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Funções da linguagem E GÊNEROS LITERÁRIOS Profa. Me. Thaysa Cavalcante Como você definiria a linguagem? Será que só os seres humanos são capazes de linguagem? A especificidade da linguagem literária TEXTO I A escravidão dos negros, no Brasil, é uma nódoa que mancha a nossa história. Mesmo com a “libertação “dos escravos, através da Lei Áurea, a escravidão continua a deixar seu rastro por muitos e muitos anos. Grandes injustiças sociais foram cometidas contra os cidadãos afrodescendentes que, ao receber a chamada “liberdade” foram, de um dia para o outro, jogados ao Deus dará, sem ter emprego fixo, moradia ou alimentos, criando-se assim outro problema tão grave quanto a escravidão: eram levas e levas de ex escravos que vagavam pelas cidades, sem ter quem os acolhesse. Logo em seguida, ao invés de contratar os serviços dos recém libertos, o Brasil resolveu investir trazendo agricultores europeus, principalmente os italianos, para cuidar da lavoura, tarefa que antes era exercida exclusivamente pela mão de obra escrava. Mª das Neves TEXTO II Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus?! Ó mar, por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão! (...) (Castro Alves in Navio Negreiro) Manifestações de linguagem Linguagem verbal: utiliza a palavra escrita ou falada; uma notícia de jornal impresso ou uma conversa com os amigos são exemplos de linguagem verbal; Poeminha de Homenagem à Preguiça Universal Que nada é impossível não é verdade; todo o mundo faz nada com facilidade Millôr Fernandes Manifestações de linguagem Linguagem não-verbal: utiliza gestos, sons, símbolos e ícones; uma pintura, o semáforo ou uma placa de trânsito são exemplos de linguagem não verbal; Manifestações de linguagem Linguagem mista: é aquela que simultaneamente utiliza a linguagem verbal e não verbal; uma história em quadrinhos ou um cartaz de publicidade são exemplos de linguagem mista. Funções da Linguagem Função centrada no referente Função centrada no emissor Função centrada no receptor Serenata sintética – Cassiano Ricardo Rua torta Lua morta Tua porta Função centrada na mensagem Função centrada no canal Função centrada no código Função centrada no código Exercícios Propostos 01. (Unifesp) Este inferno de amar Almeida Garrett Este inferno de amar - como eu amo! Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi? Esta chama que alenta e consome, Que é a vida - e que a vida destrói – Como é que se veio a atear, Quando – ai quando se há-de ela apagar? 02. (FGV-SP) Todo texto é uma sequencia de informações: do inicio ate o fim, a um percurso acumulativo delas. Às informações já conhecidas, outras novas vão sendo acrescidas e estas, depois de conhecidas, terão a si outras novas acrescidas e assim, sucessivamente. A construção do texto flui como um ir-e-vir de informações, uma troca constante entre o dado e o novo. 03. (UFU-MG) Poética Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado [...] Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbados O lirismo difícil e pungente dos bêbados O lirismo dos clowns de Shakespeare. Não quero saber do lirismo que não é libertação. BANDEIRA, Manuel. Libertinagem. Os gêneros literários Gênero lírico Um poema acentuadamente lírico Vinícius de Moraes Apavorado acordo, em treva. O luar É como o espectro do meu sonho em mim E sem destino, e louco, sou o mar Patético, sonâmbulo e sem fim. Desço da noite, envolto em sono; e os braços. Como ímãs, atraio o firmamento Enquanto os bruxos, velhos e devassos Assoviam de mim na voz do vento. Sou o mar! sou o mar! meu corpo informe Sem dimensão e sem razão me leva Para o silêncio onde o Silêncio dorme Enorme. E como o mar dentro da treva Num constante arremesso largo e aflito Eu me espedaço em vão contra o infinito II. Paisagem do capibaribe João cabral de melo neto Entre a paisagem o rio fluía como uma espada de líquido espesso. Como um cão humilde e espesso. Entre a paisagem (fluía) de homens plantados na lama; de casas de lama plantadas em ilhas coaguladas na lama; paisagem de anfíbios de lama e lama. Como o rio aqueles homens são como cães sem plumas (um cão sem plumas é mais que um cão saqueado; é mais que um cão assassinado. Um cão sem plumas é quando uma árvore sem voz. É quando de um pássaro suas raízes no ar. É quando a alguma coisa roem tão fundo até o que não tem). Gênero lírico Sem objetivo de representar o mundo exterior, e sim de criar e dar