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Conteciosos Aduaneiros

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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE 
INSTITUTO INDUSTRIAL E COMERCIAL DA MATOLA 
 
Trabalho de Técnico Aduaneiro 
 
 
 
Tema: CONTECIOSOS ADUANEIROS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DISCENTE: 
� Gil Crisanto 
� Liria Celeste 
� Efraime Ngoca 
� Witney Bata 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MATOLA, JUNHO de 2016 
 
 
 
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INDICE PAG. 
 
I. Contencioso aduaneiro .......................................................................................................... 4 
 Definição ............................................................................................................................... 4 
1. Contencioso fiscal aduaneiro ................................................................................................ 4 
1.1. Auto de notícia ou participação ......................................................................................... 5 
1.2. Constituição do corpo de delito ......................................................................................... 6 
1.3. Despacho de indiciação ou de não indiciação ................................................................... 6 
1.4. Encerramento da instrução ................................................................................................ 7 
1.5. Julgamento ........................................................................................................................ 7 
1.6. Execução da sentença ........................................................................................................ 8 
2. Processos especiais ................................................................................................................ 8 
2.1. Pagamento voluntário ........................................................................................................ 8 
2.2. Autos sumaríssimos........................................................................................................... 9 
2.3. Pedido de liquidação ......................................................................................................... 9 
2.4. Instrução imediata ............................................................................................................. 9 
2.5. Julgamento imediato ......................................................................................................... 9 
3. Recurso e revisão de processos de contencioso fiscal aduaneiro ........................................ 10 
4. Contencioso técnico ............................................................................................................ 11 
4.1. Divergências .................................................................................................................... 12 
4.2. Contestação ..................................................................................................................... 12 
4.3 Consultas prévias .................................................................................................................. 12 
4.3. Mercadorias omissas ....................................................................................................... 13 
5. Recursos do processo técnico aduaneiro ............................................................................. 13 
II. Conclusão ............................................................................................................................ 14 
III. Bibliografia ..................................................................................................................... 15 
 
 
 
 
 
 
 
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INRODUÇÃO 
Aquando do desenrolar de uma certa actividade é normal que exista alguma 
discrepância relativa a vários factores. No desembaraço aduaneiro de mercadorias não é 
diferente, é por essa razão que existe a jurisdição contenciosa, para tratar das diferentes 
situações que advém aquando do desembaraço aduaneiro. 
Este trabalho tem como tema contencioso aduaneiro, mais precisamente a jurisdição 
contenciosa, pois sendo esta última, um conjunto de normas destinadas a resolver 
questões jurídicas de natureza aduaneira, o contencioso aduaneiro encontra-se vinculado 
na jurisdição, dividindo-se em duas partes: contencioso fiscal aduaneiro e contencioso 
técnico. 
O contencioso fiscal abarca fundamentalmente os actos considerados infracções pela 
legislação aduaneira; o contencioso técnico por sua vez reúne os incidentes e acidentes 
de despacho: os incidentes originam as divergências e contestações que são corpo do 
contencioso técnico segundo o contencioso aduaneiro. Em ambas as subdivisões do 
contencioso aduaneiro são munidos de processos que os acompanham desde o seu inicio 
até o seu encerramento, processos este que serão descritos no desenvolvimento deste 
trabalho, pelo que, o mesmo tem como objectivos: 
Geral: 
� Abordar a questão da jurisdição contenciosa aduaneira 
Específicos: 
� Definir contencioso aduaneiro; 
� Identificar a sua subdivisão; 
� Estudar os processos dos casos dos contenciosos aduaneiros. 
De referir que o presente trabalho não esgota o assunto relacionado com a jurisdição 
contenciosa, mas deixamos ficar o que foi por nós considerado essencial para a 
compreensão do tema, e, por se tratar de um trabalho académico de investigação acolhe 
os elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais. 
 
