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1 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE INSTITUTO INDUSTRIAL E COMERCIAL DA MATOLA Trabalho de Técnico Aduaneiro Tema: CONTECIOSOS ADUANEIROS DISCENTE: � Gil Crisanto � Liria Celeste � Efraime Ngoca � Witney Bata MATOLA, JUNHO de 2016 2 INDICE PAG. I. Contencioso aduaneiro .......................................................................................................... 4 Definição ............................................................................................................................... 4 1. Contencioso fiscal aduaneiro ................................................................................................ 4 1.1. Auto de notícia ou participação ......................................................................................... 5 1.2. Constituição do corpo de delito ......................................................................................... 6 1.3. Despacho de indiciação ou de não indiciação ................................................................... 6 1.4. Encerramento da instrução ................................................................................................ 7 1.5. Julgamento ........................................................................................................................ 7 1.6. Execução da sentença ........................................................................................................ 8 2. Processos especiais ................................................................................................................ 8 2.1. Pagamento voluntário ........................................................................................................ 8 2.2. Autos sumaríssimos........................................................................................................... 9 2.3. Pedido de liquidação ......................................................................................................... 9 2.4. Instrução imediata ............................................................................................................. 9 2.5. Julgamento imediato ......................................................................................................... 9 3. Recurso e revisão de processos de contencioso fiscal aduaneiro ........................................ 10 4. Contencioso técnico ............................................................................................................ 11 4.1. Divergências .................................................................................................................... 12 4.2. Contestação ..................................................................................................................... 12 4.3 Consultas prévias .................................................................................................................. 12 4.3. Mercadorias omissas ....................................................................................................... 13 5. Recursos do processo técnico aduaneiro ............................................................................. 13 II. Conclusão ............................................................................................................................ 14 III. Bibliografia ..................................................................................................................... 15 3 INRODUÇÃO Aquando do desenrolar de uma certa actividade é normal que exista alguma discrepância relativa a vários factores. No desembaraço aduaneiro de mercadorias não é diferente, é por essa razão que existe a jurisdição contenciosa, para tratar das diferentes situações que advém aquando do desembaraço aduaneiro. Este trabalho tem como tema contencioso aduaneiro, mais precisamente a jurisdição contenciosa, pois sendo esta última, um conjunto de normas destinadas a resolver questões jurídicas de natureza aduaneira, o contencioso aduaneiro encontra-se vinculado na jurisdição, dividindo-se em duas partes: contencioso fiscal aduaneiro e contencioso técnico. O contencioso fiscal abarca fundamentalmente os actos considerados infracções pela legislação aduaneira; o contencioso técnico por sua vez reúne os incidentes e acidentes de despacho: os incidentes originam as divergências e contestações que são corpo do contencioso técnico segundo o contencioso aduaneiro. Em ambas as subdivisões do contencioso aduaneiro são munidos de processos que os acompanham desde o seu inicio até o seu