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Prof. Me. José Luciano Gabriel – Introdução ao Estudo do Direito – 1º período 15 / 21 Capítulo XIV – FONTES DO DIREITO – PAULO NADER “A doutrina jurídica não se apresenta uniforme quanto a estudo das fontes do Direito [...] inquirir sobre a fonte de uma regra jurídica é buscar o ponto pelo qual sai das profundidades da vida social para aparecer na superfície do Direito. Distinguimos três fontes do Direito: históricas, materiais e formais” (p. 141). Fontes históricas O direito é mutável no tempo e no espaço, mas contem muitas ideias permanentes e que se conservam presentes na ordem jurídica. “As fontes históricas do Direito indicam a gênese moderna das instituições jurídicas: a época, local, as razões que determinaram sua formação [...] essa ordem de estudo é significativa não apenas para a memorização do Direito, mas também para melhor compreensão dos quadros normativos atuais. No setor da interpretação do Direito, onde o fundamental é captar-se a finalidade de um instituto jurídico, sua essência e valores capitais, a utilidade dessa espécie de fonte revela-se com toda evidência” (p. 141s). Fontes Materiais O legislador não tira o Direito de sua imaginação e não pode cria-lo a seu bel prazer... o Direito nasce daquilo que a sociedade almeja, portanto, em última análise, a sociedade é fonte material do Direito. A sociedade se faz representar pelo poder legislativo na construção das leis e pelo poder judiciário no processo de produção de jurisprudência, enquanto ela mesma é produtora dos costumes. Fontes Formais “Para que o processo jurídico constitua fonte formal é necessário que tenha o poder de criar o Direito. Em que consiste o ato de criação do Direito? – Criar o Direito significa introduzir no ordenamento jurídico novas normas jurídicas” (p. 142). A lei se apresenta como a fonte formal primária e imediata... o costume, a jurisprudência, os princípios gerais do Direito e a doutrina se apresentam como fontes formais secundárias e mediatas. Em outras palavras, a lei produz o direito de forma direta, sem a necessidade de intermédios, as demais fontes produzem o direito de forma intermediada e indireta. __________ • A lei => “A lei é a forma moderna de produção do Direito positivo. É ato do Poder legislativo, que estabelece normas de acordo com os interesses sociais” (p. 146)”. => Em sentido estrito, “lei é o preceito comum e obrigatório, emanado do Poder Judiciário, no âmbito de sua competência” (p. 148). => A formação de uma lei deve obedecer ao processo legislativo previsto no ordenamento jurídico. - Inciativa da lei: deve obedecer aos critérios de competência previstos na Constituição Federal – art. 61 CR/88. - Exame pelas comissões técnicas das casas legislativas – comissão de constituição e justiça; comissão de Direitos Humanos etc. - Revisão do projeto - se o projeto é apresentado na Câmara dos Deputados o Senado Federal funciona como casa revisora e vice-versa. - Sanção – “consiste na aquiescência, na concordância do Chefe do Executivo com o projeto aprovado pelo Legislativo” (p. 150). Prof. Me. José Luciano Gabriel – Introdução ao Estudo do Direito – 1º período 16 / 21 - Promulgação – “consiste na declaração formal da existência da lei” (p. 150). - Publicação – “A publicação é indispensável para que a lei entre em vigor e deverá ser feita por órgão oficial. O início de vigência pode dar-se com a publicação ou decorrida a vacatio legis, que é o tempo que medeia entre a publicação e a vigência” (p. 151). • Direito costumeiro – costumes – Direito Consuetudinário “Através dos tempos, o Direito Positivo sempre manteve uma íntima conexão com os fatos sociais que constituem, na realidade, a sua fonte material” (p. 155). “Todos os povos, primitivamente, adotaram normas de controle social, geradas pelo consenso popular e as antigas legislações, como a de Hamurabi e a XII Tábuas, foram, em grande parte, compilações dos costumes” (p. 155). “[...] Na atualidade, como órgão gerador do Direito, o costume se apresenta com pouca expressividade, com função apenas supletiva da lei” (p. 155). Conceito de costume > “Enquanto a lei é um processo intelectual que se baseia em fatos e expressa a opinião do Estado, o costume é uma prática gerada espontaneamente pelas forças sociais e ainda, segundo alguns autores, de forma inconsciente. A lei é Direito que aspira à efetividade e o costume é a norma efetiva que aspira à validade. A formação do costume é lenta e decorre da necessidade social de fórmulas práticas para resolverem problemas em jogo” (p. 156). Assim, “O Direito costumeiro pode ser definido como um conjunto de normas de conduta social, criadas espontaneamente pelo povo, através