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ESTUDO COMPARATIVO: USO DO SISTEMA DE FIBRAS DE CARBONO E SISTEMA CONVENCIONAL PARA REFORÇO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO Ricardo Alves Bronze Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Jorge dos Santos Rio de Janeiro Julho 2016 ESTUDO COMPARATIVO: USO DO SISTEMA DE FIBRAS DE CARBONO E SISTEMA CONVENCIONAL PARA REFORÇO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO Ricardo Alves Bronze PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL. Examinada por: _____________________________________ Prof. Jorge Santos, D. Sc. _____________________________________ Profa. Isabeth Mello _____________________________________ Prof. Willy Weisshuhn _____________________________________ Prof. Wilson Wanderley da Silva RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL JULHO DE 2016 Bronze, Ricardo Alves Estudo comparativo: uso do sistema de fibras de carbono e sistema convencional para o reforço de estruturas de concreto / Ricardo Alves Bronze. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2016. X, 80 p.: il.;29,7 cm Orientador: Jorge dos Santos Projeto de Graduação – UFRJ/ POLI/ Engenharia Civil, 2016. Referências Bibliográficas: p. 77 – 80. 1. Introdução. 2. Estruturas de concreto: contextualização. 3. Patologias e Recuperação de estruturas de concreto: contextualização. 4. Sistema convencional para recuperação e reforço estrutural. 5. Sistema de compósitos de fibras de carbono para recuperação e reforço estrutural. 6. Estudo de caso. 7. Conclusões e Sugestões. I. Jorge Santos. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de Engenharia Civil. III. Título. i DEDICATÓRIA “O bom é o maior inimigo do ótimo. ” (Jim Collins) ii AGRADECIMENTOS Neste espaço, gostaria de agradecer a todos que contribuíram, de forma direta ou indireta, à minha formação acadêmica e pessoal. Gostaria de agradecer, em especial, a meus pais e meus irmãos, não só por me apoiarem e encorajarem, mas também por propiciarem um ambiente em que fosse possível eu poder concentrar esforços nos meus estudos. A todos os professores com quem cruzei ao longo da minha trajetória. Acredito muito no poder do conhecimento para a transformação da nossa sociedade. A disseminação de conhecimento é, ao meu ver, um dos mais nobres trabalhos que um ser-humano pode exercer. Aos meus amigos que conheci ao longo da faculdade. Com certeza as longas horas de estudo, noites viradas e os trabalhos maçantes seriam insuportáveis sem a companhia deles. Meus chefes, tanto no Brasil quanto na Austrália, foram grandes professores para mim e puderam fazer com que eu aplicasse o conhecimento que vinha adquirindo há tanto tempo, além de me ensinarem muito. Tenho muita sorte de ter trabalhado ao lado deles. A eles, deixo um agradecimento especial. À minha linda namorada. Nos últimos cinco anos ela esteve ao meu lado me dando o suporte necessário para encarar todos obstáculos desta trajetória. Sem dúvida ela é uma das melhores pessoas que já conheci e tenho muita sorte de tê-la do meu lado. Ao professor Jorge Santos, pela atenção e paciência prestada ao longo do desenvolvimento deste trabalho. iii Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil. ESTUDO COMPARATIVO: USO DO SISTEMA DE FIBRAS DE CARBONO E SISTEMA CONVENCIONAL PARA REFORÇO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO Ricardo Alves Bronze Julho/2016 Orientador: Jorge dos Santos Curso: Engenharia Civil Considerando as recorrentes intervenções de reforço necessárias em estruturas de concreto armado, seja durante sua execução para sanar falhas executivas ou de projeto ou durante sua vida útil em decorrência de manutenções correntes ou patologias identificadas, a análise das diferentes técnicas de reforço estrutural é de grande importância para engenharia nacional. A fibra de carbono vem ganhando espaço neste meio, sendo um material cada vez mais utilizado em obras de reforço de estruturas de concreto armado. Neste contexto, este trabalho visa comparar as técnicas de reforço de estruturas de concreto convencionalmente utilizadas com a utilização de fibra de carbono para o mesmo fim, explicitando as vantagens e desvantagens de cada uma das técnicas. Por fim, este trabalho realiza um estudo de caso de uma obra em que o calculista propôs duas alternativas de reforço estrutural para uma laje de concreto armado: uma com fibra de carbono e outra com adição de armadura. Neste estudo de caso, os dois serviços serão comparados a fim de determinar a melhor solução. Palavras-chave: Reforço Estrutural, Recuperação de Estruturas, Concreto, Fibra de Carbono. iv Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Engineer. COMPARATIVE STUDY: THE USE OF CARBON FIBER AND CONVENTIONAL SYSTEM FOR CONCRETE STRUCTURES REINFORCEMENT Ricardo Alves Bronze July/2016 Advisor: Jorge dos Santos Course: Civil Engineering Considering the recurring structural interventions required in reinforced concrete structures, either during execution or during its’ lifetime, the analysis of different structural reinforcement techniques is of great importance. Carbon fiber is becoming more popular in this field, being a material increasingly used in reinforcement works of concrete structures. In this context, this study aims to compare the concrete structures reinforcement techniques conventionally used with the use of carbon fiber for the same purpose, explaining the advantages and disadvantages of each technique. Finally, this paper makes a case study of a work in which the structural engineer proposed two alternatives for structural reinforcement for a concrete slab: one with carbon fiber and another by adding steel. In this case study, the two techniques will be compared in order to determine the best solution. Keywords: Structure Reinforcement, Structure Recuperation, Concrete, Carbon Fiber v LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - COPACABANA NO INÍCIO DO SÉCULO XX ............................................................................................................ 5 FIGURA 2 – FLUXOGRAMA ESQUEMÁTICO DAS ETAPAS DE CONCRETAGEM ............................................................................... 6 FIGURA 3 - FLUXOGRAMA ESQUEMÁTICO DAS ETAPAS DE ARMAÇÃO ....................................................................................... 7 FIGURA 4 - FLUXOGRAMA ESQUEMÁTICO DAS ETAPAS DE MONTAGEM DE FÔRMAS .................................................................... 8 FIGURA 5 – FLUXOGRAMA ESQUEMÁTICO DAS ETAPAS DE CONCRETAGEM ............................................................................... 9 FIGURA 6 – VARIAÇÃO DO DESEMPENHO DE UMA ESTRUTURA DE CONCRETO ARMADO AO LONGO DO TEMPO ..............................11 FIGURA 7 – EVOLUÇÃO DA DETERIORAÇÃO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO POR CORROSÃO DE ARMADURAS ................................. 12 FIGURA 8 – PRINCIPAIS CAUSAS DE PATOLOGIAS E SUAS DISTRIBUIÇÕES ................................................................................. 13 FIGURA 9 - CRITÉRIOS PARA MANUTENÇÃO DE ESTRUTURAS ............................................................................................... 14 FIGURA 10 - FLUXOGRAMA REPRESENTATIVO DE INSPEÇÃO TÉCNICA .................................................................................... 17 FIGURA 11 – CROQUI DE ILUSTRAÇÃO DE PROJETO DE REFORÇO DE VIGA DE CONCRETO ARMADO COM FIBRA DE CARBONO. ............ 23 FIGURA 12 - CROQUI DE ILUSTRAÇÃO DE PROJETO DE REFORÇO DE VIGA DE CONCRETO ARMADO COM ADIÇÃO DE ARMADURA E GRAUTE. .......................................................................................................................................................... 23 FIGURA 13 - PERFIS DE AÇO ......................................................................................................................................... 27 FIGURA 14 - CHAPA DE AÇO ......................................................................................................................................... 28 FIGURA 15 - COMPOSIÇÃO RESINA EPÓXI ........................................................................................................................ 28 FIGURA 16 – APLICAÇÃO DE TINTA A BASE DE ZINCO PARA PROTEÇÃO DE ARMADURAS ............................................................. 30 FIGURA 17 – REFORÇO MEDIANTE A ADIÇÃO DE CHAPA COLADA .......................................................................................... 32 FIGURA 18 – REFORÇO MEDIANTE A ADIÇÃO DE CHAPA FIXADA COM PARAFUSOS .................................................................... 32 FIGURA 19 - REFORÇO MEDIANTE A ADIÇÃO DE PERFIL METÁLICO ........................................................................................ 32 FIGURA 20 - APLICAÇÃO DE RESINA PARA COLAGEM DE CHAPAS DE AÇO EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ...................................... 33 FIGURA 21 - PILAR-PAREDE REFORÇADO COM CHAPAS DE AÇO ............................................................................................ 33 FIGURA 22 – PILAR SENDO REFORÇADO COM ADIÇÃO DE ARMADURA ................................................................................... 