encerramento, processos este que serão descritos no desenvolvimento deste trabalho, pelo que, o mesmo tem como objectivos: Geral: � Abordar a questão da jurisdição contenciosa aduaneira Específicos: � Definir contencioso aduaneiro; � Identificar a sua subdivisão; � Estudar os processos dos casos dos contenciosos aduaneiros. De referir que o presente trabalho não esgota o assunto relacionado com a jurisdição contenciosa, mas deixamos ficar o que foi por nós considerado essencial para a compreensão do tema, e, por se tratar de um trabalho académico de investigação acolhe os elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais. 4 I. Contencioso aduaneiro • Definição Seguindo a lógica das palavras que compõem este tema, de acordo com o dicionário de língua Portuguesa da Plural Editores, contencioso significa “acção judicial ou litígio” e aduaneiro “relativo a Alfândega”. Contudo, contencioso aduaneiro seria um litígio (conflito) que suscita no decorrer das actividades aduaneiras, litígios estes que levam a uma acção judicial. Já do ponto de vista da doutrina, contencioso aduaneiro ou mais correctamente jurisdição aduaneira contenciosa, designa o conjunto de normas jurídicas destinadas a examinar, apreciar e resolver as questões de ordem jurídica e de natureza técnica aduaneira, emergentes da actividade da administração alfandegária. Manuel G. Monteiro, em sua obra Elementos de Direito Aduaneiro e de Técnica Pautal, estabelece que o contencioso aduaneiro abarca dois ramos distintos. São eles: a) Contencioso fiscal aduaneiro: trata exclusivamente da apreciação e julgamento dos factos ilícitos declarados puníveis por Lei ou regulamento fiscal aduaneiro; b) Contencioso técnico: trata da apreciação e julgamento de litígios suscitados entre as partes interessadas e os funcionários aduaneiros acerca de diversos casos respeitantes a tributação aduaneira, como por exemplo as divergências entre os próprios funcionários aduaneiros da classificação das mercadorias, do seu valor declarado para o despacho, da aplicação de regimes aduaneiros especiais, etc. 1. Contencioso fiscal aduaneiro Têm a ver com as infracções fiscais aduaneiras que ocorrem. Segundo a obra “Contencioso Aduaneiro” anotada por José Augusto Pinto, no seu art. 1º considera-se infracção fiscal como sendo: “(…) todo o facto ilícito declarado punível por lei ou regulamento fiscal”. O autor citado anteriormente considera que não basta as autoridades instrutoras dos processos fiscais que o facto fosse ilícito para que o agente seja punido, uma vez que, na definição de alguns delitos se exige a má fé para que tais delitossejam assim considerados, é o caso do contrabando e do descaminho. 5 A mesma obra considera que as infracções fiscais estão divididas em delitos (contrabando, descaminho, fraude as garantias fiscais e a oposição a verificação ou exame) e transgressões (todo acto que não se enquadrando em nenhuma das modalidades de delito, seja contrário às leis ou regulamentos fiscais, pelo que sempre é punida a negligência). As infracções fiscais culminam com a abertura de um processo fiscal, onde primeiramente o Estado quer ver restituído o dano sofrido, pelo que estabelece em todos os delitos, multas que servem de penas, não obstante a obrigação de cumprimento de todas as formalidades aduaneiras para a importação/exportação de mercadorias. O processo referido acima, é de responsabilidade das autoridades aduaneiras e não é arbitrário, segue uma burocracia estabelecida pela Lei. São as fases de um processo de contencioso fiscal; 1.1.Auto de notícia ou participação O processo de contencioso fiscal aduaneiro inicia quando os funcionários dos quadros técnico e auxiliar aduaneiros e os agentes de fiscalização aduaneira no decorrer de suas funções encontram uma pessoa em flagrante delito de qualquer infracção fiscal. Na sequência, estes procederão a imediata detenção dessa pessoa e apreensão de todos os instrumentos que tenham lhes facultado a prática da infracção, não obstante a apreensão das mercadorias e respectivos meios de transporte. Podem deter também as pessoas que se encontrem arredores do local da infracção desde que estas sejam tidas como suspeitas. De seguida os funcionários destacados acima elaborarão o auto de notícia que deve obrigatoriamente conter sempre informações sobre: � Dia, hora e local onde foi descoberta a infracção (dados completos do local); � Discriminação das mercadorias apreendidas e o seu valor estimado; � Identificação completa das testemunhas; e � Antecedentes criminais do infractor. Para além do auto de notícia que constitui a comunicação da infracção que ocorreu em flagrante delito, temos também a participação que é a formalização de uma infracção já consumada, dada a conhecer através de uma denúncia ou algo do género. A participação também deve obedecer a contemplação das mesmas informações de um auto de notícia. 