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RESPONSABILIDADE DO ADOLESCENTE PELA PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL EFETIVIDADE DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA
UNOESC – CAMPUS DE CHAPECÓ
DANIEL TEOCHI
	
RESPONSABILIDADE DO ADOLESCENTE PELA PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL: EFETIVIDADE DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Chapecó-SC,
2016
DANIEL TEOCHI
RESPONSABILIDADE DO ADOLESCENTE PELA PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL: EFETIVIDADE DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Trabalho de conclusão de Curso apresentado à Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Professor. Me. Juliano dos Santos Seger
Chapecó-SC,
2016
DANIEL TEOCHI
RESPONSABILIDADE DO ADOLESCENTE PELA PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL: EFETIVIDADE DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Trabalho de conclusão de Curso apresentado à Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Aprovado em ............ de ........................................... de 2016
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
Prof. Dr. M. Juliano dos Santos Seger
Universidade do Oeste de Santa Catarina
_____________________________________
Prof. Dr. M. Juliana Gallina
Universidade do Oeste de Santa Catarina
​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​______________________________________
Prof. Dr.
Universidade do Oeste de Santa Catarina
______________________________________
Prof. Dr.
Universidade do Oeste de Santa Catarina
AGRADECIMENTO
Primeiramente a Deus, por conceder-me a oportunidade de chegar até este momento singular em minha vida.
A minha mãe, verdadeira guerreira, batalhadora, humilde, que criou quatro filhos sem a presença rotineira de um pai, com quem aprendi valores que carrego comigo e que jamais mediu esforços para auxiliar-me nas intempéries da vida.
A minha irmã, muitas vezes também mãe, por me auxiliar em todos os momentos da minha vida, fonte exemplar que me norteou desde a infância, e me influenciou diretamente na escolha pelo curso de Direito.
Aos meus irmãos e cunhado pelos ensinamentos prestados, conselhos, prosas e jogos de futebol todo final de ano.
Ao meu amor, Cristina, minha perfeita simetria, dona do meu coração, por estar sempre ao meu lado, nos bons e maus momentos, inclusive, neste importante, ao me amparar na propositura deste trabalho.
Ao meu professor Orientador Juliano dos Santos Seger e a Professora Juliana Gallina pelos ensinamentos prestados neste trabalho e ao longo destes quatro anos acadêmicos em Chapecó-SC.
Aos profissionais da área de segurança pública, professores, colegas e demais amigos que sempre estiveram presentes no decorrer da minha vida.
EPÍGRAFE
“Justiça é consciência, não uma consciência pessoal, mas a consciência de toda a humanidade. Aqueles que reconhecem claramente a voz de suas próprias consciências normalmente reconhecem também a voz da justiça”.
ALEXANDER SOLZHENITSYN 
RESUMO
O presente trabalho procura demonstrar a responsabilidade atribuída ao adolescente pela prática de ato infracional, através da aplicação das medidas socioeducativas elencadas no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990), bem como asseverar se sua aplicabilidade constitui-se sob a égide do caráter punitivo ou educativo, e ao final se tais medidas são eficazes na ressocialização dos adolescentes conflitantes com a lei. Para sua elaboração, foram utilizadas pesquisa bibliográficas em livros, artigos e endereços eletrônicos de diferentes autores e doutrinadores. Ademais, foram utilizados dados e ordenamentos históricos e hodiernos que forjaram a concepção do atual Estatuto da Criança e do Adolescente, responsável pelo tratamento oferecido aos adolescentes em conflito com a lei. Em razão deste trabalho constatou-se que as medidas socioeducativas, de acordo com a doutrina majoritária, possuem caráter educativo, por conseguinte, a educação é o meio mais viável para reconduzir o adolescente ao pleno convívio social, entretanto, existem lacunas no ordenamento que dificultam essa ressocialização e a retomada em sociedade.
Palavras-chave: Responsabilidade. Medida Socioeducativa. Caráter Punitivo/Educativo. Ressocialização .
ABSTRACT
The present work search to demonstrate the responsability assigned to the adolescent from the practice of infringement, through the application of socioeducative measures listed in the Child and Adolescent Statute (Law 8.069 / 1990), besides of assert if its applicability consists of character punitive or educational, and at the end if these measures are effective in the rehabilitation of adolescent in conflict of the law. For its preparation, bibliographic research were used in books, articles and eletronic addresses of different authors and doctrinaire. 
In addition, historic and historical data and regulations were used that forged the conception of the current Statute of the Child and Adolescent, responsible for the treatment offered to adolescents in conflict with the law. Because of this work it was found that the socioeducative measures, according to the majority doctrine, have educational, therefore, education is the most viable means to bring the teenager to full social life, however, there are gaps in order to hinder this rehabilitation and recovery in society.
Key-words: Responsibility. Socioeducative Measure. Punitive/Educacional Character. Resocialization.
SUMÁRIO
	1
	INTRODUÇÃO ........................................................................................
	09
	
	CAPITULO I – VISÃO HISTÓRICA E HODIERNA DA LEGISLAÇÃO PENAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO............................................................................................. 
	11
	2
	ASPECTOS HISTÓRICOS DA LEGISLAÇÃO PENAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.................................................................................
	11
	2.1
	ASPECTOS HODIERNOS DA LEGISLAÇÃO PENAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.................................................................................. 
	15
	2.1.1
	Doutrina da Proteção Integral.................................................................
	19
	2.2
	GARANTIAS E PRINCÍPIOS NA GESTÃO DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI..............................................................................
	22
	
	CAPÍTULO lI – A RESPONSABILIDADE DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI E AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS...............
	26
	3
	PRINCÍPIOS ATINENTES ÀS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS..............
	26
	3.1
	APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NO ÂMBITO DA LEGISLAÇÃO NACIONAL.........................................................................
	28
	3.2
	MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS................................................................
	30
	3.2.1
	Advertência...............................................................................................
	31
	3.2.2
	Reparação de Danos................................................................................
	32
	3.2.3
	Prestação de Serviço à Comunidade.....................................................
	32
	3.2.4
	Liberdade Assistida.................................................................................
	33
	3.2.5
	Semiliberdade...........................................................................................
	34
	3.2.6
	Internação.................................................................................................
	35
	
	CAPÍTULO III – A EFETIVIDADE DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS E A RESSOCIALIZAÇÃO DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI..............................................................................................................
	38
	4
	A EFETIVIDADE DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS: CARÁTER EDUCATIVOOU PUNITIVO...................................................................... 
	38
	4.1
	A RESSOCIALIZAÇÃO DOS JOVENS EM CONFLITO COM A LEI......... 
	41
	4.2
	A ESTRUTURA DO SISTEMA SOCIEDUCATIVO EM CHAPECÓ-SC....
	47
	5
	CONCLUSÃO ...........................................................................................
	48
	
	REFERÊNCIAS .........................................................................................
	51
1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa tem como objeto a aferição da responsabilidade do adolescente ao cometer fatos definidos como crime, bem como analisar a real efetividade das medidas socioeducativas. Para tal, fez-se necessária uma abordagem dos aspectos históricos que possibilitaram a hodierna legislação juvenil, definida pela Lei Federal número 8.069 de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente. 
A problemática que envolve a criança e o adolescente quanto às questões penais juvenis são fruto de fervorosas discussões e questionamentos. Haja vista que as medidas socioeducativas, aplicadas a adolescente que incidem em infração penal enquanto adolescente são reconhecidas por uma parte da doutrina como de caráter punitivo enquanto outra parte as estabelece como caráter educativo. 
Hodiernamente, em uma crescente considerável, crianças e adolescentes se relacionam ao crime por inúmeros motivos, quer seja, a condição social, a falta de educação, a falta de segurança, a falta de opção ou até mesmo pelo instinto criado em seus berços. Para tal, é importante o estudo e a compreensão dos institutos inseridos no Estatuto da Criança e do Adolescente, atuantes como a medida sancionadora entre o estado e o adolescente em conflito com a lei. 
Destarte, a conseguinte pesquisa tem como objeto a apreciação acerca da efetividade das medidas socioeducativas, bem como se possuem caráter punitivo ou educativo e por fim, se elas atuam na ressocialização dos jovens que praticam fatos definidos como infração penal. 
No que tange a síntese metodológica, o presente trabalho se baseará em bibliografia de diferentes doutrinadores, além de artigos e sites que tratam sobre o tema. Desta forma, a metodologia aplicada na elaboração da pesquisa será definida de forma qualitativa. 
Nesta direção, no primeiro capítulo deste trabalho, destacam-se as passagens históricas que desencadearam a atual legislação penal juvenil. Logo em seguida, asseveram-se as principais garantias e princípios intrínsecos da hodierna legislação.
