; f) atividades de rádio; g) portais e provedores de conteúdo na internet; h) agenciamento e empresariamento artístico; i) ensino de música; j) produção musical; k) atividades de sonorização e de iluminação; l) espetáculos artísticos e eventos culturais; m) gestão de espaços para artes cênicas, espetáculos e outras atividades artísticas; n) discotecas, danceterias, salões de dança e similares. 27 A atuação dos empreendimentos divide-se, como qualquer indústria, em oferta de serviços, produtos e setor industrial. O gráfico 1 mostra que há, predominantemente, a oferta de serviços na área, representando 83% do total, seguido pela comercialização de produtos (16%) e setorização industrial (1%); Gráfico 1 – Setores da indústria da música Fonte: SEBRAE (2015) As vendas dos formatos digitais cresceram 30%, enquanto as vendas dos formatos físicos recuaram 15%. A música digital representou 48% das vendas totais do mercado fonográfico brasileiro em 2014, enquanto os formatos físicos representaram uma fatia de 52% desse mercado (SEBRAE, 2015). É importante lembrar que a indústria da música é marcada por metamorfoses ao longo da história. Dimery (2005) trás no livro “1001 Discos para Ouvir Antes de Morrer” o prefácio de Michel Lyndon, editor e co-fundador da revista Rolling Stone. Lyndon conta sobre sua infância em Boston, no início dos anos 50. Os pais tinham um toca-discos Victrola na sala, e no armário vários discos expressos, pretos, feitos de cera, tão frágeis que mal podiam ser manuseados. De uma hora para outra, tudo mudou. Os discos ficaram enormes, ganharam um buraco grande no centro e passaram a 45 rotações por minuto. Os álbuns ficaram mais leves, com longa duração (long playing, origem da abreviação LP). O som ficou melhor, e os discos ganharam mais duração (até 20 minutos de duração de cada lado). Simples ou duplos, os LPs dominaram a arena musical durante 30 anos, quando perdeu espaço para o compacto digital, o CD, que originou-se em 1985 e proporcionou outra reviravolta na forma de comercialização da música. O CD apareceu com capacidade 28 para mais de uma hora de gravação, além de proporcionar um som brilhante, sem chiados nem arranhões, além de resistir melhor ao tempo. O mercado da música movimentou somente no ano de 2014 o total de R$581,7 milhões em receitas no território nacional, segundo dados publicados na ABPD – Associação Brasileira dos Produtores de Disco (2014). Valorque demonstra um crescimento de 2% em relação ao ano anterior. Outro ponto curioso divulgado pela ABPD (2014), replicando dados da IFPI – Federação Internacional da Indústria Fonográfica, é que as vendas físicas caíram 8,1% em índices mundiais, e as vendas digitais alavancaram 6,9%, já representando 46% das vendas mundiais, por influência principalmente, do bom desempenho do segmento de subscrição para acesso à música por streaming. O Brasil é o nono colocado na lista dos maiores mercados da indústria da música mundial (SEBRAE, 2015). Índices significativos relacionados à música na internet não representam grande surpresa tendo em vista a evolução nos meios de distribuição fonográfica em relação ao desenvolvimento tecnológico. A internet possibilitou diversas formas de venda de música digital, como serviços de assinatura, downloads, dentre outros. Estima-se em 885 milhões o número de arquivos disponíveis para download nas redes domésticas em todo o mundo – apontadas como principal fonte de downloads ilegais de músicas –, contra cerca de seis milhões de faixas em sites licenciados para venda on-line de música digital. (NETO, SILVA, SOUSA & SOUSA, 2014). Portanto, podemos citar a internet como uma “faca de dois gumes”, sendo fonte de receita através da comercialização da música digital, porém devemos considerar também o fator pirataria, que estendeu-se vastamente nos últimos anos. Estima-se que no ano de 2014 as plataformas de streamings cresceram em 53,61% em relação ao ano anterior. Os dowloads de faixas e álbuns cresceram em 13,22% na mesma perspectiva, e as compras por telefonia móvel 11,85% (SEBRAE, 2015). Porém, se por um lado a música digital avança, as mídias físicas caem, como podemos observar no gráfico 2. 