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Dolo
 
Conceito
 O dolo, segundo, Clovis Bevilaqua, é o emprego de um artificio ou expediente astucioso para induzir alguém a pratica de um ato que o prejudica e aproveita ao autor do dolo ou a terceiro. Essa manobra astuciosa pode sugerir o falso ou suprimir o verídico, mediante mentiras ou omissões. Alguns autores não concordam com a referência ao prejuízo como elemento conceitual do dolo, sendo suficiente para sua configuração que haja um artificio que induz alguém a efetuar negocio jurídico, que de outra maneira não seria realizado, sem que, necessariamente, tenha o propósito de causar dano ao enganado, pois a lei civil aplicável ao caso não protege o patrimônio, mas a liberdade de decisão.
 Parece-nos, contudo que a razão está com Clóvis, pois além de que, na pratica, ocorre uma correspondência entre a vantagem auferida pelo autor do dolo e um prejuízo patrimonial sofrido pela outra parte, há, virtualmente, um prejuízo moral pelo simples fato de alguém ser induzido a efetivar negocio jurídico por manobras maliciosas que afetaram sua vontade.
 Como se vê, o dolo é intencionalmente provocado na vitima pelo autor do dolo ou por terceiro, sendo passível de anulação. Requer animus decipiendi, ou seja, vontade de enganar alguém. 
Características:
 A conduta dolosa deve apresentar os seguintes requisitos: intenção de enganar o outro contratante; induzir o outro contratante em erro em virtude do dolo; causar prejuízo ao outro contratante; angariar benefício para o seu autor ou terceiro; que o dolo tenha sido a causa determinante da realidade do negócio.
Requisitos do Dolo
 O artigo 145 especifica o requisito de que o dolo deve ser a causa da realização do negócio jurídico. Dentro dos requisitos do dolo, apresentam-se duas espécies, quanto à extensão dos seus efeitos no negócio jurídico, o dolo poderá ser: o dolo essencial ou principal e o dolo acidental. 
 São espécies de dolo: 
Dolus Bonus - Dolo tolerável, não induz anulabilidade; é um comportamento lícito e tolerado, consiste em reticencias, exageros nas boas qualidades, dissimulações de defeitos, tão utilizadas no comercio e cuja repressão seria mais prejudicial do que benéfica, acarretando perturbações na segurança das relações mercantis. É o artificio que não tem a finalidade de prejudicar. Ex: quando o vendedor exagera um pouco a qualidade de seus produtos, por meio de propaganda desde que não venha a enganar o consumidor, mediante propaganda abusiva, e que seu ato não viole o principio da boa-fé objetiva, ou quando se induz alguém a tomar um remédio que não deseja ingerir e que lhe é necessário.
Dolus Malus - Consiste no emprego de manobras astuciosas destinadas a prejudicar alguém. É desse dolo que trata nosso Código Civil, erigindo-o em defeito do ato jurídico, idôneo a provocar sua anulabilidade, dado que tal artificio consegue ludibriar pessoas sensatas e atentas.
 Não há normas absolutas que possibilitem diferenciar essas duas espécies de dolo, cabendo ao órgão judicante, em cada caso concreto, levar em conta a inexperiência e o nível de informação da vitima. 
Dolo principal - é aquele que dá causa ao negocio jurídico, sem o qual ele não teria se concluído, acarretando então a anulabilidade daquele negocio. Ex: o Tribunal de Alçada de São Paulo anulou negocio através do qual alguém fora dolosamente induzido a vender, por preço baixo, quinhão hereditário valioso, entendendo ser inadmissível que pessoa paupérrima pudesse despojar-se de bens que viriam enriquecer seu desfalcado patrimônio. Podemos citar ainda, como exemplo o caso: 
a) de um conquistador que, sob promessa de casamento, consegue comprar imóvel valioso, pertencente à mulher inexperiente e ingênua, por preço abaixo do valor de mercado, fugindo logo em seguida escapando das núpcias;
b) da venda feira por pessoa um pouco desequilibrada mentalmente, dando-lhe informações errôneas, incentivando-a a realizar negócio, na crença de que atenderá a seus interesses.