No segundo capítulo, abordar-se-á a posição do jovem frente à legislação penal juvenil brasileira, definindo sua responsabilidade mediante a sua conduta delitiva, quer seja a aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente por meio das medidas socioeducativas.
Por fim, o terceiro capítulo, escopo deste trabalho de conclusão de curso, pois nele far-se-á o estudo da efetividade das medidas socioeducativas na ressocialização destes adolescentes.
CAPÍTULO I
VISÃO HISTÓRICA E HODIERNA DA LEGISLAÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO
2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA LEGISLAÇÃO PENAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
	Antes da análise atual acerca da legislação adotada em nosso país, faz-se necessário um estudo preliminar, buscando os fatos históricos que originaram o sistema jurídico brasileiro, pertinentes a responsabilidade penal da criança e do adolescente. 
 	Acerca da imputação de responsabilidade às crianças e aos adolescentes em conflito com a lei num primeiro momento histórico, Saraiva descreve:
[...] a imputabilidade penal iniciava-se aos sete anos, eximindo-se o menor da pena de morte e concedendo-lhe redução da pena. Entre dezessete anos e vinte um anos havia um sistema de ‘jovem-adulto’, o qual poderia ser até mesmo condenado à morte, ou, dependendo de certas circunstâncias, ter sua pena diminuída. A imputabilidade penal plena ficava para os maiores de vinte e um anos, a quem se cominava, inclusive, a morte em certos delitos (SARAIVA, 2009, p. 30-31).
No ano de 1830 foi formulado o Código Penal do Império, que dentre suas principais novidades trazia a imputabilidade penal já aos catorze anos de idade. Em relação a esta narrativa Sposato (2006, p. 28) aduz que “aos infratores de faixa etária entre 14 a 21 anos de idade, as penas seriam atenuadas [...] atribuindo-se aos infratores com 17 anos penas de cumplicidade, o que implicava a substituição de penas muito severas por outras”. 
Portanto, a imputabilidade penal teve uma crescente significativa no ano de 1830 em relação ao século XIX, assim, se iniciava aos 14 anos de idade e não mais aos 7 anos. (BRASIL, Código Penal do Império, 1830).
Percorrendo a linha cronológica, em 1890 foi vigorado o Código Penal dos Estados Unidos do Brasil. Conforme inserido em tal código a inimputabilidade penal se estendia aos menores de 9 anos de idade, enquanto a imputabilidade permaneceria em 14 anos, tal qual o Código Penal do Império. (BRASIL, Decreto nº 847, 1890).
Entretanto, o momento histórico foi analisado sob uma nova ótica ao tratar que a imputabilidade penal poderia retroagir aos 9 anos de idade, dependendo de uma análise do juiz quanto ao discernimento do menor infrator. Nesse ínterim, percebe-se a ruptura do caráter penal aplicado até então e o nascimento de uma nova ótica de cunho protetivo, influenciado principalmente pela criação de esferas especiais em países europeus. (SARAIVA, 2009). 
Ainda, Saraiva (2009, p. 37-39) cita que “veio se construindo a Doutrina do Direito do Menor", o que trouxe reflexos significativos ao Brasil. Contudo, até o ano de 1900, mais precisamente entre o fim do período imperialista e o início do governo republicano, não existiam registros periódicos que tratavam de políticas públicas que sustentassem proteção à criança e ao adolescente. (LORENCI, 2016).
A única entidade que atuava no zelo dos jovens e desamparados em geral era a Santa Casa de Misericórdia, onde as populações economicamente carentes eram entregues aos cuidados da Igreja Católica. Tratava-se de um sistema que se originou na Europa no século XVIII que inicialmente tinha a finalidade de amparar as crianças abandonadas e recolher donativos. No Brasil, a primeira Santa Casa foi fundada no ano de 1543 em São Vicente (Vila de Santos). Portanto, a Santa Casa era a única proteção existente naquele período, ainda que de forma acessória, haja vista que as crianças e os adolescentes precisavam disputar espaço com os demais desamparados da época. (LORENCI, 2016). 
Analisando essa temática, Ferrandin (2009, p. 35) discorre que “O histórico da legislação protetiva da criança e do adolescente, no Brasil, é recente e iniciou de forma débil, com diminutas garantias ao adolescente infrator”. Essa análise se sustenta no fato de que apesar da maior parte dos países, dentre eles os europeus, já tratarem acerca do tema.
 O Brasil posicionou-se diretamente sobre estes direitos em 1927, após reiteradas discussões das questões legais por intermédio de um Decreto Federal sob o número 17.943, também conhecido como Código de Mello Mattos. Sobre este código:
Seguindo o progresso de legislações relativas ao menor ocorreu surgimento do primeiro Juizado de Menores do Brasil, cujo titular foi o Magistrado José Cândido Albuquerque Mello Mattos. Com a criação do juizado veio a idéia de adoção de medidas que embora sem garantias de devido processo legal, misturava assistencialismo com ideal abstrato de justiça, para um saneamento moral de justiça (SHECAIRA, 2008, p. 35-36).
Dentre as novidades essenciais do Código de Mello Mattos, destaca-se a preocupação do legislador em não submeter o jovem infrator maior de 14 anos e menor de 18 anos a qualquer processo penal, mas a um processo especial. Como estava positivado em seu Artigo 69 (BRASIL, Decreto 17.943, 1927):
Art. 69. O menor indigitado autor ou cumplice de facto qualificado crime ou Contravenção, que contar mais de 14 annos e menos de 18, será submettido a processoespecial, tomando, ao mesmo tempo, a autoridade competente as precisas informações, a respeito do estado physico, mental e moral delle, e da situação social, moral e economica dos paes, tutor ou pessoa incumbida de sua guarda. § 1º Si o menor soffrer de qualquer forma de alienação ou deficiencia mental, fôr epileptico, sudomudo e cego ou por seu estado de saude precisar de cuidados especiaes, a autoridade ordenará seja submettido ao tratamento apropriado.§ 2º Si o menor não fôr abandonado, nem pervertido, nem estiver em perigo de o ser, nem precisar do tratamento especial, a autoridade o recolherá a uma escola de reforma pelo prazo de um n cinco annos. § 3º Si o menor fôr abandonado, pervertido, ou estiver em perigo de o ser, a autoridade o internará em uma escola de reforma, por todo o tempo necessario á sua educação, que poderá ser de tres annos, no minimo e de sete annos, no máximo. (BRASIL, Decreto 17.943, 1927).
Inquestionavelmente, foi considerado um progresso em uma época em que os direitos individuais e patrimoniais prevaleciam sobre os direitos coletivos. Deste importante momento, consta no Portal Educação que o Código Mello Mattos estabeleceu medidas de recolhimento e encaminhamento para um lar, seja dos pais ou de outras pessoas encarregadas pela guarda do menor. Já com relação aos menores delinquentes, a faixa etária dos 14 anos foi impedida de ser submetida à procedimento penal de qualquer espécie. É necessário que seja verificado o estado físico, moral e mental da criança, além da situação social, moral e econômica do país. (PORTAL EDUCAÇÃO, 2016).
Adiante, o Código de Mello Mattos foi substituído por um novo ordenamento, intitulado como Código de Menores por força da Lei 6.697/79 que as condições do menor em situação irregular, assim como consta em seu artigo 2º (BRASIL, LEI 6.697/79, 1979):
Art. 2º Para os efeitos deste Código, considera-se em situação irregular o menor: I - privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las; Il - vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável; III - em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes; b) exploração em atividade contrária aos bons costumes; IV - privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; V - Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária; VI - autor de infração penal. Parágrafo único. Entende-se por responsável aquele que, não sendo pai ou mãe, exerce, a qualquer título, vigilância, direção ou educação de menor, ou voluntariamente o traz em seu poder ou companhia, independentemente de ato judicial. (BRASIL, LEI 6.697/79, 1979).
Nota-se que o referido Código, diferentemente de seus antecessores, aumentou a gama protetiva aos jovens e definiu as condições consideradas como situação irregular. Neste contexto, a lei Lei 6.697/79, 1979, definiu:
I – advertência; II – entrega aos pais ou responsável, ou a pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade; III – colocação em lar substituto; IV – imposição do regime de liberdade assistida; V – colocação em casa de semiliberdade; e VI – internação em estabelecimento educacional, ocupacional, psicopedagógico, hospitalar, psiquiátrico ou outro adequado.
(BRASIL, LEI 6.697/79, 1979).
