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1 ________________________________________________ Curso de Pós-Graduação em Docência no Ensino Superior Marineusa Montenegro Rodrigues MULTIPLICIDADE EM SALA DE AULA: Desafio docente no novo tempo Monografia apresentada à AVM Faculdade Integrada como exigência parcial à obtenção do título de Especialista em Docência no Ensino Superior Sob a orientação da Professora Ms. Aline Sampaio de Oliveira Cidade – São Gabriel da Cachoeira/AM 2015 2 AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus por conceder-me a dádiva da vida com experiências tão ricas e ao esposo e filhas pelos momentos de alegria. 3 Resumo O presente trabalho apresenta-se numa revisão bibliográfica com o procedimento do método qualitativo (LÜDKE e ANDRÉ, 1986) sobre Multiculturalismo, refletindo sobre suas implicações na sala de aula. O objetivo geral do estudo é analisar as estratégias na aprendizagem do ensino superior no intuito de contribuir com profissionais da área nas suasações educativasnorteandode forma mais ampla o saber coletivo dos diferentes seres humanos. Nesse trabalho o tema nos remete a concepções teóricas acerca do multiculturalismo, percepção sobre o diferente e sobre a práxis educativas no ensino universitário ao longo do tempo. A trajetória do profissional da educação no ensino superior, diante da complexa tarefa que lhe foi atribuídona atualidade, impeliuao professor mover-se em diferentes direções, afim de, promover a superação de obstáculos no que tange o processo de aprendizagem nos tempos atuais. Diante de tantas considerações e superações resta a esse profissional debruçar-se em dedicação. Através da análise das estratégias na aprendizagem do ensino superior se constituirá diferentes formas que possibilitem o enfrentamento de situações variadas por parte desse profissional. Palavras chaves: multiculturalismo; sala de aula; professor; práticas educativas. 4 ABSTRACT This paper presents a literature review with the qualitative method of the procedure (Lüdke and André, 1986) on Multiculturalism, reflecting on its implications in the classroom. The overall objective of the study is to analyze the strategies in higher education learning in order to contribute with professionals in their educational actions taking place more broadly the collective knowledge of different humans. In this work the theme reminds us of theoretical conceptions of multiculturalism, perception about the different and the educational praxis in university education over time. The trajectory of professional education in higher education, given the complex task assigned to it at present, urged the teacher to move in different directions in order to promote the overcoming of obstacles regarding the learning process nowadays. With so many considerations and overruns remains to this professional to lean on dedication. By analyzing the strategies in higher education learning will constitute different ways that enable coping with various situations by that professional. Key words: multiculturalism; classroom;teacher;educational practices. 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 CAPÍTULOREFERENCIAL LITERÁRIO....................................................................13 1.1 MULTIPLICIDADE CULTURAL E TEORIA CONCEITUAL.......................................13 1.2 PERCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO E ESCOLA....................................................................14 1.3 EDUCAÇÃO SUPERIOR: resgate histórico......................................................................19 1.4 O ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO: reflexão..............................................................20 1.5 DIVERSIDADE NA ÓTICA DOCENTE..........................................................................23 2 CAPÍTULOFORMAÇÃO DO PROFESSOR DO ENSINO SUPERIOR..................26 2.1 EDUCAÇÃO E SOCIEDADE...........................................................................................26 2.2 CONCEPÇÃO DA FORMAÇÃO DOCENTE..................................................................27 2.3 COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DOCENTE...........................................................31 2.4 RELAÇÃO DOCENTE-DISCENTE.................................................................................38 2.4.1 O aluno e professor como pessoa...............................................................................38 2.4.2 Aspectos da interação professor-aluno.....................................................................41 2.4.3 Relações interpessoais na sala de aula......................................................................44 2.5 A MOTIVAÇÃO AO CONHECIMENTO.......................................................................49 2.5.1 Motivadores na aprendizagem adulta......................................................................51 2.5.2 Metodologia para a motivação no processo de aprendizagem adulta...................56 2.6 MODELO DE ENSINO ADULTO...................................................................................62 2.6.1 Pedagogia ou Andragogia..........................................................................................62 2.6.2 O papel do professor no processo de aprendizagem adulto...................................66 3 CAPÍTULO CONSIDERAÇÕESFINAIS...................................................................70 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA....................................................................................... 6 INTRODUÇÃO A introdução é uma atividade que visa despertar uma reação favorável ao conteúdo de estudo. Podendo ser realizado neste tópico uma apresentação geral do tema, a fim de promover o interesse à leitura, dando razão à (LIBÂNEO, 1994). A questão da multiplicidade cultural vem despertando muito interesse na atualidade e em diversos segmentos. Ondea percepção conceitualnão se converge em muitos autores, isto se deve a natureza complexa do objeto que envolve múltiplas variáveis. Tal comportamento é perceptível na divergência dos pensamentos de críticos e defensores da temática onde alguns autores entendem por estratégias e políticas autoritárias e de controle para problemas acerca de diversidade em sociedades e outros conferem uma tendência conservadora e outra crítica. Podemos notar também através dessa divergência que tal entendimento é marcado pelos seus interesses e características. Sendo a principal característica da multiplicidade cultural ou pluralismo a combinação de elementos de diversas culturas em uma nova e diferente expressão cultural. Ao lidar com o que não é simples nem único e distinto o multiculturalismo contempla a identidade plural como base que forma sociedades ou organizações, considerando a diversidade de gêneros, religião, cultura, linguagem, etnia, saberes e outros para propor uma sociedade múltipla, ou seja, a multiplicidade cultural é um fenômeno que estabelece a existência simultânea de várias culturas em um mesmo espaço territorial e nacional, onde as constantes migrações, globalização das comunicações e internacionalização da economia oportunizou tal processo. Isto leva a percepção do outro,e muitos outros inseridos, numa organização, cultura, crenças, identidades variadas e vocabulários concorrendo para constituição de diversas sociedades. Embora, as questões de multiplicidade ou pluralidade e diversidade cultural sejam complexas é relevante termos em mente as condições de sua teoria visto que, a nova educação não visa mais o acumulo de conhecimentos, mas, sim um diálogo com o saber. Sendo a diversidade compreendida como estudo afim de, expandir initerruptamente o entendimento da realidadedesse mundo globalizadoe trocas de ideias, podemos entender então, que faz parte integrante e fundamental da educação. 7 Apesar de a sala de aula serum berço de riquezas e fonte inesgotável as ações docentes ao mesmo tempo torna-se um espaço propulsor a desafios para envolver a todos, motivare evitar linguagens, metodologia e conteúdo que se tornem inatingíveis ou desinteressantes, visto que, no ensino universitário os alunos têm relações diferentes com o saber, interesses variados, ritmos, estratégias e estilos próprios centrados na vida, motivados ao saber à medida que experimentam suas necessidades atendidas. A partir dessas constatações para ser relevante estudarmoscomo se caracteriza o desafio docente no novo tempo de forma a contribuir com as ações educativas, onde os envolvidos possam sentir-se mais preparados no processo de desenvolvimentos educativos dos indivíduos. JUSTIFICATIVA A justificativa na pesquisa em educação pode ser iniciada levando em considerações algumas funções como as sociais ou pedagógicas na nossa sociedade, tendo em vista tornar explicito os objetivos que almejamos alcançar no trabalho, dando razão a Libâneo (1994). Neste pode ser descrito um comportamento ou alguns conteúdos básicos de forma breve indicando para que vá servir o que se vai iniciar. São definidos os objetivos que podem denotar uma relevância, social, política, profissional ou cultural. Enfim, este primeiro passo é importante, pois facilitará os passos seguintes na elaboração de uma pesquisa. A educação no Brasil vem passando por mudanças onde o desafio docente no novo tempo é fazer com que o ensino acompanhe a linguagem atual sem perder a sua essência e ao mesmo tempo possibilitar a cultura chegar a todos de forma dinâmica e interativa. A multiplicidade, pluralidade ou diversidade cultural são termos que pouco a pouco adquiriram novos espaços, visto que emergi em momentos de conflitos entre cultura, fatores sociais e econômicos. O fato de ser um elemento que sempre se fez presente no âmbito escolar, não remete menos interesse, visto que passeia em momentos de tensão nesse espaço. Defendendo este ponto, ainda cabe lembrar que o Brasil é um país que vivencia tal especificidade e complexibilidade em seu panorama apresentando diversas culturas amalgamadas sem a intervenção do Estado. 