do uso reiterado, uniforme e que gera certeza da obrigatoriedade, reconhecidas e impostas pelo Estado” (p 156). Quadro comparativo entre costume e lei – Nader, p. 157. Referências Lei Costume Autor Poder Legislativo Povo Forma Escrita Oral Obrigatoriedade Inicio da vigência A partir da efetividade Criação Reflexiva Espontânea Positividade Validade que aspira efetividade Efetividade que aspira validade Condições de validade Cumprimento de formas e respeito à hierarquia das fontes Ser admitido como fonte e respeito à hierarquia das fontes Quanto à legitimidade Quando traduz os costumes e valores sociais Presumida Para que o costume tenha força jurídica o sistema jurídico precisa prever sua existência como expressão do Direito, ou seja, se um dado ordenamento jurídico não prever a existência de costume, este não poderá ser invocado como fonte de Direito. Prof. Me. José Luciano Gabriel – Introdução ao Estudo do Direito – 1º período 17 / 21 - Elemento material e psicológico: Material: objetivo, exterior – “Consiste na repetição constante e uniforme de uma prática social. O costume pressupõe, assim, a pluralidade de atos um longo tempo, uma única formula. Faltando um destes elementos a norma social não apresentará valor jurídico” (p. 158). Psicológico: subjetivo, interno – “... é o pensamento, a convicção de que a prática social reiterada, constante, e uniforme é necessária e obrigatória. É a certeza de que a norma adotada espontaneamente pela socidade possui valor jurídico” (p. 159). - Espécies de Costumes Secumdum legem – é a prática social consagrando, espontaneamente, o sentido da lei. É chamado também de costume interpretativo e há autores que não admitem esta espécie de costume por não se tratar de um costume que nasce espontaneamente da prática social. O respeito à legislação de trânsito (uso de cinto de segurança, uso de capacete...); atendimento à algumas exigências do consumidor para evitar transtornos e/ou ações judiciais. Praeter legem – “é o que se aplica supletivamente, na hipótese de lacuna da lei” (p. 160), nos termos do art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Art. 445, § 2º Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais , aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras disciplinando a matéria (Código Civil). O inciso II do art. 569 do código civil indica que caso o locador e o locatário não ajustem um prazo para pagamento do aluguel, esse prazo será determinado pelos costumes do local; Os arts. 596, 597 do código civil estabelecem critérios para o pagamento de uma prestação de serviço, determinando que, salvo ajuste das partes, respeitem-se os costumes do lugar; O art. 615 afirma que, concluída uma obra, conforme ajuste ou os costumes do lugar, o dono deve recebê-la. Contralegem – ocorre quando a prática social contraria conteúdo de norma de Direito escrito. Não é admitido, teoricamente, mas na prática pode acontecer. A lei proíbe o jogo do bicho, mas em alguns locais esta prática é reiterada e constante... não deixa de ser uma contravenção, mas é praticada costumeiramente. Lembrando que: quem fundamenta pedido em costume (direito consuetudinário) deve fazer prova da efetividade e vigência de tal direito – CPC art. 376: “A parte que alegar direito [...] consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz determinar”. • Jurisprudência “Atualmente o vocábulo é adotado para indicar os precedentes judiciais, ou seja, a reunião de decisões judiciais, interpretadoras do Direito vigente”. (p. 171). “Em seu continuo labor de julgar, os tribunais desenvolvem a análise do Direito, registrando, na prática, as diferentes hipóteses de incidência das normas jurídicas. Sem o escopo de inovar, essa atividade oferece, contudo, importante contribuição à experiência jurídica” (p. 171). Prof. Me. José Luciano Gabriel – Introdução ao Estudo do Direito – 1º período 18 / 21 Jurisprudência em sentido amplo: “é a coletânea de decisões proferidas pelos juízes ou tribunais sobre uma determinada matéria” (p. 172). Jurisprudência em sentido estrito: “[...] consiste apenas no conjunto de decisões uniformes prolatadas pelos órgãos do Poder Judiciário, sobre uma determinada questão... é a autoridade dos casos julgados semelhantemente” (p. 172). - Espécies de jurisprudência “A jurisprudência secundum legem é a que se limita a interpretar determinadas regras definidas na ordem jurídica. [...]. A praeter legem é a que se desenvolve na falta de regras especificas, quando as leis são omissas. [...]