34 FIGURA 23 – FÔRMAS MONTADAS PARA LANÇAMENTO DO GRAUTE ..................................................................................... 35 FIGURA 24 - ENSAIO DE COMPRESSÃO AXIAL DE CONCRETO EM ANDAMENTO ......................................................................... 36 FIGURA 25 - CHAPAS DE AÇO E ELEMENTOS FIXADORES SOLDADOS ....................................................................................... 37 FIGURA 26 - CACHIMBO PARA LANÇAMENTO DO GRAUTE ................................................................................................... 38 FIGURA 27 – COMPÓSITO DE FIBRA DE CARBONO OBSERVADO DE PERTO ............................................................................... 41 FIGURA 28 - RELAÇÃO ENTRE TENSÃO DE TRAÇÃO E DEFORMAÇÃO DE DIFERENTES COMPÓSITOS ................................................ 43 FIGURA 29 – COMPÓSITO DE FIBRA DE CARBONO EM SUA FORMA COMERCIAL ....................................................................... 44 FIGURA 30 – COMPONENTES DA RESINA EPÓXI DE LAMINAÇÃO ........................................................................................... 46 FIGURA 31 – COMPONENTES DA RESINA EPÓXI DE IMPREGNAÇÃO ....................................................................................... 48 FIGURA 32 – COMPONENTES DA RESINA EPÓXI DE REGULARIZAÇÃO ..................................................................................... 49 FIGURA 33 – INFLAÇÃO NO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL .................................................................................................. 51 FIGURA 34 – CROQUI DE ILUSTRAÇÃO DE PROJETO DE REFORÇO DE LAJE DE CONCRETO ARMADO COM FIBRA DE CARBONO. ............. 53 FIGURA 35 – CORTE DO COMPÓSITO DE FIBRA DE CARBONO ............................................................................................... 54 vi FIGURA 36 – FAIXAS SEPARADAS DE ACORDO COM DIMENSÕES ........................................................................................... 54 FIGURA 37 – FAIXAS SENDO DEMARCADAS NA SUPERFÍCIE DE CONCRETO .............................................................................. 55 FIGURA 38 – POLIMENTO DA SUPERFÍCIE DE CONCRETO ..................................................................................................... 56 FIGURA 39 – APLICAÇÃO DE RESINA DE IMPREGNAÇÃO ...................................................................................................... 57 FIGURA 40 – REFORÇO COM FIBRA DE CARBONO EM LOCAL COM GRANDE DENSIDADE DE INSTALAÇÕES ...................................... 60 FIGURA 41 – CROQUI DE ILUSTRAÇÃO DE PROJETO DE REFORÇO DE LAJE DE CONCRETO ARMADO COM ADIÇÃO DE ARMADURA ......... 62 FIGURA 42 – CROQUI DE ILUSTRAÇÃO DE PROJETO DE REFORÇO DE LAJE DE CONCRETO ARMADO COM ADIÇÃO DE ARMADURA, COM DELIMITAÇÃO DA ÁREA ESTIMADA A SER APICOADA. .................................................................................................. 63 FIGURA 43 – CROQUI DE ILUSTRAÇÃO DE PROJETO DE REFORÇO DE LAJE DE CONCRETO ARMADO COM ADIÇÃO DE COMPÓSITO DE FIBRA DE CARBONO. ................................................................................................................................................... 68 vii LISTA DE TABELAS TABELA 1 - GASTOS EM PAÍSES DESENVOLVIDOS COM MANUTENÇÃO (DADOS REFERENTES À 2004, EXCETO A ITÁLIA, QUE SE REFERE À 2002) ............................................................................................................................................................. 14 TABELA 2 – CRITÉRIO PARA CLASSIFICAÇÃO DE MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS ....................................................................... 19 TABELA 3 – ENSAIOS MAIS COMUNS DE AVALIAÇÃO DE ESTRUTURAS .................................................................................... 21 TABELA 4 - TIPOS DE AÇO COMUMENTE EMPREGADOS NO BRASIL ........................................................................................ 27 TABELA 5 - RELAÇÃO ENTRE TEMPERATURA, TEMPO DE TRABALHO E TEMPO DE CURA DA RESINA EPÓXI RE500 ............................ 29 TABELA 6 - RENDIMENTO DA RESINA EPÓXI RE500 NO EMBUTIMENTO DE AÇO EM CONCRETO .................................................. 29 TABELA 7 - FICHA TÉCNICA - COMPÓSITO DE FIBRA DE CARBONO ......................................................................................... 45 TABELA 8 - FICHA TÉCNICA DOS COMPONENTES DA RESINA EPÓXI DE LAMINAÇÃO ................................................................... 46 TABELA 9 - FICHA TÉCNICA DA RESINA EPÓXI DE LAMINAÇÃO RESULTANTE DA MISTURA ............................................................ 47 TABELA 10 – FICHA TÉCNICA DOS COMPONENTES DA RESINA EPÓXI DE IMPREGNAÇÃO ............................................................. 48 TABELA 11 - FICHA TÉCNICA DA RESINA EPÓXI DE LAMINAÇÃO RESULTANTE DA MISTURA .......................................................... 49 TABELA 12 - FICHA TÉCNICA DOS COMPONENTES DA RESINA EPÓXI DE REGULARIZAÇÃO ............................................................ 50 TABELA 13 - FICHA TÉCNICA DA RESINA EPÓXI DE REGULARIZAÇÃO RESULTANTE DA MISTURA .................................................... 50 TABELA 14 – QUANTIDADE DE AÇO NECESSÁRIA À EXECUÇÃO DO REFORÇO COM ADIÇÃODE ARMADURA. .................................... 62 TABELA 15 – MATERIAL NECESSÁRIO PARA EXECUÇÃO DO SERVIÇO DE REFORÇO COM ADIÇÃO DE ARMADURA. ............................. 64 TABELA 16 – MÃO-DE-OBRA NECESSÁRIA PARA EXECUÇÃO DO SERVIÇO DE REFORÇO COM ADIÇÃO DE ARMADURA. ....................... 65 TABELA 17 – MATERIAIS NECESSÁRIOS PARA O REFORÇO COM ADIÇÃO DE ARMADURA E RESPECTIVOS CUSTOS. ............................ 65 TABELA 18 – MÃO-DE-OBRA NECESSÁRIA PARA O REFORÇO COM ADIÇÃO DE ARMADURA E RESPECTIVOS CUSTOS. ........................ 66 TABELA 19 – EQUIPAMENTOS NECESSÁRIOS PARA O REFORÇO COM ADIÇÃO DE ARMADURA E RESPECTIVOS CUSTOS DE ALUGUEL. .... 67 TABELA 20 – CUSTO TOTAL E SUAS COMPOSIÇÕES PARA O REFORÇO COM ADIÇÃO DE ARMADURA. ............................................. 67 TABELA 21 – QUANTIDADE DE COMPÓSITO DE FIBRA DE CARBONO NECESSÁRIA À EXECUÇÃO DO REFORÇO. ................................. 69 TABELA 22 – QUANTIDADE DE MATERIAIS NECESSÁRIA À EXECUÇÃO DO REFORÇO COM TECIDO DE FIBRA DE CARBONO. .................. 70 TABELA 23 – MÃO-DE-OBRA NECESSÁRIA PARA EXECUÇÃO DO SERVIÇO DE REFORÇO COM ADIÇÃO DE ARMADURA. ....................... 71 TABELA 24 – MATERIAIS NECESSÁRIOS PARA O REFORÇO EM QUESTÃO E RESPECTIVOS PREÇOS .................................................. 71 TABELA 25 – MÃO-DE-OBRA NECESSÁRIA PARA O REFORÇO COM ADIÇÃO DE TECIDO DE FIBRA DE CARBONO E RESPECTIVOS CUSTOS . 72 TABELA 26 – EQUIPAMENTOS NECESSÁRIOS PARA O REFORÇO COM ADIÇÃO DE TECIDO DE FIBRA DE CARBONO E RESPECTIVOS CUSTOS DE ALUGUEL. .................................................................................................................................................... 72 TABELA 27 – CUSTO TOTAL E SUAS COMPOSIÇÕES PARA O REFORÇO COM ADIÇÃO DE FIBRA DE CARBONO .................................... 73 TABELA 28 – QUADRO RESUMO COMPARATIVO ENTRE OS PROJETOS 1 E 2 ............................................................................ 74 viii SUMÁRIO SUMÁRIO ................................................................................................................. viii 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1 1.1. A importância do Tema .......................................................................... 1 1.2. Objetivos ................................................................................................ 1 1.3. Justificativa da Escolha do Tema ........................................................... 2 1.4. Metodologia Aplicada ............................................................................. 2 1.5. Estrutura da Monografia ......................................................................... 3 2. ESTRUTURAS DE CONCRETO: CONTEXTUALIZAÇÃO .............................. 4 2.1. Conceituação ......................................................................................... 4 2.2. Peculiaridades Executivas ..................................................................... 5 2.3. Vida Útil ................................................................................................ 10 2.4. Patologias ............................................................................................ 11 2.5. Manutenção de Estruturas de Concreto .............................................. 13 3. PATOLOGIA E RECUPERAÇÃO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO: CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................................ 16 3.1. Conceituação ....................................................................................... 16 3.2. Mapeamento e Diagnóstico de Estruturas para Identificação de Patologias 16 3.3. Projetos de Reforço de Estruturas ....................................................... 22 3.4. Métodos de Reforço de Estruturas ...................................................... 24 4. SISTEMA CONVENCIONAL PARA RECUPERAÇÃO E REFORÇO ESTRUTURAL .......................................................................................................... 