Valendo-se deste norte, Faleiros (PORTAL EDUCAÇÃO, 2016) cita que o Código de Menores consolidou o entendimento de que “se a família não pode ou falha no cuidado e proteção do menor, o Estado toma para si esta situação”. Partindo deste pressuposto, o Estado criou a Fundação do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) com o objetivo de sanar a problemática instaurada. Conforme representado a seguir:
Coube a tarefa de implementar a Política Nacional do Bem-Estar do Menor (PNBM), que deveria por fim ao emprego de métodos repressivos e primitivos na instituições para “menores”, e, através da ação conjunta com a comunidade, desenvolver outras estratégias de atendimento que não priorizassem mais a internação ou institucionalização da criança.Para assegurar o controle da situação, a FUNABEM, desencadeou na década de 70, um processo de sensibilização dos governadores estaduais, dando origem às Unidades da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (FEBEM). No entanto, as unidade da FEBEM em cada estado se revelam lugares de tortura e espancamentos, nos moldes dos esconderijos militares, onde subversivos, era torturados. (FALEIROS apud PORTAL EDUCAÇÃO, 2016). 
	Apesar das novas medidas aplicáveis, muitos estudiosos defendiam a ideia de que a nova lei não trazia mudanças significativas e que inclusive atuava exclusivamente de forma repressiva aqueles considerados elementos de ameaça à ordem. Acerca desta passagem, esta representa os elementos que inserem a criança e o jovem pobre e despossuído das ameaças à ordem vigente. O Código buscava reprimir, corrigir e integrar os desvios das instituições como a FEBEM e FUNABEM, valendo-se dos velhos modelos. (MORAIS, 2016). 
Questionamentos acerca desta legalidade correcional começaram a ganhar notoriedade devido à perversidade com os jovens submetidos à essas práticas, bem como assevera Morais (2016) “Essa repressão em instituição de confinamento começa a provocar indignações ética e políticas nos segmentos da sociedade não alienada”. Eis que, além de serem consideradas práticas abusivas, elas não apresentavam eficácia na recuperação de jovens infratores. 
Desta forma, a elaboração de um novo Código que primasse pela dignidade da pessoa humana e que de fato trouxesse resultados positivos ao ordenamento jurídico. Sobre esse tema, Ferrandin (2009, p. 105) ainda versa que “A ausência de uma eficaz política jurídica e social, voltada a proteção e facilitação do exercício do direito das crianças e adolescentes, culmina em hipertrofia dos sistemas de controle”. Justamente o que ocorria na época; políticas equivocadas que tinham pouca ou nenhuma efetividade. 
Por fim, convalescendo-se dos fatos e acontecimentos ora narrados, é criado em 13 de junho de 1990 por força da Lei Federal número 8.069 o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que substabeleceu o antigo Código de Menores que transcendeu as legislações específicas anteriores e persevera nos dias atuais. 
2.1 ASPECTOS HODIERNOS DA LEGISLAÇÃO PENAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
Antes da verificação dos aspectos hodiernos da legislação da criança e do adolescente no sistema jurídico brasileiro, é de extrema importância aludir à promulgação da Constituição da República de 1988, marco fundamental para a positivação destes direitos. (BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988). 
	A promulgação da Constituição Federal (CF/88) surgiu logo após a ditadura militar, que foi um período conturbado na história brasileira. Sua elaboração ocorreu de forma democrática e preocupada com a garantia de direitos, ainda, sedimentou o Estado Democrático para que não houvesse mais arbitrariedades por parte do Estado. Por fim, prevendo mudanças, o legislador ainda definiu os direitos fundamentais e a forma de estado como “cláusulas pétreas”, ou seja, não poderiam ser reformadas. (LIMA, 2016).
Ante o exposto, é irrefutável a importância que a CF/88 teve para a época e principalmente para a solidificação do Estatuto da Criança e do Adolescente ao resguardar direitos fundamentais, além de buscar que não mais houvesse arbitrariedades por parte do estado. (BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988).
Por consequência, em 13 de julho de 1990 foi sancionado pelo então Presidente da República Fernando Collor de Mello o Estatuto da Criança e do Adolescente, que revogava o Código de Menores. O novo Estatuto, diferentemente do Código anterior, teve como essência proteger os direitos fundamentais da criança e do adolescente e proporcionar novas perspectivas, não sendo mais admitidas práticas de cunhoabusivo como formas corretivas. (BRASIL, ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990). Tal como discorre Morais: 
A base dessa nova concepção consiste em considerar essa população não adulta, como sujeitos de direitos, e não como objetos de intervenção, conforme foi o tratamento a eles dispensando até então; além de representar um avanço na espera das políticas sociais para a infância à medida que no Estatuto se institui a idéia de Proteção Integral e como tal, não se limita a práticas primitivas, nem tão pouco ao atendimento de "menores em situação irregular", mas refere-se à proteção quanto as direitos fundamentais da criança e do adolescente (direito ao desenvolvimento físico, intelectual, afetivo, social, cultural, e etc.). (MORAIS, 2016, online).
	Partindo destes pressupostos, o ECA trouxe uma nova percepção ao tratamento da criança e do adolescente. Essencialmente, atuando na proteção integral e estabelecido de forma protetiva. Acerca deste parecer, o ECA traz em seu artigo 3º:
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.[...]. (BRASIL, ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990). 
	Assim, o estatuto regeu-se por direitos fundamentais, protegendo integralmente a criança e o adolescente, possibilitando-lhes uma nova perspectiva de vida. Neste quesito, consoante ao Estatuto, a CF/88 robustecendo-se destes direitos, dispõe em seu Artigo 227 acerca do tratamento destinado a todos os jovens:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) § 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos: (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil; II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010). (BRASIL,CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988).
Apresentando em definitivo a hodierna visão protecionista e garantista às crianças e aos adolescentes. Outro fator importante definido pelo ECA foi à distinção entre criança e adolescente, positivado em seu artigo 2º e o definindo como: “criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”. Destarte, tratando desta distinção entre criança e adolescente Palomba (apud VALENTE, 2002, p.16) ensina que:
Do nascimento aos 12 anos é o período das aquisições mentais gerais. O cérebro não atingiu seu peso definitivo e os neurônios se maturam aos poucos. Corresponde, juridicamente, a inimputabilidade penal e a incapacidade civil. Dos 13 aos 17 anos, quando ocorrem o espermatozoide no homem e a menarca na mulher, o cérebro ainda não está totalmente desenvolvido, embora já ofereça condições para, no meio social, o individuo formar seus próprios valores éticos-morais e ter seus interesses particulares. Aqui cabem, juridicamente a semi-imputabilidade penal e a incapacidade relativa para certos atos da vida civil. A partir dos 18 anos, a pessoa já tem suas estruturas suficientemente desenvolvidas, biológica e psicologicamente; tem capacidade para o caráter jurídico, civil e/ou penal de um determinado ato e está apta para determinar de acordo com esse entendimento. Maioridade, imputabilidade penal e capacidade civil. (VALENTE, 2002, p.16). 
	Portanto, é perceptível que a lei buscou fundamentação em outras fontes para que chegasse a um denominador que atingisse aos anseios da sociedade frente aquele momento histórico (BRASIL, ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990).
	Dentre as novidades, ainda aclarou o ato infracional, definindo-o como “a conduta descrita como crime ou contravenção penal” (artigo 103), e como forma de pronta resposta institucionalizou as chamadas medidas socioeducativas, as quais serão estudadas de forma detalhada no Capítulo II. 
	Assim, estabelecia ao julgador a possibilidade analítica das circunstâncias, aliada a gravidade da infração, e a partir dessas premissas, aplicar a medida socioeducativa adequada à situação, conforme trata o parágrafo 1º do mesmo dispositivo “a medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração”. Neste quesito, Valente descreve:
O estatuto delega ao julgador a responsabilidade da opção pela medida que mais atenda as reais necessidades do adolescente infrator, devendo levar em conta o meio em que vive, o apoio familiar que disponha, sua responsabilidade e antecedentes. E mais. Reservou as medidas socioeducativas aos adolescentes, excluindo a possibilidade de sua imposição às crianças, ainda que tenham praticado ato infracional, por mais grave que seja. (VALENTE, 2002, p.16). 
	No tocante às crianças em conflito com a lei penal, o ECA incumbiu o Conselho Tutelar como órgão responsável pelos seus interesses, ora disposto em seu artigo 131 “O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei”. O qual atuará e aplicará as medidas do artigo 101, inciso I a VI, quais sejam: 
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do adolescente; V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; (BRASIL, ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990).
	Dessa forma, dispondo à criança e ao adolescente em conflito com a lei, garantias até então não instituídas em seu tratamento. Além disso, o artigo 110 disciplina que “Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo legal” (BRASIL, ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990). 