6 1.2.Constituição do corpo de delito É nesta etapa onde são constituídas as provas de modo a fundamentar a acusação e implementar a respectiva punição. Segundo Pinto, corpo de delito é o conjunto de diligências destinadas a instrução do processo fiscal. De acordo com o art. 101º do Contencioso Aduaneiro, “a autoridade fiscal com competência processual mandará registar e autuar os autos de notícia e as participações que lhe sejam apresentados e, em seguida procederá ao interrogatório dos detidos”. Esta fase inicia com a interrogação dos arguidos ou tomada de declarações dos mesmos, aos autuantes ou participantes, aos denunciantes desde que a sua identidade conste do processo e aos donos dos meios de transporte apreendidos. De seguida, procederá a inquirição de testemunhas indicadas, que será precedido de um juramento pelo qual ela fica comprometida a falar somente a verdade (embora não se têm a certeza de que ela falará a verdade). Não podem ser tidas como testemunhas, os interditos por demência, os menores de idade, os familiares do primeiro grau e os que tiverem algum interesse na causa (os ofendidos). Para além das testemunhas, o instrutor poderá ouvir mais pessoas por ele julgadas convenientes e relevantes para o apuramento da verdade. Para além disso, a autoridade instrutora pode ordenar a concretização de exames directos que julgue necessário, inclusive no local da infracção. No fim, é lido o depoimento às testemunhas que deverão assiná-lo, podendo a pedido destas, o documento ser rectificado ou enriquecido. Não havendo mais diligências procede-se ao cálculo das imposições aduaneiras devidas pela mercadoria objecto da infracção. 1.3.Despacho de indiciação ou de não indiciação De acordo com o art. 112º do estatuto em causa, a autoridade instrutora deverá no prazo de dez dias, contando do dia em que findou o processo (até aqui), despachar o fundamentado de indiciação (absolvição do arguido), ou de não indiciação (o processo segue normalmente). No caso de houver arguidos presos, o despacho será proferido no prazo de quarenta e oito horas. O despacho será escrito pelo respectivo juiz, datado e assinado pelo instrutor, contendo também as seguintes informações: � Identificação completa dos arguidos; 7 � Os factos imputáveis e a legislação que consagra os delitos praticados, assim como a indicação da respectiva multa � Indicação do valor da mercadoria, meios de transportes e das imposições aduaneiras devidas; � A menção expressa de os arguidos serem desconhecidos, se for o caso (os ausentes); � Se estiver em causa, decreta-se a perda dos instrumentos usados para a consumação do acto. No despacho de não indiciação, se julgará o auto de notícia insubsistente ou a participação infundada, ordenando-se que sejam imediatamente postos em liberdade os arguidos que estiverem presos. Os despachos de indiciação terão o efeito de julgamento definitivo quer tenha havido ou não apreensão delinquente, se a infracção não corresponder a pena de prisão, demissão ou suspensão e os responsáveis notificados, não interpuserem o recurso ou não contestarem no prazo legal (dez dias). Logo que expire o prazo de contestação, a autoridade instrutora proferirá sentença, podendo a multa ser graduada em função das circunstâncias. Feita a produção de provas serão notificados dentro de quarenta e oito horas os autuantes, participantes e s arguidos ou seus representantes para dentro de quinze dias fazerem alegações e consultas ao processo. 1.4.Encerramento da instrução Concluída a instrução do processo, o instrutor remete-o ao presidente do tribunal, sendo que este pode baixar novamente o processo ao instrutor para que cumpra com uma formalidade ou diligências julgados por ele relevante para o processo. Depois disso, o processo é devolvido ao presidente do tribunal, e não havendo nenhuma anomalia, o mesmo convocará o tribunal para o julgamento no prazo de dez dias (a contar da data do visto do último vogal) e nomeará um vogal que servirá de relator; o relator terá vista do processo por quinze dias e os restantes vogais por oito dias. 1.5.Julgamento É onde tem lugar a sentença do colectivo de juízes, em forma de um acórdão. O acórdão conterá o relatório da questão, os nomes dos autuantes ou participantes, os nomes, estados, profissões, naturalidades e residências dos responsáveis e qualidades em que o 8 são e os fundamentos de facto e de direito em que se baseia a decisão e concluirá pela condenação ou absolvição, classificando a infracção e mencionando a pena correspondente, fixando os direitos ou impostos devidos e importâncias a pagar pelos civilmente responsáveis, decretando a perda ou não dos instrumentos usados na infracção, e aplicando as penas de suspensão ou demissão, se for o caso. Se o arguido for condenado em prisão, passar-se-á o correspondente mandato de captura. 