25 4.1. Aspectos Gerais ................................................................................... 25 4.2. Histórico ............................................................................................... 25 ix 4.3. Materiais Utilizados na Recuperação ................................................... 25 4.4. Características dos Materiais Utilizados na Recuperação ................... 26 4.5. Etapas Executivas ................................................................................ 31 4.6. Controle da Qualidade ......................................................................... 35 4.7. Dificuldades Executivas ....................................................................... 36 4.8. Vantagens e Desvantagens do Uso do Sistema .................................. 38 5. SISTEMA DE COMPÓSITOS DE FIBRAS DE CARBONO PARA RECUPERAÇÃO E REFORÇO ESTRUTURAL ....................................................... 41 5.1. Conceituação ....................................................................................... 41 5.2. Constituição: Matriz e Fibras ................................................................ 41 5.3. Propriedades e Características dos Materiais ..................................... 44 5.4. Custos .................................................................................................. 50 5.5. Aplicações ............................................................................................ 51 5.6. Técnicas Executivas ............................................................................ 52 5.7. Controle da Qualidade ......................................................................... 58 5.8. Vantagens e Desvantagens do Uso do Sistema .................................. 59 6. ESTUDO DE CASO ........................................................................................ 61 6.1. Introdução ............................................................................................ 61 6.2. Reforço com adição de armadura e graute. ......................................... 61 6.3. Reforço com compósito de fibra de carbono ....................................... 68 6.4. Considerações Finais ........................................................................... 73 7. CONCLUSÃO ................................................................................................. 75 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 78 1 1. INTRODUÇÃO 1.1. A importância do Tema Obras de reforço e recuperação estrutural são um inconveniente que muitas obras enfrentam durante sua execução ou irá enfrentar no decorrer de sua vida útil. Estruturas de concreto não são eternas, e a deterioração ao longo da sua vida útil, apesar de ser um fato ignorado por muitos, inclusive do meio técnico, é algo previsto, tornando necessárias intervenções estruturais. Em geral, as intervenções de reforço estrutural podem ocorrer tanto ao longo da vida útil quanto nos estágios construtivos, onde erros comumente ocorrem. Dentre as causas de necessidade de reforço, podem ser apontadas as falhas na execução ou no projeto, uso de material inadequado, mudança no uso de determinada área com o aumento da carga de utilização, incompatibilidade de projetos, entre outras causas diversas. É imprescindível, portanto, aos engenheiros conhecer a fundo as diferentes técnicas utilizadas no reforço e recuperação de estruturas de concreto, conhecendo melhor a respeito dos materiais utilizados, boas práticas de execução, custos,prazos e outras vantagens e desvantagens potenciais de cada uma das técnicas. Devido ao crescente uso de fibra de carbono como material de construção em obras de reforço estrutural, este trabalho aborda o estudo das vantagens e desvantagens relativas a esta técnica, apresentando seu método executivo e detalhando os materiais envolvidos, para, ao fim, compará-la, com as técnicas convencionais usadas mais tradicionalmente no nosso país. 1.2. Objetivos O presente trabalho visa comparar as técnicas de reforço e recuperação de estruturas de concreto com o uso de fibras de carbono em relação ao método convencional de reforço normalmente utilizado, para identificar as vantagens e desvantagens inerentes. Visa ainda disponibilizar uma revisão bibliográfica disseminando mais esclarecimentos sobre o assunto para que as decisões sobre qual método utilizar seja tomada de maneira mais consciente. 2 Ao longo do trabalho, são explicitadas as vantagens e desvantagens de cada método, não só em relação a custo, mas analisando algumas das variáveis envolvidas, como facilidade de execução, qualidade, impactos ambientais, tempo de execução, dentre outras. 1.3. Justificativa da Escolha do Tema A escolha por determinada técnica de reforço em detrimento à outra é feita, muitas vezes, sem o conhecimento adequado das diferentes técnicas, fazendo com que o desconhecimento em relação às possibilidades de intervenção influencie na decisão. O impacto de obras de recuperação e reforço estrutural em obras durante o estágio de construção afeta não só o custo como o prazo da obra, já que muitas vezes a resolução desse problema é imprescindível para a continuação dos trabalhos. Em obras prontas, o inconveniente é ainda maior, visto que muitas vezes a construção está em uso e intervenções de recuperação estrutural tornam-se um inconveniente aos que usufruem da construção. Portanto, por se tratar de um assunto problemático e que impacta recorrentemente os trabalhos de construção e estruturas ao longo de sua vida útil, houve motivação por parte do autor para a execução deste trabalho. 1.4. Metodologia Aplicada A metodologia aplicada foi desenvolvida a partir da revisão bibliográfica, com coleta de dados e busca por conceitos associados ao tema do trabalho. Foram realizados levantamentos bibliográficos referentes às técnicas de reforço e recuperação estrutural de peças de concreto tanto em artigos científicos como em trabalhos acadêmicos e livros, possibilitando um desenvolvimento teórico do trabalho. Após uma fundamentação teórica com base nessas pesquisas, foi realizado um estudo de caso para a análise prática do problema em questão, comparando duas soluções de reforço estrutural para uma mesma obra. Para cada técnica, foi realizado o estudo do custo e prazo aproximado, além de outros impactos na obra associados a cada solução proposta. O estudo de caso foi realizado a partir da análise de dois diferentes projetos executivos de reforço. 3 1.5. Estrutura da Monografia A monografia será estruturada em sete capítulos, conforme descrito a seguir: No primeiro capítulo, é apresentada a introdução ao tema proposto, identificando e destacando os objetivos do trabalho, a importância do tema em questão e a metodologia aplicada para o desenvolvimento do trabalho. No segundo capítulo, é discutida uma contextualização das estruturas de concreto, analisando a conceituação, peculiaridades executivas, vida útil, patologias associadas e manutenção destas estruturas. No terceiro capítulo, são analisadas mais a fundo as patologias e formas de recuperação das estruturas de concreto, apresentando a conceituação, mapeamento e diagnóstico de estruturas para identificação de patologias, projetos de recuperação de estruturas e, por fim, os métodos tradicionais de recuperação e reforço de estruturas. No quarto capítulo, é realizado um estudo a respeito do sistema convencionalmente utilizado para recuperação e reforço de estruturas de concreto, apresentando conceituação, materiais utilizados, características desses materiais, etapas executivas, controle da qualidade, dificuldades executivas e vantagens e desvantagens do uso deste sistema. No quinta capítulo, por sua vez, é realizada a análise do sistema de compósitos de fibras de carbono para recuperação e reforço estrutural, apresentando conceituação, aspectos históricos, constituição e materiais associados, características, propriedades e ensaios, custos, aplicações, técnicas executivas, controle da qualidade, além das vantagens e desvantagens do uso desse sistema. No sexto capítulo é realizado o estudo de caso, que apresenta dois projetos de reforço equivalentes para uma intervenção em uma laje de concreto armado que receberá um carregamento não previsto no projeto inicial. Um dos projetos é de reforço com adição de armadura e graute, enquanto o outro projeto utiliza fibras de carbono para o mesmo fim. No sétimo capítulo são apresentadas as conclusões deste estudo e algumas considerações finais. Por fim, são expostas as referências bibliográficas utilizadas ao longo do trabalho. 