 
 
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I. Contencioso aduaneiro 
• Definição 
Seguindo a lógica das palavras que compõem este tema, de acordo com o dicionário de 
língua Portuguesa da Plural Editores, contencioso significa “acção judicial ou litígio” e 
aduaneiro “relativo a Alfândega”. Contudo, contencioso aduaneiro seria um litígio 
(conflito) que suscita no decorrer das actividades aduaneiras, litígios estes que levam a 
uma acção judicial. 
Já do ponto de vista da doutrina, contencioso aduaneiro ou mais correctamente 
jurisdição aduaneira contenciosa, designa o conjunto de normas jurídicas destinadas a 
examinar, apreciar e resolver as questões de ordem jurídica e de natureza técnica 
aduaneira, emergentes da actividade da administração alfandegária. 
Manuel G. Monteiro, em sua obra Elementos de Direito Aduaneiro e de Técnica Pautal, 
estabelece que o contencioso aduaneiro abarca dois ramos distintos. São eles: 
a) Contencioso fiscal aduaneiro: trata exclusivamente da apreciação e julgamento 
dos factos ilícitos declarados puníveis por Lei ou regulamento fiscal aduaneiro; 
b) Contencioso técnico: trata da apreciação e julgamento de litígios suscitados entre 
as partes interessadas e os funcionários aduaneiros acerca de diversos casos 
respeitantes a tributação aduaneira, como por exemplo as divergências entre os 
próprios funcionários aduaneiros da classificação das mercadorias, do seu valor 
declarado para o despacho, da aplicação de regimes aduaneiros especiais, etc. 
1. Contencioso fiscal aduaneiro 
Têm a ver com as infracções fiscais aduaneiras que ocorrem. Segundo a obra 
“Contencioso Aduaneiro” anotada por José Augusto Pinto, no seu art. 1º considera-se 
infracção fiscal como sendo: 
“(…) todo o facto ilícito declarado punível por lei ou regulamento fiscal”. 
O autor citado anteriormente considera que não basta as autoridades instrutoras dos 
processos fiscais que o facto fosse ilícito para que o agente seja punido, uma vez que, na 
definição de alguns delitos se exige a má fé para que tais delitossejam assim 
considerados, é o caso do contrabando e do descaminho. 
 
 
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A mesma obra considera que as infracções fiscais estão divididas em delitos 
(contrabando, descaminho, fraude as garantias fiscais e a oposição a verificação ou 
exame) e transgressões (todo acto que não se enquadrando em nenhuma das 
modalidades de delito, seja contrário às leis ou regulamentos fiscais, pelo que sempre é 
punida a negligência). 
As infracções fiscais culminam com a abertura de um processo fiscal, onde 
primeiramente o Estado quer ver restituído o dano sofrido, pelo que estabelece em todos 
os delitos, multas que servem de penas, não obstante a obrigação de cumprimento de 
todas as formalidades aduaneiras para a importação/exportação de mercadorias. 
O processo referido acima, é de responsabilidade das autoridades aduaneiras e não é 
arbitrário, segue uma burocracia estabelecida pela Lei. São as fases de um processo de 
contencioso fiscal; 
1.1.Auto de notícia ou participação 
O processo de contencioso fiscal aduaneiro inicia quando os funcionários dos quadros 
técnico e auxiliar aduaneiros e os agentes de fiscalização aduaneira no decorrer de suas 
funções encontram uma pessoa em flagrante delito de qualquer infracção fiscal. Na 
sequência, estes procederão a imediata detenção dessa pessoa e apreensão de todos os 
instrumentos que tenham lhes facultado a prática da infracção, não obstante a apreensão 
das mercadorias e respectivos meios de transporte. Podem deter também as pessoas que 
se encontrem arredores do local da infracção desde que estas sejam tidas como 
suspeitas. De seguida os funcionários destacados acima elaborarão o auto de notícia que 
deve obrigatoriamente conter sempre informações sobre: 
� Dia, hora e local onde foi descoberta a infracção (dados completos do local); 
� Discriminação das mercadorias apreendidas e o seu valor estimado; 
� Identificação completa das testemunhas; e 
� Antecedentes criminais do infractor. 
Para além do auto de notícia que constitui a comunicação da infracção que ocorreu em 
flagrante delito, temos também a participação que é a formalização de uma infracção já 
consumada, dada a conhecer através de uma denúncia ou algo do género. A participação 
também deve obedecer a contemplação das mesmas informações de um auto de notícia. 
 