8 É importante que o professor desse novo século tenha em mente que precisa construir habilidades reinventar-se, criar formas que o possibilite nortear sua trajetória de forma mais flexível, inibindo o desinteresse discente, fomentando a sua participação, seduzindo-o à conquista do saber, aquisição acadêmica, e que as contradições, os conflitos e problemas de outra ordem não interfiram no processo de aprendizagem, mas sim estimuladas e analisadas. Essa dinâmica de conhecimentos implica ao professor, direcionar para o domínio de outros campos que possibilite compreender os caminhos do conhecimento dos seus alunos, principalmente o público adulto, concebendo o objetivo docente que é promover a aprendizagem do indivíduo. Nesse contexto pude evidenciar em alguns momentos da minha trajetória acadêmica o esforço e desafio por parte dos professores em conferir saberes de forma que atendessem a demanda e expectativas dos alunos. Entretanto, nos últimos tempos tenho observado que tal experiência tem levado professores a constantes momentos de reflexão e questionamentos acerca de suas ações dentro de sala de aula, almejando uma relação coerente entre conteúdo didático e valores que movesse o interesse discente ao conhecimento. Esse movimento levou-me a inferir um tipo de efeito cascata, onde a sociedade, educação e sala de aula estariam mudando. E essa percepção convergiu à questão do quê estaria acontecendo? Qual conhecimento vale mais? Qual direção um professor poderia se voltar?Outra razão é o fato de perceber que a nossa educação não acontece mais apenas pelo acúmulo de conhecimento e sim pelo fato de que a sala de aula torna-se um ambiente privilegiado por meio da diversidade que nela existe e da sua integração. A partir dessas considerações, analisaremos as estratégias de aprendizagem do ensino superior vislumbrando auxiliar os profissionais da educação na sua prática educativa e compreender melhor o saber coletivo dos diferentes seres humanos. OBJETIVOS DA PESQUISA Os objetivos são tópicos que sucedem à justificativa. Após a explicitação da relevância do estudo os objetivos serão fixados, afim de, direcionar o trabalho do pesquisador (LIBÂNEO, 1994). Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho é analisar estratégias docentes no ensino superior. Tal objetivo desdobrar-se á nos objetivos específicos que devem ser necessariamente desenvolvidos para alcançar o objetivo geral (CORDEIRO, 2001). 9 Assim, essa monografia apresenta os seguintes objetivos específicos: Conhecer a arte da motivação para saberes adultos, fatores condicionantes à motivação, verificar o papel do professor na aprendizagem adulta. METODOLOGIA DE PESQUISA A pesquisa ultimamente vem ganhando cada vez mais espaço em diversos seguimentos, principalmente em instâncias da vida social. O processo de pesquisa implica em um comportamento metódico, ordenado, sistemático e lógico, pois, tais características são as quais distinguem o fazer em ciências. No âmbito do ensino em nível básico também tem se explorado bastante, porém numa escala apenas com a finalidade de estimular a criatividade ativa. O trabalho científico alude a domínios especializados no qual as informações adquiridas são confrontadas e o pesquisador deverá chegar a uma concordância de ideias acerca de conceitos, procedimentos e critérios que validem os conhecimentos produzidos. Isso faz parte do estudo de um problema. Onde, nesse processo permitir-se á a criatividade, articulação do que se foi antes pensado ou dito e quebra de paradigmas, ou seja, podemos entender que pesquisa é uma ação do fazer artesanal da ciência Lüdke e André (1986). ABORDAGEM QUALITATIVA É cada vez mais evidente o interesse da metodologia qualitativa pelos pesquisadores da área de educação. Segundo Lüdke (1986) de acordo com Bogdan e Biklen (1982) a pesquisa qualitativa em educação se caracteriza em cinco aspectos básicos: 1.tem o ambiente natural como fonte direta dos dados e o pesquisador é o principal instrumento; 2.os dados coletados são predominantemente descritivos; 3.a preocupação com o processo é bem maior do que com o produto; 4.o significado que as pessoas dão às coisas e a sua vida é o foco da atenção especial do pesquisador; 5.a análise dos dados tende a seguir o processo indutivo. Outro ponto da pesquisa qualitativa é que pode ser etnográfica ou estudo de campo. Sendo assim, o presente estudo terácomo metodologiade pesquisa a abordagem qualitativa pelo fato de este mostrar-se o mais apropriado quando se trata de pesquisa em educação (LUDKE e ANDRÉ, 1986). MÉTODO DE COLETA DE DADOS A observação é um fato bem familiar à mente humana e altamente seletiva. Nesse comportamento, podemos observar que um mesmo objeto ou situação pode ser 10 enxergadode várias formas entre as pessoas. Tal comportamento se deve pelo fato de aspectos pessoais como, por exemplo, tipo de formação, grupo social, predileções e principalmente a bagagem cultural envolvida. A análise documental compreende o estudo minucioso de qualquer material escrito que pode ser usado como fonte de informação como trata Lüdke e André (1986) dando razão à (PHILIPS, 1974). A análise documental também se apresenta bastante positiva na questão do tempo, quando outro método pode tornar o acesso aos dados um fator problemático, dificultando a investigação. O material coletado será analisado e organizado em capítulos. Assim, essa pesquisa usarápara coleta de dados a análise documental de algumas correntes dentre as mais renomadas na temática (ANTUNES CELSO, 2003; BORDENAVE e PEREIRA, 2002; CORTELLA, 2002; GADOTTI, 2001; MCLAREN, 2000; SGUISSARDI, 2000; TAPIA e FITA, 2003; TOSI RAINELDES, 2001) dentre outros. Por entender que outra técnica poderia significar uma demanda de tempo maior o que seria inviável. O processo de análise das informações tomou como foco especial do pesquisador o “significado” que é dado às coisas e a vida. Essa monografia será estruturada em três capítulos.No primeiro capítulo será apresentada uma síntese das principais correntes que aborda a temática do multiculturalismo e teoria conceituala luz do termo, as percepções de educação e escola, educação superior num regate histórico, o ensino superior brasileiro numa reflexão, diversidade na ótica docente. O segundo capítulo aborda a formação docente no ensino superior, delineando a educação e sociedade, concepções da formação docente, as competências e habilidades docentes.Relação docente-discente delineando o aluno e professor como pessoa, aspectos da interação entre professor e aluno, relações interpessoais em sala de aula. Motivações aos saberes adultos que abordará os motivadores da aprendizagem discente, metodologia para motivação no processo de aprendizagem. Modelo de ensino adulto analisando a Pedagogia e a Andragogia, e o papel do professor no processo de aprendizagem adulto e o terceiro e ultimo capítulo que compreende a conclusão da pesquisa. 11 1 CAPÍTULO REFERENCIAL LITERÁRIO 1.1 MULTIPLICIDADE CULTURAL E TEORIA CONCEITUAL Entendendo que a nossa educação não acontece mais apenas pelo acúmulo de conhecimento e sim pelo fato de que a sala de aula torna-se um ambiente privilegiado por meio da diversidade que nela existe e da sua integração, o presente estudo objetiva explicitar a fundamentação teórica na revisão das literaturas (MCLAREN, 2000; SGUISSARDI, 2000; BORDENAVE e PEREIRA, 2002; TAPIA e FITA, 2003; GADOTTI, 2001) dentre outros. O multiculturalismo manifestou-se por volta do século XX, seu objetivo era abordar de forma contraria questões de intolerância e tratamentos preconceituosos no ambiente escolar, articulava-se também como movimento em defesa dos menos favorecidos e igualdade de direitos civis. Na atualidade, o tema emergiu num contexto político, socioeconômico e choques entre culturas. Entretanto, alcançar um conceito teórico com clareza num mundo globalizado não é tarefa fácil. Sua presença é marcada por diferentes complementos como identidade, gênero, raça, crença, folclore, culinária, linguagem, etnia, valores morais, éticos, saberes dentre outros reunidos num mesmo espaço e sistemática interação. Na sociedade pós-moderna a multiplicidade ou pluralidade cultural são termos que denotam um contorna acerca das diferenças entre cultura. Analisando a espécie humana, notamos que apesar de ser idêntica em termos de estrutura biológica, constitui um modo de vida particularmente diferenciada entre si com hábitos, costumes, valores e experiências para cada grupo. É evidenciado também, que o contato entre os sujeitos propicia um acúmulo de experiências humanas que de alguma forma enriquece a vivência ao mostrar diferentes modos