1.6.Execução da sentença Transitada em julgado a decisão condenatória, o processo será contado no prazo de dez dias e logo notificados os arguidos para no prazo de quinze dias pagarem a importância da conta. Caso isso não aconteça (pagamento da importância), serão notificados o defensor, os fiadores e as testemunhas abonatórias para procederem a liquidação da conta. Se com isso também não ocorrer o pagamento, a liquidação será pela forma de ordem seguinte:1º. Pelas quantias ou valores depositados no processo; 2º. Pelo produto de arrematação das mercadorias e meios de transporte apreendidos; 3º. Pelo produto de arrematação das mercadorias e objectos arrestados. Se nem ao arguido nem ao seu fiador ou testemunhas abonatórias forem encontrados bens em que se possa recair a execução, o juiz da execução assim o comunicará a autoridade instrutora, afim de esta ordenar que o arguido seja detido pelo tempo correspondente à importância da multa em que foi condenado. 2. Processos especiais Com a execução da pena termina o processo fiscal aduaneiro. Não obstante a isso, Abílio Guimarães faz menção em sua obra (Direito Fiscal e Procedimentos Aduaneiros) dos processos especiais e recursos que podem advir de um processo fiscal aduaneiro. São eles: 2.1.Pagamento voluntário No caso de os arguidos procederem ao pagamento dos direitos e de outras imposições aduaneiras, um valor igual a terça parte do máximo da multa aplicável a infracção, quando a multa for estabelecida em função dos direitos ou impostos, e a décima parte 9 desse máximo nos outros casos, extingue-se a responsabilidade dos arguidos, desde que não haja lugar às penas de prisão, suspensão ou demissão, se antes de se levantar o auto de notícia ou a participação à autoridade instrutora. 2.2.Autos sumaríssimos Nos casos de um flagrante delito, o apreensor lavrará o auto sumaríssimo das circunstâncias da apreensão, mencionando as testemunhas (se houver), e as declarações do arguido, e no caso de condenação a multa receber deste o valor dos direitos e imposições aduaneiros, passará o respectivo recibo ao arguido, e decretará a perda (se for o caso) das mercadorias e/ou instrumentos apreendidos. 2.3.Pedido de liquidação Quando a infracção não corresponde a pena de prisão, suspensão ou demissão, o arguido pode requerer, em qualquer estado do processo, a liquidação da sua responsabilidade, e assim, a autoridade instrutora procederá ao julgamento e liquidação, podendo a multa ser graduada. 2.4.Instrução imediata O funcionário responsável pela diligência ou comissão do serviço procederá à instrução do processo das mercadorias apreendidas, isto é, ele será a autoridade instrutora do processo, podendo autuar, instruir e julgar os processos. Isso acontece, por exemplo, nos casos em que se precisa realizar uma busca ou varejo, numa zona em que não exista uma estância aduaneira, ou no caso de existir fica distante do lugar em que a infracção foi cometida. 2.5.Julgamento imediato Quando a infracção não corresponda a pena de prisão, demissão ou suspensão, depois de registados e estiverem presentes os autuantes, os participantes, as testemunhas e todos os responsáveis, e os mesmos declararem-se sujeitos ao julgamento imediato da autoridade instrutora, esta, ouvindo-os sumariamente, reduzirá as suas declarações a auto. De seguida, a autoridade proferirá a sentença absolvendo os arguidos, mandando pôr em liberdade os presos e entregar as mercadorias e correspondente meios de transporte apreendidos. Ou, condenando-os, fixando a multa, e os direitos e outras imposições aduaneiras e as importâncias a pagar pelos civilmente responsáveis, e se for 10 o caso, a perda dos meios de transporte. Das mercadorias e dos instrumentos usados na consumação do crime. 