29 Gráfico 2 – Desempenho de vendas de mídias físicas no Brasil Fonte: ABPD (2015) Ainda na perspectiva do ano de 2014 em relação ao ano anterior, as vendas de CDs caíram em 14,38%, e de DVDs e Blue-Rays caíram em 17,55 (ABPD, 2015). Percebemos então, que a metamórfica indústria da música passa por mais uma grande mudança em seus meios de comercialização, graças à internet. porém, este fator possibilitou também outras mudanças no segmento musical, como a pluralização dos artistas independentes. Nos EUA o termo independente (também chamado de indie) é vastamente utilizado para classificar pequenas empresas fonográficas que possuem meios próprios de produção, distribuição e consumo, bem como a produção caseira. Neto, Silva, Sousa & Sousa (2014) trazem que o termo Independente originou-se nos Estados Unidos, onde há uma longa história em relação aos pequenos empreendimentos fonográficos. Nesse país, os Independentes têm tradição no mercado por registrar e comercializar gêneros musicais “desprezados” pelas grandes empresas (DE MARCHI, 2002). Assim, podemos dizer segundo Frith (1981), citado por Neto, Silva, Sousa & Sousa (2014), que ligado à questão independente temos o desenvolvimento do Blues, do Jazz e notadamente do Rock n’ Roll. Isso se deve, imprescindivelmente, a questões de períodos históricos, como por exemplo, a música popular brasileira nos dias atuais, que perdeu espaço para segmentos como funk brasileiro, pop americano, axé e sertanejo universitário, e teve que recorrer a meios alternativos para disseminação da nova MPB. 30 Coerentes com a visão de “terra das oportunidades para todos”, os produtores independentes norte-americanos reclamavam do crescente controle do mercado por grandes corporações que estariam praticando uma competição desleal com as pequenas companhias (NETO, SILVA, SOUSA & SOUSA, 2014). O mercado define o que é música independente não somente pelo porte da gravadora, selo ou grau de expressividade dos artistas, mas, principalmente, pela separação entre as chamadas Majors e as Indies. Essa divisão considera como Major toda gravadora e/ou distribuidora que tenha ligação com as grandes empresas mundiais do segmento musical; no caso específico do Brasil, pode-se incluir nessa categoria a Som Livre, considerada a única empresa do setor com capital exclusivamente nacional e que segue a agenda internacional da música, independentemente das preferências regionais do Brasil. Já as produtoras ou selos independentes somam mais de 400 empresas de diversos portes (em sua maioria, de portes micro ou pequeno) e que possuem, em conjunto, grande participação no mercado, principalmente quando se divide este mercado em nichos, seja por critérios como estilo, região geográfica ou público-alvo. (NETO, SILVA, SOUSA & SOUSA, 2014). Para De Marchi (2002), desde o início desta década, configurou-se um movimento chamado a Nova Produção Independente que resgata o discurso sobre independência da produção de discos no Brasil. Porém, na medida em que se restringe ao antagonismo, gravadoras independentes versus gravadoras estrangeiras, esta Nova Produção também revela a existência de outras formas de produção fonográfica que não são nem “independentes” nem “grandes gravadoras”, trabalhando à parte com diferentes expressões minoritárias (DEHEINZELIN, 2006, apud. NETO, SILVA, SOUSA & SOUSA, 2014). Nesse contexto, existe um grande desconhecimento e até certo preconceito entre o mundo da cultura e o mundo dos negócios, o que impede o contato maior entre estes mundos, tão necessário quanto benéfico para ambos, desde que feito de forma ética e sustentável (NETO, SILVA, SOUSA & SOUSA, 2014) Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), a indústria fonográfica vem encolhendo ano a ano em termos mundiais. No Brasil esse processo de diminuição de mercado tem sido mais agudo. Entre 1997 e 2003, a retração nas vendas chegou a 50% em valores nominais. No mesmo período, a participação do mercado ilegal atingiu 52% do total, num setor que faturou R$ 601 milhões em 2003 — somando CDs, DVDs e vídeos musicais. Dados da Associação 31 Protetora dos Direitos Intelectuais Fonográficos (APDIF), considerando a inflação no período, apontaram para uma queda no faturamento com a venda de CDs em até 68% (NETO, SILVA, SOUSA & SOUSA, 2014). Temos então, como indústria da música, um mercado incerto e metamórfico, que no final dos anos 90 e início dos anos 2000 despencou devido à pirataria, e que agora volta a subir, graças às mídias digitais. Não há portanto, uma discrepância entre o mercado musical e qualquer outro tipo de mercado. Apesar de suas peculiaridades, a indústria da música é incerta, e cobra também diferenciais dos que nela se arriscam. 32 3 METODOLOGIA Do ponto de vista metodológico, a pesquisa segue com uma abordagem qualitativa e quantitativa de coleta de dados. A proposta de fazer uso das duas vertentes metodológicas surge ao buscar as peculiaridades dos músicos residentes em Minas Gerais, e contemplar também análises generalizadas sobre a amostra. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas e aplicados questionários, baseados nas questões abordadas nos estudos do modelo PPE – Perfil do Potencial Empreendedor, elaborado por Viet & Filho (2007), já mencionado no referencial teórico deste estudo. 3.1 Sujeitos de pesquisa, universo e amostra Existem cerca de 36 mil músicos cadastrados na Ordem dos Músicos do Brasil somente no estado de Minas Gerais, segundo dados disponíveis no site do próprio órgão (2016). Porém, grande parte dos músicos não são filiados à instituição, impossibilitando um número exato do universo de pesquisa.No âmbito quantitativo buscou-se profissionais relacionados à música residentes no estado de Minas Gerais, sendo eles cantores, instrumentistas ou compositores. O estudo não contemplou nenhum gênero musical especificamente, buscando abranger aos principais segmentos musicais do mercado. Outra pré- requisito para a amostra era que o respondente tivesse a música como fonte de rende, seja ela sua única, principal ou que complemente seu orçamento. O estudo também não se limitou à uma região de Minas Gerais, tendo respondentes de todas as mesorregiões do estado. Para o estudo qualitativo buscaram-se músicos de diferentes gêneros musicais e propostas artísticas para entrevistas semiestruturadas, variando entre Música Popular Brasileira, Sertanejo Universitário, e Rock. Os músicos que gentilmente concederam as entrevistas foram Thalita Aneda, Saullo Morais e Carol Shineider. Todos os três entrevistados residem na cidade de Lagoa da Prata, Minas Gerais. O atual estudo compreende a amostra de 3 músicos no caráter qualitativos, do qual foram aplicadas as entrevistas semiestruturadas. Os músicos em questão residem na cidade de Lagoa da Prata, região centro-oeste de Minas Gerais. Quanto 33 ao estudo quantitativo, o questionário desenvolvido tendo como base as questões abordadas no desenvolvimento do modelo PPE foi aplicado a músicos de diferentes segmentos musicais residentes no estado de Minas Gerais, sendo eles cantores, instrumentistas ou compositores, totalizando 125 respondentes. A amostra buscou abranger entrevistados de todas as regiões do estado de Minas Gerais, selecionados através de pesquisas realizadas pela internet, do banco de dados de e-mails da OMB – Ordem dos Músicos do Brasil, ou fazendo uso da rede de contatos do pesquisador. 3.2 Instrumento e técnica de coleta de dados Para a coleta e mensuração da pesquisa quantitativa, o estudo embasou-se nas questões abordadas modelo PPE – Perfil do Potencial Empreendedor, que foram aplicadas a uma população de 965 empreendedores residentes no Estado de Minas Gerais (Viet & Filho, 2007). Após aplicados os questionários foram selecionadas as questões, dentre as mais de 100 propostas, que resultaram em fatores significantes (conforme exposto no quadro 2). O questionário fundamentou- se então nas 25 questões selecionadas como relevantes para o modelo PPE, sendo devidamente adaptadas para a linguagem da amostra. As questões deveriam ser respondidas através da escala Likert, onde os pontos representavam: discordo