Quanto a esta garantia manifesta, Sposato (2006, p. 84) faz referência às próprias garantias de ordem constitucional presentes na CF/88, citando que “valem os mesmos direitos e garantias processuais dos imputáveis, especialmente porque a garantia do devido processo legal tem o condão de resumir ou sintetizar todas as prerrogativas processuais decorrentes da ordem constitucional”. Acerca do devido processo legal no ECA, Valente descreve que:
Transportando esses princípios para o Estatuto da Criança e do Adolescente sem outras citações, eis que não se busca, aqui, esgotar matéria; fica inafastável a conclusão de que nenhuma medida socioeducativa poderá ser aplicada ao adolescente infrator sem que sejarespeitado o devido processo legal, assegurando-se ao menor, ampla defesa e direito ao contraditório. (VALENTE, 2002, p.36). 
Convalescendo-se destas hodiernas garantias que pautam o âmago do direito penal da criança e do adolescente, transcende o ideal da Doutrina da Proteção Integral que será estudada a seguir. 
2.1.1 Doutrina da Proteção Integral
No que tange ao princípio da Doutrina da Proteção Integral, pode-se afirmar que se solidificou a partir da moldura de quatro documentos, quais sejam: regras de Beijing (1985); a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança (1989); (29/11/85); as Regras das Nações Unidas para a Proteção dos Menores Privados de Liberdade (1990) e as Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência Juvenil (1990). (SARAIVA, 2009).
Após a moldura destes quatro documentos, ocorreu a ruptura da situação irregular do adolescente para a ideia de proteção integral, conforme trata a autora Vilas-Bôas:
Quando se trata das crianças e dos adolescentes o nosso sistema jurídico pode ser analisado em duas fases distintas: a primeira que denominamos de situação irregular, no qual a criança e adolescente só eram percebidos quando estavam em situação irregular, ou seja, não estavam inseridos dentro de uma família, ou teriam atentado contra o ordenamento jurídico; já a segunda fase denominada de Doutrina da proteção integral, teve como marco definitivo a Constituição Federal de 1988, onde encontramos no art. 227, o entendimento da absoluta prioridade. (VILAS-BÔAS, 2011, online). 
Sobre o tema, Saraiva sustenta que a Doutrina de Proteção Integral (2009, p. 85) “traz consigo todo o garantismo do Direito Penal e Constitucional, vindo esta a constituir um modelo de regras e garantias chamado de Direito Penal Juvenil”. Tal como no texto constitucional em seu artigo 227 já apresentado anteriormente, e acolhido pelo ECA em seu artigo 4º, enraizando os direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes em sua forma integral, conforme vê-se a seguir:
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL, ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990).
	Ainda, a autora Vilas-Bôas (2011, online) diz que “Assim rompemos com a doutrina da situação irregular existente até então para abarcarmos a doutrina da proteção integral consubstanciada em nossa carta magna”.	
	Neste preceito, Veronese dispõe sobre a responsabilidade do Estado no cumprimento desta proteção:
Ao Estado compete à implantação de programas de assistência integral, visando à saúde da criança e do adolescente, com atendimento especializado aos portadores de deficiência, através de treinamento para o trabalho e da convivência social, e a facilitação do acesso aos bens e serviços públicos coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos; deverá ainda o Poder Público aplicar um percentual dos recursos públicos para os cuidados com a saúde na assistência materno-infantil – art. 227, §1º, I e II. (VERONESE, 1999, 45).
	
	Deste modo, o ECA, conforme demonstra Cury (2005, p.17) primou pela “proteção integral da criança e do adolescente, de tal forma que cada brasileiro que nasce possa ter assegurado o seu pleno desenvolvimento, desde as exigências físicas até o aprimoramento moral e religioso”. 
	Nesta mesma temática, é válida a análise de Sposato no que segue:
É inegável, desse modo, a relação intrincada entre a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Contemporâneos ao consenso na Comunidade das Nações acerca da necessária proteção especial às crianças e aos adolescentes. (SPOSATO, 2006, p. 58).
	Sobre o tema abordado, o ECA tem a relevante função de regulamentar o texto constitucional, de modo que, não se constitua de uma norma sem efeito. Para tanto, é necessário que se aplique aos direitos uma política social eficaz, que assegure de forma objetiva os direitos já positivados no ordenamento. Para que se concretize tais aspectos, faz-se necessária a utilização de dois princípios da Lei 8069/90, a descentralização e participação. Eis que, resultará numa melhor divisão entre União, Estados e Municípios para que se cumpra os direitos sociais já positivados. Sobre o princípio da participação, este reflete na ação de forma progressiva e constante da sociedade. (VERONESE, 1999).
No que consiste ao direito de proteção integral, intrincado na CF, a autora Fernandes assevera que:
Em poucas, mas expressivas palavras, a criança e o adolescente passaram a ter o direito à assistência e à proteção integral. Aliás, conforme a Constituição da República em vigor, a assistência social é um dever do Estado e direito de qualquer pessoa que dela necessitar. Em síntese, significa uma política pública, objeto de lei, no âmbito da seguridade social. (FERNADES, 1999, p. 44). 
Ademais, o direito das crianças e adolescentes inseridos no corpo do ECA tem uma abrangência muito maior que o próprio direito penal juvenil, pois este último ao tratar sobre proteção, possui somente regras preestabelecidas. (SPOSATO, 2006). 
Sobre essa abrangência, no que remete a proteção integral, Vilas-Bôas (2011, online) ensina que “é necessário uma nova visão [...] partindo do conjunto de normas [...] regido pela Doutrina da Proteção Integral e tendo como base os princípios da prioridade absoluta e do melhor interesse do menor”. Sobre o princípio da prioridade absoluta, a citada autora o descreve da seguinte forma:
O princípio da prioridade absoluta reflete em todo o sistema jurídico devendo cada ato administrativo ser pensado e analisado se está em consonância com o art. 227 da Constituição Federal, já que a criança, o adolescente e o jovem tem prioridade absoluta em seus cuidados. (VILAS-BÔAS, 2011, online).
Desta forma, aplicar-se-á o artigo 227 da CF em conjunto com o princípio, pautando o tratamento da criança, do adolescente em prioridade absoluta. Neste diapasão, ainda assevera sobre o princípio do melhor interesse do menor:
Já o princípio do melhor interesse do menor pode ser traduzido com todas as condutas devem ser tomadas levando em consideração o que é melhor para o menor. Lembrando que, nem sempre o que é melhor para o menor, é o que ele deseja. E assim, a jurisprudência pátria tem-se manifestado nesse sentido, quando se trata em questão de adoção por exemplo, entre as possíveis pessoas a adotarem deve-se levar em consideração o que é melhor para o menor e não o que o adotante deseja. Revertendo assim, toda a estrutura jurídica até então existente. (VILAS-BÔAS, 2011, online).
Assim, o princípio ajusta que as decisões deverão ser tomadas com base ao melhor interesse do menor e não o que o mesmo deseja. 
Por fim, resta afastado o conceito de “menor”, pois a partir de então o jovem infanto-juvenil não faz mais parte do processo como um mero objeto, e sim sujeito deste, atuando como protagonista de sua história e não mero coadjuvante. (SARAIVA, 2009).
Assim, após análise dos aspectos que fomentaram a doutrina de proteção integral, far-se-á a relação das demais garantias e princípios que norteiam a gestão do adolescente em conflito com a lei.
2.2 GARANTIAS E PRINCÍPIOS NA GESTÃO DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI
Ao tratar de garantias e princípios é imprescindível a citação da CF/88 e, principalmente do ECA no que tange a gestão do adolescente em conflito com a lei. Utilizando-se da mobilização e união entre CF/88 e ECA, foi elaborado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNPDCA) que tem por objetivo: 
Coordenar as ações e medidas governamentais referentes à criança e ao adolescente; Coordenar a produção, a sistematização e a difusãodas informações relativas à criança e ao adolescente; Coordenar ações de fortalecimento do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) de crianças e adolescentes; Coordenar a política nacional de convivência familiar e comunitária; Coordenar a política do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase); Coordenar o Programa de Proteção de Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM); Coordenar o enfrentamento ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes; Exercer a secretaria-executiva do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). (BRASIL, SECRETARIA ESPECIAL DE DIREITOS HUMANOS, 2016).
Portanto, o SNPDCA tem como mister o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à proteção dos direitos da criança e do adolescente em nosso país. Por outro lado, tratando de garantias processuais inerentes a criança e ao adolescente, o ECA estabelece, conforme as palavras de Sposato (2006, p. 83) que: “o devido processo legal impõe a observância de diversas garantias, que, transportadas ao direito penal juvenil, podem ser sintetizadas pela letra do art. 111 do ECA”, conforme já disposto neste trabalho. (BRASIL, ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990).
Quanto a essas garantias, valem os mesmos direitos e garantias processuais dos penalmente imputáveis, especialmente no que se refere à garantia do devido processo legal, tem o “[...] condão de resumir ou sintetizar todas as prerrogativas processuais decorrentes da ordem constitucional” (SPOSATO, 2006, p. 84).