3. Recurso e revisão de processos de contencioso fiscal aduaneiro Os processos fiscais aduaneiros podem ser legalmente contestados, basta que não se concorde com a sentença deliberada. Qualquer pessoa que se sinta lesada por uma decisão da autoridade pode recorrer, podendo a autoridade instrutora, o arguido e seu representante e os donos das mercadorias, meios de transporte e os donos dos instrumentos usados para cometer a infracção. Estes podem recorrer com base no: Recurso ordinário: podem contestar as decisões finais e as decisões sobre a distribuição da multa, nos casos em que a sentença exceda alçada ou competência do julgador Recurso extraordinário: este não se acha sujeito a alçadas, mas deverá nele fazer-se prova das injustiças graves, violência, preterição de formalidades essenciais ou denegação do recurso contra a lei expressa. Recurso de agravo: reclamação de um despacho (de indiciação e não indiciação) não definitivo, isto é, ainda por se completar. Recurso obrigatório: é imposto pela própria autoridade instrutora, nos casos de despacho de indiciação ou não indiciação, pedido de liquidação, julgamento imediato, decisão condenatória em que seja aplicada a pena de prisão, suspensão ou demissão, e no caso da sentença final absolutória. Revisão (apenas requerida pelo representante das Alfândegas): podem ser revistos os julgamentos de que não tenham havido recursos ordinários ou extraordinários, dentro de três anos a contar do primeiro dia depois do trânsito em julgado da decisão ou de findo o prazo em que deveria ser ordenada a subida do processo em recurso obrigatório. 11 4. Contencioso técnico São contradições (litígios) que podem ocorrer no tratamento dos incidentes e acidentes aquando do despacho aduaneiro de mercadorias. Segundo Abílio Guimarães, na obra já citada, pode-se entender: a) Acidentes de despacho: os factos que não resultam na alteração do montante a pagar das imposições a cobrar, mas, modificam os trâmites de desalfandegamento (ex: mudança de regime, mudança de depósito); b) Incidentes de despacho: referem-se aos factos que determinam ou provocam a alteração na tributação da mercadoria submetida ao despacho. (ex: avarias, sob/sobre facturação). Tais situações originam divergências e contestações. O contencioso técnico encontra-se descriminado no contencioso aduaneiro do art. 202º ao 252º, onde, está estabelecido no art.202º que determinam processos técnicos: � As contestações que podem suscitar entre os funcionários técnico-aduaneiros e os donos da mercadoria ou consignatários no que concerne ao valor das mercadorias, taras, aplicação de taxas pautais e, de uma forma geral, sobre quaisquer actos referentes a verificação e tributação; � As divergências que podem ocorrer entre os funcionários técnico-aduaneiros em situações idênticas as referidas anteriormente; e � Os casos em que as mercadorias são unanimemente consideradas omissas. Abílio Guimarães acrescenta que também são objecto de processos técnicos as consultas prévias. Do art. 203º fica estatuído que do tribunal técnico fica competente de conhecer todos os processos técnicos que possam surgir aquando do desembaraço aduaneiro, pelo que este terá sessões que forem convocadas pelo seu presidente (art.218º). O tribunal poderá funcionar e deliberar desde que esteja presente a maioria absoluta dos membros, onde as decisões do Conselho do Serviço Técnico Aduaneiro serão tomadas por maioria dos votos em forma de acórdãos. Os donos ou consignatários das mercadorias e ou seus representantes legais poderão comparecer nos tribunais técnicos para expor verbalmente os esclarecimentos que 12 julgarem convenientes, embora não possam assistir as deliberações (art.217º do contencioso aduaneiro). Qualquer processo técnico que se tenha levantado deve ser do conhecimento imediato em ordem de serviço das Alfândegas em um documento com os seguintes dados: i. Natureza do processo (se é de divergência ou contestação); ii. A designação genérica da mercadoria (a que consta da pauta aduaneira, onde foi enquadrada a mercadoria); iii. A classificação atribuída (pelos funcionários ou pelo importador ou seu representante, dependendo da natureza do processo) pelos intervenientes no processo e sua opinião; iv. O parecerdo conselho superior da estância, explicando a sua posição de forma clara e os seus motivos. A resolução de processos técnicos depende da sua natureza. 4.1.Divergências Na resolução deste género de contencioso, o funcionário aduaneiro é obrigado a se submeter a posição (opinião) do funcionário superior (em níveis hierárquicos). 4.2. Contestação Para solucionar uma contestação, o funcionário aduaneiro interpela verbalmente o importador (ou seu representante) para lhe informar da sua discordância de forma a este (o importador ou despachante ou…) defender a sua posição com argumentos plausíveis, buscando persuadir aquele (o funcionário) para que este fique sujeito a sua posição, caso contrário o funcionário ordena ao despachante que se submeta a sua posição. Em alguns casos, esta última situação acontece, sem que o funcionário escute as razões que fizeram com que o despachante adira aquela posição. 