4 2. ESTRUTURAS DE CONCRETO: CONTEXTUALIZAÇÃO 2.1. Conceituação O concreto é o material de construção mais utilizado no mundo, sendo basicamente composto por cimento, agregados miúdos (areia), agregados graúdos (brita ou pedra) e água. Eventualmente, aditivos podem ser introduzidos na mistura quando se busca melhorar determinada propriedade. Apesar do concreto resistir bem à esforços de compressão, sua resistência à tração é limitada. Sendo assim, utiliza-se barras de aço no interior da seção de concreto, obtendo assim uma estrutura capaz de resistir tanto à esforços de tração como a esforços de compressão. Além da complementaridade de características de resistência, o concreto e o aço também possuem coeficientes de dilatação da mesma ordem de grandeza, boa aderência e o concreto provem o cobrimento necessário para que as barras de aço não oxidem. Bastos (2006) define concreto armado como sendo “a união do concreto simples e de um material resistente à tração (envolvido pelo concreto) de tal modo que ambos resistam solidariamente aos esforços solicitantes”. A NBR 6118 define que são elementos de concreto armado “aqueles cujo comportamento estrutural depende da aderência entre concreto e armadura, e nos quais não se aplicam alongamentos iniciais das armaduras antes da materialização dessa aderência”. Esta norma também define que a armadura do concreto armado deve estar em estado passivo, ou seja, não pode ser alongada (protendida) antes da concretagem. O concreto armado surgiu como material de construção na Europa em meados do século XIX. No início do século XX, as primeiras construções de concreto armado começaram a aparecer no Brasil. As primeiras construções deste tipo em território brasileiro apareceram com a execução de casas em Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro (VASCONCELOS, 1992). De lá para cá, esta tecnologia foi muito difundida por todo território nacional. 5 Figura 1 - Copacabana no início do século XX Fonte: JORNAL O GLOBO (2012) A capacidade de produzir peças de acordo com o formato do molde em que ele é lançado garante ao concreto uma capacidade de produzir peças únicas de formatos diversos, contribuindo para que este material seja ainda mais aceito. O uso tão amplo deste material em nossas cidades parece ser resultado daquilo denominado como “tecnologia formal adaptada”, isto é, uma tecnologia que importa não só materiais, como procedimentos, normas e tipologias dos países centrais, porém aplicados demodo apenas parcial e incompleto (PELLI, 1989). 2.2. Peculiaridades Executivas A execução de estruturas de concreto armado deve ser feita de acordo com a NBR 14931 (2003): “Execução de estruturas de concreto – Procedimento”, e envolve basicamente três processos: montagem das fôrmas, montagem da armação e concretagem. Cada um desses três processos exige a execução de um número de atividades. Para facilitar o entendimento, é apresentado na figura 2 a ilustração deste esquema, ajudando na identificação e compreensão de todas as atividades envolvidas. 6 Figura 2 – Fluxograma esquemático das etapas de concretagem Fonte: FREIRE (2001) 2.2.1. Execução da Armação O aço pode ser comprado já cortado e dobrado ou receber estes procedimentos na obra por mão de obra especializada de armadores. É de grande importância que o aço seja cortado e dobrado com a precisão adequada, atendendo as especificações do projeto. Barras de aço menores ou maiores que o exigido em projeto podem comprometer a estrutura. O aço dobrado deve ser devidamente identificado com a peça estrutural que irá compor, para contribuir com a organização, evitando que o aço seja empregado em local indevido. Ao chegar na obra, o aço deve ser armazenado de maneira adequada, evitando que seja exposto a água e intempéries em geral. O armazenamento de forma inadequada pode resultar em oxidação do aço, comprometendo sua durabilidade. A montagem da armação pode se dar de maneira pré-montada, sendo então transportada ao local onde a peça será concretada ou então ocorrer in loco. É essencial que 7 haja um controle de qualidade para checar se a armadura que foi executada condiz com o que está no projeto, tanto em bitola quanto em comprimento das barras, espaçamentos, quantidade e prumo. Checada a armadura, espaçadores circulares de plástico com tamanho correspondente ao cobrimento de projeto devem ser posicionados de maneira distribuída ao longo do comprimento da peça que será concretada, para garantir o espaçamento adequado entre as barras de aço e a forma. Nessa fase, erros são recorrentes e a falha em atender o cobrimento de projeto acaba comprometendo a vida útil da estrutura, uma vez que o aço é mais exposto a intempéries e, portanto, oxida mais rápido. A figura 3 ilustra os procedimentos envolvidos na confecção da armação no caso do aço ser entregue na obra sem estar cortado e dobrado. Caso o aço já seja entregue cortado e dobrado, basta desconsiderar essa etapa na figura. Figura 3 - Fluxograma esquemático das etapas de armação Fonte: FACHINI (2005) 2.2.2. Execução das Fôrmas Assim como o aço, os painéis que serão utilizadas como fôrmas do concreto devem ser armazenadas de maneira adequada, de forma que não comprometa sua estrutura. Os painéis devem ser cortados ou recebidos de acordo com o tamanho das peças de concreto especificadas em projeto. Um projeto adequado deve prever eventuais instalações que serão embutidas no concreto e, durante a montagem da forma, deve-se ter cuidado em deixar espaço para a passagem destes componentes. É recorrente em obras a incompatibilidade de projetos de formas e instalações, acarretando em futuros gastos com furos e reforços nos locais onde essas peças se encontram. 8 Durante a montagem das formas, deve-se ter cuidado em manter o prumo adequado. Além disso, o escoramento deve ser feito de maneira adequada para garantir que a forma não ceda quando houver a pressão do concreto fresco em seu interior. As áreas de juntas de formas devem receber o tratamento adequado para garantir que não sejam áreas problemáticas. Retiradas de maneira adequada, as fôrmas podem ser reutilizadas na confecção de outros elementos estruturais. Figura 4 - Fluxograma esquemático das etapas de montagem de fôrmas Fonte: FREIRE (2001) 2.2.3. Concretagem Assim como todos materiais de construção, o cimento e seus agregados devem ser armazenados de maneira adequada na obra. É importante que haja controle da umidade nos agregados, para garantir que a quantidade de água desejada na mistura seja alcançada. As especificações dos agregados para concreto podem ser encontradas na NBR 7211 (2005): “Agregados para concreto – Especificação”. É essencial que haja o devido controle de qualidade dos materiais, conforme especificado na NBR 12654 (1992): “Controle tecnológico de materiais componentes do concreto”. 9 Uma vez que o cimento endurece em contato com a água, deve ser dada uma atenção especial com o seu armazenamento. A NBR 6118, no item 8.1.1.3, faz as seguintes recomendações quanto ao armazenamento do cimento: a) Não misturar lotes recebidos em épocas diferentes; b) Consumo na ordem cronológica de recebimento; � c) Pilhas no máximo com 10 sacos, podendo atingir 15 sacos se o tempo de armazenagem for no máximo de 15 dias; � d) Local protegido da ação das intempéries, da umidade e de outros agentes nocivos (barracões cobertos, fechados lateralmente, assoalho de madeira afastado do chão e as pilhas de sacos de cimento afastadas das paredes). � A NBR 12655 (1996): “Concreto – Preparo, controle e recebimento” especifica as diretrizes para corretos procedimentos de concretagem. Para FREIRE (2001), o serviço de concretagem consiste em receber ou produzir o concreto in loco, transportá-lo até o local de aplicação, lançá-lo nas fôrmas, espalhá-lo, adensá-lo, nivelá-lo e dar-lhe o acabamento necessário para depois curá-lo. A figura 5 esquematiza o processo: Figura 5 – Fluxograma esquemático das etapas de concretagem Fonte: FREIRE (2001) Durante a produção do concreto, deve-se utilizar os materiais adequados e nas quantidades certas, conforme especificado nas normas brasileiras para que se obtenha a resistência de projeto desejada. Falhas na produção do concreto gerando um concreto com resistência abaixo da de projeto são recorrentes e responsáveis por parte significativa das obras de reforço de estruturas. O controle tecnológico adequado é essencial nesta fase para se detectar baixas resistências: deve-se retirar amostras do concreto e realizar testes para garantir que a 10 resistência de projeto foi alcançada, seguindo as diretrizes da NBR 7680 (2015): “Concreto - Extração, preparo e ensaio de testemunhos de concreto”. 