de conviver socialmente e dar existência ao futuro. Tal dinâmica aponta como principal característica da multiplicidade cultural a combinação de elementos de diversas culturas em uma nova e diferente expressão cultural. Ao lidar com o que não é simples, único e distinto o multiculturalismo contempla a identidade plural como base formadora de sociedades ou organizações, considerando a diversidade de gêneros, religião, cultura, linguagem, etnia, saberes e outros para propor uma sociedade múltipla, ou seja, a multiplicidade cultural é um fenômeno que estabelece a existência simultânea de várias culturas em um mesmo 12 espaço territorial e nacional, onde as constantes migrações, globalização das comunicações e internacionalização da economia oportunizou tal processo. Segundo Nenevé (2009, p. 14): O multiculturalismo é um sistema de crenças e comportamentos que reconhece e respeita a presença de todos os grupos diversos em uma organização ou sociedade, reconhece e valoriza as suas diferenças socioculturais e estimula e capacita sua contribuição continuada com um contexto cultural inclusivo dando poder a todas as pessoas nesta organização ou sociedade. Para Hall (2003), é concebida por estratégias e políticas autoritárias e de controle para problemas acerca de diversidade em sociedades. Segundo McLaren (2000), confere tendências, uma conservadora e outra crítica. Embora, as questões de multiplicidade ou pluralidade e diversidade cultural sejam complexas é relevante termos em mente as condições de sua teoria visto que, a nova educação não visa mais o acumulo de conhecimentos, mas, sim a dialética com o saber, afim de, expandir initerruptamente o entendimento da realidade desse mundo globalizado e trocas de ideias, podemos conceber então, que esta faz parte integrante e fundamental da educação. Como podemos evidenciar a conceituação teórica do termo não converge entre estudiosos renomados que abordam a temática. Diante da sua plenitude e facetas, contempla muitas interpretações que não esgotam seu entendimento. Tal complexibilidade vem a corroborar o sucinto entendimento que foi exposto a sua clareza aqui, permitindo ao pesquisador então na dialética, conceber seu significado como a presença de várias culturas num mesmo espaço quer seja informando, vivenciando ou discriminando. Atribuindo assim, seu significado no âmbito escolar. Diante da complexibilidade conceitual do tema, panorama do qual emergi e pela sua relação com educação fato de que se faz presente no âmbito escolar essa questão requer uma percepção de educação e escola. 1.2 PERCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO E ESCOLA As mudanças que têm ocorrido no mundo atual em esfera política, econômica e sociais vêm se refletindo na educação significativamente. Cabe ainda lembrar, que o Brasil é um país que vivencia tal especificidade e complexibilidade em seu panorama apresentando diversas culturas amalgamadas sem a intervenção do Estado. 13 A globalização das comunicações e constantes migrações também são alguns dos aspectos que delinearam o percurso da transformação do âmbito escolar. Tal aspecto possibilita e estabelece um deslocamento imaginário de fronteiras, permitindo que aconteça no espaço escolar o contato de sujeitos desiguais e culturas diferentes. Sendo assim, apesar de a escola ser um espaço culturalmente diversificado, ainda que seja as “dessemelhanças” um elemento sempre presente, não implica menos interesse. Para a percepção de educação é fundamental a ótica do ambiente no qual a escola inicialmente foi inserida. Este estabelecimento despontou em meados do século XVIII na Inglaterra constituindo o seu todo na história da Revolução Industrial, visava reduziro tempo e aumentar os lucros. Configurou um modelo de ensino hierarquizado em séries, desconsiderando a individualidade e diferenças no que tange estilos, interesses e estratégias de saberes. Nota-se até então, que, a educação é apenas figurada como algo incipiente, mero transmissor de conhecimento sem confronto com novas situações. Na atualidade, podemos conceber como educação, o processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano. Ato ou efeito do qual não se pode escapar visto que, mostra-se presente no cotidiano quer seja em casa, rua, escola ou outro. Para finalidade de saber, para saber fazer, saber ensinar, para aprender a ser, aprender a conviver, mesclando vida, experiências e educação (BRANDÃO, 1981). Segundo o inciso III do artigo 10 da Constituição Federal (1988), a educação é retratada como privilégio e alternativa para formação da dignidade da pessoa humana. Ainda outro texto jurídico que trata das Diretrizes e Bases da Educação Brasileira onde a afirma que, a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, sendo promovida e incentivada com colaboração da sociedade, visando o desenvolvimento pleno do sujeito, bem como o preparo ao exercício da cidadania e capacitação para o mercado de trabalho (Lei n 0 9.394/1996). Para Cortella (2003) a educação é concebida com duas categorias centrais: educação vivencial e espontânea, baseada no vivendo e aprendendo e a educação intencional ou propositada discutida e organizada em locais predeterminados e com instrumentos próprios. Sendo este efeito, atualmente reproduzido na sua maioria na figura da escola e de outros veículos como televisão, rádio e demais meios de mídia. Ainda no que esta à vista, Delors (2001) menciona que, educação não pode ser 14 reduzida ao acúmulo de conhecimento para desenvolvimento [...] Afirma, ”é antes, necessário estar à altura de aproveitar e explorar, do começo ao fim da vida, todas as ocasiões de atualizar, aprofundar e enriquecer [...]”. Segundo estudos de Cortella (2003, p.131) no que diz respeito à relação social da escola, ela é retratada como uma espécie de otimismo ingênuo. Atribuindo a escola a missão de salvação da humanidade. Nessa ótica, a compreensão de educação é dada como a uma alavanca do desenvolvimento e progresso da sociedade. Na perspectiva de Paro (2007), a função social da escola pode ser iniciada através do ambiente escolar. Sendo este um dos indicadores da qualidade da escola, tal ambiente não deve ser simplificado a um espaço com fins de mera transmissão de informação e sim como propagadora de educação e cultura. Diante dessa visão, a educação é concebida como processo de adequação cultural. Composta por um conjunto de valores, crenças conhecimentos, filosofias, histórias, tudo que é originado pelo ser humano. O exposto conduz supor que, os conhecimentos adquiridos necessitam atribuir um significado a vida, afim de, promover motivação aos saberes seja qual for o espaço da sua prática. Ainda partindo desse princípio, se a escola materializa o impacto da multiplicidade cultural, convêm a ela, acolher histórias, experiências, culturas, filosofias e outros saberes além do conteúdo formal, contextualizando o diferente como riqueza a ser agregada, motivando o querer saber. Entretanto, na educação atual observa-se uma dicotomia entre o aprendizado construído fora do âmbito escolar e conteúdos interpelados em sala de aula. Diante disso, se nos apoiarmos em Freire (1996, p.35) e Gonzáles, Torrez (2002), poderemos verificar que, educar exige riscos, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação, concebendo atenção adequada as diferentes motivações, interesses, estilos de aprendizagem, necessidades e circunstância sociocultural. No que concerne à figuração da escola na diversidade (GONZÁLES 2002, p. 199) afirma: “[...] a escola nasce e se desenvolve com base em necessidades educativas. A configuração da escola como realidade educativa implica, além disso, relacioná-la a outras realidades, como família e meio sociocultural”. Analisando os conceitos de educação por Brandão (1981), Gonzáles, Torrez (2002), Delors (2001) e Cortella (2002), pode-se averiguar a configuração da existência de uma educação de um ponto marcada como inevitável, neutra, 15 desprendida de organização social, aspecto político, astucia e mero acúmulo de saberes. É tratada como base fundamental para o sentido do “eu” do indivíduo e compreensão do mundo ao seu redor. Onde o significado que é dado a cada saber bem como a motivação para ele é determinado pela vida e experiências adquiridas. Em outra posição é abordada a relação escola e sociedade, apontando para a instituição uma postura salvadora, sendo sua missão tornar o sujeito desejável a um tipo de sociedade. Em se tratando de tendências na educação, podemos conceber como principais no Brasil, a tradicional, a crítica e pós-crítica. Silva (ibidem). A concepção tradicional salienta o ensino e conteúdo de aprendizagem embasada numa metodologia rígida com excelência na eficiência. A concepção crítica delineia questões de teor político, social e econômico, construindo uma consciência acerca das desigualdades e injustiças sociais. A concepção pós-crítica sobressai temas como multiculturalismo, cultura, gênero, diferenças, identidades, saberes de forma a considerar a dessemelhança do mundo coevo fitando na tolerância, respeito e convívio pacífico entre os dessemelhantes (Silva, 2001, p.86). A análise dos fatos induz que, estabelecer um termo de necessidades educativas as dessemelhanças de forma coerente, reconhecendo não só diferenças culturais, mas, interesses, estilos e motivações podem ser então, configurados