totalmente; discordo parcialmente; indiferente; concordo parcialmente e concordo totalmente. Houveram também perguntas relativas ao perfil do respondente, como sexo e idade dos entrevistados. Além das 25 questões baseadas no modelo adotado o questionário contou também com outras 9 questões que buscaram identificar o músico dentro da amostra, buscando dados como idade, tempo que trabalha com música, dentre outros. Os questionários foram respondidos no período de 22 de Agosto de 2016 à 16 de outubro de 2016, resultando 125 respondentes do estado de Minas Gerais, sendo eles cantores, instrumentistas ou compositores. O método adotado para a aplicação dos questionários foi o envio através de e-mail ou redes sociais. O questionário foi desenvolvido através da plataforma Google Docs, para facilitar esse envio. Quanto as entrevistas, estas seguiram um roteiro semiestruturado composto por 29 questões que tiveram como ponto de partida os mesmos assuntos abordados no questionário quantitativo. A entrevista com Thalita Aneda ocorreu no dia 10 de 34 setembro de 2016, com Saullo Morais no dia 23 de setembro de 2016 e com Carol Shineider no dia 11 de outubro de 2016. As entrevistas foram realizadas presencialmente, na cidade de Lagoa da Prata, Minas Gerais, do qual os entrevistados residem. Todas as entrevistas seguiram de forma descontraída, permitindo ao entrevistador e entrevistado acrescentarem pontos que considerassem importantes, enriquecendo o conteúdo. O questionário utilizado encontra-se anexado neste estudo, intitulado como apêndice 1. O roteiro da entrevista semiestruturada também se encontra em anexo, apresentada como apêndice 2. 3.3 Instrumentos de análise de dados Após aplicados os procedimentos metodológicos, os questionários foram exportados para uma tabela do Software Microsoft Office Excel, que facilita a tabulação. A ferramenta adotada, o Google Docs, exporta o conteúdo em um arquivo compatível a esse software. Para a análise qualitativa as entrevistas foram submetidas à análise de conteúdo e Bardin (1977), partindo de uma pré-análise do conteúdo por meio da leitura flutuante, exploração do material e tratamento dos dados. Menegon e Casado (2006) classificam o instrumento de Bardin como um conjunto de procedimentos de análise que visa obter conhecimentos relativos ao conteúdo de mensagens, através de certos procedimentos. 35 4 ANÁLISE DE RESULTADOS Após a coleta de dados, as entrevistas foram transcritas e os questionários quantitativos tabulados. Buscando melhor compreensão dos resultados, a análise foi dividida em tópicos, atrelando as discursões quantitativas e qualitativas. Inicialmente serão apresentados os perfis dos músicos, englobando assuntos como idade, gênero musical, tempo que trabalham com música e atividades que exercem paralelamente à suas carreiras. Posteriormente, as histórias e trajetórias dos entrevistados serão apresentadas e analisadas. Por fim, o estudo relaciona os fatores das características empreendedoras levantados anteriormente, relacionando os dados e identificando se há ou não relação com cada fator. 4.1 Perfil dos músicos Inicialmente, tanto as entrevistas quanto os questionários buscaram compreender informações relacionadas aos perfis dos músicos. A primeira entrevista sucedeu-se com Thalita Aneda, de 28 anos, residente em Lagoa da Prata, Minas Gerais e já trabalha com música há 12 anos. Cantora de MPB, hoje se apresenta em casas de shows, pubs e eventos fechados na região. O cantor sertanejo Saullo Morais concedeu a segunda entrevista. Hoje também com 28 anos, está há 14 anos engajado no mundo da música, tendo iniciado sua trajetória com 13 anos. Saullo atua nas regiões centro-oeste, triângulo e norte do estado de Minas Gerais, fazendo shows também nos estados de São Paulo e Goiás. Hoje o músico sertanejo realiza uma média de 8 a 10 shows por mês e conta com uma equipe de 15 pessoas. A terceira entrevista contou com a cantora Carol Shineider, que classifica seu trabalho autoral como uma mistura de MPB, rock e experimentalismo, explorando sons e sonoridades. Atualmente com 23 anos, está há 10 ligada