vazão ao mundo interior e subjetivo do Eu (intimista, individualista). Caráter polissêmico: linguagem alusiva e metafórica. Fusão entre sujeito e objeto. Musicalidade (unidade sonora e de significação): rimas, ritmo, repetições. Lirismo “social”: emoção + desejo de interpretar o mundo. Lírica moderna: metapoema. - Lóri, disse Ulisses, e de repente pareceu grave embora falasse tranquilo, Lóri: uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi o apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso. Traços líricos em outros gêneros Soneto Soneto do amor total Vinicius de Moraes, Rio de Janeiro , 1951 Amo-te tanto, meu amor... não cante O humano coração com mais verdade... Amo-te como amigo e como amante Numa sempre diversa realidade Amo-te afim, de um calmo amor prestante, E te amo além, presente na saudade. Amo-te, enfim, com grande liberdade Dentro da eternidade e a cada instante. Amo-te como um bicho, simplesmente, De um amor sem mistério e sem virtude Com um desejo maciço e permanente. E de te amar assim muito e amiúde, É que um dia em teu corpo de repente Hei de morrer de amar mais do que pude. Formas fixas Elegia Elegia Mario Quintana Há coisas que a gente não sabe nunca o que fazer com elas... Uma velhinha sozinha numa gare. Um sapato preto perdido do seu par: símbolo da mais absoluta viuvez. As recordações das solteironas. Essas gravatas de um mau gosto tocante que nos dão as velhas tias. As velhas tias. Um novo parente que se descobre. A palavra "quincúncio". Esses pensamentos que nos chegam de súbito nas ocasiões mais impróprias. Um cachorro anônimo que resolve ir seguindo a gente pela madrugada na cidade deserta. Este poema, este pobre poema sem fim... Ode Ode triunfal Álvaro de campos À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes [...] Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! [...] Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! Ser completo como uma máquina! Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo! [...] Eu podia morrer triturado por um motor Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída. Atirem-me para dentro das fornalhas! Metam-me debaixo dos comboios! Espanquem-me a bordo de navios! Masoquismo através de maquinismos! Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho! [...] Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais! [...] Haikai Senhor feudal Oswald de Andrade Se Pedro Segundo Vier aqui Com história Eu boto ele na cadeia Paulo Leminski Acordeibemol Tudo estava sustenido Sol fazia Só não fazia Sentido Bashô Uma libélula rubra. Tirai-lhe as asas: Uma pimenta. Gênero épico Primeiras manifestações literárias: Odisseia e Ilíada (Homero). Elementos reais, históricos e míticos: grandes feitos e martírios de um herói. Plasticidade: olhar que capta o real. Distanciamento entre narrador (3ª pessoa – inspirado pelas musas) dos fatos e de quem vive a narração. Herói: coragem e grandiosidade de seu povo e sua pátria. Sentimento de nacionalidade. Autores: Virgílio, Dante, Camões, Vasco da Gama, Santa Rita Durão, Gonçalves Dias, etc. Paródias: Mário de Andrade e Murilo Mendes. Epopeia Texto narrativo composto por cinco partes: Proposição Invocação Dedicatória Narração Epílogo As armas e os barões assinalados Que, da ocidental praia lusitana, Por mares nunca dantes navegados Passaram ainda além da Taprobana, E em perigos e guerras esforçados, Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram; E também as memórias gloriosas Daqueles reis que foram dilatando A Fé, o Império, e as terras viciosas De África e de Ásia andaram devastando, E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da morte libertando: Cantando espalharei por toda parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arte. CAMÕES, Luís Vaz de. Os lusíadas. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1980. Literatura de Cordel Novela... ...e Romance Crônica... ...e Conto Fábula Gênero Dramático Gênero Dramático Drama: ação – privilégio da ação sobre a narração. Tempo presente. Tipologia dialogal. Encenação do fato. Projeção para o final: expectativa. Texto Narrativo vs. Texto dramático Felicidade clandestina - Clarice Lispector Clarice Lispector O Primeiro Beijo São Paulo, Ed. Ática, 1996 Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade". Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. Confluência dos gêneros literários Identificação dos elementos típicos de cada gênero e de como o autor promove a mescla.