 
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1.2.Constituição do corpo de delito 
É nesta etapa onde são constituídas as provas de modo a fundamentar a acusação e 
implementar a respectiva punição. Segundo Pinto, corpo de delito é o conjunto de 
diligências destinadas a instrução do processo fiscal. De acordo com o art. 101º do 
Contencioso Aduaneiro, “a autoridade fiscal com competência processual mandará 
registar e autuar os autos de notícia e as participações que lhe sejam apresentados e, em 
seguida procederá ao interrogatório dos detidos”. 
Esta fase inicia com a interrogação dos arguidos ou tomada de declarações dos mesmos, 
aos autuantes ou participantes, aos denunciantes desde que a sua identidade conste do 
processo e aos donos dos meios de transporte apreendidos. De seguida, procederá a 
inquirição de testemunhas indicadas, que será precedido de um juramento pelo qual ela 
fica comprometida a falar somente a verdade (embora não se têm a certeza de que ela 
falará a verdade). Não podem ser tidas como testemunhas, os interditos por demência, 
os menores de idade, os familiares do primeiro grau e os que tiverem algum interesse na 
causa (os ofendidos). Para além das testemunhas, o instrutor poderá ouvir mais pessoas 
por ele julgadas convenientes e relevantes para o apuramento da verdade. Para além 
disso, a autoridade instrutora pode ordenar a concretização de exames directos que 
julgue necessário, inclusive no local da infracção. 
No fim, é lido o depoimento às testemunhas que deverão assiná-lo, podendo a pedido 
destas, o documento ser rectificado ou enriquecido. Não havendo mais diligências 
procede-se ao cálculo das imposições aduaneiras devidas pela mercadoria objecto da 
infracção. 
1.3.Despacho de indiciação ou de não indiciação 
De acordo com o art. 112º do estatuto em causa, a autoridade instrutora deverá no prazo 
de dez dias, contando do dia em que findou o processo (até aqui), despachar o 
fundamentado de indiciação (absolvição do arguido), ou de não indiciação (o processo 
segue normalmente). No caso de houver arguidos presos, o despacho será proferido no 
prazo de quarenta e oito horas. O despacho será escrito pelo respectivo juiz, datado e 
assinado pelo instrutor, contendo também as seguintes informações: 
� Identificação completa dos arguidos; 
 
 
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� Os factos imputáveis e a legislação que consagra os delitos praticados, assim 
como a indicação da respectiva multa 
� Indicação do valor da mercadoria, meios de transportes e das imposições 
aduaneiras devidas; 
� A menção expressa de os arguidos serem desconhecidos, se for o caso (os 
ausentes); 
� Se estiver em causa, decreta-se a perda dos instrumentos usados para a 
consumação do acto. 
No despacho de não indiciação, se julgará o auto de notícia insubsistente ou a 
participação infundada, ordenando-se que sejam imediatamente postos em liberdade os 
arguidos que estiverem presos. 
Os despachos de indiciação terão o efeito de julgamento definitivo quer tenha havido ou 
não apreensão delinquente, se a infracção não corresponder a pena de prisão, demissão 
ou suspensão e os responsáveis notificados, não interpuserem o recurso ou não 
contestarem no prazo legal (dez dias). Logo que expire o prazo de contestação, a 
autoridade instrutora proferirá sentença, podendo a multa ser graduada em função das 
circunstâncias. Feita a produção de provas serão notificados dentro de quarenta e oito 
horas os autuantes, participantes e s arguidos ou seus representantes para dentro de 
quinze dias fazerem alegações e consultas ao processo. 
1.4.Encerramento da instrução 
Concluída a instrução do processo, o instrutor remete-o ao presidente do tribunal, sendo 
que este pode baixar novamente o processo ao instrutor para que cumpra com uma 
formalidade ou diligências julgados por ele relevante para o processo. Depois disso, o 
processo é devolvido ao presidente do tribunal, e não havendo nenhuma anomalia, o 
mesmo convocará o tribunal para o julgamento no prazo de dez dias (a contar da data do 
visto do último vogal) e nomeará um vogal que servirá de relator; o relator terá vista do 
processo por quinze dias e os restantes vogais por oito dias. 
1.5.Julgamento 
É onde tem lugar a sentença do colectivo de juízes, em forma de um acórdão. O acórdão 
conterá o relatório da questão, os nomes dos autuantes ou participantes, os nomes, 
estados, profissões, naturalidades e residências dos responsáveis e qualidades em que o 
 