2.3. Vida Útil Segundo a ISO 13823:2008, entende-se por vida útil “o período efetivo de tempo durante o qual uma estrutura ou qualquer de seus componentes satisfazem os requisitos de desempenho do projeto, sem ações imprevistas de manutenção ou reparo”. Já para a NBR 6118, item 6.2, a vida útil de projeto é o “período de tempo durante o qual se mantêm as características das estruturas de concreto, desde que atendidos os requisitos de uso e manutenção prescritos pelo projetista e pelo construtor, conforme itens 7.8 e 25.4, bem como de execução dos reparos necessários decorrentes de danos acidentais”. Conclui-se dessas definições, portanto, que a vida útil depende não só do projeto, execução e materiais, como também do correto uso, operação e manutenção previstos pelo projetista e construtor. A NBR 15575 especifica que, para edificações de até 5 andares, a vida útil de projeto deve ser considerada de 40 anos. A vida útil de uma estrutura de concreto depende da realização correta de sua execução e do controle tecnológico. O controle tecnológico consiste no estudo da dosagem dos materiais constituintes e no controle do concreto produzido (FACHINI, 2005). Para se definir a vida útil, há a necessidade, por um lado, de se avaliar o grau de agressividade do meio ambiente e, por outro, de se conhecer o concreto e a geometria da estrutura,estabelecendo uma correspondência entre ambos (HELENE, 2001). No Brasil, há uma proposta clara de definição de vida útil de projeto desde o início da década de 90, limitada aos fenômenos de corrosão das armaduras (HELENE, 2001). Para os demais fenômenos de deterioração, no entanto, ainda não há propostas brasileiras nem internacionais (ISAIA, 2011). A resistência da estrutura de concreto à ação do meio ambiente e ao uso dependerá, no entanto, da resistência do concreto, da resistência da armadura e da resistência da própria estrutura. Qualquer um que se deteriore poderá comprometer a estrutura como um todo. 11 Figura 6 – Variação do desempenho de uma estrutura de concreto armado ao longo do tempo Fonte: ISAIA, 2011 A figura 6 apresenta gráfico relacionando tempo e desempenho e demonstra que a ausência de medidas preventivas compromete a durabilidade da estrutura, tornando mais breve a sua vida útil. É imprescindível que sejam previstas em projeto intervenções deste tipo. 2.4. Patologias O termo “patologia” utilizado no contexto da construção civil tem definição semelhante ao encontrado na medicina, na qual estudam-se as origens, sintomas e natureza das doenças. Patologias em construção civil são manifestações que venham a prejudicar o desempenho esperado da construção. Para Piancastelli (1997), sendo o concreto armado um material não inerte, ele se sujeita a alteração ao longo do tempo, devido a interações entre seus elementos construtivos (cimento, agregados, água e aço). Interações entre esses e agentes externos (ácidos, bases, sais, gases e outros) e com materiais que lhe são adicionados (aditivos). Degussa (2008) afirma que patologia é a parte da engenharia que estuda os sintomas, mecanismos, causas e origens dos defeitos de construções civis e à terapia cabe estudar a correção e solução desses problemas patológicos, inclusive aqueles devidos ao envelhecimento natural. Por muito tempo, o concreto foi considerado um material extremamente durável, devido ao fato de algumas obras de engenharia muito antigas ainda encontrarem-se em bom estado. Porém, a deterioração precoce de estruturas recentes remete aos porquês das patologias do concreto (BRANDÃO & PINHEIRO, 1999). 12 Um exemplo esquemático do surgimento do mais comum tipo de patologia associado a estruturas de concreto armado é demonstrado através da figura 7. Figura 7 – Evolução da deterioração de estruturas de concreto por corrosão de armaduras Fonte: HELENE, 2001 Pode-se apontar as seguintes causas de patologias como as mais comuns em obras de engenharia: a) Falhas na concepção do projeto; b) Erros da execução; � c) Má qualidade dos materiais; � d) Utilização para fins diferentes dos calculados em projeto, gerando sobrecarga; � e) Falta de manutenção no decorrer do tempo. As principais causas de patologia e suas distribuições, segundo estudo europeu, são apresentadas na figura 8. 13 Figura 8 – Principais causas de patologias e suas distribuições Fonte: COUTO, 2007 2.5. Manutenção de Estruturas de Concreto Conforme afirmado anteriormente, as estruturas de concreto não são eternas e a sua manutenção periódica deve ser prevista em projeto, de modo a prolongar a vida útil da estrutura. Com a entrada em vigor da norma de desempenho (NBR 15.575 – Edifícios Habitacionais – Desempenho), maior preocupação tem sido tomada com inspeções periódicas a fim de se identificar eventuais patologias em edifícios e se buscar ações corretivas. A norma prevê que, atendida as condições estabelecidas no “Manual de Uso, Operação e Manutenção” dos imóveis, as estruturas devem apresentar uma vida útil de projeto de no mínimo 50 anos. Vários trabalhos têm demonstrado a importância econômica da consideração da durabilidade a partir de pesquisas que demonstram os significativos gastos com manutenção e reparo de estruturas em países desenvolvidos (UEDA & TAKEWAKA, 2007), conforme apresentado na tabela 1. 14 Tabela 1 - Gastos em países desenvolvidos com manutenção (dados referentes à 2004, exceto a Itália, que se refere à 2002) Fonte: UEDA & TAKEWAKA, 2007 A interpretação desta figura permite observar que os gastos com manutenção e reparo são quase equivalentes aos gastos com construções novas em países desenvolvidos. Claro que em países em desenvolvimento, como no Brasil, os gastos com construções novas ainda são mais elevados do que os gastos com reparo e manutenção, porém esses valores tendem- se a se tornarem cada vez mais próximos com o passar do tempo, aumentando a participação dos serviços de recuperação e reforço estrutural no âmbito da construção civil. Segundo Souza & Ripper (1998), conforme ilustrado na figura 9, existem basicamente duas ramificações para a manutenção em estruturas de concreto: as estratégicas, que são previstas e relacionadas a prevenção, e as esporádicas, que são realizadas após a identificação de determinado problema. Figura 9 - Critérios para manutenção de estruturas Fonte: SOUZA & RIPPER, 1998 15 Algumas definições explicitadas por Souza & Ripper (1998), são importantes para o melhor entendimento de como os componentes presentes na figura 9 devem ser interpretados: a) Manutenção estratégia: será toda a manutenção que seja planejada, incluindo-se aí a programação das eventuais intervenções corretivas e emergenciais, entendendo-se como tais os casos em que, basicamente, sejam sempre definidos o ritmo e a forma de procedimento, registro e compilação das inspeções técnicas informativas, assim como os sistemas mais intensivos a adotar para o acompanhamento comportamental das partes mais vulneráveis da estrutura, detectadas quando do projeto, da construção, ou mesmo durante serviços anteriores de recuperação. b) Manutenção preventiva: por outro lado, a manutenção preventiva é aquela que é executada a partir das informações fornecidas por inspeções levadas a efeito em intervalos regulares de tempo, de acordo com critérios pré-estabelecidos de redução das probabilidades de ruína ou de degradação da estrutura, visando uma extensão programada de sua vida útil. Poderão ocorrer casos em que as inspeções periódicas sejam complementadas por outras, adicionais, específicas a determinadas peças estruturais que, numa dada inspeção rotineira, tenham demonstrado estar com desempenho prejudicado e passam a condicionar, daí em diante, o ritmo das inspeções, e até, em alguns casos, das recuperações. c) Manutenção esporádica: nasce da necessidade de uma determinada atividade de correção ou de reforço, e não está centrada em nenhum plano de ações predeterminado. 16 3. PATOLOGIA E RECUPERAÇÃO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO: CONTEXTUALIZAÇÃO 3.1. Conceituação Conforme descrito no item 1.1, falhas de projeto, erros de execução, má qualidade dos materiais, utilização para fins diferentes dos de projeto e falta de manutenção no decorrer do tempo são os principais responsáveis pelo surgimento de patologias em estruturas de concreto armado. Durante a construção, essas causas de patologia são identificáveis a partir de um bom controle de qualidade. Correta fiscalização das etapas de construção, com acompanhamento de profissional capacitado, além de um controle tecnológico dos materiais utilizados contribuem para que esses efeitos sejam reduzidos. Quando concluída a obra, essas patologias são identificadas, normalmente, a partir de trincas, infiltrações, exposição/oxidação de ferragem, degradação do concreto e outros fatores facilmente observáveis que gerem transtornos aos usuários da construção. Uma vez identificados problemas,os mesmos devem ser tratados, de maneira a garantir a segurança da estrutura em questão. Negligência com sintomas patológicos é algo recorrente devido ao alto custo de recuperação, o que pode acarretar em acidentes. 3.2. Mapeamento e Diagnóstico de Estruturas para Identificação de Patologias Inspecionar, avaliar e diagnosticar as patologias da construção são tarefas que devem ser realizadas sistematicamente e periodicamente, de modo a que os resultados e as ações de manutenções devem cumprir efetivamente a reabilitação da construção, sempre que for necessária (GRANATO, 2002). Ainda de acordo com Granato, as seguintes etapas correspondem a uma inspeção: a) Elaboração de uma ficha de antecedentes, da estrutura e do meio ambiente, baseado em documentação existente e visita a obra; � b) Exame visual geral da estrutura; � c) Levantamento dos danos; � d) Seleção das regiões para exame visual mais detalhado e possivelmente da retirada de amostras; � 17 e) Seleção das técnicas de ensaio, medições, análises mais acuradas; � f) Seleção de regiões para a realização de ensaios, medições, análises físico- �químicas no concreto, nas armaduras e no meio ambiente circundante; g) Execução de medições, ensaios, e análises físico-químicos. � A figura 10 esquematiza a sequencia das atividades necessárias para a realização de inspeções de patologias da construção. Figura 10 - Fluxograma representativo de inspeção técnica Fonte: GRANATO, 2002 É importante investigar cuidadosamente a patologia e suas possíveis causas, pois ao se falhar no seu diagnóstico, a correção não será eficiente. Uma patologia pode se 18 apresentar como consequência de mais de uma deficiência. Assim, para que a medida corretiva seja eficiente deve-se sanar todas as suas causas (ANDRADE & SILVA, 2005). Ações corretivas não terão efeito se a causa da patologia ainda estiver agindo após a intervenção. A inspeção é uma atividade técnica especializada que abrange a coleta de elementos, de projeto e de construção, o exame minucioso da construção, a elaboração de relatórios, a avaliação do estado da obra e as recomendações, que podem ser de nova vistoria, de obras de manutenção, de recuperação, de reforço ou de reabilitação da estrutura (HELENE, 2001). Os projetos de reforço estrutural são elaborados a partir dessas atividades preliminares. A correta identificação e mapeamento das patologias em uma estrutura é de grande importância para a posterior seleção da técnica de recuperação ou reforço estrutural. Dessa forma, a adoção de boas práticas durante a inspeção é fundamental, assim sendo, os procedimentos a serem observados devem ser minuciosamente programados para garantia de que todos os recursos estejam disponibilizados, todos os dados sejam efetivamente levantados e mapeados e devidamente avaliados para compor o laudo técnico final. 