como tarefa da escola atual. Porém, tal mudança verifica-se ariscar a um novo educar de caráter mais compreensivo, flexível, com apreciação ao diferente, articulando estratégias em escola, comunidade escolar e sala de aula à compreensão de tal realidade. Implica em, enquadrar uma organização educacional e modelos que sejam capazes de atender de forma positiva as diferenças. Poder-se á tomar como referência a luz do entendimento, os passos da Pedagogia da autonomia de Freire (1996), onde ele afirma que, ensinar exige pesquisa afim de, conhecer o que desconheço e comunicar a novidade, significa superar desafios. Para Gil (2008) é concebidas três perspectivas educativas aplicadas à educação superior, a clássica que defende a adaptação dos alunos aos objetivos da escola, certeza, competição, autocracia, disciplina, reprodução, orientação para conteúdo e ênfase no ensino; a perspectiva humanista que concebe a adaptação da escola às necessidades dos alunos, dúvida, cooperação, Laissez-faire, liberdade, descoberta, orientação para método, ênfase na aprendizagem e a perspectiva moderna que concebe harmonização entre as necessidades discentes e valores sociais, probabilidade, crescimento, participação, responsabilidade, criatividade, orientação para solução de 16 problemas e ênfase no processo de ensino-aprendizagem. Apoiando-se nos autores citados podemos evidenciar uma relação entre diferentes elementos com a finalidade de se adquirir, transmitir e produzir saberes. Ainda no exposto acerca da concepção da educação e escola, podemos analisar uma variedade de significados dados, porém todos conferem uma preparação do indivíduo, um crescimento reflexivo, crítico e descobrimento, quer seja de si mesmo ou do outro. Através dessa ótica, podemos averiguar a perspectiva de multiplicidade cultural por Hall (2003), McLaren (2000), Nenevé (2009) e outros no contexto educação e escola no mundo atual,verificando mudanças nesse espaço e do ato. Mais uma vez, incorre a uma necessidade de momentos de reflexão, devido ao panorama, visto que ainda não se alcançou à totalidade do seu entendimento para aquisição de um desenvolvimento pleno do sujeito. É nesse contexto de mudanças que Mantoan (2003, p.16) afirma, “as diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, de gênero, enfim, a diversidade humana está sendo cada vez mais desvelada e destacada e é condição imprescindível para entender como aprendemos e como compreendemos o mundo e a nós mesmos”. Embora, as questões de multiplicidade ou pluralidade e diversidade cultural sejam complexas, é relevante termos em mente as condições de sua teoria visto que, percebemos tal comportamento no espaço escolar e pelo fato de a nova educação não visar mais o acumulo de conhecimentos, mas, sim um diálogo com o saber. Sendo a diversidade compreendida como estudo afim de, expandir initerruptamente o entendimento da realidade desse mundo globalizado e trocas de ideias, podemos entender então, que faz parte integrante e fundamental da educação. Verifica-se uma imprescindível conexão entre educação e diversidade, ressaltando as diferenças sem exclusão ou distinção de linguagem, raça, cultura ou outro. Diante da apreciação, a delineação da pluralidade no contexto educação e escola verifica-se também que nenhuma teoria ou concepção seja completa o suficiente ou permita a apreensão da realidade contemporânea em toda sua complexibilidade. Evidencia-se sim que, apesar de ser reconhecida a existência da pluralidade cultural no espaço escolar, ainda existem obstáculos que impedem a sua interpretação nesse campo e que educação foi submetida a vários significados que mudaram ao longo da história e sentido dados pela sociedade. 17 Tais questões aliadas a uma série de reformas que ocorreram na educação nos últimos anos proporcionou uma reflexão acerca da educação superior numa vertente de resgate histórico contornando o ensino superior brasileiro. 1.3 EDUCAÇÃO SUPERIOR: resgate histórico As primeiras informações acerca da instituição de ensino data da época de Platão, Aristóteles e Grécia antiga. Nessa época, os ensinamentos eram marcados por conhecimentos filosóficos e direcionados apenas para adultos, as crianças obtinham orientações acerca dos conhecimentos nos seus respectivos lares. O ensino superior surgiu na Idade Média, acolhendo estudantes de várias partes do mundo. Entretanto, apenas o clérigo era privilegiado. Até então, as fundamentações institucionais eram com base filosófica de Aristóteles e Platão. Somente na metade do século XII as novas ideologias começaram a surgir e com o passar dos tempos novos conhecimentos foram agregados, surgindo concepções de educação, novos modelos como o Imperial Napoleônico, cujo foco era a preparação dos intelectuais da antiga classe dominante. Modelo Idealista Alemão, cuja base teórica foi dada pelos filósofos idealistas mais expressivos como Hegel, Fitche, Kante. Neste modelo, procurava-se a separação do jugo estatal afim de, alcançar a excelência em liberdade. O modelo Elitista Inglês, compreende a descoberta científica e filosófica, objetiva a difusão e ampliação dos saberes com foco na juventude. O modelo Utilitarista norte-americano rejeita o conceito inglês e busca novos conhecimentos. Neste modele, a instituição é apresentada como centro do progresso. No modelo Democrático-nacional-participativo, observamos um molde democrático, definindo o espaço dos saberes como livre. Nacional devido ao fato de a universidade configurar um espaço para manifestação da cultura em nível superior. Participativa por entender que na própria experiência da vida universitária se constituiria gerações capacitadas a compreender, assumir e propor mudanças fundamentais ao desenvolvimento. Já o modelo neoliberal-globalista-plurimodal, mantém sua ideologia sob a forma globalizada de produção capitalista. Neoliberal por optar pela iniciativa privada, voltando suas exigências para o mercado, organizando-se como espaço para atender os ideais da sociedade. Global por esta direcionada para o mundo; plurimodal por compreender várias facetas, Castanho (2006, p. 13 a 48) e Rossato (2005). Além destes formaram-se muitos outros chegando enfim, ao ensino superior concebido atualmente. 18 Tal exposto acerca do resgate histórico da educação superior desponta para conquistas fomentadoras de mudanças nesse contexto, não buscando apenas a mera transmissão dos saberes, e sim preocupação com padrões de qualidade, desenvolvimento pleno do ser humano, consolidando o “eu” do indivíduo de forma a acompanhar as concepções da vida e estrutura da sociedade. Corroborando que a educação não é linear. A busca de se produzir, transmitir e adquirir conhecimentos diante de um mundo tão diverso requer um processo sistematizado com reflexão acerca de muitas questões. Assumindo um compromisso cada vez maior com a constituição do caráter da cidadania que vão além dos muros da escola. 1.4 O ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO: reflexão A complexa organização cultural do Brasil e educação é resultado de relações migratórias que adentraram no país no final do século XIX de forma intensa (MORAIS, 1940). Relações estas que passeia entre indígenas, africanos, asiáticos. Devido a sua múltipla colonização o Brasil formou uma pluralidade cultural bastante colorida proveniente de toda parte do globo terrestre, compondo um mosaico de múltiplos tons em seu panorama onde, a escola vivencia toda essa especificidade plural. Os acontecimentos econômicos e culturais do mundo globalizado e revolução industrial imprimiram ao ensino superior brasileiro mudanças significativas, esboçando uma gênese do novo ensino superior que permeia por uma sociedade agora capitalista neoliberal. Afim de, atender as demandas exigidas durante esse período, instituiu-se grandes conflitos, originando a Reforma Universitária de 1968 que produziu um efeito paradoxo. Por uma parte introduziu expansão e modernização as instituições públicas e por outra possibilitou instituições isoladas articularem o ensino e pesquisas. Uma vez que as modificações implantadas não comtemplam de modo satisfatório a crescente demanda da sociedade, emergiu-se a oportunidade para instituições privadas adentrarem gradativamente com um novo sistema e novas ideologias, descaracterizando o ensino superior antes voltado ao desenvolvimento do “ser” crítico e reflexivo, capaz de analisar as mudanças do mundo a sua volta para simples transmissor de informações, salvo exceções. 