Para que o dolo principal se configure, segundo Espínola, é preciso que: 
a)haja intenção de induzir o declarante a praticar o negocio jurídico, desde que, no entender de Clóvis e Serpa Lopes, ocorra prejuízo para a vitima
b) os artifícios fraudulentos sejam graves, aproveitando a quem os alega;
c) sejam causa determinante da declaração da vontade;
d) procedam do outro contratante, ou sejam deste conhecidos, se procedentes de terceiro
Dolo acidental - é o que leva a vitima a realizar o negocio porém, em condições mais onerosas ou menos vantajosas, não afetando sua declaração de vontade, embora provoque desvios, não se constituindo vicio de consentimento, por não influir diretamente do emprego de artifícios astuciosos. Não acarreta, portanto, anulação do negocio jurídico, obrigando apenas à satisfação de perdas e danos ou a uma redução da prestação acordada. Ex: um contratante, usando indexador inadequado para atualização do valor das prestações a ser pagas, convence o outro a efetivar a compra do objeto, mediante estipulação injusta do preço. Tal negócio, apesar do dolo, seria realizado de qualquer maneira, mas por um preço melhor e mais justo, por isso o tribunal entendeu que esse dolo foi acidental, pois a divergência existente entre o real valor do bem alienado e o preço pago pelo adquirente enganado, por si só, não permite a configuração de dolo principal conducente à anulabilidade negocial; um avalista avaliza documento cambial para seu irmão, por julgar que a quantia se destinava a ampliar determinado negocio, segundo informação deste ultimo. Porém, a verdade é que a importância se destinava a encobrir certo valor indevidamente apropriado. Mesmo assim, ele não poderá alegar dolo principal, porque, ao avalizar, sabia que estava assumindo uma responsabilidade cambiaria. O Tribunal entendeu que era dolo acidental, não se apresentando como causa determinante da declaração de vontade nem eliminando a conclusão do ato. A esse respeito, Silvio Rodrigues cita-nos o seguinte exemplo: O STF decidiu que houve dolo acidental no comportamento da credora hipotecaria de certa massa falida que, mediante promessa de novo negocio, levou o sindico (hoje administrador judicial) a promover nova avaliação do prédio hipotecado, o que reduziu pela metade o valor a ele atribuído na avaliação anterior. Como o novo cálculo era inferior ao crédito referencial, a credora obteve adjudicação do imóvel. E o Tribunal, reconhecendo como doloso o comportamento da credora, mas definindo como acidental esse dolo, manteve o negocio, condenando a ré à indenização de perdas e danos, representada pela diferença entre o preço pelo qual se havia adjudicado o prédio e o seu valor à época da adjudicação. Observa, com argúcia, Humberto Theodoro J r que "diante do dolo acidental ter-se-á de contar com um considerável arbítrio do juiz, não só na aferição da vulnerabilidade da vitima, mas para discernir, de forma concreta, sobre sua constituição fundamental, ou apenas sobre algum ponto acessório, para optar entre a invalidação do contrato ou a condenação ao ressarcimento do dano".
Dolo positivo – o dolo positivo ou comissivo é o artificio astucioso que consta de ação dolosa, ou seja, é o dolo por comissão em que a outra aparte é levada a contratar, por força de artifícios positivos, ou seja, afirmações falsas sobre a qualidade da coisa. Ex: captação de testamento; cotação falsa da Bolsa de Valores para induzir alguém a adquirir ações. 
Dolo negativo – ou dolo omissivo é a manobra astuciosa que constitui uma omissão dolosa ou reticente; dá-se quando uma das partes ocultar alguma coisa que o cocontratante deveria saber e se sabedor não teria realizado o negócio. Para o dolo negativo, deve haver: intenção de induzir o outro contratante a praticar o negócio jurídico; silêncio sobre uma circunstancia ignorada pela outra parte; relação de causalidade entre a omissão intencional e a declaração de vontade; ser a omissão do outro contratante e não de terceiro. Ex: se alguém fizer seguro de vida, omitindo moléstia grave e viera falecer poucos meses depois, trata-se de manobra maliciosa por omissão, em que houve intenção de prejudicar a seguradora e de beneficiar os sucessores; se alguém quer vender um imóvel e não encontra comprador que lhe pague o preço pretendido por estar o terreno sujeito a desapropriação pela Municipalidade, oculta, então, que o imóvel é objeto de declaração de utilidade publica e consegue vende-lo, é também hipótese de dolo por omissão. Os Tribunais têm proclamado ser dolosa a omissão do vendedor de um pomar de laranjas que ocultar estarem os frutos atacados de uma praga denominada leprose; o silencio do contratante que adquire quinhão hereditário de outrem, ocultando seu efetivo valor, que sabe muito superior ao preço proposto; a ocultação pelo alienante da existência de trincas no prédio vendido, quando lhe competia a obrigação de revelar ante o fato. Anula-se negocio efetivado como dolo negativo ante o princípio da boa fé objetiva.
Dolo de Terceiro - Geralmente, o dolo que conduz à anulação do negócio provém do outro contratante. Pode ocorrer, contudo, que terceiro fora da eficácia direta do negócio aja com dolo. "Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou" (art. 148). O dolo de terceiro, exige ciéncia de um dos contratantes para que se haja anulabilidade.
 O dolo pode ocorrer, de forma genérica, nos seguintes casos:
1. Dolo direto, ou seja, de um dos contratantes;
2. Dolo de terceiro, ou seja, artifício praticado por estranho ao negócio, com a cumplicidade da parte;
3. Dolo de terceiro, com mero conhecimento da parte a quem aproveita;
4. Dolo exclusivo de terceiro, sem que dele tenha conhecimento o favorecido.
 Nas três primeiras situações, o negócio é anulável. No último caso quando o eventual beneficiado não toma conhecimento do dolo, o negócio persiste, mas o autor do dolo, por ter praticado ato ilícito, responderá por perdas e danos (art. 186 do Código Civil).
Dolo do Representante - O artigo 146 institui: "O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve. Se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos". O dolo causado por representante legal só obriga do representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; e o dolo causado por representante convencional acarreta a responsabilidade solidária do representado.
Dolo de Ambas as Partes - Se ambas as partes procederam com dolo, há empate, igualdade na torpeza. A lei pune a conduta de ambas, não permitindo a anulação do ato. "Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo, para anular o negócio, ou reclamar indenização". É aplicação da regra geral pela qual ninguém pode alegar a própria torpeza. Os dolos não se compensam, o que a lei faz é tratar com indiferença ambas as partes que foram maliciosas, punindo-as com a impossibilidade de anular o negócio, pois ambos os partícipes agiram de má-fé.
Bibliografia: 
Silvio Rodrigues - Direito Civil Parte Geral
Maria helena Diniz – Curso de Direito Civil Brasileiro – Teoria Geral do Direito Civil
Silvio de Salvo Venosa – Direito Civil Parte Geral 
Carlos Roberto Gonçalves – Direito Civil Brasileiro – Parte Geral 
Pablo Stolze Gagliano – Novo Curso de Direito Civil 1

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