3.2.1. Inspeção visual BROOMFILED (1997) afirma que, antes de avaliar a estrutura através de ensaios, deve ser executada uma inspeção visual. Esta inspeção deve ser registrada através de fotografias e mapeamento das fissuras, indicando sua extensão e abertura com o auxílio de um fissurômetro. Complementarmente, pode-se utilizar a auscultação, procedimento que consiste em, com um martelo, bater em diversos pontos da estrutura para verificar se há algum ruído diferente. O procedimento de inspeção visual é vantajoso por ser realizado de forma rápida, não possuir custos significativos de materiais e poder servir como introdução ao demais ensaios que serão executados. No entanto, a verificação da superfície a olho nu não permite a obtenção de informações quantitativas a respeito das propriedades do concreto, sendo recomendado que o investigador seja um profissional com experiência. No caso de peças de concreto onde o acesso é limitado, recomenda-se a utilização de aparelhos de fibra óptica conectados a microcâmeras de TV com alta resolução, para permitir que a inspeção seja possível. Correia (2013) caracteriza a inspeção visual separando-a em 4 níveis de gravidade, de acordo com o estado da estrutura em análise. A tabela 2 apresenta estes níveis. 19 Tabela 2 – Critério para classificação de manifestações patológicas Fonte: CORREIA, 2013 3.2.2. Inspeção detalhada A inspeção detalhada deve ser executada com objetivo de determinar a causa das manifestações patológicas observadas na inspeção visual. Ensaios de campo e de laboratório que possibilitem um diagnóstico correto e preciso devem ser executado por profissional ou empresa especializada. Segundo Granato (2002), os seguintes itens devem ser abordados na inspeção detalhada: a) Fichas, croquis e planos de levantamento de danos; b) Plano de amostras; c) Tabela de tipificação dos danos;� d) Técnicas de ensaio/medição/análises adequadas; e) Regiões onde deverão ser realizados ensaios; � f) Planificação de materiais e equipamentos. A realização de ensaios de campo e laboratório deve ser conduzida com o objetivo de se obter informações objetivas sobre as causas do problema em questão. Souza & Ripper (1998) sugerem que sejam realizados os seguintes ensaios: 20 Ensaios no concreto: a) Resistividade; b) Esclerometria; c) Ultrassom; d) Profundidade de carbonatação; e) Concentração de cloretos; f) Resistência à compressão; g) Porosidade. Ensaios na armadura: a) Localização e espessura de recobrimento; b) Perda de diâmetro e seu limite elástico; c) Medição de potenciais; d) Medição da velocidade de corrosão. A tabela 3 apresenta os ensaios mais comumente utilizados na avaliação de estruturas de concreto. 21 Tabela 3 – Ensaios mais comuns de avaliação de estruturas Fonte: GRANATO, 2002 3.2.3. Laudo técnico Após realizada a inspeção visual, a inspeção detalhada e os devidos ensaios, um documento deve ser redigido descrevendo as etapas e conclusões do processo de inspeção. Neste documento, recomenda-se apresentar as fotografias tiradas na inspeção visual, os resultados dos ensaios realizados, a definição da causa raiz do problema e, por fim, as ações de recuperação/reforço necessárias, com detalhamento de procedimentos de execução. Este laudo servirá de base para a execução do reforço. 22 3.3. Projetos de Reforço de Estruturas Uma vez elaborado o laudo técnico, um projeto de reforço da estrutura é elaborado com o intuito de garantir a segurança da estrutura. É responsabilidade do projetista, a partir do laudo desenvolvido, determinar qual técnica de reforço será utilizada, quando há possibilidade de mais de uma solução para o mesmo problema. São diversas as variáveis que determinam a aplicabilidade ou não de um determinado método de reforço em uma estrutura de concreto. Souza & Ripper (1998) citam alguns dos fatores que devem ser levados em consideração na escolha do trabalho de reforço: a) Estética, concepção original e história da estrutura; b) Defeitos existentes ou quantificação das novas cargas exigidas; c) Disponibilidade de mão de obra e materiais; d) Formação técnica do projetista ou valores subjetivos como criatividade e experiência do mesmo. A situação ideal, em relação a uma estrutura, será a de se desenvolver o projeto de forma que a construção possa ser bem-feita e o trabalho de manutenção facilitado, mantendo-se a deterioração em níveis mínimos (SOUZA & RIPPER, 1998). Um bom projeto de reforço estrutural deve deixar bem especificado os materiais a serem utilizados e a sequência de etapas executivas, visto que são trabalhos de certa complexidade e que, por se tratarem de uma intervenção numa estrutura existente, devem ser feitos com todo cuidado necessário. As figuras 11 e 12 apresentam doisexemplos de projetos de reforço de estrutura. O nome da obra e dos projetistas não foram divulgados. A figura 11 apresenta um reforço com fibra de carbono em uma viga, enquanto a figura 12 apresenta um projeto de reforço de uma viga com adição de armadura e graute, aumentando a seção da viga. 23 Figura 11 – Croqui de ilustração de projeto de reforço de viga de concreto armado com fibra de carbono. Fonte: O AUTOR, 2016 Figura 12 - Croqui de ilustração de projeto de reforço de viga de concreto armado com adição de armadura e graute. Fonte: O AUTOR, 2016 Em cada caso foi adotada uma solução diferente para o reforço estrutural da viga, e a determinação de qual tipo de reforço executar foi tomada pelo projetista com base em sua experiência. Em ambos os casos se observa o cuidado em descrever cuidadosamente os procedimentos executivos, de modo a deixar claro a quem irá executar qual as atividades envolvidas e a sequência adequada. 24 3.4. Métodos de Reforço de Estruturas Basicamente, os três métodos de reforço mais comumente empregados são: a) Adição de armadura com aumento da seção transversal de concreto; b) Adição de chapas/perfis de aço à estrutura; c) Adição de fibra de carbono à estrutura. Os métodos a e b são os mais comuns, podendo ser denominados como métodos tradicionais. O método c relativo a adição de fibra de carbono é mais recente e menos difundido no Brasil se comparada com os dois primeiros. No capítulo 4 são abordados os métodos de reforço tradicionais e no capítulo 5 o método de reforço com fibra carbono. 25 4. SISTEMA CONVENCIONAL PARA RECUPERAÇÃO E REFORÇO ESTRUTURAL 4.1. Aspectos Gerais As duas técnicas de reforço mais comumente empregadas em reforço de estrutura são as técnicas que envolvem a adição de chapas metálicas e as técnicas que envolvem adição de armadura e aumento da seção transversal do concreto. Neste capítulo, são abordados os princípios dos métodos destes tipos de reforços, conhecidos como convencionais, explicitando, ao fim, suas principais vantagens e desvantagens. 4.2. Histórico O reforço de vigas de concreto armado por meio da colagem de chapas de aço tem sua eficiência comprovada pela realização de uma vasta quantidade de intervenções deste tipo (CÁNOVAS, 1998). Contudo, ela pode ser considerada uma técnica relativamente recente. Sua primeira ocorrência foi observada na década de 60, em uma obra na cidade de Durban, África do Sul, onde vigas de um complexo residencial foram reforçadas devido a falhas de execução. Desde então, a técnica vem sendo amplamente utilizada em países como Japão, África do Sul e em vários países da Europa, principalmente para corrigir deficiências estruturais em pontes de concreto armado (BEBER, 2003). A técnica com incremento de armadura e aumento da seção transversal do concreto é a mais antiga técnica de reforço estrutural utilizada, tendo em vista sua semelhança com os próprios processos construtivos de estruturas de concreto armado. Seu uso acompanha construções de concreto armado desde suas primeiras concepções. 4.3. Materiais Utilizados na Recuperação Neste item serão apenas listados os materiais comumente empregados em cada tipo de reforço. A caracterização de cada material será descrita no item 4.3 a seguir, enquanto a maneira e o propósito do uso de cada um desses materiais são descritos no item 4.4 com a apresentação das etapas executivas. 