19 O texto legal da lei n 0 9.394(1996), Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB confere alguns artigos que referem as instituições de educação superior, dentre eles temos: Art. 43. A Educação Superior tem finalidade: I. Estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II. Formar diplomados nas diferentes áreas do conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III. Incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia e à criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV. Promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber por meio do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V. Suscitar desejo permanente de aperfeiçoamento culturale profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos de cada geração; VI. Estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII. Promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das pesquisas e dos benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica geradas na instituição. Cabe ainda ressaltar que em 2001, é aprovado o Plano Nacional de Educação - PNE, que se destaca por sua abrangência. O artigo 214 da Constituição determina que a lei estabelecera o plano nacional de educação, de duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino, em seus diversos níveis, e à integração das ações do poder público que conduzam à: Erradicação do analfabetismo; 20 Universalização do atendimento escolar; Melhoria da qualidade do ensino; Formação para o trabalho; Promoção humanística, científica e tecnológica do país. A mesma determinação é recuperada no parágrafo 1º do art. 87, da nova Lei de Diretrizes Básicas da Educação Nacional, em suas Disposições Transitórias: A União, no prazo de um ano a partir da publicação desta Lei, encaminhará ao Congresso Nacional, o Plano Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os dez anos seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos. Nessa perspectiva sucinta da trajetória do ensino superior no Brasil, percebemos que, as mudanças na sociedade, parte dos acontecimentos e fatos ao seu redor e do mundo, as vivencias e experiências acumuladas proporcionam transformações relevantes em sua concepção de educação e forma de adquirir conhecimentos. Podemos configurar também, que a educação superior brasileira é configurada em dois momentos até conceber o significado do modelo atual. O Primeiro momento precede a reforma universitária, é marcada por uma ideologia fundamentada no ensino e pesquisa, cujo foco, era a formação de um “ser” reflexivo capaz de compreender sua época e acontecimentos. O outro momento é a pós-reforma que adota um paradigma neoliberal. Deixando de reportar o papel de estimular a cultura e desenvolvimento da ciência e pensamentos reflexivos. Configurando um ensino superior mais profissionalizante, prevalecendo à teoria do capital humano, ou seja, a preparação de mão-de-obra para o mercado de trabalho. Analisando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no art. 43 da lei n0 9.394(1996), no sentido a que lhes compete, afirma que, o papel do ensino superior objetiva o estímulo à cultura e desenvolvimento da ciência e do pensar crítico. Em segundo plano, remete a valorização da pesquisa como caminho, afins de, adquirir o progresso tecnológico e humano. Acha visto que, a finalidade da educação superior seja tornar notório o conhecimento constituído e fomentar conhecimento como esteira para a prestação de serviços à comunidade. E, sendo a formação profissional um dos objetivos da educação superior, caberia a este estar relacionado a um pensar de qualidade. 21 Que a Reforma Universitária de 1968 trouxe uma reorganização e configuração do ensino superior no Brasil não devemos negar. Entretanto, criou um efeito paradoxo entre a teoria da educação capitalista da elite e a ideologia de educação emancipativa. Abrindo então, condição para o surgimento de um ensino meramente de transmissão de conhecimentos marcados pela profissionalização e distanciados da atividade ensino pesquisa exigindo também por parte do sujeito que a usufrui uma nova incorporação cultural. 1.5 DIVERSIDADE NA ÓTICA DOCENTE O momento do mundo atual é de mudanças, e é nessa ótica de mudanças que a sala de aula, desfila com múltiplas faces, tons diversos desde a sua gênese. A maneira com que nos consideremos diferentes vem sempre de um modelo paradigmático pré- estabelecido na sociedade, ou seja, um referencial que nos rotula como diferente. Somos diferentes de algo. Mas quem definiu essa representação? Será que quem definiu tais modelos sustentariam outras formas de representação? E o que pode ser considerado como melhor ou pior? Tal pensamento leva-nos a sustentar a existência de um padrão dominante na educação tradicional. Onde antigos paradigmas, disciplinas bem delineadas, articuladas e engessadas, conteúdos pré-organizados e estrutura organizacional conferem a escola plenos poderes e mantenedora de uma estrutura elitista. Por outro prisma, denota-se que a escola, move-se por uma esteira entendida como “movimento de democratização”. O fato é que essas mudanças impõe uma nova realidade docente, colocando esses educadores à prova com novidades, dramas, conflitos da vida moderna, anseios, interesses, inquietações e subjetivos das mais diversas formas e dimensões. E é nesse mergulho entre as discrepâncias que o professor vislumbra o “diferente”. Para refletirmos acerca do “diferente” incorre-se ao seu significado. Podemos configurar o Diferente como algo que imprime o desigual. Que é diverso. Modificado. Variegado, variado. O significado exposto ao termo revela uma circunstância curiosa à ótica docente, a falsa ilusão de que um dia a sala de aula fosse homogênea. Constituída por sujeitos supostamente idênticos. Esse comportamento subtrai da perspectiva docente a concepção do outro e muitos outros no espaço sala de aula. Ainda no suposto, induz-nos a verificar, que talvez a perspectiva desse educador, ainda não seja capaz de conceber, um aluno dotado de características próprias, interesses variados, ritmos e estilos próprios. Cabe ainda ressaltar, que alguns docentes embasam-se em 22 referências de antigos modelos, padrões conservadores e de outrem, para configurar a sua própria percepção e a do aluno. Outro ponto a ser citado, são as condições humana do sujeito na figura do “aluno”, visto que todo indivíduo por si só é dinâmico e não estático, ou seja, sempre passível de mudanças. Ao refletirmos sobre as questões anteriores, voltamo-nos aos Quatro Pilares da Educação propostos por Delors (2003), aprender a conhecer, isto é, tornar-se agente ou instrumento para a compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver junto, afim de, desenvolver a percepção do outro, participar, colaborar, cooperar e aprender a ser, via essencial para desenvolver a personalidade e estar à altura de agir com capacidade de autonomia. Sobre este plano, faz-se necessário o uso do bom senso por parte do professor para supor pensar numa perspectiva influenciada em “aprender a conhecer” afim de, se atingir a descoberta progressiva do “outro” e de si mesmo ante a diversidade, buscando o desenvolvimento da empatia e reforçar o propósito do terceiro pilar “aprender a conviver junto” minimizando conflitos na convivência e descobrir possíveis riquezas escondida em cada sujeito (DELORS, 2001, p. 68). O “bom senso” no que tange a perspectiva docente a diversidade por meio dos quatro pilares podemos nos apoiar em Freire (1996, p. 62), onde coloca “Saber que devo respeito à autonomia, à dignidade, e à identidade do educando”. Porém, aprender a conviver supõe ante tudo, aprender a ser, afim de, propor o desenvolvimento de pensamentos autônomos e críticos, concebendo, a formulação de juízos de valor, de forma a permitir tomar decisões nas diferentes situações do cotidiano. Refere-se como preocupação para o século atual, a necessidade de fornecer aos sujeitos força e referência intelectual que permita a estes, compreender o mundo e comportarem-se nele, como atores responsáveise justos. Ainda segundo (FREIRE, 1996, p. 68), “Ensinar exige apreensão da realidade”, o que possibilitará ao docente a clareza de sua prática tonando-se mais seguro em seu desempenho. Em outro prisma, podemos consignar um crescimento vertiginoso do entendimento de alunos como protagonistas do seu processo de formação e de desenvolvimento. Desarticulando o foco do ensino para a aprendizagem ressaltando as diferenças de forma positiva. Mais uma vez podemos recorrer ao exposto de Mantoan (2003), que coloca “as diferenças culturais, sociais, étnicas, enfim, a diversidade humana está sendo cada vez mais desvelada e destacada e é condição 23 imprescindível para entender como aprendemos e como compreender o mundo e nós mesmos”. Com esses questionamentos, verifica-se que apesar de a sala de aula ser um berço de riquezas e fonte inesgotável às ações docentes, ao mesmo tempo torna-se um espaço complexo a sua perspectiva. Exige apreensão da realidade, flexibilidade, configurada como bom senso referido por Freire (1996), afim de, conferir uma relação coerente entre os valores, saberes e experiências individual e coletiva de forma que contemple o engrandecimento igualitário apesar das diferenças. Oferecendo a todos uma educação de qualidade em qualquer espaço educativo. Ante a tantas questões acerca da diversidade na ótica docente, corrobora para a complexidade da sua realidade no que tange a percepção de si próprio do outro e de muitos outros no contexto das dessemelhanças em sala de aula. Sendo assim, exige do educador, construir habilidades, reinventar-se. Requerem, esforços, virtudes e qualidades a fim de, considerar a existência do diferente e articular-se com ele. Como Perrenoud (2000), coloca a habilidade difere de autor para autor, sendo assim, algo mais flexível. Cabe também recobrar as autoras Pimenta e Anastasiou (2002, p.199) quando trata: A profissão de professor exige de seus profissionais alteração, flexibilidade, imprevisibilidade. Não há modelos ou experiências modelares a serem aplicadas [...] é a base para sistematização de princípios norteadores de possíveis ações, nuca de modelos [...] Dá voz ao professor como autor e ator. Favorece uma autocrítica extremamente salutar. Reconstrói a teoria existente. A partir do suposto torna-se pertinente verter o contexto para a formação docente do ensino superior, afim de, averiguar habilidades e competências que contemplam esse educador. 