 
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são e os fundamentos de facto e de direito em que se baseia a decisão e concluirá pela 
condenação ou absolvição, classificando a infracção e mencionando a pena 
correspondente, fixando os direitos ou impostos devidos e importâncias a pagar pelos 
civilmente responsáveis, decretando a perda ou não dos instrumentos usados na 
infracção, e aplicando as penas de suspensão ou demissão, se for o caso. Se o arguido 
for condenado em prisão, passar-se-á o correspondente mandato de captura. 
1.6.Execução da sentença 
Transitada em julgado a decisão condenatória, o processo será contado no prazo de dez 
dias e logo notificados os arguidos para no prazo de quinze dias pagarem a importância 
da conta. Caso isso não aconteça (pagamento da importância), serão notificados o 
defensor, os fiadores e as testemunhas abonatórias para procederem a liquidação da 
conta. Se com isso também não ocorrer o pagamento, a liquidação será pela forma de 
ordem seguinte:1º. Pelas quantias ou valores depositados no processo; 
2º. Pelo produto de arrematação das mercadorias e meios de transporte apreendidos; 
3º. Pelo produto de arrematação das mercadorias e objectos arrestados. 
Se nem ao arguido nem ao seu fiador ou testemunhas abonatórias forem encontrados 
bens em que se possa recair a execução, o juiz da execução assim o comunicará a 
autoridade instrutora, afim de esta ordenar que o arguido seja detido pelo tempo 
correspondente à importância da multa em que foi condenado. 
2. Processos especiais 
Com a execução da pena termina o processo fiscal aduaneiro. Não obstante a isso, 
Abílio Guimarães faz menção em sua obra (Direito Fiscal e Procedimentos Aduaneiros) 
dos processos especiais e recursos que podem advir de um processo fiscal aduaneiro. 
São eles: 
2.1.Pagamento voluntário 
No caso de os arguidos procederem ao pagamento dos direitos e de outras imposições 
aduaneiras, um valor igual a terça parte do máximo da multa aplicável a infracção, 
quando a multa for estabelecida em função dos direitos ou impostos, e a décima parte 
 