Destarte, conforme estabelecido pela autora supracitada, é pacífico o entendimento que os adolescentes gozam dos mesmos princípios e garantias de sujeitos penalmente imputáveis. Neste contexto, Saraiva cita: 
[...] os artigos 37 e 40 da Convenção das Nações Unidas dos Direitos da Criança – CNUDC – trazem os principais contornos do Sistema de Justiça Penal Juvenil, estabelecendo os princípios norteadores deste sistema, com todas as características de uma Justiça Penal, seja pelo chamado ‘sequestro do conflito pelo Estado’, seja pelas notas fundantes de um sistema penal. (SARAIVA, 2010, p. 57).
Acompanhando essa narrativa, far-se-á a análise das principais garantias e princípios que norteiam a legislação penal da criança e do adolescente no Brasil. Quanto ao princípio da legalidade ou da reserva legal, Shecaira (2008 p. 143) descreve que para incidir neste princípio “os elementos típicos devem ser objetivos e descritos concretamente na lei, de tal forma que seu conteúdo e sentido e significação aflore no texto”. Além do mais, a CF/88 trata em seu artigo 5º acerca do princípio, mais especificamente em seu inciso XXXIX, definindo que “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena máxima sem prévia cominação legal”. 
A Irretroatividade da Lei Penal, princípio pautado na ideia de que nenhuma criança será acusada ou declarada culpada por infringir leis que não estavam positivadas de modo proibitivo, seja ela de caráter nacional ou internacional no momento em que foram cometidas. (SARAIVA, 2010). Acerca do Princípio da Intervenção Mínima:
[...] desfruta de um caráter subsidiário, entendido no sentido de que o recurso ao Direito Penal Juvenil deve empregar-se somente para aquelas condutas que não possam ser atacadas por outros meios de controle social. Trata-se, pois, da adoção do princípio da ultima ratio (SHECAIRA, 2008, p. 147).
Neste viés, a intervenção mínima trata do último recurso, onde o direito penal somente intervirá quando absolutamente necessário a fim de garantir a manutenção pacífica da ordem jurídica. (SPOSATO, 2006). 
Enquanto o Princípio da Humanidade, a CF/88 adota como fundamento a dignidade da pessoa humana já em seu artigo 1º, inciso III. Bem como exposto anteriormente, tal princípio abarca não somente adultos, mas também jovens, estabelecendo a mesma proteção humana a ambos. (SPOSATO, 2006).
Em linha tênue ao Princípio da Humanidade, encontra-se o Princípio da Proporcionalidade ou da Razoabilidade, que de acordo Sposato, a justiça penal juvenil há de ser mais benigna do que a justiça penal, do modo que, a proporcionalidade deve assegurar “[...] ao interesse superior do adolescente como pessoa em desenvolvimento e, por fim, ao reconhecimento da dignidade humana como fundamento do Estado de direito” (SPOSATO, 2006, p. 100). 
O Princípio da Culpabilidade, também inserido na CF/88 em seu artigo 5º, inciso XLV, cita que “nenhuma pena passará da pessoa do condenado [...]”. Sobre o tema, Sposato aduz que, que “não poderá haver responsabilização ou sansão alguma sem que haja a demonstração da culpabilidade, ou seja, da demonstração da existência do ato infracional”. Além disso, deve-se demonstrar “[...] a reprovabilidade da conduta e consciência da ilicitude devem ser demonstradas sob pena de inexistir ato infracional” (SPOSATO, 2006, p. 102). Portanto, está presente no ECA por intermédio das medidas socioeducativas, as quais exigem comprovada demonstração de culpabilidade do adolescente a quem a medida é imposta (SPOSATO, 2006, p. 102). 	
Por fim, os dois principais princípios inerentes à criança e ao adolescente são o Princípio do Melhor Interesse do Adolescente e o Princípio da Peculiar Pessoa em Desenvolvimento. Ao modo em que são atribuídos de forma exclusiva aos jovens. Ante o exposto, Shecaira cita novamente que o Princípio do Melhor Interesse do Adolescente deverá atuar mediante a última ratio ao atribuir punições, tal como descreve: 
[...] a observância do Princípio do Melhor Interesse do Adolescente é outro pilar da idéia segundo a qual o sistema punitivo deve operar em ultima ratio, já que é sabido que a intervenção penal possui inúmeros inconvenientes, entre os quais o de acelerar o processo da recidiva, impedindo que o jovem venha a ter a necessária escolarização, tão relevante para o processo socializador (SHECAIRA, 2008, p. 195). 
Já sobre o Princípio da Peculiar Pessoa em Desenvolvimento, Shecaira demonstra a sua importância ao citar que o adolescente:
[...] não pode ser tratado com o mesmo rigor com que o adulto seria tratado se praticasse atos análogos. Também não é mais criança, para quem tudo se releva. Não pode ser tratado com um paternalismo ingênuo, assim como não deve ser responsabilizado por todo o mal que aflige a sociedade, mal esse criado pelos adultos (SHECAIRA, 2008, p. 163).
Deste modo, o princípio está inserido no texto do artigo 6º do Estatuto que dispõe “levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos e a condição peculiar da criança e adolescente”. (BRASIL, ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990).
	Após realizadas as considerações atinentes aos aspectos históricos e hodiernos da legislação penal da criança e do adolescente, bem como a apreciação das garantias e princípios inseridos na política de direito penal juvenil, conclui-se o primeiro capítulo, para que em sequência seja apresentado o próximo capítulo que preconizará o estudo da responsabilidade do adolescente em conflito com a lei e a aplicação das medidas socioeducativas. 
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CAPÍTULO lI
A RESPONSABILIDADE DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI E AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
3 PRINCÍPIOS ATINENTES ÀS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Conforme citado ao fim do capítulo anterior analisar-se-á as medidas socioeducativas, medidas estas aplicáveis como forma de responsabilizar adolescentes autores de atos infracionais, cuja fundamentação está inserida no Estatuto da Criança e do Adolescente em seu Artigo 112. (BRASIL, ESTATUTO DA CRINÇA E DO ADOLESCENTE, 1990).
	Preliminarmente, antes do estudo em comento, faz-se necessário o adendo de que somente será submetido a medidas socioeducativas, o adolescente, com idade superior a 12 anos e inferior a 18 anos que cometerem contravenção penal (infração) desde que amparados pela égide dos princípios que norteiam o Direito Penal Juvenil. (BRASIL, ESTATUTO DA CRINÇA E DO ADOLESCENTE, 1990).
	Conseguinte, adentrar-se-á ao estudo destes princípios, tendocomo referência a Lei número 12.010/2009, também identificada como a Lei da Adoção que elencou e definiu os princípios que regem a aplicação das medidas socioeducativas. (SARAIVA, 2010). Além disso, a Lei da Adoção foi recepcionada pelo ECA em seu Artigo 100, parágrafo único. 
	Primeiramente, é apresentado o princípio do adolescente como sujeito detentor de direito, sendo que Saraiva (2010, p. 76) aduz expressamente que o adolescente “tem os mesmos direitos que os adultos [...] decorrente de sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”. Inobstante a sua condição diferenciada, não há de se falar em desigualdade de tratamento por força deste princípio. 
Em um segundo momento, e talvez o principal, tamanha a sua fundamentalidade é o princípio da proteção integral, cuja importância foi estudada no Capítulo I. 
	Em um terceiro momento, analisa-se o princípio da responsabilidade primária e solidária do poder público, que consistente na responsabilização das três esferas estatais responsáveis de forma solidária pela plena efetivação dos direitos constitucionais e infraconstitucionais assegurados às crianças e aos adolescentes. (BRASIL, ESTATUTO DA CRINÇA E DO ADOLESCENTE, 1990).
	Conseguinte, o princípio do interesse superior do adolescente, que objetivamente sustenta que os atos deverão atender aos interesses e aos direitos do adolescente, sem prejuízo nos direitos declarados. (BRASIL, ESTATUTO DA CRINÇA E DO ADOLESCENTE, 1990).
	Consoante ao princípio da privacidade, Saraiva (2010, p. 77) dispõe que “em decorrência da própria condição de pessoa em desenvolvimento, tem o adolescente o direito ao esquecimento, a não estigmatização, cabendo ao Estado [...] preservar a imagem do infrator”. Bem como preceitua outros princípios gerias que preservam a imagem e condenam a exposição do infrator. 
	Adiante, o princípio da intervenção precoce, conforme Saraiva (2010, p. 77), “nada justifica que a execução de uma medida socioeducativa seja [...] posterior à prática do ato infracional”, explica-se tal posicionamento de que o adolescente, ao conflitar-se com a lei já tem a situação de vida modificada no momento do ato. 