24 2 CAPÍTULO FORMAÇÃO DO PROFESSOR DO ENSINO SUPERIOR 2.1 EDUCAÇÃO E SOCIEDADE Antes de iniciarmos a temática formação do professor do ensino superior, faremos um breve delinear acerca da relação educação e sociedade por conceber que esta seja a chave para compreendermos o significado da formação desse profissional. Como vimos anteriormente, no Brasil, a reconfiguração da educação superior é resultado de intensos movimentos de mudanças sócio-políticas e econômicas em nível mundial. Cujas consequências, foram relevantes para a identidade da universidade quanto instituição como aponta Silva e Sguissardi (2001, p. 271). Num outro prisma, o adulto não esta pronto nem acabado. Ainda precisa desenvolver questões humanas, sociais, políticas, profissionais e de desenvolvimento sustentável, em face do meio ambiente a que esta intimamente conectado. Ante ao exposto, podemos citar os pensamentos de Libâneo (1990) que trata da educação como um fenômeno social, ou seja, parte integrante de relações sociais, econômicas e culturais de uma determinada organização social. Sendo assim, o compromisso social da instituição de ensino deve ser efetivo, acha visto ser um agente determinante e transformador da sociedade. A partir dessa percepção, concebemos alguns comportamentos. O educar de antigamente não é o mesmo de hoje. Remete-nos a uma prática educativa com objetivos, conteúdos e papel do educador resoluto por exigências da sociedade e um conjunto de ideais com base político-econômicas e subordinada a valores, particularidades e normas da estrutura social. Preconiza-se que a preparação do educador do ensino superior necessita voltar-se para uma ação reflexiva do seu perfil. Ao aludir às facetas da educação, voltamo-nos aos primórdios da trajetória da relação humana, onde os sujeitos e os grupos moviam-se em relações equivalentes, ante a necessidade de trabalhar em conjunto, objetivando a sobrevivência. Com o passar dos anos, essas relações foram se modificando, sendo organizada de acordo com o sexo, a idade e outros fatores. Mais tarde, novos vínculos foram sendo delineado como a relação escravista, servil, e por fim, emergindo a história das desigualdades, concebendo a atual relação no capitalismo. Nesta, verifica-se que a educação apreendida se constitui por meio das relações sociais baseadas no capitalismo. É marcada por uma divisão de classe social e diferenciação do acesso à cultura e educação. Essa perspectiva de educação é caracterizada como, preparação para o trabalho, conformismo e escolarização com qualidades duvidosa. Devido à 25 expansão do comércio e indústria, seu foco era formar indivíduos para aquecer a economia por meio de mão de obra qualificada. Sendo configurada a instrução nesse contexto como uma variante de educação. Esse período histórico compreende a era industrial, onde o saber adquirido era direcionado apenas para atender a demanda sócio capitalista. Diante de um mundo agora globalizado, movimento migratório intenso, acessa a informação diversificada e em massa, revela-se um novo sujeito, entendido como dinâmico propenso a mudanças, questionador. Tal fato remete a busca do seu desenvolvimento num aspecto mais amplo, passeando por fatores sociais, humanos, profissionais, emocionais e subjetivos. Esse comportamento denota um significado de educação para além-aspecto de ensino. Sendo assim, induz-nos a crer, que educar no mundo atual, requer conhecimentos além da formação básica do indivíduo. Exige desenvolver no sujeito virtudes éticas, humanas, sociais, profissionais, políticas e outros de forma que este se mantenha intimamente conectado com o mundo ao seu redor. 2.2 CONCEPÇÃO DA FORMAÇÃO DOCENTE “Não nasci marcado para ser um professor assim (como sou). Vim me tronando desta forma no corpo das tramas, na reflexão sobre a ação, na observação atenta a outras práticas, na leitura persistente e crítica. Ninguém nasce feito. Vamo-nos fazendo aos poucos, na prática social de que tomamos parte” (FREIRE). As palavras do autor contornam a formação docente como delonga. Supõe contemplação da sua prática, reunir teorias e realidade da sala de aula. Também a relação currículo e perfil discente que se deseja formar; os anseios do setor mercadológico que urgem em satisfação, enfim, denotamos uma complexibilidade ante a formação docente. Onde o efeito do educar afim de prática transformadora, constrói-se através do árduo aperfeiçoamento desse profissional. Tal comportamento exposto pelo autor nos induz a uma análise acerca da formação inicial e contínua bem como as práticas desse profissional.Para uma pequena minoria de professores a entrada no magistério é concebida como escolha pessoal que conota uma “inclinação profissional”, ou seja, aptidão natural. Porém a grande maioria revela um comportamento contrário, sendo compreendido como situação circunstancial, principalmente pela oportunidade de trabalho. 26 Para Pimenta no que remete a formação inicial, estes denotam desenvolver no curso um currículo formal, constituído de conteúdos, atividades e estágios longe da realidade escolar. Imbuídos por uma ótica burocráticaque não permitem captar as contradições das ações sociais de educar. Ao que remete a formação contínua, a prática mais frequente é marcada por cursos de suplência e/ou atualização de conteúdos de ensino. Ainda na afirmação, o autor propõe que estes demostram ser insuficientes para alterar a prática docente(2002, p.18). Em um estudo sobre o Bom Professor de Cunha (1989) ele afirma: “[...] é de sua história enquanto aluno que os professores reconhecem ter maior influência [...] Em muitos casos esta influência se manifesta na tentativa de repetir atitudes consideradas positivas e, em outras há um esforço de fazer exatamente o contrário do que faziam ex-professores, considerados negativamente”. É nessa colocação de (Cunha, 1989; Pimenta, 2002) que direcionamos para a formação inicial e contínua do professor universitário. A formação desse profissional inicia-se nos cursos de habilitação ao Magistério em nível de 2º grau e posteriormente em nível superior. Baseada entre referencial de professores entre erros e acertos, ou seja, na sua figura própria enquanto aluno, e a partir dessas experiências, iniciar sua formação de professor. Esta formação é constituída de disciplinas dirigidas e articuladas entre si. Devendo contemplar objetivos e conteúdos que iram confluir para uma teoria metodológica do curso. Constitui-se como um processo pedagógico, organizado e intencional, com preparação teórico-científica e técnica para conferir ao professor competência ao processo de ensino. Concebendo na primeira, uma formação nas disciplinas específicas em que se pretende especializar e a formação pedagógica, comtemplando saberes filosóficos, sociologia, história da própria pedagogia e da educação que elucidaram o entendimento do fenômeno educação no contexto histórico-social, objetivando a postura profissional específica para docência. A segunda aborda a formação técnica-prática, contemplando metodologias, didáticas, psicologia educativa, pesquisa educativa e outros (LIBÂNEO, 1990, p. 27). A colocação do autor (LIBÂNEO, 1990) acima citada sustenta a afirmação imprimida por Freire (2000) e Cunha (1989) retratando a formação docente como algo paulatino e não constituído como feito e acabado, mas sim a união de experiências vividas, teorias e práticas, ou seja, não constituída de passo a passo, e sim de longa jornada. 27 Alguns estudos evidenciam que a graduação desse profissional contempla sabres teóricos acerca das disciplinas a serem lecionadas, mas a preparação pedagógica não foi ressaltada com a atenção devida. Embora o docente do ensino superior possua um grande embasamento teórico, mostra-se um tanto incipiente no que concerne apercepção da velocidade das transformações sócias e técnico-científicas. No que remete o saber pedagógico, Pimenta afirma que este é constituído no cotidiano do trabalho docente fundamentado suas ações; possibilita a interação professor-aluno em sala de aula, contexto da escola onde atua (2002, p.43). Dessa forma podemos supor que aformação inicial do educador universitário, não assegura a ele, que obterá uma consistência em seu desempenho profissional e práticas transformadoras. Induz-nos também que a prática docente em nível superior não consegue corporificar um modelo próprio ou padrão que demostre exatidão em seus resultados. Para tal, aflora o significado de referências de outrem quer seja de seus professores bem como de colegas como orientador. Isso acontece principalmente com professores inexperientes em início de carreira. Para podermos refletir sobre este aspecto talvez devamos considerar o que nos afirma o autor Gil (2008, p. 17). Todavia, á medida que se analisa detidamente o problema do magistério de nível superior, fica evidente a necessidade da formação pedagógica dos professores. Formação esta que enfatiza não apenas os métodos de ensino, mas também ao aluno, à escola e à própria sociedade. A afirmação de Gil(2008) é sustentada por Bordenave e Pereira no que tange a formação pedagógica. Entretanto Bordenave e Pereira (2002) corroboram