à música, e há 5 anos trabalhando com ela. Nas 125 respostas do questionário quantitativo, o perfil dos músicos entrevistados é caracterizado por pessoas com idade média geral de 35 anos. Quanto ao tempo que os respondentes trabalhavam com música, as respostas variaram de 1 à 63 anos. A média para esta questão foi de 15 anos. Quanto as mesorregiões de Minas Gerais forma obtidas respostas em todas elas. Algumas 36 mesorregiões foram agrupadas considerando a proporção geográfica individual destas. A divisão por mesorregiões segue representada no gráfico 3. Gráfico 3: Resultados da pesquisa por mesorregiões Fonte: Dados da pesquisa Deve-se levar em consideração que a região central possui a maior densidade demográfica segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010), bem comoa maior índice de PIB – Produto Interno Bruto, sendo natural a maior concentração de atividades relacionadas ao entretenimento e arte. Buscando enquadrar os entrevistados quanto ao gênero musical que a música deles se encaixam, foi possível observar um certo desconforto por parte dos músicos quanto às nomenclaturas dos gêneros musicais. Saullo classifica seu trabalho dentro do sertanejo universitário, mas discorda da nomenclatura. Segundo ele, o público dessa variação de sertanejo não se concentra somente no público universitário. Ele conta também que mistura outros segmentos como o sertanejo romântico e o sertanejo raiz, além de trazer também músicas de outros gêneros, como o axé, para seus shows. Carol Shineider contou que possui vários projetos musicais, que passeiam pelo rock, pop rock e blues. Seu som autoral é tido, em sua concepção, como uma MPB com elementos de rock e música experimental. Podemos compreender como experimental um segmento que busca explorar novas sonoridades através da utilização de efeitos, instrumentos pouco utilizados e maneiras inovadoras de produzir música. Dentre suas bandas, Carol cita a autoral 3 ,2 0 % 4 7 ,2 0 % 2 0 ,8 0 % 4 ,0 0 % 5 ,6 0 % 1 ,6 0 % 0 ,8 0 % 2 ,4 0 % 8 ,8 0 % 5 ,6 0 % 1 Alto Paranaíba Central Centro-oeste de Minas Jequitinhonha/Mucuri Zona da Mata Noroeste de Minas Norte de Minas Rio Doce Sul de Minas Triângulo Mineiro 37 Bicho Mecânico de Asas, que também tem um som experimental. Thalita Aneda foi a única a não demonstrar problemas quanto ao segmento de seu trabalho, talvez pela MPB já englobar tantos elementos de outros ritmos. Nos resultados obtidos dos questionários, se tratando de gêneros musicais, os principais resultados da pesquisa quantitativa demonstraram que os gêneros principais foram a música popular brasileira (61,6%), o rock (56,0%) e o pop (38,4%). Nesta questão os respondentes tiveram a possibilidade de selecionar mais de um segmento musical. Os resultados da questão estão expressos no gráfico 4. Gráfico 4: Resultados da pesquisa por gênero musical Fonte: Dados da pesquisa O sertanejo, que atualmente domina as rádios, aparece em quinto lugar, com 20,8%, perdendo até mesmo para o samba, que contabilizou 26,4% das respostas. Ao analisar a situação foi possível perceber que por se tratar de uma questão multivalorada, ou seja, onde o respondente teve a possibilidade de assinalar mais de um valor, os respondentes que selecionaram o sertanejo também selecionaram outros gêneros como rock, pop e MPB. O contrário, no entanto, não ocorreu. Os respondentes que selecionaram gêneros como rock e MPB prioritariamente não selecionaram o sertanejo com muita frequência. É importante ainda, ressaltar que a opção outros contou com uma diversidade de gêneros musicais que individualmente não teriam um valor significativo. Isso se deve pela infinidade de gêneros e subgêneros que a música possui, e 5,6% 16,8% 10,4% 13,6% 17,6% 61,6% 10,4% 38,4% 56,0% 26,4% 20,8% 22,4% 0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 38 consequentemente há uma dificuldade do músico enquadrar seu trabalho neles, como foi possível observar na entrevista de Carol Shineider, que mostrou dificuldades ao enquadrar seu trabalho à gêneros musicais. De forma geral, podemos comparar os resultados obtidos nas entrevistas e nos questionários. Temos portanto, uma grande diversidade de perfis de músicos em Minas Gerais. Percebe-se que, no geral, atuam já há um tempo significativo na área. Podemos perceber também, analisando os resultados obtidos, que os músicos do segmento sertanejo se mostram mais ecléticos que outros segmentos, tendo facilidade para transitar em outros gêneros musicais. Este ponto pode ser observado, além dos resultados quantitativos, na fala de Saullo Morais e, posteriormente, será ressaltado também por Carol Shineider. 