 
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desse máximo nos outros casos, extingue-se a responsabilidade dos arguidos, desde que 
não haja lugar às penas de prisão, suspensão ou demissão, se antes de se levantar o auto 
de notícia ou a participação à autoridade instrutora. 
2.2.Autos sumaríssimos 
Nos casos de um flagrante delito, o apreensor lavrará o auto sumaríssimo das 
circunstâncias da apreensão, mencionando as testemunhas (se houver), e as declarações 
do arguido, e no caso de condenação a multa receber deste o valor dos direitos e 
imposições aduaneiros, passará o respectivo recibo ao arguido, e decretará a perda (se 
for o caso) das mercadorias e/ou instrumentos apreendidos. 
2.3.Pedido de liquidação 
Quando a infracção não corresponde a pena de prisão, suspensão ou demissão, o 
arguido pode requerer, em qualquer estado do processo, a liquidação da sua 
responsabilidade, e assim, a autoridade instrutora procederá ao julgamento e liquidação, 
podendo a multa ser graduada. 
2.4.Instrução imediata 
O funcionário responsável pela diligência ou comissão do serviço procederá à instrução 
do processo das mercadorias apreendidas, isto é, ele será a autoridade instrutora do 
processo, podendo autuar, instruir e julgar os processos. Isso acontece, por exemplo, nos 
casos em que se precisa realizar uma busca ou varejo, numa zona em que não exista 
uma estância aduaneira, ou no caso de existir fica distante do lugar em que a infracção 
foi cometida. 
2.5.Julgamento imediato 
Quando a infracção não corresponda a pena de prisão, demissão ou suspensão, depois 
de registados e estiverem presentes os autuantes, os participantes, as testemunhas e 
todos os responsáveis, e os mesmos declararem-se sujeitos ao julgamento imediato da 
autoridade instrutora, esta, ouvindo-os sumariamente, reduzirá as suas declarações a 
auto. De seguida, a autoridade proferirá a sentença absolvendo os arguidos, mandando 
pôr em liberdade os presos e entregar as mercadorias e correspondente meios de 
transporte apreendidos. Ou, condenando-os, fixando a multa, e os direitos e outras 
imposições aduaneiras e as importâncias a pagar pelos civilmente responsáveis, e se for 
 
 
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o caso, a perda dos meios de transporte. Das mercadorias e dos instrumentos usados na 
consumação do crime. 
 
3. Recurso e revisão de processos de contencioso fiscal aduaneiro 
Os processos fiscais aduaneiros podem ser legalmente contestados, basta que não se 
concorde com a sentença deliberada. Qualquer pessoa que se sinta lesada por uma 
decisão da autoridade pode recorrer, podendo a autoridade instrutora, o arguido e seu 
representante e os donos das mercadorias, meios de transporte e os donos dos 
instrumentos usados para cometer a infracção. Estes podem recorrer com base no: 
Recurso ordinário: podem contestar as decisões finais e as decisões sobre a distribuição 
da multa, nos casos em que a sentença exceda alçada ou competência do julgador 
Recurso extraordinário: este não se acha sujeito a alçadas, mas deverá nele fazer-se 
prova das injustiças graves, violência, preterição de formalidades essenciais ou 
denegação do recurso contra a lei expressa. 
Recurso de agravo: reclamação de um despacho (de indiciação e não indiciação) não 
definitivo, isto é, ainda por se completar. 
Recurso obrigatório: é imposto pela própria autoridade instrutora, nos casos de 
despacho de indiciação ou não indiciação, pedido de liquidação, julgamento imediato, 
decisão condenatória em que seja aplicada a pena de prisão, suspensão ou demissão, e 
no caso da sentença final absolutória. 
Revisão (apenas requerida pelo representante das Alfândegas): podem ser revistos os 
julgamentos de que não tenham havido recursos ordinários ou extraordinários, dentro de 
três anos a contar do primeiro dia depois do trânsito em julgado da decisão ou de findo 
o prazo em que deveria ser ordenada a subida do processo em recurso obrigatório. 
 
 
 
 
 