a colocação de Pimenta (2002) quando tratam os professores como autodidatas na questão saberes pedagógico. Considerando ao fato a pouca oportunidade do professor participar de especialização em pedagogia. (20002, p.16). Movemo-nos, a refletir em que momento se dá a percepção da formação contínua desse profissional. Podemos propor que é na sala de aula que se revela o exercício dessa reflexão. Ainda neste espaço, talvez a percepção implique as relações professore-aluno, reflexão acerca de suas práxis, conteúdos. Onde não cabe somente uma atitude criativa, e sim construção e reconstrução de si mesmo e das suas ações. Condições institucionais que afetam o ensino. Que tipo de professor precisa 28 corporificar. Habilidades que pretende desenvolver nos alunos, enfim, uma série de ações que imprimem ao desempenho profissional muitos desafios. Ante a tantos questionamentos e exigências imbuídas no personagem do professor universitário urge qualidades que o sustente em meio a esse ambiente de constante transformação. Para tanto requer pensarmos para esse profissional debruçar-se em uma formação contínua, amparada no “ser” pesquisador do início da formação. Para Libâneo (1997, p.28) a formação do educador exige interpretar a dimensão das práticas e da teorização, tendo como mediadora a didática, ou seja, a ligação entre “o quê” para “como”. Ainda prosseguindo a dialógica as autoras Pimenta e Anastasiou afirmam: “Pesquisar a própria prática na sala de aula e ação realizada com intencionalidade que revela profissionalismo docente: rever a própria prática, debruçar-se e refletir sobre ela é necessário a toda profissão”. Sendo assim, sustentar que observar a própria didática e descrevê-la, possibilitem ao professor identificar suas necessidades ou deficiências e apontar meios de qualificar o seu trabalho em sala de aula de forma o alcançar seu objetivo. Para tanto, podemos nos apoiar em Cunha (1998, p. 62) onde trata que descrever a própria prática, denota-se uma ferramenta importante para o professor, afim de análise da representação do próprio trabalho docente. Seguindo a observação das aulas o juízo desta por parte dos discentes também pode contribuir para o profissional corporificar o processo de ensinar-aprender, que juntamente com a metodologia, planos de curso, de aula e afins, contribuirão para a aquisição da qualidade do seu papel no ensino superior. Diante das colocações dos autores acima, não há como contestar que a esteira por onde o educador do ensino superior passeia é longa, e árdua. Implica a este profissional refletir em múltiplas questões até conceber o processo ensino- aprendizagem. Subentende-se também outra ação importante ao docente do ensino superior, que é a questão “planejamento” afim de, obter a clareza de suas metas, objetivos que pretende adquirir tanto no que se refere às qualificações profissionais como no principalmente no que remete ao processo educativo. Porém, esta será analisada mais adiante. Podemos configurar então, que a educação seja em qual nível for revela uma tarefa com muitos ornatos. 29 No contorno delimitado da temática, observamos que a realidade desse educador mostra-se adversa, plural e multifacetada na atualidade, intervendo a caminhada desse profissional. Denotando algumas situações. No primeiro momento, requer uma apreensão de formação contínua desse profissional, ou seja, por toda sua vida profissional. Implica em repensar que não concebe mais ao professor do ensino universitário assumir a postura de foco, tomando como diretriz apenas sua concepçãodos fatos e conteúdos, subtraindo os significados discentes, acha vista que o aluno do ensino superior necessita de autonomia, sentir-se seduzido pela busca do saber e aquisições acadêmicas. O segundo momento revela uma necessidade de desorganização da educação em nível superior. Onde esta se encontra engessada em um conservadorismo antiquado para um mundo que espairece mudanças. Requer desvendar possíveis caminhos que permitam facilitar a incorporação do “saber fazer” desse profissional, tendo em vista a complexibilidade das questões e exigências aplicadas a ele como sendo ”cumpridor de responsabilidades sociais e políticas” segundo (LIBÂNEO, 1997, p. 33). Nesse panorama cheio de desafios para atender a demanda de uma educação moderna o professor universitário além de voltar-se para sua formação buscando a excelência precisa estar preparado para o desempenho de uma prática segura e coerente. Onde os outros conhecimentos que o sustentaram referem-se a “competências e habilidades”. Sendo o professor universitário concebido como mediador dos saberes discentes, facilitador de alternativas para o enfrentamento dos problemas do mundo contemporâneo. Constituir o seu plano de ensino em meio a um espaço tão dinâmico e mutante que é a sala de aula, atender os anseios do setor mercadológico, relação currículo e perfil dos discentes que a instituição pretende formar; desenvolver habilidades e competências viabiliza essa árdua tarefa docente em decorrência de o cenário educacional ser tão exigente. 2.3 COMPETENCIAS E HABILIDADES DOCENTES Segundo o dicionário da Língua Portuguesa Aurélio podemos definir competência como: 1. Qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assuntos, 2. Aptidão, capacidade. Para o autor Antunes (2001, p. 17), competência seria o mesmo que habilidade ou aptidão, capacidade como resultado de conhecimento assimilado. 30 Recorrendo a semântica dos termos, entendemos que novas mudanças emergem na paisagem educativa; subintende-se uma reorganização do processo ensino-aprendizagem na sua técnica de direcionar a pedagogia, ou seja, a forma da didática-pedagógica. O desenvolvimento de competências quer sejam, saberes, capacidades, atitudes, tem se mostrado como trajetória para as transformações dos modelos pedagógicos existentes que se fundamentam num estado de subordinação, tendo no currículo um fim, com metas direcionadas ao acúmulo de conhecimentos, que emprega metodologia e as conduz focalizando o ensino de forma centrada. Porém, para acompanhar tais mudanças, o docente não necessita mover-se com autoridade e uma formação que contemple somente o domínio de conteúdos. Para Freire (1996), a autoridade docente não se prática sem a competência profissional, e esta implica em uma formação levada á sério, constante estudo, dedicação e esforço, afim, de estar à altura de sua função. Num outro prisma, como dito anteriormente o currículo também necessita estar conectado ao perfil do discente que a instituição pretende formar. Cabe ressaltar, a ótica mercadológica que necessita ser analisada acha vista que tal perfil é determinado a partir das exigências do mercado empregatício. A partir desse entendimento de currículo, supõe-se que este documento é baseado em questões sociopolíticas de educação, teorias e referências técnicas. Nesse enfoque, podemos propor tal qual Antunes (2001, p.19), que ao invés do professor apropriar-se e expor o saber como pessoal e simplesmente transmitido, deverá ao contrário corporificar o papel de facilitador, explicando, organizar o trabalho dos alunos apreciando habilidades variadas e dessa forma constituir o aluno como agente de sua própria aprendizagem. Segundo estudos realizados por Cunha (1998) apesar de o professor ser entendido como fundamental para o caminho dos novos rumos, mediador do processo educativo, imprimindo nesse ator conhecimentos que são além das qualidades desejáveis; apesar de desenvolver inúmeras habilidades de ensino (fazer perguntas, variar estímulos, organizar o contexto da aula etc.), esbanjar qualidades humanas e afetivas no que se refere à relação com aluno, ainda não se encontrou educadores ocupando-se em desenvolver habilidades intelectuais nos mesmos próximos do modelo educativo que emergi, ou seja, são capazes de idealizar e esquematizar o conteúdo a ser dado em sala, mas, não são capazes de identificar procedimentos que induza ao aluno a descobrir seu próprio esquema da aprendizagem realizada. Nesta 31 questão abordada por (CUNHA, 1998), o fator planejamento docente denota importância no que tange ao conhecimento e domínio de vários métodos avaliativos discentes, afim de, escolher de acordo com o tema a ser tratado. Para tanto podemos nos apoiar em Bordenave e Pereira (2004) onde defendem que, quando se pretende que os alunos tenham o domínio dos conteúdos de forma crítica e ativa, é necessário que o educador se conscientize de alguns aspectos. Os quais sejam: 1. o aluno deve ter participação ativa no processo ensino-aprendizagem, 2.não existe uma metodologia unívoca, completa. Cada uma tem seu potencial, limitação específica; sendo preciso averiguar a possibilidade de associação com outras estratégias, 4. Necessita critérios para orientar a escolha das atividades, visto que há fatores que influenciam a escolha de métodos, técnicas, procedimentos, estratégias de ensino, tais como: experiência didática do docente, tempo disponível, tipo de aluno, etapa do processo de ensino, tipo de conteúdo e de aprendizagem envolvida. Além desse ponto, Bordenave e Pereira identificam dentre os problemas do ensino superior na atualidade à questão do planejamento, referindo os critérios usados pelos professores como inadequado (2002, p.71). Onde o planejar aqui referido pelos professores trata apenas de coletar, reunir informações, dividi-los em