4.2 História e trajetória Seguindo com a entrevista, buscou-se abordar o início da trajetória dos músicos, tendo em vista a importância do começo da trajetória dos empreendedores. De início, os cantores foram questionados se haviam parentes próximos ligados à músicas profissionalmente. Já nesta questão alguns pontos em comum das características dos músicos com os empreendedores começaram a aparecer. “Em parentesco mais próximo não. Uma parte da família de parentesco mais distante sim, já tocou profissionalmente. Já tocaram instrumentos e também já tocaram profissionalmente, usando a música como meio de renda mesmo. [...] Não considero que tenha influenciado. Porque eram pessoas distantes, que eu não tinha tanta proximidade assim.” (Thalita Aneda) A cantora conta que a influência para o início da trajetória foi algo interno. Ela ressalta que houve a influência do gênero através da mãe. “Pra tocar em si, acho que foi uma coisa minha mesmo. [...] O que me influenciou em questão de gênero foi a minha mãe. Minha mãe sempre escutava muita música, sempre cantava, cantava muita MPB, então isso me influenciou em questão de gênero, em questão de gosto musical. Mas pra tocar eu acho que partiu de mim. Tipo, essa necessidade, “ah, eu quero fazer música, eu gosto disso, eu vou ter que aprender um 39 instrumento pra poder desenvolver isso”, então eu acho que foi uma coisa minha mesmo.” Os outros entrevistados também contaram que não possuíram nenhum parente próximo ligado à música profissionalmente. Carol conta ainda que possui uma experiência similar à de Thalita, a influência da mãe quanto ao gênero. Quando questionada de onde ela acredita ter vindo sua influência inicial para se relacionar com a música, responde: “Foi dentro de casa mesmo, de ouvir músicas, os clássicos nacionais, Legião, Rita Lee, essas paradas foi tudo em casa, com a minha mãe. E violão também foi ela, ela me deu de presente.” Saullo já conta que teve uma experiência diferente. “Eu participava do coral da igreja. Foi aí que eu comecei a ter um interesse pelos instrumentos. O primeiro instrumento que eu aprendi foi teclado, depois eu aprendi violão, depois eu aprendi acordeom e durante o decorrer dos ensaios, da trajetória, eu acabei aprendendo uma bateria, então hoje eu sei um pouquinho de cada coisa.” (Saullo Morais) Podemos observar através dos relatos dos entrevistados que a música acontece de uma forma involuntária, como Thalita mencionou, partindo da vontade do próprio indivíduo. Muitas vezes o empreendedor também não possui influências diretas de membros familiares próximos, sendo assim, inovador dentro de seu ciclo familiar. Segundo as questões trabalhadas nas entrevistas, Thalita Aneda conta que em cerca de 1 ano após iniciar seu contato com a música já buscou tocar profissionalmente. “Na hora que eu peguei um pouco mais de segurança eu já resolvi enfrentar essa questão de mais gente, claro que não era uma plateia maior, era mais restrita, mas eu já tive que começar a me expor mais à esse contato com o público. Não é fácil pra quem está iniciando, ainda mais pra quem não tem segurança, mas daí já resolvi pegar essa empreitada com 1 ano. Foi meio que um teste pra mim mesma, pra ver como eu ia me adaptar.” Sabe-se que o empreendedor é movido a desafios e propenso a assumir riscos, como visto nos estudos apresentados anteriormente, em especial o modelo 40 McClelland (1961), que compreende os riscos e os enfrenta de forma calculada. Na atitude de Thalita pode-se identificar essas características.
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