	No que tange ao princípio da intervenção mínima, conforme já citado no capítulo I, “a intervenção Estatal deve ocorrer tão-somente para suprir o déficit pedagógico existente” sendo que a medida socioeducativa dever ser proporcional às necessidades pedagógicas. (SARAIVA, 2010),
	No tocante ao princípio da atualidade, Saraiva (2010, p. 77) explica que “na aplicação da medida deve ser verificado o contexto existente quando de sua execução, e não quando ocorreu a prática do ato infracional”. Portanto, quer-se dizer que deverá ser considerado a sua condição atual.
	Sequencialmente, encontram-se os princípios da responsabilidade parental e o da prevalência da família, pacificando a importância dos pais e da família na prosperidade de cada jovem. Assim, Saraiva (2010, p. 78) define como “sendo a família o lugar natural do adolescente, prefere-se que o infrator permaneça junto a ela, devendo ser institucionalizado apenas em hipóteses excepcionais”.
	Em seguida, o princípio da obrigatoriedade da informação que tem por objeto a livre informação acerca do estágio em que o adolescente se encontra no cumprimento da medida socioeducativa estipulada (SARAIVA, 2010).
	 Por fim, conceitua-se o princípio da oitiva obrigatória e participação do adolescente, sendo exposto por Saraiva (2010, p. 78) que “a pessoa em desenvolvimento deve ser ouvida em todas as fases do processo de conhecimento, bem como da execução”.
	Neste contexto, verificados os aspectos principiológicos que abarcam as medidas socioeducativas, passa-se a estudar, na sequência, a sua aplicabilidade no âmbito nacional. 
3.1 APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NO ÂMBITO DA LEGISLAÇÃO NACIONAL
De pronto, no que tange a legislação nacional acerca das medidas socioeducativas, vem a calhar a atual Súmula 108 do Superior Tribunal de Justiça “A aplicação de medidas sócio-educativas ao adolescente, pela prática de ato infracional, é de competência exclusiva do juiz”. Desta forma, caberá ao juiz de forma exclusiva a decretação de medida privativa de liberdade. 
Assim, descreve Alves (2008, p. 29) “O processo tem destacado caráter jurisdicional: a ação penal se desenvolve perante um juiz, e mesmo as hipóteses de arquivamento e remissão dependem da homologação judicial (arts.181 e 182 do ECA)”. 
Ainda, resta evidente que o juiz deverá atuar sob a égide dos direitos inerentes ao jovem em conflito com a lei. Sendo que a aplicação das medidas poderá ser imposta somente após um devido processo, pautado por todas as garantias constitucionais, sendo imprescindível a prova e a materialidade do ilícito. Além de este procedimento estar eivado pelo contraditório, princípio que se materializa nas garantias do conhecimento do fato delituoso. (ALVES, 2008). 
Por outro lado, a medida não privativa de liberdade, poderá ser ofertada proposta de remissão pelo Ministério Público, antes do procedimento judicial da apuração de ato infracional, restando à homologação pelo magistrado. 
No tocante à proposta de remissão ofertada pelo Ministério Público que tem como mister a exclusão do processo, Amorim explica: 
O Ministério Público, via de seu membro, é legitimado para conceder, atendendo às circunstâncias e consequências do fato, ao contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no ato infracional, a remissão como forma de exclusão do processo podendo incluir eventualmente qualquer medida prevista em lei (medidas protetivas e sócioeducativas), com exceção da colocação em regime de semiliberdade e internação, cabendo à autoridade judiciária, neste último caso, após a homologação da mesma, aplicá-la na fase de execução da mesma. (AMORIM, 2016, online).
Ainda, existem outras duas modalidades de remissão, como forma de extinção ou suspensão do procedimento, sendo elas aplicadas pelo Juiz da Infância e da Juventude e não pelo representante do Ministério Público, conforme aduz Shecaira: 
[...] A remissão como modalidade de suspensão do procedimento será fixada por tempo certo, podendo o procedimento ser reiniciado, caso não seja cumprida pelo adolescente. A força coativa é, na verdade, a ameaça de retomada da persecução penal, com medidas até mais graves que a remissão judicial. Por outro lado, a remissão judicial que extingue o processo perde sua força coativa. Descumprida, não há qualquer forma de compelir o adolescente à obediência legal, sendo, pois, uma obrigação natural (SHECAIRA, 2008, p. 216).
	Estudados os aspectos preliminares das medidas socioeducativas, analisar-se-á a possibilidade da substituição, progressão ou regressão das medidas. Sobre essa possibilidade, o ECA adota o princípio da progressividade, sendo garantido ao adolescente em conflito com a lei, na proporção de seus méritos, a possibilidade de evolução da medida imposta de forma gravosa para outra mais branda, bem como, o adolescente poderá ter sua situação agravada se deixar de cumprir as metas propostas em seu Plano Individual de Atendimento (PIA) ou descumprir a medida de maneira injustificada. (SARAIVA, 2010). 
Neste prisma, sobre a substituição de medidas, Saraiva ensina:
Se originariamente aplicada medida socioeducativa em meio aberto, somente por outra da mesma espécie poderá ser substituída. Não há possibilidade de operar-se a substituição, em tendo sido originariamente aplicada ao adolescente medida socioeducativa em meio aberto, por outra privativa de liberdade por tempo indeterminado (SARAIVA, 2010, p. 148).
	Diante do exposto, restam comprovadas as hipóteses arguidas de progressão e substituição de medida socioeducativa, devendo sempre primar pela sua finalidade pedagógica e para o mérito do adolescente ou jovem (de 18 a 21 anos) submetido ao seu cumprimento.
Adiante, quanto à regressão da medida, o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul explica que:
Tomando por base a responsabilidade deque é provido o 
adolescente, este assume a obrigação de cumprir a medida aceita, sob pena de 
incidência da medida-sanção, aquela prevista pelo art. 122, inciso III, do ECA, 
não mais como resultado de um determinado ato infracional – porque essa 
possibilidade foi afastada pela extinção do processo – mas sim pelo 
inadimplemento de uma obrigação legal e livremente contraída. (BRASIL, MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, 2016). 
Desta forma, se a medida for descumprida de maneira injustificada em meio aberto (sem privação de liberdade) a nova sanção será de internação ou semiliberdade, por até no máximo três meses. Ainda, inexiste a possibilidade de substituição da medida em meio aberto por outra de privação a liberdade do adolescente. Por outro lado, diferente será a situação, no caso do adolescente ser sentenciado à internação (SARAIVA, 2010). 
Partindo deste mesmo pressuposto, o citado autor ainda explica:
Neste caso, tendo o adolescente obtido por seus méritos a progressão da medida socioeducativa de internação para outra mais branda (semiliberdade ou mesmo alguma outra medida socioeducativa em meio aberto), e venha a causar injustificadamente a frustração desta, poderá ver restabelecida a medida socioeducativa de internação originalmente imposta (SARAIVA, 2010, p. 150).
Diante do exposto, há de se destacar que hoje é pacífica a determinação da oitiva do adolescente previamente à determinação de regressão ou restabelecimento da medida anterior, conforme dispõe Saraiva (2010, p. 149) “somente será possível após oportunizar ao adolescente, em audiência, garantido o contraditório, a possibilidade de justificar o descumprimento da medida socioeducativa, sendo esta, matéria sumulada pelo STJ em jurisprudência”. Tal passagem é verificada no enunciado da atual Súmula 265 do Superior Tribunal de Justiça, que dispõe: “É necessária a oitiva do menor infrator antes de decretar-se a regressão da medida sócio-educativa”.
	Dessa forma, reputando-se analisados, em relação às medidas socioeducativas, os princípios nos quais basear-se-á sua aplicação, bem como a progressão, a substituição e a regressão, além de outras ponderações atinentes, conclui-se o objeto deste item, passando-se ao estudo das espécies de medidas socioeducativas, previstas pelo ECA.
3.2 DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
 
Precipuamente, é imprescindível a citação do Estatuto da Criança e do Adolescente que disciplinou as espécies das medidas socioeducativas:
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semi-liberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. (BRASIL, ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990).
Ante o objeto ora em análise, é válido destacar que a efetiva imposição de uma medida é a pronta resposta do estado mediante a conduta daqueles em conflito com a lei. Bem como descreve Shecaira (2008, p. 222) é “um ato de intervenção estatal na esfera de autonomia do indivíduo”. 
Adiante, analisar-se-á, em sequência, as espécies das medidas socioeducativas previstas no já citado artigo 112 do ECA.
3.2.1 Advertência
Considerada a mais branda das medidas, a advertência está inserida no inciso I do artigo 112 do ECA. Ainda o artigo 115 do mesmo dispositivo explica como dar-se-á a advertência, sendo que “consistirá em admoestação verbal, que será reduzida a termo e assinada”. 