 
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4. Contencioso técnico 
 São contradições (litígios) que podem ocorrer no tratamento dos incidentes e acidentes 
aquando do despacho aduaneiro de mercadorias. Segundo Abílio Guimarães, na obra já 
citada, pode-se entender: 
a) Acidentes de despacho: os factos que não resultam na alteração do montante a 
pagar das imposições a cobrar, mas, modificam os trâmites de 
desalfandegamento (ex: mudança de regime, mudança de depósito); 
b) Incidentes de despacho: referem-se aos factos que determinam ou provocam a 
alteração na tributação da mercadoria submetida ao despacho. (ex: avarias, 
sob/sobre facturação). Tais situações originam divergências e contestações. 
O contencioso técnico encontra-se descriminado no contencioso aduaneiro do art. 202º 
ao 252º, onde, está estabelecido no art.202º que determinam processos técnicos: 
� As contestações que podem suscitar entre os funcionários técnico-aduaneiros e 
os donos da mercadoria ou consignatários no que concerne ao valor das 
mercadorias, taras, aplicação de taxas pautais e, de uma forma geral, sobre 
quaisquer actos referentes a verificação e tributação; 
� As divergências que podem ocorrer entre os funcionários técnico-aduaneiros 
em situações idênticas as referidas anteriormente; e 
� Os casos em que as mercadorias são unanimemente consideradas omissas. 
Abílio Guimarães acrescenta que também são objecto de processos técnicos as 
consultas prévias. 
Do art. 203º fica estatuído que do tribunal técnico fica competente de conhecer todos os 
processos técnicos que possam surgir aquando do desembaraço aduaneiro, pelo que este 
terá sessões que forem convocadas pelo seu presidente (art.218º). O tribunal poderá 
funcionar e deliberar desde que esteja presente a maioria absoluta dos membros, onde as 
decisões do Conselho do Serviço Técnico Aduaneiro serão tomadas por maioria dos 
votos em forma de acórdãos. 
Os donos ou consignatários das mercadorias e ou seus representantes legais poderão 
comparecer nos tribunais técnicos para expor verbalmente os esclarecimentos que 
 
 
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julgarem convenientes, embora não possam assistir as deliberações (art.217º do 
contencioso aduaneiro). 
Qualquer processo técnico que se tenha levantado deve ser do conhecimento imediato 
em ordem de serviço das Alfândegas em um documento com os seguintes dados: 
i. Natureza do processo (se é de divergência ou contestação); 
ii. A designação genérica da mercadoria (a que consta da pauta aduaneira, onde foi 
enquadrada a mercadoria); 
iii. A classificação atribuída (pelos funcionários ou pelo importador ou seu 
representante, dependendo da natureza do processo) pelos intervenientes no 
processo e sua opinião; 
iv. O parecerdo conselho superior da estância, explicando a sua posição de forma 
clara e os seus motivos. 
A resolução de processos técnicos depende da sua natureza. 
4.1.Divergências 
Na resolução deste género de contencioso, o funcionário aduaneiro é obrigado a se 
submeter a posição (opinião) do funcionário superior (em níveis hierárquicos). 
4.2. Contestação 
Para solucionar uma contestação, o funcionário aduaneiro interpela verbalmente o 
importador (ou seu representante) para lhe informar da sua discordância de forma a este 
(o importador ou despachante ou…) defender a sua posição com argumentos plausíveis, 
buscando persuadir aquele (o funcionário) para que este fique sujeito a sua posição, caso 
contrário o funcionário ordena ao despachante que se submeta a sua posição. Em alguns 
casos, esta última situação acontece, sem que o funcionário escute as razões que fizeram 
com que o despachante adira aquela posição. 
4.3 Consultas prévias 
Segundo Abílio Guimarães, são consultas prévias os processos de auscultação técnica 
acerca da função e aplicação de uma determinada mercadoria de modo a proceder a 
classificação pautal desta, a pedido do interessado, que pode ser o dono da mercadoria 
ou consignatário ou seu representante; estes solicitam um subsídio técnico para o efeito. 
O mesmo autor ressalta que “é mais preferível fazer essa consulta ao invés de avançar 
 