26 4.3.1. Reforço com chapas/perfis metálicos O reforço com chapas/perfis metálicos envolve, além das próprias chapas/perfis, materiais complementares para garantir o preparo da estrutura e a correta fixação das chapas na estrutura. Os materiais comumente utilizados são listados abaixo: a) Chapas/perfis metálicos; b) Resina epoxídica; c) Tinta anti-corrosiva; 4.3.2. Reforço com adição de armadura e aumento da seção transversal O reforço com adição de armadura e aumento da seção transversal, por sua vez, envolve além da armadura que será adicionada, materiais para garantir o correto tratamento da superfície da estrutura existente, além de elementos chumbadores e graute para aumentar a seção transversal. Os materiais comumente utilizados neste tipo de reforço são listados abaixo: • Barras de aço; • Graute; • Resina epóxidica; • Fôrmas. 4.4. Características dos Materiais Utilizados na Recuperação 4.4.1. Chapas/perfis metálicos As chapas e perfis metálicos utilizados na recuperação de estruturas de concreto no Brasil são produzidos segundo normas estrangeiras, principalmente a ASTM (American Society for Testing and Materials) e a DIN (Deutsche Industrie Normen), ou fornecidos segundo denominação do próprio fabricante. Os aços disponíveis no Brasil são listados na tabela 4. 27 Tabela 4 - Tipos de aço comumente empregados no Brasil Fonte: IBDA – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento da Arquitetura, 2011 Nas obras de reforço com utilização de estrutura metálica, a escolha do tipo de aço é feita em função de aspectos diversos, normalmente associados à: • Meio ambiente onde as estruturas se localizam; • Previsão do comportamento estrutural de suas partes; • Meio industrial com atmosfera agressiva à estrutura; • Proximidade da orla marítima; • Manutenção necessária e disponível ao longo do tempo. Os fatores citados acima influenciam a escolha do tipo de aço a ser utilizado de diversas maneiras. Em condições ambientais agressivas, com forte atuação de intempéries, por exemplo, aços de alta resistência à corrosão são exigidos. Da mesma maneira, peças comprimidas com elevado índice de esbeltez ou peças fletidas em que a deformação (flecha) é fator preponderante exigem aços de média resistência mecânica. No caso de peças com baixa esbeltez e onde a deformação não é importante, fica mais economicamente viável a utilização de aços de alta resistência (IBDA, 2011). Figura 13 - Perfis de aço Fonte: IBDA, 2011 28 Figura 14 - Chapa de aço Fonte: IBDA, 2011 4.4.2. Resina epoxídica Uma resina epóxi ou poliepóxido é um plástico termofixo que se endurece quando se mistura com um agente catalisador ou "endurecedor", conforme ilustrado na figura 15. Figura 15 - Composição resina epóxi Fonte: HILTI, 2010 Por se tratar de obras delicadas, resinas epóxi de alta resistência são recomendadas em obras de reforço estrutural. Uma das mais utilizadas e recomendadas é a RE-500, da Hilti, por apresentar diversas vantagens. Dentre elas, destacam-se: • Redução do comprimento de ancoragem devido à alta resistência; • Tixotrópica (não escorre no furo e pode ser utilizada de baixo para cima); • Pode ser aplicada em superfícies úmidas e até submersas. O tempo de cura da resina depende da temperatura da superfície em que ela será aplicada, variando conforme mostrado na tabela 5. 29 Tabela 5 - Relação entre temperatura, tempo de trabalho e tempo de cura da resina epóxi RE500 Fonte: HILTI, 2010 A quantidade de resina a ser utilizada no embutimento do aço no concreto pode ser calculada subtraindo o volume do furo do volume de aço que será introduzido no furo. Considerando perdas, chega-se a HILTI estima os rendimentos de seu produto de acordo com a tabela 6. Tabela 6 - Rendimento da resina epóxi RE500 no embutimento de aço em concreto Fonte: HILTI, 2010 4.4.3. Tinta anti-corrosiva A pintura de peças metálicas para proteção anti-corrosiva consiste na interposição de um revestimento entre o meio corrosivo e o aço. Em paralelo, proporcionaoutras características como sinalização, estética, impermeabilização etc. Tintas feitas a partir de resinas a base de zinco são comumente utilizadas com o propósito de proteção anti-corrosiva. No entanto, existe uma ampla variedade de tintas que podem ser utilizadas para este propósito e cada tinta possui características que favorecem seu uso em determinado ambiente (ex. Tintas resistentes à agua salgada, à agua doce, à determinados gases etc.). 30 Em paralelo a propriedade de anti-corrosão, normalmente também busca-se uma tinta que ajude a peça estrutural a resistir às altas temperaturas em caso de incêndio. A figura 16 mostra a aplicação de uma tinta à base de zinco para proteção de armaduras. Este mesmo procedimento pode ser adotado para chapas e perfis metálicos. Figura 16 – Aplicação de tinta a base de zinco para proteção de armaduras Fonte: O AUTOR, 2016 4.4.4. Barras de aço Produzidos de acordo com as especificações da NBR 7480/96, são fornecidos nas categorias CA-50, com superfície nervurada e CA-25, com superfície lisa. Os vergalhões são encontrados sob a forma de rolos para bitolas até 12,5 mm e em barras retas ou dobradas de 12m, em feixes de 1.000 e 2.000Kg. As barras de aço utilizadas no reforço de estruturas são as mesmas barras utilizadas durante a construção, e devem receber os mesmos cuidados e procedimentos descritos no item 2.2.1. 4.4.5. Graute O Graute é um tipo específico de concreto, que possui como principais diferenças sua fluidez e alta resistência. De acordo com HELENE (2001), para que uma argamassa ou concreto seja considerada um graute é necessário que: a) Apresente consistência fluida, dispensando o adensamento; b) Atinja altas resistências iniciais e finais; 31 c) Apresente expansão controlada. A fluidez do graute torna possível que ele ocupe os vazios de maneira mais eficaz. Como em reforços com aumento da seção transversal há em geral uma alta taxa de armadura, essa fluidez é essencial e torna possível que o reforço seja executado de maneira adequada, com o graute preenchendo todos vazios entre fôrmas, armaduras e seção do concreto existente. A alta resistência também é uma característica importante. A alta resistência permite que a seção da estrutura seja menor do que seria no caso de concretos com menor resistência, o que é um fator desejável, visto que a princípio a arquitetura não contava com esse aumento de espessura das peças estruturais reforçadas. Como boa parte dessa alta resistência é obtida nos primeiros dias e, normalmente, obras de reforço necessitam urgência, em certos casos não há necessidade de se esperar pela cura completa do graute, quando a resistência dos primeiros dias já é suficiente para que se continuem os trabalhos, o que acelera a resolução do inconveniente. 4.5. Etapas Executivas 4.5.1. Reforço com chapas/perfis metálicos Para o preparo da estrutura de concreto, deve-se garantir, primeiramente, a selagem de eventuais trincas existentes para garantir a estanqueidade da estrutura. No caso de utilização de resina, a superfície do concreto que receberá a resina deve ser rugosa o suficiente para garantir sua aderência. Jateamento de areia pode ser empregado para garantir essa rugosidade. Para o preparo da estrutura de aço que será adicionada ao concreto, no caso de colagem do elemento de reforço, recomenda-se utilizar tricloruretano ou outro solvente adequado na superfície de contato da chapa para garantir que a superfície seja desengordurada antes da fixação. Nas superfícies que não entrarão em contato com a resina, recomenda-se utilizar tinta anti-corrosiva para garantir sua integridade contra ações do ambiente. As figuras 17, 18 e 19 ilustram a configuração do reforço, respectivamente, por adição de chapa colada, adição de chapa fixada com parafuso e adição de perfil metálico: 32 Figura 17 – Reforço mediante a adição de chapa colada Fonte: SOUZA & RIPPER (1998) Figura 18 – Reforço mediante a adição de chapa fixada com parafusos Fonte: SOUZA & RIPPER (1998) Figura 19 - Reforço mediante a adição de perfil metálico Fonte: SOUZA & RIPPER (1998) No caso da utilização de ancoragem onde há necessidade de furos, os mesmos devem ser feitos com o diâmetro nominal disponível exatamente acima do diâmetro da peça que será ancorada, possibilitando assim folga suficiente para que se consiga introduzir a barra no furo. Antes de aplicar a resina, o furo deve ser devidamente limpo. Assopradores podem ser utilizados para remover o pó do interior dos furos. Aplicadores são utilizados para possibilitar a aplicação da resina no interior dos furos de ancoragem. 