Nesta direção, Saraiva (2010, p. 160) reforça que “A advertência, a mais branda das medidas preconizadas pelo art. 112, esgota-se na admoestação solene feita pelo Juiz ao infrator em audiência especialmente marcada para isso”. Acerca da solenidade da advertência, o mesmo autor assevera: 
A solenidade de advertência reclama esta audiência, que poderá ser coletiva reunindo todos os jovens sujeitos a esse sancionamento, quando o Juiz os admoestará exercendo o papel de imposição de limite que lhe cabe e se faz indeclinável, especialmente pelo efetivo conteúdo pedagógico desse fato. (SARAIVA, 2010, p. 161). 
Nesse caminho, é evidente que o propósito desta medida é de alertar o adolescente e seus pais ou responsáveis pelo risco eminente do envolvimento do adolescente com o ato infracional. (AQUINO, 2016).
3.2.2 Reparação de Danos
Sequencialmente, a medida de Reparação de Danos se insere no artigo 112, inciso II do ECA, além disso, está disciplinada no artigo 116 da seguinte forma:
Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima. 
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra adequada. (BRASIL, ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990).
Assim, nota-se que a obrigação se destina, principalmente as infrações com prejuízos patrimoniais. Sendo que a partir da restituição do bem far-se-á a reparação do dano. Tratando-se assim de uma medida coercitiva e educativa, pois o adolescente infrator além de reconhecer o seu erro, terá o dever de repará-lo. (SPOSATO, 2006). 
Ainda, a autoridade judiciária poderá aplicar a reparação de danos de três diferentes formas, seja a restituição da coisa, o ressarcimento do dano, ou que por outra forma compense o prejuízo sofrido pela vítima. No caso de, por manifesta impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra mais adequada (AQUINO, 2016).
3.2.3 Prestação de Serviços a Comunidade
Atinente a Prestação de Serviços à Comunidade o ECA em seu artigo 117 o disciplinou da seguinte maneira: 
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais.
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a freqüência à escola ou à jornada normal de trabalho. (BRASIL, ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990).
No que tange a sua execução, é mister asseverar que a entidade beneficiária da medida deverá controlar a frequência, bem como informar ao Juiz da Infância e Juventude através de relatórios, sendo que a duração será de no máximo seis meses, devendo a pena imposta estar ungida de proporcionalidade com a gravidade da conduta. (SHECAIRA, 2008). 
Acerca da efetividade em sua execução, Liberati (2003, p. 108) explica que “será mais efetiva, na medida em que houver o adequado acompanhamento do adolescente pelo órgão executor, o apoio da entidade que lhe recebe a utilidade real do trabalho realizado”. 
Ainda, sobre a realização da atividade, Shecaira descreve: 
Consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, [...] junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais. Assim como na legislação dos adultos, as tarefas devem ser atribuídas conforme as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas de forma a não prejudicarem as atividades escolares ou o trabalho do adolescente (SHECAIRA, 2008, p. 198).
Exaurido o prazo estipulado para o cumprimento da medida, uma nova audiência será marcada para o encerramento desta. Nela, a instituição apresentará seu parecer, assim como o órgão executor. É de extrema importância a audiência de encerramento, haja vista o estímulo de dever cumprido (SARAIVA, 2010).
3.2.4 Liberdade Assistida
A liberdade assistida consiste em capacitar uma pessoa natural, e atribuir-lhe habilitação paraacompanhar o adolescente em conflito com a lei com o objetivo de ressocializá-lo e devolvê-lo ao pleno convívio social.
Tal medida se encontra no artigo 118 do ECA, assim como segue:
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento.
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor. (BRASIL, ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990).
Destarte, Aquino (2016) descreve que “A idéia desta medida é manter o infrator no seio familiar de forma que fique integrado na sociedade e com apoio de seus entes queridos e sobre a supervisão da autoridade judiciária, a quem cabe determinar o cumprimento e cessação da medida”.
Sobre a liberdade assistida, Sposato aduz em linhas gerais que:
[...] a medida de liberdade assistida fundamenta-se na concepção de acompanhamento personalizado, garantindo os aspectos de: proteção, inserção comunitária, manutenção de vínculos familiares, freqüência à escola e inserção no mercado de trabalho e/ou em cursos profissionalizantes e formativos (SPOSATO, 2006, p. 126). 
Dessa forma, a liberdade assistida ainda deverá oportunizar condições de um orientador judiciário que não se limite a receber o jovem em conflito com a lei esporadicamente em um gabinete, mas que participe de sua vida, verificando seu desenvolvimento escolar, familiar e no trabalho. Ainda, o orientador deverá ser uma espécie de sombra de referencial positivo, impondo limites e ao mesmo tempo prestando auxílio no que sobrevier. Portanto, trata-se de uma medida de ouro, que se executada de modo adequado será a medida com maior eficácia. (SARAIVA, 2010). 
3.2.5 Semiliberdade
A semiliberdade configura-se em uma liberdade assistida. A referida medida está disposta no artigo 120 do ECA, conforme descrito:
Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser determinado desde o início, ou como forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades externas, independentemente de autorização judicial.
 § 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade.
 § 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à internação. (BRASIL, ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990). 	
	Atinente à medida, Sposato (2006, p 127) ensina que “a semiliberdade consiste na medida intermediária entre a internação e o meio aberto. É modalidade de medida privativa de liberdade, com possibilidade de realização de atividades externas”. Neste mesmo contexto, a autora explica:
[...] Suas conseqüências implicam o afastamento do adolescente do convívio familiar e da comunidade de origem, ao restringir sua liberdade, sem no entanto privá-lo totalmente de seu direito de ir e vir. As atividade externas, especialmente de escolarização e profissionalização, juntamente com atividades pedagógicas que devem ser promovidas no interior dos semi-internatos, são a garantia do conteúdo pedagógico estratégico que toda medida socioeducativa deve conter. (SPOSATO, p. 127, 2006)
Quanto ao prazo relativo à aplicação da medida, Sposato reforça que: 
[...] A medida de semiliberdade não comporta prazo determinado, valendo as disposições relativas à internação. Cabível como primeira medida ou como forma de transição para o meio aberto, representa uma alternativa à imposição da medida de internação (SPOSATO, 2006, p. 127).
Neste contexto, Shecaira (2008, p. 203) refere que a semiliberdade “não comporta prazo determinado, podendo durar até três anos”. Sendo que para o cumprimento deste prazo “a cada seis meses, no máximo, o juiz, com base no relatório de equipes multidisciplinares, deverá reavaliar a conveniência da manutenção da semiliberdade ou determinar sua substituição pela liberdade assistida”. 
Destarte, Shecaira ainda descreve:
A evolução do quadro do adolescente, ao cumprir medida de internação, pode ser gradativamente avaliada com a progressão do regime. A semiliberdade será uma espécie de teste ao adolescente que pretende avançar no processo de socialização. (SHECAIRA, 2008, p. 204). 
Por fim, ressalta-se que a importância do regime de semiliberdade está no fato de que a inserção social deve ser de forma gradativa, permitindo que o menor retorne aos poucos ao ambiente social.
3.2.6 Internação
A medida de internação está prevista no artigo 121 do ECA e dispõe que “A internação constitui medida privativa de liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”. Acerca desta medida, Aquino discorre:
Esta medida é a mais severa de todas as medidas previstas no ECA, por privar o adolescente de sua liberdade. Deve ser aplicada somente aos casos mais graves, em caráter excepcional e com a observância do devido processo legal, conforme prescreve o ditame constitucional e o ECA. (AQUINO, 2016, online). 
Por estes motivos, o citado autor dispõe que o ECA considera a referida medida “como a última ratio do sistema e procura incutir-lhe um caráter eminentemente socio-educativo, assegurando [...], proteção, educação, formação profissional, esporte, lazer, etc.” Assim, aduz que o objeto é de “permitir-lhes um papel construtivo na sociedade”. 
Acerca de sua aplicação, Liberatti (2003, p.113) explica que a internação é “a mais grave e mais complexa das medidas impostas aos adolescentes infratores, porque impõe limitação a liberdade”.
Quanto à limitação de liberdade, Shecaira assevera que a medida de internação basear-se-á em três princípios: 
[...] o princípio da brevidade enquanto limite cronológico; o princípio da excepcionalidade, enquanto limite lógico no processo decisório acerca de sua aplicação; e o princípio do respeito à peculiar condição de pessoa em desenvolvimento, enquanto limite ontológico, a ser considerado na decisão e na implementação da medida’ (SHECAIRA, 2008, p. 206).
Adiante, há ainda o artigo 122 do ECA que aborda sobre a referida medida socioeducativa:
 	Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:
 	I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa;
 	II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
 	III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.
 	§ 1º O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser superior a três meses.