 
13 
para o processamento do bilhete de despacho com incertezas, que mais tarde podem 
exigir a correcção do mesmo, por não conferir com a mercadoria”. 
O Conselho Superior Técnico Aduaneiro lavrará um acórdão em que delibera a decisão 
final. Este acórdão é de cumprimento obrigatório e não se pode recorrer. Não obstante a 
isso, se por acaso houver alguma dúvida em um processo futuro sobre uma mercadoria 
similar, o acórdão servirá para fundamentar a decisão técnica tomada com base na 
analogia, que pode ser evocado por qualquer um dos intervenientes no processo de 
desembaraço aduaneiro da mercadoria em causa. 
4.3.Mercadorias omissas 
São aqueles casos em que a mercadoria submetida ao despacho não consta da pauta 
aduaneira. 
Nota: hoje em dia essas situações já não ocorrem pois o sistema usado para o 
enquadramento pautal das mercadorias é o Sistema Harmonizado de Designação e 
Codificação das mercadorias (SH), onde temos a posição “outros” para mercadorias não 
especificadas. 
5. Recursos do processo técnico aduaneiro 
De acordo com o art. 238, os donos ou consignatários das mercadorias podem recorrer 
de todos os acórdãos proferidos pelo Conselho do Serviço Técnico Aduaneiro nos 
processos em os digam respeito, desde que não se trate de recursos obrigatórios (é 
obrigatório o recurso dos acórdãos do conselho do serviço técnico aduaneiro que 
julguem as mercadorias omissas). 
O recurso será levado a cabo com base em um documento oficial (requerimento) 
justificado, apresentado pelo dono ou consignatário da mercadoria ou seu representante, 
ao chefe da estância aduaneira que proceder a notificação, no prazo de quinze dias, a 
contar da aludida notificação. 
 
 
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II. Conclusão 
Findado presente trabalho concluímos que o contencioso aduaneiro pertence a uma área 
específica chamada jurisdição contenciosa, que é um conjunto de normas capazes de 
resolver esses contenciosos que por sua vez são conflitos que podem ocorrer aquando 
do desembaraço aduaneiro de mercadorias. 
O contencioso aduaneiro abarca o contencioso fiscal aduaneiro e o contencioso técnico. 
O contencioso fiscal trata exclusivamente de acções (ou omissões) consideradas 
infracções fiscais como o contrabando, o descaminho, a fraude as garantias fiscais, etc. 
Já o contencioso técnico, no seu fundamento trata das situações que originas 
divergências (ocorrem ente os funcionários aduaneiros) e a contestação (ocorre entre o 
dono da mercadoria ou consignatário ou seu representante), ambos casos referentes a 
verificação e tributação das mercadorias. 
Tanto o contencioso fiscal como o técnico são munidos de um processo que inicia com 
o levantamento do auto de notícia e dá-se por encerrado com base nos acórdãos 
(sentença/decisão final dos juízes para o primeiro caso, e para o contencioso técnico, 
decisão do Conselho Superior técnico Aduaneiro). 
No contencioso técnico temos também as consultas prévias (procedimentos que 
objectivam conhecer a função e aplicação de uma determinada mercadoria para melhor 
proceder o seu enquadramento pautal) e as mercadorias omissas (os casos em que a 
mercadoria não está prevista na pauta aduaneira, embora esses casos não aconteçam nos 
dias de hoje pois a actual pauta – Moçambicana – tem a designação “outros” para 
mercadorias sem descrição). 
Por fim, concluímos que depois de cumprir com o processo de contencioso aduaneiro, 
esse mesmo processo pode ser recorrido por parte do interessado que não esteja de 
acordo com a deliberação final. 
 
 
15 
III. Bibliografia 
 
� GUIMARÃES, Abílio: Direito Aduaneiro e Fiscal e Procedimentos Técnicos 
Aduaneiros, Agosto de 2004; 
� MATEUS, Jaime: O Contencioso Aduaneiro Moçambicano, anotado e 
comentado por José Augusto Pinto, Novembro de 1962; 
� Dicionário Escolar de Língua Portuguesa, Plural editores; 
� MONTEIRO, Manuel Gonçalves: Elementos de Direito Aduaneiro e de Técnica 
Pautal, volume 1 (Direito Aduaneiro) e volume 2 (Técnica Pautal), 2ª edição, 
Lisboa 1970.

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