. a contra legem é a que se forma ao arrepio da lei, contra disposições desta. É prática não admitida no plano teórico, contudo, é aplicada e surge, quase sempre em face de leis anacrônicas e injustas...” (p. 172). - a jurisprudência cria o Direito? “Para os ordenamentos jurídicos filiados ao sistema anglo-americano, a jurisprudência constitui uma importante forma de expressão do Direito” (p. 176). “Nos Estados que seguem a tradição romano-germânica, a cujo sistema vincula-se o Direito brasileiro, não obstante alguma divergência doutrinária, prevalece o entendimento de que o papel da jurisprudência limita- se a revelar o Direito preexistente. [...] Os juízes devem ser leais guardiães da lei e o seu papel consiste, conforme assinala Bacon, em ius dicere e não em ius dare, isto é, sua função é a de interpretar o Direito e não de cria-lo” (p. 177). Na prática, os juízes, ao julgarem, frequentemente introduzem conceitos novos no mundo jurídico. Se valem de teses oriundas da doutrina nacional e internacional para fundamentarem seus votos e darem melhor qualidade à sua argumentação. Isso acaba gerando inovação no mundo jurídico. Mas, “Admitirmos para a jurisprudência, no sistema continental, apenas a condição de fonte indireta, que influencia na formação de leis, por seu conteúdo doutrinário” (p. 177). • Doutrina jurídica “A doutrina ou Direito Científico, compõe-se de estudos e teorias, desenvolvidos pelos juristas, com o objetivo de sistematizar e interpretar as normas vigentes e de conceber novos institutos jurídicos, reclamados pelo momento histórico” (p. 181). O doutrinador – cientista do direito – deve reunir algumas características: Independência: não deve subordinar-se a interesses alheios à cientificidade; Autoridade científica: deve ter sólidos conhecimentos jurídicos e capacidade para conceber ideias e abstrair; Responsabilidade: deve ter senso de dever e compromisso moral para cumprir a função científica. - Três funções da Doutrina Criadora: “é a doutrina que introduz os neologismos, os novos conceitos, teorias e institutos no mundo jurídico” (p. 182). Prática: sistematização das normas que tratam do mesmo assunto; interpretação; busca do sentido e alcance das disposições normativas. Crítica: “é indispensável submeter a legislação a juízos de valor, a uma plena avaliação, sob diferentes ângulos de enfoque. Deve acusar as falhas e deficiências, do ponto de vista lógico, sociológico e ético” (p. 183). B Prof. Me. José Luciano Gabriel – Introdução ao Estudo do Direito – 1º período 19 / 21 - A Doutrina como fonte indireta “Ao submeter o Direito Positivo a uma análise crítica e ao conceber novos conceitos e institutos, a doutrina favorece o trabalho do legislador e assume a condição de fonte indireta do Direito” (p. 184). “Modernamente os estudos científicos, reveladores do Direito vigente e de suas tendências, não obrigam os juízes. A Doutrina não é fonte formal, porque não possui estrutura de poder, indispensável à caracterização das formas de expressão do Direito” (p. 184). O comparatista René David fala da importância da Doutrina como fonte formal: “quem quer alimentar ficções ou denominar Direito à parcela do mesmo constituída pela normas legislativas, pode fazê-lo, mas quem quer ser realista e ter uma visão mais ampla e, em nosso juízo, mas exata do Direito, haverá de reconhecer que a doutrina constitui, todavia, como no passado, uma fonte muito importante e vida do mesmo” (p.184/185). __________ Rizzatto Nunes na obra Manual de Introdução ao Estudo do Direito (15 ed., Saraiva), apresenta nomenclatura diferente para tratar das fontes. Para ele as fontes se dividem em: - Fontes estatais: A lei, a jurisprudência e os princípios. - Fontes não estatais: O costume jurídico e a doutrina. __________ Exercícios de fixação Visando seu aperfeiçoamento e o aprofundamento nos conteúdos que versam sobre Fontes do Direito responda às questões abaixo em folha separada e compartilhe com seu colegas sus dificuldades e os resultados de suas leituras. 1. Defina fonte do Direito. 2. Quais são as características das leis enquanto fontes formais do Direito? 3. Defina jurisprudência, explique as formas possíveis de compreendê-la e indique a forma como surge e de que modo pode ser utilizada como fonte do Direito. 4. Uma única decisão judicial isolada pode ser considerada jurisprudência? Justifique sua resposta. 5. Que contribuição a jurisprudência uniforme traz ao Direito? De que modo serve como fonte? 6. Em que sentido os costumes são fontes jurídicas? Em nosso ordenamento jurídico é permitido o uso de costumes como fonte do Direito? Explique. 7. Quais são as espécies de costumes jurídicos? 8. Conceitue doutrina e explique qual sua função. 9. Que características devem ter os doutrinadores? 10. De que modo a doutrina pode influencia o surgimento de novas leis ou institutos jurídicos?
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