 	§ 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada. 
Apesar do inciso I do referido artigo pautar o ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa, o autor Shecaira (2008) descreve que não são todos os atos cometidos sob grave ameaça ou violência que aplicar-se-á a internação, conforme exposto:
Uma lesão corporal leve, embora cometida com violência, não poderia justificar uma internação. [...] Da mesma forma, [...] em se tratando de crime de tráfico de entorpecentes, ainda que equiparado a hediondo, é inaplicável a medida sócio-educativa de internação, à ausência de previsão legal. (SHECAIRA, 2008, p. 210).
	Relativamente ao segundo inciso do artigo em comento, que trata da hipótese de determinação da internação pela reiteração no cometimento de outras infrações graves por parte do adolescente, Saraiva disserta:
A respeito da reiteração, faz-se oportuno destacar que este conceito não se confunde com o de reincidência [...] Consolida-se o entendimento que a configuração de uma ação reiterada supõe a prática de pelo menos três condutas. Segundo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, somente ocorre reiteraçãode conduta infracional pelo adolescente quando, no mínimo, são praticadas três ou mais condutas infracionais. (SARAIVA, 2010, p. 176). 
	O último inciso do presente artigo trata da internação pelo descumprimento reiterado e injustificado da medida anteriormente imposta. É o caso de uma medida socioeducativa em meio aberto para fechado. Sobre o disposto, Saraiva explica:
Se injustificadamente descumprida a medida socioeducativa em meio aberto, em face deste descumprimento [...] a sanção será a aplicação de internação ou semiliberdade, por até o máximo de três meses. Não será caso de substituição da medida socioeducativa em meio aberto por outra privativa de liberdade. (SARAIVA, 2010, p. 149-50).
Assim, reputam-se analisadas as espécies das medidas socioeducativas como meio de responsabilizar jovens em conflito com a lei, sendo possível, na sequência, o estudo da efetividade, bem como a possibilidade de ressocialização dos jovens, objeto deste trabalho, cujo desenvolvimento será apresentado no Capitulo III.
CAPÍTULO III 
A EFETIVIDADE DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS E A RESSOCIALIZAÇÃO DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI
4 A EFETIVIDADE DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS: CARÁTER EDUCATIVO OU PUNITIVO
Após o estudo dos Capítulos I e II, chega-se ao ponto que ensejou a proposta deste trabalho, que consiste em verificar a efetividade das medidas socioeducativas e a ressocialização dos adolescentes em conflito com a lei, bem como a análise do caráter educativo ou punitivo do Poder Estatal ao aplicar as medidas socioeducativas. 
Konzen define que as medidas socioeducativas são o meio material de impor consequências e responsabilidade pela prática de ato infracional, conforme segue:
[...] todas elas, são conseqüências de natureza penal porque privativas de liberdade (como a internação em estabelecimento educacional e a inserção em regime de semiliberdade), restritivas (como a liberdade assistida e a prestação de serviços à comunidade) ou com o potencial de acarretar a perda da liberdade em razão do descumprimento (como a obrigação de reparar o dano), portanto, como uma invasão unilateral da organização estatal sobre a autonomia da pessoa declarada autora de transgressão à norma penal, modo de determinado bem da vida, como instrumento jurídico-político de manifestação do poder no controle social, modo de retribuição física ou moral pelo dano causado. Constitui-se o poder de aplicar a medida ao adolescente, assim como o poder de aplicar a pena criminal ao adulto, enquanto conquista expressamente reconhecida pelas ordens jurídicas contemporâneas, um poder exercido exclusivamente pelo Estado como prerrogativa do seu monopólio. A medida é, assim, de fato, resposta pela prática de ato infracional, o modo material de impor conseqüências, um modo de dizer a responsabilidade, um dito de afetação pessoal gerador de restrição ou de privação de liberdade (KONZEN, 2007, p. 38).
 
Em relação à aplicação das medidas pelo poder estatal, Liberati (2003) assevera que existe divergência no que tange à natureza das medidas socioeducativas:
Há os que sustentam que a medida socioeducativa é despida do caráter sancionatório, e, por assim dizer, punitivo. De outro, os que afirmam que as medidas socioeducativas comportam ‘aspectos de natureza coercitiva, vez que são punitivas aos infratores, e aspectos educativos no sentido da proteção integral e oportunizar o acesso à formação e informação, sendo que, em cada medida, esses elementos apresentam graduação, de acordo com a gravidade do delito cometido (LIBERATI, 2003, p. 142). 
Neste ínterim, em relação à primeira tese arguida, que impõe o afastamento do caráter punitivo, se sustenta na hipótese em que mesmo a privação de liberdade, travestida de internação, não possui um sentido de punição, vez que os adolescentes infratores possam ser atendidos, tratados, reeducados e reinseridos socialmente. Enquanto a segunda tese sustenta que de acordo com a conduta, a norma jurídica se comporá, sendo a primária (preceito) que impõe um padrão de conduta social e a secundária que estabelece a sanção aplicável para o caso de inobservância da norma primária. (SHECAIRA, 2008). 
Essa divergência que decorre da natureza jurídica das medidas socioeducativas gera certa estranheza entre a medida e a pena, não obstante, apesar de haver certa semelhança entre ambas, a medida socioeducativa, em sua natureza, equipara-se à pena, cujo significado implica na sanção como punição ou como reparação por uma ação repreensível. Entretanto, sua execução deve ser instrumento pedagógico, visando ajustar a conduta do infrator à pacificidade social, sob a ótica da prevenção voltada para o futuro. (LIBERATI, 2003). 
Sob a mesma ótica, Saraiva (2010, p. 73) aduz que “A natureza sancionatória da Medida Socioeducativa faz-se induvidosa. De pedagógica em si mesma a medida pouco tem, a não ser o próprio ritual de sua aplicação e a percepção do direito e do dever”. 
Ainda neste sentido, Sposato (2006, p. 116) demonstra que “a suposta distinção entre a medida socioeducativa e a pena estaria em seu duplo sentido: o sancionador e o socializador”. Quer seja, apesar da semelhança, o que difere a medida da pena é a execução pedagógica da medida socioeducativa na ressocialização do adolescente em conflito com a lei (infrator).
Quanto às medidas possuírem caráter punitivo, conforme positivado no ECA, é inquestionável a finalidade maior seja a reeducação, porém é impossível deixar de admitir que a inserção de um adolescente em estabelecimento, ainda que adequado, não acarreta a sanção de reprimenda. (VALENTE, 2002). 
Ainda sobre o que tange a punição, vem a calhar o acórdão relatado pelo Desembargador Youseff Cahali (2014):
As medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente também visam punir o delinquente, mostrando-lhe a censura da sociedade ao ato infracional que cometeu, e protegendo os cidadãos honestos da conduta criminosa daqueles penalmente eu ainda não são penalmente responsáveis. (YOUSEFF APUD SILVA, 2014). 
Por outro lado, de forma majoritária, conforme será demonstrado a seguir, tem-se que as medidas socioeducativas são de natureza pedagógica, ou seja, apesar da similaridade com a pena, o escopo é a reeducação do adolescente, assim como descreve Liberati (2003, p. 144) “embora agregada à natureza aflitiva, a medida socioeducativa, como o próprio nome sugere, é executada com finalidade pedagógico-educativa, para inibir a reincidência”. 
Sobre esse tema, Liberati (2003, p. 145) assevera que “Sua execução, no entanto, deve ser instrumento pedagógico, visando a ajustar a conduta do infrator à conveniência social pacífica, sob o prisma da prevenção especial, voltada para o futuro”. 
Nesse ínterim, sobre o caráter educativo, Veronese (2008) discorre que “as medidas além de serem sociais, o são também educativas. A educação como uma estratégia de intervenção nesse adolescente”.
Valente (2002, p.18) também compartilha da mesma ideia ao citar que “as medidas tem caráter educativo e ressocializador para o menor e caráter protetivo para a sociedade”.
Ao tratar que a medida socioeducativa tem caráter de sanção, não se quer dizer que o adolescente será inserido no que há de pior no sistema punitivo do adulto, muito menos que a sanção socioeducativa que guarda uma visão educacional pedagógica tenha um conteúdo meramente retributivo, o que acontece na maioria das penas privativas de liberdade. Ao contrário, ressalta-se a importância da humanização das respostas institucionais, fazendo com que a visão predominante dentre muitos estudiosos do direito, deve-se punir para proteger o próprio adolescente, garantindo o que já está preconizado, além da adoção de garantias plenas de legalidade do devido processo legal e todos os princípios inseridos ao meio. (SHECAIRA, 2008). 
Tem-se que as medidas socioeducativas, possuem predominantemente, de acordo com a doutrina, natureza de caráter educativo, conforme estudado e defendido por grande parte

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