capítulos, citar conceitos básicos, propriedades etc. A esse comportamento, os autores ainda deduzem um passo a passo do suposto “planejar” docente. Os quais se fazem conhecer: 1.Revisão do programa utilizado pelo professor anterior, 2. Visitação de biblioteca própria e da instituição, 3. Relembrar como o conteúdo foi dado quando ele era aluno, 4. Consulta de textos e fazer anotações pertinentes, 5. Providencia cópias e apresentar ao Conselho Acadêmico como seu “programa” para aprovação. Em geral é aprovado. Os autores ainda ressaltam que no passado o estabelecimento de objetivos da ação educativa no passado era feitos de maneira vaga, trazendo como reflexo uma metodologia deficiente e emprego de técnicas avaliativas pouco consistentes. Ante ao exposto planejamento dos autores Bordenave e Pereira (2002, p. 71), podemos identificar uma deformação no ato do planejar docente. Tal comportamento induz-nos a refletir acerca do termo e buscar elementos que compõe a sua estrutura possibilitando elucidar sua importância à ação docente. Planejamento é um documento de execução que pode ser chamado de plano e de acordo com o nível de detalhamento que envolve pode ser denominado de programa, projeto, tarefa ou outro (BORDENAVE E PEREIRA, 2002, p.73). Segundo 32 o dicionário da Língua Portuguesa, podemos conceber a palavra planejamento: 1.Fazer um plano, 2.Traçar, 3.Elaborar. Sendo assim, podemos configurar a palavra como base gestora de funções que implica a formulação de um ou vários planos detalhados para conseguir um perfeito equilíbrio entre o que se quer e o que se pede, ou seja, atividades ou ações que nos orientam “para onde” ir e “como chegar lá”. A partir dos conceitos apresentados, podemos propor algumas características importantes ao planejamento, imprimindo ao documentouma relevância. a. Constitui-se num processo contínuo e permanente de tomadas de decisões e de avaliação. b. É flexível, de forma a comportar correções e ajustamentos. c. É uma função administrativa. d. Direciona-se para o futuro, ou seja, envolve a tomada de decisões no presente que serão executados no futuro. e. É necessário um mínimo de conhecimento das condições existentes que poderiam ser identificadas, a partir dos aspectos enfatizados para elaboração do conceito de planejamento. Cabe aqui lembrar que para que o planejamento cumpra de fato sua finalidade, este deverá possibilitar fazer corretamente e de maneira correta. Sendo assim no que tange as ações docentes do ensino superior, esta prática parece ser de grande importância, visto que denota cada vez mais complexibilidade. Finalizando a questão planejamento. O exposto por Bordenave e Pereira (2002) supõe o comportamento de “conhecimento bancário” tratado por Freire (2000). Onde o professor preocupa-se apenas com a transmissão, conteúdos; priorizando somente o conhecimento docente. A esse comportamento faz-se necessário ao docente principalmente do ensino superior incluir no seu programa experiências que o aluno deve vivenciar de forma criativa e ativa para aprender o conteúdo. Desenvolver nestes, habilidades que os tornem aptos a resolver problemas de qualquer natureza, acha visto que os alunos adultos tem uma relação com o processo de ensino-aprendizagem diferente daqueles expressados nas crianças. Cabe aqui enfatizar novamente que é importantíssimo ao educador, seja em qual nível for, e principalmente do ensino universitário, precisa ter em mente a importância de um planejamento sistêmico, o saber pedagógico as práticas, afim de, embarcar uma série de questões como: fixação 33 inicial dos objetivos que se pretende alcançar, colheita preliminar de dados, levantamento de pesquisas, princípio da sua aula, recursos que necessários, debruçar em estudos, pesquisas, dosar improvisações, identificar elementos de motivação aos saberes discentes, recursos pedagógicos, delimitar planos das aulas, momentos de reflexão de suas práticas, superar a diversidade das situações em sala de aula de forma segura e coerente a realidade; dispor sobre tudo de cautela para não cair nas armadilhas das aulas engessadas com raciocínios pré-determinados subestimando saberes discentes, experiências pessoais e subjetivos, inibindo sua interação e motivação ao querer saber mais. Para embarcar tantas ações é importante ao professor além das suas estratégias, apreender a sua realidade como trata Freire (1996, p.68), afim de, possibilitar um desempenho seguro. Para o autor Antunes (2001), no que se refere à realidade docente colabora: Anos atrás, o professor deveria levar a seus alunos as informações especializadas de sua disciplina, aprendida em seus estudos e aos alunos cabia assimilá-las de maneira significativa ou mecânica. Hoje não é mais necessária essa tarefa [...] se torna necessária sua transformação em conhecimentos, habilidades, práticas cívicas e, enfim, sabedoria. Para atender as exigências imprimidas no papel do professor, afim de, estimular e desenvolver os alunos, de forma a torna-los aptos e aceitos pela sociedade, Antunes, (2001) propõem oito competências ao professor: 1.organizar e dirigir situações de aprendizagens, 2.administrar a progressão da aprendizagem, 3.conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação, 4.envolver os alunos na aprendizagem bem como na reconstrução da compreensão do mundo, 5.aprender a trabalhar junto a se trabalhar com equipe, 6.dominar e fazer uso de novas tecnologias, 7.vivenciar e superar os conflitos éticos da profissão e administrar sua formação contínua e permanente. Diante do exposto dos autores (CUNHA, BORDENAVE E PEREIRA, 2002; FREIRE, 1996; ANTUNES, 200) podemos corroborar que no ensino superior o professor deve estar em constante crescimento, exige esforço e muita dedicação em pesquisas e graduação. A obtenção desses conhecimentos é uma parte da formação do docente. A outra parte é a preocupação como esse conteúdo vai penetrar na vida do aluno, como essa teoria vai agregar algo significativo para a vida dessa pessoa. Ser 34 docente é a teoria com o emocional; um equilíbrio perfeito para beneficio do aluno. Para o autor Demo (2002, p. 67) quando nos referimos à educação superior supomos algo genuíno, polido, ou seja, “superior” em toda semântica do termo. Porém, no que tange ao perfil “competência” profissional, para o autor, apesar de estar associada a um aspecto formal, observa-se muitas mudanças na atualidade, embora esta se considere atrelada ao formalismo. E tal fenômeno configura alguns aspectos. No primeiro instante, referem-se ao significado da palavra que implica em aptidões, capacidades. E que no caso do ensino superior refere-se ao desafio em aprender a pensar e aprender a aprender, visto que o saber não é mais configurado como acúmulo de conhecimentos ou mera transmissão de informações. Por conta da educação transformadora, a palavra de ordem em competência agora é “inovação”. O ensinamento deixa de ser um simples treinamento, incrementando um sujeito capaz de ser crítico. O segundo instante defendido por Demo, é que a graduação inicial não é considerada suficiente para um inovar constante das ações docentes, sendo compreendida como formação básica. Implica em aptidões decisivas que possibilitem o professor reconstruindo-se sempre que necessário. Onde a quantidade não pesa mais que a qualidade. E no que tange a qualidade profissional docente a capacidade de renovar-se ganha ênfase. Para tanto, o aprender a aprender dos quatro pilares da educação citado por Delors (2001) é exposto aqui por Demo para dar conta dos novos desafios. Na ótica do autor, o profissional não é concebido aprisionado no modelo de ensino antigo visto que o educador encontra-se constantemente em renovação de si mesmo para acompanhar as transformações da sociedade e atender demandas que emerge num ritmo desenfreado. Ante essa perspectiva de competência concebida por (DEMO, 2002), podemos denotar um perfil de educador como um ‘ser’ inacabado, que apesar de possuir saberes um cabedal de conhecimentos, teorias, experiências necessitam se desconstruir e reconstruir, ser criativo, modificar-se quantas vezes o for necessário ao longo da sua trajetória docente para manter-se renovado. Sendo assim apoiamo-nos nas palavras retratadas por Freire (1996, p.50). ”[...] Nada do que experimentei em minha atividade docente deve necessariamente repetir-se. [...] Minha franquia ante os outros e o mundo mesmo e a maneira radical como me experimento enquanto ser cultural, histórico, inacabado e consciente do inacabamento”. 35 Segundo (DEMO, 2002) no que refere à competência profissional seguem algumas expectativas típicas do profissional moderno: 1-Pesquisa; 2-Atualização permanente; 3-Retorno à universidade; 4-Autoavaliação; 5-Avaliação; 6-Visão geral; 7-Discutir e refazer a qualidade; 8-Trabalho de equipe; 9-Teorização das práticas. Ainda acerca da identificação de competências, o autor Alarcão (2003), pontua algumas dimensões específicas. As quais sejam: Conhecimento do conteúdo disciplinar: conceitos, definições e peculiaridades da disciplina a ser ensinada; Conhecimento pedagógico geral: estratégias de ensino e forma de organizar a disciplina; Conhecimento do currículo: ótica holística do nível de ensino e perfil de aluno formado pela instituição; Conhecimento dos fins educacionais: conformidade entre os objetivos do docente com os dos discentes, bem com os previamente