33 A suspensão das chapas e perfis poderá ser feita por operários, desde que as peças sejam suficientemente leves o suficiente para isso. No caso de estruturas mais pesadas, gruas são utilizadas para posicionar o elemento estrutural para que este possa ser instalado. É necessário prover pressão constante entre os elementos que estão sendo colados, até que a resina atinja seu tempo de cura especificado pelo fabricante. As figuras 20 e 21 mostram um caso em que chapas de aço paralelas foram incorporadas a um pilar parede para aumentar sua resistência. Na figura 20, os operários estão aplicando a resina nas chapas para então fixá-las na estrutura existente que será reforçada. Na figura 21 observa-se o reforço já concluído. Figura 20 - Aplicação de resina para colagem de chapas de aço em estruturas de concreto Fonte: O AUTOR, 2016 Figura 21 - Pilar-parede reforçado com chapas de aço Fonte: O AUTOR, 2016 34 4.5.2. Reforço com adição de armadura e aumento da seção transversal Neste caso, o primeiro passo a se tomar é o escoramento do entorno, para que seja, então, possível a escarificação da superfície que entrará em contato com o graute, para garantir a aderência do mesmo na peça de concreto existente. A profundidade da escarificação deve ser apontada pelo projetista, e normalmente corresponde ao cobrimento do concreto da estrutura, sendo, normalmente, da ordem de 2 a 3 centímetros. Após a escarificação, são feitos os furos onde serão ancoradas as barras de aço na estrutura existente. Após feitos os furos, as barras de aço devem ser embutidas no concreto seguindo os mesmos procedimentos que foram descritos no item 4.4.1. O posicionamento da armadura de reforço deve ser detalhado no projeto e checado antes da montagem das fôrmas. A figura 22 mostra o momento em que está sendo posicionada a armadura de reforço, com o pilar já escarificado. Figura 22 – Pilar sendo reforçado com adição de armadura Fonte: O AUTOR, 2016 Concluída a armação, procede-se para a montagem das fôrmas para que, enfim, possa ser lançado o graute. Como o graute é um material de elevadíssima fluidez, as fôrmas devem ser completamente vedadas para que o graute fique confinado em seu interior. Gesso pode ser utilizado nas juntas das placas de fôrma para garantir essa vedação. 35 Figura 23 – Fôrmas montadas para lançamento do graute Fonte: O AUTOR, 2016 O graute deve ser produzido segundo especificações do fabricante, para que se obtenha a consistência e a resistência necessárias. A NBR 14931 – “Execução de Estruturas de Concreto – Procedimento” descreve o procedimento adequado para a execução deste tipo de reforço, que é similar aos procedimentos de execução de estruturas de concreto em geral. 4.6. Controle da Qualidade O controle de qualidade de obras de reforço estrutural deve ser feito da mesma maneira que é feito em obras de construção em geral, sendo de grandeimportância pois estas obras estão modificando uma estrutura que está comprometida, por tanto devem ser executadas da melhor maneira possível. Como os projetos de reforço costumam vir com as orientações sobre as etapas executivas bem explicitadas, é importante que haja alguém responsável por checar se estas orientações estão sendo seguidas à risca durante a execução, uma vez que depois de concluído o reforço muito do que foi feito não tem como ser checado ou modificado. As normas “NBR 12654 – Controle tecnológico de materiais componentes do concreto”, “NBR 7680 – Concreto – Extração, preparo e ensaio de testemunhos de concreto” e “NBR 5738 – Concreto – Procedimento para moldagem e cura de corpos-de-prova”, dão as diretrizes que devem ser seguidas para que haja adequado controle de qualidade do graute, com a correta realização dos ensaios. 36 A figura 24 ilustra um ensaio de compressão axial de um testemunho de concreto sendo executado. Figura 24 - Ensaio de compressão axial de concreto em andamento Fonte: O AUTOR, 2016 4.7. Dificuldades Executivas 4.7.1. Reforço com chapas/perfis metálicos No caso do reforço com chapas/perfis, pode ser apontada como peculiaridade executiva a precisão que se deve ter ao realizar o furo nas peças de concreto que receberão o reforço, pois furos que sejam realizados sem a precisão adequada não seriam capazes de receber o elemento de fixação em seu interior, uma vez que esse elemento vem soldado ou passa por um orifício já executado na chapa/perfil, e o espaçamento entre eles já está definido. A figura 25 ilustra a peculiaridade descrita, onde as barras fixadoras já estão soldadas nas placas e devem encaixar exatamente nos furos nas peças de concreto existente. 37 Figura 25 - Chapas de aço e elementos fixadores soldados Fonte: O AUTOR, 2016 Além deste cuidado, deve-se, antes de encomendar as chapas e perfis, medir o local onde elas serão implementadas na obra. Muitas vezes as dimensões do projeto executivo não são exatamente as que aparecem na obra, e, portanto, devem ser checadas para se garantir que chapa/perfil metálico seja do tamanho adequado para o reforço que será executado. Uma vez que o corte de uma chapa/perfil não é algo simples, deve-se tomar os devidos cuidados em sua encomenda. Como as chapas/perfis, dependendo de suas dimensões, são extremamente pesadas, seu transporte deve ser feito de maneira adequada e gruas ou macacos hidráulicos podem ser necessários para que estas peças sejam posicionadas. 4.7.2. Reforço com adição de armadura e aumento da seção transversal No caso de reforços deste tipo, uma das grandes dificuldades, quando se trata de pilares, é na forma que o graute será lançado nas fôrmas, visto que normalmente o pilar reforçado está entre duas lajes já concretadas. Se houver espaço suficiente, um “cachimbo” deve ser feito na parte superior da fôrma para permitir o lançamento do graute, conforme ilustrado na figura 26. Caso isso não seja possível, deve-se executar um furo na laje superior e lançar o graute por esse furo no pavimento de cima. 38 Figura 26 - Cachimbo para lançamento do graute Fonte: SOUZA & RIPPER (1998) Outro cuidado que se deve tomar, que foi mencionado anteriormente, é com o fato do graute ser um material extremamente adensável, de maneira que as fôrmas devem ser completamente vedadas antes de seu lançamento. Gesso deve ser utilizado no encontro das fôrmas. Quando a face que receberá o reforço for escarificada, deve-se identificar com clareza onde estão posicionadas as armaduras existentes na peça estrutural, pois, ao realizar os furos para chumbar a nova armadura, a armadura existente deve ser preservada. Estes furos devem ser feitos de maneira a permitir que a nova armadura seja implementada e, portanto, devem possuir um diâmetro superior ao do aço. Muitas vezes é confundido o diâmetro do aço com o diâmetro do furo e a armadura não consegue ser inserida. 4.8. Vantagens e Desvantagens do Uso do Sistema Qualquer técnica de reforço estrutural tem suas vantagens e desvantagens e, portanto, a escolha relativa a qual técnica utilizar deve levar em conta esses pontos. 4.8.1. Reforço com chapas/perfis metálicos As seguintes vantagens podem ser explicitadas em relação à essa técnica de reforço estrutural, que, em geral, não gera muitos transtornos: a) Rapidez na execução; b) Ausência de entulho; c) Baixa emissão de ruído; d) Ausência de pó; e) Mão de obra reduzida. 39 Por outro lado, como qualquer técnica de reforço, há também inconvenientes relativos à sua aplicação. Um dos principais problemas relativos a utilização deste material se dá pelas propriedades da resina, que em geral não resistem a altas temperaturas. Pode-se citar também, como um inconveniente do método de reforço com chapas/perfis metálicos, a suscetibilidade à corrosão nas chapas de aço. Os materiais utilizados para prover essa proteção anti-corrosiva se deterioram com o passar do tempo, e a estrutura passa a ficar exposta a corrosão. Outro inconveniente se dá devido ao fato das estruturas metálicas possuírem elevado peso específico (7850kg/m3), o que torna o posicionamento de grandes peças algo um tanto complicado, principalmente em construções que já estão em funcionamento. As dimensões de portas, a ausência de gruas e capacidade de carga de elevadores, dentre outros fatores, podem inviabilizar a utilização deste método em estruturas que já estão em funcionamento. Quando há a necessidade de soldagem no local, a mesma pode ser um inconveniente dependendo das características do local onde a peça será implementada. Resumindo, as principais desvantagens deste tipo de reforço podem ser apontadas como: a) Resinas não resistem à altas temperaturas; b) As chapas/perfis de aço são suscetíveis à corrosão; c) Elevado peso específico do material; d) Inconvenientes associados à solda, quando há necessidade da mesma. 4.8.2. Reforço com adição de armadura e aumento da seção transversal Esta técnica de reforço estrutural é a mais antiga e, portanto, os trabalhadores da construção civil estão mais familiarizados com a sua utilização. No reforço com aumento da seção transversal, podem ser explicitadas como suas vantagens a eficiência do reforço, maior conhecimento e simplicidade da técnica e dos materiais empregados em sua execução, assim como seu baixo custo quando comparado com outros métodos de intervenção (REIS, 1998). Por outro lado, há sempre o inconveniente aumento das seções transversais dos elementos reforçados, além do risco de problemas de aderência entre o concreto e o graute. 40 Outro problema é o transtorno causado durante a execução deste tipo de reforço, que, além de tipicamente durar mais que reforços com chapas/perfis de aço ou fibra de carbono: a) Necessita de escoramento (devido às vibrações do apicoamento); b) Gera entulho, devido ao material escarificado, restos de fôrmas e aço; c) Causa ruído, devido a escarificação, corte de fôrmas e aço; d) Produz pó, devido a escarificação, corte de fôrmas e aço; e) Utiliza grande quantidade de material, que deve ser armazenada de maneira adequada. Como muitas vezes obras de reforço necessitam ser feitas de forma rápida e gerando o menor transtorno possível, os pontos listados acima devem ser levados em consideração ao escolher qual tipo de técnica de reforço utilizar. 41 5. SISTEMA DE COMPÓSITOS DE FIBRAS DE CARBONO PARA RECUPERAÇÃO E REFORÇO ESTRUTURAL 5.1. Conceituação A utilização de fibra de carbono na construção civil