4.3 Consultas prévias Segundo Abílio Guimarães, são consultas prévias os processos de auscultação técnica acerca da função e aplicação de uma determinada mercadoria de modo a proceder a classificação pautal desta, a pedido do interessado, que pode ser o dono da mercadoria ou consignatário ou seu representante; estes solicitam um subsídio técnico para o efeito. O mesmo autor ressalta que “é mais preferível fazer essa consulta ao invés de avançar 13 para o processamento do bilhete de despacho com incertezas, que mais tarde podem exigir a correcção do mesmo, por não conferir com a mercadoria”. O Conselho Superior Técnico Aduaneiro lavrará um acórdão em que delibera a decisão final. Este acórdão é de cumprimento obrigatório e não se pode recorrer. Não obstante a isso, se por acaso houver alguma dúvida em um processo futuro sobre uma mercadoria similar, o acórdão servirá para fundamentar a decisão técnica tomada com base na analogia, que pode ser evocado por qualquer um dos intervenientes no processo de desembaraço aduaneiro da mercadoria em causa. 4.3.Mercadorias omissas São aqueles casos em que a mercadoria submetida ao despacho não consta da pauta aduaneira. Nota: hoje em dia essas situações já não ocorrem pois o sistema usado para o enquadramento pautal das mercadorias é o Sistema Harmonizado de Designação e Codificação das mercadorias (SH), onde temos a posição “outros” para mercadorias não especificadas. 5. Recursos do processo técnico aduaneiro De acordo com o art. 238, os donos ou consignatários das mercadorias podem recorrer de todos os acórdãos proferidos pelo Conselho do Serviço Técnico Aduaneiro nos processos em os digam respeito, desde que não se trate de recursos obrigatórios (é obrigatório o recurso dos acórdãos do conselho do serviço técnico aduaneiro que julguem as mercadorias omissas). O recurso será levado a cabo com base em um documento oficial (requerimento) justificado, apresentado pelo dono ou consignatário da mercadoria ou seu representante, ao chefe da estância aduaneira que proceder a notificação, no prazo de quinze dias, a contar da aludida notificação. 14 II. Conclusão Findado presente trabalho concluímos que o contencioso aduaneiro pertence a uma área específica chamada jurisdição contenciosa, que é um conjunto de normas capazes de resolver esses contenciosos que por sua vez são conflitos que podem ocorrer aquando do desembaraço aduaneiro de mercadorias. O contencioso aduaneiro abarca o contencioso fiscal aduaneiro e o contencioso técnico. O contencioso fiscal trata exclusivamente de acções (ou omissões) consideradas infracções fiscais como o contrabando, o descaminho, a fraude as garantias fiscais, etc. Já o contencioso técnico, no seu fundamento trata das situações que originas divergências (ocorrem ente os funcionários aduaneiros) e a contestação (ocorre entre o dono da mercadoria ou consignatário ou seu representante), ambos casos referentes a verificação e tributação das mercadorias. Tanto o contencioso fiscal como o técnico são munidos de um processo que inicia com o levantamento do auto de notícia e dá-se por encerrado com base nos acórdãos (sentença/decisão final dos juízes para o primeiro caso, e para o contencioso técnico, decisão do Conselho Superior técnico Aduaneiro). No contencioso técnico temos também as consultas prévias (procedimentos que objectivam conhecer a função e aplicação de uma determinada mercadoria para melhor proceder o seu enquadramento pautal) e as mercadorias omissas (os casos em que a mercadoria não está prevista na pauta aduaneira, embora esses casos não aconteçam nos dias de hoje pois a actual pauta – Moçambicana – tem a designação “outros” para mercadorias sem descrição). Por fim, concluímos que depois de cumprir com o processo de contencioso aduaneiro, esse mesmo processo pode ser recorrido por parte do interessado que não esteja de acordo com a deliberação final. 15 III. Bibliografia � GUIMARÃES, Abílio: Direito Aduaneiro e Fiscal e Procedimentos Técnicos Aduaneiros, Agosto de 2004; � MATEUS, Jaime: O Contencioso Aduaneiro Moçambicano, anotado e comentado por José Augusto Pinto, Novembro de 1962; � Dicionário Escolar de Língua Portuguesa, Plural editores; � MONTEIRO, Manuel Gonçalves: Elementos de Direito Aduaneiro e de Técnica Pautal, volume 1 (Direito Aduaneiro) e volume 2 (Técnica Pautal), 2ª edição, Lisboa 1970.
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